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Catarina Queiroz Lucas Porto, 2009 Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a partir do seu Representante Máximo, João Garcia

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Catarina Queiroz Lucas

Porto, 2009

Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a partir do seu Representante Máximo, João Garcia

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Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a partir do seu Representante Máximo, João Garcia Análise de dois Jornais Diários Nacionais Generalistas: Jornal de Notícias e O Público

Monografia realizada no âmbito da disciplina de Seminário do 5º ano da licenciatura em Desporto e Educação Física, na opção de Recreação e Tempos Livres, da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto

Orientadora: Professora Doutora Ana Luísa Pereira

Catarina Queiroz Lucas

Porto, 2009

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Lucas, C. (2009). Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a partir do

seu Representante Máximo, João Garcia. Porto: C. Lucas. Dissertação de

Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.

Palavras-chave: JOÃO GARCIA; ALPINISMO; REPRESENTAÇÕES SOCIAIS;

MEDIA.

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III

Agradecimentos

Sem o apoio incondicional de pessoas que têm muito significado para mim,

nada teria sido possível, por isso agradeço:

À Professora Doutora Ana Luísa Pereira, por toda a colaboração, compreensão

e sentido crítico. Por me transmitir a tranquilidade e justiça que a caracterizam.

Por me ajudar a crescer como aluna e como pessoa…Não mais me esquecerei

daquelas flores…de ter estado ao meu lado num dos momentos mais difíceis

da minha vida! Por ser, sem dúvida, orientadora na verdadeira acepção da

palavra.

Ao Mestre José Silva, o meu orientador de estágio pedagógico, acima de tudo,

um verdadeiro amigo, sem qualquer dúvida. Por ser a pessoa fantástica que é,

por ter contribuído para a transferência do conhecimento teórico para a prática.

Pela partilha de conhecimentos…por me fazer perceber o que é ser um

apaixonado pela Educação Física! Por todo o apoio, em vários

sentidos…obrigada!

Ao Professor Doutor Rui Garcia, pela sua simpatia demonstrada ao longo dos

meus anos de formação, ainda mais, durante este ano lectivo e, também, pelo

empréstimo de livros que em muito me foram úteis.

Aos meus pais, por serem simplesmente como são…a razão da minha

existência e luta!

Ao “Manecas”, por todo o apoio e orientação quando tudo parecia não fazer

sentido!

À Eduarda pela colaboração na pesquisa noticiosa.

Às minhas amigas Filipa e Isabel, “a sério”…por me ouvirem nos momentos de

desalento e por acreditarem que sou capaz!

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IV

Ao Sr. Pedro Novais, pelo apoio incansável…obrigada por tudo!

A todos os que, directa ou indirectamente, contribuíram para a minha evolução.

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V

Índice Geral

Agradecimentos III

Índice Geral V

Índice de Quadros VII

Índice de Gráficos IX

Resumo XI

Abstract XIII

Résumé XV

Abreviaturas VII

I Introdução 1

II Revisão da Literatura 7

1 Alpinismo 9

1.1 Contextualização Histórica 9

1.1.1 Internacional 9

1.1.2 Nacional - O Aparecimento e Desenvolvimento do Alpinismo em

Portugal 19

1.2 Caracterização do Alpinismo 22

1.3 Razões para a prática do Alpinismo 30

2 O Herói 38

2.1 O Herói Desportivo 43

3 Representação do Herói Desportivo nos Media 48

3.1 Noção de Representação Social 48

3.2 O poder dos Media 54

3.3 Os Heróis Desportivos nos Media 57

III Campo Metodológico 67

1 O Alpinista Português João Garcia 69

2 Procedimentos Analíticos 77

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VI

2.1 Análise de Conteúdo da Imprensa 77

2.1.1 Descrição do procedimento 79

2.1.2 Corpus de Estudo 80

3 Sistema Categorial 82

IV Apresentação dos Resultados 87

V Discussão dos Resultados 105

VI Conclusões 121

VII Referências Bibliográficas 125

VIII Anexos I

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VII

Índice de Quadros

Quadro 1 Conquistas de João Garcia por altitude e respectivas datas

Quadro 2 Categorias e Subcategorias

Quadro 3 Número Total de Notícias do Jornal O Público e Jornal de Notícias

entre 1998 e 2008

Quadro 4 Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008

relativamente à categoria João Garcia e Evereste

Quadro 5 Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008

relativamente à categoria João Garcia e Evereste

Quadro 6 Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008

relativamente à categoria Herói

Quadro 7 Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008

relativamente à categoria Herói

Quadro 8 Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008

relativamente à categoria Projectos de João Garcia

Quadro 9 Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008

relativamente à categoria Projectos de João Garcia

Quadro 10 Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008

relativamente à categoria Riscos e Acidentes no Alpinismo

Quadro 11 Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008

relativamente à categoria Riscos e Acidentes no Alpinismo

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IX

Índice de Gráficos

Gráfico 1 Variação do Número de Notícias entre 1998 e 2008 no Jornal O

Público e Jornal de Notícias

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XI

Resumo

É provável que em Portugal o conhecimento sobre a actividade do

alpinismo seja diminuto, sendo que o pouco conhecimento que exista se

construa essencialmente através dos media. Das representações sociais

emanadas pelos media resultará, então, o conhecimento, ideias e crenças

sobre o alpinismo, que tem vindo a ser alvo de um crescente destaque ao

longo dos anos. Através da análise de conteúdo efectuada em dois jornais

nacionais generalistas (Jornal de Notícias e O Público), referente aos anos

1998-2008, procurámos conhecer quais as representações sociais do alpinismo

em Portugal, em geral, e de João Garcia, em particular, no referido período. Da

análise a priori surgiram as seguintes categorias: Herói; e Riscos e Acidentes

no Alpinismo. Da leitura do nosso corpus de estudo surgiram, a posteriori, as

seguintes categorias: João Garcia e Evereste; e Projectos de João Garcia.

Como principais conclusões temos a constatação de que é, ainda, a tragédia

que apresenta um maior valor-notícia. Não só associada ao alpinismo em

termos gerais mas, também, ao tipo de representações sociais acerca do mais

consagrado alpinista português, João Garcia. Verificámos, portanto, a

importância de João Garcia nas representações sociais do alpinismo, uma vez

que, maioritariamente, as notícias se referem a ele. Deste modo, percebe-se o

elevado número de unidades de registo relacionadas com a concretização da

proeza, relativa à conquista do Monte Evereste, o que despoletou um

reconhecimento tal, ao ponto de João Garcia ser conotado com a ideia de herói

arquétipo.

Palavras-chave: JOÃO GARCIA; ALPINISMO; REPRESENTAÇÕES SOCIAIS;

MEDIA.

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XIII

Abstract

The common knowledge of rock or mountain climbing in Portugal is most

likely short, though, to the best of somebody’s knowledge, the media are the

only source available that may provide more or less coverage of the subject.

The representative idea of this activity broadcast by the media affects the public

ideas, beliefs and knowledge of mountaineering, which has been growing

steadily over the last years. The content analysis of two daily general

newspapers (Jornal de Notícias and O Público) between the years 1998 and

2008, has allowed us to understand the social representations of climbing in

Portugal in general, and also of João Garcia in particular, throughout that period

of time. A priori analysis shows the following categories: Hero; Risks and

Accidents in Climbing. From the analysis of our corpus of study, two categories

emerged: João Garcia and Everest; and Projects of João Garcia. All the

evidence points to the conclusion that the tragedy is still the focus of media

attention, not only associated with climbing in itself, but also with the kind of

social representations of the greatly respected Portuguese mountain climber

João Garcia. Therefore, we have confirmed the importance of João Garcia in

what concerns the social representations of mountain climbing since he is the

media’s major concern. Thus, we can understand the high record number of

successes related to the conquest of Mount Everest, which has initiated such

recognition of João Garcia that he is now seen as the idea of the archetypal

hero.

Key words: JOÃO GARCIA; MOUNTAINEERING/MOUNTAIN CLIMBING;

SOCIAL REPRESENTATIONS; MEDIA.

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XV

Résumé

Il est probable qu´au Portugal les connaissances sur l´activité de

l´alpinisme soit réduite, si bien que le peu de connaissance qu´il existe soit

construit essentiellement à travers les media. Á partir des représentations

sociales provenant des media sont crées connaissances, idées et croyances

sur l´alpinisme, qui au long des années a été mis en évidence. A travers

l´analyse du contenu de deux journaux généralistes (Jornal de Notícias et O

Público), relativement aux années 1998-2008, nous avons tenté savoir quelles

étaient les représentations sociales de l´alpinisme au Portugal, en général, et

de João Garcia, en particulier, pendant cette période. De l´analyse à priori ont

surgit les catégories suivantes : Héro; et Risques et Accidents en Alpinisme. De

la lecture de notre corpus d´étude ont surgit, a posteriori, les catégories

suivantes : João Garcia et l´Everest; et Projets de João Garcia. Comme

principales conclusions, nous avons constaté que la tragédie représente une

grande importance au niveau de l´information, ceci est associé à l´alpinisme en

général, mais aussi au type de représentations sociales sur le grand alpiniste

portugais, João Garcia. Nous avons vérifié, donc, l´importance de João Garcia

dans les représentations sociales de l´alpinisme, puisque, habituellement, les

informations sont liées à lui. De cette forme, nous comprenons le grand

nombre de registres liés à la concrétisation de la prouesse relative à la

conquête du Mont Everest, ce qui a provoqué une telle reconnaissance de

João Garcia que celui-ci a été lié au modèle de héro archétype.

Mots-clés : JOÃO GARCIA; ALPINISME; REPRÉSENTATIONS SOCIALES;

MEDIA.

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XVII

Abreviaturas

AC – Alpine Club

CMG – Clube de Montanhismo da Guarda

CNM – Clube Nacional de Montanhismo

FPCC – Federação Portuguesa de Campismo e Caravanismo

R.S. – Representações Sociais

U.R. – Unidade de Registo

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I INTRODUÇÃO

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INTRODUÇÃO

3

Numa sociedade que, cada vez mais, valoriza o tempo livre como

contraposição ao tempo “oprimido”, onde as restrições se impõem à livre e

espontânea vontade, a procura de espaços naturais e passíveis de despoletar

uma satisfação pessoal, onde não mais importa o “eu vs o outro”, tem vindo a

afirmar-se. Neste contexto “natural”, no qual se providencia a auto-satisfação

daquele que procura transcender-se, surge o Alpinismo como uma actividade

que proporciona a “fuga” do espaço desprovido de emoção, daquele em que os

principais objectivos são a diminuição dos riscos e, obviamente, a procura da

segurança. Esta é, sem dúvida, uma dupla e contrária necessidade da

sociedade em que vivemos.

O Alpinismo revela-se, para os apaixonados, como uma oportunidade de

transcendência, como um “mundo à parte”. Contudo, esta é uma actividade

pouco frequente no nosso país, sendo parco o conhecimento acerca da mesma

e tendo ainda pouca história em Portugal. De facto, o Alpinismo, no nosso país,

ainda se assume como um campo inexplorado e, consequentemente,

desconhecido, fundamentando-se esta afirmação pelo facto de permanecer

durante longos períodos sem qualquer tipo de notoriedade. Senão vejamos;

quando nos questionamos acerca do número de notícias, impressas ou

televisivas, ou mesmo por outro meio de comunicação social, sobre o

alpinismo, percebemos a sua pouca relevância nos media. Contrariamente ao

conhecimento pormenorizado de várias modalidades desportivas sobre o

plantel, dirigentes e mesmo detalhes que necessitam de um certo “vasculhar”,

temos o alpinismo, a respeito do qual pouco ou nada se conhece. Seria mesmo

caricato perguntar que alpinistas portugueses, ou mesmo estrangeiros, estão

presentes na memória colectiva. O que acabámos de referir fundamenta-se,

não só, mas também, nas características geográficas do nosso país, cuja

montanha mais alta - a Serra da Estrela tem - apenas, 1993 metros. Citamos

“apenas” pelo facto de, comparativamente, com os “picos do mundo”, aqueles

que atraem alpinistas de todo o planeta, esta altitude não ser alvo de atracção

internacional. Deste modo, percebe-se a falta de conhecimento que,

provavelmente, a maioria das pessoas não envolvidas no alpinismo têm.

Assim, de forma a terem conhecimento sobre o que acontece neste âmbito,

resta ao vulgo leitor “espreitar pela frincha da porta dos media”, ou seja, as

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

4

percepções acerca do alpinismo serão, sem dúvida, rastreadas pelos meios de

comunicação social. De facto, uma das razões para o referido é a escassa

representação social acerca deste tema. Outra forma de constatarmos isso é

através da diminuta investigação sobre a problemática, nomeadamente, na sua

relação com os Media. Importa, então, conhecermos o tipo de informação

disseminada pelos media relativamente ao alpinismo. Uma forma de o

fazermos relaciona-se com o estudo das representações sociais do alpinismo

em Portugal, sendo este o nosso grande objectivo, com a especificidade da

imprensa escrita como foco de análise. Com efeito, o estudo das

representações sociais é fundamental, na medida em que estas se constituem

como uma forma de pensamento social que inclui as informações,

experiências, conhecimentos e modelos que, recebidos e transmitidos pelas

tradições, pela educação e pela comunicação social, circulam na sociedade

(Pavarino, 2003). Ou seja, estas permitem-nos aceder à construção do

conhecimento da realidade social sobre um dado assunto, neste caso, sobre o

Alpinismo.

Tendo em conta o referido, sublinhado pela inexistência, a nível nacional

e internacional, de estudos referentes às representações sociais do alpinismo

na imprensa escrita, pelo menos que tenhamos conhecimento, consideramos

pertinente debruçarmo-nos sobre esta temática. De facto, pensamos ser

fundamental estudar e aprofundar o que se sabe sobre as representações

sociais do alpinismo, em particular sobre João Garcia, melhor representante

desta actividade em Portugal. Assim é, dado que esta modalidade começa a

demonstrar algum destaque em Portugal a partir dos sucessos de João Garcia,

o primeiro e único português que alcançou o cume do Evereste, a mais alta

montanha do mundo (8848 metros).

Fazendo referência à hipótese do Agenda Setting (uma das teorias da

comunicação social), criada por McCombs & Shaw (1972), que defende um alto

grau de correspondência entre a quantidade de atenção dada a determinada

questão pela imprensa e o nível de importância a ela atribuído por pessoas da

comunidade que estiveram expostas aos media, remetemo-nos para uma

análise minuciosa do que é publicado, em Portugal, sobre o alpinismo e, mais

especificamente, sobre o mais consagrado alpinista português, João Garcia.

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INTRODUÇÃO

5

Posteriormente à investigação pensamos ter dados suficientes para inferir

acerca da actual representação do alpinismo no nosso país, na medida em que

compreenderemos a consideração atribuída a esta actividade pela imprensa

portuguesa.

O facto de a nossa opção ter recaído sobre a imprensa escrita prendeu-

se por esta ser uma das formas de comunicação social que mais impacto

exerce nos indivíduos. Isto, já tendo, como premissa, que os meios de

comunicação têm a capacidade (não intencional nem exclusiva) de agendar

temas que são objecto de debate público em cada momento (Sousa, 2006).

Desta forma, o principal objectivo para o presente estudo passa por

conhecer as representações sociais do alpinismo em Portugal entre 1998-2008.

Para entendermos este fenómeno de estudo, delineámos os seguintes

objectivos específicos:

• Conhecer o discurso na imprensa escrita sobre o Alpinismo (1999-2008),

em particular sobre o João Garcia;

• Perceber que tipo de Representações Sociais emerge destes discursos;

• Perceber qual o contributo de João Garcia nas Representações Sociais

do Alpinismo em Portugal;

• Identificar elementos nos discursos que permitam perceber se João

Garcia está conotado com a noção de herói.

Tendo em conta o exposto, daremos início à estruturação do nosso

estudo que se seque com a revisão da literatura, no sentido de enquadrar

teoricamente o fenómeno em estudo. Posteriormente, virão as questões de

âmbito metodológico, no sentido de descrever e justificar o método que mais se

adequa aos nossos objectivos, a análise de conteúdo e, por último, o sistema

categorial. De referir a criação de um subcapítulo exclusivo a João Garcia, no

sentido de se entender todo o seu percurso enquanto alpinista. No que respeita

à apresentação e discussão dos resultados, seguiremos uma lógica que separa

estes dois capítulos pelo facto de se tornar mais pertinente discutir de uma

forma intercategorial. E, por último, apresentaremos as conclusões retiradas

deste estudo.

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II REVISÃO DA LITERATURA

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REVISÃO DA LITERATURA

9

1 Alpinismo

1.1 Contextualização Histórica

1.1.1 Internacional

Uma vez que o nosso trabalho dissertará sobre o Alpinismo importa,

então, enquadrá-lo historicamente, de forma a percebermos em que contexto

mundial surgiu e, posteriormente, compreender como se desenvolveu a

actividade em Portugal, cerceando o nosso discurso até ao representante

máximo do alpinismo português, João Garcia.

Analogamente a vários desportos modernos, o Alpinismo também foi

inventado pela Grã-Bretanha, a meio do século XIX (Robbins, 1987). Com o

desenvolvimento do capitalismo industrial britânico, a meio do século XIX, deu-

se a criação da burguesia industrial e a expansão da classe média profissional,

principalmente urbana. A classe média tinha, então, tempo e recursos

financeiros que lhe proporcionou a busca de actividades de ar livre (Robinson,

2005).

Não obstante, há registo e documentação de ascensões antes dessa

época1. A primeira ascensão ao Monte Branco em 1786, por exemplo, foi

inspirada por Benedict de Saussure, Professor de Filosofia Natural em Genève

(Nettlefold & Stratford, 1999). Benedict de Saussure procurou fazer leituras

barométricas tão altas quanto possível (idem) e terá sido o primeiro a

determinar as leis que regem a formação e a actividade dos glaciares (Belden,

1994). Mas só com a chegada dos britânicos é que se realizaram as restantes

ascensões a cumes de 4.000 metros (Sale & Cleare, 2001).

As primeiras ascensões aos pontos mais altos dos Alpes Europeus

tiveram, deste modo, como propósito, investigações científicas, relacionadas

com a altitude. Estas investigações científicas realizaram-se no âmbito da

Glaciologia, Geologia, Botânica e Cartografia (Robbins, 1987).

1 Note-se que existem registos mais antigos, nomeadamente nas travessias aos Himalaias. A título de exemplo, em

1624, um jesuíta português, o padre António de Andrade, surpreendeu o mundo ao revelar a existência dos reinos do

Tibete, tendo sido o primeiro europeu a percorrer os Himalaias (in National Geographic, Portugal, Maio, 2002).

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

10

A título de exemplo, é de referir que terá sido numa operação de

cartografia que os ingleses realizaram no Nepal, em 1852 que, através de uma

série de medições por triangulação, se forneceu a altitude de 8839 metros para

a montanha mais alta do mundo (Garcia, 2002).

Foi neste cenário que se começou a desenhar a institucionalização do

Alpinismo. Mas, rapidamente o itinerário Alpino Europeu tornou-se apetecível a

vários turistas, deixando de se limitar às pesquisas científicas (Robbins, 1987).

A institucionalização desta nova actividade concretizou-se através de uma

reunião a 22 de Dezembro de 1857 no Hotel Ashley, em Londres, entre

alpinistas britânicos, todos envolvidos de forma activa no desenvolvimento do

montanhismo alpino durante a “idade de ouro” do alpinismo (1854-1865).

Estabeleceu-se, assim, o Alpine Club (AC), em Londres. Por muitos anos os

“Gentlemens” (homens da classe alta inglesa no século XVIII, e popularizado

de classe média inglesa no fim do século XIX) constituíram a base deste Clube.

Desta forma, a base do AC compreendia um grupo homogéneo,

maioritariamente, da classe-média, de profissões cultas e polidas, as quais

incluíam bancários, advogados, funcionários públicos, clérigos, empresários e

estudiosos (Robinson, 2005). A classe base de recrutamento para o referido

Clube derivou de várias fracções da classe-média profissional, mais novos ou

mais velhos, em conjunto com um número reduzido de indivíduos com terras,

burgueses de secções industriais e financeiras, e da classe-média empregada

na indústria e nas finanças. Só mais tarde é que o padrão geral estabilizou com

a inclusão de membros do comércio.

Seguiu-se a publicação, em 1858, da colecção Peaks, Passes and

Glaciers, uma série de “episódios” descritos por diferentes escritores.

Posteriormente, a edição regular, em 1863, do Alpine Journal, como

substituição da referida colecção. Estes antecedentes foram igualados por

outros países europeus. O posterior desenvolvimento incluiu a fundação de

diversos clubes, nomeadamente, The Scottish Mountaineering Club, The

Climbers Club e Fell and Rock Climbing Club, que se ocuparam das áreas

montanhosas britânicas. Neste período (1850-1914), o alpinismo britânico é

primeiramente a história do AC e, posteriormente, dos referidos clubes

(Robbins, 1987).

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REVISÃO DA LITERATURA

11

Percebe-se, pois, que o desenvolvimento do Alpinismo foi acompanhado

de uma extensiva literatura que inclui os jornais produzidos pelos clubes, livros

escritos pelos alpinistas sobre as suas actividades e guias de alpinismo. Surge

outra literatura; desta, fazem parte as histórias populares e artigos reflexivos

redigidos pelos participantes. Cedo, as revistas sobre alpinismo e guias

desempenharam um papel crucial na institucionalização desta actividade,

promovendo práticas aceites que eram caracterizadas por um conjunto

complexo de regras tácitas e que foram compostas por uma tradição inventada.

Relativamente à literatura académica, pode-se referir que foi escassa,

dominada por psicólogos interessados na tomada de risco (Robbins, 1987),

mas que posteriormente se desenvolveu em várias áreas científicas,

nomeadamente na Sociologia do Desporto.

Voltando, novamente, ao contexto em que se deu a institucionalização,

como “pano de fundo” temos um enquadramento cultural que importa salientar

pois, como refere (Robbins, 1987), para se analisar o desporto como cultura, é

necessário estabelecer o que é que a prática significa para os seus adeptos,

examinar onde se desenvolvem esses desportos com esses mesmos

significados e como estes podem variar no tempo.

O mundo cultural original do Alpinismo enquadra-se na Época Vitoriana;

uma época que compreende a segunda metade do século XIX e a primeira

década do século XX, em que os movimentos sociais populares cederam lugar

a um sistema social equilibrado, grandemente, devido à estabilidade do Império

Britânico, governado pela Rainha Vitória (1819-1901). Apesar do materialismo

herdado, a época foi marcada pelo retorno de valores éticos como

respeitabilidade, polidez e circunspecção, considerados as mais elevadas

virtudes sociais (Cobra, 2003).

Este mundo cultural Vitoriano foi construído em torno de três discursos

em constante conflito, rotulados de Cientificismo, Atleticismo e Romantismo. O

primeiro afirma Robbins (1987), foi o principal factor motivacional que esteve na

criação deste desporto (como referido acima). Este discurso científico está

associado ao facto de a maior parte dos praticantes ter começado a escalar

com propósitos científicos (cartografia e glaciologia), fazendo com que o AC,

em Londres, se constituísse numa imagem de sociedade culta. No entanto, a

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associação deste clube com o Cientificismo foi desaparecendo devido ao

surgimento de uma lógica/racionalidade atlética, enfatizando as virtudes da

melhoria física e moral derivadas do desporto (Robinson, 2005).

Neste âmbito, a burguesia vitoriana mostrou grande preocupação pela

masculinidade nos seus significados morais, sociais e políticos mas, também,

já no fim do século XIX, colocou uma nova ênfase na resistência física e na

saúde. O corpo do homem tornou-se a preocupação central do género

masculino; paixões heróicas reavaliadas numa luz favorável; o homem começa

a olhar para as fontes primitivas de masculinidade com novos olhos; as virtudes

marciais atraíram admiração; os impulsos competitivos foram transformados

em virtudes masculinas. Através deste novo entendimento do alpinismo,

permanece uma recreação racional por aumentar qualidades como saúde física

e coragem no confronto com o perigo e adversidade. No centro deste princípio

há um discurso de recompensa: são reconhecíveis os símbolos de estatuto

baseados na competição, na aptidão moral, no domínio sobre a natureza e na

masculinidade (Robinson, 2005).

Em meados de 1870, surgiu um novo discurso – romantismo - por um

grupo decididamente romântico que ressalta o significado moral e espiritual

associado aos espaços montanhosos e experiências. Desenvolve-se um novo

sentimento e percepção da montanha. O pensamento inglês abre-se cada vez

mais a uma estética da imaginação e do irregular mais permeável a um

Sublime de coisas, onde está relacionado o entusiasmo do sujeito com o vasto

na natureza. Este discurso permaneceu perceptível mas um pouco secundário.

Com efeito, os homens de classe média construíram activamente uma

masculinidade afirmativa para defender o sentimento de poder imperial da Grã-

Bretanha. Isto foi conseguido através da invenção de várias formas agressivas

de cultura da classe-média culta, como o Alpinismo nos Alpes (idem).

Mas o alpinismo anglo-saxónico cresceu não apenas entre os europeus

mas, também, entre as “socialites” americanas que, em 1873, formaram o

Appalachian Mountain Club. Como a popularidade do desporto cresceu, no fim

desse século, alpinistas ingleses e americanos procuraram novos desafios não

escalados na Europa, Ásia, África e América do Norte. A Europa estava a

tornar-se “pequena”, daí a exploração de outros países, dando continuidade ao

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REVISÃO DA LITERATURA

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que Nettlefold & Straford (1999) designam de colonialismo vertical, uma vez

que, entre 1854 e 1882, os alpinistas britânicos “reclamaram” 31 das 39

primeiras ascensões registadas nos Alpes Europeus.

Foram estes alpinistas que mostraram o caminho das cordilheiras das

montanhas do Canadá, na medida em que os Canadianos ainda não tinham

sido “seduzidos” pelo alpinismo. Os poucos que eram alpinistas faziam

medidas minuciosas dos picos, uma vez que eram exploradores ocidentais e

geómetras ferroviários (Robinson, 2005).

