Catarina Queiroz Lucas
Porto, 2009
Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a partir do seu Representante Máximo, João Garcia
Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a partir do seu Representante Máximo, João Garcia Análise de dois Jornais Diários Nacionais Generalistas: Jornal de Notícias e O Público
Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física, na opção de Recreação e Tempos Livres, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
Orientadora: Professora Doutora Ana Luísa Pereira
Catarina Queiroz Lucas
Porto, 2009
Lucas, C. (2009). Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a partir do
seu Representante Máximo, João Garcia. Porto: C. Lucas. Dissertação de
Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
Palavras-chave: JOÃO GARCIA; ALPINISMO; REPRESENTAÇÕES SOCIAIS;
MEDIA.
III
Agradecimentos
Sem o apoio incondicional de pessoas que têm muito significado para mim,
nada teria sido possível, por isso agradeço:
À Professora Doutora Ana Luísa Pereira, por toda a colaboração, compreensão
e sentido crítico. Por me transmitir a tranquilidade e justiça que a caracterizam.
Por me ajudar a crescer como aluna e como pessoa…Não mais me esquecerei
daquelas flores…de ter estado ao meu lado num dos momentos mais difíceis
da minha vida! Por ser, sem dúvida, orientadora na verdadeira acepção da
palavra.
Ao Mestre José Silva, o meu orientador de estágio pedagógico, acima de tudo,
um verdadeiro amigo, sem qualquer dúvida. Por ser a pessoa fantástica que é,
por ter contribuído para a transferência do conhecimento teórico para a prática.
Pela partilha de conhecimentos…por me fazer perceber o que é ser um
apaixonado pela Educação Física! Por todo o apoio, em vários
sentidos…obrigada!
Ao Professor Doutor Rui Garcia, pela sua simpatia demonstrada ao longo dos
meus anos de formação, ainda mais, durante este ano lectivo e, também, pelo
empréstimo de livros que em muito me foram úteis.
Aos meus pais, por serem simplesmente como são…a razão da minha
existência e luta!
Ao “Manecas”, por todo o apoio e orientação quando tudo parecia não fazer
sentido!
À Eduarda pela colaboração na pesquisa noticiosa.
Às minhas amigas Filipa e Isabel, “a sério”…por me ouvirem nos momentos de
desalento e por acreditarem que sou capaz!
IV
Ao Sr. Pedro Novais, pelo apoio incansável…obrigada por tudo!
A todos os que, directa ou indirectamente, contribuíram para a minha evolução.
V
Índice Geral
Agradecimentos III
Índice Geral V
Índice de Quadros VII
Índice de Gráficos IX
Resumo XI
Abstract XIII
Résumé XV
Abreviaturas VII
I Introdução 1
II Revisão da Literatura 7
1 Alpinismo 9
1.1 Contextualização Histórica 9
1.1.1 Internacional 9
1.1.2 Nacional - O Aparecimento e Desenvolvimento do Alpinismo em
Portugal 19
1.2 Caracterização do Alpinismo 22
1.3 Razões para a prática do Alpinismo 30
2 O Herói 38
2.1 O Herói Desportivo 43
3 Representação do Herói Desportivo nos Media 48
3.1 Noção de Representação Social 48
3.2 O poder dos Media 54
3.3 Os Heróis Desportivos nos Media 57
III Campo Metodológico 67
1 O Alpinista Português João Garcia 69
2 Procedimentos Analíticos 77
VI
2.1 Análise de Conteúdo da Imprensa 77
2.1.1 Descrição do procedimento 79
2.1.2 Corpus de Estudo 80
3 Sistema Categorial 82
IV Apresentação dos Resultados 87
V Discussão dos Resultados 105
VI Conclusões 121
VII Referências Bibliográficas 125
VIII Anexos I
VII
Índice de Quadros
Quadro 1 Conquistas de João Garcia por altitude e respectivas datas
Quadro 2 Categorias e Subcategorias
Quadro 3 Número Total de Notícias do Jornal O Público e Jornal de Notícias
entre 1998 e 2008
Quadro 4 Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008
relativamente à categoria João Garcia e Evereste
Quadro 5 Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008
relativamente à categoria João Garcia e Evereste
Quadro 6 Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008
relativamente à categoria Herói
Quadro 7 Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008
relativamente à categoria Herói
Quadro 8 Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008
relativamente à categoria Projectos de João Garcia
Quadro 9 Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008
relativamente à categoria Projectos de João Garcia
Quadro 10 Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008
relativamente à categoria Riscos e Acidentes no Alpinismo
Quadro 11 Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008
relativamente à categoria Riscos e Acidentes no Alpinismo
IX
Índice de Gráficos
Gráfico 1 Variação do Número de Notícias entre 1998 e 2008 no Jornal O
Público e Jornal de Notícias
XI
Resumo
É provável que em Portugal o conhecimento sobre a actividade do
alpinismo seja diminuto, sendo que o pouco conhecimento que exista se
construa essencialmente através dos media. Das representações sociais
emanadas pelos media resultará, então, o conhecimento, ideias e crenças
sobre o alpinismo, que tem vindo a ser alvo de um crescente destaque ao
longo dos anos. Através da análise de conteúdo efectuada em dois jornais
nacionais generalistas (Jornal de Notícias e O Público), referente aos anos
1998-2008, procurámos conhecer quais as representações sociais do alpinismo
em Portugal, em geral, e de João Garcia, em particular, no referido período. Da
análise a priori surgiram as seguintes categorias: Herói; e Riscos e Acidentes
no Alpinismo. Da leitura do nosso corpus de estudo surgiram, a posteriori, as
seguintes categorias: João Garcia e Evereste; e Projectos de João Garcia.
Como principais conclusões temos a constatação de que é, ainda, a tragédia
que apresenta um maior valor-notícia. Não só associada ao alpinismo em
termos gerais mas, também, ao tipo de representações sociais acerca do mais
consagrado alpinista português, João Garcia. Verificámos, portanto, a
importância de João Garcia nas representações sociais do alpinismo, uma vez
que, maioritariamente, as notícias se referem a ele. Deste modo, percebe-se o
elevado número de unidades de registo relacionadas com a concretização da
proeza, relativa à conquista do Monte Evereste, o que despoletou um
reconhecimento tal, ao ponto de João Garcia ser conotado com a ideia de herói
arquétipo.
Palavras-chave: JOÃO GARCIA; ALPINISMO; REPRESENTAÇÕES SOCIAIS;
MEDIA.
XIII
Abstract
The common knowledge of rock or mountain climbing in Portugal is most
likely short, though, to the best of somebody’s knowledge, the media are the
only source available that may provide more or less coverage of the subject.
The representative idea of this activity broadcast by the media affects the public
ideas, beliefs and knowledge of mountaineering, which has been growing
steadily over the last years. The content analysis of two daily general
newspapers (Jornal de Notícias and O Público) between the years 1998 and
2008, has allowed us to understand the social representations of climbing in
Portugal in general, and also of João Garcia in particular, throughout that period
of time. A priori analysis shows the following categories: Hero; Risks and
Accidents in Climbing. From the analysis of our corpus of study, two categories
emerged: João Garcia and Everest; and Projects of João Garcia. All the
evidence points to the conclusion that the tragedy is still the focus of media
attention, not only associated with climbing in itself, but also with the kind of
social representations of the greatly respected Portuguese mountain climber
João Garcia. Therefore, we have confirmed the importance of João Garcia in
what concerns the social representations of mountain climbing since he is the
media’s major concern. Thus, we can understand the high record number of
successes related to the conquest of Mount Everest, which has initiated such
recognition of João Garcia that he is now seen as the idea of the archetypal
hero.
Key words: JOÃO GARCIA; MOUNTAINEERING/MOUNTAIN CLIMBING;
SOCIAL REPRESENTATIONS; MEDIA.
XV
Résumé
Il est probable qu´au Portugal les connaissances sur l´activité de
l´alpinisme soit réduite, si bien que le peu de connaissance qu´il existe soit
construit essentiellement à travers les media. Á partir des représentations
sociales provenant des media sont crées connaissances, idées et croyances
sur l´alpinisme, qui au long des années a été mis en évidence. A travers
l´analyse du contenu de deux journaux généralistes (Jornal de Notícias et O
Público), relativement aux années 1998-2008, nous avons tenté savoir quelles
étaient les représentations sociales de l´alpinisme au Portugal, en général, et
de João Garcia, en particulier, pendant cette période. De l´analyse à priori ont
surgit les catégories suivantes : Héro; et Risques et Accidents en Alpinisme. De
la lecture de notre corpus d´étude ont surgit, a posteriori, les catégories
suivantes : João Garcia et l´Everest; et Projets de João Garcia. Comme
principales conclusions, nous avons constaté que la tragédie représente une
grande importance au niveau de l´information, ceci est associé à l´alpinisme en
général, mais aussi au type de représentations sociales sur le grand alpiniste
portugais, João Garcia. Nous avons vérifié, donc, l´importance de João Garcia
dans les représentations sociales de l´alpinisme, puisque, habituellement, les
informations sont liées à lui. De cette forme, nous comprenons le grand
nombre de registres liés à la concrétisation de la prouesse relative à la
conquête du Mont Everest, ce qui a provoqué une telle reconnaissance de
João Garcia que celui-ci a été lié au modèle de héro archétype.
Mots-clés : JOÃO GARCIA; ALPINISME; REPRÉSENTATIONS SOCIALES;
MEDIA.
XVII
Abreviaturas
AC – Alpine Club
CMG – Clube de Montanhismo da Guarda
CNM – Clube Nacional de Montanhismo
FPCC – Federação Portuguesa de Campismo e Caravanismo
R.S. – Representações Sociais
U.R. – Unidade de Registo
I INTRODUÇÃO
INTRODUÇÃO
3
Numa sociedade que, cada vez mais, valoriza o tempo livre como
contraposição ao tempo “oprimido”, onde as restrições se impõem à livre e
espontânea vontade, a procura de espaços naturais e passíveis de despoletar
uma satisfação pessoal, onde não mais importa o “eu vs o outro”, tem vindo a
afirmar-se. Neste contexto “natural”, no qual se providencia a auto-satisfação
daquele que procura transcender-se, surge o Alpinismo como uma actividade
que proporciona a “fuga” do espaço desprovido de emoção, daquele em que os
principais objectivos são a diminuição dos riscos e, obviamente, a procura da
segurança. Esta é, sem dúvida, uma dupla e contrária necessidade da
sociedade em que vivemos.
O Alpinismo revela-se, para os apaixonados, como uma oportunidade de
transcendência, como um “mundo à parte”. Contudo, esta é uma actividade
pouco frequente no nosso país, sendo parco o conhecimento acerca da mesma
e tendo ainda pouca história em Portugal. De facto, o Alpinismo, no nosso país,
ainda se assume como um campo inexplorado e, consequentemente,
desconhecido, fundamentando-se esta afirmação pelo facto de permanecer
durante longos períodos sem qualquer tipo de notoriedade. Senão vejamos;
quando nos questionamos acerca do número de notícias, impressas ou
televisivas, ou mesmo por outro meio de comunicação social, sobre o
alpinismo, percebemos a sua pouca relevância nos media. Contrariamente ao
conhecimento pormenorizado de várias modalidades desportivas sobre o
plantel, dirigentes e mesmo detalhes que necessitam de um certo “vasculhar”,
temos o alpinismo, a respeito do qual pouco ou nada se conhece. Seria mesmo
caricato perguntar que alpinistas portugueses, ou mesmo estrangeiros, estão
presentes na memória colectiva. O que acabámos de referir fundamenta-se,
não só, mas também, nas características geográficas do nosso país, cuja
montanha mais alta - a Serra da Estrela tem - apenas, 1993 metros. Citamos
“apenas” pelo facto de, comparativamente, com os “picos do mundo”, aqueles
que atraem alpinistas de todo o planeta, esta altitude não ser alvo de atracção
internacional. Deste modo, percebe-se a falta de conhecimento que,
provavelmente, a maioria das pessoas não envolvidas no alpinismo têm.
Assim, de forma a terem conhecimento sobre o que acontece neste âmbito,
resta ao vulgo leitor “espreitar pela frincha da porta dos media”, ou seja, as
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
4
percepções acerca do alpinismo serão, sem dúvida, rastreadas pelos meios de
comunicação social. De facto, uma das razões para o referido é a escassa
representação social acerca deste tema. Outra forma de constatarmos isso é
através da diminuta investigação sobre a problemática, nomeadamente, na sua
relação com os Media. Importa, então, conhecermos o tipo de informação
disseminada pelos media relativamente ao alpinismo. Uma forma de o
fazermos relaciona-se com o estudo das representações sociais do alpinismo
em Portugal, sendo este o nosso grande objectivo, com a especificidade da
imprensa escrita como foco de análise. Com efeito, o estudo das
representações sociais é fundamental, na medida em que estas se constituem
como uma forma de pensamento social que inclui as informações,
experiências, conhecimentos e modelos que, recebidos e transmitidos pelas
tradições, pela educação e pela comunicação social, circulam na sociedade
(Pavarino, 2003). Ou seja, estas permitem-nos aceder à construção do
conhecimento da realidade social sobre um dado assunto, neste caso, sobre o
Alpinismo.
Tendo em conta o referido, sublinhado pela inexistência, a nível nacional
e internacional, de estudos referentes às representações sociais do alpinismo
na imprensa escrita, pelo menos que tenhamos conhecimento, consideramos
pertinente debruçarmo-nos sobre esta temática. De facto, pensamos ser
fundamental estudar e aprofundar o que se sabe sobre as representações
sociais do alpinismo, em particular sobre João Garcia, melhor representante
desta actividade em Portugal. Assim é, dado que esta modalidade começa a
demonstrar algum destaque em Portugal a partir dos sucessos de João Garcia,
o primeiro e único português que alcançou o cume do Evereste, a mais alta
montanha do mundo (8848 metros).
Fazendo referência à hipótese do Agenda Setting (uma das teorias da
comunicação social), criada por McCombs & Shaw (1972), que defende um alto
grau de correspondência entre a quantidade de atenção dada a determinada
questão pela imprensa e o nível de importância a ela atribuído por pessoas da
comunidade que estiveram expostas aos media, remetemo-nos para uma
análise minuciosa do que é publicado, em Portugal, sobre o alpinismo e, mais
especificamente, sobre o mais consagrado alpinista português, João Garcia.
INTRODUÇÃO
5
Posteriormente à investigação pensamos ter dados suficientes para inferir
acerca da actual representação do alpinismo no nosso país, na medida em que
compreenderemos a consideração atribuída a esta actividade pela imprensa
portuguesa.
O facto de a nossa opção ter recaído sobre a imprensa escrita prendeu-
se por esta ser uma das formas de comunicação social que mais impacto
exerce nos indivíduos. Isto, já tendo, como premissa, que os meios de
comunicação têm a capacidade (não intencional nem exclusiva) de agendar
temas que são objecto de debate público em cada momento (Sousa, 2006).
Desta forma, o principal objectivo para o presente estudo passa por
conhecer as representações sociais do alpinismo em Portugal entre 1998-2008.
Para entendermos este fenómeno de estudo, delineámos os seguintes
objectivos específicos:
• Conhecer o discurso na imprensa escrita sobre o Alpinismo (1999-2008),
em particular sobre o João Garcia;
• Perceber que tipo de Representações Sociais emerge destes discursos;
• Perceber qual o contributo de João Garcia nas Representações Sociais
do Alpinismo em Portugal;
• Identificar elementos nos discursos que permitam perceber se João
Garcia está conotado com a noção de herói.
Tendo em conta o exposto, daremos início à estruturação do nosso
estudo que se seque com a revisão da literatura, no sentido de enquadrar
teoricamente o fenómeno em estudo. Posteriormente, virão as questões de
âmbito metodológico, no sentido de descrever e justificar o método que mais se
adequa aos nossos objectivos, a análise de conteúdo e, por último, o sistema
categorial. De referir a criação de um subcapítulo exclusivo a João Garcia, no
sentido de se entender todo o seu percurso enquanto alpinista. No que respeita
à apresentação e discussão dos resultados, seguiremos uma lógica que separa
estes dois capítulos pelo facto de se tornar mais pertinente discutir de uma
forma intercategorial. E, por último, apresentaremos as conclusões retiradas
deste estudo.
II REVISÃO DA LITERATURA
REVISÃO DA LITERATURA
9
1 Alpinismo
1.1 Contextualização Histórica
1.1.1 Internacional
Uma vez que o nosso trabalho dissertará sobre o Alpinismo importa,
então, enquadrá-lo historicamente, de forma a percebermos em que contexto
mundial surgiu e, posteriormente, compreender como se desenvolveu a
actividade em Portugal, cerceando o nosso discurso até ao representante
máximo do alpinismo português, João Garcia.
Analogamente a vários desportos modernos, o Alpinismo também foi
inventado pela Grã-Bretanha, a meio do século XIX (Robbins, 1987). Com o
desenvolvimento do capitalismo industrial britânico, a meio do século XIX, deu-
se a criação da burguesia industrial e a expansão da classe média profissional,
principalmente urbana. A classe média tinha, então, tempo e recursos
financeiros que lhe proporcionou a busca de actividades de ar livre (Robinson,
2005).
Não obstante, há registo e documentação de ascensões antes dessa
época1. A primeira ascensão ao Monte Branco em 1786, por exemplo, foi
inspirada por Benedict de Saussure, Professor de Filosofia Natural em Genève
(Nettlefold & Stratford, 1999). Benedict de Saussure procurou fazer leituras
barométricas tão altas quanto possível (idem) e terá sido o primeiro a
determinar as leis que regem a formação e a actividade dos glaciares (Belden,
1994). Mas só com a chegada dos britânicos é que se realizaram as restantes
ascensões a cumes de 4.000 metros (Sale & Cleare, 2001).
As primeiras ascensões aos pontos mais altos dos Alpes Europeus
tiveram, deste modo, como propósito, investigações científicas, relacionadas
com a altitude. Estas investigações científicas realizaram-se no âmbito da
Glaciologia, Geologia, Botânica e Cartografia (Robbins, 1987).
1 Note-se que existem registos mais antigos, nomeadamente nas travessias aos Himalaias. A título de exemplo, em
1624, um jesuíta português, o padre António de Andrade, surpreendeu o mundo ao revelar a existência dos reinos do
Tibete, tendo sido o primeiro europeu a percorrer os Himalaias (in National Geographic, Portugal, Maio, 2002).
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
10
A título de exemplo, é de referir que terá sido numa operação de
cartografia que os ingleses realizaram no Nepal, em 1852 que, através de uma
série de medições por triangulação, se forneceu a altitude de 8839 metros para
a montanha mais alta do mundo (Garcia, 2002).
Foi neste cenário que se começou a desenhar a institucionalização do
Alpinismo. Mas, rapidamente o itinerário Alpino Europeu tornou-se apetecível a
vários turistas, deixando de se limitar às pesquisas científicas (Robbins, 1987).
A institucionalização desta nova actividade concretizou-se através de uma
reunião a 22 de Dezembro de 1857 no Hotel Ashley, em Londres, entre
alpinistas britânicos, todos envolvidos de forma activa no desenvolvimento do
montanhismo alpino durante a “idade de ouro” do alpinismo (1854-1865).
Estabeleceu-se, assim, o Alpine Club (AC), em Londres. Por muitos anos os
“Gentlemens” (homens da classe alta inglesa no século XVIII, e popularizado
de classe média inglesa no fim do século XIX) constituíram a base deste Clube.
Desta forma, a base do AC compreendia um grupo homogéneo,
maioritariamente, da classe-média, de profissões cultas e polidas, as quais
incluíam bancários, advogados, funcionários públicos, clérigos, empresários e
estudiosos (Robinson, 2005). A classe base de recrutamento para o referido
Clube derivou de várias fracções da classe-média profissional, mais novos ou
mais velhos, em conjunto com um número reduzido de indivíduos com terras,
burgueses de secções industriais e financeiras, e da classe-média empregada
na indústria e nas finanças. Só mais tarde é que o padrão geral estabilizou com
a inclusão de membros do comércio.
Seguiu-se a publicação, em 1858, da colecção Peaks, Passes and
Glaciers, uma série de “episódios” descritos por diferentes escritores.
Posteriormente, a edição regular, em 1863, do Alpine Journal, como
substituição da referida colecção. Estes antecedentes foram igualados por
outros países europeus. O posterior desenvolvimento incluiu a fundação de
diversos clubes, nomeadamente, The Scottish Mountaineering Club, The
Climbers Club e Fell and Rock Climbing Club, que se ocuparam das áreas
montanhosas britânicas. Neste período (1850-1914), o alpinismo britânico é
primeiramente a história do AC e, posteriormente, dos referidos clubes
(Robbins, 1987).
REVISÃO DA LITERATURA
11
Percebe-se, pois, que o desenvolvimento do Alpinismo foi acompanhado
de uma extensiva literatura que inclui os jornais produzidos pelos clubes, livros
escritos pelos alpinistas sobre as suas actividades e guias de alpinismo. Surge
outra literatura; desta, fazem parte as histórias populares e artigos reflexivos
redigidos pelos participantes. Cedo, as revistas sobre alpinismo e guias
desempenharam um papel crucial na institucionalização desta actividade,
promovendo práticas aceites que eram caracterizadas por um conjunto
complexo de regras tácitas e que foram compostas por uma tradição inventada.
Relativamente à literatura académica, pode-se referir que foi escassa,
dominada por psicólogos interessados na tomada de risco (Robbins, 1987),
mas que posteriormente se desenvolveu em várias áreas científicas,
nomeadamente na Sociologia do Desporto.
Voltando, novamente, ao contexto em que se deu a institucionalização,
como “pano de fundo” temos um enquadramento cultural que importa salientar
pois, como refere (Robbins, 1987), para se analisar o desporto como cultura, é
necessário estabelecer o que é que a prática significa para os seus adeptos,
examinar onde se desenvolvem esses desportos com esses mesmos
significados e como estes podem variar no tempo.
O mundo cultural original do Alpinismo enquadra-se na Época Vitoriana;
uma época que compreende a segunda metade do século XIX e a primeira
década do século XX, em que os movimentos sociais populares cederam lugar
a um sistema social equilibrado, grandemente, devido à estabilidade do Império
Britânico, governado pela Rainha Vitória (1819-1901). Apesar do materialismo
herdado, a época foi marcada pelo retorno de valores éticos como
respeitabilidade, polidez e circunspecção, considerados as mais elevadas
virtudes sociais (Cobra, 2003).
Este mundo cultural Vitoriano foi construído em torno de três discursos
em constante conflito, rotulados de Cientificismo, Atleticismo e Romantismo. O
primeiro afirma Robbins (1987), foi o principal factor motivacional que esteve na
criação deste desporto (como referido acima). Este discurso científico está
associado ao facto de a maior parte dos praticantes ter começado a escalar
com propósitos científicos (cartografia e glaciologia), fazendo com que o AC,
em Londres, se constituísse numa imagem de sociedade culta. No entanto, a
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
12
associação deste clube com o Cientificismo foi desaparecendo devido ao
surgimento de uma lógica/racionalidade atlética, enfatizando as virtudes da
melhoria física e moral derivadas do desporto (Robinson, 2005).
Neste âmbito, a burguesia vitoriana mostrou grande preocupação pela
masculinidade nos seus significados morais, sociais e políticos mas, também,
já no fim do século XIX, colocou uma nova ênfase na resistência física e na
saúde. O corpo do homem tornou-se a preocupação central do género
masculino; paixões heróicas reavaliadas numa luz favorável; o homem começa
a olhar para as fontes primitivas de masculinidade com novos olhos; as virtudes
marciais atraíram admiração; os impulsos competitivos foram transformados
em virtudes masculinas. Através deste novo entendimento do alpinismo,
permanece uma recreação racional por aumentar qualidades como saúde física
e coragem no confronto com o perigo e adversidade. No centro deste princípio
há um discurso de recompensa: são reconhecíveis os símbolos de estatuto
baseados na competição, na aptidão moral, no domínio sobre a natureza e na
masculinidade (Robinson, 2005).
Em meados de 1870, surgiu um novo discurso – romantismo - por um
grupo decididamente romântico que ressalta o significado moral e espiritual
associado aos espaços montanhosos e experiências. Desenvolve-se um novo
sentimento e percepção da montanha. O pensamento inglês abre-se cada vez
mais a uma estética da imaginação e do irregular mais permeável a um
Sublime de coisas, onde está relacionado o entusiasmo do sujeito com o vasto
na natureza. Este discurso permaneceu perceptível mas um pouco secundário.
Com efeito, os homens de classe média construíram activamente uma
masculinidade afirmativa para defender o sentimento de poder imperial da Grã-
Bretanha. Isto foi conseguido através da invenção de várias formas agressivas
de cultura da classe-média culta, como o Alpinismo nos Alpes (idem).
Mas o alpinismo anglo-saxónico cresceu não apenas entre os europeus
mas, também, entre as “socialites” americanas que, em 1873, formaram o
Appalachian Mountain Club. Como a popularidade do desporto cresceu, no fim
desse século, alpinistas ingleses e americanos procuraram novos desafios não
escalados na Europa, Ásia, África e América do Norte. A Europa estava a
tornar-se “pequena”, daí a exploração de outros países, dando continuidade ao
REVISÃO DA LITERATURA
13
que Nettlefold & Straford (1999) designam de colonialismo vertical, uma vez
que, entre 1854 e 1882, os alpinistas britânicos “reclamaram” 31 das 39
primeiras ascensões registadas nos Alpes Europeus.
Foram estes alpinistas que mostraram o caminho das cordilheiras das
montanhas do Canadá, na medida em que os Canadianos ainda não tinham
sido “seduzidos” pelo alpinismo. Os poucos que eram alpinistas faziam
medidas minuciosas dos picos, uma vez que eram exploradores ocidentais e
geómetras ferroviários (Robinson, 2005).
Até ao Outono de 1885 as montanhas canadianas eram um vasto
território inexplorado mas, nesta data, quando foi completado o caminho-de-
ferro que abrira o oeste canadiano, os passageiros da Canadian Pacific
Railway viram, pela primeira vez, cenários como o Lago Louise, que se situa
entre alguns dos picos do Rockies (Montes Victoria, Lefroy e Temple). Para
diminuir a grande dívida devido à construção da ferrovia, a CPR iniciou um
sistema de valorização da costa que promoveu o turismo nos Alpes
Canadianos. Também, importou guias suíços profissionais para liderar
caminhantes e alpinistas às montanhas, garantindo segurança. Depois, foi uma
questão de tempo para que o Canadian Club ganhasse forma. Começam os
anos de ouro do alpinismo, agora no Canadá (idem).
É unânime a opinião de que a “idade de ouro” do alpinismo ocorreu nos
Alpes entre 1854 e 1865, período no qual foram feitas as ascensões mais
importantes. Sendo estas as ascensões Britânicas do Wetterhorn (3,701m) e
Matterhorn (4,478m). Esta designação “idade de ouro” foi, inicialmente,
atribuída por Cunningham em 1887, político escocês, jornalista e aventureiro, o
primeiro membro socialista do Parlamento do Reino Unido (Robinson, 2004).
O alpinismo foi, então, identificado como um desporto, e Cunningham
envolveu-se, segundo Donnelly, na actividade mais popular das últimas três
décadas do século XIX, a invenção da tradição, ajudando a Grã-Bretanha a
tornar-se numa nação desportiva (Hobsbawm & Ranger, 1983). Embora
ressaltando a nítida crítica em direcção às gerações mais novas de alpinismo,
a caracterização do autor glorificou a primeira geração de alpinistas britânicos e
não afirmou apenas a presença britânica histórica na Europa mas, também,
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
14
tentou assegurar que a sua forma/estilo de alpinismo seria a forma/estilo do
desporto para o futuro.
No que respeita à forma como se procediam as ascensões,
primeiramente, os alpinistas eram acompanhados por guias (pessoas locais).
Preparavam o acampamento e a comida, até mesmo o transporte de cargas
pesadas. Isso tornou-se tão popular que um em cada dez rapazes saudáveis
que vivia nas aldeias alpinas era guia. Não obstante houvesse a prática
associada aos guias, esta não se tornou corrente até à I Guerra Mundial
(Robinson, 2004).