Até ao Outono de 1885 as montanhas canadianas eram um vasto

território inexplorado mas, nesta data, quando foi completado o caminho-de-

ferro que abrira o oeste canadiano, os passageiros da Canadian Pacific

Railway viram, pela primeira vez, cenários como o Lago Louise, que se situa

entre alguns dos picos do Rockies (Montes Victoria, Lefroy e Temple). Para

diminuir a grande dívida devido à construção da ferrovia, a CPR iniciou um

sistema de valorização da costa que promoveu o turismo nos Alpes

Canadianos. Também, importou guias suíços profissionais para liderar

caminhantes e alpinistas às montanhas, garantindo segurança. Depois, foi uma

questão de tempo para que o Canadian Club ganhasse forma. Começam os

anos de ouro do alpinismo, agora no Canadá (idem).

É unânime a opinião de que a “idade de ouro” do alpinismo ocorreu nos

Alpes entre 1854 e 1865, período no qual foram feitas as ascensões mais

importantes. Sendo estas as ascensões Britânicas do Wetterhorn (3,701m) e

Matterhorn (4,478m). Esta designação “idade de ouro” foi, inicialmente,

atribuída por Cunningham em 1887, político escocês, jornalista e aventureiro, o

primeiro membro socialista do Parlamento do Reino Unido (Robinson, 2004).

O alpinismo foi, então, identificado como um desporto, e Cunningham

envolveu-se, segundo Donnelly, na actividade mais popular das últimas três

décadas do século XIX, a invenção da tradição, ajudando a Grã-Bretanha a

tornar-se numa nação desportiva (Hobsbawm & Ranger, 1983). Embora

ressaltando a nítida crítica em direcção às gerações mais novas de alpinismo,

a caracterização do autor glorificou a primeira geração de alpinistas britânicos e

não afirmou apenas a presença britânica histórica na Europa mas, também,

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tentou assegurar que a sua forma/estilo de alpinismo seria a forma/estilo do

desporto para o futuro.

No que respeita à forma como se procediam as ascensões,

primeiramente, os alpinistas eram acompanhados por guias (pessoas locais).

Preparavam o acampamento e a comida, até mesmo o transporte de cargas

pesadas. Isso tornou-se tão popular que um em cada dez rapazes saudáveis

que vivia nas aldeias alpinas era guia. Não obstante houvesse a prática

associada aos guias, esta não se tornou corrente até à I Guerra Mundial

(Robinson, 2004).

Normalmente, os alpinistas escalavam em grupos de três ou mais; fazê-

lo sozinho era impensável. De facto, na época vitoriana, algumas éticas de

percepção das noções de risco estavam enraizadas. Tal como Donnelly (1994)

refere, relativamente à tomada de risco, os alpinistas tinham perfeita noção do

que era inadequado em termos de escolha de itinerário ou tempo. As primeiras

ascensões assentavam na base da segurança, fazendo-se pelas rotas mais

simples e fáceis. Até porque, escolher rotas difíceis e perigosas não era de

comum acordo no ethos (espírito característico de um povo ou comunidade) de

alpinistas vitorianos. Defendiam, ainda, que o risco não se justificava numa

segunda ascensão, o impacto e reconhecimento sociais são maiores nas

primeiras ascensões (Robinson, 2004).

Em 1865, com o desastre que ocorreu em Matterhorn, começou a “idade

de prata” do alpinismo nos Alpes europeus. Esta montanha ainda não havia

sido conquistada e, Francis Douglas, Edward Whymper e o seu guia Peter

Taugwalder planearam um “assalto” ao cume depois de várias tentativas

falhadas de Whymper. Dia 13 de Julho, aos alpinistas referidos juntaram-se

Charles Hudson, Robert Hadow, o filho de Taugwalder, e Michel Croz. A 14 de

Julho, partiram para a bem sucedida primeira ascensão, pela rota Hörnli. No

entanto, na descida, Hadow caiu, abatendo Croz e também Hudson e Douglas.

Ligados por uma corda, os quatro “caíram para a morte” sobre o Glaciar

Matterhorn, 1400 metros abaixo. Três dos corpos foram posteriormente

encontrados, mas o de Douglas não (Guntern, 1990). Este trágico

acontecimento inspirou debates sobre a ética do alpinismo e sobre a aparente

falta de novos desafios nos Alpes. Durante esta segunda fase, o alpinismo foi

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REVISÃO DA LITERATURA

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re-imaginado. Já não se premiava apenas o alcance do cume, mas também o

percurso seleccionado. Assim como novas rotas ganham significado, as

primeiras ascensões no inverno, as primeiras ascensões de mulheres também

o ganharam. Há, então, o reconhecimento de que o risco é por vezes

necessário para obter sucesso na conclusão de uma nova via. Estas alterações

provocaram o nascimento da moderna escalada em rocha, no gelo e outras

formas de alpinismo numa brilhante reinvenção da tradição. Quarenta anos se

passaram até que tais mudanças atingissem a América do Norte (Robinson,

2004).

Já fora da supremacia alpina britânica, (como podemos constatar nas

nacionalidades dos pioneiros dos 14 “oito mil”) que entrou em declínio na I

Guerra Mundial (1914-1818), os Alpes perdem o seu “posto” e este é ocupado

pelos Himalaias, mudando por completo a origem dos alpinistas que, agora,

surgem da França, Suíça, Itália, Alemanha… (Sale & Cleare, 2001).

A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) colocou um ponto final na

actividade alpina nos Himalaias. Foram, precisamente, os países mais

empenhados na sua exploração que estiveram mais activamente envolvidos

nesse conflito mundial. Nos anos posteriores, essas nações rapidamente se

recompuseram e partiram para novas e extraordinárias ascensões. Começa,

nesta data, a exploração dos “tectos do mundo”, os 14 “oito mil” (Sale & Cleare,

2001). Assim sendo, importa referir quais os pioneiros e quando ascenderam e

atingiram cume das montanhas mais altas do mundo. Temos então, por ordem

cronológica (idem):

Annapurna (8091 m): Era o Pico XXXIX do Serviço Cartográfico da

Índia. O seu nome local “cheio de comida” também contém a raiz de outro

nome, “Mãe Divina Hindu”. O seu cume foi alcançado pelos Franceses Louis

Lachenal e Maurice Herzog a 3 de Junho de 1950.

Evereste (8848m): É a montanha mais alta do mundo e era o Pico XV.

Está localizado na cordilheira do Himalaia. Situa-se na fronteira entre o Nepal e

o Tibete. Em nepalês, o pico é chamado de Sagarmatha (rosto do céu), e em

tibetano Chomolangma ou Qomolangma (mãe do universo).

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A primeira ascensão até ao topo foi feita pela expedição anglo -

neozelandesa em 1953, dirigida por John Hunt. O pico foi alcançado a 29 de

Maio por Edmund Hillary (Nova Zelândia) e Tenzing Norgay (Índia).

A primeira ascensão sem recurso a oxigénio artificial foi feita por

Reinhold Messner e Peter Habeler a 8 de Maio de 1978.

Nanga Parbat (8125m): Pelo Austríaco Hermann Buhl a 3 de Julho de

1953. O “oito mil” mais ocidental. O nome deriva de Nanga Parvata “montanha

despida”, talvez pelo seu isolamento.

K2 (8611m): Os Italianos A. Compagnoni e L. Lacedelli alcançaram

cume a 31 de Julho de 1954. O nome deve-se ao facto de, em 1856, o capitão

T. G. Montgomerie, topógrafo oficial do exército britânico, ter catalogado os

cumes topografados por números, denominando-os de “K”, de Karakorum.

Cho Oyu (8201m): A sexta montanha mais alta do mundo. O seu nome

significava a “cabeça de Deus”. Pelo Austríaco H. Tichy e S. Jochler, Pasang

Dawa Lama, da Índia, a 19 de Outubro de 1954.

Makalu (8463 m): Era o Pico XIII do Serviço Cartográfico da Índia e, em

1884 sugeriu-se o nome Khamba Lung, que parece ter derivado de uma região

local chamada Khamba. Pelos franceses J. Couzy e L. Terray a 15 de Maio de

1955.

Kangchenjunga (8586 m): O Pico IX, situado na fronteira entre o Nepal

e Sikkim, a apenas 74 km a noroeste de Darjeeling (cidade do Estado Indiano

de Bengala Oeste). Da Grã-Bretanha, G.Band e J.Brown a 25 de Maio de 1955

“atingiram cume”. É a terceira montanha mais alta do mundo. Durante alguns

anos, de 1838 a 1849, acreditava-se que era a mais alta. A primeira tentativa de escalada remonta a 1905 onde quatro membros

de uma expedição internacional morreram numa avalanche.

Como inspiração à beleza da Kangchenjunga, as expedições não dão os

últimos passos até ao cume, de forma voluntária, e por respeito ao povo do

Sikkim, que consideram o cume sagrado. Esta tradição iniciou-se com a

Expedição Britânica em 1995, uma vez que pararam a curtos metros do cume

actual, em honra da religião local. As duas ascensões seguintes também

mantiveram a tradição.

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REVISÃO DA LITERATURA

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Várias são as origens do nome Kangchenjunga, mas da sua tradução

obtemos a frase "Os 5 Tesouros da Grande Neve", como referência aos cinco

picos que nascem dos seus glaciares.

Manaslu (8163 m): Era o Pico XXX. Inicialmente chamava-se Kutang I,

por ser a montanha mais alta desse mesmo distrito. Pelo Japonês T. Imanishi e

pelo Nepalês Gyalzen Sherpa a 9 de Maio de 1956.

Lhotse (8516 m): A quarta montanha mais alta do mundo. Pelos Suíços

F. Luchsinger e E. Reiss a 18 de Maio de 1956. Era o E1 para o Serviço

Cartográfico da Índia.

Gasherbrum II (8035 m): O grupo dos Gasherbrum’s (I, II e III) situa-se

na cabeceira do Glaciar Baltoro. Pelos Austríacos S. Larch, F. Moravec e H.

Willenpart a 7 de Julho de 1956.

Broad Peak (8047 m): Pelos Austríacos H. Buhl, K. Diemberger, M.

Schmuck e F. Wintersteller a 9 de Junho de 1957. Como não era visível pelos

topógrafos, não lhe foi atribuído um número na cartografia original de

Karakorum, só na expedição de Martin Conway, em 1892, é que foi

denominado deste modo.

Gasherbrum I (8068 m): Pelos Americanos A. Kauffman e P. Schoening

a 5 de Julho de 1958. Conhecido como o K5 mas Conway baptizou-o, em

1892, como Hidden Peak “pico escondido”. Contudo, devido à tendência para

não usar nomes ocidentais para as montanhas Himalaias, hoje é conhecido

como Gasherbrum I.

Dhaulagiri (8167 m): Pelo Austríaco K. Diemberger, pelo Alemão P.

Diener, pelos Suíços E. Forrer e A. Schelbert e pelos Nepaleses Nawang

Sherpa, Nima Sherpa a 13 de Maio de 1960. O Pico XLII recebe o nome

Dhavala Giri “montanha branca” mas todas as montanhas dos Himalaias são,

principalmente, brancas, daí mudar-se para o actual nome.

Shisha Pangma (8046 m): Era o Pico XXIII e foi conhecido muitos anos

por Gosaithan “Lugar do Santo”. Pelos Chineses Chen San, Cheg Tianliang,

Wang Fuzhou, Wu Zongyue, Xu Jing e Junyan e pelos Tibetanos Doje, Mima

Zaxi e Yungden a 2 de Maio de 1964. Na língua de Tibete, significa “cume

acima do vale do prado”. A montanha fica situada perto de Gosainkund - o lago

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

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sagrado de povos Hindu. Os chineses promovem o nome Xixabangma que

significa “tempo mau”.

É a menor de um total de 8 mil metros de montanhas e fica situada em

Langtang Himal - no território de Tibete, aproximadamente 120 quilómetros a

noroeste do Evereste.

Desde 1963 que a montanha está sob o controlo da China. Devido a um

isolamento político do Tibete, a exploração destas montanhas era impossível

até 1980. Naquele tempo, uma expedição alemã, chefiada por Mr. Alelein

chegou ao cume, com a mesma rota que os chineses nos anos 60.

Tendo já sido feita uma breve exposição da conjuntura mundial em que

se desenvolveu o Alpinismo, passaremos, então, para a explicação do

sucedido no nosso País relativamente a esta actividade.

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REVISÃO DA LITERATURA

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1.1.2 Nacional - O Aparecimento e Desenvolvimento do Alpinismo em

Portugal

Em Portugal, a prática de alpinismo remonta aos finais do século XIX

inícios do século XX, e está associada a Gomes Teixeira, Emídio Navarro,

Sousa Martins, entre outros pioneiros. Para a implementação e

desenvolvimento da actividade, a expedição científica à Serra da Estrela (1993

m), de 1881, foi marcante. É a maior elevação de Portugal Continental e a

segunda maior da República Portuguesa (apenas o Pico, nos Açores, a

supera).

Ao consultar os documentos da Federação de Campismo e

Montanhismo de Portugal2 podemos dividir o desenvolvimento do Alpinismo no

nosso país em duas fases. A primeira, Época Clássica (1920-1970),

caracteriza-se pelo surgimento do montanhismo organizado. Jorge Santos que,

em 1920, escalou o Alto da Pena (Vila Nova de Cerveira), pelo papel

destacado que desempenhou no desenvolvimento do montanhismo durante

várias décadas, pode ser considerado o pai da “modalidade” em Portugal.

A primeira associação que se dedicou à prática de montanhismo terá

sido o grupo portuense “Os Serranos” em 1920/22, seguindo-se o Grupo

Excursionista de Ar Livre em 1932 e o Tribu Alpino Campista em 1937. A

vertente da escalada no seio do montanhismo começou a ganhar força no TAC

sob a direcção de Jorge Santos. Nos anos 30 já se escalava em Anamão

(Castro Laboreiro), Fragas da Ermida (Serra do Marão), Pé do Cabril (Gerês),

Fragas do Diabo (Valongo). Jorge Santos pertenceu, também, ao grupo que

fundou o Clube Nacional de Montanhismo (CNM), em 1943, juntamente com

Pereira da Costa, José Cardoso, Amândio Silva, Vicente Russo, entre outros.

Em 1947, dois técnicos do Clube Alpino Francês vieram ministrar um

curso a membros do CNM de onde saíram os primeiros “monitores”

portugueses, que constituíram o primeiro núcleo de formadores. Mas o CNM,

também designado Clube Alpino Português foi, sem dúvida, durante mais de

2 Consulta-se: http://www.fcmportugal.com

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meio século, o representante e principal impulsionador da modalidade no nosso

país. Dirigiu e representou o montanhismo até Agosto de 1991, data em que a

Direcção-Geral dos Desportos passou essas competências para a, então,

Federação Portuguesa de Campismo e Caravanismo (FPCC).

Entre 1970-2005, surge a Época Moderna: a consolidação e a

diversificação. A Mocidade Portuguesa desenvolveu, a partir de 1970,

actividades na área do montanhismo, nomeadamente acções de formação de

escalada, através das Brigadas Especiais de Campo (BECs). Algumas das

pessoas ligadas a essa polémica entidade tiveram a sorte de participar no

curso de monitores dado por um dos melhores guias de alta montanha de

então, Alphonse Darbelay.

Nos anos 70, o CNM norte revitalizou-se. O Parque de Campismo de

Árvore, aberto em 1972, permitiu um aumento do número de sócios

acompanhado da desejada consolidação financeira. O CNM sul, sediado em

Lisboa, também começou a desenvolver actividades com alguma frequência e

qualidade. Mas também havia praticantes que realizavam actividades à

margem dos clubes.

Os anos 70 presenciaram as primeiras escaladas e ascensões

tecnicamente difíceis levadas a cabo por portugueses nos Alpes.

A década de 80 solidificou essa tendência e caracteriza-se

paralelamente pelo aumento significativo do número de praticantes e de clubes:

Clube de Montanhismo da Guarda (CMG), Grupo de Montanhismo de Vila

Real, Grupo de Montanhismo de Faro, Clube de Montanhismo de Setúbal,

entre outros.

Na década de 90 e primeiros anos do século XXI, assiste-se à

generalização das ascensões em altas altitudes. A primeira ascensão de um

português acima dos sete mil metros – Pico Korjenyevska, (7105 m) foi levada

a cabo, em 1990, por Gonçalo Velez. Este alpinista seria também o primeiro

português a coroar um oito mil em 1991: o Annapurna (8091 m). O alpinista

Pedro Pacheco tenta o Monte Evereste em 1992 e 1994. João Garcia também

empreende duas tentativas no “Tecto do Mundo” em 1997 e 1998. Viria a

tornar-se o mais famoso alpinista português ao atingir o cume do Evereste em

1999. No entanto, João Garcia já tinha atingido cumes acima dos oito mil

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REVISÃO DA LITERATURA

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metros anteriormente: o Cho Oyo (8201 m) em 1993 e o Dhaulagiri (8167 m)

em 1994. João Garcia voltou às grandes altitudes para conquistar o

Gasherbrum II (8053 m) em 1999 e concretizou o velho sonho de ascender o

MacKinley (6194 m) em 2002. A primeira expedição portuguesa a um “sete mil”

dos Himalaias, liderada por João Garcia, colocou, em Maio de 2003, quatro

portugueses no cume do Pumori (7120 m). Gonçalo Velez ascendeu o Cho

Oyo (8201 m) em 1997, tentou o Shisha Pangma (8012 m) em 1999, bem

como o Lhotse (8516 m) em 2000, e atingiu o cume do Kankchenjunga (8586

m) em 2001.

Importa referir a abertura da via Quinto Império na face oeste do Naranjo

de Bulnes (Picos da Europa), em 1996, por Sérgio Martins e Francisco Ataíde,

e a escalada do esporão Walker (Maciço do Monte Branco), em 2001, por

Paulo Roxo e Nuno Soares.

Portugal pertence à União Internacional das Associações de Alpinismo

desde 1932 e actualmente conta com dois representantes: a FPCC e o CNM.

Na sequência do exposto importa, agora, debruçarmo-nos sobre o que

caracteriza o Alpinismo, na medida em que a posterior elucidação nos ajudará

a compreender o que poderá determinar a sua prática.

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1.2 Caracterização do Alpinismo

O Alpinismo insere-se num contexto de lazer, em que se nota uma cada

vez maior aproximação das pessoas aos ambientes naturais na fuga do

ambiente urbano, e que se tem repercutido num incremento de actividades de

ar livre, que se regem mais pelo “relógio natural” do que pelo mecânico (Garcia,

1996). Paralelamente, desde meados do século XX que temos vindo a assistir

a uma cada vez maior valorização do tempo livre, bem como, uma perda de

centralidade do trabalho em favor do lazer libertador e instância de realização

pessoal (Gama, 1991).

As actividades físicas em meio natural têm evoluído desde concepções

tradicionais e minoritárias a formas mais inovadoras ao alcance de uma ampla

massa social. Assiste-se a uma procura por parte dos participantes de

emoções na natureza em contraposição a uma perspectiva de vida urbana

onde a percepção do risco é quase inexistente (Fuster i Matute & Agurruza,

1995). O Alpinismo enquadra-se neste cenário ‘natural’.

A montanha, onde se desenrola esta actividade, faz parte dos lugares

altos que são topograficamente diversos: variam na elevação, inclinação, há

grandes variações da temperatura, radiação, ventos e até mesmo de tipo de

solos. Estas distinções físicas criam diferentes zonas ecológicas e a ampla

variedade de nichos ecológicos fazem destes sítios o local ideal para uma

grande variedade de plantas e animais. Esta é uma das razões pela qual se

torna tão única, uma verdadeira paisagem mundial (Smethurst, 2000).

Reportando-nos, agora, à caracterização da actividade propriamente dita

podemos referir que, apesar do facto de não haver uma estrutura competitiva

institucionalizada – não há um corpo governamental formal para instituir e

executar regras de competição, não há regras escritas – o alpinismo tende a

funcionar de uma maneira muito idêntica a outros desportos. Tal como sugere

(Donnelly, 1994) pode-se dizer que existem dois tipos específicos de

competição, directa e indirecta. A primeira é a competição para as primeiras

ascensões das montanhas ou de itinerários específicos nas montanhas,

penhascos e quedas-d'água congeladas. As competições indirectas, referem-

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REVISÃO DA LITERATURA

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se à competição do estilo ou qualidade de uma ascensão, na qual se pode

referir a velocidade da mesma, mas é usualmente considerado em termos de

como se aproxima a adaptação da ascensão à estrutura informal de regras do

alpinismo. Aliás, há um prémio anual, o Piolet D’or3, que procura distinguir os

alpinistas de vários modos. É atribuído pela revista francesa Montagnes e pelo

The Groupe de Haute Montagne desde 1991. A selecção dos potenciais

candidatos, bem como as condições de atribuição do troféu, cumprem uma

rigorosa ética que está em consonância com os valores fundadores da GHM,

em que o alto nível técnico e empenho certamente constituem os princípios

norteadores. A originalidade na escolha do objectivo e do carácter inovador do

modo de realização da subida também são importantes elementos de

apreciação, bem como a beleza do movimento e o espírito com que as pessoas

escalam as montanhas.

O sistema de regras e convenções que governam ambas as formas de

competição, directa e indirecta, é conhecido como ética de alpinistas e é

socialmente construído e penalizado. A ética é criada e muda por consenso

entre os alpinistas (o consenso vem sendo realizado na interacção face-a-face

e através dos media que se ocupam desta temática), transmitida pelos mesmos

meios de comunicação e executada pela auto-disciplina e pressão social

(Donnelly, 1994).

Reportando-nos, agora, à forma de alpinismo, podemos considerar três

formas básicas. A primeira é a Escalada em Rocha, muito popular entre

alpinistas amadores. Esta forma envolve encostas rochosas e avalanches. A

segunda denomina-se Alpinismo de Neve e Gelo, mais adequada a alpinistas

experientes. É extremamente perigosa porque envolve rotas com glaciares, ou

seja, torna-se importantíssimo o conhecimento acerca das condições na neve e

gelo. Por último, o Alpinismo misto que combina as duas primeiras formas de

Alpinismo, tornando-a mais difícil (Gonzales, 2006). Quanto ao estilo, podemos

referir o Alpino – sem acampamentos de altitude e o Estilo clássico Himalaiano

– ascensão progressiva, com campos de altitude (Garcia, 2007).

3 Consulta-se: http://www.ghm-alpinisme.com

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

24

Para a classificação da actividade em questão podemos, então, ter como

base a altitude da montanha a escalar, o tipo de terreno em que se realiza a

escalada (rocha, gelo, neve ou misto) ou a dificuldade técnica atribuída às vias

de ascensão. O alpinismo de muito elevada e de extrema altitude (ascensões

mais mediáticas) pressupõe que a ascensão se realize em ambientes de alta

montanha caracterizados pelos seus terrenos mistos (rocha e neve e/ou gelo)

utilizando instrumentos específicos (Pereira, 2005).

Dado o ambiente natural e o cenário em que decorrem, as actividades

de ar livre como o alpinismo podem ser condicionadas por vários factores. As

características deste meio, como a altitude, grau de coesão, presença de

obstáculos, podem apresentar-se como uma limitação, ou mesmo risco,

quando associadas a variáveis qualitativas e quantitativas (Fuster i Matute &

Agurruza, 1995). Esses riscos podem ser ou não previstos, mas impossíveis de

eliminar, uma vez que são parte integrante deste contexto natural (Pereira,

2005).

Também, o clima apresenta para o Homem um factor do qual não pode

prescindir, e as suas alterações marcam a sua acção, inevitavelmente, a do

alpinista. Por essa razão e porque esta actividade acaba por depender do

tempo atmosférico, do clima, importa referir os seus elementos que, de certa

forma, condicionam a actividade.

Relativamente ao nevoeiro poder-se-á dizer que é um obstáculo em

termos visuais, com efeito, são vários os alpinistas que nos seus livros se

reportam ao clima, demonstrando que lhe conferem uma considerável

importância. Exemplo disso é a referência ao nevoeiro feita por Pritchard

(1998) e que, naturalmente, tem consequências na visibilidade, já que a sua

falta aumenta os níveis de risco. Também Mark Twight (2002) menciona o

factor vento que, quando muito forte, pode provocar muitos estragos nas

expedições, assim como tornar o ambiente ainda mais frio. Adicionalmente, há

a incontornável neve e o gelo que, se por um lado, conferem, sem dúvida, uma

extraordinária beleza à montanha, por outro, é necessário que se encontrem

num estado que permita a deslocação, conforme destaca João Garcia (2002).

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REVISÃO DA LITERATURA

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As distâncias também se alteram com o clima não só em termos físicos

e reais, mas também no esforço necessário para as ultrapassar (Pereira,

2004).

É, ainda, de salientar, o facto de a estas altitudes, como no caso

extremo do Evereste, os alpinistas estarem muito perto dos limites fisiológicos

de sobrevivência, mesmo que devidamente aclimatados4, devido às extremas

condições de rarefacção de oxigénio e às reduzidas temperaturas (Pereira,

2005). Esta rarefacção pode provocar esgotamentos, edemas cerebrais5 que

se caracterizam pela perda de consciência e alucinações que, como refere

João Garcia (2007), ao respirar-se mais, há um maior cansaço e,

consequentemente, produz-se mais CO2, o que envenena o cérebro, criando

tonturas e delírios. Alturas superiores a 8.000 metros são bem acima da normal

habitação humana e são, por isso, inóspitas para a maioria das espécies.

Assim, alturas superiores a 8.000 metros são, muitas vezes, referidas como a

"Zona da Morte”. O principal factor limitador é a pressão barométrica, que

declina exponencialmente com a altitude. Para alguém vindo de uma cidade

costeira, os efeitos fisiológicos da altitude são imediatamente evidentes (Huey

& Eguskitza, 2001)

No Monte Evereste, um alpinista tem que tolerar pressões barométricas

extremamente baixas. Por exemplo, no topo da montanha (8.850 m), a pressão

é um terço da ao nível do mar. A hipóxia resultante, não só limita grandemente

os alpinistas na capacidade de se moverem como, também, induz graves

problemas fisiológicos, médicos, sensoriais e neurocomportamentais (idem).