Normalmente, os alpinistas escalavam em grupos de três ou mais; fazê-
lo sozinho era impensável. De facto, na época vitoriana, algumas éticas de
percepção das noções de risco estavam enraizadas. Tal como Donnelly (1994)
refere, relativamente à tomada de risco, os alpinistas tinham perfeita noção do
que era inadequado em termos de escolha de itinerário ou tempo. As primeiras
ascensões assentavam na base da segurança, fazendo-se pelas rotas mais
simples e fáceis. Até porque, escolher rotas difíceis e perigosas não era de
comum acordo no ethos (espírito característico de um povo ou comunidade) de
alpinistas vitorianos. Defendiam, ainda, que o risco não se justificava numa
segunda ascensão, o impacto e reconhecimento sociais são maiores nas
primeiras ascensões (Robinson, 2004).
Em 1865, com o desastre que ocorreu em Matterhorn, começou a “idade
de prata” do alpinismo nos Alpes europeus. Esta montanha ainda não havia
sido conquistada e, Francis Douglas, Edward Whymper e o seu guia Peter
Taugwalder planearam um “assalto” ao cume depois de várias tentativas
falhadas de Whymper. Dia 13 de Julho, aos alpinistas referidos juntaram-se
Charles Hudson, Robert Hadow, o filho de Taugwalder, e Michel Croz. A 14 de
Julho, partiram para a bem sucedida primeira ascensão, pela rota Hörnli. No
entanto, na descida, Hadow caiu, abatendo Croz e também Hudson e Douglas.
Ligados por uma corda, os quatro “caíram para a morte” sobre o Glaciar
Matterhorn, 1400 metros abaixo. Três dos corpos foram posteriormente
encontrados, mas o de Douglas não (Guntern, 1990). Este trágico
acontecimento inspirou debates sobre a ética do alpinismo e sobre a aparente
falta de novos desafios nos Alpes. Durante esta segunda fase, o alpinismo foi
REVISÃO DA LITERATURA
15
re-imaginado. Já não se premiava apenas o alcance do cume, mas também o
percurso seleccionado. Assim como novas rotas ganham significado, as
primeiras ascensões no inverno, as primeiras ascensões de mulheres também
o ganharam. Há, então, o reconhecimento de que o risco é por vezes
necessário para obter sucesso na conclusão de uma nova via. Estas alterações
provocaram o nascimento da moderna escalada em rocha, no gelo e outras
formas de alpinismo numa brilhante reinvenção da tradição. Quarenta anos se
passaram até que tais mudanças atingissem a América do Norte (Robinson,
2004).
Já fora da supremacia alpina britânica, (como podemos constatar nas
nacionalidades dos pioneiros dos 14 “oito mil”) que entrou em declínio na I
Guerra Mundial (1914-1818), os Alpes perdem o seu “posto” e este é ocupado
pelos Himalaias, mudando por completo a origem dos alpinistas que, agora,
surgem da França, Suíça, Itália, Alemanha… (Sale & Cleare, 2001).
A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) colocou um ponto final na
actividade alpina nos Himalaias. Foram, precisamente, os países mais
empenhados na sua exploração que estiveram mais activamente envolvidos
nesse conflito mundial. Nos anos posteriores, essas nações rapidamente se
recompuseram e partiram para novas e extraordinárias ascensões. Começa,
nesta data, a exploração dos “tectos do mundo”, os 14 “oito mil” (Sale & Cleare,
2001). Assim sendo, importa referir quais os pioneiros e quando ascenderam e
atingiram cume das montanhas mais altas do mundo. Temos então, por ordem
cronológica (idem):
Annapurna (8091 m): Era o Pico XXXIX do Serviço Cartográfico da
Índia. O seu nome local “cheio de comida” também contém a raiz de outro
nome, “Mãe Divina Hindu”. O seu cume foi alcançado pelos Franceses Louis
Lachenal e Maurice Herzog a 3 de Junho de 1950.
Evereste (8848m): É a montanha mais alta do mundo e era o Pico XV.
Está localizado na cordilheira do Himalaia. Situa-se na fronteira entre o Nepal e
o Tibete. Em nepalês, o pico é chamado de Sagarmatha (rosto do céu), e em
tibetano Chomolangma ou Qomolangma (mãe do universo).
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
16
A primeira ascensão até ao topo foi feita pela expedição anglo -
neozelandesa em 1953, dirigida por John Hunt. O pico foi alcançado a 29 de
Maio por Edmund Hillary (Nova Zelândia) e Tenzing Norgay (Índia).
A primeira ascensão sem recurso a oxigénio artificial foi feita por
Reinhold Messner e Peter Habeler a 8 de Maio de 1978.
Nanga Parbat (8125m): Pelo Austríaco Hermann Buhl a 3 de Julho de
1953. O “oito mil” mais ocidental. O nome deriva de Nanga Parvata “montanha
despida”, talvez pelo seu isolamento.
K2 (8611m): Os Italianos A. Compagnoni e L. Lacedelli alcançaram
cume a 31 de Julho de 1954. O nome deve-se ao facto de, em 1856, o capitão
T. G. Montgomerie, topógrafo oficial do exército britânico, ter catalogado os
cumes topografados por números, denominando-os de “K”, de Karakorum.
Cho Oyu (8201m): A sexta montanha mais alta do mundo. O seu nome
significava a “cabeça de Deus”. Pelo Austríaco H. Tichy e S. Jochler, Pasang
Dawa Lama, da Índia, a 19 de Outubro de 1954.
Makalu (8463 m): Era o Pico XIII do Serviço Cartográfico da Índia e, em
1884 sugeriu-se o nome Khamba Lung, que parece ter derivado de uma região
local chamada Khamba. Pelos franceses J. Couzy e L. Terray a 15 de Maio de
1955.
Kangchenjunga (8586 m): O Pico IX, situado na fronteira entre o Nepal
e Sikkim, a apenas 74 km a noroeste de Darjeeling (cidade do Estado Indiano
de Bengala Oeste). Da Grã-Bretanha, G.Band e J.Brown a 25 de Maio de 1955
“atingiram cume”. É a terceira montanha mais alta do mundo. Durante alguns
anos, de 1838 a 1849, acreditava-se que era a mais alta. A primeira tentativa de escalada remonta a 1905 onde quatro membros
de uma expedição internacional morreram numa avalanche.
Como inspiração à beleza da Kangchenjunga, as expedições não dão os
últimos passos até ao cume, de forma voluntária, e por respeito ao povo do
Sikkim, que consideram o cume sagrado. Esta tradição iniciou-se com a
Expedição Britânica em 1995, uma vez que pararam a curtos metros do cume
actual, em honra da religião local. As duas ascensões seguintes também
mantiveram a tradição.
REVISÃO DA LITERATURA
17
Várias são as origens do nome Kangchenjunga, mas da sua tradução
obtemos a frase "Os 5 Tesouros da Grande Neve", como referência aos cinco
picos que nascem dos seus glaciares.
Manaslu (8163 m): Era o Pico XXX. Inicialmente chamava-se Kutang I,
por ser a montanha mais alta desse mesmo distrito. Pelo Japonês T. Imanishi e
pelo Nepalês Gyalzen Sherpa a 9 de Maio de 1956.
Lhotse (8516 m): A quarta montanha mais alta do mundo. Pelos Suíços
F. Luchsinger e E. Reiss a 18 de Maio de 1956. Era o E1 para o Serviço
Cartográfico da Índia.
Gasherbrum II (8035 m): O grupo dos Gasherbrum’s (I, II e III) situa-se
na cabeceira do Glaciar Baltoro. Pelos Austríacos S. Larch, F. Moravec e H.
Willenpart a 7 de Julho de 1956.
Broad Peak (8047 m): Pelos Austríacos H. Buhl, K. Diemberger, M.
Schmuck e F. Wintersteller a 9 de Junho de 1957. Como não era visível pelos
topógrafos, não lhe foi atribuído um número na cartografia original de
Karakorum, só na expedição de Martin Conway, em 1892, é que foi
denominado deste modo.
Gasherbrum I (8068 m): Pelos Americanos A. Kauffman e P. Schoening
a 5 de Julho de 1958. Conhecido como o K5 mas Conway baptizou-o, em
1892, como Hidden Peak “pico escondido”. Contudo, devido à tendência para
não usar nomes ocidentais para as montanhas Himalaias, hoje é conhecido
como Gasherbrum I.
Dhaulagiri (8167 m): Pelo Austríaco K. Diemberger, pelo Alemão P.
Diener, pelos Suíços E. Forrer e A. Schelbert e pelos Nepaleses Nawang
Sherpa, Nima Sherpa a 13 de Maio de 1960. O Pico XLII recebe o nome
Dhavala Giri “montanha branca” mas todas as montanhas dos Himalaias são,
principalmente, brancas, daí mudar-se para o actual nome.
Shisha Pangma (8046 m): Era o Pico XXIII e foi conhecido muitos anos
por Gosaithan “Lugar do Santo”. Pelos Chineses Chen San, Cheg Tianliang,
Wang Fuzhou, Wu Zongyue, Xu Jing e Junyan e pelos Tibetanos Doje, Mima
Zaxi e Yungden a 2 de Maio de 1964. Na língua de Tibete, significa “cume
acima do vale do prado”. A montanha fica situada perto de Gosainkund - o lago
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
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sagrado de povos Hindu. Os chineses promovem o nome Xixabangma que
significa “tempo mau”.
É a menor de um total de 8 mil metros de montanhas e fica situada em
Langtang Himal - no território de Tibete, aproximadamente 120 quilómetros a
noroeste do Evereste.
Desde 1963 que a montanha está sob o controlo da China. Devido a um
isolamento político do Tibete, a exploração destas montanhas era impossível
até 1980. Naquele tempo, uma expedição alemã, chefiada por Mr. Alelein
chegou ao cume, com a mesma rota que os chineses nos anos 60.
Tendo já sido feita uma breve exposição da conjuntura mundial em que
se desenvolveu o Alpinismo, passaremos, então, para a explicação do
sucedido no nosso País relativamente a esta actividade.
REVISÃO DA LITERATURA
19
1.1.2 Nacional - O Aparecimento e Desenvolvimento do Alpinismo em
Portugal
Em Portugal, a prática de alpinismo remonta aos finais do século XIX
inícios do século XX, e está associada a Gomes Teixeira, Emídio Navarro,
Sousa Martins, entre outros pioneiros. Para a implementação e
desenvolvimento da actividade, a expedição científica à Serra da Estrela (1993
m), de 1881, foi marcante. É a maior elevação de Portugal Continental e a
segunda maior da República Portuguesa (apenas o Pico, nos Açores, a
supera).
Ao consultar os documentos da Federação de Campismo e
Montanhismo de Portugal2 podemos dividir o desenvolvimento do Alpinismo no
nosso país em duas fases. A primeira, Época Clássica (1920-1970),
caracteriza-se pelo surgimento do montanhismo organizado. Jorge Santos que,
em 1920, escalou o Alto da Pena (Vila Nova de Cerveira), pelo papel
destacado que desempenhou no desenvolvimento do montanhismo durante
várias décadas, pode ser considerado o pai da “modalidade” em Portugal.
A primeira associação que se dedicou à prática de montanhismo terá
sido o grupo portuense “Os Serranos” em 1920/22, seguindo-se o Grupo
Excursionista de Ar Livre em 1932 e o Tribu Alpino Campista em 1937. A
vertente da escalada no seio do montanhismo começou a ganhar força no TAC
sob a direcção de Jorge Santos. Nos anos 30 já se escalava em Anamão
(Castro Laboreiro), Fragas da Ermida (Serra do Marão), Pé do Cabril (Gerês),
Fragas do Diabo (Valongo). Jorge Santos pertenceu, também, ao grupo que
fundou o Clube Nacional de Montanhismo (CNM), em 1943, juntamente com
Pereira da Costa, José Cardoso, Amândio Silva, Vicente Russo, entre outros.
Em 1947, dois técnicos do Clube Alpino Francês vieram ministrar um
curso a membros do CNM de onde saíram os primeiros “monitores”
portugueses, que constituíram o primeiro núcleo de formadores. Mas o CNM,
também designado Clube Alpino Português foi, sem dúvida, durante mais de
2 Consulta-se: http://www.fcmportugal.com
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
20
meio século, o representante e principal impulsionador da modalidade no nosso
país. Dirigiu e representou o montanhismo até Agosto de 1991, data em que a
Direcção-Geral dos Desportos passou essas competências para a, então,
Federação Portuguesa de Campismo e Caravanismo (FPCC).
Entre 1970-2005, surge a Época Moderna: a consolidação e a
diversificação. A Mocidade Portuguesa desenvolveu, a partir de 1970,
actividades na área do montanhismo, nomeadamente acções de formação de
escalada, através das Brigadas Especiais de Campo (BECs). Algumas das
pessoas ligadas a essa polémica entidade tiveram a sorte de participar no
curso de monitores dado por um dos melhores guias de alta montanha de
então, Alphonse Darbelay.
Nos anos 70, o CNM norte revitalizou-se. O Parque de Campismo de
Árvore, aberto em 1972, permitiu um aumento do número de sócios
acompanhado da desejada consolidação financeira. O CNM sul, sediado em
Lisboa, também começou a desenvolver actividades com alguma frequência e
qualidade. Mas também havia praticantes que realizavam actividades à
margem dos clubes.
Os anos 70 presenciaram as primeiras escaladas e ascensões
tecnicamente difíceis levadas a cabo por portugueses nos Alpes.
A década de 80 solidificou essa tendência e caracteriza-se
paralelamente pelo aumento significativo do número de praticantes e de clubes:
Clube de Montanhismo da Guarda (CMG), Grupo de Montanhismo de Vila
Real, Grupo de Montanhismo de Faro, Clube de Montanhismo de Setúbal,
entre outros.
Na década de 90 e primeiros anos do século XXI, assiste-se à
generalização das ascensões em altas altitudes. A primeira ascensão de um
português acima dos sete mil metros – Pico Korjenyevska, (7105 m) foi levada
a cabo, em 1990, por Gonçalo Velez. Este alpinista seria também o primeiro
português a coroar um oito mil em 1991: o Annapurna (8091 m). O alpinista
Pedro Pacheco tenta o Monte Evereste em 1992 e 1994. João Garcia também
empreende duas tentativas no “Tecto do Mundo” em 1997 e 1998. Viria a
tornar-se o mais famoso alpinista português ao atingir o cume do Evereste em
1999. No entanto, João Garcia já tinha atingido cumes acima dos oito mil
REVISÃO DA LITERATURA
21
metros anteriormente: o Cho Oyo (8201 m) em 1993 e o Dhaulagiri (8167 m)
em 1994. João Garcia voltou às grandes altitudes para conquistar o
Gasherbrum II (8053 m) em 1999 e concretizou o velho sonho de ascender o
MacKinley (6194 m) em 2002. A primeira expedição portuguesa a um “sete mil”
dos Himalaias, liderada por João Garcia, colocou, em Maio de 2003, quatro
portugueses no cume do Pumori (7120 m). Gonçalo Velez ascendeu o Cho
Oyo (8201 m) em 1997, tentou o Shisha Pangma (8012 m) em 1999, bem
como o Lhotse (8516 m) em 2000, e atingiu o cume do Kankchenjunga (8586
m) em 2001.
Importa referir a abertura da via Quinto Império na face oeste do Naranjo
de Bulnes (Picos da Europa), em 1996, por Sérgio Martins e Francisco Ataíde,
e a escalada do esporão Walker (Maciço do Monte Branco), em 2001, por
Paulo Roxo e Nuno Soares.
Portugal pertence à União Internacional das Associações de Alpinismo
desde 1932 e actualmente conta com dois representantes: a FPCC e o CNM.
Na sequência do exposto importa, agora, debruçarmo-nos sobre o que
caracteriza o Alpinismo, na medida em que a posterior elucidação nos ajudará
a compreender o que poderá determinar a sua prática.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
22
1.2 Caracterização do Alpinismo
O Alpinismo insere-se num contexto de lazer, em que se nota uma cada
vez maior aproximação das pessoas aos ambientes naturais na fuga do
ambiente urbano, e que se tem repercutido num incremento de actividades de
ar livre, que se regem mais pelo “relógio natural” do que pelo mecânico (Garcia,
1996). Paralelamente, desde meados do século XX que temos vindo a assistir
a uma cada vez maior valorização do tempo livre, bem como, uma perda de
centralidade do trabalho em favor do lazer libertador e instância de realização
pessoal (Gama, 1991).
As actividades físicas em meio natural têm evoluído desde concepções
tradicionais e minoritárias a formas mais inovadoras ao alcance de uma ampla
massa social. Assiste-se a uma procura por parte dos participantes de
emoções na natureza em contraposição a uma perspectiva de vida urbana
onde a percepção do risco é quase inexistente (Fuster i Matute & Agurruza,
1995). O Alpinismo enquadra-se neste cenário ‘natural’.
A montanha, onde se desenrola esta actividade, faz parte dos lugares
altos que são topograficamente diversos: variam na elevação, inclinação, há
grandes variações da temperatura, radiação, ventos e até mesmo de tipo de
solos. Estas distinções físicas criam diferentes zonas ecológicas e a ampla
variedade de nichos ecológicos fazem destes sítios o local ideal para uma
grande variedade de plantas e animais. Esta é uma das razões pela qual se
torna tão única, uma verdadeira paisagem mundial (Smethurst, 2000).
Reportando-nos, agora, à caracterização da actividade propriamente dita
podemos referir que, apesar do facto de não haver uma estrutura competitiva
institucionalizada – não há um corpo governamental formal para instituir e
executar regras de competição, não há regras escritas – o alpinismo tende a
funcionar de uma maneira muito idêntica a outros desportos. Tal como sugere
(Donnelly, 1994) pode-se dizer que existem dois tipos específicos de
competição, directa e indirecta. A primeira é a competição para as primeiras
ascensões das montanhas ou de itinerários específicos nas montanhas,
penhascos e quedas-d'água congeladas. As competições indirectas, referem-
REVISÃO DA LITERATURA
23
se à competição do estilo ou qualidade de uma ascensão, na qual se pode
referir a velocidade da mesma, mas é usualmente considerado em termos de
como se aproxima a adaptação da ascensão à estrutura informal de regras do
alpinismo. Aliás, há um prémio anual, o Piolet D’or3, que procura distinguir os
alpinistas de vários modos. É atribuído pela revista francesa Montagnes e pelo
The Groupe de Haute Montagne desde 1991. A selecção dos potenciais
candidatos, bem como as condições de atribuição do troféu, cumprem uma
rigorosa ética que está em consonância com os valores fundadores da GHM,
em que o alto nível técnico e empenho certamente constituem os princípios
norteadores. A originalidade na escolha do objectivo e do carácter inovador do
modo de realização da subida também são importantes elementos de
apreciação, bem como a beleza do movimento e o espírito com que as pessoas
escalam as montanhas.
O sistema de regras e convenções que governam ambas as formas de
competição, directa e indirecta, é conhecido como ética de alpinistas e é
socialmente construído e penalizado. A ética é criada e muda por consenso
entre os alpinistas (o consenso vem sendo realizado na interacção face-a-face
e através dos media que se ocupam desta temática), transmitida pelos mesmos
meios de comunicação e executada pela auto-disciplina e pressão social
(Donnelly, 1994).
Reportando-nos, agora, à forma de alpinismo, podemos considerar três
formas básicas. A primeira é a Escalada em Rocha, muito popular entre
alpinistas amadores. Esta forma envolve encostas rochosas e avalanches. A
segunda denomina-se Alpinismo de Neve e Gelo, mais adequada a alpinistas
experientes. É extremamente perigosa porque envolve rotas com glaciares, ou
seja, torna-se importantíssimo o conhecimento acerca das condições na neve e
gelo. Por último, o Alpinismo misto que combina as duas primeiras formas de
Alpinismo, tornando-a mais difícil (Gonzales, 2006). Quanto ao estilo, podemos
referir o Alpino – sem acampamentos de altitude e o Estilo clássico Himalaiano
– ascensão progressiva, com campos de altitude (Garcia, 2007).
3 Consulta-se: http://www.ghm-alpinisme.com
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
24
Para a classificação da actividade em questão podemos, então, ter como
base a altitude da montanha a escalar, o tipo de terreno em que se realiza a
escalada (rocha, gelo, neve ou misto) ou a dificuldade técnica atribuída às vias
de ascensão. O alpinismo de muito elevada e de extrema altitude (ascensões
mais mediáticas) pressupõe que a ascensão se realize em ambientes de alta
montanha caracterizados pelos seus terrenos mistos (rocha e neve e/ou gelo)
utilizando instrumentos específicos (Pereira, 2005).
Dado o ambiente natural e o cenário em que decorrem, as actividades
de ar livre como o alpinismo podem ser condicionadas por vários factores. As
características deste meio, como a altitude, grau de coesão, presença de
obstáculos, podem apresentar-se como uma limitação, ou mesmo risco,
quando associadas a variáveis qualitativas e quantitativas (Fuster i Matute &
Agurruza, 1995). Esses riscos podem ser ou não previstos, mas impossíveis de
eliminar, uma vez que são parte integrante deste contexto natural (Pereira,
2005).
Também, o clima apresenta para o Homem um factor do qual não pode
prescindir, e as suas alterações marcam a sua acção, inevitavelmente, a do
alpinista. Por essa razão e porque esta actividade acaba por depender do
tempo atmosférico, do clima, importa referir os seus elementos que, de certa
forma, condicionam a actividade.
Relativamente ao nevoeiro poder-se-á dizer que é um obstáculo em
termos visuais, com efeito, são vários os alpinistas que nos seus livros se
reportam ao clima, demonstrando que lhe conferem uma considerável
importância. Exemplo disso é a referência ao nevoeiro feita por Pritchard
(1998) e que, naturalmente, tem consequências na visibilidade, já que a sua
falta aumenta os níveis de risco. Também Mark Twight (2002) menciona o
factor vento que, quando muito forte, pode provocar muitos estragos nas
expedições, assim como tornar o ambiente ainda mais frio. Adicionalmente, há
a incontornável neve e o gelo que, se por um lado, conferem, sem dúvida, uma
extraordinária beleza à montanha, por outro, é necessário que se encontrem
num estado que permita a deslocação, conforme destaca João Garcia (2002).
REVISÃO DA LITERATURA
25
As distâncias também se alteram com o clima não só em termos físicos
e reais, mas também no esforço necessário para as ultrapassar (Pereira,
2004).
É, ainda, de salientar, o facto de a estas altitudes, como no caso
extremo do Evereste, os alpinistas estarem muito perto dos limites fisiológicos
de sobrevivência, mesmo que devidamente aclimatados4, devido às extremas
condições de rarefacção de oxigénio e às reduzidas temperaturas (Pereira,
2005). Esta rarefacção pode provocar esgotamentos, edemas cerebrais5 que
se caracterizam pela perda de consciência e alucinações que, como refere
João Garcia (2007), ao respirar-se mais, há um maior cansaço e,
consequentemente, produz-se mais CO2, o que envenena o cérebro, criando
tonturas e delírios. Alturas superiores a 8.000 metros são bem acima da normal
habitação humana e são, por isso, inóspitas para a maioria das espécies.
Assim, alturas superiores a 8.000 metros são, muitas vezes, referidas como a
"Zona da Morte”. O principal factor limitador é a pressão barométrica, que
declina exponencialmente com a altitude. Para alguém vindo de uma cidade
costeira, os efeitos fisiológicos da altitude são imediatamente evidentes (Huey
& Eguskitza, 2001)
No Monte Evereste, um alpinista tem que tolerar pressões barométricas
extremamente baixas. Por exemplo, no topo da montanha (8.850 m), a pressão
é um terço da ao nível do mar. A hipóxia resultante, não só limita grandemente
os alpinistas na capacidade de se moverem como, também, induz graves
problemas fisiológicos, médicos, sensoriais e neurocomportamentais (idem).
4 Durante os períodos em que os alpinistas tentam escalar os picos mais altos do mundo, sabe-se que são necessárias
semanas para que os habitantes do nível do mar se adaptassem a altitudes sucessivamente mais elevadas. Uma
pessoa que permaneça em altitudes elevadas por dias ou meses, torna-se mais aclimatada à baixa PO2, permitindo-lhe
trabalhar em altitudes ainda mais elevadas sem que sofra os efeitos hipóxicos causados pela altitude. Após alcançar
elevações de 2.300m e até maiores, ocorrem ajustes fisiológicos rápidos destinados a compensar o ar mais rarefeito e
a concomitante redução na PO2 (Amaral, 2000). 5 Trata-se do aumento da pressão intra-craniana podendo evoluir para o coma e, finalmente a morte. Os sintomas
desta enfermidade mortal incluem: perda da coordenação (ataxia) envolvendo os músculos do tronco, alterações da
visão, podendo surgir pequenas hemorragias oculares, paralisia num dos lados do corpo, reflexos precários, dor de
cabeça insuportável (que não melhora com aspirina), falta de energia, dificuldade em permanecer de pé, vertigens,
fadiga extrema e vómitos. De forma benigna, o excesso de líquidos no organismo pode antes manifestar-se também
por inchaços, principalmente no rosto, além de transtornos de comportamento (idem).
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
26
As baixas temperaturas e os ventos fortes agravam os stresses
fisiológicos da extrema altitude. No que respeita às temperaturas medidas no
Colo Sul do Monte Evereste (aproximadamente 960 m abaixo do cume)
durante a Primavera de 1999 foram de 11,6°C negativ os, caindo, normalmente,
para -20°C durante a noite. Embora não seja especialm ente pelo frio, a
combinação de baixas temperaturas, ventos fortes hipóxia e desidratação
podem, facilmente, induzir hipotermia e geladuras, o que aconteceu com João
Garcia nesse mesmo ano. Na verdade, com uma temperatura do ar de apenas
-10°C e uma velocidade do vento de apenas 50 km/h (um a mera "brisa" nos
Himalaias), a temperatura cairia para -25°C, muito pe rto do limite passível de
congelar carne humana exposta (-35 ° C). Durante o inv erno, as temperaturas
no Colo Sul tornam-se extremas, -28°C, por isso mesmo, a penas 5% de todos
os alpinistas têm tentado ascensões ao Evereste durante o inverno.
Surpreendentemente, um alpinista (Ang Rita, a 22 de Dezembro de 1987)
alcançou com sucesso o seu cume no Inverno sem utilizar oxigénio artificial
(Huey & Eguskitza, 2001).
Um alpinista em stresse fisiológico provocado pela hipóxia, frio, vento e
desidratação (que aumentam com a altitude) vê aumentar substancialmente o
risco de exaustão, um grave problema médico, uma queda ou um erro mental.
Por conseguinte, a probabilidade de sucesso de chegar ao cume será
inversamente proporcional à altitude, e a probabilidade de morrer ou sofrer um
grave acidente aumenta com a mesma. Mas não é a penas a altitude que pode
influenciar o sucesso/insucesso de uma investida. Por exemplo, cada
montanha tem a sua dificuldade, e mesmo diferentes rotas encerram diferentes
obstáculos. No entanto, não há dúvidas de que a taxa de mortalidade aumenta
com a altitude (Burtscher, 1995). Em oposição, a taxa de sucesso pode ser
baixa até mesmo num pico de baixa altitude, como em Foraker (situado na
cordilheira central do Alasca, Estados Unidos da América), reflectindo a
dificuldade inerente desta montanha, independentemente da sua menor
altitude.