4 Durante os períodos em que os alpinistas tentam escalar os picos mais altos do mundo, sabe-se que são necessárias

semanas para que os habitantes do nível do mar se adaptassem a altitudes sucessivamente mais elevadas. Uma

pessoa que permaneça em altitudes elevadas por dias ou meses, torna-se mais aclimatada à baixa PO2, permitindo-lhe

trabalhar em altitudes ainda mais elevadas sem que sofra os efeitos hipóxicos causados pela altitude. Após alcançar

elevações de 2.300m e até maiores, ocorrem ajustes fisiológicos rápidos destinados a compensar o ar mais rarefeito e

a concomitante redução na PO2 (Amaral, 2000). 5 Trata-se do aumento da pressão intra-craniana podendo evoluir para o coma e, finalmente a morte. Os sintomas

desta enfermidade mortal incluem: perda da coordenação (ataxia) envolvendo os músculos do tronco, alterações da

visão, podendo surgir pequenas hemorragias oculares, paralisia num dos lados do corpo, reflexos precários, dor de

cabeça insuportável (que não melhora com aspirina), falta de energia, dificuldade em permanecer de pé, vertigens,

fadiga extrema e vómitos. De forma benigna, o excesso de líquidos no organismo pode antes manifestar-se também

por inchaços, principalmente no rosto, além de transtornos de comportamento (idem).

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As baixas temperaturas e os ventos fortes agravam os stresses

fisiológicos da extrema altitude. No que respeita às temperaturas medidas no

Colo Sul do Monte Evereste (aproximadamente 960 m abaixo do cume)

durante a Primavera de 1999 foram de 11,6°C negativ os, caindo, normalmente,

para -20°C durante a noite. Embora não seja especialm ente pelo frio, a

combinação de baixas temperaturas, ventos fortes hipóxia e desidratação

podem, facilmente, induzir hipotermia e geladuras, o que aconteceu com João

Garcia nesse mesmo ano. Na verdade, com uma temperatura do ar de apenas

-10°C e uma velocidade do vento de apenas 50 km/h (um a mera "brisa" nos

Himalaias), a temperatura cairia para -25°C, muito pe rto do limite passível de

congelar carne humana exposta (-35 ° C). Durante o inv erno, as temperaturas

no Colo Sul tornam-se extremas, -28°C, por isso mesmo, a penas 5% de todos

os alpinistas têm tentado ascensões ao Evereste durante o inverno.

Surpreendentemente, um alpinista (Ang Rita, a 22 de Dezembro de 1987)

alcançou com sucesso o seu cume no Inverno sem utilizar oxigénio artificial

(Huey & Eguskitza, 2001).

Um alpinista em stresse fisiológico provocado pela hipóxia, frio, vento e

desidratação (que aumentam com a altitude) vê aumentar substancialmente o

risco de exaustão, um grave problema médico, uma queda ou um erro mental.

Por conseguinte, a probabilidade de sucesso de chegar ao cume será

inversamente proporcional à altitude, e a probabilidade de morrer ou sofrer um

grave acidente aumenta com a mesma. Mas não é a penas a altitude que pode

influenciar o sucesso/insucesso de uma investida. Por exemplo, cada

montanha tem a sua dificuldade, e mesmo diferentes rotas encerram diferentes

obstáculos. No entanto, não há dúvidas de que a taxa de mortalidade aumenta

com a altitude (Burtscher, 1995). Em oposição, a taxa de sucesso pode ser

baixa até mesmo num pico de baixa altitude, como em Foraker (situado na

cordilheira central do Alasca, Estados Unidos da América), reflectindo a

dificuldade inerente desta montanha, independentemente da sua menor

altitude.

Durante a descida, a taxa de mortalidade também aumenta

proporcionalmente à altitude da montanha, e foi precisamente nessa etapa da

conquista que Pascal pereceu. Obviamente que os alpinistas estão dispostos a

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REVISÃO DA LITERATURA

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pagar um preço elevado para tentar grandes picos (apesar da baixa taxa de

sucesso e do alto risco inerente a uma conquista a de um “8 mil”. Apesar do

referido, deve-se ponderar tais argumentos pelo facto de haver diferentes

recursos de resgate e oportunidades climatéricas para tal nas diferentes

montanhas, como por exemplo, os helicópteros de salvamento, o que poderia

reduzir as taxas de mortalidade. Além disso, a experiência e habilidade dos

alpinistas que tentam esses picos estão, sem dúvida, longe de serem

homogéneas. Os alpinistas diferem, também, na capacidade de se aclimatarem

à altitude, concomitante das doenças e da tolerância fisiológica das

adversidades. Essas diferenças individuais, que infelizmente são difíceis para

verificar, podem confundir ou mascarar as comparações entre diferentes

montanhas (Huey & Eguskitza, 2001).

Pelo exposto, desde logo se pode dizer que são vários os riscos

inerentes a esta actividade. De facto, o Alpinismo desenrola-se num contexto

de risco, senão vejamos: um em cada dez alpinistas himalaianos não volta e,

nas expedições ao Evereste, um em cada oito alpinistas morre (Ortner, 1999 in

Pereira, 2009b). É muito frequente no alpinismo perder um companheiro, assim

como é raro não se sofrer qualquer tipo de lesão. Apesar de, muitas vezes, os

alpinistas não quererem dar importância ao risco, assumem que este faz parte

desta actividade, estão cientes disso a partir do momento em que se preparam

para uma expedição. No entanto, há certos factores que influenciam a

percepção do risco, distorcendo-a. A personalidade, a experiência e os próprios

meios de comunicação, o grupo a que pertence um sujeito, são alguns

exemplos. Neste sentido, podemos afirmar que o jeopardy, que combina a

dificuldade, incerteza e meio, é um elemento constituinte do alpinismo (Pereira,

2005).

Estes riscos, inerentes à própria actividade, podem ser imprevisíveis ou

estar fora de acuidade visual e a maioria desses riscos pode ser fatal. Entre

esses, destacamos (ABC-of-Mountaineering, 2008):

Queda de Rochas - Com o passar do tempo, as formações rochosas

podem, eventualmente, desmoronar-se em pequenas pedras. Isso pode ser

causado pela erosão, pelo vento, pelo descongelamento do gelo e também

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pelas caminhadas do Homem. São perigosas porque podem causar lesões

graves como fracturas.

Queda de Gelo - Pequenos fragmentos de gelo podem abrir a partir de

um glaciar devido ao aumento das temperaturas, resultando na queda de gelo.

No entanto, a susceptibilidade a estes riscos pode ser evitada. Geralmente, é

aconselhado não escalar rochas ou faces cobertas de gelo durante um dia

quente, especialmente quando é quase Primavera.

Avalanche - Este é um enorme manto de neve que desliza ao longo de

uma montanha. As avalanches são uma grande ameaça para os alpinistas,

pois podem facilmente enterrá-los e é muito difícil ou mesmo impossível sair.

Alguns factores que contribuem para a ocorrência de avalanches são a

inclinação da encosta, a instabilidade da neve, entre outros.

Crevasses - Estas são enormes e profundas fendas ou aberturas em

glaciares ou neve, que são provocadas pelo movimento do glaciar. Podem ser

visíveis ou ocultas (normalmente por um manto de neve).

Encostas de Gelo - Ao escalar encostas cobertas de gelo ou neve dura,

a utilização de crampons pode ser a salvação. Ajudam por perfuração através

do gelo ou neve, fornecendo um sólido domínio sobre uma outra superfície

escorregadia.

Encostas de Neve - São geralmente fáceis de escalar. Uma nova

camada de neve sobre o gelo pode ser perigosa porque pode facilmente

resultar numa avalanche. Na parte da tarde, como o dia aquece, a neve tende

a amolecer. Por essa razão, ela é ideal para escalar durante o início da

madrugada.

Tempo – As condições meteorológicas contribuem largamente para as

mudanças nas formações de rocha e gelo e, assim, podem provocar outros

perigos. Não só isso, a chuva pode tornar a visibilidade muito reduzida,

tornando as condições mais severas.

Como pudemos verificar ao longo deste “capítulo” são vários os

obstáculos encontrados durante uma ascensão e os riscos tornam-se o “vizinho

do lado” do alpinista, visto fazerem parte deste modo de vida. Seguiremos com

o que realmente determina a busca incessante de uma actividade que, clara e

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REVISÃO DA LITERATURA

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repetidamente, coloca o praticante em risco, podendo mesmo levá-lo até à

morte.

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30

1.3 Razões para a prática do Alpinismo

Apesar de todos estes elementos que conferem perigo e risco ao

alpinismo, a verdade é que o risco, a vários níveis, faz parte da origem do ser

humano. Desde cedo, os indivíduos procuram uma dupla e contrária

necessidade: a segurança e a busca constante de sensações através da

exploração e descobrimento, que implicam um certo risco (Fuster i Matute &

Agurruza, 1995). No entanto, os praticantes estão conscientes do perigo a que

se expõem, tal como podemos constatar nesta afirmação de João Garcia

(2007) “eu sei que o risco faz parte desta vida, foi esta a vida que escolhi”, mas

nem por isso desistem de escalar. Muitos referem mesmo que é um risco

gratificante, fundamental, estando aí o êxtase completo.

Neste contexto de risco latente, Léséleuc (1998) afirma que praticar

alpinismo é como jogar com a própria vida. Um jogo de onde se pode sair

vencedor ou derrotado! De facto, grande parte dos alpinistas já viveu situações

repletas de risco durante a sua prática, tendo-se sentido perto da morte.

Sofreram acidentes que deixaram nos seus corpos marcas inapagáveis, tais

como: congelações nas mãos, pés e nariz, provocadas pelo excesso de tempo

em extrema altitude (Pereira, 2005). Há uma aceitação paradoxa dos danos

corporais provenientes da sua prática desportiva, como se fossem constituintes

da mesma e, por isso, não se evidenciam como inibidores dessa prática.

Parece, então, que os alpinistas continuam porque o fascínio que as

montanhas exercem e o sentimento de exaltação que experimentam ao

ascender a uma montanha alta e perigosa, suscitam um encanto que os leva a

por a vida em risco. Depreende-se, pois, que encontrar um limite físico é algo

que justifica o sacrifício do corpo, sendo o limite, uma necessidade

antropológica, podendo a busca do mesmo significar, em último caso, uma

chamada à morte para garantir a existência (Le Breton, 2000). Percebemos

aqui, uma nítida tomada voluntária de risco.

Na área da tomada voluntária de risco, Lyng (1990) através do conceito

de ‘edgework’, procura articular uma abordagem para a compreensão desse

comportamento. Para tal, recorre ao enquadramento sócio psicológico

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REVISÃO DA LITERATURA

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Marxiano e Meadiano. Este conceito significa “trabalho no limite” e remete-nos

para uma associação permanente com o risco e, tal como no Alpinismo, um

risco constante, na medida em que a actividade se desenvolve num ambiente

natural que apresenta perigos inerentes ao mesmo, levando os alpinistas a

estar frequentemente nos seus limites. Assim sendo, constatamos que esta

actividade, analogamente, é um “trabalho no limite”. Mas, como o ‘edgework’

não terá uma tradução rigorosa, de modo a envolver todas as significações

pretendidas pelo autor, utilizaremos o conceito original.

O autor refere que apesar de haver um consenso entre os membros da

sociedade norte-americana relativamente à importância de reduzir as ameaças

ao bem-estar individual, muitas pessoas procuram experiências que envolvem

alto risco podendo colocar em causa a integridade física. Existe, então, uma

contradição entre a agenda pública e privada nesta sociedade em que, na

primeira, procura-se reduzir os riscos de dano ou morte e, na segunda,

procura-se aumentar estes riscos.

No seu trabalho sobre Edgework, Lyng (1990) organiza os seus dados

empíricos em três categorias: i) as actividades que se classificam como

‘edgework’; ii) as características e capacidades individuais relevantes para o

‘edgework’ e iii) as sensações associadas à participação no ‘edgework’.

Relativamente à primeira categoria, existe uma característica central em

comum: todas envolvem uma ameaça observável ao bem-estar físico ou

mental ou à sensação de existência ordenada. Em relação às características e

capacidades individuais, note-se que para as actividades de ‘edgework’ é

necessário o uso de capacidades individuais específicas. Uma dessas

capacidades é o exercício de habilidades particulares para descobrir os limites

da performance. Habilidades essas para manter o controlo de uma situação

que está no limite do caos completo. Fazendo referência à última categoria –

sensações - os dados obtidos pelo autor revelam um número de temas comum.

Os ‘edgeworkers’ referem que esta experiência produz uma sensação de auto-

realização, auto-actualização ou auto-determinação, ou seja, uma sensação

elevada do self e um sentimento de omnipotência. A mesma dinâmica pode

estar relacionada com a sensação de ‘edgework’ como hiper realidade. Apesar

do carácter fora do ordinário do de ‘edgework’, os participantes descrevem a

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experiência como sendo muito mais real que as circunstâncias da existência do

quotidiano (Lyng, 1990).

O ‘edgework’ envolve também a capacidade de manter o controlo sobre

uma situação limite do caos total, sendo esta capacidade que os ‘edgeworkers’

acreditam ser determinante para o sucesso ou fracasso na negociação do

limite. A maior satisfação ou sentimento de competência resultaria na

capacidade de controlar o que parece incontrolável. Neste sentido, geram-se

sentimentos mais poderosos de competência, uma vez que o ‘edgework’

oferece a oportunidade de misturar a habilidade com o acaso. E, por oposição,

num mundo que assume cada vez mais o controlo sobre inúmeros aspectos da

vida privada, o alpinismo é uma actividade que fornece aos seus praticantes a

sensação de controlo da própria vida, mesmo que somente durante as

expedições (Pereira, 2009b).

De acordo com Lyng, salienta-se o facto de o ‘edgework’ ser mais

comum entre os mais jovens e os homens. Apesar de as características do

mesmo permitirem uma sensação ilusória de controlo, é provável que a idade

tenha um papel na sua emergência. O ‘edgework’ também pode atrair mais os

homens do que as mulheres porque a habilidade masculina de orientação pode

conduzir à subestimação dos riscos (Lyng, 1990). De qualquer modo, sobre

estas questões de género não nos referiremos, para a sua discussão outros

enquadramentos teóricos seriam necessários, não cabendo aqui neste

trabalho.

Adicionalmente, de acordo com o autor, os ‘edgeworkers’ e, por

analogia, os alpinistas, não gostam de se colocar em situações de ameaça que

envolvem circunstâncias que não podem controlar, aliás, têm bastante em

consideração as suas capacidades para lidar com o perigo. Eles procuram a

oportunidade para exercitarem as suas habilidades na negociação com o

desafio e não tanto deixarem ao destino a responsabilidade (Lyng, 1990).

A tomada voluntária de risco, segundo os dados de Lyng (1990),

apresenta as seguintes características: experiência que pode colocar de parte

o medo, excitação, preocupação com a morte em direcção à experiência do

espontâneo, anárquico, carácter impulsivo.

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REVISÃO DA LITERATURA

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Desta forma, o ‘edgework’ parece ser a antítese directa do

comportamento sob domínio institucional, onde o constrangimento e o controlo

normativo ocupam posição central na sociedade. Este controlo normativo

vivenciado no trabalho e no emprego explica a busca pela sensação contrária

de não haver normas nem rotinas, tal e qual como a experiência do ‘edgework’.

Para além do risco inerente ao Alpinismo e que, como se viu, poderá ser

mesmo um dos sentidos para a sua prática, encontrámos algumas das

possíveis razões para os apaixonados do alpinismo enveredarem por esta

actividade, uma vez que este desporto coloca desafios às capacidades e

competências do indivíduo, num trabalho de (Pereira, 2009b), onde a autora

discute essa matéria. Os Alpinistas quando escalam podem também encontrar

uma forma de relaxamento e exercício mas o efeito mais comum das pessoas

que se dedicam a esta actividade, mesmo quando a actividade pode ser

extenuante e perigosa, é a recompensa de ter uma visão das raras e

maravilhosas paisagens que irão saborear quando atingirem o cume

(Gonzales, 2006).

Deste modo, ascender uma alta e perigosa montanha pode

desencadear, entre outros sentimentos, o encantamento e a exultação. Não

obstante, este encanto poderá transformar-se em algo aterrador, ou numa

sensação mista de sofrimento e prazer no sofrimento, que pode ser incluído no

sentimento de sublime descrito por Kant (1764; in Pereira, 2009b): a sensação

misturada de prazer e de terror. O sentimento do sublime pode, assim, ser o

resultado da vivência de sensações de prazer na paisagem de uma montanha,

mas acompanhadas de receio, quando o risco se torna potencialmente

incontrolável (Pereira, 2009b).

Também, o alpinismo de alta montanha permite vivenciar situações de

risco que providenciam sensações muito fortes, como a excitação, nos termos

de Elias & Dunning (1992). Sentem, por isso, que estão a transgredir a ordem,

no modo como Weber (1922) a concebe e, como tal, vivem momentos por si

sentidos de transgressão.

Porém, neste quadro, a transgressão pode não ser real, pois a excitação

vivida pode ser entendida dentro da função mimética do lazer a que se

reportam Elias & Dunning (1992). Não obstante, é de salientar, mais uma vez,

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que o crescente controlo social ou mesmo o crescente estado de incerteza

aumenta as dúvidas e até a infelicidade, advindas da racionalização

generalizada. Neste contexto, não deixa de ser real a necessidade de

transgressão que promove a busca de vivências extraordinárias do quotidiano,

como por exemplo, a aventura (Pereira, 2009b).

A fuga ao quotidiano é uma das grandes funções da aventura apontadas

por Simmel (1997), i.e., a sua descontinuidade com a vida quotidiana, a

possibilidade de quebrar com a rotina do dia-a-dia. De facto, os alpinistas

procuram uma saída do seu quotidiano, que é considerado por alguns deles,

asfixiante. De certa forma, o alpinismo de alta montanha opera como interface

entre as circunstâncias externas da época racionalizada, que minimizam o

homem enquanto autor da sua própria experiência, e a possibilidade de o

tornar, efectivamente, no autor da sua narrativa enquanto aventureiro (idem).

Nesta perspectiva, apesar das adversidades provenientes da

contingência, o alpinista (aventureiro), aceita o caminho a percorrer,

projectando-se numa outra dimensão da sua existência, uma vez que a

aventura se opõe à passividade. De facto, a aventura do alpinismo é rica em

emoções e auspicia uma vida plena de momentos extraordinários, nos quais é

possível explorar os limites da condição humana e assim recusar uma

identidade circunscrita. Esta aventura está, igualmente, em relação directa com

a experiência (plena) da corporalidade (Pereira, 2009b).

Com efeito, quando os alpinistas partem para a aventura, encontram

uma forma de sentir e viver o seu corpo totalmente díspar do seu dia-a-dia,

pois a sua actividade pode ser compreendida como um modo de percepção

que convida o corpo e todos os sentidos a estarem em harmonia com o seu

ambiente (McCarthy, 2002). Conforme afirma Schneider (2002), lá em cima, no

comummente designado ‘tecto do mundo’, tudo parece diferente de quando se

está cá em baixo. Quanto mais alto se chega, mais lentos se tornam os

movimentos. E com a lentidão do progresso, mais perceptível se torna a

experiência corporal. Pelo seu carácter corpóreo, a aventura providencia a

experiência dos sentidos e sensações e, consequentemente, uma estetização

da própria experiência.

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REVISÃO DA LITERATURA

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“A linguagem contemporânea é a das experiências vividas”, afirma Luc

Ferry (2003, p. 31). Isto mesmo é perceptível no modo como alguns alpinistas

se reportam à montanha; algo que lhes permite sentir a magnitude da natureza,

promovendo êxtases de prazer pelo simples facto de se encontrarem naquele

espaço natural, onde têm “uma sensação de imensidão”.

Para além da contemplação da beleza envolvente, uma razão para a

prática do alpinismo, a “experiência vivida” é sobremaneira importante em toda

a investida para a alta montanha. Nesta, o alpinista tem a oportunidade de

experimentar sensações corporais no contacto com os elementos constituintes

desse ambiente: sentindo o frio, o vento ou a neve, ou mesmo as luzes e os

sons, ou simplesmente “escutando o silêncio” (Pereira, 2009b).

No entanto, tudo o que foi apontado anteriormente é fortemente

determinado pela idade, habilidade e género, no que respeita à influência na

participação nesta actividade (Bratton, Kinnear, & Koroluk, 1979). A justificação

para respostas como “because it is there”, relaciona-se com o facto de as

razões que os alpinistas referem não pertencerem à noção de materialismo da

motivação humana (Loewenstein, 1999).

Klausner (1968), Fiske & Maddi (1961) e Atkinson (1957) têm

desenvolvido modelos que tentam explicar a participação em actividades

fisicamente e psicologicamente stressantes.

As razões referidas para escalar montanhas têm progredido de

afirmações como a de Mallory “Porque está lá” (Unsworth, 1975), de Walter

Bonatti “...porque eles (alpinistas) não estão satisfeitos por existir, eles querem

viver” (Bonatti, 1964). O imortal Mallory, que pereceu no Monte Evereste, é

creditado pela frase: “Se tiver de perguntar porque é que o homem escala, não

vai perceber a resposta”. Apenas os alpinistas conseguem perceber

verdadeiramente porque os homens escalam.

McCarthy (2002) apresenta-nos uma abordagem interessante, referindo

que a experiência na montanha se pode enquadrar em três perspectivas. A

primeira diz respeito ao facto de a montanha poder ser percebida como uma

arena para a conquista. De facto, as primeiras ascensões no século XVIII são

exemplo disso mesmo; ainda hoje, a colocação de bandeiras no cume do

Evereste comprova essa necessidade. A montanha pode, igualmente, ser

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percebida como um tesouro a contemplar, um lugar de admiração. Finalmente,

a montanha é um lugar onde a barreira entre o sujeito humano e o objecto

natural é eliminada e a conexão é a regra, é uma conexão com o meio que se

estabelece como efeito e recompensa do esforço e do compromisso (Pereira,

2004).

Sob uma perspectiva distinta, Bratton et al (1979) procuram, também,

perceber esta dedicação. Realizou com os seus colaboradores um estudo com

o Clube de Alpinismo do Canadá, Secção Calgary (Bratton, Kinnear, & Koroluk,

1979) cujos membros variam de principiantes a alpinistas experientes. Os

dados incluem informação demográfica pessoal, hábitos actuais de escalada,

experiência anterior em alpinismo, presente e anterior participação em

actividades desportivas e razões para a prática. Neste trabalho, focar-nos-

emos no último referido. Segundo este estudo, as razões mais importantes são

aquelas que proporcionam uma apreciação do exterior, do ambiente, do

cenário, sentir o ar fresco e a natureza, o fascínio pelas montanhas. Os

alpinistas são verdadeiros amantes da Natureza.

No que respeita ao género, as principais diferenças espelham o papel do

género masculino definido culturalmente na sociedade ocidental. Revelam-se

superiores nas razões que reflectem o teste pessoal ou realização/conquista e

o desafio. Os dados também revelam que o número de mulheres que se auto-

descreve como alpinista de “rocha pesada” continua menor que o dos homens.

Mas, as mesmas, não se revelam “inferiores” nas categorias do orgulho,

desafio e auto-teste.

Quanto à idade, os grupos mais novos indicaram que o alpinismo serve

para satisfazer as suas necessidades de realização e estatuto. Estranhamente,

os alpinistas mais novos praticam esta actividade para sair da rotina, mais do

que os grupos mais velhos. Também os alpinistas mais velhos são mais

motivados por razões espirituais.

Há uma relação linear positiva entre a taxação pessoal do alpinista

experiente e a conquista de “picos”, onde os “novatos” apresentam valores

mais baixos na excitação e no desafio. Também existe uma relação linear

positiva entre a frequência e excitação na conquista de topos e expressão

pessoal. Os alpinistas mais regulares são mais fortes no desafio. Os dados

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REVISÃO DA LITERATURA

37

indicam que quando há um incremento das suas capacidades/habilidades,

procuram objectivos mais desafiadores.

A resposta à pergunta “Porque é que os homens escalam?”, é muito

mais complexa do que a declaração, “porque está lá”. Este estudo indica a

existência de uma mudança constante no mosaico dos motivos primários e

secundários para a participação. A idade, habilidade e o género, parecem ser,

na perspectiva de Bratton et al (1979), três das variáveis determinantes mais

fortes que influenciam esse mosaico.

A compreensão da tomada de risco no alpinismo é, como ficou

expresso, multifacetada. O alpinista, como pessoa que é, é um ser global,

multidimensional. Uma pessoa que busca controlar a sua própria vida, mas que

pode, simultaneamente, procurar a transgressão à sua existência ordinária

através da aventura, na busca do extraordinário na alta montanha. Um

ambiente que possibilita a vivência e experiência de sensações que podem

parecer contraditórias, mas que se complementam. Mas esse controlo pode

resultar num momento sublime, onde o prazer e o receio se conjugam e

culminam na superação ou mesmo transcendência para um estado, de tal

forma distinto do ordinário ou banal, que pode ser o de heroicidade (Pereira,

2009b).

Após uma breve exposição das razões que levam o alpinista a envolver-

se nesta actividade, e pelo facto de termos percebido que não é um ser

humano qualquer que envereda e vence este caminho, faremos uma

enunciação das “características necessárias” para se obter um estatuto “quase

divino” na esfera social (enquanto membro de uma sociedade, cultura) e,

posteriormente, na desportiva.

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

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2 O Herói

Sendo o nosso objectivo perceber quais as representações sociais (RS)

do Alpinismo na imprensa escrita a partir do seu representante máximo

português João Garcia, é de extrema relevância perceber o porquê da escolha

deste representante, na medida em que reúne características únicas dignas de

adjectivação “superior”. Ao longo deste capítulo justificaremos o facto de incluir

o subtema Herói, nome atribuído a pessoas peculiares, detentoras de um

percurso admirável, de um reconhecimento que ultrapassa a fronteira nacional,

colocando-a numa lista mundial a que poucos pertencem.

Embora a palavra “herói” nos remeta para algo superior, e isso é uma

certeza, este conceito tem evoluído. Como refere Berg (1998), embora o termo

herói provenha da palavra grega que significa pessoa distinguida pela

coragem, o seu significado é adaptável entre culturas e ao longo do tempo.

Desde os tempos antigos que a sua significação tem-se alterado, no entanto,

há qualidades que se repetem e essas são independentes da época e da

cultura. Para termos a percepção dessa evolução, seguiremos com algumas

definições de Herói e, posteriormente, a manifestação do mesmo no campo

desportivo, o Herói Desportivo.

De acordo com Curtius (1963; in Berg, 1998), a primeira aparição

impressa da palavra “herói” foi na Ilíada de Homero e, como nos lembra Arendt

(1958; in Berg, 1998), o herói foi um narrador ligado a cada homem livre que

tinha lutado, cujas obras podiam ser narradas numa história.