Durante a descida, a taxa de mortalidade também aumenta
proporcionalmente à altitude da montanha, e foi precisamente nessa etapa da
conquista que Pascal pereceu. Obviamente que os alpinistas estão dispostos a
REVISÃO DA LITERATURA
27
pagar um preço elevado para tentar grandes picos (apesar da baixa taxa de
sucesso e do alto risco inerente a uma conquista a de um “8 mil”. Apesar do
referido, deve-se ponderar tais argumentos pelo facto de haver diferentes
recursos de resgate e oportunidades climatéricas para tal nas diferentes
montanhas, como por exemplo, os helicópteros de salvamento, o que poderia
reduzir as taxas de mortalidade. Além disso, a experiência e habilidade dos
alpinistas que tentam esses picos estão, sem dúvida, longe de serem
homogéneas. Os alpinistas diferem, também, na capacidade de se aclimatarem
à altitude, concomitante das doenças e da tolerância fisiológica das
adversidades. Essas diferenças individuais, que infelizmente são difíceis para
verificar, podem confundir ou mascarar as comparações entre diferentes
montanhas (Huey & Eguskitza, 2001).
Pelo exposto, desde logo se pode dizer que são vários os riscos
inerentes a esta actividade. De facto, o Alpinismo desenrola-se num contexto
de risco, senão vejamos: um em cada dez alpinistas himalaianos não volta e,
nas expedições ao Evereste, um em cada oito alpinistas morre (Ortner, 1999 in
Pereira, 2009b). É muito frequente no alpinismo perder um companheiro, assim
como é raro não se sofrer qualquer tipo de lesão. Apesar de, muitas vezes, os
alpinistas não quererem dar importância ao risco, assumem que este faz parte
desta actividade, estão cientes disso a partir do momento em que se preparam
para uma expedição. No entanto, há certos factores que influenciam a
percepção do risco, distorcendo-a. A personalidade, a experiência e os próprios
meios de comunicação, o grupo a que pertence um sujeito, são alguns
exemplos. Neste sentido, podemos afirmar que o jeopardy, que combina a
dificuldade, incerteza e meio, é um elemento constituinte do alpinismo (Pereira,
2005).
Estes riscos, inerentes à própria actividade, podem ser imprevisíveis ou
estar fora de acuidade visual e a maioria desses riscos pode ser fatal. Entre
esses, destacamos (ABC-of-Mountaineering, 2008):
Queda de Rochas - Com o passar do tempo, as formações rochosas
podem, eventualmente, desmoronar-se em pequenas pedras. Isso pode ser
causado pela erosão, pelo vento, pelo descongelamento do gelo e também
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
28
pelas caminhadas do Homem. São perigosas porque podem causar lesões
graves como fracturas.
Queda de Gelo - Pequenos fragmentos de gelo podem abrir a partir de
um glaciar devido ao aumento das temperaturas, resultando na queda de gelo.
No entanto, a susceptibilidade a estes riscos pode ser evitada. Geralmente, é
aconselhado não escalar rochas ou faces cobertas de gelo durante um dia
quente, especialmente quando é quase Primavera.
Avalanche - Este é um enorme manto de neve que desliza ao longo de
uma montanha. As avalanches são uma grande ameaça para os alpinistas,
pois podem facilmente enterrá-los e é muito difícil ou mesmo impossível sair.
Alguns factores que contribuem para a ocorrência de avalanches são a
inclinação da encosta, a instabilidade da neve, entre outros.
Crevasses - Estas são enormes e profundas fendas ou aberturas em
glaciares ou neve, que são provocadas pelo movimento do glaciar. Podem ser
visíveis ou ocultas (normalmente por um manto de neve).
Encostas de Gelo - Ao escalar encostas cobertas de gelo ou neve dura,
a utilização de crampons pode ser a salvação. Ajudam por perfuração através
do gelo ou neve, fornecendo um sólido domínio sobre uma outra superfície
escorregadia.
Encostas de Neve - São geralmente fáceis de escalar. Uma nova
camada de neve sobre o gelo pode ser perigosa porque pode facilmente
resultar numa avalanche. Na parte da tarde, como o dia aquece, a neve tende
a amolecer. Por essa razão, ela é ideal para escalar durante o início da
madrugada.
Tempo – As condições meteorológicas contribuem largamente para as
mudanças nas formações de rocha e gelo e, assim, podem provocar outros
perigos. Não só isso, a chuva pode tornar a visibilidade muito reduzida,
tornando as condições mais severas.
Como pudemos verificar ao longo deste “capítulo” são vários os
obstáculos encontrados durante uma ascensão e os riscos tornam-se o “vizinho
do lado” do alpinista, visto fazerem parte deste modo de vida. Seguiremos com
o que realmente determina a busca incessante de uma actividade que, clara e
REVISÃO DA LITERATURA
29
repetidamente, coloca o praticante em risco, podendo mesmo levá-lo até à
morte.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
30
1.3 Razões para a prática do Alpinismo
Apesar de todos estes elementos que conferem perigo e risco ao
alpinismo, a verdade é que o risco, a vários níveis, faz parte da origem do ser
humano. Desde cedo, os indivíduos procuram uma dupla e contrária
necessidade: a segurança e a busca constante de sensações através da
exploração e descobrimento, que implicam um certo risco (Fuster i Matute &
Agurruza, 1995). No entanto, os praticantes estão conscientes do perigo a que
se expõem, tal como podemos constatar nesta afirmação de João Garcia
(2007) “eu sei que o risco faz parte desta vida, foi esta a vida que escolhi”, mas
nem por isso desistem de escalar. Muitos referem mesmo que é um risco
gratificante, fundamental, estando aí o êxtase completo.
Neste contexto de risco latente, Léséleuc (1998) afirma que praticar
alpinismo é como jogar com a própria vida. Um jogo de onde se pode sair
vencedor ou derrotado! De facto, grande parte dos alpinistas já viveu situações
repletas de risco durante a sua prática, tendo-se sentido perto da morte.
Sofreram acidentes que deixaram nos seus corpos marcas inapagáveis, tais
como: congelações nas mãos, pés e nariz, provocadas pelo excesso de tempo
em extrema altitude (Pereira, 2005). Há uma aceitação paradoxa dos danos
corporais provenientes da sua prática desportiva, como se fossem constituintes
da mesma e, por isso, não se evidenciam como inibidores dessa prática.
Parece, então, que os alpinistas continuam porque o fascínio que as
montanhas exercem e o sentimento de exaltação que experimentam ao
ascender a uma montanha alta e perigosa, suscitam um encanto que os leva a
por a vida em risco. Depreende-se, pois, que encontrar um limite físico é algo
que justifica o sacrifício do corpo, sendo o limite, uma necessidade
antropológica, podendo a busca do mesmo significar, em último caso, uma
chamada à morte para garantir a existência (Le Breton, 2000). Percebemos
aqui, uma nítida tomada voluntária de risco.
Na área da tomada voluntária de risco, Lyng (1990) através do conceito
de ‘edgework’, procura articular uma abordagem para a compreensão desse
comportamento. Para tal, recorre ao enquadramento sócio psicológico
REVISÃO DA LITERATURA
31
Marxiano e Meadiano. Este conceito significa “trabalho no limite” e remete-nos
para uma associação permanente com o risco e, tal como no Alpinismo, um
risco constante, na medida em que a actividade se desenvolve num ambiente
natural que apresenta perigos inerentes ao mesmo, levando os alpinistas a
estar frequentemente nos seus limites. Assim sendo, constatamos que esta
actividade, analogamente, é um “trabalho no limite”. Mas, como o ‘edgework’
não terá uma tradução rigorosa, de modo a envolver todas as significações
pretendidas pelo autor, utilizaremos o conceito original.
O autor refere que apesar de haver um consenso entre os membros da
sociedade norte-americana relativamente à importância de reduzir as ameaças
ao bem-estar individual, muitas pessoas procuram experiências que envolvem
alto risco podendo colocar em causa a integridade física. Existe, então, uma
contradição entre a agenda pública e privada nesta sociedade em que, na
primeira, procura-se reduzir os riscos de dano ou morte e, na segunda,
procura-se aumentar estes riscos.
No seu trabalho sobre Edgework, Lyng (1990) organiza os seus dados
empíricos em três categorias: i) as actividades que se classificam como
‘edgework’; ii) as características e capacidades individuais relevantes para o
‘edgework’ e iii) as sensações associadas à participação no ‘edgework’.
Relativamente à primeira categoria, existe uma característica central em
comum: todas envolvem uma ameaça observável ao bem-estar físico ou
mental ou à sensação de existência ordenada. Em relação às características e
capacidades individuais, note-se que para as actividades de ‘edgework’ é
necessário o uso de capacidades individuais específicas. Uma dessas
capacidades é o exercício de habilidades particulares para descobrir os limites
da performance. Habilidades essas para manter o controlo de uma situação
que está no limite do caos completo. Fazendo referência à última categoria –
sensações - os dados obtidos pelo autor revelam um número de temas comum.
Os ‘edgeworkers’ referem que esta experiência produz uma sensação de auto-
realização, auto-actualização ou auto-determinação, ou seja, uma sensação
elevada do self e um sentimento de omnipotência. A mesma dinâmica pode
estar relacionada com a sensação de ‘edgework’ como hiper realidade. Apesar
do carácter fora do ordinário do de ‘edgework’, os participantes descrevem a
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
32
experiência como sendo muito mais real que as circunstâncias da existência do
quotidiano (Lyng, 1990).
O ‘edgework’ envolve também a capacidade de manter o controlo sobre
uma situação limite do caos total, sendo esta capacidade que os ‘edgeworkers’
acreditam ser determinante para o sucesso ou fracasso na negociação do
limite. A maior satisfação ou sentimento de competência resultaria na
capacidade de controlar o que parece incontrolável. Neste sentido, geram-se
sentimentos mais poderosos de competência, uma vez que o ‘edgework’
oferece a oportunidade de misturar a habilidade com o acaso. E, por oposição,
num mundo que assume cada vez mais o controlo sobre inúmeros aspectos da
vida privada, o alpinismo é uma actividade que fornece aos seus praticantes a
sensação de controlo da própria vida, mesmo que somente durante as
expedições (Pereira, 2009b).
De acordo com Lyng, salienta-se o facto de o ‘edgework’ ser mais
comum entre os mais jovens e os homens. Apesar de as características do
mesmo permitirem uma sensação ilusória de controlo, é provável que a idade
tenha um papel na sua emergência. O ‘edgework’ também pode atrair mais os
homens do que as mulheres porque a habilidade masculina de orientação pode
conduzir à subestimação dos riscos (Lyng, 1990). De qualquer modo, sobre
estas questões de género não nos referiremos, para a sua discussão outros
enquadramentos teóricos seriam necessários, não cabendo aqui neste
trabalho.
Adicionalmente, de acordo com o autor, os ‘edgeworkers’ e, por
analogia, os alpinistas, não gostam de se colocar em situações de ameaça que
envolvem circunstâncias que não podem controlar, aliás, têm bastante em
consideração as suas capacidades para lidar com o perigo. Eles procuram a
oportunidade para exercitarem as suas habilidades na negociação com o
desafio e não tanto deixarem ao destino a responsabilidade (Lyng, 1990).
A tomada voluntária de risco, segundo os dados de Lyng (1990),
apresenta as seguintes características: experiência que pode colocar de parte
o medo, excitação, preocupação com a morte em direcção à experiência do
espontâneo, anárquico, carácter impulsivo.
REVISÃO DA LITERATURA
33
Desta forma, o ‘edgework’ parece ser a antítese directa do
comportamento sob domínio institucional, onde o constrangimento e o controlo
normativo ocupam posição central na sociedade. Este controlo normativo
vivenciado no trabalho e no emprego explica a busca pela sensação contrária
de não haver normas nem rotinas, tal e qual como a experiência do ‘edgework’.
Para além do risco inerente ao Alpinismo e que, como se viu, poderá ser
mesmo um dos sentidos para a sua prática, encontrámos algumas das
possíveis razões para os apaixonados do alpinismo enveredarem por esta
actividade, uma vez que este desporto coloca desafios às capacidades e
competências do indivíduo, num trabalho de (Pereira, 2009b), onde a autora
discute essa matéria. Os Alpinistas quando escalam podem também encontrar
uma forma de relaxamento e exercício mas o efeito mais comum das pessoas
que se dedicam a esta actividade, mesmo quando a actividade pode ser
extenuante e perigosa, é a recompensa de ter uma visão das raras e
maravilhosas paisagens que irão saborear quando atingirem o cume
(Gonzales, 2006).
Deste modo, ascender uma alta e perigosa montanha pode
desencadear, entre outros sentimentos, o encantamento e a exultação. Não
obstante, este encanto poderá transformar-se em algo aterrador, ou numa
sensação mista de sofrimento e prazer no sofrimento, que pode ser incluído no
sentimento de sublime descrito por Kant (1764; in Pereira, 2009b): a sensação
misturada de prazer e de terror. O sentimento do sublime pode, assim, ser o
resultado da vivência de sensações de prazer na paisagem de uma montanha,
mas acompanhadas de receio, quando o risco se torna potencialmente
incontrolável (Pereira, 2009b).
Também, o alpinismo de alta montanha permite vivenciar situações de
risco que providenciam sensações muito fortes, como a excitação, nos termos
de Elias & Dunning (1992). Sentem, por isso, que estão a transgredir a ordem,
no modo como Weber (1922) a concebe e, como tal, vivem momentos por si
sentidos de transgressão.
Porém, neste quadro, a transgressão pode não ser real, pois a excitação
vivida pode ser entendida dentro da função mimética do lazer a que se
reportam Elias & Dunning (1992). Não obstante, é de salientar, mais uma vez,
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
34
que o crescente controlo social ou mesmo o crescente estado de incerteza
aumenta as dúvidas e até a infelicidade, advindas da racionalização
generalizada. Neste contexto, não deixa de ser real a necessidade de
transgressão que promove a busca de vivências extraordinárias do quotidiano,
como por exemplo, a aventura (Pereira, 2009b).
A fuga ao quotidiano é uma das grandes funções da aventura apontadas
por Simmel (1997), i.e., a sua descontinuidade com a vida quotidiana, a
possibilidade de quebrar com a rotina do dia-a-dia. De facto, os alpinistas
procuram uma saída do seu quotidiano, que é considerado por alguns deles,
asfixiante. De certa forma, o alpinismo de alta montanha opera como interface
entre as circunstâncias externas da época racionalizada, que minimizam o
homem enquanto autor da sua própria experiência, e a possibilidade de o
tornar, efectivamente, no autor da sua narrativa enquanto aventureiro (idem).
Nesta perspectiva, apesar das adversidades provenientes da
contingência, o alpinista (aventureiro), aceita o caminho a percorrer,
projectando-se numa outra dimensão da sua existência, uma vez que a
aventura se opõe à passividade. De facto, a aventura do alpinismo é rica em
emoções e auspicia uma vida plena de momentos extraordinários, nos quais é
possível explorar os limites da condição humana e assim recusar uma
identidade circunscrita. Esta aventura está, igualmente, em relação directa com
a experiência (plena) da corporalidade (Pereira, 2009b).
Com efeito, quando os alpinistas partem para a aventura, encontram
uma forma de sentir e viver o seu corpo totalmente díspar do seu dia-a-dia,
pois a sua actividade pode ser compreendida como um modo de percepção
que convida o corpo e todos os sentidos a estarem em harmonia com o seu
ambiente (McCarthy, 2002). Conforme afirma Schneider (2002), lá em cima, no
comummente designado ‘tecto do mundo’, tudo parece diferente de quando se
está cá em baixo. Quanto mais alto se chega, mais lentos se tornam os
movimentos. E com a lentidão do progresso, mais perceptível se torna a
experiência corporal. Pelo seu carácter corpóreo, a aventura providencia a
experiência dos sentidos e sensações e, consequentemente, uma estetização
da própria experiência.
REVISÃO DA LITERATURA
35
“A linguagem contemporânea é a das experiências vividas”, afirma Luc
Ferry (2003, p. 31). Isto mesmo é perceptível no modo como alguns alpinistas
se reportam à montanha; algo que lhes permite sentir a magnitude da natureza,
promovendo êxtases de prazer pelo simples facto de se encontrarem naquele
espaço natural, onde têm “uma sensação de imensidão”.
Para além da contemplação da beleza envolvente, uma razão para a
prática do alpinismo, a “experiência vivida” é sobremaneira importante em toda
a investida para a alta montanha. Nesta, o alpinista tem a oportunidade de
experimentar sensações corporais no contacto com os elementos constituintes
desse ambiente: sentindo o frio, o vento ou a neve, ou mesmo as luzes e os
sons, ou simplesmente “escutando o silêncio” (Pereira, 2009b).
No entanto, tudo o que foi apontado anteriormente é fortemente
determinado pela idade, habilidade e género, no que respeita à influência na
participação nesta actividade (Bratton, Kinnear, & Koroluk, 1979). A justificação
para respostas como “because it is there”, relaciona-se com o facto de as
razões que os alpinistas referem não pertencerem à noção de materialismo da
motivação humana (Loewenstein, 1999).
Klausner (1968), Fiske & Maddi (1961) e Atkinson (1957) têm
desenvolvido modelos que tentam explicar a participação em actividades
fisicamente e psicologicamente stressantes.
As razões referidas para escalar montanhas têm progredido de
afirmações como a de Mallory “Porque está lá” (Unsworth, 1975), de Walter
Bonatti “...porque eles (alpinistas) não estão satisfeitos por existir, eles querem
viver” (Bonatti, 1964). O imortal Mallory, que pereceu no Monte Evereste, é
creditado pela frase: “Se tiver de perguntar porque é que o homem escala, não
vai perceber a resposta”. Apenas os alpinistas conseguem perceber
verdadeiramente porque os homens escalam.
McCarthy (2002) apresenta-nos uma abordagem interessante, referindo
que a experiência na montanha se pode enquadrar em três perspectivas. A
primeira diz respeito ao facto de a montanha poder ser percebida como uma
arena para a conquista. De facto, as primeiras ascensões no século XVIII são
exemplo disso mesmo; ainda hoje, a colocação de bandeiras no cume do
Evereste comprova essa necessidade. A montanha pode, igualmente, ser
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
36
percebida como um tesouro a contemplar, um lugar de admiração. Finalmente,
a montanha é um lugar onde a barreira entre o sujeito humano e o objecto
natural é eliminada e a conexão é a regra, é uma conexão com o meio que se
estabelece como efeito e recompensa do esforço e do compromisso (Pereira,
2004).
Sob uma perspectiva distinta, Bratton et al (1979) procuram, também,
perceber esta dedicação. Realizou com os seus colaboradores um estudo com
o Clube de Alpinismo do Canadá, Secção Calgary (Bratton, Kinnear, & Koroluk,
1979) cujos membros variam de principiantes a alpinistas experientes. Os
dados incluem informação demográfica pessoal, hábitos actuais de escalada,
experiência anterior em alpinismo, presente e anterior participação em
actividades desportivas e razões para a prática. Neste trabalho, focar-nos-
emos no último referido. Segundo este estudo, as razões mais importantes são
aquelas que proporcionam uma apreciação do exterior, do ambiente, do
cenário, sentir o ar fresco e a natureza, o fascínio pelas montanhas. Os
alpinistas são verdadeiros amantes da Natureza.
No que respeita ao género, as principais diferenças espelham o papel do
género masculino definido culturalmente na sociedade ocidental. Revelam-se
superiores nas razões que reflectem o teste pessoal ou realização/conquista e
o desafio. Os dados também revelam que o número de mulheres que se auto-
descreve como alpinista de “rocha pesada” continua menor que o dos homens.
Mas, as mesmas, não se revelam “inferiores” nas categorias do orgulho,
desafio e auto-teste.
Quanto à idade, os grupos mais novos indicaram que o alpinismo serve
para satisfazer as suas necessidades de realização e estatuto. Estranhamente,
os alpinistas mais novos praticam esta actividade para sair da rotina, mais do
que os grupos mais velhos. Também os alpinistas mais velhos são mais
motivados por razões espirituais.
Há uma relação linear positiva entre a taxação pessoal do alpinista
experiente e a conquista de “picos”, onde os “novatos” apresentam valores
mais baixos na excitação e no desafio. Também existe uma relação linear
positiva entre a frequência e excitação na conquista de topos e expressão
pessoal. Os alpinistas mais regulares são mais fortes no desafio. Os dados
REVISÃO DA LITERATURA
37
indicam que quando há um incremento das suas capacidades/habilidades,
procuram objectivos mais desafiadores.
A resposta à pergunta “Porque é que os homens escalam?”, é muito
mais complexa do que a declaração, “porque está lá”. Este estudo indica a
existência de uma mudança constante no mosaico dos motivos primários e
secundários para a participação. A idade, habilidade e o género, parecem ser,
na perspectiva de Bratton et al (1979), três das variáveis determinantes mais
fortes que influenciam esse mosaico.
A compreensão da tomada de risco no alpinismo é, como ficou
expresso, multifacetada. O alpinista, como pessoa que é, é um ser global,
multidimensional. Uma pessoa que busca controlar a sua própria vida, mas que
pode, simultaneamente, procurar a transgressão à sua existência ordinária
através da aventura, na busca do extraordinário na alta montanha. Um
ambiente que possibilita a vivência e experiência de sensações que podem
parecer contraditórias, mas que se complementam. Mas esse controlo pode
resultar num momento sublime, onde o prazer e o receio se conjugam e
culminam na superação ou mesmo transcendência para um estado, de tal
forma distinto do ordinário ou banal, que pode ser o de heroicidade (Pereira,
2009b).
Após uma breve exposição das razões que levam o alpinista a envolver-
se nesta actividade, e pelo facto de termos percebido que não é um ser
humano qualquer que envereda e vence este caminho, faremos uma
enunciação das “características necessárias” para se obter um estatuto “quase
divino” na esfera social (enquanto membro de uma sociedade, cultura) e,
posteriormente, na desportiva.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
38
2 O Herói
Sendo o nosso objectivo perceber quais as representações sociais (RS)
do Alpinismo na imprensa escrita a partir do seu representante máximo
português João Garcia, é de extrema relevância perceber o porquê da escolha
deste representante, na medida em que reúne características únicas dignas de
adjectivação “superior”. Ao longo deste capítulo justificaremos o facto de incluir
o subtema Herói, nome atribuído a pessoas peculiares, detentoras de um
percurso admirável, de um reconhecimento que ultrapassa a fronteira nacional,
colocando-a numa lista mundial a que poucos pertencem.
Embora a palavra “herói” nos remeta para algo superior, e isso é uma
certeza, este conceito tem evoluído. Como refere Berg (1998), embora o termo
herói provenha da palavra grega que significa pessoa distinguida pela
coragem, o seu significado é adaptável entre culturas e ao longo do tempo.
Desde os tempos antigos que a sua significação tem-se alterado, no entanto,
há qualidades que se repetem e essas são independentes da época e da
cultura. Para termos a percepção dessa evolução, seguiremos com algumas
definições de Herói e, posteriormente, a manifestação do mesmo no campo
desportivo, o Herói Desportivo.
De acordo com Curtius (1963; in Berg, 1998), a primeira aparição
impressa da palavra “herói” foi na Ilíada de Homero e, como nos lembra Arendt
(1958; in Berg, 1998), o herói foi um narrador ligado a cada homem livre que
tinha lutado, cujas obras podiam ser narradas numa história.
Na perspectiva de Brandão (1999; in Rubio, 2001) herói é o nome dado
aos homens muito corajosos e com mérito superior. É uma idealização; na
antiga Grécia estampava o protótipo imaginário da kalokathía, a “suma
probidade”, o valor superlativo da vida helénica. O termo herói aparece-nos
contextualizado podendo, assim, ser mais bem entendido como um aspecto
cultural e, como confirmaremos posteriormente, como parte de colecções de
símbolos ou totens da sociedade. O herói é uma figura humana que serve
como objecto de admiração, aspiração e, por vezes, veneração (Strate, 1985),
REVISÃO DA LITERATURA
39
ou seja, o verdadeiro herói tem responsabilidades morais e sociais (Harris,
1994).
Numa perspectiva mais “sagrada”, façamos uma referência ao conceito
de mito de Eliade (1965), em que o mito conta uma história sagrada, relata um
acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos
“começos”; o mito só fala do que realmente aconteceu, daquilo que se
manifestou plenamente. As suas personagens são Seres Sobrenaturais,
conhecidos sobretudo por aquilo que fizeram no tempo prestigioso dos
“primórdios”.
O herói, enquanto figura mítica, representa o mortal que, transcendendo
essa condição (de mortal), aproxima-se dos deuses pelo feito concretizado
(Rubio, 2001). E, uma vez mortal (humano) insere-se num contexto social,
numa sociedade, onde irá encarnar alguns dos atributos do mito. Vai, então,
afirmar o mito, ele irá ilustrar a sua realidade, fornecendo soluções felizes ou
infelizes a situações míticas. O herói pode violar as regras, tornando-se
necessária a existência de um ritual que serve para incluir o indivíduo na
atmosfera mítica (Caillois, 1990). Os heróis são os únicos seres que penetram
num “centro”6, este que, em termos míticos e sagrados, é possuidor de grande
significado simbólico, onde as provas, os sentimentos, as suas peregrinações
sobrevivem aos sofrimentos e obstáculos que têm de suportar antes de
alcançar o seu objectivo (Eliade, 1990).
A “dinâmica” e a “fisiologia” dos espaços sagrados permitem constatar a
existência de um espaço sagrado como arquétipo que as hierofanias e a
consagração de qualquer espaço procuram “realizar”. O Homem tende, mesmo
nos mais baixos níveis da sua experiência religiosa “imediata”, a aproximar-se
do arquétipo e a realizá-lo (Eliade, 1965). Entende-se, deste modo, que,
efectivamente, orientamos as nossas acções e convicções num sentido que
consideramos exemplar.
6 É centro todo o espaço consagrado, ou seja, todo o espaço no qual podem ter lugar as hierofanias (sacralização do
profano) e teofanias (aparições ou revelações de Deus) e no qual se verifica uma possibilidade de ruptura de nível
entre o Céu e a Terra. No centro do mundo encontra-se a “montanha sagrada”, e é aí que o Céu e a Terra se
encontram (Eliade, 1965).
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
40
Smith (2004) sublinha o lugar dos heróis como âncoras que afirmam
formas biológicas (étnicas) de identidade e a sua contribuição para a cultura
(nacional), sentidos de pertença, através da recordação das suas acções e
virtudes. É através da antiguidade e tradição, características intrínsecas que
emergem através dos mitos e em mitos de uma "idade de ouro" que,
funcionando dentro de uma vasta política cultural de nacionalismo e nostalgia,
situam o herói numa narrativa de ascensão e queda, que é crucial para a
compreensão da nação em relação ao seu passado, presente e futuro
(Gilchrist, 2006).
O herói é, por natureza, um ponto de referência colectiva, promovendo
um sentido de identidade, estatuto e orgulho para as comunidades, sejam
cidades, regiões, nações, supra-nações ou comunidades formadas “fora da
pátria”. Apesar disso, a lógica totémica, que se refere às relações políticas e
culturais modernas que estabeleceram o corpo atlético como uma marca de
identidade, não se restringe apenas à “nação” porque mesmo depois da era do
herói arquétipo, heróis e heroínas continuam a levantar um eterno diálogo com
a identidade e identificação (Gilchrist, 2006). São dotados de uma capacidade
especial para imputar sentido e significado simbólico, tornando-os objecto de
investimento emocional colectivo. No entanto, embora o processo de
identificação possa ser reverencial, as suas realizações são culturalmente e
historicamente específicas. São parte de um sistema social semi-religioso. Os
heróis contribuem para um sentido de pertença a uma comunidade e, através
de uma série de práticas seculares rituais e cerimoniais, exalta-se os
participantes na identificação das suas virtudes orais e físicas. As reputações
são criadas de acordo com exemplares históricos e estruturas linguísticas para
interpretar os sentidos da acção e para atribuir-lhes um valor especial. Este é
um duplo processo. Por um lado, o nosso entendimento do heróico é
condicionado por uma linhagem de exemplos anteriores, por outro lado, a
história desenvolve e, com ela, o nosso entendimento daquilo que constitui o
acto heróico (idem). Neste sentido, o entendimento do que consideramos
heróico tem vindo a alterar-se, fruto do ambiente cultural e social em que a
nossa sociedade se desenvolve.
REVISÃO DA LITERATURA
41
Em conjunto com esta visão, existe agora uma vasta selecção do
arquétipo do herói, oferecendo antigos mitos em novos modelos. Seja qual for
o caso, o herói continua a proporcionar a mudança dos valores e mitos sociais
e deve continuar a ser analisado como uma expressão de ambos. Os valores e
atributos apresentados pelo herói desportivo dizem-nos o que a sociedade
considera de maior valor, por consubstanciarem uma comunidade distinta na
maneira de ser, são marcadores de identidade e diferença. Estão gravados nos
corações das comunidades como lembranças prestigiosas, como tradição
(Gilchrist, 2006).
Como podemos constatar, para se adquirir o estatuto de herói deve-se
possuir características peculiares que desfilam num caminho único, dignas de
uma adoração colectiva. No sentido de um caminho envolto de peregrinações,
de batalhas que levam o herói à vitória da “guerra” atingindo o seu objectivo
último. Importa referir que esse percurso, essa vida heróica, apresenta
características que necessitam de um certo relevo.
Se a vida quotidiana gira em torno do mundano, como um dado
adquirido e ordinário, já a vida heróica aponta para a rejeição dessa ordem
para a vida extraordinária que ameaça não só a possibilidade de regressar às
rotinas do dia-a-dia, mas também implica o risco da própria vida deliberada
(Featherstone, 1992). O ponto central da vida heróica está na coragem para
lutar e realizar objectivos extraordinários, a busca da virtude, glória e fama,
pelo sacrifício, bravura e espírito de aventura. Em contraste, as buscas
inferiores do quotidiano, relativas à procura de riqueza, propriedade e amor
mundano. Assim sendo, a vida heróica pertence à esfera do perigo, violência e
risco (idem). Para Featherstone (1992), a vida quotidiana caracteriza-se por ser
rotineira, repetitiva e mundana, enquanto a vida heróica é cheia de momentos
de auto-definição em que as adversidades são superadas por actos de
coragem e sacrifício, como já referimos. Um sacrifício que pode ser entendido
como algo compensador. Ernst Becker (1973; in Seale, 1995) lembra mesmo a
particular ligação do heroísmo com o lado oposto da morte, na medida em que
desde os tempos antigos, o herói era o homem que podia entrar no mundo
espiritual, o do morto, e regressar vivo.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
42
O termo "herói", como se verifica, é usado de várias maneiras e, embora
surjam (como verificaremos) diversos conceitos, tendo-os como sinónimos,
com o objectivo de definir uma pessoa cujos feitos são admiráveis,
aproximando-a do sagrado, podemos encontrar algumas diferenças entre
essas concepções. Essas diferenças estarão mais explícitas aquando a
definição do Herói Desportivo. Aliás, poderá afirmar-se que o desporto nas
nossas sociedades é um excelente campo para as atitudes heróicas, para a
passagem a “outro nível”.
REVISÃO DA LITERATURA
43
2.1 O Herói Desportivo
O Desporto quando entendido como mito social é frequentemente
consubstanciado nos Heróis Desportivos (Rubio, 2001). O Desporto e os
Heróis Desportivos servem uma sociedade pela sua transmissão de mitos e
valores sociais fundamentais, na medida em que os atletas que conseguiram
repetir os seus feitos históricos por mais do que uma vez são lembrados pelos
jornalistas como também pelo espectador em geral e, assim, preservam a sua
condição de mito (idem). Pode dizer-se que o desporto é uma forma camuflada
que o mundo moderno conseguiu para repetir os rituais de construção, mesmo
se na aparência essa actividade é uma experiência profana (Garcia, 1993). De
facto, o desporto dá oportunidade aos indivíduos de se confrontarem com
outros, de serem julgados pela sua performance competitiva, sendo a mais
primitiva e natural forma de interacção entre humanos, e apresenta-se como o
estado natural da sociedade (Izod, 1996). Esta, por sua vez, pode identificar-se
através dos seus heróis.
É nesta perspectiva de identificação que (Gilchrist, 2006) refere que a
relação entre o corpo, cultura física e identidade nacional são o cerne do
entendimento totémico do herói desportivo. O termo ‘totetismo’ é usado para
reconhecer as relações políticas e culturais modernas que estabeleceram o
corpo, neste caso, o corpo desportivo e atlético, como uma marca de
identidade e diferença, e o desporto é um excelente palco para fazer esta
alegação. Como tal, os heróis desportivos estão presentes no espectáculo e na
ostentação da comunidade e são elevados em mitos, símbolos, estátuas,
práticas cerimoniais e lugares sagrados (Holt. R., Mangan. J., & Lanfranchi. P.,
1996). No entanto, esses heróis, passe a expressão, diferem e assemelham-
se.
É nesta perspectiva que Holt (1999) sugere que os heróis têm pontos em
comum, qualidades como coragem e força de vontade, são vistos como uma
representação de características como, força, bravura, resistência e poder,
todas evidentes no discurso desportivo. Reflectem coragem, integridade,
competitividade e sucesso, possíveis de desenvolver através dos esforços
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
44
desportivos (idem), mas também têm características nacionais e sociais
específicas.
Assim, fazendo uma referência mais específica, uma vez que o nosso
objectivo se aprofunda num iminente Herói Desportivo Nacional – João Garcia,
faremos alusão a esta “personagem”, ou seja, um herói no campo desportivo
que se poderá assumir como uma identidade nacional.
Há “aqueles” que são famosos e têm o estatuto de herói no seu desporto
e outros cuja fama ultrapassa os limites do campo desportivo. Existem muitos
heróis desportivos, mas poucos concretizam o próximo passo e se tornam
heróis aos olhos do público que não está envolvido no mundo do desporto. Há,
portanto, poucos "heróis desportivos nacionais” (Radford, 2005).
Neste sentido, para que não haja uma equívoca definição de conceitos,
deve-se salientar o facto de haver uma distinção entre estrelas desportivas e
Heróis Desportivos Nacionais, cujas características e importância para a nação,
segundo Radford (2005) definem-se da seguinte forma: grande publicidade é
um elemento importante na criação de um herói desportivo nacional; o
reconhecimento público desse herói estende-se muito além daqueles que
seguem ou se interessam pelo desporto, de modo a incluir uma grande porção
da população; um herói desportivo nacional deve mostrar coragem em assumir
adversários admiráveis numa forma espirituosa e resoluta; o reconhecimento
público estende-se para além da própria carreira desportiva e pode durar toda
a vida; pode não ser o melhor na sua actividade desportiva mas deve ter, pelo
menos, um sucesso significativo num evento de interesse do público geral; o
herói desportivo nacional pode ter falhas que são bem conhecidas do público,
mas que estes ignoram; um herói desportivo nacional terá tido sucesso contra
um adversário formidável e terá provocado sentimentos no público geral que se
desenvolvem a partir do interesse à admiração, orgulho, gratidão e,
eventualmente, carinho; a atitude do público que leva ao aparecimento desse
mesmo herói evolui a partir de um conjunto de sentimentos (já referidos
anteriormente); não tem, necessariamente, que vir a partir do seu país ou a
partir do mesmo grupo étnico que faz dele um herói; possui muitas das
características que o próprio país acredita que ele tem, ou deseja que ele
tenha; ele (herói) torna possível ao público acreditar nele próprio; tempos de
REVISÃO DA LITERATURA
45
insegurança nacional são mais susceptíveis de produzir heróis desportivos
nacionais; elevam os espíritos de uma nação e induzem esperança. Todos
estes aspectos fundamentam a ideia de que, ao contrário de outras esferas
onde os génios aparecem como "criaturas especiais," os heróis desportivos são
vistos "mais como nós." Talvez porque nos dão esperança e elevam os nossos
espíritos porque vemo-nos neles, não como somos mas como gostaríamos de
ser (Radford, 2005).
A “lista” de características acima referida é selectiva e especulativa, na
medida em que foram identificadas nas experiências de vida de Tom Cribb, um
pugilista considerado o primeiro herói desportivo britânico por ter derrotado um
outro pugilista dos Estados Unidos. Não obstante, algumas das mesmas
características parecem estar à vista nos heróis desportivos nacionais do
século XXI, nomeadamente quando pensamos em atletas nacionais como por
exemplo, Luís Figo, Eusébio… Desta forma, percebemos que algumas das
características parecem específicas da época e cultura em que aparecem,
enquanto outras parecem mais universais.
Feita uma enunciação dos conceitos relevantes para este capítulo,
iremos reportar-nos ao caminho para desenvolver a identidade de herói
desportivo, que envolve várias etapas comuns ao mito: A chamada para a
prática desportiva implicando, muitas vezes, o confronto com um mundo
desconhecido, provido de imensos perigos. A iniciação, um caminho de provas
que envolve persistência, determinação, paciência e também sorte. A coroação
dessa etapa que, seja em que modalidade for, está reservada aos verdadeiros
heróis, onde desfrutam essa mesma condição de herói. Finalmente, o retorno,
muitas vezes negado por devolver ao herói a sua condição de mortal (Rubio,
2001).
Esta sequência enquadra-se na perspectiva de Garcia (1993)
relativamente à dramatização mítica onde se vivem três grandes provas e que
podem ser identificadas no alpinismo. Pereira (2004) faz mesmo essa analogia.
Na primeira, a prova qualificante, é feita a escolha dos heróis para a aventura
da prova principal, por exemplo, a partida para uma expedição ao Evereste,
onde são inúmeras as provas com o objectivo de testar a capacidade do
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
46
pretendente digno desse nome. Na sua prova principal – a ascensão - os
obstáculos inerentes à actividade em causa (alpinismo) terão de ser
ultrapassados e, com a chegada ao cume, segue-se o reconhecimento do
mérito, na prova glorificante. Esta última, no caso do alpinismo, só é
completada com o regresso são e salvo ao campo base (Pereira, 2004).
Este caminho tem início na partida de um herói proveniente de um
mundo quotidiano para uma aventura num outro espaço sobrenatural. Há,
portanto, uma alteração da rotina de vida e da organização familiar
estabelecida. É esta aventura o primeiro passo para a jornada mitológica. A
razão da existência do herói é a luta (Rubio, 2001). Luta que envolve um
percurso de sacrifício porque o herói batalha com o seu lado escuro e, durante
essa luta, pode sofrer injúrias (Harris, 1994). Talvez seja o que o distingue dos
outros seres humanos.
O atleta, e também o alpinista, apresenta-se como um Homem fora do
comum e constitui um modelo para os seus irmãos (Costa, 1994). Esta
caracterização está fortemente marcada pelo arquétipo do herói (Rubio, 2001).
Isto, porque segundo (Typac, 1994) o processo de fabricação mítica de hoje
não é diferente da do passado, o que nos permite comparar os campeões
desportivos contemporâneos com os heróis que se configuram como
arquétipos.
Desta forma, o desportista, mais especificamente o alpinista, sem perder
a sua condição humana, aproxima-se da divindade. Tal como outros atletas e
heróis, o alpinista tem que se submeter a provas que o encaminhem ao mais
alto. Para tal, como refere (Menezes Costa, 2001), ele tem que descer
profundamente a si mesmo, reconhecer os seus limites e paixões, para assim
os poder controlar.
Ao longo dos parágrafos precedentes expusemos diferentes
perspectivas, de diferentes autores, sobre o entendimento tradicional do Herói,
bem como das possíveis nuances do termo. Posteriormente, especificámos
esse enquadramento ao nível desportivo. Percebe-se pelo referido que, de uma
forma mais geral, debruçámo-nos sobre o herói tradicional, que apresenta
características superiores que, pela luta e sacrifício se aproxima da divindade,
REVISÃO DA LITERATURA
47
sendo valorizado pelos seus feitos… heróicos. No entanto, ficou implícita a
alteração e proliferação dos tipos de herói, formando um continuum entre o
tradicional e o contemporâneo, intimamente relacionado com a conjectura
actual dos meios de comunicação social. É neste campo, dos media, mais
especificamente, na imprensa escrita, que tentaremos alcançar a possibilidade
da existência de uma heroicidade relativamente a João Garcia. Também, aferir,
caso se verifique a hipótese colocada, em qual dos enquadramentos do tipo de
herói se encontra o alpinista português. Então, na sequência da breve
elucidação do que representa o herói e como o desporto pode ser considerado
um “palco” para atitudes heróicas, consubstanciadas nos heróis desportivos,
daremos agora ênfase à relação do herói desportivo com os media, na medida
em que é através dos meios de comunicação social que construímos as nossas
percepções acerca das coisas, do mundo e, mais especificamente, dos nossos
heróis sendo, deste modo, a proliferação dos tipos de herói reforçada pelo
crescimento dos meios de comunicação social.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
48
3 Representação do Herói Desportivo nos Media
3.1 Noção de Representação Social
Os anos 50 são lembrados na Psicologia Social como o período de uma
“revolução cognitivista”. Como resultado, em 1961, com a publicação de
Psychanalyse: son image et son public, o psicólogo social Serge Moscovici
desenvolve a Teoria das Representações Sociais (TRS), onde propõe a
investigação da construção do senso comum com o objectivo de compreender
a relação influenciadora do social, incluindo o papel dos meios de comunicação
social, nos indivíduos e nos grupos sociais.
Já na Comunicação Social, o fim das décadas de 60 e 70 é marcado
pela fase de renovação dos paradigmas aquando do interesse pelas teorias
cognitivas e o retorno da defesa dos poderes dos mass media. Nesta fase
surge a crítica às teorias dos efeitos limitados e indirectos e ao conceito de
exposição selectiva por Elizabeth Noelle-Neumann na Teoria da Espiral do
Silêncio7. Também, neste período, nasce a Teoria Cognitiva do Agenda-Setting
cuja ênfase é dada aos processos de significação e análise dos mesmos.
A Teoria do Agenda-Setting e a TRS têm em comum o interesse na
relação do indivíduo com a sociedade, com o seu grupo e com a sua identidade
e o papel de organizador social dos media. Distinguem-se pela forma como
analisam os efeitos dos media: a primeira tem os media como objecto principal
e a segunda observa-os como mais um elemento influenciador e não como
objecto principal (Pavarino, 2003).
7 A Teoria da Espiral do Silêncio, proposta, em 1973, pela socióloga alemã Elisabeth Noelle-Neumann, reflecte sobre a
relação entre os meios de comunicação e a opinião pública, representando uma ruptura com as teorias dos efeitos
limitados da comunicação social. Enquanto estas últimas enfatizam os mecanismos de resistência à persuasão e as
múltiplas mediações para evidenciarem que os efeitos dos meios são fracos, limitados e relativos, já as ideias da
autora, conciliadas com as hipóteses do agendamento e da tematização, contribuíram para recuperar a visão de que a
comunicação social tem efeitos poderosos e directos sobre a sociedade e as pessoas (Sousa, 2006).
REVISÃO DA LITERATURA
49
Uma vez que o nosso trabalho detém como objectivo central o estudo
das RS do Alpinismo nos Media, torna-se indispensável uma breve exposição
da TRS.
O termo representações sociais é encontrado com significados
diferentes. A título de exemplo, o psicólogo Celso Sá (1998; in Pavarino, 2003)
refere o uso como derivação genérica de representação para o campo do
pensamento social, sob a perspectiva de Berger e Luckmann: construção social
da realidade.
Como já referimos, o surgimento da TRS por Serge Moscovici, sugere a
existência de um pensamento social resultante das experiências, das crenças e
das trocas de informações presentes na vida quotidiana. A análise do autor
desenvolveu-se baseada no facto de que a sociedade actual, mais técnica e
complexa, necessitaria de um conceito menos genérico que as representações
colectivas de Durkheim, relativo aos costumes, crenças e mitos das sociedades
tradicionais (Amaral, 2005). Isto, para compreender como ocorre a formação do
pensamento e do conhecimento social. Não se resumindo aos acontecimentos
culturais ou políticos, este fenómeno constitui uma forma de pensamento social
que inclui as informações, experiências, conhecimentos e modelos que,
recebidos e transmitidos pelas tradições, pela educação e pela comunicação
social, circulam na sociedade (Pavarino, 2003).
Para “provar” a credibilidade da sua teoria, Moscovici procurou descobrir
como ocorreria a apropriação do conceito científico da psicanálise pela
sociedade francesa. Acreditava que a guerra e a instabilidade social, a
inquietude e ansiedade fariam com que o público leigo adaptasse conceitos
formais difundidos pelos meios de comunicação e pelas pesquisas científicas
em algo mais sensível e diferente ao pretendido pela comunidade científica.
Deste modo, o conceito de psicanálise – ciência que se propõe a “esclarecer a
natureza social” – transforma-se no conceito de representação social (idem).
As Representações Sociais (RS) alimentam as práticas culturais em
vigor na sociedade, perpetuando-as ou transformando-as (Sá, 1998; in
Pavarino, 2003), exercendo o papel de integração, de estruturação das
identidades individuais e grupais e de comunicação social. As RS são
compostas por dois universos de pensamento, o consensual e o reificado. O
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
50
primeiro é o lugar onde as RS são produzidas, onde o conhecimento é
espontâneo. Refere-se às noções apreendidas e compartilhadas na escola, em
casa, na rua ou pelos media, sobre diversas temáticas (Moscovici, 1981; in
Pavarino, 2003). Aqui, os indivíduos podem falar pelo grupo e serem protegidos
por ele e, tal facto é que torna possível a vida social. Por outro lado, o universo
reificado é o científico.
Para ilustrar a sua teoria, Moscovici desenvolveu alguns conceitos que
contribuem de forma significativa para os trabalhos sobre os media (Sá, 1998;
in Pavarino, 2003). Como processos formadores - ancoragem e objectivação, o
princípio da transformação do não-familiar em familiar, os sistemas de
comunicação: difusão, propagação e propaganda.
A finalidade de qualquer representação é a familiaridade, ou seja, fazer
com que algo antes desconhecido se torne mais familiar e mais facilmente
compreensível. Para isso, dois processos são utilizados: a ancoragem e a
objectivação. Pela ancoragem, que lida com a fase simbólica da representação,
o objecto estranho adequa-se a um arquétipo já existente, sendo reajustado
para se encaixar numa determinada categoria, classificando-o e nomeando-o
(Pavarino, 2003) e visa facilitar a interpretação, permitir a compreensão de
intenções ocultas e formar opiniões (Amaral, 2005). Oliveira & Werba (1998; in
Amaral, 2005) destacam que a ancoragem é sempre provida de um juízo de
valor, uma vez que as classificações não são isentas de subjectividade. Já a
objectivação, a fase figurativa, torna uma ideia icónica, transformando-a em
imagem, na medida em que procuramos aliar um conceito com uma imagem,
descobrir a qualidade icónica, material, de uma ideia, ou de algo duvidoso
(idem). É o resultado da capacidade que o pensamento e a linguagem
possuem de materializar o abstracto, elaborando um novo conceito a partir dos
registos individuais existentes (Pavarino, 2003). De salientar, que a ancoragem,
que pode preceder ou seguir o processo de objectivação, pode servir, no
primeiro caso para integrar as novas informações em categorias que o sujeito
já possui, fruto de experiências anteriores, ou na segunda hipótese, atribuir
sentido a acontecimentos, comportamentos, pessoas, grupos ou factos sociais
que assim exprimem e constituem as relações sociais (Moscovici, 1976). Após
a definição de um dos principais conceitos - chave deste trabalho, importa
REVISÃO DA LITERATURA
51
especificarmos os efeitos dos media na sociedade e, uma das formas de o
fazer está patenteada na Teoria do Agenda-setting.
A hipótese da Agenda Setting (uma das teorias da comunicação de
massa), criada por McCombs & Shaw (1972) e elaborada a partir do estudo da
campanha eleitoral para a Presidência dos Estados Unidos, em 1968, surge
pela constatação de um alto grau de correspondência entre a quantidade de
atenção dada a determinada questão pela imprensa e o nível de importância a
ela atribuído por pessoas da comunidade que estiveram expostas aos media.
Como refere Sousa (2006), a teoria destaca que os meios de comunicação têm
a capacidade (não intencional nem exclusiva) de agendar temas que são
objecto de debate público em cada momento.
O aparecimento da Teoria do Agenda-setting representa uma ruptura
com o paradigma funcionalista sobre os efeitos dos meios de comunicação. Até
então, e sobretudo nos EUA, prevalecia a ideia de que a comunicação social
não operava directamente sobre a sociedade e as pessoas, já que a influência
pessoal (por exemplo, a influência dos líderes de opinião) relativizaria, limitaria
e mediatizaria esses efeitos. A Teoria mostra, pelo contrário, que existem
efeitos cognitivos directos, pelo menos quando determinados assuntos são
abordados e quando estão reunidas certas circunstâncias.
A teoria do Agenda-setting propõe a influência dos media sobre o que é
comentado, discutido e pensado na esfera social. São o principal meio de
ligação entre os factos e a opinião pública. Dizem ao público o que pensar e
como pensar acerca de determinado assunto (Kosicki, 1993). Este conceito
tem como ideia básica o facto de os media terem a capacidade de influenciar a
proporção e importância que um determinado assunto pode adquirir na opinião
pública, justificando-se o facto de serem um elemento importante na
construção da realidade social (McCombs & Shaw, 1972). McCombs (2005)
afirma mesmo que os media constroem a maioria do nosso conhecimento
acima da nossa experiência directa e desempenham um papel de extremo
relevo ao moldar as nossas representações do mundo. E usamos as imagens
do mundo criadas pelos media para dar significado acerca de assuntos
políticos e sociais (Gamson et al, 1992 in Pereira, 2009) bem como do âmbito
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
52
desportivo (Pereira, 2009). Esta hipótese vai ao encontro do pensamento de
Moscovici: sobre como os agentes produtores organizam as informações que
serão divulgadas e como a opinião pública absorve estas informações. O
choque de opiniões e sentimentos que a discussão sobre a notícia produz
culmina normalmente na produção de um determinado tipo de consenso ou
opinião colectiva – denominada opinião pública. Ou seja, é baseada na
interpretação de acontecimentos presentes, de notícias, que se constitui a
opinião pública (Park, 2002).
As notícias reflectem a sociedade, apresentam à sociedade um espelho
das suas preocupações e interesses. As concepções modernas de notícia
desenvolveram-se em conjunto com a estrutura social norte-americana. A
imprensa proporcionou o aparecimento, em simultâneo, de novos capitalistas e
de novas definições de democracia, mas está, também, indissociavelmente
ligada a estes mesmos fenómenos. Criou a distinção entre moralidade pública
e privada, ao assumir a noção de informação pública difundida para benefício
privado (empresarial) (Tuchman, 2002).
Contudo, até que a notícia seja visível, um veículo mediático, seja ele
qual for, necessita de desencadear um processo que lhe permita a selecção
dos factos, que vão surgindo a cada segundo. Assim, é definida a
noticiabilidade de um facto ou acontecimento, imprescindível no processo de
construção da realidade (Ponte, 2004). Numa segunda fase surge o que pode
ser considerado uma componente da noticiabilidade: o valor-notícia. Esta
componente é um critério aplicado pelos jornalistas e editores de redacções
que lhes permite perceber até que ponto um acontecimento pode ser
transformado numa notícia que interesse o público (McQuail, 2003). Pesquisas
realizadas no âmbito do Agenda-setting mostraram que quanto maior é a
ênfase dos media sobre um tema e quanto mais continuada é a abordagem
desse tema, maior é a importância que o público lhe atribui na sua agenda
(McCombs & Shaw, 1972). A influência dos media, no entanto, depende,
segundo McCombs (2005), das pessoas e do contexto de recepção, sendo
maior sobre as pessoas que menos dominam os assuntos, pouca experiência
directa têm dos mesmos e mais necessitam de informação. Isto vai ao encontro
do que (Wolf, 2003) denomina de centralidade - a escolha dos temas que estão
REVISÃO DA LITERATURA
53
em sintonia com as experiências pessoais do público. Esta característica
relaciona-se com o facto de quanto menor a “experiência directa, imediata e
pessoal” que o público tiver com o tema, maior influência ele receberá. Essa
influência será somente possível através da comunicação, sendo a
comunicação interpessoal essencial para a construção das RS, em que a
linguagem é a sua principal forma de concretização. É através da linguagem
que os objectos da vida quotidiana ganham significação, pois ela é o principal
sistema de sinais da sociedade. É o repositório de vastas acumulações de
significados e experiências que pode, então, preservar-se no tempo e
transmitir-se às gerações seguintes (Berger & Luckmann, 1995). Por meio da
linguagem podemos identificar traços de mudança social ou tentativas de
manutenção do status quo. A linguagem ajuda a materializar a realidade por
meio de recursos como a ancoragem e a objectivação, destinadas a tornar
familiares objectos antes desconhecidos (Amaral, 2005). Sendo o uso da
linguagem como forma de prática social, o discurso, uma prática de
representação e de significação do mundo (Fairclough, 2001; in Amaral, 2005).
Depois de percebermos o uso da linguagem na construção do real,
especificamente no discurso mediático, importa, então, percebermos qual o
papel específico dos meios de comunicação social nessa mesma construção.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
54
3.2 O poder dos Media
A noção de media contém a noção de intermediário. Os media - ou
meios de comunicação - são dispositivos tecnológicos que suportam
mensagens e permitem a sua difusão. São intermediários entre um ou mais
emissores e um ou mais receptores. Quando usados como um veículo de
difusão de mensagens para um elevado número de receptores, podem ser
designados por mass media. Há vários meios de comunicação social. A rádio,
a televisão (e outros suportes audiovisuais), a imprensa (jornais, revistas,
livros), o cinema, a fotografia, os discos (e similares) são alguns dos exemplos
que podem ser recordados (Sousa, 2006).
Nas sociedades contemporâneas ocidentais, pode-se afirmar que o
papel dos mitos e crenças das antigas representações colectivas foi substituído
pela acção dos meios de comunicação das actuais representações sociais na
construção da realidade. O senso comum deixa de ser constituído somente
pelo mito e passa a basear-se nos media, em primeiro lugar (Amaral, 2005).
Mas, para tal, exige-se algo que faça com que as sociedades deliberem essa
influência no que respeita à aquisição de conhecimento. Schutz e Luckmann
(2003; in Amaral, 2005) referem que a credibilidade é a dimensão mais
importante na aquisição desse mesmo conhecimento. E, como o discurso é
apreendido pelo senso comum como um discurso de autoridade, de quem sabe
mais para quem sabe menos, ele conta com um grau elevado de credibilidade.
Para comprovar a sua teoria sobre a construção mediática da realidade,
Mayo (2004; in Amaral, 2005) cita duas vertentes de estudo: a linha de
investigação dos efeitos ecológicos da produção mediática da realidade social,
proposta por Meyrowitz em meados da década de 80, e a linha da análise de
cultivo, a cargo de Gerbner e da Annenberg School of Communications, que
surgiu em meados da década de 60. Estas linhas de análise derivam da análise
macro-sociológica da comunicação (acerca das instituições sociais e da
influência sociocultural), e da subdivisão clássica entre a referida e a micro-
sociológica da comunicação (sobre as rotinas jornalísticas). Meyrowitz observa
REVISÃO DA LITERATURA
55
a passagem dos tempos pré-mediáticos para o dos meios electrónicos. Em que
no primeiro grupos sociais de diferentes níveis de autoridade cumpriam os seus
papéis complementares, com pontos de vista diferentes, no palco ou nos
bastidores da acção social. Posteriormente, no tempo dos meios electrónicos, o
acesso às informações deixa de ser tão delimitado pela estrutura de grupos
sociais, o acesso aos produtos mediáticos torna-se igualitário. No entanto, a
que se tornou referência foi a segunda linha porque o seu principal teórico,
Gerbner, deu início aos estudos sobre como os programas televisivos afectam
o extravaso sociocultural. Assim, a hipótese desta escola é que quanto mais
tempo alguém passa em frente ao ecrã, mais vai perceber a realidade de
maneira congruente com aquelas representações sociais. E, na perspectiva de
Gerbner, (Amaral, 2005), os meios de comunicação social são o mais
importante veículo de apreensão da realidade, ultrapassando instituições como
a família, a igreja e a escola. Não obstante, diferentes espectadores vão
receber as mesmas informações de formas diversas. Distingue-se, também, o
modo como os espectadores enfrentam os conteúdos mediáticos, ou seja, se
são passivos ou assumem uma postura crítica – estes últimos avaliam os
conteúdos activamente, entendem que há excepções àquilo que é mostrado e
lembram melhor os assuntos apresentados. O conhecimento advindo dos
media não é oferecido ao público como um dos possíveis mas como o único
possível, o que faz das representações por eles difundidas objecto de
conhecimento comum, recíproco e óbvio.