Na perspectiva de Brandão (1999; in Rubio, 2001) herói é o nome dado

aos homens muito corajosos e com mérito superior. É uma idealização; na

antiga Grécia estampava o protótipo imaginário da kalokathía, a “suma

probidade”, o valor superlativo da vida helénica. O termo herói aparece-nos

contextualizado podendo, assim, ser mais bem entendido como um aspecto

cultural e, como confirmaremos posteriormente, como parte de colecções de

símbolos ou totens da sociedade. O herói é uma figura humana que serve

como objecto de admiração, aspiração e, por vezes, veneração (Strate, 1985),

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REVISÃO DA LITERATURA

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ou seja, o verdadeiro herói tem responsabilidades morais e sociais (Harris,

1994).

Numa perspectiva mais “sagrada”, façamos uma referência ao conceito

de mito de Eliade (1965), em que o mito conta uma história sagrada, relata um

acontecimento que teve lugar no tempo primordial, o tempo fabuloso dos

“começos”; o mito só fala do que realmente aconteceu, daquilo que se

manifestou plenamente. As suas personagens são Seres Sobrenaturais,

conhecidos sobretudo por aquilo que fizeram no tempo prestigioso dos

“primórdios”.

O herói, enquanto figura mítica, representa o mortal que, transcendendo

essa condição (de mortal), aproxima-se dos deuses pelo feito concretizado

(Rubio, 2001). E, uma vez mortal (humano) insere-se num contexto social,

numa sociedade, onde irá encarnar alguns dos atributos do mito. Vai, então,

afirmar o mito, ele irá ilustrar a sua realidade, fornecendo soluções felizes ou

infelizes a situações míticas. O herói pode violar as regras, tornando-se

necessária a existência de um ritual que serve para incluir o indivíduo na

atmosfera mítica (Caillois, 1990). Os heróis são os únicos seres que penetram

num “centro”6, este que, em termos míticos e sagrados, é possuidor de grande

significado simbólico, onde as provas, os sentimentos, as suas peregrinações

sobrevivem aos sofrimentos e obstáculos que têm de suportar antes de

alcançar o seu objectivo (Eliade, 1990).

A “dinâmica” e a “fisiologia” dos espaços sagrados permitem constatar a

existência de um espaço sagrado como arquétipo que as hierofanias e a

consagração de qualquer espaço procuram “realizar”. O Homem tende, mesmo

nos mais baixos níveis da sua experiência religiosa “imediata”, a aproximar-se

do arquétipo e a realizá-lo (Eliade, 1965). Entende-se, deste modo, que,

efectivamente, orientamos as nossas acções e convicções num sentido que

consideramos exemplar.

6 É centro todo o espaço consagrado, ou seja, todo o espaço no qual podem ter lugar as hierofanias (sacralização do

profano) e teofanias (aparições ou revelações de Deus) e no qual se verifica uma possibilidade de ruptura de nível

entre o Céu e a Terra. No centro do mundo encontra-se a “montanha sagrada”, e é aí que o Céu e a Terra se

encontram (Eliade, 1965).

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Smith (2004) sublinha o lugar dos heróis como âncoras que afirmam

formas biológicas (étnicas) de identidade e a sua contribuição para a cultura

(nacional), sentidos de pertença, através da recordação das suas acções e

virtudes. É através da antiguidade e tradição, características intrínsecas que

emergem através dos mitos e em mitos de uma "idade de ouro" que,

funcionando dentro de uma vasta política cultural de nacionalismo e nostalgia,

situam o herói numa narrativa de ascensão e queda, que é crucial para a

compreensão da nação em relação ao seu passado, presente e futuro

(Gilchrist, 2006).

O herói é, por natureza, um ponto de referência colectiva, promovendo

um sentido de identidade, estatuto e orgulho para as comunidades, sejam

cidades, regiões, nações, supra-nações ou comunidades formadas “fora da

pátria”. Apesar disso, a lógica totémica, que se refere às relações políticas e

culturais modernas que estabeleceram o corpo atlético como uma marca de

identidade, não se restringe apenas à “nação” porque mesmo depois da era do

herói arquétipo, heróis e heroínas continuam a levantar um eterno diálogo com

a identidade e identificação (Gilchrist, 2006). São dotados de uma capacidade

especial para imputar sentido e significado simbólico, tornando-os objecto de

investimento emocional colectivo. No entanto, embora o processo de

identificação possa ser reverencial, as suas realizações são culturalmente e

historicamente específicas. São parte de um sistema social semi-religioso. Os

heróis contribuem para um sentido de pertença a uma comunidade e, através

de uma série de práticas seculares rituais e cerimoniais, exalta-se os

participantes na identificação das suas virtudes orais e físicas. As reputações

são criadas de acordo com exemplares históricos e estruturas linguísticas para

interpretar os sentidos da acção e para atribuir-lhes um valor especial. Este é

um duplo processo. Por um lado, o nosso entendimento do heróico é

condicionado por uma linhagem de exemplos anteriores, por outro lado, a

história desenvolve e, com ela, o nosso entendimento daquilo que constitui o

acto heróico (idem). Neste sentido, o entendimento do que consideramos

heróico tem vindo a alterar-se, fruto do ambiente cultural e social em que a

nossa sociedade se desenvolve.

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REVISÃO DA LITERATURA

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Em conjunto com esta visão, existe agora uma vasta selecção do

arquétipo do herói, oferecendo antigos mitos em novos modelos. Seja qual for

o caso, o herói continua a proporcionar a mudança dos valores e mitos sociais

e deve continuar a ser analisado como uma expressão de ambos. Os valores e

atributos apresentados pelo herói desportivo dizem-nos o que a sociedade

considera de maior valor, por consubstanciarem uma comunidade distinta na

maneira de ser, são marcadores de identidade e diferença. Estão gravados nos

corações das comunidades como lembranças prestigiosas, como tradição

(Gilchrist, 2006).

Como podemos constatar, para se adquirir o estatuto de herói deve-se

possuir características peculiares que desfilam num caminho único, dignas de

uma adoração colectiva. No sentido de um caminho envolto de peregrinações,

de batalhas que levam o herói à vitória da “guerra” atingindo o seu objectivo

último. Importa referir que esse percurso, essa vida heróica, apresenta

características que necessitam de um certo relevo.

Se a vida quotidiana gira em torno do mundano, como um dado

adquirido e ordinário, já a vida heróica aponta para a rejeição dessa ordem

para a vida extraordinária que ameaça não só a possibilidade de regressar às

rotinas do dia-a-dia, mas também implica o risco da própria vida deliberada

(Featherstone, 1992). O ponto central da vida heróica está na coragem para

lutar e realizar objectivos extraordinários, a busca da virtude, glória e fama,

pelo sacrifício, bravura e espírito de aventura. Em contraste, as buscas

inferiores do quotidiano, relativas à procura de riqueza, propriedade e amor

mundano. Assim sendo, a vida heróica pertence à esfera do perigo, violência e

risco (idem). Para Featherstone (1992), a vida quotidiana caracteriza-se por ser

rotineira, repetitiva e mundana, enquanto a vida heróica é cheia de momentos

de auto-definição em que as adversidades são superadas por actos de

coragem e sacrifício, como já referimos. Um sacrifício que pode ser entendido

como algo compensador. Ernst Becker (1973; in Seale, 1995) lembra mesmo a

particular ligação do heroísmo com o lado oposto da morte, na medida em que

desde os tempos antigos, o herói era o homem que podia entrar no mundo

espiritual, o do morto, e regressar vivo.

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O termo "herói", como se verifica, é usado de várias maneiras e, embora

surjam (como verificaremos) diversos conceitos, tendo-os como sinónimos,

com o objectivo de definir uma pessoa cujos feitos são admiráveis,

aproximando-a do sagrado, podemos encontrar algumas diferenças entre

essas concepções. Essas diferenças estarão mais explícitas aquando a

definição do Herói Desportivo. Aliás, poderá afirmar-se que o desporto nas

nossas sociedades é um excelente campo para as atitudes heróicas, para a

passagem a “outro nível”.

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REVISÃO DA LITERATURA

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2.1 O Herói Desportivo

O Desporto quando entendido como mito social é frequentemente

consubstanciado nos Heróis Desportivos (Rubio, 2001). O Desporto e os

Heróis Desportivos servem uma sociedade pela sua transmissão de mitos e

valores sociais fundamentais, na medida em que os atletas que conseguiram

repetir os seus feitos históricos por mais do que uma vez são lembrados pelos

jornalistas como também pelo espectador em geral e, assim, preservam a sua

condição de mito (idem). Pode dizer-se que o desporto é uma forma camuflada

que o mundo moderno conseguiu para repetir os rituais de construção, mesmo

se na aparência essa actividade é uma experiência profana (Garcia, 1993). De

facto, o desporto dá oportunidade aos indivíduos de se confrontarem com

outros, de serem julgados pela sua performance competitiva, sendo a mais

primitiva e natural forma de interacção entre humanos, e apresenta-se como o

estado natural da sociedade (Izod, 1996). Esta, por sua vez, pode identificar-se

através dos seus heróis.

É nesta perspectiva de identificação que (Gilchrist, 2006) refere que a

relação entre o corpo, cultura física e identidade nacional são o cerne do

entendimento totémico do herói desportivo. O termo ‘totetismo’ é usado para

reconhecer as relações políticas e culturais modernas que estabeleceram o

corpo, neste caso, o corpo desportivo e atlético, como uma marca de

identidade e diferença, e o desporto é um excelente palco para fazer esta

alegação. Como tal, os heróis desportivos estão presentes no espectáculo e na

ostentação da comunidade e são elevados em mitos, símbolos, estátuas,

práticas cerimoniais e lugares sagrados (Holt. R., Mangan. J., & Lanfranchi. P.,

1996). No entanto, esses heróis, passe a expressão, diferem e assemelham-

se.

É nesta perspectiva que Holt (1999) sugere que os heróis têm pontos em

comum, qualidades como coragem e força de vontade, são vistos como uma

representação de características como, força, bravura, resistência e poder,

todas evidentes no discurso desportivo. Reflectem coragem, integridade,

competitividade e sucesso, possíveis de desenvolver através dos esforços

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desportivos (idem), mas também têm características nacionais e sociais

específicas.

Assim, fazendo uma referência mais específica, uma vez que o nosso

objectivo se aprofunda num iminente Herói Desportivo Nacional – João Garcia,

faremos alusão a esta “personagem”, ou seja, um herói no campo desportivo

que se poderá assumir como uma identidade nacional.

Há “aqueles” que são famosos e têm o estatuto de herói no seu desporto

e outros cuja fama ultrapassa os limites do campo desportivo. Existem muitos

heróis desportivos, mas poucos concretizam o próximo passo e se tornam

heróis aos olhos do público que não está envolvido no mundo do desporto. Há,

portanto, poucos "heróis desportivos nacionais” (Radford, 2005).

Neste sentido, para que não haja uma equívoca definição de conceitos,

deve-se salientar o facto de haver uma distinção entre estrelas desportivas e

Heróis Desportivos Nacionais, cujas características e importância para a nação,

segundo Radford (2005) definem-se da seguinte forma: grande publicidade é

um elemento importante na criação de um herói desportivo nacional; o

reconhecimento público desse herói estende-se muito além daqueles que

seguem ou se interessam pelo desporto, de modo a incluir uma grande porção

da população; um herói desportivo nacional deve mostrar coragem em assumir

adversários admiráveis numa forma espirituosa e resoluta; o reconhecimento

público estende-se para além da própria carreira desportiva e pode durar toda

a vida; pode não ser o melhor na sua actividade desportiva mas deve ter, pelo

menos, um sucesso significativo num evento de interesse do público geral; o

herói desportivo nacional pode ter falhas que são bem conhecidas do público,

mas que estes ignoram; um herói desportivo nacional terá tido sucesso contra

um adversário formidável e terá provocado sentimentos no público geral que se

desenvolvem a partir do interesse à admiração, orgulho, gratidão e,

eventualmente, carinho; a atitude do público que leva ao aparecimento desse

mesmo herói evolui a partir de um conjunto de sentimentos (já referidos

anteriormente); não tem, necessariamente, que vir a partir do seu país ou a

partir do mesmo grupo étnico que faz dele um herói; possui muitas das

características que o próprio país acredita que ele tem, ou deseja que ele

tenha; ele (herói) torna possível ao público acreditar nele próprio; tempos de

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REVISÃO DA LITERATURA

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insegurança nacional são mais susceptíveis de produzir heróis desportivos

nacionais; elevam os espíritos de uma nação e induzem esperança. Todos

estes aspectos fundamentam a ideia de que, ao contrário de outras esferas

onde os génios aparecem como "criaturas especiais," os heróis desportivos são

vistos "mais como nós." Talvez porque nos dão esperança e elevam os nossos

espíritos porque vemo-nos neles, não como somos mas como gostaríamos de

ser (Radford, 2005).

A “lista” de características acima referida é selectiva e especulativa, na

medida em que foram identificadas nas experiências de vida de Tom Cribb, um

pugilista considerado o primeiro herói desportivo britânico por ter derrotado um

outro pugilista dos Estados Unidos. Não obstante, algumas das mesmas

características parecem estar à vista nos heróis desportivos nacionais do

século XXI, nomeadamente quando pensamos em atletas nacionais como por

exemplo, Luís Figo, Eusébio… Desta forma, percebemos que algumas das

características parecem específicas da época e cultura em que aparecem,

enquanto outras parecem mais universais.

Feita uma enunciação dos conceitos relevantes para este capítulo,

iremos reportar-nos ao caminho para desenvolver a identidade de herói

desportivo, que envolve várias etapas comuns ao mito: A chamada para a

prática desportiva implicando, muitas vezes, o confronto com um mundo

desconhecido, provido de imensos perigos. A iniciação, um caminho de provas

que envolve persistência, determinação, paciência e também sorte. A coroação

dessa etapa que, seja em que modalidade for, está reservada aos verdadeiros

heróis, onde desfrutam essa mesma condição de herói. Finalmente, o retorno,

muitas vezes negado por devolver ao herói a sua condição de mortal (Rubio,

2001).

Esta sequência enquadra-se na perspectiva de Garcia (1993)

relativamente à dramatização mítica onde se vivem três grandes provas e que

podem ser identificadas no alpinismo. Pereira (2004) faz mesmo essa analogia.

Na primeira, a prova qualificante, é feita a escolha dos heróis para a aventura

da prova principal, por exemplo, a partida para uma expedição ao Evereste,

onde são inúmeras as provas com o objectivo de testar a capacidade do

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

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pretendente digno desse nome. Na sua prova principal – a ascensão - os

obstáculos inerentes à actividade em causa (alpinismo) terão de ser

ultrapassados e, com a chegada ao cume, segue-se o reconhecimento do

mérito, na prova glorificante. Esta última, no caso do alpinismo, só é

completada com o regresso são e salvo ao campo base (Pereira, 2004).

Este caminho tem início na partida de um herói proveniente de um

mundo quotidiano para uma aventura num outro espaço sobrenatural. Há,

portanto, uma alteração da rotina de vida e da organização familiar

estabelecida. É esta aventura o primeiro passo para a jornada mitológica. A

razão da existência do herói é a luta (Rubio, 2001). Luta que envolve um

percurso de sacrifício porque o herói batalha com o seu lado escuro e, durante

essa luta, pode sofrer injúrias (Harris, 1994). Talvez seja o que o distingue dos

outros seres humanos.

O atleta, e também o alpinista, apresenta-se como um Homem fora do

comum e constitui um modelo para os seus irmãos (Costa, 1994). Esta

caracterização está fortemente marcada pelo arquétipo do herói (Rubio, 2001).

Isto, porque segundo (Typac, 1994) o processo de fabricação mítica de hoje

não é diferente da do passado, o que nos permite comparar os campeões

desportivos contemporâneos com os heróis que se configuram como

arquétipos.

Desta forma, o desportista, mais especificamente o alpinista, sem perder

a sua condição humana, aproxima-se da divindade. Tal como outros atletas e

heróis, o alpinista tem que se submeter a provas que o encaminhem ao mais

alto. Para tal, como refere (Menezes Costa, 2001), ele tem que descer

profundamente a si mesmo, reconhecer os seus limites e paixões, para assim

os poder controlar.

Ao longo dos parágrafos precedentes expusemos diferentes

perspectivas, de diferentes autores, sobre o entendimento tradicional do Herói,

bem como das possíveis nuances do termo. Posteriormente, especificámos

esse enquadramento ao nível desportivo. Percebe-se pelo referido que, de uma

forma mais geral, debruçámo-nos sobre o herói tradicional, que apresenta

características superiores que, pela luta e sacrifício se aproxima da divindade,

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REVISÃO DA LITERATURA

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sendo valorizado pelos seus feitos… heróicos. No entanto, ficou implícita a

alteração e proliferação dos tipos de herói, formando um continuum entre o

tradicional e o contemporâneo, intimamente relacionado com a conjectura

actual dos meios de comunicação social. É neste campo, dos media, mais

especificamente, na imprensa escrita, que tentaremos alcançar a possibilidade

da existência de uma heroicidade relativamente a João Garcia. Também, aferir,

caso se verifique a hipótese colocada, em qual dos enquadramentos do tipo de

herói se encontra o alpinista português. Então, na sequência da breve

elucidação do que representa o herói e como o desporto pode ser considerado

um “palco” para atitudes heróicas, consubstanciadas nos heróis desportivos,

daremos agora ênfase à relação do herói desportivo com os media, na medida

em que é através dos meios de comunicação social que construímos as nossas

percepções acerca das coisas, do mundo e, mais especificamente, dos nossos

heróis sendo, deste modo, a proliferação dos tipos de herói reforçada pelo

crescimento dos meios de comunicação social.

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3 Representação do Herói Desportivo nos Media

3.1 Noção de Representação Social

Os anos 50 são lembrados na Psicologia Social como o período de uma

“revolução cognitivista”. Como resultado, em 1961, com a publicação de

Psychanalyse: son image et son public, o psicólogo social Serge Moscovici

desenvolve a Teoria das Representações Sociais (TRS), onde propõe a

investigação da construção do senso comum com o objectivo de compreender

a relação influenciadora do social, incluindo o papel dos meios de comunicação

social, nos indivíduos e nos grupos sociais.

Já na Comunicação Social, o fim das décadas de 60 e 70 é marcado

pela fase de renovação dos paradigmas aquando do interesse pelas teorias

cognitivas e o retorno da defesa dos poderes dos mass media. Nesta fase

surge a crítica às teorias dos efeitos limitados e indirectos e ao conceito de

exposição selectiva por Elizabeth Noelle-Neumann na Teoria da Espiral do

Silêncio7. Também, neste período, nasce a Teoria Cognitiva do Agenda-Setting

cuja ênfase é dada aos processos de significação e análise dos mesmos.

A Teoria do Agenda-Setting e a TRS têm em comum o interesse na

relação do indivíduo com a sociedade, com o seu grupo e com a sua identidade

e o papel de organizador social dos media. Distinguem-se pela forma como

analisam os efeitos dos media: a primeira tem os media como objecto principal

e a segunda observa-os como mais um elemento influenciador e não como

objecto principal (Pavarino, 2003).

7 A Teoria da Espiral do Silêncio, proposta, em 1973, pela socióloga alemã Elisabeth Noelle-Neumann, reflecte sobre a

relação entre os meios de comunicação e a opinião pública, representando uma ruptura com as teorias dos efeitos

limitados da comunicação social. Enquanto estas últimas enfatizam os mecanismos de resistência à persuasão e as

múltiplas mediações para evidenciarem que os efeitos dos meios são fracos, limitados e relativos, já as ideias da

autora, conciliadas com as hipóteses do agendamento e da tematização, contribuíram para recuperar a visão de que a

comunicação social tem efeitos poderosos e directos sobre a sociedade e as pessoas (Sousa, 2006).

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REVISÃO DA LITERATURA

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Uma vez que o nosso trabalho detém como objectivo central o estudo

das RS do Alpinismo nos Media, torna-se indispensável uma breve exposição

da TRS.

O termo representações sociais é encontrado com significados

diferentes. A título de exemplo, o psicólogo Celso Sá (1998; in Pavarino, 2003)

refere o uso como derivação genérica de representação para o campo do

pensamento social, sob a perspectiva de Berger e Luckmann: construção social

da realidade.

Como já referimos, o surgimento da TRS por Serge Moscovici, sugere a

existência de um pensamento social resultante das experiências, das crenças e

das trocas de informações presentes na vida quotidiana. A análise do autor

desenvolveu-se baseada no facto de que a sociedade actual, mais técnica e

complexa, necessitaria de um conceito menos genérico que as representações

colectivas de Durkheim, relativo aos costumes, crenças e mitos das sociedades

tradicionais (Amaral, 2005). Isto, para compreender como ocorre a formação do

pensamento e do conhecimento social. Não se resumindo aos acontecimentos

culturais ou políticos, este fenómeno constitui uma forma de pensamento social

que inclui as informações, experiências, conhecimentos e modelos que,

recebidos e transmitidos pelas tradições, pela educação e pela comunicação

social, circulam na sociedade (Pavarino, 2003).

Para “provar” a credibilidade da sua teoria, Moscovici procurou descobrir

como ocorreria a apropriação do conceito científico da psicanálise pela

sociedade francesa. Acreditava que a guerra e a instabilidade social, a

inquietude e ansiedade fariam com que o público leigo adaptasse conceitos

formais difundidos pelos meios de comunicação e pelas pesquisas científicas

em algo mais sensível e diferente ao pretendido pela comunidade científica.

Deste modo, o conceito de psicanálise – ciência que se propõe a “esclarecer a

natureza social” – transforma-se no conceito de representação social (idem).

As Representações Sociais (RS) alimentam as práticas culturais em

vigor na sociedade, perpetuando-as ou transformando-as (Sá, 1998; in

Pavarino, 2003), exercendo o papel de integração, de estruturação das

identidades individuais e grupais e de comunicação social. As RS são

compostas por dois universos de pensamento, o consensual e o reificado. O

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primeiro é o lugar onde as RS são produzidas, onde o conhecimento é

espontâneo. Refere-se às noções apreendidas e compartilhadas na escola, em

casa, na rua ou pelos media, sobre diversas temáticas (Moscovici, 1981; in

Pavarino, 2003). Aqui, os indivíduos podem falar pelo grupo e serem protegidos

por ele e, tal facto é que torna possível a vida social. Por outro lado, o universo

reificado é o científico.

Para ilustrar a sua teoria, Moscovici desenvolveu alguns conceitos que

contribuem de forma significativa para os trabalhos sobre os media (Sá, 1998;

in Pavarino, 2003). Como processos formadores - ancoragem e objectivação, o

princípio da transformação do não-familiar em familiar, os sistemas de

comunicação: difusão, propagação e propaganda.

A finalidade de qualquer representação é a familiaridade, ou seja, fazer

com que algo antes desconhecido se torne mais familiar e mais facilmente

compreensível. Para isso, dois processos são utilizados: a ancoragem e a

objectivação. Pela ancoragem, que lida com a fase simbólica da representação,

o objecto estranho adequa-se a um arquétipo já existente, sendo reajustado

para se encaixar numa determinada categoria, classificando-o e nomeando-o

(Pavarino, 2003) e visa facilitar a interpretação, permitir a compreensão de

intenções ocultas e formar opiniões (Amaral, 2005). Oliveira & Werba (1998; in

Amaral, 2005) destacam que a ancoragem é sempre provida de um juízo de

valor, uma vez que as classificações não são isentas de subjectividade. Já a

objectivação, a fase figurativa, torna uma ideia icónica, transformando-a em

imagem, na medida em que procuramos aliar um conceito com uma imagem,

descobrir a qualidade icónica, material, de uma ideia, ou de algo duvidoso

(idem). É o resultado da capacidade que o pensamento e a linguagem

possuem de materializar o abstracto, elaborando um novo conceito a partir dos

registos individuais existentes (Pavarino, 2003). De salientar, que a ancoragem,

que pode preceder ou seguir o processo de objectivação, pode servir, no

primeiro caso para integrar as novas informações em categorias que o sujeito

já possui, fruto de experiências anteriores, ou na segunda hipótese, atribuir

sentido a acontecimentos, comportamentos, pessoas, grupos ou factos sociais

que assim exprimem e constituem as relações sociais (Moscovici, 1976). Após

a definição de um dos principais conceitos - chave deste trabalho, importa

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REVISÃO DA LITERATURA

51

especificarmos os efeitos dos media na sociedade e, uma das formas de o

fazer está patenteada na Teoria do Agenda-setting.

A hipótese da Agenda Setting (uma das teorias da comunicação de

massa), criada por McCombs & Shaw (1972) e elaborada a partir do estudo da

campanha eleitoral para a Presidência dos Estados Unidos, em 1968, surge

pela constatação de um alto grau de correspondência entre a quantidade de

atenção dada a determinada questão pela imprensa e o nível de importância a

ela atribuído por pessoas da comunidade que estiveram expostas aos media.

Como refere Sousa (2006), a teoria destaca que os meios de comunicação têm

a capacidade (não intencional nem exclusiva) de agendar temas que são

objecto de debate público em cada momento.

O aparecimento da Teoria do Agenda-setting representa uma ruptura

com o paradigma funcionalista sobre os efeitos dos meios de comunicação. Até

então, e sobretudo nos EUA, prevalecia a ideia de que a comunicação social

não operava directamente sobre a sociedade e as pessoas, já que a influência

pessoal (por exemplo, a influência dos líderes de opinião) relativizaria, limitaria

e mediatizaria esses efeitos. A Teoria mostra, pelo contrário, que existem

efeitos cognitivos directos, pelo menos quando determinados assuntos são

abordados e quando estão reunidas certas circunstâncias.

A teoria do Agenda-setting propõe a influência dos media sobre o que é

comentado, discutido e pensado na esfera social. São o principal meio de

ligação entre os factos e a opinião pública. Dizem ao público o que pensar e

como pensar acerca de determinado assunto (Kosicki, 1993). Este conceito

tem como ideia básica o facto de os media terem a capacidade de influenciar a

proporção e importância que um determinado assunto pode adquirir na opinião

pública, justificando-se o facto de serem um elemento importante na

construção da realidade social (McCombs & Shaw, 1972). McCombs (2005)

afirma mesmo que os media constroem a maioria do nosso conhecimento

acima da nossa experiência directa e desempenham um papel de extremo

relevo ao moldar as nossas representações do mundo. E usamos as imagens

do mundo criadas pelos media para dar significado acerca de assuntos

políticos e sociais (Gamson et al, 1992 in Pereira, 2009) bem como do âmbito

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

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desportivo (Pereira, 2009). Esta hipótese vai ao encontro do pensamento de

Moscovici: sobre como os agentes produtores organizam as informações que

serão divulgadas e como a opinião pública absorve estas informações. O

choque de opiniões e sentimentos que a discussão sobre a notícia produz

culmina normalmente na produção de um determinado tipo de consenso ou

opinião colectiva – denominada opinião pública. Ou seja, é baseada na

interpretação de acontecimentos presentes, de notícias, que se constitui a

opinião pública (Park, 2002).

As notícias reflectem a sociedade, apresentam à sociedade um espelho

das suas preocupações e interesses. As concepções modernas de notícia

desenvolveram-se em conjunto com a estrutura social norte-americana. A

imprensa proporcionou o aparecimento, em simultâneo, de novos capitalistas e

de novas definições de democracia, mas está, também, indissociavelmente

ligada a estes mesmos fenómenos. Criou a distinção entre moralidade pública

e privada, ao assumir a noção de informação pública difundida para benefício

privado (empresarial) (Tuchman, 2002).

Contudo, até que a notícia seja visível, um veículo mediático, seja ele

qual for, necessita de desencadear um processo que lhe permita a selecção

dos factos, que vão surgindo a cada segundo. Assim, é definida a

noticiabilidade de um facto ou acontecimento, imprescindível no processo de

construção da realidade (Ponte, 2004). Numa segunda fase surge o que pode

ser considerado uma componente da noticiabilidade: o valor-notícia. Esta

componente é um critério aplicado pelos jornalistas e editores de redacções

que lhes permite perceber até que ponto um acontecimento pode ser

transformado numa notícia que interesse o público (McQuail, 2003). Pesquisas

realizadas no âmbito do Agenda-setting mostraram que quanto maior é a

ênfase dos media sobre um tema e quanto mais continuada é a abordagem

desse tema, maior é a importância que o público lhe atribui na sua agenda

(McCombs & Shaw, 1972). A influência dos media, no entanto, depende,

segundo McCombs (2005), das pessoas e do contexto de recepção, sendo

maior sobre as pessoas que menos dominam os assuntos, pouca experiência

directa têm dos mesmos e mais necessitam de informação. Isto vai ao encontro

do que (Wolf, 2003) denomina de centralidade - a escolha dos temas que estão

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REVISÃO DA LITERATURA

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em sintonia com as experiências pessoais do público. Esta característica

relaciona-se com o facto de quanto menor a “experiência directa, imediata e

pessoal” que o público tiver com o tema, maior influência ele receberá. Essa

influência será somente possível através da comunicação, sendo a

comunicação interpessoal essencial para a construção das RS, em que a

linguagem é a sua principal forma de concretização. É através da linguagem

que os objectos da vida quotidiana ganham significação, pois ela é o principal

sistema de sinais da sociedade. É o repositório de vastas acumulações de

significados e experiências que pode, então, preservar-se no tempo e

transmitir-se às gerações seguintes (Berger & Luckmann, 1995). Por meio da

linguagem podemos identificar traços de mudança social ou tentativas de

manutenção do status quo. A linguagem ajuda a materializar a realidade por

meio de recursos como a ancoragem e a objectivação, destinadas a tornar

familiares objectos antes desconhecidos (Amaral, 2005). Sendo o uso da

linguagem como forma de prática social, o discurso, uma prática de

representação e de significação do mundo (Fairclough, 2001; in Amaral, 2005).

Depois de percebermos o uso da linguagem na construção do real,

especificamente no discurso mediático, importa, então, percebermos qual o

papel específico dos meios de comunicação social nessa mesma construção.

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3.2 O poder dos Media

A noção de media contém a noção de intermediário. Os media - ou

meios de comunicação - são dispositivos tecnológicos que suportam

mensagens e permitem a sua difusão. São intermediários entre um ou mais

emissores e um ou mais receptores. Quando usados como um veículo de

difusão de mensagens para um elevado número de receptores, podem ser

designados por mass media. Há vários meios de comunicação social. A rádio,

a televisão (e outros suportes audiovisuais), a imprensa (jornais, revistas,

livros), o cinema, a fotografia, os discos (e similares) são alguns dos exemplos

que podem ser recordados (Sousa, 2006).

Nas sociedades contemporâneas ocidentais, pode-se afirmar que o

papel dos mitos e crenças das antigas representações colectivas foi substituído

pela acção dos meios de comunicação das actuais representações sociais na

construção da realidade. O senso comum deixa de ser constituído somente

pelo mito e passa a basear-se nos media, em primeiro lugar (Amaral, 2005).

Mas, para tal, exige-se algo que faça com que as sociedades deliberem essa

influência no que respeita à aquisição de conhecimento. Schutz e Luckmann

(2003; in Amaral, 2005) referem que a credibilidade é a dimensão mais

importante na aquisição desse mesmo conhecimento. E, como o discurso é

apreendido pelo senso comum como um discurso de autoridade, de quem sabe

mais para quem sabe menos, ele conta com um grau elevado de credibilidade.

Para comprovar a sua teoria sobre a construção mediática da realidade,

Mayo (2004; in Amaral, 2005) cita duas vertentes de estudo: a linha de

investigação dos efeitos ecológicos da produção mediática da realidade social,

proposta por Meyrowitz em meados da década de 80, e a linha da análise de

cultivo, a cargo de Gerbner e da Annenberg School of Communications, que

surgiu em meados da década de 60. Estas linhas de análise derivam da análise

macro-sociológica da comunicação (acerca das instituições sociais e da

influência sociocultural), e da subdivisão clássica entre a referida e a micro-

sociológica da comunicação (sobre as rotinas jornalísticas). Meyrowitz observa

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REVISÃO DA LITERATURA

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a passagem dos tempos pré-mediáticos para o dos meios electrónicos. Em que

no primeiro grupos sociais de diferentes níveis de autoridade cumpriam os seus

papéis complementares, com pontos de vista diferentes, no palco ou nos

bastidores da acção social. Posteriormente, no tempo dos meios electrónicos, o

acesso às informações deixa de ser tão delimitado pela estrutura de grupos

sociais, o acesso aos produtos mediáticos torna-se igualitário. No entanto, a

que se tornou referência foi a segunda linha porque o seu principal teórico,

Gerbner, deu início aos estudos sobre como os programas televisivos afectam

o extravaso sociocultural. Assim, a hipótese desta escola é que quanto mais

tempo alguém passa em frente ao ecrã, mais vai perceber a realidade de

maneira congruente com aquelas representações sociais. E, na perspectiva de

Gerbner, (Amaral, 2005), os meios de comunicação social são o mais

importante veículo de apreensão da realidade, ultrapassando instituições como

a família, a igreja e a escola. Não obstante, diferentes espectadores vão

receber as mesmas informações de formas diversas. Distingue-se, também, o

modo como os espectadores enfrentam os conteúdos mediáticos, ou seja, se

são passivos ou assumem uma postura crítica – estes últimos avaliam os

conteúdos activamente, entendem que há excepções àquilo que é mostrado e

lembram melhor os assuntos apresentados. O conhecimento advindo dos

media não é oferecido ao público como um dos possíveis mas como o único

possível, o que faz das representações por eles difundidas objecto de

conhecimento comum, recíproco e óbvio.

Luhmann (2000), que oferece uma visão sistémica da comunicação,

refere que o mecanismo que o sistema da comunicação de massa usa para

verificar a realidade, é apresentar as opiniões sobre os acontecimentos como

se fossem os próprios acontecimentos. E, Vilches (1993; in Amaral, 2005) no

sentido de que os meios de comunicação determinam a nossa percepção

sobre os factos, normas e valores da sociedade, aponta que os jornalistas não

fornecem ao público a verdade, mas apenas programas espacial e

temporalmente delimitados. Pode-se perceber que os meios de comunicação

de massa apresentam as suas versões dos factos como verdades absolutas,

como realidade objectiva. E, como são considerados de grande credibilidade

por parte dos espectadores, são essenciais na construção do real, adquirindo

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

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mais importância até mesmo que instituições como a família, a igreja e a

escola, como referido anteriormente.

Na perspectiva das representações sociais, os indivíduos, não sendo um

mero receptáculo de imagens, quando interpretam, organizam e relacionam

aquilo que lhes chega do exterior, estão eles próprios a ser responsáveis por

novas criações (Ramos, 2004). Daqui, decorre que para o estudo das

representações sociais tenhamos de as considerar na sua dupla vertente de

reprodução e de construção (idem). Admite-se, então que, também

relativamente ao alpinismo, os indivíduos não se limitam a interiorizar de modo

passivo as informações. Além disso, a forma como os amigos, os familiares e

os meios de comunicação social, concebem o alpinismo (valorizando-o mais ou

menos) contribui, conjuntamente com a sua experiência individual, para a

forma como o indivíduo vai construindo a sua representação do alpinismo.

Neste processo de estruturação das práticas sociais, as representações

são elas próprias estruturadas, não apenas por factores de ordem cognitiva e

cultural, mas também pelas condições materiais de existência do meio social

em que os indivíduos se inserem e pelas experiências individuais de cada um

(idem).

Tomando como ponto de partida que toda a actividade humana se

encontra alicerçada nas representações sociais, que a estruturam e

reestruturam e que são, por sua vez, estruturadas e reestruturadas pelas

vivências sociais (Ramos, 2004), é legítimo pensar que também, no

conhecimento acerca do alpinismo e dos seus heróis, as representações

sociais ocupem uma posição importante. É neste contexto que

desenvolveremos o subcapítulo seguinte, na medida em que analisaremos o

tipo de relação entre os heróis desportivos e os media, de modo a esclarecer

qual a visão que nos é proporcionada pelos meios de comunicação social.

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REVISÃO DA LITERATURA

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3.3 Os Heróis Desportivos nos Media

O estudo dos media e do desporto desenvolveu-se, principalmente,

desde 1980, prosperando na década de 90. Desde então, o interesse pelo

desporto em geral, e pela sua relação com os media em particular, tem-se

intensificado. Há inúmeros livros não académicos nesta área, desde biografias

e autobiografias de atletas como Michael Jordan a locutores como Les Keiter.

Também existe uma grande variedade de guias profissionais com o objectivo

de ensinar as técnicas, habilidades e operações necessárias à entrada bem-

sucedida no campo da distribuição de papéis no desporto. No entanto, houve

uma crescente quantidade da literatura académica. Nos últimos anos, o estudo

desta relação do desporto com os media tem sido tema central na Sociologia

do Desporto. O interesse recente dos media nos livros desportivos sugere a

variação e distribuição de tópicos típicos do campo, com o trabalho de

produção, orientação, análise textual e investigação da audiência relatada.

Muito mais recente no desporto mediatizado é a preocupação com o marketing

e mercantilização do desporto (Bernstein & Blain, 2003). E é neste contexto

que iniciaremos a nossa abordagem à relação do desporto e, mais

especificamente, dos heróis desportivos, com os media.

Reportando-nos agora ao “tema” deste subcapítulo, discorreremos sobre

a ligação do tipo de herói com o tipo de media envolvidos. Tal como

demonstrámos anteriormente, o significado de herói desportivo era o de uma

pessoa distinguível pela sua coragem e feitos, significado adaptável entre as

culturas e temporalmente (Lines, 2001), ou seja, a cultura persiste mas também

muda ao longo do tempo pela examinação das histórias dos heróis desportivos,

como eles são lembrados e relembrados em diferentes pontos do tempo. A

noção de herói é precisamente construída através das narrativas. A narrativa

não se limita apenas à esfera fictícia. Os meios de comunicação social, a fim

de tornarem os eventos significativos, caracteristicamente transformam-nos em

narrativas. Este processo de narração é particularmente evidente na cobertura

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dos eventos desportivos, já pré-estruturados com o seu próprio código

hermenêutico (quem vai ganhar, etc.). A cobertura desportiva é dominada por

estrelas que, como portadoras desse processo de narração, desempenham um

papel central nas estratégias empregues pelos media para ganhar e manter as

audiências (Whannel, 1999). As estrelas desportivas são, simultaneamente, o

produtor e o produto. Elas são as fornecedoras dos momentos mágicos e

“memórias de ouro” que permitem a sua elevação até ao heróico e mítico,

apesar de, ao mesmo tempo, serem transformadas em figuras comuns, mas

ícones, produzindo um imenso desejo público de conhecer essa “real” pessoa.

Da mesma forma que o termo herói, independentemente do campo em

que se manifesta, evoluiu, também este no campo desportivo sofreu as suas

alterações. O herói desportivo moderno é a integração inevitável do heróico e

celebridade e, a título de exemplo, claramente Michael Jordan incorpora as

características do herói desportivo moderno. A sua resistência, persistência e

proeza atlética colocaram-no totalmente acima de outros jogadores de

basquetebol (Berg, 1998), quer em termos desportivos, quer comerciais.

Assim como se deu a transição de uma cultura dominada pela imprensa

escrita para uma cultura dominada pelos meios de comunicação social

electrónicos, também os próprios heróis têm variado de cultura para cultura, de

tal forma que estão quase “irreconhecíveis” (Strate, 1985). A grande

transformação deu-se nos finais do século passado em que o molde do antigo

herói humano foi substituído por um novo. O herói da cultura impressa foi

substituído pela celebridade, ou seja, quem é famoso por ser conhecido, por

aparecer no meio dos media. A imprensa criou um novo tipo de herói, o autor,

tal como a media electrónica criou um novo tipo de herói, o

apresentador/animador, não mais importando a sua vocação primária como se

verifica, a título de exemplo, com os músicos. Já não lhes basta cantar, eles

devem produzir video clips (idem). Então, esses heróis modernos podem ser

produzidos pelos meios de comunicação social de forma a satisfazer as

necessidades do mercado. As estruturas míticas das imagens e dos

comportamentos são impostos às colectividades através dos media. Por

exemplo, as personagens de banda desenhada apresentam a versão moderna

dos heróis mitológicos, encarnando o ideal de uma grande parte da sociedade.

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REVISÃO DA LITERATURA

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Mais especificamente, o mito do Super-homem satisfaz as nostalgias secretas

do Homem moderno que, sabendo-se condenado e limitado, sonha revelar-se

um dia uma “personagem excepcional”, um “herói”. Os media também

mitificaram as personalidades, transformaram-nas em imagem exemplar

(Eliade, 1965).

Antigamente, o conceito de herói remetia-nos para as suas acções ou

ideias, mas o herói dos media electrónicos é conhecido pela sua imagem. A

chave desta alteração reside no conceito de fama, que se define como o

estado que existe quando a informação acerca de um assunto é amplamente

disseminada. Isto vai ao encontro de uma das principais características do

herói, na medida em que a informação sobre ele é também amplamente

divulgada e, desta forma, o herói pode ser visto como um fenómeno de

comunicação. Percebe-se, então, que o conceito de herói está dependente da

maneira como a informação é disseminada (Strate, 1985). Tornam-se heróis

famosos através do dominante meio de comunicação da sua cultura e quando

esse meio de comunicação dominante muda, o mesmo acontece com a

natureza do herói, da mesma forma que temos vindo a mudar de uma cultura

de imprensa escrita para uma cultura electrónica. Mas, também, o herói da

imprensa escrita substituiu o herói oral, onde a memória era o principal meio de

preservar a informação, daí serem considerados heróis mitológicos e,

consequentemente, figuras fortes, conhecidas pelas suas acções. Em

contraste, o herói da cultura impressa é caracterizado pelas suas ideias,

contudo, a acção ainda está presente mas sustentada pelas referidas ideias.

Com as referidas transformações no conceito de herói, relacionadas com as

alterações ocorridas nos meios de comunicação social, foi possível um número

cada vez maior de heróis. Este aumento justifica-se pelo facto dos programas

se centrarem no presente, o que favorece a rápida disseminação da

informação ao longo do espaço mas não a preservação da informação ao longo

do tempo. O herói dos media electrónicos será, provavelmente, esquecido e a

sua biografia de pouco interesse e, também o leal admirador transformar-se-á

num fã instável. Como já referimos, nunca houve tantos heróis como na cultura

electrónica (cultura dos media) mas por um período de tempo muito mais curto

(Strate, 1985).

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No que diz respeito à relação do desporto com os media propriamente

dita, pode afirmar-se que terá sido no início do século XX que se deram os

primeiros passos. No início do século XX foi observado que a actividade dos

negócios tinha adquirido “o carácter de desporto" (Weber, 1976). Até ao final do

século, o carácter do desporto havia sido radicalmente transformado, em

grande parte pelo mundo corporativo, pela actividade transnacional das

empresas e pela busca global de riqueza, bem como pelo desenvolvimento da

comunicação social e do crescimento da cultura de consumo (Sennett, 2006).

O desenvolvimento tecnológico da TV, principalmente na TV via satélite,

contribuiu de forma significativa para a globalização do desporto. Assim, a

importância económica da TV para o desporto é imensa, e começou a fazer-se

sentir, essencialmente, desde a II Guerra Mundial, iniciando os seus efeitos no

agendamento e organização dos eventos desportivos. Deste modo, percebe-se

o efeito da já referida teoria do Agenda-Setting no que respeita à opção por

determinado acontecimento desportivo (Pereira, 2009). Como o desporto

moderno se tornou num âmbito mundial, que tem perdido o seu carácter lúdico

e a sua prática profissional, converteu-se tanto num espectáculo mediático a

nível global bem como um sério e financeiro negócio, também global (Smart,

2007). Neste campo de mediatização, a importância da rotina de programação

mediática é que ela pode retransmitir os mitos e imagens que ressoam em

sintonia com os arquétipos antigos (como o do herói atlético) e de seguida

transforma-os em símbolos que transmitem variações sobre os mais velhos

valores em formas adaptadas às necessidades de hoje. Neste sentido, os

eventos dos media tendem a promover valores dominantes ou idealizados.

Como resultado, esses mesmos eventos têm a capacidade de integrar e unir

pessoas, até mesmo de dissolver divisões sociais, mesmo que

temporariamente. A principal atracção dos eventos mediatizados é o facto de

ressoarem com a mitologia humana e a fascinação com o transcendente

(Rivenburgh, 2002).

Durante o século XX, as sociedades comerciais reconhecem que poucos

ou mesmo quaisquer formas culturais têm tanto potencial para serem tão

cosmopolitas como os desportos modernos. Estes são significantes universais,

viajam através das fronteiras, ultrapassam as diferenças da política, cultura e

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REVISÃO DA LITERATURA

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religião, e promovem um sentimento de partilha de experiência positiva e um

senso comum de significado. Conseguem-no através de rituais do jogo

competitivo, eles mesmos reproduziram-se de forma universal pela constituição

de uma rede global desportiva. No entanto, esta mediatização tem um preço a

pagar, e um dos seus efeitos foi a modificação do próprio desporto. Essa

transformação, no sentido de um produto consumido através dos media, bem

como de o tornar valor-notícia (conceito abordado posteriormente) para a sua

disseminação nos mesmos media, gerou uma outra transformação, dramática,

produzida pelas forças económicas da TV. E terá sido através da

sponsorização que surgiram novas formas de desporto, como é o exemplo da

NBA, ligando-se o desporto ao mundo dos negócios (Pereira, 2009) a que o

crescimento da cobertura dos meios de comunicação social e referidos

patrocínios fizeram a contribuição decisiva (Smart, 2005).

A ampla comercialização do desporto, evidente pela primeira vez na

América, exemplificada pela cultura do desporto como um espectáculo de

entretenimento, a evolução da radiodifusão televisiva desportiva e a extensão

de uma cultura de celebridades, incluindo estrelas desportivas, parece

destinada a continuar a exercer uma forte influência sobre qualquer desporto

de forma a manter o seu lugar numa cultura global mediática (Witson, 1998).

De facto, parece consensual que o desporto global é hoje um crescente

negócio recompensador em termos financeiros. Visto o desporto ser, nos dias

de hoje, uma parte estabelecida de uma indústria de entretenimento global, os

desportistas abraçaram a noção de que têm uma responsabilidade não só

relativamente ao sucesso na competição mas também no facto de terem de

“entreter” os espectadores e leitores, participando na promoção do desporto

como espectáculo. Isto é feito com o apoio de agentes, conselheiros e meios

de comunicação consultores que comercializam as suas imagens para

empresas comerciais. Estas, por sua vez, procuram aumentar a

consciencialização global das suas marcas, aumentando a sua quota de

mercado mundial e ganhar uma vantagem sobre a concorrência. Isto, através

da implementação do imaginário desportivo e eventos desportivos mundiais de

grande prestígio, associados à publicidade nos meios de comunicação social,

envolvendo os produtos de alto perfil de celebridades desportivas como Tiger

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

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Woods, David Beckham, Maria Sharapova, entre outros, no produto e

promoção da marca (Smart, 2005).

Percebe-se, então, a existência do que alguns autores classificam de

“trindade invisível”: um “triângulo de ouro”, cujos vértices são o desporto

profissional, os media e a sponsorização, tendo todas as partes um lucro

substancial (Smart, 2007). E é neste triângulo que incluímos João Garcia.

Antes de entrar no “triângulo de ouro”, João Garcia teve que se tornar

num herói, possivelmente, arquétipo por um lado e, por outro, a necessidade

de se tornar num herói desportivo contemporâneo. Porque conseguiu alcançar

o estatuto de herói, João Garcia (o atleta profissional) pelos seus feitos

memoráveis, foi contactado por uma empresa para um patrocínio

(sponsorização). Desta forma, possui mais capacidade financeira, o que lhe

permite dedicar-se de “corpo e alma” ao alpinismo. Como tem mais tempo

dedicado à sua actividade, desenvolve o projecto “À conquista dos Picos do

Mundo”, o qual fará com que tenha mais visibilidade mediática (media), o que

interessa aos seus patrocinadores (Pereira, 2004). Ou seja, quanto mais

sucesso tiver nas suas ascensões, mais frequentemente aparecerá no mundo

dos meios de comunicação social e maior associação haverá entre si e o seu

patrocinador…e, mais uma vez, todos sairão a ganhar (Pereira, 2009)! E foi

precisamente na sequência de uma ascensão bem sucedida que tudo

começou.

Relativamente à ligação do Alpinismo, ou melhor, dos heróis do

alpinismo com os media, esta surge posteriormente à conquista do Monte

Evereste por uma mulher britânica, mãe de família e alpinista, Alison

Hargreaves, sem recurso a oxigénio artificial. Na altura, Verão de 1995 era

apenas a segunda pessoa a ter conseguido essa proeza, o que fez com

merecesse a classificação de Heroína. Dois meses se passaram até à tentativa

de repetir o feito mas nessa época no K2 (Gilchrist, 2007). Na descida, foi

capturada numa tempestade, o que lhe tirou a vida. Tudo isto atraiu os media

pelo menos durante mais uma década após o sucedido. Repercutiu-se num

debate nacional cuja questão em causa era a da apropriação moral de mães

em actividades de alto risco. Surge, deste modo, um discurso que distingue o

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REVISÃO DA LITERATURA

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que é ou não apropriado ao género feminino, inclusive, é posta em causa a

classificação de heroína por ter deixado os seus filhos. No entanto, outros

exploradores também deixaram as suas famílias quando se propuseram a uma

conquista individual gloriosa, não tendo sido alvo de debate e mesmo de

cancelamento das classificações de heróis, o que não aconteceu com Alison

Hargreaves, ideais baseados no arquétipo do herói britânico (idem)

notoriamente uma questão de género, a qual não debateremos neste trabalho8.

Esta relação dos media com o alpinismo começa, então, de forma

sensacionalista, na medida em que é a “desgraça/tragédia” que, inicialmente

atrai os meios de comunicação social, um dos valores-notícia (Gilchrist, 2007).

No entanto, muitos anos antes da revolução sensacionalista das

histórias sobre os perigos na tomada de risco, até mesmo sobre a morte, a

intrusão dos media na comunidade dos alpinistas, era vista com desconfiança e

inquietação. O alpinismo era visto como um assunto privado entre o Homem e

a montanha. Era uma actividade intrinsecamente valorizada. Inclusive, como

Eric Shipton, o principal alpinista himalaiano entre 1930 e 1950 referia, a

publicidade contaminava o real valor do alpinismo. Outros alpinistas aceitavam

melhor esta relação com os media mas nos seus próprios termos, aliado aos

seus próprios interesses Aliás, na década de 20 do século XX, era comum

vender os direitos das expedições a organizações jornalísticas em troca de

uma contribuição nas despesas da expedição. Como exemplo, o jornal diário

The Times, produzido no Reino Unido, goza de um monopólio nas reportagens

dos esforços britânicos nas expedições ao Evereste desde 1921 (Gilchrist,

2007).

Voltando ao que, inicialmente, caracterizou o tipo de interesse dos media

pelo Alpinismo, as histórias sensacionais, sobre a morte ou perto desta, na

montanha, pode-se dizer que continuam a vender. Em 1996, por exemplo,

numa tentativa de ascensão ao Evereste, oito alpinistas morreram, tendo sido

realizado um documentário acerca do acontecimento que, mais uma vez, teve

grande popularidade. Então, nesta fase, parece claro que a tragédia é o que

8 Visto não ser nosso objectivo fazer a distinção da notoriedade e, consequentemente, das representações sociais no

alpinismo na imprensa escrita entre pessoas do sexo masculino e feminino.

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

64

desencadeia o interesse e, por sua vez, os lucros da imprensa (idem). Esta

ideia, aliada ao conceito de valor-notícia, será posteriormente abordada.

As mudanças nos media acerca das funções da estrela, levaram a um

declínio da noção tradicional de herói. Podemos afirmar que a cobertura dos

media, em certa medida, determina as construções sociais e culturais dos

heróis. O que as pessoas sabem sobre eles está intimamente relacionado com

o que os media seleccionam para atrair a sua atenção. A noção pura de herói

desportivo começou a ser difícil de manter numa cultura dos media que valoriza

o escândalo e o sensacionalismo (Gilchrist, 2007).

De salientar ainda que, com a transmissão televisiva da ascensão do

Old Man Hoy, em 1967, uma “pilha marítima” com 137 metros de altura, situada

na ilha Hoy no arquipélago Orkney, lembrou-se a importância das novas

tecnologias na criação de momentos altos desportivos. Embora não tendo sido

a cores, foi suficiente para atrair o imaginário público. Não só deu continuidade

a outros programas desportivos como proporcionou a visão do

desenvolvimento da relação dos alpinistas com os media (idem).