Luhmann (2000), que oferece uma visão sistémica da comunicação,
refere que o mecanismo que o sistema da comunicação de massa usa para
verificar a realidade, é apresentar as opiniões sobre os acontecimentos como
se fossem os próprios acontecimentos. E, Vilches (1993; in Amaral, 2005) no
sentido de que os meios de comunicação determinam a nossa percepção
sobre os factos, normas e valores da sociedade, aponta que os jornalistas não
fornecem ao público a verdade, mas apenas programas espacial e
temporalmente delimitados. Pode-se perceber que os meios de comunicação
de massa apresentam as suas versões dos factos como verdades absolutas,
como realidade objectiva. E, como são considerados de grande credibilidade
por parte dos espectadores, são essenciais na construção do real, adquirindo
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
56
mais importância até mesmo que instituições como a família, a igreja e a
escola, como referido anteriormente.
Na perspectiva das representações sociais, os indivíduos, não sendo um
mero receptáculo de imagens, quando interpretam, organizam e relacionam
aquilo que lhes chega do exterior, estão eles próprios a ser responsáveis por
novas criações (Ramos, 2004). Daqui, decorre que para o estudo das
representações sociais tenhamos de as considerar na sua dupla vertente de
reprodução e de construção (idem). Admite-se, então que, também
relativamente ao alpinismo, os indivíduos não se limitam a interiorizar de modo
passivo as informações. Além disso, a forma como os amigos, os familiares e
os meios de comunicação social, concebem o alpinismo (valorizando-o mais ou
menos) contribui, conjuntamente com a sua experiência individual, para a
forma como o indivíduo vai construindo a sua representação do alpinismo.
Neste processo de estruturação das práticas sociais, as representações
são elas próprias estruturadas, não apenas por factores de ordem cognitiva e
cultural, mas também pelas condições materiais de existência do meio social
em que os indivíduos se inserem e pelas experiências individuais de cada um
(idem).
Tomando como ponto de partida que toda a actividade humana se
encontra alicerçada nas representações sociais, que a estruturam e
reestruturam e que são, por sua vez, estruturadas e reestruturadas pelas
vivências sociais (Ramos, 2004), é legítimo pensar que também, no
conhecimento acerca do alpinismo e dos seus heróis, as representações
sociais ocupem uma posição importante. É neste contexto que
desenvolveremos o subcapítulo seguinte, na medida em que analisaremos o
tipo de relação entre os heróis desportivos e os media, de modo a esclarecer
qual a visão que nos é proporcionada pelos meios de comunicação social.
REVISÃO DA LITERATURA
57
3.3 Os Heróis Desportivos nos Media
O estudo dos media e do desporto desenvolveu-se, principalmente,
desde 1980, prosperando na década de 90. Desde então, o interesse pelo
desporto em geral, e pela sua relação com os media em particular, tem-se
intensificado. Há inúmeros livros não académicos nesta área, desde biografias
e autobiografias de atletas como Michael Jordan a locutores como Les Keiter.
Também existe uma grande variedade de guias profissionais com o objectivo
de ensinar as técnicas, habilidades e operações necessárias à entrada bem-
sucedida no campo da distribuição de papéis no desporto. No entanto, houve
uma crescente quantidade da literatura académica. Nos últimos anos, o estudo
desta relação do desporto com os media tem sido tema central na Sociologia
do Desporto. O interesse recente dos media nos livros desportivos sugere a
variação e distribuição de tópicos típicos do campo, com o trabalho de
produção, orientação, análise textual e investigação da audiência relatada.
Muito mais recente no desporto mediatizado é a preocupação com o marketing
e mercantilização do desporto (Bernstein & Blain, 2003). E é neste contexto
que iniciaremos a nossa abordagem à relação do desporto e, mais
especificamente, dos heróis desportivos, com os media.
Reportando-nos agora ao “tema” deste subcapítulo, discorreremos sobre
a ligação do tipo de herói com o tipo de media envolvidos. Tal como
demonstrámos anteriormente, o significado de herói desportivo era o de uma
pessoa distinguível pela sua coragem e feitos, significado adaptável entre as
culturas e temporalmente (Lines, 2001), ou seja, a cultura persiste mas também
muda ao longo do tempo pela examinação das histórias dos heróis desportivos,
como eles são lembrados e relembrados em diferentes pontos do tempo. A
noção de herói é precisamente construída através das narrativas. A narrativa
não se limita apenas à esfera fictícia. Os meios de comunicação social, a fim
de tornarem os eventos significativos, caracteristicamente transformam-nos em
narrativas. Este processo de narração é particularmente evidente na cobertura
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
58
dos eventos desportivos, já pré-estruturados com o seu próprio código
hermenêutico (quem vai ganhar, etc.). A cobertura desportiva é dominada por
estrelas que, como portadoras desse processo de narração, desempenham um
papel central nas estratégias empregues pelos media para ganhar e manter as
audiências (Whannel, 1999). As estrelas desportivas são, simultaneamente, o
produtor e o produto. Elas são as fornecedoras dos momentos mágicos e
“memórias de ouro” que permitem a sua elevação até ao heróico e mítico,
apesar de, ao mesmo tempo, serem transformadas em figuras comuns, mas
ícones, produzindo um imenso desejo público de conhecer essa “real” pessoa.
Da mesma forma que o termo herói, independentemente do campo em
que se manifesta, evoluiu, também este no campo desportivo sofreu as suas
alterações. O herói desportivo moderno é a integração inevitável do heróico e
celebridade e, a título de exemplo, claramente Michael Jordan incorpora as
características do herói desportivo moderno. A sua resistência, persistência e
proeza atlética colocaram-no totalmente acima de outros jogadores de
basquetebol (Berg, 1998), quer em termos desportivos, quer comerciais.
Assim como se deu a transição de uma cultura dominada pela imprensa
escrita para uma cultura dominada pelos meios de comunicação social
electrónicos, também os próprios heróis têm variado de cultura para cultura, de
tal forma que estão quase “irreconhecíveis” (Strate, 1985). A grande
transformação deu-se nos finais do século passado em que o molde do antigo
herói humano foi substituído por um novo. O herói da cultura impressa foi
substituído pela celebridade, ou seja, quem é famoso por ser conhecido, por
aparecer no meio dos media. A imprensa criou um novo tipo de herói, o autor,
tal como a media electrónica criou um novo tipo de herói, o
apresentador/animador, não mais importando a sua vocação primária como se
verifica, a título de exemplo, com os músicos. Já não lhes basta cantar, eles
devem produzir video clips (idem). Então, esses heróis modernos podem ser
produzidos pelos meios de comunicação social de forma a satisfazer as
necessidades do mercado. As estruturas míticas das imagens e dos
comportamentos são impostos às colectividades através dos media. Por
exemplo, as personagens de banda desenhada apresentam a versão moderna
dos heróis mitológicos, encarnando o ideal de uma grande parte da sociedade.
REVISÃO DA LITERATURA
59
Mais especificamente, o mito do Super-homem satisfaz as nostalgias secretas
do Homem moderno que, sabendo-se condenado e limitado, sonha revelar-se
um dia uma “personagem excepcional”, um “herói”. Os media também
mitificaram as personalidades, transformaram-nas em imagem exemplar
(Eliade, 1965).
Antigamente, o conceito de herói remetia-nos para as suas acções ou
ideias, mas o herói dos media electrónicos é conhecido pela sua imagem. A
chave desta alteração reside no conceito de fama, que se define como o
estado que existe quando a informação acerca de um assunto é amplamente
disseminada. Isto vai ao encontro de uma das principais características do
herói, na medida em que a informação sobre ele é também amplamente
divulgada e, desta forma, o herói pode ser visto como um fenómeno de
comunicação. Percebe-se, então, que o conceito de herói está dependente da
maneira como a informação é disseminada (Strate, 1985). Tornam-se heróis
famosos através do dominante meio de comunicação da sua cultura e quando
esse meio de comunicação dominante muda, o mesmo acontece com a
natureza do herói, da mesma forma que temos vindo a mudar de uma cultura
de imprensa escrita para uma cultura electrónica. Mas, também, o herói da
imprensa escrita substituiu o herói oral, onde a memória era o principal meio de
preservar a informação, daí serem considerados heróis mitológicos e,
consequentemente, figuras fortes, conhecidas pelas suas acções. Em
contraste, o herói da cultura impressa é caracterizado pelas suas ideias,
contudo, a acção ainda está presente mas sustentada pelas referidas ideias.
Com as referidas transformações no conceito de herói, relacionadas com as
alterações ocorridas nos meios de comunicação social, foi possível um número
cada vez maior de heróis. Este aumento justifica-se pelo facto dos programas
se centrarem no presente, o que favorece a rápida disseminação da
informação ao longo do espaço mas não a preservação da informação ao longo
do tempo. O herói dos media electrónicos será, provavelmente, esquecido e a
sua biografia de pouco interesse e, também o leal admirador transformar-se-á
num fã instável. Como já referimos, nunca houve tantos heróis como na cultura
electrónica (cultura dos media) mas por um período de tempo muito mais curto
(Strate, 1985).
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
60
No que diz respeito à relação do desporto com os media propriamente
dita, pode afirmar-se que terá sido no início do século XX que se deram os
primeiros passos. No início do século XX foi observado que a actividade dos
negócios tinha adquirido “o carácter de desporto" (Weber, 1976). Até ao final do
século, o carácter do desporto havia sido radicalmente transformado, em
grande parte pelo mundo corporativo, pela actividade transnacional das
empresas e pela busca global de riqueza, bem como pelo desenvolvimento da
comunicação social e do crescimento da cultura de consumo (Sennett, 2006).
O desenvolvimento tecnológico da TV, principalmente na TV via satélite,
contribuiu de forma significativa para a globalização do desporto. Assim, a
importância económica da TV para o desporto é imensa, e começou a fazer-se
sentir, essencialmente, desde a II Guerra Mundial, iniciando os seus efeitos no
agendamento e organização dos eventos desportivos. Deste modo, percebe-se
o efeito da já referida teoria do Agenda-Setting no que respeita à opção por
determinado acontecimento desportivo (Pereira, 2009). Como o desporto
moderno se tornou num âmbito mundial, que tem perdido o seu carácter lúdico
e a sua prática profissional, converteu-se tanto num espectáculo mediático a
nível global bem como um sério e financeiro negócio, também global (Smart,
2007). Neste campo de mediatização, a importância da rotina de programação
mediática é que ela pode retransmitir os mitos e imagens que ressoam em
sintonia com os arquétipos antigos (como o do herói atlético) e de seguida
transforma-os em símbolos que transmitem variações sobre os mais velhos
valores em formas adaptadas às necessidades de hoje. Neste sentido, os
eventos dos media tendem a promover valores dominantes ou idealizados.
Como resultado, esses mesmos eventos têm a capacidade de integrar e unir
pessoas, até mesmo de dissolver divisões sociais, mesmo que
temporariamente. A principal atracção dos eventos mediatizados é o facto de
ressoarem com a mitologia humana e a fascinação com o transcendente
(Rivenburgh, 2002).
Durante o século XX, as sociedades comerciais reconhecem que poucos
ou mesmo quaisquer formas culturais têm tanto potencial para serem tão
cosmopolitas como os desportos modernos. Estes são significantes universais,
viajam através das fronteiras, ultrapassam as diferenças da política, cultura e
REVISÃO DA LITERATURA
61
religião, e promovem um sentimento de partilha de experiência positiva e um
senso comum de significado. Conseguem-no através de rituais do jogo
competitivo, eles mesmos reproduziram-se de forma universal pela constituição
de uma rede global desportiva. No entanto, esta mediatização tem um preço a
pagar, e um dos seus efeitos foi a modificação do próprio desporto. Essa
transformação, no sentido de um produto consumido através dos media, bem
como de o tornar valor-notícia (conceito abordado posteriormente) para a sua
disseminação nos mesmos media, gerou uma outra transformação, dramática,
produzida pelas forças económicas da TV. E terá sido através da
sponsorização que surgiram novas formas de desporto, como é o exemplo da
NBA, ligando-se o desporto ao mundo dos negócios (Pereira, 2009) a que o
crescimento da cobertura dos meios de comunicação social e referidos
patrocínios fizeram a contribuição decisiva (Smart, 2005).
A ampla comercialização do desporto, evidente pela primeira vez na
América, exemplificada pela cultura do desporto como um espectáculo de
entretenimento, a evolução da radiodifusão televisiva desportiva e a extensão
de uma cultura de celebridades, incluindo estrelas desportivas, parece
destinada a continuar a exercer uma forte influência sobre qualquer desporto
de forma a manter o seu lugar numa cultura global mediática (Witson, 1998).
De facto, parece consensual que o desporto global é hoje um crescente
negócio recompensador em termos financeiros. Visto o desporto ser, nos dias
de hoje, uma parte estabelecida de uma indústria de entretenimento global, os
desportistas abraçaram a noção de que têm uma responsabilidade não só
relativamente ao sucesso na competição mas também no facto de terem de
“entreter” os espectadores e leitores, participando na promoção do desporto
como espectáculo. Isto é feito com o apoio de agentes, conselheiros e meios
de comunicação consultores que comercializam as suas imagens para
empresas comerciais. Estas, por sua vez, procuram aumentar a
consciencialização global das suas marcas, aumentando a sua quota de
mercado mundial e ganhar uma vantagem sobre a concorrência. Isto, através
da implementação do imaginário desportivo e eventos desportivos mundiais de
grande prestígio, associados à publicidade nos meios de comunicação social,
envolvendo os produtos de alto perfil de celebridades desportivas como Tiger
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
62
Woods, David Beckham, Maria Sharapova, entre outros, no produto e
promoção da marca (Smart, 2005).
Percebe-se, então, a existência do que alguns autores classificam de
“trindade invisível”: um “triângulo de ouro”, cujos vértices são o desporto
profissional, os media e a sponsorização, tendo todas as partes um lucro
substancial (Smart, 2007). E é neste triângulo que incluímos João Garcia.
Antes de entrar no “triângulo de ouro”, João Garcia teve que se tornar
num herói, possivelmente, arquétipo por um lado e, por outro, a necessidade
de se tornar num herói desportivo contemporâneo. Porque conseguiu alcançar
o estatuto de herói, João Garcia (o atleta profissional) pelos seus feitos
memoráveis, foi contactado por uma empresa para um patrocínio
(sponsorização). Desta forma, possui mais capacidade financeira, o que lhe
permite dedicar-se de “corpo e alma” ao alpinismo. Como tem mais tempo
dedicado à sua actividade, desenvolve o projecto “À conquista dos Picos do
Mundo”, o qual fará com que tenha mais visibilidade mediática (media), o que
interessa aos seus patrocinadores (Pereira, 2004). Ou seja, quanto mais
sucesso tiver nas suas ascensões, mais frequentemente aparecerá no mundo
dos meios de comunicação social e maior associação haverá entre si e o seu
patrocinador…e, mais uma vez, todos sairão a ganhar (Pereira, 2009)! E foi
precisamente na sequência de uma ascensão bem sucedida que tudo
começou.
Relativamente à ligação do Alpinismo, ou melhor, dos heróis do
alpinismo com os media, esta surge posteriormente à conquista do Monte
Evereste por uma mulher britânica, mãe de família e alpinista, Alison
Hargreaves, sem recurso a oxigénio artificial. Na altura, Verão de 1995 era
apenas a segunda pessoa a ter conseguido essa proeza, o que fez com
merecesse a classificação de Heroína. Dois meses se passaram até à tentativa
de repetir o feito mas nessa época no K2 (Gilchrist, 2007). Na descida, foi
capturada numa tempestade, o que lhe tirou a vida. Tudo isto atraiu os media
pelo menos durante mais uma década após o sucedido. Repercutiu-se num
debate nacional cuja questão em causa era a da apropriação moral de mães
em actividades de alto risco. Surge, deste modo, um discurso que distingue o
REVISÃO DA LITERATURA
63
que é ou não apropriado ao género feminino, inclusive, é posta em causa a
classificação de heroína por ter deixado os seus filhos. No entanto, outros
exploradores também deixaram as suas famílias quando se propuseram a uma
conquista individual gloriosa, não tendo sido alvo de debate e mesmo de
cancelamento das classificações de heróis, o que não aconteceu com Alison
Hargreaves, ideais baseados no arquétipo do herói britânico (idem)
notoriamente uma questão de género, a qual não debateremos neste trabalho8.
Esta relação dos media com o alpinismo começa, então, de forma
sensacionalista, na medida em que é a “desgraça/tragédia” que, inicialmente
atrai os meios de comunicação social, um dos valores-notícia (Gilchrist, 2007).
No entanto, muitos anos antes da revolução sensacionalista das
histórias sobre os perigos na tomada de risco, até mesmo sobre a morte, a
intrusão dos media na comunidade dos alpinistas, era vista com desconfiança e
inquietação. O alpinismo era visto como um assunto privado entre o Homem e
a montanha. Era uma actividade intrinsecamente valorizada. Inclusive, como
Eric Shipton, o principal alpinista himalaiano entre 1930 e 1950 referia, a
publicidade contaminava o real valor do alpinismo. Outros alpinistas aceitavam
melhor esta relação com os media mas nos seus próprios termos, aliado aos
seus próprios interesses Aliás, na década de 20 do século XX, era comum
vender os direitos das expedições a organizações jornalísticas em troca de
uma contribuição nas despesas da expedição. Como exemplo, o jornal diário
The Times, produzido no Reino Unido, goza de um monopólio nas reportagens
dos esforços britânicos nas expedições ao Evereste desde 1921 (Gilchrist,
2007).
Voltando ao que, inicialmente, caracterizou o tipo de interesse dos media
pelo Alpinismo, as histórias sensacionais, sobre a morte ou perto desta, na
montanha, pode-se dizer que continuam a vender. Em 1996, por exemplo,
numa tentativa de ascensão ao Evereste, oito alpinistas morreram, tendo sido
realizado um documentário acerca do acontecimento que, mais uma vez, teve
grande popularidade. Então, nesta fase, parece claro que a tragédia é o que
8 Visto não ser nosso objectivo fazer a distinção da notoriedade e, consequentemente, das representações sociais no
alpinismo na imprensa escrita entre pessoas do sexo masculino e feminino.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
64
desencadeia o interesse e, por sua vez, os lucros da imprensa (idem). Esta
ideia, aliada ao conceito de valor-notícia, será posteriormente abordada.
As mudanças nos media acerca das funções da estrela, levaram a um
declínio da noção tradicional de herói. Podemos afirmar que a cobertura dos
media, em certa medida, determina as construções sociais e culturais dos
heróis. O que as pessoas sabem sobre eles está intimamente relacionado com
o que os media seleccionam para atrair a sua atenção. A noção pura de herói
desportivo começou a ser difícil de manter numa cultura dos media que valoriza
o escândalo e o sensacionalismo (Gilchrist, 2007).
De salientar ainda que, com a transmissão televisiva da ascensão do
Old Man Hoy, em 1967, uma “pilha marítima” com 137 metros de altura, situada
na ilha Hoy no arquipélago Orkney, lembrou-se a importância das novas
tecnologias na criação de momentos altos desportivos. Embora não tendo sido
a cores, foi suficiente para atrair o imaginário público. Não só deu continuidade
a outros programas desportivos como proporcionou a visão do
desenvolvimento da relação dos alpinistas com os media (idem).
Tendo em conta a relação do alpinismo com os media, as conquistas de
Edmund Hillary e Tenzing Norgay, ao serem as primeiras pessoas a ascender
a montanha mais alta do mundo, podem ser consideradas icónicas. O termo
“icónico” também gere a mistura do empírico e transcendente. À conquista
heróica individual ou colectiva do Monte Evereste pode ser dada uma presença
visível e sensual, recordada através de representações pictóricas e outras
formas de tecnologia dos media, que agora satura a imagem da nossa cultura,
mas também é investida de um significado espiritual invisível difícil de
compreender (Gilchrist, 2007). Aliás, a noção de “ícone” apresenta vantagens
na explicação da globalidade mediada, no mundo visual e público desportivo e
personalidades desportivas. Repetindo um excesso de banalidade, as imagens
das estrelas desportivas desempenham um papel na experiência cultural do
nosso dia-a-dia. Experiência, essa, carregada de uma grande quantidade de
sinais de produto, indicando o grau em que a projecção da presença dos
actores sociais é cada vez mais interligada com a actividade económica,
embutida de consumo (idem).
REVISÃO DA LITERATURA
65
E, numa sociedade de consumo, várias palavras são utilizadas como
sinónimos: estrelas; super-estrelas; heróis; ícones, todas projectadas como
celebridades. Caracterizada pelas noções de fama, notoriedade, carisma e
excepção, a celebridade é a mercantilização da forma humana; a
personificação do fetichismo económico, o processo e produto das
representações e imagens promovidas e trocadas através de um elo complexo
da rede dos media dos dias modernos (Nalapat & Parker, 2005). Uma das
prerrogativas do estatuto de celebridade é que ele permite aos indivíduos
ultrapassar os seus locais ocupacionais, conferindo-lhes um curso de
popularidade que muitas vezes se manifesta dentro de uma gama de
definições sociais alternativas. Esta relação entre a celebridade e os media é
simbiótica, ou seja, as celebridades desportivas simplesmente não podem
manter a sua posição sem uma cultura popular de marketing pela presença dos
media (idem). Este pensamento reforça a necessidade da comunicação para
que algo ou alguém seja conhecido, para que seja, pura e simplesmente,
falado. Não existem “coisas” como heróis mas sim comunicação sobre heróis
(Strate, 1985) porque, regra geral, os membros de uma sociedade estão
separados dos seus heróis pelo tempo, espaço e classe social. Conhecem,
portanto, os seus heróis apenas através de histórias, imagens e outras formas
de informação (idem). Sem comunicação não haveria herói (Berg, 1998). É
neste contexto que os media adquirem um papel muito relevante, pois estes
ajudam a construir a nossa realidade social, acerca deste e outros temas.
III CAMPO METODOLÓGICO
CAMPO METODOLÓGICO
69
1 O Alpinista Português João Garcia
João Silva Abranches Garcia é o montanhista (alpinista/himalaísta)
português com maior currículo a nível nacional. Tem um palmarés notável no
panorama mundial, sendo muito poucos, aqueles que realizaram os seus feitos.
Das 14 montanhas com mais de 8000 metros de altitude existentes no planeta,
já ascendeu a doze delas. A que lhe trouxe mais fama foi a ascensão ao
Evereste (8848 metros), tendo sido o primeiro português a alcançar o seu
cume, no dia 18 de Maio de 1999, sem recurso a oxigénio e sem carregadores
de altitude. Na verdade, as expedições ao Evereste e outros pontos altos
configuram-se como símbolos de esforços supremos, de tentativas dos
Homens ultrapassarem os seus limites e atingirem objectivos transcendentes
(Pereira, 2009). E, é neste sentido, de uma actividade transcendente e
combatente, que se pode entender o percurso de João Garcia como um
caminho para a excelência, neste caso no desporto. Sendo este e mais
especificamente, o Alpinismo, uma forma de se transcender e de ser um pouco
mais, de ser ainda mais humano (idem). Comecemos, então, por uma breve
referência a esse caminho!
O alpinista português João Garcia nasceu em Lisboa a 11 de Junho de
1967. Iniciou a sua prática de montanhismo quando, em 1983, então com 16
anos, se deslocou de bicicleta durante quatro dias à Serra da Estrela, uma
jornada que desvela pelo menos dois sentidos: por um lado, a ideia de
emancipação pelo tipo de viagem (em bicicleta desde Lisboa) e, por outro, o ter
conhecido o Clube de Montanhismo da Guarda (CMG) (Pereira, 2009) e, aí,
com o referido Clube, começou a praticar a escalada em rocha. No ano
seguinte, iniciou-se na prática de escalada em neve e gelo. Em 1985,
acompanhou o CMG (não esqueças de fazer uma lista de abreviaturas no início
da monografia) numa expedição aos Alpes, tendo ascendido (entre outras
montanhas) pela primeira vez ao Monte Branco (4807 m). Logo na sua primeira
ida aos Alpes, João Garcia percebeu a importância do treino, dedicando-se,
desde então, ao desenvolvimento contínuo das suas capacidades físicas. Nos
anos seguintes, ascendeu a inúmeros cumes nos Alpes. Simultaneamente, foi
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
70
atleta de Triatlo, o que lhe possibilitava adquirir a preparação física necessária
para o montanhismo ("João Garcia", 2009).
Em 1990, foi seleccionado para uma comissão de serviço de três anos
no Quartel Supremo das Forças Aliadas, na Bélgica. A partir deste momento, a
sua actividade de alpinista intensifica-se e começa aqui a sua preparação para
as escaladas acima dos 7000m e o começo dos desafios que haveriam de
surgir na sua vida ("João Garcia", 2009). De facto, o alpinismo revela-se, para
João Garcia, uma actividade em que o esforço é compensado, onde apenas
aqueles que se esforçam e se dedicam mais (através do treino) conseguem
“chegar lá acima” (Pereira, 2009). Pode-se considerar, assim, uma competição
justa, sem quaisquer factores que visam camuflar a verdadeira capacidade
física, de forma pouco ética. Aliás, o modo como desenvolve e organiza os
seus treinos é disso mesmo demonstrativo. João Garcia treina da mesma
forma que os atletas de alta competição, dedicando tanto ou mais tempo à sua
preparação física (idem). Daqui advém que a tomada de consciência relativa à
importância do treino e do empenho em relação ao alpinismo conduziram João
Garcia para uma forma de vida, a de Alpinista (Pereira, 2009).
Em 1993, iniciou a sua actividade como himalaísta, integrando uma
expedição internacional polaca, liderada por Krzystof Wielicki, à montanha Cho-
Oyu (8201 m) no Tibete. A ascensão foi realizada por uma nova via sem
recurso a oxigénio artificial. A partir daí, ascendeu a inúmeros cumes dos
Himalaias, entre os quais, mais dez das 14 montanhas com mais de 8000
metros. Esses cumes e respectivas datas são: Dhaulagiri (8167 m), 1994;
Evereste (8848 m), 1999; Gasherbrum II (8035 m), 2001; Gasherbrum I (8035
m), 2004; Lhotse (8516 m), Kanchenjunga (8586 m); Shishapangma (8046 m),
2005; K2 (8611 m), 2007; Makalu (8463 m); Broad Peak (8047 m), 2008 ("João
Garcia", 2009).
No currículo, João Garcia tem já a possibilidade de averbar a conquista
dos “Big Five”, como são conhecidas na gíria dos alpinistas, as cinco
montanhas mais altas do planeta!
Adicionalmente, desenvolveu ainda o projecto “Sete Cumes”, onde
pretende escalar a montanha mais alta de cada continente, diferindo do
anterior por integrar a Antárctida na lista e separar a América do Norte da
CAMPO METODOLÓGICO
71
América do Sul. Os sete cumes são ("João Garcia", 2009) (Sale & Cleare,
2001):
Monte Evereste (8848 m, Ásia): referido anteriormente.
Aconcágua (6949 m, América do Sul) : O monte Aconcágua –
“Sentinela de Pedra” - tem 6962 metros de altitude e é o ponto mais alto das
Américas. Fica localizado nos Andes Argentinos, a cerca de 112 km da cidade
de Mendoza. Está localizado no Parque Provincial Aconcágua, cuja entrada
fica próxima ao povoado de Puente del Inca.
Apesar da sua altitude, a Aconcágua não é uma montanha difícil de ser
escalada do ponto de vista técnico, pois para atingir o seu cume pela rota
normal não é necessário que o montanhista realize escaladas técnicas. O
desafio que a montanha apresenta é um teste de resistência física para superar
o frio e a rarefacção de oxigénio comum às grandes altitudes. Foi escalada
pela primeira vez em 1897 por Matthias Zurbriggen.
Monte McKinley (6193 m, América do Norte): também conhecido
como Denali do dena’ina: "o grande", localizada no Alasca, Estados Unidos da
América, é a montanha mais alta da América do Norte.
Esta montanha não faz parte do grupo selecto das maiores montanhas
do mundo, contudo, a sua ascensão é bem mais complicada devido ao factor
latitude. Por estar distante da linha do Equador, os seus dias e noites são muito
mais frios do que em montanhas mais altas, como por exemplo no Monte
Evereste.
Foi escalado pela primeira vez a 7 de Junho de 1913 por Hudson Stuck,
Harry Karstens, Walter Harper e Robert Tatum.
Kilimanjaro (5895 m, África): O Monte Kilimanjaro (Oldoinyo Oibor, que
significa "montanha branca" em Masai, ou Kilima Njaro, "montanha brilhante"
em Kiswahili), situa-se no norte da Tanzânia, junto à fronteira com o Quénia, é
o ponto mais alto de África, com uma altitude de 5.895 m no Pico Uhuru.
Foi escalado pela primeira vez a 6 de Outubro de 1889 por Hans Meyer,
Ludwig Purtscheller e Johannes Kinyala Lauwo.
Monte Elbrus (5642 m, Europa) : É a montanha mais alta da Europa. É
um estrato vulcão extinto localizado na parte ocidental da cordilheira do
Cáucaso, na Rússia, perto da fronteira com a Geórgia. Fica a 20 km ao norte
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
72
da cordilheira principal do Grande Cáucaso e a 65 km su-sudoeste da cidade
russa de Kislovodsk.
Foi escalado pela primeira vez em 1874 por uma expedição britânica
dirigida por F. Crauford Grove.
Maciço Vinson (4897 m, Antárctida): É o ponto culminante do
continente Antárctico. Situa-se no maciço homónimo que faz parte de um dos
ramos, o Sentinel Range, da cordilheira Ellsworth, no extremo sul da Península
Antárctida.
Recebeu o nome do congressista americano Carl G. Vinson devido ao
facto deste ter persuadido o governo dos Estados Unidos a promover uma
expedição ao continente Antárctico. A ascensão do Vinson não é considerada
tecnicamente difícil mas as condições climatéricas extremas fazem com que a
sua ascensão constitua um sério empreendimento. Não é raro a temperatura
descer abaixo dos 40º C negativos mas esta pode atingir valores ainda mais
baixos, nomeadamente quando a região é varrida por ventos fortes.
A primeira ascensão do Vinson foi realizada, em 1966, pela expedição
americana liderada por Nicholas B. Clinch.
Monte Koshiuszco (2228 m, Oceânia): O Monte Kosciuszko está
localizado na cordilheira Snowy Mountains situada no Parque Nacional
Kosciuszko. É a montanha mais alta da Austrália (não incluindo os seus
territórios externos). A primeira ascensão foi realizada em 1840 por Paweł
Edmund Strzelecki.
O primeiro homem a afirmar ter concluído estes “setes cumes” foi o
americano Dick Bass, em Abril de 1985, em que completou a lista fazendo o
Monte Kusciusko, na Austrália. No ano seguinte, em 1986, Pat Morrow afirma
ter sido ele o primeiro, pois em vez do Monte Kosciuszko, escala as Pirâmides
de Cartzens na Indonésia (que geologicamente fazem parte da Oceânia).
Esta visão dos “sete cumes” é deveras discutida e haverá praticamente
o mesmo número de alpinistas a atingi-los, quer considerando o Monte
Kosciuszko, quer considerando as Pirâmides de Carstensz como o ponto mais
alto do continente Oceânico.
João Garcia segue a referência do Dick Bass e já escalou seis das sete
montanhas mais altas dos sete continentes, sendo estas: Evereste (Ásia);
CAMPO METODOLÓGICO
73
Aconcágua (América do Sul); McKinley (América do Norte); Elbrus (Europa);
Maciço Vinnson (Antártida); Kilimanjaro (África). Apenas lhe resta a Pirâmide
Carstenz (Oceania) ("João Garcia", 2009). Apesar disso, João Garcia refere
que é uma montanha sem grande interesse e dificuldade para escalar e que já
não irá levar a cabo.
João Garcia, o primeiro e único português a atingir o cume do Monte
Evereste sem o recurso a oxigénio artificial, em 1999, conta com o apoio do
Banco Millennium bcp no projecto "À Conquista dos Picos do Mundo", através
do qual pretende organizar um conjunto de expedições que o vão colocar numa
elite de 14 alpinistas que já alcançaram o topo das 14 montanhas com mais de
8000 metros de altitude e noutra elite de 7 pessoas que o fizeram sem recurso
a garrafas de oxigénio. João Garcia quer conseguir este feito sem o recurso a
oxigénio artificial escalando, entre 2006 e 2010, 8 das 14 montanhas,
totalizando assim, em 2010, esse número. Quanto à ascensão ao cume do
Evereste (8848 m), a 18 de Maio de 1999, realizada pela Face Norte e, como
sempre, sem recurso a oxigénio artificial, valeu a morte do seu companheiro de
escalada e grande amigo, o belga Pascal Debrouwer, que caiu numa ravina
durante a descida e valeu a João Garcia o internamento num hospital de
Saragoça, em Espanha, onde lhe amputaram alguns dedos das mãos e dos
pés e onde recebeu um implante para o seu nariz devido às queimaduras
provocadas pelo gelo.
Iniciou com a ascensão ao Kanchenjunga (8586 m) no Nepal, em 2006,
o referido projecto “À conquista dos Picos do Mundo”. A 22 de Maio de 2006
atinge, com o alpinista equatoriano Iván Vallejo (o último, até à data, da lista
dos que escalaram os 14 “oito mil”), o cume do Kanchenjunga. No mesmo ano,
liderou uma expedição cem por cento portuguesa, juntamente com os alpinistas
Bruno Carvalho, Hélder Santos, Rui Rosado e Ana Santos. O jornalista Aurélio
Faria acompanhou grande parte da expedição. João Garcia, Bruno Carvalho e
Rui Rosado atingiram cume a 31 de Outubro mas, durante a descida, Bruno
Carvalho, despediu-se das montanhas e do mundo após uma queda.
A 20 de Julho de 2007, João Garcia completou com sucesso mais uma
das etapas do referido projecto, atingindo o cume do K2 (segunda montanha
mais alta), integrado num grupo de várias expedições que uniram esforços para
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
74
realizar a ascensão. Esta montanha, devido à instabilidade climatérica e dureza
da própria subida, é, possivelmente, o maior desafio da carreira de qualquer
alpinista, chegando mesmo a existir anos em que não se regista qualquer
ascensão com sucesso, inclusive, morre 1 em cada 7 alpinistas durante a
descida (Sale & Cleare, 2001).
Em 2008, em menos de dois meses, alcança dois cumes de 8000
metros. A 19 de Maio, atinge o cume do Makalu (8463 m), no Nepal, sozinho e,
a 17 de Julho, o cume do Broad Peak (8047 m), na fronteira China – Paquistão,
ambas as ascensões sem recurso a oxigénio artificial.
Já este ano, mais um objectivo atingido a 28 de Abril (2009), o Manaslu -
8163m!
Para alcançar as 14 montanhas com mais de 8000 metros de altitude
existentes no planeta, falta-lhe ascender (até 2010) o Annapurna e o Nanga
Parbat.
Conforme já descrito, existem 14 montanhas com altitude acima dos
8000 metros. Todas elas estão localizadas na cordilheira dos Himalaias, no
continente Asiático, entre a Índia, China, Nepal, Paquistão e Tibete. Apenas 14
pessoas escalaram estas 14 montanhas e 7 sem recurso a oxigénio artificial
até aos dias de hoje e somente dezasseis acima dos 12 cumes já escalados
pelo mais consagrado alpinista português. Entre as pessoas que escalaram o
Evereste, cerca de oitenta fizeram-no sem recurso a oxigénio, uma das quais,
João Garcia.
É, actualmente, o único português “cameraman” de altitude e de
condições extremas. Até há bem pouco tempo, era ele quem fazia e organizava
tudo o que está relacionado com as suas expedições. Contudo, à medida que o
tempo foi passando, houve uma evolução na sua forma de estar no alpinismo,
passando de amador e, portanto, com necessidade de sustentar a sua
actividade com outras actividades, a alpinista profissional, com a respectiva
necessidade de especialização. Nesta especialização, tornou-se fundamental
que se dedicasse exclusivamente ao alpinismo e à sua preparação, deixando
de assumir todas as tarefas, relegando-as para outras pessoas. Porém, sempre
apreciou tudo o que está inerente à organização e planificação das expedições,
sendo este um aspecto que o próprio relata nos livros da sua autoria,
CAMPO METODOLÓGICO
75
percebendo, quem os lê, que João Garcia valoriza todos os aspectos logísticos
de uma expedição (Pereira, 2009).
Já realizou documentários sobre as suas expedições, tendo estes sido
transmitidos nas televisões portuguesas. João Garcia é o autor dos livros “A
Mais Alta Solidão”, onde retrata alguns dos acontecimentos mais dramáticos da
sua vida, e “Mais Além – Depois do Evereste”, lançado em Fevereiro de 2007,
que foi dedicado a Bruno Carvalho.
João Garcia lançou, em Janeiro de 2009, o filme intitulado “João Garcia
sur la route des 14” cuja realização é de Johan Perrier e relata o projecto “À
Conquista dos Picos do Mundo” e o desejo do português de conquistar as 14
montanhas mais altas do mundo ("João Garcia", 2009).
Até à data, João Garcia já escalou as seguintes montanhas (Quadro 1): Quadro 1 Conquistas de João Garcia por altitude e respectivas datas
Por Altitude
Cume por Ordem Cronológica
1 – Evereste (8848 m)
1 - 1993 - Cho Oyu (8201 m)
2 – K2 (8611 m)
2 - 1994 - Dhaulagiri (8167 m)
3 – Kanchenjunga (8586 m)
3 - 1999 - Evereste (8848 m)
4 – Lhotse (8516 m)
4 - 2001 - Gasherbrum II (8035 m)
5 – Makalu (8463 m)
5 - 2004 - Gasherbrum I (8068m)
6 – Cho Oyu (8201 m)
6 - 2005 - Lhotse (8516 m)
7 – Dhaulagiri (8167 m)
7 - 2006 - Kanchenjunga (8586 m)
8 – Manaslu (8163 m)
8 - 2006 - Shisha Pangma (8013 m)
9 – Nanga Parbat (8125m)
9 - 2007 - K2 (8611 m)
10 – Annapurna (8091 m)
10 - 2008 - Makalu (8463 m)
11 – Gasherbrum I (8068m)
11 - 2008 - Broad Peak (8047 m)
12 – Broad Peak (8047 m)
12 – 2009 – Manaslu (8163m)
13 – Gasherbrum II (8035 m)
14 – Shisha Pangma (8013 m)
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
76
O projecto “À Conquista dos Picos do Mundo” estende-se até 2010, com
expedições ao Nanga Parbat (8125m), Verão de 2009 e Annapurna (8091m) na
Primavera de 2010.
Com os cinco cumes mais altos já vencidos, o alpinista lisboeta está
lançado para se juntar ao, por enquanto restrito, número de homens (não há
mulheres) que escalaram todos os "oito mil". Apesar de haver vários prestes a
concluir a tarefa, até ao momento, a lista inclui, como referimos, apenas 14
nomes e apenas 7 sem recurso a oxigénio artificial. A missão é tudo menos
fácil. Cada uma destas montanhas representa um desafio extremo. O
Annapurna, por exemplo, exibe uma das taxas de mortalidade mais arrepiantes
entre os "oito mil"; a relação entre os que chegam ao cume e os que morrem
na descida é de cerca de 8 por cento, valor apenas superado pelo K2 (Sale &
Cleare, 2001).
CAMPO METODOLÓGICO
77
2 Procedimentos Analíticos
Uma vez que o nosso objectivo é conhecer quais as representações
sociais (RS) do Alpinismo a partir do representante máximo português João
Garcia entre 1998-2008, a metodologia a pôr em prática terá de ir ao encontro
desse mesmo objectivo. Então, para verificarmos quais as RS do alpinismo,
decidirmos debruçar-nos sobre o principal veículo de informação, ou seja, os
media, efectuando a nossa pesquisa na imprensa escrita. Isto, porque é um
formato arquivado ao longo dos tempos, o que facilita a sua aquisição e,
também porque, comparativamente com outros meios de comunicação (ao
nível nacional), este será o que mais notoriedade tem dado à actividade em
questão. Entendemos, pelo exposto, ser a Análise de Conteúdo a técnica mais
adequada para o tratamento deste tipo de dados, visto ser um conjunto de
instrumentos metodológicos que se aplicam a conteúdos diversificados,
interpretando, com base na inferência, os sentidos das palavras (Bardin, 1977,
p. 30). Ou seja, através de procedimentos sistemáticos e objectivos de
descrição do conteúdo das mensagens, cujas características foram
inventariadas e sistematizadas, visa adquirir sinais que permitam inferir os
conhecimentos dessas mesmas mensagens (Vala, 2007).
2.1 Análise de Conteúdo da Imprensa
De acordo com (Vala, 2007), através da análise de frequência podemos
inventariar palavras ou símbolos chave, temas com maior ou menor destaque
e, também, principais focos de interesse. Deste modo, os objectivos da nossa
análise de conteúdo da imprensa são os seguintes:
- Conhecer o discurso na imprensa escrita sobre o Alpinismo (1998-2008), em
particular sobre o João Garcia;
- Perceber que tipo de Representações Sociais emerge destes discursos;
- Conhecer o teor e enquadramento das notícias em relação a João Garcia;
- Perceber se João Garcia é descrito como Herói.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
78
Relativamente às funções da análise de conteúdo podemos referir a
função de “administração de prova” que se refere às hipóteses ou afirmações
como linhas orientadoras para serem ou não confirmadas, e a função heurística
que se refere à análise propriamente dita do conteúdo, no sentido de uma
pesquisa exploratória que irá ajudar-nos na descoberta dos dados (Bardin,
1977).
No caso do nosso trabalho, visto não haver estudos no âmbito das RS
do alpinismo nos meios de comunicação social e, obviamente, na imprensa
escrita, partimos para o nosso sistema categorial apenas com duas categorias
“a priori”, a do “Herói” e a dos “Riscos e Acidentes no Alpinismo”. Tal facto, por
considerarmos o aparecimento das notícias sobre o Alpinismo fruto de uma
grande conquista por João Garcia, a do Monte Evereste, em 1999. A esse feito
está associado o conceito de “herói”, pela proeza alcançada por muito poucos
(a nível mundial) e por mais ninguém cuja bandeira erguida no topo, para a
fotografia, seja portuguesa! Mas, como resultado dessa mesma conquista,
marcas inapagáveis no corpo de João Garcia ficarão, permitam-me a
redundância, para sempre. Depreende-se deste modo que, intimamente
ligados ou mesmo como factores inerentes a este tipo de actividade, estão os
Riscos e Acidentes nas montanhas que, de acordo com o enquadramento
teórico, recriam o sensacionalismo (um dos valores-notícia a ter em conta). Daí
que esta inclusão “a priori”, seja justificada apenas por estas duas categorias.
Todas as outras surgiram posteriormente às várias leituras das notícias.
A primeira leitura, a flutuante (Bardin, 1977), possibilitou-nos a
percepção dos “conceitos” em destaque, aqueles que, mesmo lendo sem
intenção de encontrar o “que quer que seja”, ressaltam-se nas linhas do texto.
Serão esses que devidamente tratados e reflectidos em leituras posteriores, se
transformarão em termos-chave, com vista à condução no sentido dos
objectivos da análise propriamente dita e, mais amplamente, do grande
objectivo do trabalho.
CAMPO METODOLÓGICO
79
2.1.1 Descrição do procedimento
Tendo já sido delimitadas as nossas aspirações e referido um
enquadramento teórico, o próximo passo será, então, a definição das
categorias do nosso estudo, com o propósito de simplificar as
informações/dados brutos através das unidades, da categorização e das
escolhas das regras de contagem (Bardin, 1977).
As categorias são classes que reúnem palavras-chave, agrupamento
baseado em caracteres comuns a esses elementos sob um título genérico. A
passagem dos indicadores aos conceitos é, essencialmente, uma atribuição de
sentido (Bardin, 1977). Esse processo de categorização passa por isolar os
elementos – inventário - e por repartir os elementos, atribuindo organização às
mensagens – classificação.
Importa referir que a elaboração do sistema de categorias pode ser feita
de duas formas: a priori, onde é elaborado um quadro teórico no qual a pessoa
que analisa o conteúdo se fundamenta para a realização desse mesmo
sistema; a posteriori, surgindo sem comprovação teórica para a sua elaboração
(Vala, 2007).
Com o intuito de criarmos categorias claras mas de qualidade importa,
então, seguirmos as orientações de Bardin (1977) para a correcta elaboração
das mesmas:
- Exclusão mútua – cada elemento só pode existir numa das divisões;
- Homogeneidade – a classificação deve apenas e somente seguir um tipo de
organização;
- Pertinência – adaptar a categoria ao material de análise;
- Objectividade e Fidelidade – a análise é feita por um observador, tendo como
base categorias concisas de modo a facilitar a inclusão dos elementos numa ou
noutra categoria;
- Produtividade – recolher resultados significativos.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
80
Já numa fase de término, ou seja, antes da devida interpretação dos
resultados, é importante que se defina as unidades de análise. Estas podem
ser de dois tipos. A primeira, unidade de registo, é a unidade de significação a
codificar e corresponde ao segmento de conteúdo a considerar como unidade
base, visando a categorização e a contagem frequencial. É de natureza e de
dimensão variável. Podendo ser formais (frases ou palavras) ou semânticas
(tema). A segunda, unidade de contexto, serve de unidade de compreensão
para codificar a unidade de registo e corresponde ao segmento da mensagem,
cujas dimensões (superiores às da unidade de registo) são essenciais para a
compreensão da significação da unidade de registo (Bardin, 1977; Vala, 2007).
Relativamente à terceira unidade, a de enumeração, tem como principal função
a quantificação. Segundo Bardin (1977), o modo de enunciação e
referenciação às unidades de análise está sujeito a regras de enumeração,
nomeadamente: presença/ausência de uma determinada unidade de registo;
frequência de uma unidade; frequência ponderada, no caso de uma suposição
de que um elemento tem maior importância que outro; intensidade; direcção
favorável, desfavorável ou neutra; ordem de encadeamento das unidades de
registo; e co-ocorrência, duas ou mais unidades de registo numa unidade de
contexto.
No caso do nosso trabalho utilizamos a presença/ausência para as
categorias a priori. Para além desta regra recorreremos às regras de direcção,
intensidade e frequência.
De extrema importância para a nossa análise, uma vez de imprensa, são
as unidades de enumeração geométricas, visto serem as mais utilizadas neste
tipo de análise (Vala, 2007).
2.1.2 Corpus de Estudo
Com este trabalho pretendemos cruzar o Alpinismo e, mais
especificamente, o alpinista português João Garcia, com a análise de conteúdo
de notícias referentes aos jornais generalistas. Relativamente a esses jornais
existentes no nosso país, a nossa opção aludiu sobre o Jornal de Notícias e
CAMPO METODOLÓGICO
81
jornal O Público. Ambas as opções devido ao facto de serem jornais com
grande tiragem e com alguma acuidade a nível nacional. Adicionalmente, são
jornais que apresentam a vantagem de terem sido publicados (e continuam a
ser) ao longo de todo o período a ser analisado. Os anos sobre os quais
incidiremos a referida análise circunscrevem-se entre 1998-2008, inclusive.
Esta delimitação prende-se com o facto de ter sido em 1999 que João Garcia
atingiu o cume do Evereste sem recurso a oxigénio artificial, atingindo um
objectivo alcançado por poucos, contudo, tendo efectuado antes duas
tentativas, o que justifica a análise desde 1998. Partimos, então, para o referido
balizamento, da suposição que terá sido a partir de 1999 que esta actividade e,
consequentemente, o alpinista João Garcia terão sido alvo de maior
noticiabilidade.
A recolha do nosso corpus de estudo procedeu-se na Biblioteca Pública
Municipal do Porto (jornal O Público) e nas instalações do Jornal de Notícias
(respectivo jornal), num período abrangido por dois meses (Novembro e
Dezembro de 2008) de pesquisa diária. É constituído por 11 notícias do Jornal
de Notícias e por 52 notícias do jornal O Público, totalizando, assim, 63
notícias.
Assim, uma vez jornais publicados ao longo de todo o período a ser
analisado possibilitam a exaustividade dos dados, a representatividade da
amostra, sendo que representa o universo inicial, a homogeneidade por se
tratar de documentos sujeitos a critérios de escolha precisos e, por fim,
pertinência, sendo esses mesmos documentos adequados ao objectivo do
trabalho. Consideramos que, reunidas todas estas condições, o nosso corpus
de estudo respeita as regras, enunciadas por Bardin (1977), necessárias à
constituição do mesmo.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
82
3 Sistema Categorial
Tendo em conta o exposto e referido anteriormente no que respeita aos
procedimentos envolvidos no processo de análise de conteúdo, importa, então,
definirmos o nosso sistema categorial. No seguimento da anterior descrição
das várias etapas precedentes à criação do sistema categorial, ficou clara a
pretensão de sermos “invadidas” de forma ocular por conceitos embutidos nos
textos que se constituem como notícias. Portanto, após a elaboração do
enquadramento teórico e também influenciadas pela nossa percepção, apenas
duas categorias resultaram “a priori”, ou seja, maioritariamente, as categorias
surgiram posteriormente à leitura do corpus de estudo. Assim sendo, o Sistema
Categorial é constituído pelas seguintes categorias e subcategorias. (Quadro
2).
O sistema completo, com as respectivas unidades de contexto/recortes das
notícias está em anexo. Quadro 2 Categorias e Subcategorias
Categoria s Subcategoria s
Herói João Garcia e Evereste Projectos de João Garcia Riscos e Acidentes no Alpinismo
Arquétipo Desportivo/Contemporâneo Preparação Consagração Sequelas Etapas/Objectivos Patrocínio Conquistas Tragédia/Acidente
CAMPO METODOLÓGICO
83
• Herói
Uma das nossas opções, no que respeita às categorias do sistema
categorial, recaiu, inevitavelmente, sobre o conceito de Herói. De facto, após
toda a pesquisa efectuada no espaço reservado à Revisão da Literatura,
constatou-se a presença de inúmeros predicados aquando da referência das
várias conquistas por vários alpinistas. São diversos os autores que escrevem
sobre a temática do herói, considerando como características indissociáveis de
pessoas cujo os feitos e percursos de vida são ou foram exemplares, ficando
gravados nas memórias de uma sociedade. Ou seja, feita essa
conceptualização, foram oportunas associações e mesmo verificações dessas
mesmas características no âmbito do alpinismo, melhor dizendo, em alpinistas.
Como resultado, após comparação de alguns desses currículos desportivos
com o do João Garcia, percebeu-se, desde logo, uma íntima associação entre
este e a sua possível heroicidade. No entanto, interessa-nos, também, a
constatação do tipo de herói, justificando as subcategorias Arquétipo e
Desportivo/Contemporâneo. Ou seja, caso se verifique a hipótese de
heroicidade de João Garcia, importa percebermos qual o tipo de herói a ele
associado. Consideramos, portanto, uma das categorias deste sistema e, como
se trata de uma categoria “a priori”, partimos para a leitura do corpus de estudo
com termos-chave já existentes na literatura sobre o assunto em questão.
• João Garcia e Evereste
A segunda categoria denomina-se João Garcia e Evereste. Como
referido anteriormente, a nossa pesquisa reflectiu o início do período de
reconhecimento mediático (valor-notícia) de João Garcia enquanto alpinista, o
que justifica a escolha desse começo em 1998, ano que antecedeu a grande
conquista, ou seja, ano de tentativas e preparação. O término da circunscrição
temporal do corpus de estudo apenas se prende com o facto de terem sido
pesquisados todos os jornais até à data da realização de todo o campo
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
84
metodológico deste trabalho. Não obstante e como esperávamos, mesmo com
toda a preparação para o “pezinho” português no tecto do mundo, apenas foi
convertido definitivamente em valor-notícia no momento em que,
efectivamente, pisou o cume do Evereste, a 18 de Maio de 1999. Não
poderíamos deixar este marco temporal esquecido ou desvalorizado, uma vez
que o aparecimento mediático de João Garcia se deve, sem qualquer dúvida, à
sua extraordinária conquista…proeza! Mas, associada ao feito histórico,
sublinhado pelo percurso do alpinista português, surgiu outro grande tema de
notoriedade, as sequelas sofridas durante um acto que colocou João Garcia
numa lista bastante restrita a nível mundial, e nunca antes inaugurada por um
português/portuguesa. Mazelas que, inapagáveis das suas mãos, pés e nariz,
são bem lembradas e relembradas pelos media.
Recapitulando, a menos de um ano de se consagrar o “português mais
alto do mundo”, com toda a preparação que uma investida ao mais alto dos
“oito mil” exige, passando pelo 18 de Maio que fez correr a “primeira tinta” do
alpinismo em Portugal, atribuindo um estatuto inigualável ao nosso possível
herói, temos a continuidade de representatividade muitas vezes associada à
tragédia do companheiro de escalada Pascal, que pereceu na descida, bem
como às sequelas que, ainda hoje, são notícia.
Pelo exposto, parece-nos devidamente justificada esta categoria e
respectivas subcategorias: Preparação; Consagração e Sequelas.
• Projectos de João Garcia
Como terceira categoria, e igualmente estimulada pela leitura do corpus
de estudo, temos os projectos e objectivos do alpinista português João Garcia.
Verificámos a pertinência desta categoria pelo facto de ter sobressaído das
notícias uma intenção de deixar transparecer toda a preparação inerente às
expedições, cabendo, deste modo, no campo dos objectivos. Estes são,
efectivamente, muito referenciados e constatámos mesmo a sequência
temporal de todo o esforço e preparação com vista aos objectivos
determinados por João Garcia. Mas, se falamos de objectivos, proferimos,
CAMPO METODOLÓGICO
85
identicamente, projectos que unem forças no sentido de os concretizar. E, é no
seguimento de uma constante referência (no corpus de estudo) a todas estas
questões, que nos parece óbvia a valorização mediática de que este tema é
sujeito. Aliado ao referido, revelou-se a importância de três projectos de João
Garcia. O primeiro - “Big Five” - diz respeito à conquista das cinco montanhas
mais altas do planeta, as quais já fazem parte do currículo do alpinista
português; o segundo projecto denomina-se “Seven Summits”, correspondendo
à conquista dos “picos” de cada continente, faltando apenas um, a João Garcia,
para completar os sete; o terceiro e último projecto, é aquele que lhe
possibilitou um grande passo na sua carreira, o de se dedicar exclusivamente
ao alpinismo e intitula-se “À Conquista dos Picos do Mundo”. É a partir daqui
que recorremos ao que (Smart, 2007) classificou de “tríade de ouro”.
O projecto “À Conquista dos Picos do Mundo” resultou de um apoio
financeiro por parte do banco Millennium BCP aos objectivos de vida de João
Garcia. A meta é o alpinista atingir os catorze “oito mil” até 2010, ao abrigo
deste patrocínio. De facto, é uma “relação” vantajosa para ambas as partes.