Tendo em conta a relação do alpinismo com os media, as conquistas de

Edmund Hillary e Tenzing Norgay, ao serem as primeiras pessoas a ascender

a montanha mais alta do mundo, podem ser consideradas icónicas. O termo

“icónico” também gere a mistura do empírico e transcendente. À conquista

heróica individual ou colectiva do Monte Evereste pode ser dada uma presença

visível e sensual, recordada através de representações pictóricas e outras

formas de tecnologia dos media, que agora satura a imagem da nossa cultura,

mas também é investida de um significado espiritual invisível difícil de

compreender (Gilchrist, 2007). Aliás, a noção de “ícone” apresenta vantagens

na explicação da globalidade mediada, no mundo visual e público desportivo e

personalidades desportivas. Repetindo um excesso de banalidade, as imagens

das estrelas desportivas desempenham um papel na experiência cultural do

nosso dia-a-dia. Experiência, essa, carregada de uma grande quantidade de

sinais de produto, indicando o grau em que a projecção da presença dos

actores sociais é cada vez mais interligada com a actividade económica,

embutida de consumo (idem).

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REVISÃO DA LITERATURA

65

E, numa sociedade de consumo, várias palavras são utilizadas como

sinónimos: estrelas; super-estrelas; heróis; ícones, todas projectadas como

celebridades. Caracterizada pelas noções de fama, notoriedade, carisma e

excepção, a celebridade é a mercantilização da forma humana; a

personificação do fetichismo económico, o processo e produto das

representações e imagens promovidas e trocadas através de um elo complexo

da rede dos media dos dias modernos (Nalapat & Parker, 2005). Uma das

prerrogativas do estatuto de celebridade é que ele permite aos indivíduos

ultrapassar os seus locais ocupacionais, conferindo-lhes um curso de

popularidade que muitas vezes se manifesta dentro de uma gama de

definições sociais alternativas. Esta relação entre a celebridade e os media é

simbiótica, ou seja, as celebridades desportivas simplesmente não podem

manter a sua posição sem uma cultura popular de marketing pela presença dos

media (idem). Este pensamento reforça a necessidade da comunicação para

que algo ou alguém seja conhecido, para que seja, pura e simplesmente,

falado. Não existem “coisas” como heróis mas sim comunicação sobre heróis

(Strate, 1985) porque, regra geral, os membros de uma sociedade estão

separados dos seus heróis pelo tempo, espaço e classe social. Conhecem,

portanto, os seus heróis apenas através de histórias, imagens e outras formas

de informação (idem). Sem comunicação não haveria herói (Berg, 1998). É

neste contexto que os media adquirem um papel muito relevante, pois estes

ajudam a construir a nossa realidade social, acerca deste e outros temas.

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III CAMPO METODOLÓGICO

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CAMPO METODOLÓGICO

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1 O Alpinista Português João Garcia

João Silva Abranches Garcia é o montanhista (alpinista/himalaísta)

português com maior currículo a nível nacional. Tem um palmarés notável no

panorama mundial, sendo muito poucos, aqueles que realizaram os seus feitos.

Das 14 montanhas com mais de 8000 metros de altitude existentes no planeta,

já ascendeu a doze delas. A que lhe trouxe mais fama foi a ascensão ao

Evereste (8848 metros), tendo sido o primeiro português a alcançar o seu

cume, no dia 18 de Maio de 1999, sem recurso a oxigénio e sem carregadores

de altitude. Na verdade, as expedições ao Evereste e outros pontos altos

configuram-se como símbolos de esforços supremos, de tentativas dos

Homens ultrapassarem os seus limites e atingirem objectivos transcendentes

(Pereira, 2009). E, é neste sentido, de uma actividade transcendente e

combatente, que se pode entender o percurso de João Garcia como um

caminho para a excelência, neste caso no desporto. Sendo este e mais

especificamente, o Alpinismo, uma forma de se transcender e de ser um pouco

mais, de ser ainda mais humano (idem). Comecemos, então, por uma breve

referência a esse caminho!

O alpinista português João Garcia nasceu em Lisboa a 11 de Junho de

1967. Iniciou a sua prática de montanhismo quando, em 1983, então com 16

anos, se deslocou de bicicleta durante quatro dias à Serra da Estrela, uma

jornada que desvela pelo menos dois sentidos: por um lado, a ideia de

emancipação pelo tipo de viagem (em bicicleta desde Lisboa) e, por outro, o ter

conhecido o Clube de Montanhismo da Guarda (CMG) (Pereira, 2009) e, aí,

com o referido Clube, começou a praticar a escalada em rocha. No ano

seguinte, iniciou-se na prática de escalada em neve e gelo. Em 1985,

acompanhou o CMG (não esqueças de fazer uma lista de abreviaturas no início

da monografia) numa expedição aos Alpes, tendo ascendido (entre outras

montanhas) pela primeira vez ao Monte Branco (4807 m). Logo na sua primeira

ida aos Alpes, João Garcia percebeu a importância do treino, dedicando-se,

desde então, ao desenvolvimento contínuo das suas capacidades físicas. Nos

anos seguintes, ascendeu a inúmeros cumes nos Alpes. Simultaneamente, foi

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

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atleta de Triatlo, o que lhe possibilitava adquirir a preparação física necessária

para o montanhismo ("João Garcia", 2009).

Em 1990, foi seleccionado para uma comissão de serviço de três anos

no Quartel Supremo das Forças Aliadas, na Bélgica. A partir deste momento, a

sua actividade de alpinista intensifica-se e começa aqui a sua preparação para

as escaladas acima dos 7000m e o começo dos desafios que haveriam de

surgir na sua vida ("João Garcia", 2009). De facto, o alpinismo revela-se, para

João Garcia, uma actividade em que o esforço é compensado, onde apenas

aqueles que se esforçam e se dedicam mais (através do treino) conseguem

“chegar lá acima” (Pereira, 2009). Pode-se considerar, assim, uma competição

justa, sem quaisquer factores que visam camuflar a verdadeira capacidade

física, de forma pouco ética. Aliás, o modo como desenvolve e organiza os

seus treinos é disso mesmo demonstrativo. João Garcia treina da mesma

forma que os atletas de alta competição, dedicando tanto ou mais tempo à sua

preparação física (idem). Daqui advém que a tomada de consciência relativa à

importância do treino e do empenho em relação ao alpinismo conduziram João

Garcia para uma forma de vida, a de Alpinista (Pereira, 2009).

Em 1993, iniciou a sua actividade como himalaísta, integrando uma

expedição internacional polaca, liderada por Krzystof Wielicki, à montanha Cho-

Oyu (8201 m) no Tibete. A ascensão foi realizada por uma nova via sem

recurso a oxigénio artificial. A partir daí, ascendeu a inúmeros cumes dos

Himalaias, entre os quais, mais dez das 14 montanhas com mais de 8000

metros. Esses cumes e respectivas datas são: Dhaulagiri (8167 m), 1994;

Evereste (8848 m), 1999; Gasherbrum II (8035 m), 2001; Gasherbrum I (8035

m), 2004; Lhotse (8516 m), Kanchenjunga (8586 m); Shishapangma (8046 m),

2005; K2 (8611 m), 2007; Makalu (8463 m); Broad Peak (8047 m), 2008 ("João

Garcia", 2009).

No currículo, João Garcia tem já a possibilidade de averbar a conquista

dos “Big Five”, como são conhecidas na gíria dos alpinistas, as cinco

montanhas mais altas do planeta!

Adicionalmente, desenvolveu ainda o projecto “Sete Cumes”, onde

pretende escalar a montanha mais alta de cada continente, diferindo do

anterior por integrar a Antárctida na lista e separar a América do Norte da

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CAMPO METODOLÓGICO

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América do Sul. Os sete cumes são ("João Garcia", 2009) (Sale & Cleare,

2001):

Monte Evereste (8848 m, Ásia): referido anteriormente.

Aconcágua (6949 m, América do Sul) : O monte Aconcágua –

“Sentinela de Pedra” - tem 6962 metros de altitude e é o ponto mais alto das

Américas. Fica localizado nos Andes Argentinos, a cerca de 112 km da cidade

de Mendoza. Está localizado no Parque Provincial Aconcágua, cuja entrada

fica próxima ao povoado de Puente del Inca.

Apesar da sua altitude, a Aconcágua não é uma montanha difícil de ser

escalada do ponto de vista técnico, pois para atingir o seu cume pela rota

normal não é necessário que o montanhista realize escaladas técnicas. O

desafio que a montanha apresenta é um teste de resistência física para superar

o frio e a rarefacção de oxigénio comum às grandes altitudes. Foi escalada

pela primeira vez em 1897 por Matthias Zurbriggen.

Monte McKinley (6193 m, América do Norte): também conhecido

como Denali do dena’ina: "o grande", localizada no Alasca, Estados Unidos da

América, é a montanha mais alta da América do Norte.

Esta montanha não faz parte do grupo selecto das maiores montanhas

do mundo, contudo, a sua ascensão é bem mais complicada devido ao factor

latitude. Por estar distante da linha do Equador, os seus dias e noites são muito

mais frios do que em montanhas mais altas, como por exemplo no Monte

Evereste.

Foi escalado pela primeira vez a 7 de Junho de 1913 por Hudson Stuck,

Harry Karstens, Walter Harper e Robert Tatum.

Kilimanjaro (5895 m, África): O Monte Kilimanjaro (Oldoinyo Oibor, que

significa "montanha branca" em Masai, ou Kilima Njaro, "montanha brilhante"

em Kiswahili), situa-se no norte da Tanzânia, junto à fronteira com o Quénia, é

o ponto mais alto de África, com uma altitude de 5.895 m no Pico Uhuru.

Foi escalado pela primeira vez a 6 de Outubro de 1889 por Hans Meyer,

Ludwig Purtscheller e Johannes Kinyala Lauwo.

Monte Elbrus (5642 m, Europa) : É a montanha mais alta da Europa. É

um estrato vulcão extinto localizado na parte ocidental da cordilheira do

Cáucaso, na Rússia, perto da fronteira com a Geórgia. Fica a 20 km ao norte

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

72

da cordilheira principal do Grande Cáucaso e a 65 km su-sudoeste da cidade

russa de Kislovodsk.

Foi escalado pela primeira vez em 1874 por uma expedição britânica

dirigida por F. Crauford Grove.

Maciço Vinson (4897 m, Antárctida): É o ponto culminante do

continente Antárctico. Situa-se no maciço homónimo que faz parte de um dos

ramos, o Sentinel Range, da cordilheira Ellsworth, no extremo sul da Península

Antárctida.

Recebeu o nome do congressista americano Carl G. Vinson devido ao

facto deste ter persuadido o governo dos Estados Unidos a promover uma

expedição ao continente Antárctico. A ascensão do Vinson não é considerada

tecnicamente difícil mas as condições climatéricas extremas fazem com que a

sua ascensão constitua um sério empreendimento. Não é raro a temperatura

descer abaixo dos 40º C negativos mas esta pode atingir valores ainda mais

baixos, nomeadamente quando a região é varrida por ventos fortes.

A primeira ascensão do Vinson foi realizada, em 1966, pela expedição

americana liderada por Nicholas B. Clinch.

Monte Koshiuszco (2228 m, Oceânia): O Monte Kosciuszko está

localizado na cordilheira Snowy Mountains situada no Parque Nacional

Kosciuszko. É a montanha mais alta da Austrália (não incluindo os seus

territórios externos). A primeira ascensão foi realizada em 1840 por Paweł

Edmund Strzelecki.

O primeiro homem a afirmar ter concluído estes “setes cumes” foi o

americano Dick Bass, em Abril de 1985, em que completou a lista fazendo o

Monte Kusciusko, na Austrália. No ano seguinte, em 1986, Pat Morrow afirma

ter sido ele o primeiro, pois em vez do Monte Kosciuszko, escala as Pirâmides

de Cartzens na Indonésia (que geologicamente fazem parte da Oceânia).

Esta visão dos “sete cumes” é deveras discutida e haverá praticamente

o mesmo número de alpinistas a atingi-los, quer considerando o Monte

Kosciuszko, quer considerando as Pirâmides de Carstensz como o ponto mais

alto do continente Oceânico.

João Garcia segue a referência do Dick Bass e já escalou seis das sete

montanhas mais altas dos sete continentes, sendo estas: Evereste (Ásia);

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CAMPO METODOLÓGICO

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Aconcágua (América do Sul); McKinley (América do Norte); Elbrus (Europa);

Maciço Vinnson (Antártida); Kilimanjaro (África). Apenas lhe resta a Pirâmide

Carstenz (Oceania) ("João Garcia", 2009). Apesar disso, João Garcia refere

que é uma montanha sem grande interesse e dificuldade para escalar e que já

não irá levar a cabo.

João Garcia, o primeiro e único português a atingir o cume do Monte

Evereste sem o recurso a oxigénio artificial, em 1999, conta com o apoio do

Banco Millennium bcp no projecto "À Conquista dos Picos do Mundo", através

do qual pretende organizar um conjunto de expedições que o vão colocar numa

elite de 14 alpinistas que já alcançaram o topo das 14 montanhas com mais de

8000 metros de altitude e noutra elite de 7 pessoas que o fizeram sem recurso

a garrafas de oxigénio. João Garcia quer conseguir este feito sem o recurso a

oxigénio artificial escalando, entre 2006 e 2010, 8 das 14 montanhas,

totalizando assim, em 2010, esse número. Quanto à ascensão ao cume do

Evereste (8848 m), a 18 de Maio de 1999, realizada pela Face Norte e, como

sempre, sem recurso a oxigénio artificial, valeu a morte do seu companheiro de

escalada e grande amigo, o belga Pascal Debrouwer, que caiu numa ravina

durante a descida e valeu a João Garcia o internamento num hospital de

Saragoça, em Espanha, onde lhe amputaram alguns dedos das mãos e dos

pés e onde recebeu um implante para o seu nariz devido às queimaduras

provocadas pelo gelo.

Iniciou com a ascensão ao Kanchenjunga (8586 m) no Nepal, em 2006,

o referido projecto “À conquista dos Picos do Mundo”. A 22 de Maio de 2006

atinge, com o alpinista equatoriano Iván Vallejo (o último, até à data, da lista

dos que escalaram os 14 “oito mil”), o cume do Kanchenjunga. No mesmo ano,

liderou uma expedição cem por cento portuguesa, juntamente com os alpinistas

Bruno Carvalho, Hélder Santos, Rui Rosado e Ana Santos. O jornalista Aurélio

Faria acompanhou grande parte da expedição. João Garcia, Bruno Carvalho e

Rui Rosado atingiram cume a 31 de Outubro mas, durante a descida, Bruno

Carvalho, despediu-se das montanhas e do mundo após uma queda.

A 20 de Julho de 2007, João Garcia completou com sucesso mais uma

das etapas do referido projecto, atingindo o cume do K2 (segunda montanha

mais alta), integrado num grupo de várias expedições que uniram esforços para

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

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realizar a ascensão. Esta montanha, devido à instabilidade climatérica e dureza

da própria subida, é, possivelmente, o maior desafio da carreira de qualquer

alpinista, chegando mesmo a existir anos em que não se regista qualquer

ascensão com sucesso, inclusive, morre 1 em cada 7 alpinistas durante a

descida (Sale & Cleare, 2001).

Em 2008, em menos de dois meses, alcança dois cumes de 8000

metros. A 19 de Maio, atinge o cume do Makalu (8463 m), no Nepal, sozinho e,

a 17 de Julho, o cume do Broad Peak (8047 m), na fronteira China – Paquistão,

ambas as ascensões sem recurso a oxigénio artificial.

Já este ano, mais um objectivo atingido a 28 de Abril (2009), o Manaslu -

8163m!

Para alcançar as 14 montanhas com mais de 8000 metros de altitude

existentes no planeta, falta-lhe ascender (até 2010) o Annapurna e o Nanga

Parbat.

Conforme já descrito, existem 14 montanhas com altitude acima dos

8000 metros. Todas elas estão localizadas na cordilheira dos Himalaias, no

continente Asiático, entre a Índia, China, Nepal, Paquistão e Tibete. Apenas 14

pessoas escalaram estas 14 montanhas e 7 sem recurso a oxigénio artificial

até aos dias de hoje e somente dezasseis acima dos 12 cumes já escalados

pelo mais consagrado alpinista português. Entre as pessoas que escalaram o

Evereste, cerca de oitenta fizeram-no sem recurso a oxigénio, uma das quais,

João Garcia.

É, actualmente, o único português “cameraman” de altitude e de

condições extremas. Até há bem pouco tempo, era ele quem fazia e organizava

tudo o que está relacionado com as suas expedições. Contudo, à medida que o

tempo foi passando, houve uma evolução na sua forma de estar no alpinismo,

passando de amador e, portanto, com necessidade de sustentar a sua

actividade com outras actividades, a alpinista profissional, com a respectiva

necessidade de especialização. Nesta especialização, tornou-se fundamental

que se dedicasse exclusivamente ao alpinismo e à sua preparação, deixando

de assumir todas as tarefas, relegando-as para outras pessoas. Porém, sempre

apreciou tudo o que está inerente à organização e planificação das expedições,

sendo este um aspecto que o próprio relata nos livros da sua autoria,

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CAMPO METODOLÓGICO

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percebendo, quem os lê, que João Garcia valoriza todos os aspectos logísticos

de uma expedição (Pereira, 2009).

Já realizou documentários sobre as suas expedições, tendo estes sido

transmitidos nas televisões portuguesas. João Garcia é o autor dos livros “A

Mais Alta Solidão”, onde retrata alguns dos acontecimentos mais dramáticos da

sua vida, e “Mais Além – Depois do Evereste”, lançado em Fevereiro de 2007,

que foi dedicado a Bruno Carvalho.

João Garcia lançou, em Janeiro de 2009, o filme intitulado “João Garcia

sur la route des 14” cuja realização é de Johan Perrier e relata o projecto “À

Conquista dos Picos do Mundo” e o desejo do português de conquistar as 14

montanhas mais altas do mundo ("João Garcia", 2009).

Até à data, João Garcia já escalou as seguintes montanhas (Quadro 1): Quadro 1 Conquistas de João Garcia por altitude e respectivas datas

Por Altitude

Cume por Ordem Cronológica

1 – Evereste (8848 m)

1 - 1993 - Cho Oyu (8201 m)

2 – K2 (8611 m)

2 - 1994 - Dhaulagiri (8167 m)

3 – Kanchenjunga (8586 m)

3 - 1999 - Evereste (8848 m)

4 – Lhotse (8516 m)

4 - 2001 - Gasherbrum II (8035 m)

5 – Makalu (8463 m)

5 - 2004 - Gasherbrum I (8068m)

6 – Cho Oyu (8201 m)

6 - 2005 - Lhotse (8516 m)

7 – Dhaulagiri (8167 m)

7 - 2006 - Kanchenjunga (8586 m)

8 – Manaslu (8163 m)

8 - 2006 - Shisha Pangma (8013 m)

9 – Nanga Parbat (8125m)

9 - 2007 - K2 (8611 m)

10 – Annapurna (8091 m)

10 - 2008 - Makalu (8463 m)

11 – Gasherbrum I (8068m)

11 - 2008 - Broad Peak (8047 m)

12 – Broad Peak (8047 m)

12 – 2009 – Manaslu (8163m)

13 – Gasherbrum II (8035 m)

14 – Shisha Pangma (8013 m)

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

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O projecto “À Conquista dos Picos do Mundo” estende-se até 2010, com

expedições ao Nanga Parbat (8125m), Verão de 2009 e Annapurna (8091m) na

Primavera de 2010.

Com os cinco cumes mais altos já vencidos, o alpinista lisboeta está

lançado para se juntar ao, por enquanto restrito, número de homens (não há

mulheres) que escalaram todos os "oito mil". Apesar de haver vários prestes a

concluir a tarefa, até ao momento, a lista inclui, como referimos, apenas 14

nomes e apenas 7 sem recurso a oxigénio artificial. A missão é tudo menos

fácil. Cada uma destas montanhas representa um desafio extremo. O

Annapurna, por exemplo, exibe uma das taxas de mortalidade mais arrepiantes

entre os "oito mil"; a relação entre os que chegam ao cume e os que morrem

na descida é de cerca de 8 por cento, valor apenas superado pelo K2 (Sale &

Cleare, 2001).

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CAMPO METODOLÓGICO

77

2 Procedimentos Analíticos

Uma vez que o nosso objectivo é conhecer quais as representações

sociais (RS) do Alpinismo a partir do representante máximo português João

Garcia entre 1998-2008, a metodologia a pôr em prática terá de ir ao encontro

desse mesmo objectivo. Então, para verificarmos quais as RS do alpinismo,

decidirmos debruçar-nos sobre o principal veículo de informação, ou seja, os

media, efectuando a nossa pesquisa na imprensa escrita. Isto, porque é um

formato arquivado ao longo dos tempos, o que facilita a sua aquisição e,

também porque, comparativamente com outros meios de comunicação (ao

nível nacional), este será o que mais notoriedade tem dado à actividade em

questão. Entendemos, pelo exposto, ser a Análise de Conteúdo a técnica mais

adequada para o tratamento deste tipo de dados, visto ser um conjunto de

instrumentos metodológicos que se aplicam a conteúdos diversificados,

interpretando, com base na inferência, os sentidos das palavras (Bardin, 1977,

p. 30). Ou seja, através de procedimentos sistemáticos e objectivos de

descrição do conteúdo das mensagens, cujas características foram

inventariadas e sistematizadas, visa adquirir sinais que permitam inferir os

conhecimentos dessas mesmas mensagens (Vala, 2007).

2.1 Análise de Conteúdo da Imprensa

De acordo com (Vala, 2007), através da análise de frequência podemos

inventariar palavras ou símbolos chave, temas com maior ou menor destaque

e, também, principais focos de interesse. Deste modo, os objectivos da nossa

análise de conteúdo da imprensa são os seguintes:

- Conhecer o discurso na imprensa escrita sobre o Alpinismo (1998-2008), em

particular sobre o João Garcia;

- Perceber que tipo de Representações Sociais emerge destes discursos;

- Conhecer o teor e enquadramento das notícias em relação a João Garcia;

- Perceber se João Garcia é descrito como Herói.

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

78

Relativamente às funções da análise de conteúdo podemos referir a

função de “administração de prova” que se refere às hipóteses ou afirmações

como linhas orientadoras para serem ou não confirmadas, e a função heurística

que se refere à análise propriamente dita do conteúdo, no sentido de uma

pesquisa exploratória que irá ajudar-nos na descoberta dos dados (Bardin,

1977).

No caso do nosso trabalho, visto não haver estudos no âmbito das RS

do alpinismo nos meios de comunicação social e, obviamente, na imprensa

escrita, partimos para o nosso sistema categorial apenas com duas categorias

“a priori”, a do “Herói” e a dos “Riscos e Acidentes no Alpinismo”. Tal facto, por

considerarmos o aparecimento das notícias sobre o Alpinismo fruto de uma

grande conquista por João Garcia, a do Monte Evereste, em 1999. A esse feito

está associado o conceito de “herói”, pela proeza alcançada por muito poucos

(a nível mundial) e por mais ninguém cuja bandeira erguida no topo, para a

fotografia, seja portuguesa! Mas, como resultado dessa mesma conquista,

marcas inapagáveis no corpo de João Garcia ficarão, permitam-me a

redundância, para sempre. Depreende-se deste modo que, intimamente

ligados ou mesmo como factores inerentes a este tipo de actividade, estão os

Riscos e Acidentes nas montanhas que, de acordo com o enquadramento

teórico, recriam o sensacionalismo (um dos valores-notícia a ter em conta). Daí

que esta inclusão “a priori”, seja justificada apenas por estas duas categorias.

Todas as outras surgiram posteriormente às várias leituras das notícias.

A primeira leitura, a flutuante (Bardin, 1977), possibilitou-nos a

percepção dos “conceitos” em destaque, aqueles que, mesmo lendo sem

intenção de encontrar o “que quer que seja”, ressaltam-se nas linhas do texto.

Serão esses que devidamente tratados e reflectidos em leituras posteriores, se

transformarão em termos-chave, com vista à condução no sentido dos

objectivos da análise propriamente dita e, mais amplamente, do grande

objectivo do trabalho.

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CAMPO METODOLÓGICO

79

2.1.1 Descrição do procedimento

Tendo já sido delimitadas as nossas aspirações e referido um

enquadramento teórico, o próximo passo será, então, a definição das

categorias do nosso estudo, com o propósito de simplificar as

informações/dados brutos através das unidades, da categorização e das

escolhas das regras de contagem (Bardin, 1977).

As categorias são classes que reúnem palavras-chave, agrupamento

baseado em caracteres comuns a esses elementos sob um título genérico. A

passagem dos indicadores aos conceitos é, essencialmente, uma atribuição de

sentido (Bardin, 1977). Esse processo de categorização passa por isolar os

elementos – inventário - e por repartir os elementos, atribuindo organização às

mensagens – classificação.

Importa referir que a elaboração do sistema de categorias pode ser feita

de duas formas: a priori, onde é elaborado um quadro teórico no qual a pessoa

que analisa o conteúdo se fundamenta para a realização desse mesmo

sistema; a posteriori, surgindo sem comprovação teórica para a sua elaboração

(Vala, 2007).

Com o intuito de criarmos categorias claras mas de qualidade importa,

então, seguirmos as orientações de Bardin (1977) para a correcta elaboração

das mesmas:

- Exclusão mútua – cada elemento só pode existir numa das divisões;

- Homogeneidade – a classificação deve apenas e somente seguir um tipo de

organização;

- Pertinência – adaptar a categoria ao material de análise;

- Objectividade e Fidelidade – a análise é feita por um observador, tendo como

base categorias concisas de modo a facilitar a inclusão dos elementos numa ou

noutra categoria;

- Produtividade – recolher resultados significativos.

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

80

Já numa fase de término, ou seja, antes da devida interpretação dos

resultados, é importante que se defina as unidades de análise. Estas podem

ser de dois tipos. A primeira, unidade de registo, é a unidade de significação a

codificar e corresponde ao segmento de conteúdo a considerar como unidade

base, visando a categorização e a contagem frequencial. É de natureza e de

dimensão variável. Podendo ser formais (frases ou palavras) ou semânticas

(tema). A segunda, unidade de contexto, serve de unidade de compreensão

para codificar a unidade de registo e corresponde ao segmento da mensagem,

cujas dimensões (superiores às da unidade de registo) são essenciais para a

compreensão da significação da unidade de registo (Bardin, 1977; Vala, 2007).

Relativamente à terceira unidade, a de enumeração, tem como principal função

a quantificação. Segundo Bardin (1977), o modo de enunciação e

referenciação às unidades de análise está sujeito a regras de enumeração,

nomeadamente: presença/ausência de uma determinada unidade de registo;

frequência de uma unidade; frequência ponderada, no caso de uma suposição

de que um elemento tem maior importância que outro; intensidade; direcção

favorável, desfavorável ou neutra; ordem de encadeamento das unidades de

registo; e co-ocorrência, duas ou mais unidades de registo numa unidade de

contexto.

No caso do nosso trabalho utilizamos a presença/ausência para as

categorias a priori. Para além desta regra recorreremos às regras de direcção,

intensidade e frequência.

De extrema importância para a nossa análise, uma vez de imprensa, são

as unidades de enumeração geométricas, visto serem as mais utilizadas neste

tipo de análise (Vala, 2007).

2.1.2 Corpus de Estudo

Com este trabalho pretendemos cruzar o Alpinismo e, mais

especificamente, o alpinista português João Garcia, com a análise de conteúdo

de notícias referentes aos jornais generalistas. Relativamente a esses jornais

existentes no nosso país, a nossa opção aludiu sobre o Jornal de Notícias e

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CAMPO METODOLÓGICO

81

jornal O Público. Ambas as opções devido ao facto de serem jornais com

grande tiragem e com alguma acuidade a nível nacional. Adicionalmente, são

jornais que apresentam a vantagem de terem sido publicados (e continuam a

ser) ao longo de todo o período a ser analisado. Os anos sobre os quais

incidiremos a referida análise circunscrevem-se entre 1998-2008, inclusive.

Esta delimitação prende-se com o facto de ter sido em 1999 que João Garcia

atingiu o cume do Evereste sem recurso a oxigénio artificial, atingindo um

objectivo alcançado por poucos, contudo, tendo efectuado antes duas

tentativas, o que justifica a análise desde 1998. Partimos, então, para o referido

balizamento, da suposição que terá sido a partir de 1999 que esta actividade e,

consequentemente, o alpinista João Garcia terão sido alvo de maior

noticiabilidade.

A recolha do nosso corpus de estudo procedeu-se na Biblioteca Pública

Municipal do Porto (jornal O Público) e nas instalações do Jornal de Notícias

(respectivo jornal), num período abrangido por dois meses (Novembro e

Dezembro de 2008) de pesquisa diária. É constituído por 11 notícias do Jornal

de Notícias e por 52 notícias do jornal O Público, totalizando, assim, 63

notícias.

Assim, uma vez jornais publicados ao longo de todo o período a ser

analisado possibilitam a exaustividade dos dados, a representatividade da

amostra, sendo que representa o universo inicial, a homogeneidade por se

tratar de documentos sujeitos a critérios de escolha precisos e, por fim,

pertinência, sendo esses mesmos documentos adequados ao objectivo do

trabalho. Consideramos que, reunidas todas estas condições, o nosso corpus

de estudo respeita as regras, enunciadas por Bardin (1977), necessárias à

constituição do mesmo.

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

82

3 Sistema Categorial

Tendo em conta o exposto e referido anteriormente no que respeita aos

procedimentos envolvidos no processo de análise de conteúdo, importa, então,

definirmos o nosso sistema categorial. No seguimento da anterior descrição

das várias etapas precedentes à criação do sistema categorial, ficou clara a

pretensão de sermos “invadidas” de forma ocular por conceitos embutidos nos

textos que se constituem como notícias. Portanto, após a elaboração do

enquadramento teórico e também influenciadas pela nossa percepção, apenas

duas categorias resultaram “a priori”, ou seja, maioritariamente, as categorias

surgiram posteriormente à leitura do corpus de estudo. Assim sendo, o Sistema

Categorial é constituído pelas seguintes categorias e subcategorias. (Quadro

2).

O sistema completo, com as respectivas unidades de contexto/recortes das

notícias está em anexo. Quadro 2 Categorias e Subcategorias

Categoria s Subcategoria s

Herói João Garcia e Evereste Projectos de João Garcia Riscos e Acidentes no Alpinismo

Arquétipo Desportivo/Contemporâneo Preparação Consagração Sequelas Etapas/Objectivos Patrocínio Conquistas Tragédia/Acidente

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CAMPO METODOLÓGICO

83

• Herói

Uma das nossas opções, no que respeita às categorias do sistema

categorial, recaiu, inevitavelmente, sobre o conceito de Herói. De facto, após

toda a pesquisa efectuada no espaço reservado à Revisão da Literatura,

constatou-se a presença de inúmeros predicados aquando da referência das

várias conquistas por vários alpinistas. São diversos os autores que escrevem

sobre a temática do herói, considerando como características indissociáveis de

pessoas cujo os feitos e percursos de vida são ou foram exemplares, ficando

gravados nas memórias de uma sociedade. Ou seja, feita essa

conceptualização, foram oportunas associações e mesmo verificações dessas

mesmas características no âmbito do alpinismo, melhor dizendo, em alpinistas.

Como resultado, após comparação de alguns desses currículos desportivos

com o do João Garcia, percebeu-se, desde logo, uma íntima associação entre

este e a sua possível heroicidade. No entanto, interessa-nos, também, a

constatação do tipo de herói, justificando as subcategorias Arquétipo e

Desportivo/Contemporâneo. Ou seja, caso se verifique a hipótese de

heroicidade de João Garcia, importa percebermos qual o tipo de herói a ele

associado. Consideramos, portanto, uma das categorias deste sistema e, como

se trata de uma categoria “a priori”, partimos para a leitura do corpus de estudo

com termos-chave já existentes na literatura sobre o assunto em questão.

• João Garcia e Evereste

A segunda categoria denomina-se João Garcia e Evereste. Como

referido anteriormente, a nossa pesquisa reflectiu o início do período de

reconhecimento mediático (valor-notícia) de João Garcia enquanto alpinista, o

que justifica a escolha desse começo em 1998, ano que antecedeu a grande

conquista, ou seja, ano de tentativas e preparação. O término da circunscrição

temporal do corpus de estudo apenas se prende com o facto de terem sido

pesquisados todos os jornais até à data da realização de todo o campo

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

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metodológico deste trabalho. Não obstante e como esperávamos, mesmo com

toda a preparação para o “pezinho” português no tecto do mundo, apenas foi

convertido definitivamente em valor-notícia no momento em que,

efectivamente, pisou o cume do Evereste, a 18 de Maio de 1999. Não

poderíamos deixar este marco temporal esquecido ou desvalorizado, uma vez

que o aparecimento mediático de João Garcia se deve, sem qualquer dúvida, à

sua extraordinária conquista…proeza! Mas, associada ao feito histórico,

sublinhado pelo percurso do alpinista português, surgiu outro grande tema de

notoriedade, as sequelas sofridas durante um acto que colocou João Garcia

numa lista bastante restrita a nível mundial, e nunca antes inaugurada por um

português/portuguesa. Mazelas que, inapagáveis das suas mãos, pés e nariz,

são bem lembradas e relembradas pelos media.

Recapitulando, a menos de um ano de se consagrar o “português mais

alto do mundo”, com toda a preparação que uma investida ao mais alto dos

“oito mil” exige, passando pelo 18 de Maio que fez correr a “primeira tinta” do

alpinismo em Portugal, atribuindo um estatuto inigualável ao nosso possível

herói, temos a continuidade de representatividade muitas vezes associada à

tragédia do companheiro de escalada Pascal, que pereceu na descida, bem

como às sequelas que, ainda hoje, são notícia.

Pelo exposto, parece-nos devidamente justificada esta categoria e

respectivas subcategorias: Preparação; Consagração e Sequelas.

• Projectos de João Garcia

Como terceira categoria, e igualmente estimulada pela leitura do corpus

de estudo, temos os projectos e objectivos do alpinista português João Garcia.

Verificámos a pertinência desta categoria pelo facto de ter sobressaído das

notícias uma intenção de deixar transparecer toda a preparação inerente às

expedições, cabendo, deste modo, no campo dos objectivos. Estes são,

efectivamente, muito referenciados e constatámos mesmo a sequência

temporal de todo o esforço e preparação com vista aos objectivos

determinados por João Garcia. Mas, se falamos de objectivos, proferimos,

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CAMPO METODOLÓGICO

85

identicamente, projectos que unem forças no sentido de os concretizar. E, é no

seguimento de uma constante referência (no corpus de estudo) a todas estas

questões, que nos parece óbvia a valorização mediática de que este tema é

sujeito. Aliado ao referido, revelou-se a importância de três projectos de João

Garcia. O primeiro - “Big Five” - diz respeito à conquista das cinco montanhas

mais altas do planeta, as quais já fazem parte do currículo do alpinista

português; o segundo projecto denomina-se “Seven Summits”, correspondendo

à conquista dos “picos” de cada continente, faltando apenas um, a João Garcia,

para completar os sete; o terceiro e último projecto, é aquele que lhe

possibilitou um grande passo na sua carreira, o de se dedicar exclusivamente

ao alpinismo e intitula-se “À Conquista dos Picos do Mundo”. É a partir daqui

que recorremos ao que (Smart, 2007) classificou de “tríade de ouro”.

O projecto “À Conquista dos Picos do Mundo” resultou de um apoio

financeiro por parte do banco Millennium BCP aos objectivos de vida de João

Garcia. A meta é o alpinista atingir os catorze “oito mil” até 2010, ao abrigo

deste patrocínio. De facto, é uma “relação” vantajosa para ambas as partes.

Com o referido apoio, João Garcia consegue dedicar-se de “corpo e alma” ao

que realmente gosta de fazer e, também, liberta-o de preocupações

financeiras. Por outro lado, esse patrocínio deveu-se ao currículo de excelência

de que o alpinista é detentor, repercutindo-se numa maior notoriedade em

termos mediáticos. Tal situação, só pode interessar a empresas com

capacidade financeira porque, sendo João Garcia alvo de notícia pelos seus

feitos e associado a uma instituição bancária, só trará, da mesma forma, maior

publicidade à empresa patrocinadora, ou seja, saem todos a ganhar! Daí

justificar-se as subcategorias subtilmente referidas: Projecto “Big Five”;

Projecto “Seven Summits”; Projecto “À Conquista dos Picos do Mundo” e, por

último, os Patrocinadores.

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

86

• Riscos e Acidentes no Alpinismo

A nossa última categoria reflecte o que é tido como um dos valores-

notícia. É a segunda categoria “a priori”, portanto, definida tendo por base a

literatura já existente. Fundamentando-nos na pesquisa para efeitos de revisão

de literatura, constatámos que o despoletar do interesse dos media a respeito

do alpinismo, deveu-se à “tragédia/desgraça” de uma alpinista britânica, Alison

Hargreaves (Gilchrist, 2007). De facto, a sua morte foi capa de jornal e

desenrolou o posterior desenvolvimento da ligação dos media com o alpinismo.

Sem dúvida que a origem do interesse mediático por esta actividade

relacionou-se e ainda se relaciona com a recriação do sensacionalismo. É

nosso objectivo, então, perceber em que medida essa direcção noticiosa ainda

se verifica, já corroborada pela ênfase dada às sequelas sofridas por João

Garcia quando conquistou o Evereste.

Contudo, percebe-se que a consideração dada a esta temática se baseie

num dos elementos - chave do alpinismo, que é o risco inerente à prática desta

actividade. Ou seja, embora se reconheça uma tendência de interesse aliado à

“tragédia”, sendo muitas vezes o que vende, a verdade é que o risco faz parte

deste modo de vida, o que vai ao encontro do que Lyng (1990) denomina de

“edgework”, como sendo a tomada voluntária de risco. Portanto, não é tão

surpreendente e inesperada a relevância dada a este assunto, visto ser quase

impossível dissertar-se sobre o alpinismo sem que se o corresponda com os

riscos a ele inerentes e consequência desses mesmos riscos, os acidentes,

que podem ou não ser fatais.

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IV APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

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APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

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Posteriormente à explanação da Metodologia à qual recorremos para

atingir as metas a que nos propusemos no âmbito do estudo das R.S. do

Alpinismo nos media portugueses, à exposição acerca do nosso Corpus de

Estudo, Sistema Categorial e devida justificação passaremos, então, à

apresentação dos resultados obtidos e, posteriormente, à discussão dos

mesmos.

A distribuição foi feita por onze períodos (anos) de análise: [1998-2008].

A apresentação dos resultados tem em conta as categorias e respectivas

subcategorias que consideramos pertinentes para produzir resultados

proveitosos, sendo que a sua discussão é feita tendo por base o cruzamento

de dados entre os dois jornais e entre os dados de cada um dos jornais.

Quadro 3: Número Total de Notícias do Jornal O Público e Jornal de Notícias entre 1998 e

2008

Jornal

Anos

O Público

Jornal de Notícias

Total por Ano

1998 10 2 12 1999 13 2 15 2000 5 2 7 2001 2 0 2 2002 2 0 2 2003 1 0 1 2004 7 0 7 2005 6 0 6 2006 4 3 7 2007 2 1 3 2008 0 1 1

Total por Jornal 52 11 63

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

90

Gráfico 1: Variação do Número de Notícias entre 1998 e 2008 no Jornal O Público e Jornal de

Notícias

Como podemos observar no quadro 3 e gráfico 1, o número total de

notícias diminuiu até 2003 (jornal O Público) e até 2005 (Jornal de Notícias),

voltando a diminuir novamente a partir 2004 (Jornal O Público) e em 2006

(Jornal de Notícias) sendo esta descida menos significativa. O primeiro jornal

publicou sempre mais notícias, à excepção do ano de 2008 em que o Jornal de

Notícias obteve uma notícia e O Público nenhuma notícia. No entanto, percebe-

se claramente um “pico” noticioso no jornal O Público no ano de 1999, o que é

explicado pelo facto de ter sito nesse mesmo ano que João Garcia atingiu o

cume do Evereste.

Relativamente ao único “pico” do Jornal de Notícias, considera-se

relacionado com a subcategoria “patrocinadores” da categoria Projectos de

João Garcia. De facto, a obtenção de um patrocínio permitiu o aumento do

número de notícias. Assim há, então, maior exposição mediática e,

consequentemente, um aumento de credibilidade relativamente ao assunto em

questão, o Alpinismo.

Já na referência ao segundo “pico” do jornal O Público, questionamo-nos

acerca da interpretação dos valores absolutos obtidos. Isto, porque destas

“notícias” fazem parte os Diários de Expedições de João Garcia. Tal facto

0

2

4

6

8

10

12

14

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

O Público

Jornal de Notícias

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APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

91

justifica-se, na nossa perspectiva, pela dificuldade existente no

acompanhamento de uma expedição a um “oito mil”, por exemplo. Percebe-se,

assim, que não haja repórteres com condições físicas e cardiovasculares

suficientemente bem treinadas para permanecer em altitude durante o tempo

de uma ascensão. Desta forma, não subsiste outra solução senão a realização

dos vídeos por parte de João Garcia e, consequentemente, os referidos diários.

Curiosamente, ao contrário do segundo jornal, embora O Público refira o

projecto de João Garcia apoiado financeiramente por um patrocinador, tal facto

não foi suficiente para se verificar a tendência óbvia de maior exposição

mediática porque não se regista nenhum aumento noticioso a partir de 2006,

ano em que teve início o patrocínio do Millenium bcp.

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

92

Relativamente às quatro categorias/temas gerais importa, previamente à

apresentação e discussão dos resultados obtidos, elucidar o leitor acerca dos

conceitos que integram cada uma subcategorias/subtemas, sendo que as

nossas unidades de registo se reportam à notícia em si e não a termos-chave.

Esta opção deve-se ao facto da haver conceitos que se repetem ao longo do

corpus de estudo mas que não se incluem no mesmo tema. Ou seja, não

produziríamos resultados válidos se apenas tivéssemos em consideração o

conceito em “bruto” sem a devida contextualização.

Portanto, no que respeita à subcategoria “Preparação” da categoria

“João Garcia e Evereste”, considerámo-la como a fase anterior à conquista

propriamente dita, incluindo: tentativas; desistência; preparação física,

psicológica e logística. Na segunda subcategoria - “Consagração”,

abrangemos: conquista do Evereste; reconhecimento público; e, por último, o

“relembrar”. Esta última refere-se à constante necessidade dos media avivarem

a memória do seu público leitor, introduzindo a maioria das notícias com uma

breve apresentação de João Garcia, remetendo para a sua

conquista/consagração de 1999. Por último, a subcategoria “Sequelas” que

integra: ferimentos sofridos por João Garcia aquando da ascensão do

Evereste; recuperação. Esta será, então, o depois do Evereste.

De seguida, apresentamos, então, os nossos resultados relativamente à

primeira categoria.

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APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

93

1 João Garcia e Evereste

Considerando as quatro categorias estabelecidas, daremos início à

apresentação dos resultados com aquela que pensamos ser a mais

abrangente, na medida em que, como referimos anteriormente, o alpinismo e,

mais especificamente João Garcia, apenas se tornaram valores-notícia em

Portugal quando o mesmo pisou o cume do mítico Evereste. Ou seja, a norma

utilizada pelos media, denominado “valor-notícia”, indicará os temas que,

provavelmente, têm maior capacidade para serem transformados em notícia,

captando a atenção do público (McQuail, 2003).

Quadro 4: Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008 relativamente à

categoria João Garcia e Evereste

Jornal de Notícias

Anos Notícias

JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Total

Categorias

Subcategorias

João Garcia e Evereste

Preparação 2 2

Consagração 1 2 1 1 1 6

Sequelas 2 1 1 4

Total por Ano 2 3 3 1 2 1 12

Quadro 5: Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008 relativamente à

categoria João Garcia e Evereste

Jornal O Público

Anos Notícias

P P P P P P P P P P P P

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Total

Categorias

Subcategorias

João Garcia e Evereste

Preparação 6 2 1 9

Consagração 4 2 1 1 1 1 1 2 13

Sequelas 5 1 1 1 1 1 10

Total por Ano 6 11 3 2 1 1 2 2 5 32

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

94

Numa primeira análise dos Quadros 4 e 5, que se reportam às

subcategorias “Preparação”, Consagração” e “Sequelas” da categoria “João

Garcia e Evereste” do Jornal de Notícias e Jornal O Público, respectivamente,

verifica-se uma variação no número de notícias dentro de cada jornal, e mesmo

na comparação entre ambos os jornais. De referir que ambos os jornais deram

mais relevância à consagração (total de Unidades de Registo - U.R., no Jornal

de Notícias foi de 6 e no Jornal O Público foi 13), seguindo-se as subcategorias

“sequelas” e “preparação” (distinção apenas no Jornal de Notícias com 4 e 2

U.R., respectivamente).

Analisaremos, então, detalhadamente a primeira subcategoria. É notória

a diminuição ou mesmo ausência da preparação como valor-notícia. De facto,

verifica-se a sua presença mais acentuada no ano de 1998, que antecedeu a

conquista do Evereste por João Garcia, seguida de 2 U.R do Jornal O Público

em 1999 e, novamente em 2006, pelo mesmo jornal. Tal facto demonstra o que

à partida faria mais sentido, uma vez que toda a preparação se fez antes e não

depois da conquista (18 de Maio de 1999). No entanto, o Jornal O Público volta

a fazer referência a essa mesma subcategoria no ano de 2006, lembrando as

duas tentativas falhadas ao Evereste.

Voltando ao referido anteriormente, esta subcategoria foi a menos

referida nas notícias (total de U.R. em ambos os jornais foi de 11) e isto

justifica-se de duas formas. Primeiro, porque o facto de ainda (1998) não ter

conquistado o Evereste fechava algumas portas a João Garcia, nomeadamente

a sua notoriedade nos media portugueses. Em segundo lugar, devido ao curto

período de análise anteriormente à conquista, ou seja, como referimos, toda a

preparação se deu antes do dia que ficou na história.

No que respeita à consagração, a segunda subcategoria da categoria

“João Garcia e Evereste”, percebe-se o porquê de não ser referenciada no ano

de 1998 (conquista em 1999). Entende-se, igualmente, que tenha sido em 1999

o ano em que este assunto foi alvo de maior valor-notícia (total de U.R. de

ambos os jornais foi de 5). No entanto, a recordação desse momento está

constantemente presente nos anos seguintes. E, apesar de interpretarmos

como uma necessidade de “contextualização” por parte dos media, não

podemos, de forma alguma, excluir a “continuidade” dos assuntos relacionados

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APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

95

com a consagração, mesmo admitindo o referido. Assim, percebemos o tipo de

apresentação de João Garcia feita pelos media uma necessidade mas, indo ao

encontro do referido anteriormente, a conquista do Evereste é o seu “cartão-de-

visita”, sendo através da referência à consagração que os jornalistas

relembram quem é João Garcia: “A ideia…João Garcia, o português que no

ano passado chegou ao cume do Evereste…”9

Por último, fazendo referência à subcategoria “sequelas”, entende-se o

maior número total de U.R. (7) e, também, em cada um dos jornais (Jornal de

Notícias – 2 U.R e Jornal O Público – 5 U.R.) no ano de 1999

comparativamente com os restantes anos, visto terem sido resultado da

ascensão ao cume do “pico do mundo”.

Não obstante se tratar de um acontecimento quase fatal nesse ano, a

verdade é que continuou a ser noticiado. Isto, porque associadas à conquista

do Evereste ficaram marcas inapagáveis no corpo de João Garcia sendo,

adicionalmente à concretização de algo inédito no nosso país, o seu “bilhete de

identidade”. Aliás, são escassas as relembranças a respeito do alpinista sem

que se cite as suas sequelas.

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

96

2 Herói

Apresentaremos, agora, e discutiremos, mais à frente, os resultados

obtidos relativamente à categoria “Herói” e respectivas subcategorias, no

sentido de percebermos qual o tipo de abordagem que os media fazem sobre o

alpinista português João Garcia. Esta categoria surgiu a priori, na medida em

que nos interessava verificar a possível heroicidade do mais consagrado

alpinista português. E, naturalmente, o tipo de heroicidade, daí as

subcategorias “Arquétipo” e “Contemporâneo”, já distinguidas no capítulo de

revisão da literatura do presente estudo. Poderíamos incluir esta categoria,

transformada em subcategoria, na categoria “João Garcia e Evereste”. Isto,

pelo facto de termos verificado, através da leitura do corpus de estudo, que à

conquista do Evereste muito se deve a classificação de herói. No entanto, uma

vez criada antes da leitura do mesmo, mereceu especial atenção ao ponto de a

considerarmos uma categoria independente e auto-justificada. Além disso,

constatámos o suporte dessa classificação (de herói) através de posteriores

conquistas, ou seja, embora despoletada (nas notícias) pela conquista insólita

do pico dos Himalaias, teve o seu seguimento com a brilhante carreira de João

Garcia.

Quadro 6: Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008 relativamente à

categoria Herói

Jornal de Notícias

Anos Notícias JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Total

Categorias Subcategorias

Herói

Arquétipo 1 2 1 4

Contemporâneo 0

Total por Ano 1 2 1 4

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APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

97

Quadro 7: Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008 relativamente à

categoria Herói

Através da análise dos Quadros 6 e 7 percebemos, desde logo, que a

tipologia “contemporâneo” não foi, sequer, referenciada em nenhum dos jornais

ao longo dos onze períodos (anos) de análise. Claramente, a subcategoria

“arquétipo” está veemente presente. Relativamente ao jornal que maior ênfase

deu a esta subcategoria temos o Jornal O Público (10 U.R., vs 4 U.R. do Jornal

de Notícias). Constatámos, também, maior incidência em dois períodos que

têm como pontos altos dois acontecimentos que, provavelmente, despoletaram

um maior reconhecimento do percurso de João Garcia. O primeiro, sem

qualquer dúvida, refere-se ao Evereste, desde toda a preparação inerente a

uma ascensão a um “8 mil”, passando pelo momento-chave, a conquista, à

lembrança do feito inédito. De facto, embora no ano de 1998 ainda não fosse o

português “mais alto do mundo”, João Garcia propunha-se a uma “meta nunca

antes cortada” por um português e, para além disso, já se lhe reconheciam

características e capacidades peculiares, dignas de um crescente destaque.

Daí a “especulação” do que cada vez mais se aproximava, como um objectivo

bem real. O segundo período emerge de uma lógica que referiremos

paralelamente ao debate da terceira categoria. Não obstante este não ser o

momento ideal para tal desenvolvimento, adiantamos o facto de, a partir de

2005 e consumado no ano de 2006, João Garcia ter um patrocinador que,

inevitavelmente, lhe deu maior notoriedade no mundo dos media. Da mesma

forma, como referimos na exposição da categoria anterior, a sua reputação

Jornal O Público

Anos Notícias P P P P P P P P P P P P

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Total

Categorias Subcategorias

Herói

Arquétipo 3 2 1 1 2 1 10

Contemporâneo 0

Total por Ano 3 2 1 1 2 1 10

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

98

está aliada à conquista do Evereste, ou seja, para os media citarem João

Garcia e a sua expugnação recorrem, obrigatoriamente, a conceitos como:

feito, proeza, herói, determinação, força de vontade, sacrifício…imortalidade!

Todos eles associados à caracterização do herói arquétipo9: “João Garcia

ousou como se exige a um herói…”; ”…porque se superou a si próprio, no meio

de terríveis sacrifícios e privações”; “Merece a imortalidade”.

De referir, ainda, que o facto de João Garcia estar conotado como um

Herói não implica que este “tema” seja o assunto mais tratado nas notícias dos

dois jornais. Aliás, apresenta-se como a categoria menos referenciada (total de

U.R. nos dois jornais foi de 14, 4 no Jornal de Notícias e 10 no Jornal O

Público).

Daqui depreende-se que, apesar de ser reconhecido como tal e podendo

a sua aparição nos jornais estar relacionada com essa conotação, de facto,

outros temas se revelam como prioritários em termos de valor-notícia.

Deste modo, fica a dúvida de podermos, efectivamente, considerar a

representação social de herói para João Garcia.

9 Relativamente às menções das notícias, utilizaremos como códigos das mesmas o P para o jornal O Público e o JN

para o Jornal de Notícias, então, a notícia referenciada no texto é a JN 3

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APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

99

3 Projectos de João Garcia

Tendo como fio condutor a categoria anterior, percebemos a sua

transposição para a categoria “Projectos de João Garcia”, uma vez que, não

satisfeito com a concretização de um objectivo ao alcance de muito poucos, a

luta constante para voos mais altos são o lema de vida de João Garcia.