Com o referido apoio, João Garcia consegue dedicar-se de “corpo e alma” ao
que realmente gosta de fazer e, também, liberta-o de preocupações
financeiras. Por outro lado, esse patrocínio deveu-se ao currículo de excelência
de que o alpinista é detentor, repercutindo-se numa maior notoriedade em
termos mediáticos. Tal situação, só pode interessar a empresas com
capacidade financeira porque, sendo João Garcia alvo de notícia pelos seus
feitos e associado a uma instituição bancária, só trará, da mesma forma, maior
publicidade à empresa patrocinadora, ou seja, saem todos a ganhar! Daí
justificar-se as subcategorias subtilmente referidas: Projecto “Big Five”;
Projecto “Seven Summits”; Projecto “À Conquista dos Picos do Mundo” e, por
último, os Patrocinadores.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
86
• Riscos e Acidentes no Alpinismo
A nossa última categoria reflecte o que é tido como um dos valores-
notícia. É a segunda categoria “a priori”, portanto, definida tendo por base a
literatura já existente. Fundamentando-nos na pesquisa para efeitos de revisão
de literatura, constatámos que o despoletar do interesse dos media a respeito
do alpinismo, deveu-se à “tragédia/desgraça” de uma alpinista britânica, Alison
Hargreaves (Gilchrist, 2007). De facto, a sua morte foi capa de jornal e
desenrolou o posterior desenvolvimento da ligação dos media com o alpinismo.
Sem dúvida que a origem do interesse mediático por esta actividade
relacionou-se e ainda se relaciona com a recriação do sensacionalismo. É
nosso objectivo, então, perceber em que medida essa direcção noticiosa ainda
se verifica, já corroborada pela ênfase dada às sequelas sofridas por João
Garcia quando conquistou o Evereste.
Contudo, percebe-se que a consideração dada a esta temática se baseie
num dos elementos - chave do alpinismo, que é o risco inerente à prática desta
actividade. Ou seja, embora se reconheça uma tendência de interesse aliado à
“tragédia”, sendo muitas vezes o que vende, a verdade é que o risco faz parte
deste modo de vida, o que vai ao encontro do que Lyng (1990) denomina de
“edgework”, como sendo a tomada voluntária de risco. Portanto, não é tão
surpreendente e inesperada a relevância dada a este assunto, visto ser quase
impossível dissertar-se sobre o alpinismo sem que se o corresponda com os
riscos a ele inerentes e consequência desses mesmos riscos, os acidentes,
que podem ou não ser fatais.
IV APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
89
Posteriormente à explanação da Metodologia à qual recorremos para
atingir as metas a que nos propusemos no âmbito do estudo das R.S. do
Alpinismo nos media portugueses, à exposição acerca do nosso Corpus de
Estudo, Sistema Categorial e devida justificação passaremos, então, à
apresentação dos resultados obtidos e, posteriormente, à discussão dos
mesmos.
A distribuição foi feita por onze períodos (anos) de análise: [1998-2008].
A apresentação dos resultados tem em conta as categorias e respectivas
subcategorias que consideramos pertinentes para produzir resultados
proveitosos, sendo que a sua discussão é feita tendo por base o cruzamento
de dados entre os dois jornais e entre os dados de cada um dos jornais.
Quadro 3: Número Total de Notícias do Jornal O Público e Jornal de Notícias entre 1998 e
2008
Jornal
Anos
O Público
Jornal de Notícias
Total por Ano
1998 10 2 12 1999 13 2 15 2000 5 2 7 2001 2 0 2 2002 2 0 2 2003 1 0 1 2004 7 0 7 2005 6 0 6 2006 4 3 7 2007 2 1 3 2008 0 1 1
Total por Jornal 52 11 63
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
90
Gráfico 1: Variação do Número de Notícias entre 1998 e 2008 no Jornal O Público e Jornal de
Notícias
Como podemos observar no quadro 3 e gráfico 1, o número total de
notícias diminuiu até 2003 (jornal O Público) e até 2005 (Jornal de Notícias),
voltando a diminuir novamente a partir 2004 (Jornal O Público) e em 2006
(Jornal de Notícias) sendo esta descida menos significativa. O primeiro jornal
publicou sempre mais notícias, à excepção do ano de 2008 em que o Jornal de
Notícias obteve uma notícia e O Público nenhuma notícia. No entanto, percebe-
se claramente um “pico” noticioso no jornal O Público no ano de 1999, o que é
explicado pelo facto de ter sito nesse mesmo ano que João Garcia atingiu o
cume do Evereste.
Relativamente ao único “pico” do Jornal de Notícias, considera-se
relacionado com a subcategoria “patrocinadores” da categoria Projectos de
João Garcia. De facto, a obtenção de um patrocínio permitiu o aumento do
número de notícias. Assim há, então, maior exposição mediática e,
consequentemente, um aumento de credibilidade relativamente ao assunto em
questão, o Alpinismo.
Já na referência ao segundo “pico” do jornal O Público, questionamo-nos
acerca da interpretação dos valores absolutos obtidos. Isto, porque destas
“notícias” fazem parte os Diários de Expedições de João Garcia. Tal facto
0
2
4
6
8
10
12
14
1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
O Público
Jornal de Notícias
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
91
justifica-se, na nossa perspectiva, pela dificuldade existente no
acompanhamento de uma expedição a um “oito mil”, por exemplo. Percebe-se,
assim, que não haja repórteres com condições físicas e cardiovasculares
suficientemente bem treinadas para permanecer em altitude durante o tempo
de uma ascensão. Desta forma, não subsiste outra solução senão a realização
dos vídeos por parte de João Garcia e, consequentemente, os referidos diários.
Curiosamente, ao contrário do segundo jornal, embora O Público refira o
projecto de João Garcia apoiado financeiramente por um patrocinador, tal facto
não foi suficiente para se verificar a tendência óbvia de maior exposição
mediática porque não se regista nenhum aumento noticioso a partir de 2006,
ano em que teve início o patrocínio do Millenium bcp.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
92
Relativamente às quatro categorias/temas gerais importa, previamente à
apresentação e discussão dos resultados obtidos, elucidar o leitor acerca dos
conceitos que integram cada uma subcategorias/subtemas, sendo que as
nossas unidades de registo se reportam à notícia em si e não a termos-chave.
Esta opção deve-se ao facto da haver conceitos que se repetem ao longo do
corpus de estudo mas que não se incluem no mesmo tema. Ou seja, não
produziríamos resultados válidos se apenas tivéssemos em consideração o
conceito em “bruto” sem a devida contextualização.
Portanto, no que respeita à subcategoria “Preparação” da categoria
“João Garcia e Evereste”, considerámo-la como a fase anterior à conquista
propriamente dita, incluindo: tentativas; desistência; preparação física,
psicológica e logística. Na segunda subcategoria - “Consagração”,
abrangemos: conquista do Evereste; reconhecimento público; e, por último, o
“relembrar”. Esta última refere-se à constante necessidade dos media avivarem
a memória do seu público leitor, introduzindo a maioria das notícias com uma
breve apresentação de João Garcia, remetendo para a sua
conquista/consagração de 1999. Por último, a subcategoria “Sequelas” que
integra: ferimentos sofridos por João Garcia aquando da ascensão do
Evereste; recuperação. Esta será, então, o depois do Evereste.
De seguida, apresentamos, então, os nossos resultados relativamente à
primeira categoria.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
93
1 João Garcia e Evereste
Considerando as quatro categorias estabelecidas, daremos início à
apresentação dos resultados com aquela que pensamos ser a mais
abrangente, na medida em que, como referimos anteriormente, o alpinismo e,
mais especificamente João Garcia, apenas se tornaram valores-notícia em
Portugal quando o mesmo pisou o cume do mítico Evereste. Ou seja, a norma
utilizada pelos media, denominado “valor-notícia”, indicará os temas que,
provavelmente, têm maior capacidade para serem transformados em notícia,
captando a atenção do público (McQuail, 2003).
Quadro 4: Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008 relativamente à
categoria João Garcia e Evereste
Jornal de Notícias
Anos Notícias
JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Total
Categorias
Subcategorias
João Garcia e Evereste
Preparação 2 2
Consagração 1 2 1 1 1 6
Sequelas 2 1 1 4
Total por Ano 2 3 3 1 2 1 12
Quadro 5: Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008 relativamente à
categoria João Garcia e Evereste
Jornal O Público
Anos Notícias
P P P P P P P P P P P P
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Total
Categorias
Subcategorias
João Garcia e Evereste
Preparação 6 2 1 9
Consagração 4 2 1 1 1 1 1 2 13
Sequelas 5 1 1 1 1 1 10
Total por Ano 6 11 3 2 1 1 2 2 5 32
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
94
Numa primeira análise dos Quadros 4 e 5, que se reportam às
subcategorias “Preparação”, Consagração” e “Sequelas” da categoria “João
Garcia e Evereste” do Jornal de Notícias e Jornal O Público, respectivamente,
verifica-se uma variação no número de notícias dentro de cada jornal, e mesmo
na comparação entre ambos os jornais. De referir que ambos os jornais deram
mais relevância à consagração (total de Unidades de Registo - U.R., no Jornal
de Notícias foi de 6 e no Jornal O Público foi 13), seguindo-se as subcategorias
“sequelas” e “preparação” (distinção apenas no Jornal de Notícias com 4 e 2
U.R., respectivamente).
Analisaremos, então, detalhadamente a primeira subcategoria. É notória
a diminuição ou mesmo ausência da preparação como valor-notícia. De facto,
verifica-se a sua presença mais acentuada no ano de 1998, que antecedeu a
conquista do Evereste por João Garcia, seguida de 2 U.R do Jornal O Público
em 1999 e, novamente em 2006, pelo mesmo jornal. Tal facto demonstra o que
à partida faria mais sentido, uma vez que toda a preparação se fez antes e não
depois da conquista (18 de Maio de 1999). No entanto, o Jornal O Público volta
a fazer referência a essa mesma subcategoria no ano de 2006, lembrando as
duas tentativas falhadas ao Evereste.
Voltando ao referido anteriormente, esta subcategoria foi a menos
referida nas notícias (total de U.R. em ambos os jornais foi de 11) e isto
justifica-se de duas formas. Primeiro, porque o facto de ainda (1998) não ter
conquistado o Evereste fechava algumas portas a João Garcia, nomeadamente
a sua notoriedade nos media portugueses. Em segundo lugar, devido ao curto
período de análise anteriormente à conquista, ou seja, como referimos, toda a
preparação se deu antes do dia que ficou na história.
No que respeita à consagração, a segunda subcategoria da categoria
“João Garcia e Evereste”, percebe-se o porquê de não ser referenciada no ano
de 1998 (conquista em 1999). Entende-se, igualmente, que tenha sido em 1999
o ano em que este assunto foi alvo de maior valor-notícia (total de U.R. de
ambos os jornais foi de 5). No entanto, a recordação desse momento está
constantemente presente nos anos seguintes. E, apesar de interpretarmos
como uma necessidade de “contextualização” por parte dos media, não
podemos, de forma alguma, excluir a “continuidade” dos assuntos relacionados
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
95
com a consagração, mesmo admitindo o referido. Assim, percebemos o tipo de
apresentação de João Garcia feita pelos media uma necessidade mas, indo ao
encontro do referido anteriormente, a conquista do Evereste é o seu “cartão-de-
visita”, sendo através da referência à consagração que os jornalistas
relembram quem é João Garcia: “A ideia…João Garcia, o português que no
ano passado chegou ao cume do Evereste…”9
Por último, fazendo referência à subcategoria “sequelas”, entende-se o
maior número total de U.R. (7) e, também, em cada um dos jornais (Jornal de
Notícias – 2 U.R e Jornal O Público – 5 U.R.) no ano de 1999
comparativamente com os restantes anos, visto terem sido resultado da
ascensão ao cume do “pico do mundo”.
Não obstante se tratar de um acontecimento quase fatal nesse ano, a
verdade é que continuou a ser noticiado. Isto, porque associadas à conquista
do Evereste ficaram marcas inapagáveis no corpo de João Garcia sendo,
adicionalmente à concretização de algo inédito no nosso país, o seu “bilhete de
identidade”. Aliás, são escassas as relembranças a respeito do alpinista sem
que se cite as suas sequelas.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
96
2 Herói
Apresentaremos, agora, e discutiremos, mais à frente, os resultados
obtidos relativamente à categoria “Herói” e respectivas subcategorias, no
sentido de percebermos qual o tipo de abordagem que os media fazem sobre o
alpinista português João Garcia. Esta categoria surgiu a priori, na medida em
que nos interessava verificar a possível heroicidade do mais consagrado
alpinista português. E, naturalmente, o tipo de heroicidade, daí as
subcategorias “Arquétipo” e “Contemporâneo”, já distinguidas no capítulo de
revisão da literatura do presente estudo. Poderíamos incluir esta categoria,
transformada em subcategoria, na categoria “João Garcia e Evereste”. Isto,
pelo facto de termos verificado, através da leitura do corpus de estudo, que à
conquista do Evereste muito se deve a classificação de herói. No entanto, uma
vez criada antes da leitura do mesmo, mereceu especial atenção ao ponto de a
considerarmos uma categoria independente e auto-justificada. Além disso,
constatámos o suporte dessa classificação (de herói) através de posteriores
conquistas, ou seja, embora despoletada (nas notícias) pela conquista insólita
do pico dos Himalaias, teve o seu seguimento com a brilhante carreira de João
Garcia.
Quadro 6: Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008 relativamente à
categoria Herói
Jornal de Notícias
Anos Notícias JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Total
Categorias Subcategorias
Herói
Arquétipo 1 2 1 4
Contemporâneo 0
Total por Ano 1 2 1 4
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
97
Quadro 7: Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008 relativamente à
categoria Herói
Através da análise dos Quadros 6 e 7 percebemos, desde logo, que a
tipologia “contemporâneo” não foi, sequer, referenciada em nenhum dos jornais
ao longo dos onze períodos (anos) de análise. Claramente, a subcategoria
“arquétipo” está veemente presente. Relativamente ao jornal que maior ênfase
deu a esta subcategoria temos o Jornal O Público (10 U.R., vs 4 U.R. do Jornal
de Notícias). Constatámos, também, maior incidência em dois períodos que
têm como pontos altos dois acontecimentos que, provavelmente, despoletaram
um maior reconhecimento do percurso de João Garcia. O primeiro, sem
qualquer dúvida, refere-se ao Evereste, desde toda a preparação inerente a
uma ascensão a um “8 mil”, passando pelo momento-chave, a conquista, à
lembrança do feito inédito. De facto, embora no ano de 1998 ainda não fosse o
português “mais alto do mundo”, João Garcia propunha-se a uma “meta nunca
antes cortada” por um português e, para além disso, já se lhe reconheciam
características e capacidades peculiares, dignas de um crescente destaque.
Daí a “especulação” do que cada vez mais se aproximava, como um objectivo
bem real. O segundo período emerge de uma lógica que referiremos
paralelamente ao debate da terceira categoria. Não obstante este não ser o
momento ideal para tal desenvolvimento, adiantamos o facto de, a partir de
2005 e consumado no ano de 2006, João Garcia ter um patrocinador que,
inevitavelmente, lhe deu maior notoriedade no mundo dos media. Da mesma
forma, como referimos na exposição da categoria anterior, a sua reputação
Jornal O Público
Anos Notícias P P P P P P P P P P P P
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Total
Categorias Subcategorias
Herói
Arquétipo 3 2 1 1 2 1 10
Contemporâneo 0
Total por Ano 3 2 1 1 2 1 10
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
98
está aliada à conquista do Evereste, ou seja, para os media citarem João
Garcia e a sua expugnação recorrem, obrigatoriamente, a conceitos como:
feito, proeza, herói, determinação, força de vontade, sacrifício…imortalidade!
Todos eles associados à caracterização do herói arquétipo9: “João Garcia
ousou como se exige a um herói…”; ”…porque se superou a si próprio, no meio
de terríveis sacrifícios e privações”; “Merece a imortalidade”.
De referir, ainda, que o facto de João Garcia estar conotado como um
Herói não implica que este “tema” seja o assunto mais tratado nas notícias dos
dois jornais. Aliás, apresenta-se como a categoria menos referenciada (total de
U.R. nos dois jornais foi de 14, 4 no Jornal de Notícias e 10 no Jornal O
Público).
Daqui depreende-se que, apesar de ser reconhecido como tal e podendo
a sua aparição nos jornais estar relacionada com essa conotação, de facto,
outros temas se revelam como prioritários em termos de valor-notícia.
Deste modo, fica a dúvida de podermos, efectivamente, considerar a
representação social de herói para João Garcia.
9 Relativamente às menções das notícias, utilizaremos como códigos das mesmas o P para o jornal O Público e o JN
para o Jornal de Notícias, então, a notícia referenciada no texto é a JN 3
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
99
3 Projectos de João Garcia
Tendo como fio condutor a categoria anterior, percebemos a sua
transposição para a categoria “Projectos de João Garcia”, uma vez que, não
satisfeito com a concretização de um objectivo ao alcance de muito poucos, a
luta constante para voos mais altos são o lema de vida de João Garcia.
Quadro 8: Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008 relativamente à
categoria Projectos de João Garcia
Quadro 9: Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008 relativamente à
categoria Projectos de João Garcia
Jornal de Notícias
Anos Notícias
JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Total
Categorias Subcategorias
Projectos de João Garcia
Etapas/Objectivos 3 1 4
Patrocínio 1 1 2
Conquistas 1 2 1 4
Total por Ano 1 6 3 10
Jornal O Público
Anos Notícias
P P P P P P P P P P P P
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Total
Categorias Subcategorias
Projectos de João Garcia
Etapas/Objectivos 1 2 1 1 1 1 1 8
Patrocínio 1 3 4
Conquistas 1 1 1 1 1 1 6
Total por Ano 1 2 2 1 1 2 3 5 1 18
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
100
Posteriormente à análise dos Quadros 8 e 9, apreendemos uma
evidente diferença entre a primeira e as duas restantes subcategorias,
expressa pelo número total de U.R. (12) e, igualmente, pela quantidade de U.R.
de um e outro jornal (Jornal de Notícias – 4, e Jornal O Público – 8).
Efectivamente, a subcategoria “Etapas/Objectivos”, que se refere e abarca as
etapas das expedições no âmbito dos projectos “Big Five”, “Seven Summits” e
“À Conquista dos picos do Mundo” e os objectivos a que João Garcia se propõe
(tendo em conta cada um dos projectos), é o subtema mais referenciado no
sector da terceira categoria. De facto, é superiormente noticiada a informação
relativa aos “passos” de cada possível conquista comparativamente com a
conquista propriamente dita. A diferença está apenas na conquista do
Evereste, não incluída na terceira subcategoria da categoria “Projectos de João
Garcia, mas já justificado anteriormente.
Relativamente à segunda subcategoria – “Patrocínio”, a priori – clara e
obviamente as referências a esta surgem apenas a partir do ano de 2005, em
que já se considerava um patrocínio para o alpinismo, que ganhou forma em
2006 e associado ao mais consagrado alpinista português. Embora não em
termos absolutos, temos um aumento do número de notícias no ano de 2006,
após uma descida substancial posteriormente à conquista do Evereste.
Comparando o número de U.R. entre os dois jornais, verificámos que o
Jornal O Público publicou mais notícias que abrangeram esse subtema do que
o Jornal de Notícias (4 e 2, respectivamente). O maior número de U.R. em
todas as subcategorias da presente categoria no Jornal O Público segue essa
tendência nas outras categorias, fundamentado pelo número total de notícias
de um e outro jornal (Jornal de Notícias – 11 e Jornal O Público – 52).
Por último, as “conquistas” como terceira subcategoria. Considerámos,
aqui, a informação relativa às conquistas, bem como o relembrar de conquistas
anteriores. Daí o facto de termos, também, U.R. em 1998, 2002 e 2003 quando
não houve nenhuma conquista nesses anos. Contrariamente à tendência geral
do aumento do número de notícias a partir do ano de 2006 relativamente aos
anos antecedentes (em relação ao de 2006) e, igualmente, precedentes à
conquista do Evereste, não se verificou um aumento substancial das U.R.
relativas a esta subcategoria. Apenas no Jornal de Notícias se publicou mais
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
101
uma notícia em 2006. As restantes referências surgem no âmbito de conquistas
concernentes aos diferentes projectos, mas a título informativo e não de
relembrança, ou seja, não há uma constante notoriedade das conquistas do
passado.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
102
4 Riscos e Acidentes no Alpinismo
Reportamo-nos, por último, à quarta categoria do nosso sistema
categorial – “Riscos e Acidentes no Alpinismo”.
É outra categoria a priori, pelo facto de prevermos um eminente valor-
notícia relativamente a este tema. Previsão fundamentada na nossa revisão da
literatura, onde referimos que a relação dos media com o alpinismo começou
de forma sensacionalista, na medida em que é a “desgraça/tragédia” que atrai
os meios de comunicação social, sendo, por isso mesmo, um dos valores-
notícia (Gilchrist, 2007).
Quadro 10: Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008 relativamente à
categoria Riscos e Acidentes no Alpinismo
Quadro 11: Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008 relativamente à
categoria Riscos e Acidentes no Alpinismo
Jornal de Notícias
Anos Notícias JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Total
Categorias Subcategoria
Riscos e Acidentes no Alpinismo
Tragédia/Acidente 1 1 1 3
Total por Ano 1 1 1 3
Jornal O Público
Anos Notícias P P P P P P P P P P P P
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Total
Categorias Subcategoria
Riscos e Acidentes no Alpinismo
Tragédia/Acidente 4 6 4 2 1 1 4 1 23
Total por Ano 4 6 4 2 1 1 4 1 23
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
103
Posteriormente à análise dos Quadros 10 e 11 e, recorrendo aos
quadros anteriores, percebe-se que o tema “Risco e Acidentes no Alpinismo” é
deveras noticiado, comparativamente, por exemplo, com o de “Herói”. Estes
dados vão ao encontro do nosso enquadramento teórico acerca da ligação do
alpinismo com os media, em que a tragédia foi amplamente “valorizada”,
tomando conta de muitas notícias.
Incluímos nesta categoria os acidentes, as mortes e as condições
meteorológicas. Esta última, pelo facto de se apresentar como provocadora de
muitas “desgraças”, estando a sua referência ao longo das várias notícias
relacionada com a tragédia. Ou seja, surge como factor de risco e não de uma
forma meramente informativa sobre a meteorologia. Abarca, também, a parte
dedicada às condições meteorológicas que se fizeram sentir no Evereste
aquando da sua conquista por parte de João Garcia. Isto, porque foi no
seguimento de uma tempestade, ao “cair da noite”, que João Garcia sofreu
ferimentos graves e, também, por esta ter tirado a vida ao seu companheiro de
escalada Pascal Debrouwer.
Comparando ambos os jornais, verificamos uma discrepância no número
de U.R. (Jornal de Notícias – 3 e Jornal O Público – 23). Esta diferença deve-
se, principalmente, ao número de notícias publicadas relativas ao tema “João
Garcia e Evereste”, onde o número de U.R. relativo às subcategorias desse
tema foi superior no Jornal O Público, nomeadamente no ano de 1999. O
mesmo se verifica no presente tema, onde em todos os anos de análise as
U.R. do jornal O Público são em maior número, à excepção do ano de 2007,
em que ambos publicaram uma notícia.
Sem qualquer dúvida, grande parte das U.R. referem-se a João Garcia
mas, apesar disso, todas as notícias não relacionadas directamente com o
alpinista português, remetem-se à tragédia mais do que a qualquer outro tema.
Assim, temos o maior número de U.R para o jornal O Público nos anos de
1999, 2000 e 2006 (6, 4, 4, respectivamente). Estes resultados implicam uma
larga notoriedade da tempestade que vitimou o parceiro de escalada de João
Garcia e os ferimentos por este sofridos no ano da conquista do Evereste e ano
seguinte. Também, o aumento do número de U.R. no ano em que o
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
104
aparecimento de um patrocínio proporcionou a João Garcia dedicar-se de
“corpo e alma” ao que mais gosta de fazer!
De salientar, o facto de o total de U.R deste tema não ser o mais
elevado, comparativamente com os restantes, mas, efectivamente, em termos
de subcategorias (que apenas contém uma), verificou-se a categoria que inclui
o subtema mais noticiado.
V DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
107
Posteriormente à exibição dos resultados obtidos passaremos, então, à
discussão dos mesmos.
Como primeira ilação da análise dos resultados obtidos, podemos referir
que o tema mais noticiado foi “João Garcia e Evereste”, e que em todas as
categorias o Jornal O Público superou o Jornal de Notícias, relativamente ao
número de U.R. apresentadas. Contudo, a supremacia do referido tema apenas
se concretiza pelo somatório das U.R. das respectivas subcategorias. Ou seja,
é, efectivamente, o tema mais noticiado, mas poderá dizer-se que esse peso se
deve ao facto de incluir três subtemas, ao invés do que acontece na quarta
categoria – Riscos e Acidentes no Alpinismo - que, apresentando somente uma
categoria – Acidentes/Tragédia – revela-se, esta, a subcategoria com mais
notoriedade. E, tendo em conta que a referida subcategoria quase se confunde
com o tema no qual está incluída, podemos sugerir uma superioridade deste,
relativamente a qualquer outro tema.
Comecemos, então, pela discussão daquela que fez “correr mais tinta”
em ambos os jornais. De salientar, o facto da posterior acepção fazer-se de
forma dependente, na medida em que da interdependência expressa por cada
uma das categorias surgirão associações para outros temas.
De facto, tudo começou com a conquista inédita, por um português, do
Monte Evereste, daí a maior noticiabilidade para a subcategoria “consagração”.
Devido à imponência da tomada do “Tecto do Mundo”, percebe-se como esta
pôde despoletar a presença do alpinismo internacional no mundo dos media,
bem como, analogamente, se transformou no “trampolim” de João Garcia. Esta
maior ligação dos media com o alpinismo surgiu, então, posteriormente à
conquista do Monte Evereste por uma mulher britânica, a alpinista Alison
Hargreaves, sem recurso a oxigénio artificial (Gilchrist, 2007), exactamente da
forma que João Garcia considera mais legítima. Tal mediatismo foi semelhante
aquando do objectivo “Evereste” pelo alpinista português. Desta forma, é
notório que o próprio “Tecto do Mundo” representa-se como um forte
complemento para algo se tornar valor-notícia, senão vejamos: “Appa é um
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
108
sherpa nepalês…Ontem, Appa tornou ainda mais inalcançável o seu recorde,
ao subir o Evereste pela 17ª vez.”10
Referindo-nos, novamente, à alpinista britânica, na época, Verão de
1995 era apenas a segunda pessoa a ter conseguido essa proeza, o que fez
com que merecesse a classificação de Heroína (idem). Veremos, mais adiante,
se o mesmo ocorreu com o João Garcia.
Os elementos que tornaram a conquista do Monte Evereste tão
interessante em termos mediáticos podem ser identificados através da
aplicação, por (Galtung & Ruge, 1999), de categorias de valores-notícia. Esses
valores-notícia determinam a selecção, estrutura e representação das histórias
noticiosas. As categorias são, segundo os autores: negatividade
(drama/tragédia); recente; proximidade, consonância; não ambiguidade;
inesperado; superlativo; relevância; personalização; elitismo; qualidade de
atribuição; e facticidade.
No nosso corpus de estudo, em particular, aplica-se um elevado grau
de negatividade em termos do seu valor-notícia, claramente, através do
acidente no Evereste, com a morte do seu companheiro de expedição Pascal
Debrouwer, e sequelas sofridas por João Garcia, confirmado pelo seguinte
excerto “João Garcia escapou à morte…queimaduras de 2º grau…Debrouwer
terá morrido…o risco de amputações é real.”11. Também a constante
informação de tragédias em vários picos do mundo explica os valores obtidos
na subcategoria “sequelas” e, discutido mais adiante, na categoria “Riscos e
Acidentes no Alpinismo”. De acordo com a teoria de Galtung & Ruge (1999),
quanto mais o público se identifica com os injuriados mais significativas serão
as notícias para esse mesmo público, daí a intensa recordação do momento
trágico de João Garcia, de modo a aproximar o público.
A notoriedade de um evento é reforçada se envolver o inesperado com
o significativo e consonante.
10 P 51 11 P 14
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
109
No caso do incidente no Monte Evereste, em 1999, uma série de
factores combinados tornaram-no muito mais inesperado e,
consequentemente, mais difícil de explicar. O acidente envolveu alpinistas
profissionais (Pascal Debrouwer e João Garcia), entre os mais experientes e
respeitados nos seus países. Envolveu, igualmente, tempestades que, embora
se saiba que podem ocorrer a caminho do Verão, são muito menos comuns
que no Inverno (Davidson, 2008). Aliás, a alpinista britânica Alison Hargreaves,
passados dois meses da sua conquista do Evereste, tentou repetir o feito, mas
no K2. Na descida, foi capturada numa tempestade, o que lhe tirou a vida.
Tudo isto atraiu os media pelo menos durante mais uma década após o
sucedido.
Percebe-se, pois, que esta relação dos media com o alpinismo terá
evoluído, essencialmente, de forma sensacionalista, na medida em que tem
sido a “desgraça/tragédia” a atrair os meios de comunicação social, um dos
valores-notícia (Gilchrist, 2007). Este facto explica a notoriedade atribuída a
este tema, e não apenas por ser algo nunca antes alcançado por um
português. Continuando com o “inesperado”, o facto de, neste caso, os dois
alpinistas fazerem parte de uma elite desta actividade, também terá contribuído
para o valor-notícia ganho por esta tragédia (Galtung & Ruge, 1999). Com
efeito, nos dias, semanas e meses após o episódio trágico, assegurou-se, pelo
referido, a “continuidade” da história, um outro elemento que Galtung & Ruge
(1999) identificam dos valores-notícia. Embora interpretemos essa continuidade
como uma necessidade de “contextualização” por parte dos media, não
podemos, de forma alguma, excluir o seguimento dos assuntos relacionados
com a consagração, mesmo admitindo o referido. Assim, percebemos o tipo de
apresentação de João Garcia feita pelos media como uma necessidade mas,
indo ao encontro do referido anteriormente, a conquista do Evereste é o seu
“cartão-de-visita”, sendo através da referência à consagração que os jornalistas
relembram quem é João Garcia: “A ideia partiu de João Garcia, o português
que no ano passado chegou ao cume do Evereste…”12
12 P 26
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
110
Também continuou a ser noticiado porque, associadas à conquista do
Evereste, ficaram marcas inapagáveis no corpo de João Garcia sendo,
adicionalmente à concretização de algo inédito no nosso país, o seu “bilhete de
identidade”: “…congelações irreversíveis nas mãos, nos pés e no nariz”13.
Aliás, como pudemos verificar, são escassas as lembranças a respeito do
alpinista sem que se cite as suas sequelas, daí que muitos alpinistas critiquem
os media por criarem a percepção pública de que o alpinismo é uma actividade
inerentemente arriscada, incidindo quase somente sobre os acidentes/sequelas
e mortes (Davidson, 2008). Como referem Galtung & Ruge (1999)
relativamente ao valor-notícia, quanto mais negativas forem as consequências
de um evento, neste caso, no alpinismo, maior será a probabilidade de se
tornarem num item noticioso, o que influencia a percepção pública em relação
aos riscos envolvidos em actividades como esta. Mas, efectivamente, foi este o
acontecimento que despoletou um maior reconhecimento público de João
Garcia que, como refere Lyng (1990), mesmo reconhecendo o alto risco
envolvido, colocou em causa a sua integridade física, sofrendo graves
sequelas, também, amplamente noticiado, como referido, merecedoras deste
destaque.
No sentido de respondermos a parte do nosso primeiro objectivo
específico para este trabalho – Qual o tipo de discurso na imprensa escrita
sobre João Garcia? – percebemos que, directa ou indirectamente, o seu
reconhecimento como potencial valor-notícia se deve, sem qualquer dúvida, à
conquista daquele que se apresenta como o apogeu da carreira de qualquer
alpinista. Não há incertezas de que a conquista do mítico Evereste se anunciou
para João Garcia, bem como para outros alpinistas, como a “chave” para entrar
no mundo dos Media, num mundo em que, para lá se permanecer, tem que se
assegurar o seu valor enquanto notícia. Efectivamente, embora a preparação
da conquista inédita tenha sido alvo de atenção foi, comparativamente, com o
acto consumado e posterior recordação, menos referenciada. Relativamente à
recordação, surge, essencialmente, encarnada nas sequelas sofridas por João
Garcia. Também, camuflada nas mesmas, em jeito de lembrança do feito, em
13 P 49
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
111
geral, e do alpinista português, em particular. Constatamos, deste modo, um
discurso alusivo às marcas ainda visíveis no seu corpo, provocadas pela
concretização de algo, até 18 de Maio de 1999, nunca conseguido por um
português. Poderá dizer-se que o discurso na imprensa escrita sobre João
Garcia é predominantemente (para assegurar o seu potencial noticioso), um
discurso sensacionalista, ou é-o inevitavelmente?
O alpinista que empreendeu duas tentativas falhadas no “Tecto do
Mundo” em 1997 e 1998 viria a tornar-se, então, o mais famoso alpinista
português ao atingir o cume do Evereste em 1999, o que confirma a afirmação
de Robinson (2004), quando refere que o impacto e reconhecimento sociais
são maiores nas primeiras ascensões, neste caso, a primeira ascensão de um
português ao mais alto dos “oito mil”. Neste sentido, no de proeza,
reconhecem-se características a João Garcia dignas de uma adjectivação
superior, o que justifica a criação da nossa segunda categoria – Herói.
Como referimos anteriormente, poderíamos incluir a categoria “Herói” na
categoria “João Garcia e Evereste” pelo facto de termos verificado, através da
leitura do corpus de estudo, que à conquista do Evereste muito se deve a
classificação de herói. Deste modo, embora não tenhamos feito essa inclusão
(também, justificada anteriormente) não seria possível reflectir sobre a mesma
sem que a relacionássemos com a primeira categoria, como veremos
posteriormente.
Como já constatado no capítulo apresentação dos resultados, a tipologia
“contemporâneo” não foi referenciada em nenhum dos jornais ao longo dos
onze períodos (anos) de análise. Entende-se, assim, que os jornais que
constituem o nosso corpus de estudo não transmitem a ideia de herói
contemporâneo, embora as referências à “imagem” de João Garcia sejam uma
constante. No entanto, esta alusão relaciona-se com o “preço pago” pela
conquista e não com a referência ao alpinista português como um produto. Ou
seja, o conceito arquétipo de herói remetia-nos para as suas acções ou ideias,
mas o herói invocado hoje, pelos media, é conhecido pela sua imagem. Porém,
pela leitura do nosso corpus de estudo, percebemos a valorização das acções
de João Garcia em si mesmas. Esta valorização não acontece na lógica em
que as empresas comerciais, através da implementação do imaginário
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
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desportivo e eventos desportivos mundiais de grande prestígio, associados à
publicidade nos meios de comunicação social, envolvem os produtos de alto
perfil de celebridades desportivas no produto e promoção da marca (Smart,
2005). De facto, quando pensamos em estrelas desportivas como Tiger Woods
e David Beckham, por exemplo, inevitavelmente, associamo-los,
essencialmente a uma marca, a um produto. Contudo, esta correspondência
remete-nos para a valorização da marca em questão, no sentido de um maior
reconhecimento da mesma através de figuras públicas. Sabemos, também, os
lucros incalculáveis de ambas as partes, como referido anteriormente. Lucros,
esses, visivelmente investidos, e num âmbito que não o desportivo.
Relativamente a João Garcia, quase se aplica o exposto. Isto, porque, não
obstante o seu contrato com o Millenium BCP traga, a ambas as partes,
vantagens, notoriamente o alpinista português associa-se a esta empresa de
uma forma complementar e não tão profissional como, por exemplo, David
Beckham que, dos seus contratos publicitários, quase emerge uma segunda
profissão. Em oposição, João Garcia usufrui das vantagens do seu patrocínio
como um alicerce financeiro para pôr em prática os seus objectivos no âmbito
do alpinismo.
Assim sendo, claramente, a subcategoria “arquétipo” assume a
hegemonia absoluta na respectiva categoria (total de 14 U.R), pelo facto de
João Garcia se aproximar do herói tradicional em detrimento da semelhança ao
contemporâneo. Constatámos, também, maior incidência em dois períodos que
têm como pontos altos dois acontecimentos que, provavelmente, despoletaram
um maior reconhecimento do percurso de João Garcia. O primeiro, sem
qualquer dúvida, refere-se ao Evereste, desde toda a preparação inerente a
uma ascensão a um “8 mil”, passando pelo momento-chave, a conquista, à
lembrança do feito inédito: “São muito poucas as pessoas que conseguiram a
proeza de estar de pé no tecto do mundo”. “Desde terça-feira, uma delas é o
português João Garcia”14. Também, Edmund Hillary, poucos dias depois da sua
triunfal subida ao Monte Evereste com Tenzing Norgay, viu-se reconhecido
quando soube que a Rainha Elizabeth planeava fazer dele Senhor Edmund. Sir
14 P 13
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
113
Edmund provou, durante toda uma vida de generosidade e de realização, que
ele é mais do que um novo tipo de herói. Ele é um de uma espécie (Miller,
2003). Um exemplo do que a conquista do “sobrenatural” Evereste pode
significar em termos de identidade nacional e reconhecimento, tal como
aconteceu com João Garcia. De facto, embora no ano de 1998 ainda não fosse
o português “mais alto do mundo”, João Garcia propunha-se a uma “meta
nunca antes cortada” por um português e, para além disso, já se lhe
reconheciam características e capacidades peculiares, dignas de um crescente
destaque. Daí a “especulação” do que cada vez mais se aproximava, como um
objectivo bem real.
Tendo em conta o exposto acerca da fundamentação da expugnação
heróica, pode questionar-se se João Garcia será, então, um Herói Desportivo
Nacional?
Com efeito, o alpinista português reúne características e uma
importância para a nação que nos remetem para essa possibilidade, como por
exemplo: publicidade; reconhecimento público; coragem; e o facto de ter
elevado os espíritos de uma nação (a portuguesa) (Radford, 2005). Todos
estes aspectos fundamentam a ideia de que, ao contrário de outras esferas
onde os génios aparecem como "criaturas especiais," os heróis desportivos são
vistos "mais como nós." Talvez porque nos dão esperança e elevam os nossos
espíritos porque nos revemos neles, não como somos mas como gostaríamos
de ser (idem), ou seja, como um exemplo a seguir.
Mediante o exposto, transparece a ideia de um eminente herói
desportivo nacional, e é dessa forma que, implícita ou explicitamente, a
imprensa escrita constrói socialmente a realidade das acções de João Garcia.
Contudo, associado ao mais consagrado alpinista português encontra-se o
factor “publicidade”, remetendo-nos, de certa forma, para a ideia de herói
contemporâneo, mesmo que não no seu puro termo. Esta hipótese foi excluída
e devidamente legitimada porque, num mundo globalizado em que os media
são, efectivamente, o principal meio de disseminação da informação,
inevitavelmente, a comunicação sobre o herói torna-se num fenómeno
mediatizado. Aliás, não existem “coisas” como heróis mas sim comunicação
sobre heróis, ou seja, sem comunicação não haveria herói (Berg, 1998). É
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neste contexto que os media adquirem um papel muito relevante, pois estes
ajudam a construir a nossa realidade social, acerca deste e outros temas.
Tendo como fio condutor a categoria anterior, percebemos a sua
transposição para a categoria “Projectos de João Garcia”, uma vez que, não
satisfeito com a concretização de um objectivo ao alcance de muito poucos, o
que confirma a possível heroicidade de João Garcia, a luta constante para voos
mais altos são o lema de vida do alpinista.
Efectivamente, a subcategoria “Etapas/Objectivos” da categoria
“Projectos de João Garcia”, que se refere e abarca as etapas das expedições
no âmbito dos projectos “Big Five”, “Seven Summits” e “À Conquista dos picos
do Mundo” e os objectivos a que João Garcia se propõe (tendo em conta cada
um dos projectos), é o subtema mais referenciado no sector da referida
categoria. De facto, é superiormente noticiada a informação relativa aos
“passos” de cada possível conquista comparativamente com a conquista
propriamente dita. Esses passos podem ser entendidos como uma jornada de
dramatização mítica, resumida da seguinte forma por Pereira (2004): Na
primeira, a prova qualificante, é feita a escolha dos heróis para a partida para
uma expedição ao Evereste, onde são inúmeras as provas com o objectivo de
testar a capacidade do pretendente digno desse nome. Esta ideia é reforçada
por Rubio (2001) quando refere que a chamada do herói para a prática
desportiva (prova principal) consiste, então, no confronto com o perigo, onde
deve ter coragem e capacidade que o habilite a atingir os objectivos, tornando
esse percurso significativo e heróico: “…já está em terras do Nepal…para
preparar a escalada à montanha mais alta do mundo…”15. Na segunda prova –
a ascensão - os obstáculos inerentes à actividade em causa (alpinismo) terão
de ser ultrapassados e, com a chegada ao cume, segue-se o reconhecimento
do mérito, na prova glorificante16: “…feito nunca alcançado por um português.”
Esta última, no caso do alpinismo, só é completada com o regresso são e salvo
ao campo base (Pereira, 2004). Desta parte, entende-se um paralelismo com a
15 P 2 16 P 2
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
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conotação de Herói, não explicitamente, mas implicitamente contida noutros
temas, como é o caso.
Relativamente à segunda subcategoria “patrocínio” da categoria
“Projectos de João Garcia”, que apenas surge a partir do ano de 2005,
ganhando forma em 2006, revela-se como um reconhecimento do mais
consagrado alpinista português. De facto, outra coisa não faria sentido senão
um “voto monetário de confiança” ao alpinista mais conhecido em Portugal.
Aliás, o segundo período de maior incidência da subcategoria “arquétipo”
emerge de uma lógica em que, a partir de 2005 e consumado no ano de 2006,
João Garcia passa a ter um patrocinador que, inevitavelmente, lhe deu maior
notoriedade no mundo dos media. Da mesma forma, como referimos na
exposição da categoria anterior, a sua reputação está aliada à conquista do
Evereste, ou seja, para os media citarem João Garcia e a sua expugnação
recorrem, obrigatoriamente, a conceitos como: feito, proeza, herói,
determinação, força de vontade, sacrifício…imortalidade! Todos eles
associados à caracterização do herói arquétipo17: “João Garcia ousou como se
exige a um herói…”; ”…porque se superou a si próprio, no meio de terríveis
sacrifícios e privações”; “Merece a imortalidade”.
De referir, ainda, que o facto de João Garcia estar conotado como um
Herói não implica que este “tema” seja o assunto mais tratado nas notícias dos
dois jornais. Daqui depreende-se que, apesar de ser reconhecido como tal e
podendo a sua aparição nos jornais estar relacionada com essa conotação,
outros temas se revelam como prioritários em termos de valor-notícia, como é o
caso da categoria “Projectos de João Garcia”. De facto, apesar de João Garcia
não ser associado directamente à ideia de herói contemporâneo, não deixa de
estar, como desportista profissional, e, como tal, pelos seus resultados e
respectivo potencial “produto”, ligado à sponsorização. Na realidade, este não é
um dado novo no contexto do alpinismo. Como lembra Gilchrist (2007), na
medida em que na década de 20 do século XX, era comum vender os direitos
das expedições a organizações jornalísticas em troca de uma contribuição nas
despesas da expedição. Tal situação aplica-se ao alpinista português pelo facto
17 JN 3
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
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de o seu patrocínio lhe proporcionar a concretização de objectivos no âmbito
do alpinismo, e não noutro campo de acção, ou seja, de forma a ter capital para
as expedições.
A ideia de sponsorização cabe, pois, no caso de João Garcia. Como
refere Smart (2005), associados à publicidade nos meios de comunicação
social, estão os produtos de alto perfil dos atletas consagrados no produto e
promoção da marca. Percebe-se, então, a existência do já referido “triângulo de
ouro”, cujos vértices são o desporto profissional, os media e a sponsorização,
tendo todas as partes um lucro substancial (Smart, 2007). E é neste triângulo
que incluímos (já antes da leitura do corpus de estudo e sublinhado após a
mesma) João Garcia. Porque conseguiu alcançar o estatuto de herói, João
Garcia (o atleta profissional) pelos seus feitos memoráveis, foi contactado por
uma empresa para um patrocínio (sponsorização). Assim, possui mais
capacidade financeira, o que lhe permite dedicar-se de “corpo e alma” ao
alpinismo18: “…Garcia…encontrou um patrocinador que lhe permite dedicar-se
a tempo inteiro à missão de conquistar todas as maiores montanhas da Terra”.
Esta afirmação vem confirmar o referido anteriormente, em que João Garcia
usufrui de um patrocínio para consubstanciar o seu ideal de vida. Como tem
mais tempo dedicado à sua actividade, desenvolve o projecto “À conquista dos
Picos do Mundo”, o qual fará com que tenha mais visibilidade mediática
(media), o que interessa aos seus patrocinadores (Pereira, 2009). Ou seja,
quanto mais sucesso tiver nas suas ascensões, mais frequentemente
aparecerá no mundo dos meios de comunicação social e maior associação
haverá entre si e o seu patrocinador…e, mais uma vez, todos sairão a ganhar!
(idem).
Consultando novamente o Quadro 1 confirmamos o que acabámos de
referir. Embora não em termos absolutos, temos um aumento do número de
notícias no ano de 2006, após uma descida substancial posteriormente à
conquista do Evereste. Contrariamente à tendência geral do aumento do
número de notícias a partir do ano de 2006 relativamente aos anos
antecedentes e, igualmente, precedentes à conquista do Evereste, não se
18 P 49
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
117
verificou um aumento substancial das U.R. relativas à subcategoria
“conquistas”. No entanto, há um aspecto evidente que deve ser referido. Isto é,
o facto de a categoria “Herói” não ser a mais noticiada não implica que não o
seja de forma indirecta, ou seja, através da constante presença da palavra
“conquista” (a terceira subcategoria, pouco significativa em termos de valor-
notícia), podemos inferir a conotação de herói, ainda mais sublinhada.
Claramente, e tendo em consideração os parágrafos precedentes,
comprovou-se a existência de um “pano de fundo” heróico, na medida em que
se não se “reclamasse” a conquista inédita do “Tecto do Mundo” por João
Garcia, bem como o estatuto advindo desse feito, nem uma linha deste
trabalho faria sentido. Não obstante a conquista não constituir a totalidade do
nosso corpus de estudo, se não tivesse ocorrido, com certeza haveria, ainda,
menos notícias sobre a temática em estudo e, consequentemente, sobre João
Garcia. Portanto, independentemente do tipo de R.S. emergentes do discurso
da imprensa escrita, podemos referir que, efectivamente, essas representações
muito se devem ao mais consagrado alpinista português. Assim sendo,
percebemos uma forte contribuição de João Garcia para as R.S. do alpinismo
no nosso país. Inclusive, a influência que, apenas uma pessoa (João Garcia),
exerce na representatividade da actividade que pratica. Desta forma, podemos
considerar o tipo de R.S. do Alpinismo em Portugal quase como se de um
espelho se tratasse, na medida em que, estas manifestam as R.S. do
português “mais alto do mundo”!
Voltando ao que, inicialmente, caracterizou o tipo de interesse dos media
pelo Alpinismo (apresentado aquando da análise da primeira categoria), as
histórias sensacionais, sobre a morte ou perto desta, na montanha, pode-se
dizer que continuam a vender.
Em 1996, por exemplo, numa tentativa de ascensão ao Evereste, oito
alpinistas morreram, tendo sido realizado um documentário acerca do
acontecimento que, mais uma vez, teve grande popularidade. Novamente, a
ligação entre “Evereste”, “Tragédia” e “Mediatismo”. Então, nesta fase, parece
claro que a tragédia é o que desencadeia o interesse e, por sua vez, os lucros
da imprensa (Gilchrist, 2007). Esta ideia, aliada ao conceito de valor-notícia é,
pela sua relevância, abordada.
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
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Pela análise dos quadros referentes a esta categoria percebe-se que é
um tema deveras noticiado, comparativamente, por exemplo, com o de “Herói”.
Estes dados vão ao encontro do nosso enquadramento teórico acerca da
ligação do alpinismo com os media, em que a tragédia foi amplamente
“valorizada”, tomando conta de muitas notícias. Com efeito, é indubitável que
grande parte das U.R. se referem a João Garcia mas, apesar disso, todas as
notícias não relacionadas directamente com o alpinista português, remetem-se
à tragédia mais do que a qualquer outro tema19: “ …alpinista norte-americano
Alex Lowe morreu…vítima de uma avalancha…Dave Bridges, um operador de
câmara…também pereceu…” Reconhece-se, pelo referido, o contributo
decisivo dos media na libertação das pessoas face ao desconhecido (Sousa,
2006). Ou seja, está patente a ideia de que os meios de comunicação social
quase que exercem uma soberana influência na construção social da realidade
(Correia, 2000), e sobre a qual não temos acesso directo, no caso do risco, em
geral, e do alpinismo, em particular. Daí, podermos afirmar, então, que os
media são o veículo primário pelo qual as pessoas adquirem informação sobre
o risco/perigo (Kasperson & Kasperson, 1996) e (Furedi, 2005) e,
posteriormente, pelo qual constroem as suas percepções acerca desta
temática. Inclusive, que os media são comunicadores de risco, responsáveis
pela amplificação ou atenuação desse mesmo risco (Kasperson & Kasperson,
1996).
Estes resultados implicam uma larga notoriedade da tempestade
(condições meteorológicas) que vitimou o parceiro de escalada de João Garcia
e os ferimentos por este sofridos no ano da conquista do Evereste e ano
seguinte20: “Garcia e Debrouwer instalam-se à espera que o mau tempo
passe.”. Efectivamente, as características do meio natural em que se
desenvolve o alpinismo, como as condições meteorológicas, podem
apresentar-se como uma limitação, ou mesmo risco, quando associadas a
variáveis qualitativas e quantitativas (Fuster i Matute & Agurruza, 1995). Esses
19 P 20 20 P 13
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
119
riscos podem ser ou não previstos, mas impossíveis de eliminar, uma vez que
são parte integrante deste contexto natural (Pereira, 2005).
De facto, alturas superiores a 8.000 metros são bem acima da normal
vida humana e são, por isso, inóspitas para a maioria das espécies. Assim,
essas alturas extremas são muitas vezes referidas como a "Zona da Morte”
(Krakauer, 1997). As baixas temperaturas e os ventos fortes agravam os
stresses fisiológicos da extrema altitude. Por exemplo, as temperaturas
medidas no Colo Sul do Monte Evereste (aproximadamente 960 m abaixo do
cume) durante a Primavera de 1999 foram de 11,6°C ne gativos, caindo,
normalmente, para -20°C durante a noite. Embora não seja especialmente pelo
frio, a combinação de baixas temperaturas, ventos fortes, hipóxia e
desidratação podem, facilmente, induzir hipotermia e congelamentos, o que
aconteceu com João Garcia nesse mesmo ano21: “…o gelo…ter-lhe-á
queimado as falangetas.” Na verdade, com uma temperatura do ar de apenas
-10°C e uma velocidade do vento de apenas 50 km/h (um a mera "brisa" nos
Himalaias), a temperatura cairia para -25°C, muito pe rto do limite passível de
congelar carne humana exposta (-35 ° C) (Huey & Eguskitz a, 2001), alvo de um
elevado valor-notícia, relativo às congelações sofridas por João Garcia
(sequelas).
Por último, relembrando a intensa noticiabilidade da categoria “Riscos e
Acidentes no Alpinismo”, também se verificou o aumento do número de U.R. no
ano em que o aparecimento de um patrocínio proporcionou a João Garcia
dedicar-se de “corpo e alma” ao que mais gosta de fazer! Mais uma vez,
constatamos a imensa interdependência das categorias do presente estudo.
Pelo exposto, pode confirmar-se que são vários os riscos inerentes a
esta actividade. É muito frequente no alpinismo perder um companheiro, assim
como é raro não se sofrer qualquer tipo de lesão, tal como aconteceu com João
Garcia. Este assunto foi amplamente noticiado, quase como se de uma
apresentação da actividade se tratasse. No entanto, foi este trágico
acontecimento, por um lado, e compensador (quase se poderia dizer), por
21 JN 3
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
120
outro, que fomentaram o desenvolvimento de um conhecimento, em Portugal,
sobre o alpinismo, pelo aumento do número de notícias.
Pelo feito concretizado, João Garcia é visto directamente como um Herói
mas, de uma forma pouco presente comparativamente com a sua conotação
indirecta. Visto como tal e depois de várias proezas, adquire um patrocinador
que lhe permite aliar-se da preocupação financeira para se dedicar a cada
etapa dos seus objectivos, também, amplamente noticiado. Tudo isto
proporciona uma maior experiência (indirecta) relativamente ao alpinismo,
dando, João Garcia, o seu contributo no desenvolvimento e conhecimento da
actividade em Portugal. Assim sendo, e tratando-se de uma experiência à qual
não temos acesso directo, percebe-se, então, a importância dos media na
construção social da realidade, contribuindo para as R.S. do alpinismo no
nosso país.
VI CONCLUSÕES
CONCLUSÕES
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Perante o exposto, e posteriormente à realização do presente estudo
concluímos que o discurso na imprensa escrita sobre o alpinismo é,
manifestamente, sensacionalista, comprovado pelo número elevado de U.R. da
categoria “Riscos e Acidentes no Alpinismo”, bem como na subcategoria
“sequelas” da categoria “João Garcia e Evereste”. Igualmente, o tipo de
discurso sobre o alpinista português João Garcia, remete-nos para o que,
inicialmente, marcou a ligação dos media com o alpinismo, ou seja, de forma
sensacionalista, na medida em que as referências a João Garcia estão
intimamente relacionadas com as sequelas sofridas aquando da conquista do
Monte Evereste. Deste modo, entendemos o tipo de R.S. do alpinismo
emergentes do discurso da imprensa escrita como uma actividade
inerentemente arriscada, o que não deixa de ter o seu fundo de verdade. No
entanto, o factor “risco” não cai, em momento algum, no esquecimento dos
meios de comunicação social portugueses e, ainda hoje, continua a vender,
mesmo quando as notícias se referem à conquista trágica de 1999.
Como referido na discussão dos resultados obtidos, de facto, as R.S. do
alpinismo em Portugal em muito se assemelham às R.S. de João Garcia como
alpinista. Ou seja, embora devidamente reconhecido pela sua proeza, as
referências ao “preço pago” pela conquista são uma constante. Daqui,
depreende-se, novamente, uma maior ênfase dos assuntos relacionados com a
tragédia. Não obstante o trágico acontecimento e, aliás, como um potencial
factor de um maior reconhecimento público (pelos obstáculos que João Garcia
teve de ultrapassar) estava confirmada a proeza. João Garcia, a 18 de Maio de
1999, tornou-se no primeiro alpinista português a atingir o cume do Evereste, e
esse estatuto ninguém lho tira…um feito inédito caracterizado por etapas
dolorosas e quase sobrenaturais! Atinge, assim, uma classificação superior, a
de Herói. Esta conotação é perceptível no nosso corpus de estudo, mesmo que
nem sempre de forma directa, assumindo, desta forma, a heroicidade de João
Garcia.
Finalmente, apesar de estas conclusões se avistarem como “negras”,
não podemos deixar de referir que, embora não seja impossível discorrer sobre
o alpinismo sem que se refira apenas a tragédia, de facto, revela-se uma tarefa
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA
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complexa. Isto, porque apesar de alguns factores exercerem influência no
sucesso/insucesso de uma ascensão, de facto, o alpinismo é uma actividade
que se desenvolve num ambiente natural de risco e, como tal, impossível de
eliminá-lo por completo. No entanto, uma vez reconhecido o valor de João
Garcia como alpinista e, consequentemente, motivo de orgulho nacional,
pensamos que o número de notícias dedicadas a esta temática é reduzido,
bem como o número de referências às conquistas ao longo do seu percurso,
alvo de pouca notoriedade.
VII REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VIII ANEXOS
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P 4
8-20
06
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P 4
9-20
06
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P 5
0-20
06
- R
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P 5
1-20
07
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”
P 5
2-20
07
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