Quadro 8: Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008 relativamente à

categoria Projectos de João Garcia

Quadro 9: Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008 relativamente à

categoria Projectos de João Garcia

Jornal de Notícias

Anos Notícias

JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Total

Categorias Subcategorias

Projectos de João Garcia

Etapas/Objectivos 3 1 4

Patrocínio 1 1 2

Conquistas 1 2 1 4

Total por Ano 1 6 3 10

Jornal O Público

Anos Notícias

P P P P P P P P P P P P

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Total

Categorias Subcategorias

Projectos de João Garcia

Etapas/Objectivos 1 2 1 1 1 1 1 8

Patrocínio 1 3 4

Conquistas 1 1 1 1 1 1 6

Total por Ano 1 2 2 1 1 2 3 5 1 18

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

100

Posteriormente à análise dos Quadros 8 e 9, apreendemos uma

evidente diferença entre a primeira e as duas restantes subcategorias,

expressa pelo número total de U.R. (12) e, igualmente, pela quantidade de U.R.

de um e outro jornal (Jornal de Notícias – 4, e Jornal O Público – 8).

Efectivamente, a subcategoria “Etapas/Objectivos”, que se refere e abarca as

etapas das expedições no âmbito dos projectos “Big Five”, “Seven Summits” e

“À Conquista dos picos do Mundo” e os objectivos a que João Garcia se propõe

(tendo em conta cada um dos projectos), é o subtema mais referenciado no

sector da terceira categoria. De facto, é superiormente noticiada a informação

relativa aos “passos” de cada possível conquista comparativamente com a

conquista propriamente dita. A diferença está apenas na conquista do

Evereste, não incluída na terceira subcategoria da categoria “Projectos de João

Garcia, mas já justificado anteriormente.

Relativamente à segunda subcategoria – “Patrocínio”, a priori – clara e

obviamente as referências a esta surgem apenas a partir do ano de 2005, em

que já se considerava um patrocínio para o alpinismo, que ganhou forma em

2006 e associado ao mais consagrado alpinista português. Embora não em

termos absolutos, temos um aumento do número de notícias no ano de 2006,

após uma descida substancial posteriormente à conquista do Evereste.

Comparando o número de U.R. entre os dois jornais, verificámos que o

Jornal O Público publicou mais notícias que abrangeram esse subtema do que

o Jornal de Notícias (4 e 2, respectivamente). O maior número de U.R. em

todas as subcategorias da presente categoria no Jornal O Público segue essa

tendência nas outras categorias, fundamentado pelo número total de notícias

de um e outro jornal (Jornal de Notícias – 11 e Jornal O Público – 52).

Por último, as “conquistas” como terceira subcategoria. Considerámos,

aqui, a informação relativa às conquistas, bem como o relembrar de conquistas

anteriores. Daí o facto de termos, também, U.R. em 1998, 2002 e 2003 quando

não houve nenhuma conquista nesses anos. Contrariamente à tendência geral

do aumento do número de notícias a partir do ano de 2006 relativamente aos

anos antecedentes (em relação ao de 2006) e, igualmente, precedentes à

conquista do Evereste, não se verificou um aumento substancial das U.R.

relativas a esta subcategoria. Apenas no Jornal de Notícias se publicou mais

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APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

101

uma notícia em 2006. As restantes referências surgem no âmbito de conquistas

concernentes aos diferentes projectos, mas a título informativo e não de

relembrança, ou seja, não há uma constante notoriedade das conquistas do

passado.

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

102

4 Riscos e Acidentes no Alpinismo

Reportamo-nos, por último, à quarta categoria do nosso sistema

categorial – “Riscos e Acidentes no Alpinismo”.

É outra categoria a priori, pelo facto de prevermos um eminente valor-

notícia relativamente a este tema. Previsão fundamentada na nossa revisão da

literatura, onde referimos que a relação dos media com o alpinismo começou

de forma sensacionalista, na medida em que é a “desgraça/tragédia” que atrai

os meios de comunicação social, sendo, por isso mesmo, um dos valores-

notícia (Gilchrist, 2007).

Quadro 10: Número de Notícias do Jornal de Notícias entre 1998 e 2008 relativamente à

categoria Riscos e Acidentes no Alpinismo

Quadro 11: Número de Notícias do Jornal O Público entre 1998 e 2008 relativamente à

categoria Riscos e Acidentes no Alpinismo

Jornal de Notícias

Anos Notícias JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN JN

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Total

Categorias Subcategoria

Riscos e Acidentes no Alpinismo

Tragédia/Acidente 1 1 1 3

Total por Ano 1 1 1 3

Jornal O Público

Anos Notícias P P P P P P P P P P P P

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Total

Categorias Subcategoria

Riscos e Acidentes no Alpinismo

Tragédia/Acidente 4 6 4 2 1 1 4 1 23

Total por Ano 4 6 4 2 1 1 4 1 23

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APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

103

Posteriormente à análise dos Quadros 10 e 11 e, recorrendo aos

quadros anteriores, percebe-se que o tema “Risco e Acidentes no Alpinismo” é

deveras noticiado, comparativamente, por exemplo, com o de “Herói”. Estes

dados vão ao encontro do nosso enquadramento teórico acerca da ligação do

alpinismo com os media, em que a tragédia foi amplamente “valorizada”,

tomando conta de muitas notícias.

Incluímos nesta categoria os acidentes, as mortes e as condições

meteorológicas. Esta última, pelo facto de se apresentar como provocadora de

muitas “desgraças”, estando a sua referência ao longo das várias notícias

relacionada com a tragédia. Ou seja, surge como factor de risco e não de uma

forma meramente informativa sobre a meteorologia. Abarca, também, a parte

dedicada às condições meteorológicas que se fizeram sentir no Evereste

aquando da sua conquista por parte de João Garcia. Isto, porque foi no

seguimento de uma tempestade, ao “cair da noite”, que João Garcia sofreu

ferimentos graves e, também, por esta ter tirado a vida ao seu companheiro de

escalada Pascal Debrouwer.

Comparando ambos os jornais, verificamos uma discrepância no número

de U.R. (Jornal de Notícias – 3 e Jornal O Público – 23). Esta diferença deve-

se, principalmente, ao número de notícias publicadas relativas ao tema “João

Garcia e Evereste”, onde o número de U.R. relativo às subcategorias desse

tema foi superior no Jornal O Público, nomeadamente no ano de 1999. O

mesmo se verifica no presente tema, onde em todos os anos de análise as

U.R. do jornal O Público são em maior número, à excepção do ano de 2007,

em que ambos publicaram uma notícia.

Sem qualquer dúvida, grande parte das U.R. referem-se a João Garcia

mas, apesar disso, todas as notícias não relacionadas directamente com o

alpinista português, remetem-se à tragédia mais do que a qualquer outro tema.

Assim, temos o maior número de U.R para o jornal O Público nos anos de

1999, 2000 e 2006 (6, 4, 4, respectivamente). Estes resultados implicam uma

larga notoriedade da tempestade que vitimou o parceiro de escalada de João

Garcia e os ferimentos por este sofridos no ano da conquista do Evereste e ano

seguinte. Também, o aumento do número de U.R. no ano em que o

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

104

aparecimento de um patrocínio proporcionou a João Garcia dedicar-se de

“corpo e alma” ao que mais gosta de fazer!

De salientar, o facto de o total de U.R deste tema não ser o mais

elevado, comparativamente com os restantes, mas, efectivamente, em termos

de subcategorias (que apenas contém uma), verificou-se a categoria que inclui

o subtema mais noticiado.

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V DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

107

Posteriormente à exibição dos resultados obtidos passaremos, então, à

discussão dos mesmos.

Como primeira ilação da análise dos resultados obtidos, podemos referir

que o tema mais noticiado foi “João Garcia e Evereste”, e que em todas as

categorias o Jornal O Público superou o Jornal de Notícias, relativamente ao

número de U.R. apresentadas. Contudo, a supremacia do referido tema apenas

se concretiza pelo somatório das U.R. das respectivas subcategorias. Ou seja,

é, efectivamente, o tema mais noticiado, mas poderá dizer-se que esse peso se

deve ao facto de incluir três subtemas, ao invés do que acontece na quarta

categoria – Riscos e Acidentes no Alpinismo - que, apresentando somente uma

categoria – Acidentes/Tragédia – revela-se, esta, a subcategoria com mais

notoriedade. E, tendo em conta que a referida subcategoria quase se confunde

com o tema no qual está incluída, podemos sugerir uma superioridade deste,

relativamente a qualquer outro tema.

Comecemos, então, pela discussão daquela que fez “correr mais tinta”

em ambos os jornais. De salientar, o facto da posterior acepção fazer-se de

forma dependente, na medida em que da interdependência expressa por cada

uma das categorias surgirão associações para outros temas.

De facto, tudo começou com a conquista inédita, por um português, do

Monte Evereste, daí a maior noticiabilidade para a subcategoria “consagração”.

Devido à imponência da tomada do “Tecto do Mundo”, percebe-se como esta

pôde despoletar a presença do alpinismo internacional no mundo dos media,

bem como, analogamente, se transformou no “trampolim” de João Garcia. Esta

maior ligação dos media com o alpinismo surgiu, então, posteriormente à

conquista do Monte Evereste por uma mulher britânica, a alpinista Alison

Hargreaves, sem recurso a oxigénio artificial (Gilchrist, 2007), exactamente da

forma que João Garcia considera mais legítima. Tal mediatismo foi semelhante

aquando do objectivo “Evereste” pelo alpinista português. Desta forma, é

notório que o próprio “Tecto do Mundo” representa-se como um forte

complemento para algo se tornar valor-notícia, senão vejamos: “Appa é um

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

108

sherpa nepalês…Ontem, Appa tornou ainda mais inalcançável o seu recorde,

ao subir o Evereste pela 17ª vez.”10

Referindo-nos, novamente, à alpinista britânica, na época, Verão de

1995 era apenas a segunda pessoa a ter conseguido essa proeza, o que fez

com que merecesse a classificação de Heroína (idem). Veremos, mais adiante,

se o mesmo ocorreu com o João Garcia.

Os elementos que tornaram a conquista do Monte Evereste tão

interessante em termos mediáticos podem ser identificados através da

aplicação, por (Galtung & Ruge, 1999), de categorias de valores-notícia. Esses

valores-notícia determinam a selecção, estrutura e representação das histórias

noticiosas. As categorias são, segundo os autores: negatividade

(drama/tragédia); recente; proximidade, consonância; não ambiguidade;

inesperado; superlativo; relevância; personalização; elitismo; qualidade de

atribuição; e facticidade.

No nosso corpus de estudo, em particular, aplica-se um elevado grau

de negatividade em termos do seu valor-notícia, claramente, através do

acidente no Evereste, com a morte do seu companheiro de expedição Pascal

Debrouwer, e sequelas sofridas por João Garcia, confirmado pelo seguinte

excerto “João Garcia escapou à morte…queimaduras de 2º grau…Debrouwer

terá morrido…o risco de amputações é real.”11. Também a constante

informação de tragédias em vários picos do mundo explica os valores obtidos

na subcategoria “sequelas” e, discutido mais adiante, na categoria “Riscos e

Acidentes no Alpinismo”. De acordo com a teoria de Galtung & Ruge (1999),

quanto mais o público se identifica com os injuriados mais significativas serão

as notícias para esse mesmo público, daí a intensa recordação do momento

trágico de João Garcia, de modo a aproximar o público.

A notoriedade de um evento é reforçada se envolver o inesperado com

o significativo e consonante.

10 P 51 11 P 14

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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

109

No caso do incidente no Monte Evereste, em 1999, uma série de

factores combinados tornaram-no muito mais inesperado e,

consequentemente, mais difícil de explicar. O acidente envolveu alpinistas

profissionais (Pascal Debrouwer e João Garcia), entre os mais experientes e

respeitados nos seus países. Envolveu, igualmente, tempestades que, embora

se saiba que podem ocorrer a caminho do Verão, são muito menos comuns

que no Inverno (Davidson, 2008). Aliás, a alpinista britânica Alison Hargreaves,

passados dois meses da sua conquista do Evereste, tentou repetir o feito, mas

no K2. Na descida, foi capturada numa tempestade, o que lhe tirou a vida.

Tudo isto atraiu os media pelo menos durante mais uma década após o

sucedido.

Percebe-se, pois, que esta relação dos media com o alpinismo terá

evoluído, essencialmente, de forma sensacionalista, na medida em que tem

sido a “desgraça/tragédia” a atrair os meios de comunicação social, um dos

valores-notícia (Gilchrist, 2007). Este facto explica a notoriedade atribuída a

este tema, e não apenas por ser algo nunca antes alcançado por um

português. Continuando com o “inesperado”, o facto de, neste caso, os dois

alpinistas fazerem parte de uma elite desta actividade, também terá contribuído

para o valor-notícia ganho por esta tragédia (Galtung & Ruge, 1999). Com

efeito, nos dias, semanas e meses após o episódio trágico, assegurou-se, pelo

referido, a “continuidade” da história, um outro elemento que Galtung & Ruge

(1999) identificam dos valores-notícia. Embora interpretemos essa continuidade

como uma necessidade de “contextualização” por parte dos media, não

podemos, de forma alguma, excluir o seguimento dos assuntos relacionados

com a consagração, mesmo admitindo o referido. Assim, percebemos o tipo de

apresentação de João Garcia feita pelos media como uma necessidade mas,

indo ao encontro do referido anteriormente, a conquista do Evereste é o seu

“cartão-de-visita”, sendo através da referência à consagração que os jornalistas

relembram quem é João Garcia: “A ideia partiu de João Garcia, o português

que no ano passado chegou ao cume do Evereste…”12

12 P 26

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

110

Também continuou a ser noticiado porque, associadas à conquista do

Evereste, ficaram marcas inapagáveis no corpo de João Garcia sendo,

adicionalmente à concretização de algo inédito no nosso país, o seu “bilhete de

identidade”: “…congelações irreversíveis nas mãos, nos pés e no nariz”13.

Aliás, como pudemos verificar, são escassas as lembranças a respeito do

alpinista sem que se cite as suas sequelas, daí que muitos alpinistas critiquem

os media por criarem a percepção pública de que o alpinismo é uma actividade

inerentemente arriscada, incidindo quase somente sobre os acidentes/sequelas

e mortes (Davidson, 2008). Como referem Galtung & Ruge (1999)

relativamente ao valor-notícia, quanto mais negativas forem as consequências

de um evento, neste caso, no alpinismo, maior será a probabilidade de se

tornarem num item noticioso, o que influencia a percepção pública em relação

aos riscos envolvidos em actividades como esta. Mas, efectivamente, foi este o

acontecimento que despoletou um maior reconhecimento público de João

Garcia que, como refere Lyng (1990), mesmo reconhecendo o alto risco

envolvido, colocou em causa a sua integridade física, sofrendo graves

sequelas, também, amplamente noticiado, como referido, merecedoras deste

destaque.

No sentido de respondermos a parte do nosso primeiro objectivo

específico para este trabalho – Qual o tipo de discurso na imprensa escrita

sobre João Garcia? – percebemos que, directa ou indirectamente, o seu

reconhecimento como potencial valor-notícia se deve, sem qualquer dúvida, à

conquista daquele que se apresenta como o apogeu da carreira de qualquer

alpinista. Não há incertezas de que a conquista do mítico Evereste se anunciou

para João Garcia, bem como para outros alpinistas, como a “chave” para entrar

no mundo dos Media, num mundo em que, para lá se permanecer, tem que se

assegurar o seu valor enquanto notícia. Efectivamente, embora a preparação

da conquista inédita tenha sido alvo de atenção foi, comparativamente, com o

acto consumado e posterior recordação, menos referenciada. Relativamente à

recordação, surge, essencialmente, encarnada nas sequelas sofridas por João

Garcia. Também, camuflada nas mesmas, em jeito de lembrança do feito, em

13 P 49

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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

111

geral, e do alpinista português, em particular. Constatamos, deste modo, um

discurso alusivo às marcas ainda visíveis no seu corpo, provocadas pela

concretização de algo, até 18 de Maio de 1999, nunca conseguido por um

português. Poderá dizer-se que o discurso na imprensa escrita sobre João

Garcia é predominantemente (para assegurar o seu potencial noticioso), um

discurso sensacionalista, ou é-o inevitavelmente?

O alpinista que empreendeu duas tentativas falhadas no “Tecto do

Mundo” em 1997 e 1998 viria a tornar-se, então, o mais famoso alpinista

português ao atingir o cume do Evereste em 1999, o que confirma a afirmação

de Robinson (2004), quando refere que o impacto e reconhecimento sociais

são maiores nas primeiras ascensões, neste caso, a primeira ascensão de um

português ao mais alto dos “oito mil”. Neste sentido, no de proeza,

reconhecem-se características a João Garcia dignas de uma adjectivação

superior, o que justifica a criação da nossa segunda categoria – Herói.

Como referimos anteriormente, poderíamos incluir a categoria “Herói” na

categoria “João Garcia e Evereste” pelo facto de termos verificado, através da

leitura do corpus de estudo, que à conquista do Evereste muito se deve a

classificação de herói. Deste modo, embora não tenhamos feito essa inclusão

(também, justificada anteriormente) não seria possível reflectir sobre a mesma

sem que a relacionássemos com a primeira categoria, como veremos

posteriormente.

Como já constatado no capítulo apresentação dos resultados, a tipologia

“contemporâneo” não foi referenciada em nenhum dos jornais ao longo dos

onze períodos (anos) de análise. Entende-se, assim, que os jornais que

constituem o nosso corpus de estudo não transmitem a ideia de herói

contemporâneo, embora as referências à “imagem” de João Garcia sejam uma

constante. No entanto, esta alusão relaciona-se com o “preço pago” pela

conquista e não com a referência ao alpinista português como um produto. Ou

seja, o conceito arquétipo de herói remetia-nos para as suas acções ou ideias,

mas o herói invocado hoje, pelos media, é conhecido pela sua imagem. Porém,

pela leitura do nosso corpus de estudo, percebemos a valorização das acções

de João Garcia em si mesmas. Esta valorização não acontece na lógica em

que as empresas comerciais, através da implementação do imaginário

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

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desportivo e eventos desportivos mundiais de grande prestígio, associados à

publicidade nos meios de comunicação social, envolvem os produtos de alto

perfil de celebridades desportivas no produto e promoção da marca (Smart,

2005). De facto, quando pensamos em estrelas desportivas como Tiger Woods

e David Beckham, por exemplo, inevitavelmente, associamo-los,

essencialmente a uma marca, a um produto. Contudo, esta correspondência

remete-nos para a valorização da marca em questão, no sentido de um maior

reconhecimento da mesma através de figuras públicas. Sabemos, também, os

lucros incalculáveis de ambas as partes, como referido anteriormente. Lucros,

esses, visivelmente investidos, e num âmbito que não o desportivo.

Relativamente a João Garcia, quase se aplica o exposto. Isto, porque, não

obstante o seu contrato com o Millenium BCP traga, a ambas as partes,

vantagens, notoriamente o alpinista português associa-se a esta empresa de

uma forma complementar e não tão profissional como, por exemplo, David

Beckham que, dos seus contratos publicitários, quase emerge uma segunda

profissão. Em oposição, João Garcia usufrui das vantagens do seu patrocínio

como um alicerce financeiro para pôr em prática os seus objectivos no âmbito

do alpinismo.

Assim sendo, claramente, a subcategoria “arquétipo” assume a

hegemonia absoluta na respectiva categoria (total de 14 U.R), pelo facto de

João Garcia se aproximar do herói tradicional em detrimento da semelhança ao

contemporâneo. Constatámos, também, maior incidência em dois períodos que

têm como pontos altos dois acontecimentos que, provavelmente, despoletaram

um maior reconhecimento do percurso de João Garcia. O primeiro, sem

qualquer dúvida, refere-se ao Evereste, desde toda a preparação inerente a

uma ascensão a um “8 mil”, passando pelo momento-chave, a conquista, à

lembrança do feito inédito: “São muito poucas as pessoas que conseguiram a

proeza de estar de pé no tecto do mundo”. “Desde terça-feira, uma delas é o

português João Garcia”14. Também, Edmund Hillary, poucos dias depois da sua

triunfal subida ao Monte Evereste com Tenzing Norgay, viu-se reconhecido

quando soube que a Rainha Elizabeth planeava fazer dele Senhor Edmund. Sir

14 P 13

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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

113

Edmund provou, durante toda uma vida de generosidade e de realização, que

ele é mais do que um novo tipo de herói. Ele é um de uma espécie (Miller,

2003). Um exemplo do que a conquista do “sobrenatural” Evereste pode

significar em termos de identidade nacional e reconhecimento, tal como

aconteceu com João Garcia. De facto, embora no ano de 1998 ainda não fosse

o português “mais alto do mundo”, João Garcia propunha-se a uma “meta

nunca antes cortada” por um português e, para além disso, já se lhe

reconheciam características e capacidades peculiares, dignas de um crescente

destaque. Daí a “especulação” do que cada vez mais se aproximava, como um

objectivo bem real.

Tendo em conta o exposto acerca da fundamentação da expugnação

heróica, pode questionar-se se João Garcia será, então, um Herói Desportivo

Nacional?

Com efeito, o alpinista português reúne características e uma

importância para a nação que nos remetem para essa possibilidade, como por

exemplo: publicidade; reconhecimento público; coragem; e o facto de ter

elevado os espíritos de uma nação (a portuguesa) (Radford, 2005). Todos

estes aspectos fundamentam a ideia de que, ao contrário de outras esferas

onde os génios aparecem como "criaturas especiais," os heróis desportivos são

vistos "mais como nós." Talvez porque nos dão esperança e elevam os nossos

espíritos porque nos revemos neles, não como somos mas como gostaríamos

de ser (idem), ou seja, como um exemplo a seguir.

Mediante o exposto, transparece a ideia de um eminente herói

desportivo nacional, e é dessa forma que, implícita ou explicitamente, a

imprensa escrita constrói socialmente a realidade das acções de João Garcia.

Contudo, associado ao mais consagrado alpinista português encontra-se o

factor “publicidade”, remetendo-nos, de certa forma, para a ideia de herói

contemporâneo, mesmo que não no seu puro termo. Esta hipótese foi excluída

e devidamente legitimada porque, num mundo globalizado em que os media

são, efectivamente, o principal meio de disseminação da informação,

inevitavelmente, a comunicação sobre o herói torna-se num fenómeno

mediatizado. Aliás, não existem “coisas” como heróis mas sim comunicação

sobre heróis, ou seja, sem comunicação não haveria herói (Berg, 1998). É

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

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neste contexto que os media adquirem um papel muito relevante, pois estes

ajudam a construir a nossa realidade social, acerca deste e outros temas.

Tendo como fio condutor a categoria anterior, percebemos a sua

transposição para a categoria “Projectos de João Garcia”, uma vez que, não

satisfeito com a concretização de um objectivo ao alcance de muito poucos, o

que confirma a possível heroicidade de João Garcia, a luta constante para voos

mais altos são o lema de vida do alpinista.

Efectivamente, a subcategoria “Etapas/Objectivos” da categoria

“Projectos de João Garcia”, que se refere e abarca as etapas das expedições

no âmbito dos projectos “Big Five”, “Seven Summits” e “À Conquista dos picos

do Mundo” e os objectivos a que João Garcia se propõe (tendo em conta cada

um dos projectos), é o subtema mais referenciado no sector da referida

categoria. De facto, é superiormente noticiada a informação relativa aos

“passos” de cada possível conquista comparativamente com a conquista

propriamente dita. Esses passos podem ser entendidos como uma jornada de

dramatização mítica, resumida da seguinte forma por Pereira (2004): Na

primeira, a prova qualificante, é feita a escolha dos heróis para a partida para

uma expedição ao Evereste, onde são inúmeras as provas com o objectivo de

testar a capacidade do pretendente digno desse nome. Esta ideia é reforçada

por Rubio (2001) quando refere que a chamada do herói para a prática

desportiva (prova principal) consiste, então, no confronto com o perigo, onde

deve ter coragem e capacidade que o habilite a atingir os objectivos, tornando

esse percurso significativo e heróico: “…já está em terras do Nepal…para

preparar a escalada à montanha mais alta do mundo…”15. Na segunda prova –

a ascensão - os obstáculos inerentes à actividade em causa (alpinismo) terão

de ser ultrapassados e, com a chegada ao cume, segue-se o reconhecimento

do mérito, na prova glorificante16: “…feito nunca alcançado por um português.”

Esta última, no caso do alpinismo, só é completada com o regresso são e salvo

ao campo base (Pereira, 2004). Desta parte, entende-se um paralelismo com a

15 P 2 16 P 2

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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

115

conotação de Herói, não explicitamente, mas implicitamente contida noutros

temas, como é o caso.

Relativamente à segunda subcategoria “patrocínio” da categoria

“Projectos de João Garcia”, que apenas surge a partir do ano de 2005,

ganhando forma em 2006, revela-se como um reconhecimento do mais

consagrado alpinista português. De facto, outra coisa não faria sentido senão

um “voto monetário de confiança” ao alpinista mais conhecido em Portugal.

Aliás, o segundo período de maior incidência da subcategoria “arquétipo”

emerge de uma lógica em que, a partir de 2005 e consumado no ano de 2006,

João Garcia passa a ter um patrocinador que, inevitavelmente, lhe deu maior

notoriedade no mundo dos media. Da mesma forma, como referimos na

exposição da categoria anterior, a sua reputação está aliada à conquista do

Evereste, ou seja, para os media citarem João Garcia e a sua expugnação

recorrem, obrigatoriamente, a conceitos como: feito, proeza, herói,

determinação, força de vontade, sacrifício…imortalidade! Todos eles

associados à caracterização do herói arquétipo17: “João Garcia ousou como se

exige a um herói…”; ”…porque se superou a si próprio, no meio de terríveis

sacrifícios e privações”; “Merece a imortalidade”.

De referir, ainda, que o facto de João Garcia estar conotado como um

Herói não implica que este “tema” seja o assunto mais tratado nas notícias dos

dois jornais. Daqui depreende-se que, apesar de ser reconhecido como tal e

podendo a sua aparição nos jornais estar relacionada com essa conotação,

outros temas se revelam como prioritários em termos de valor-notícia, como é o

caso da categoria “Projectos de João Garcia”. De facto, apesar de João Garcia

não ser associado directamente à ideia de herói contemporâneo, não deixa de

estar, como desportista profissional, e, como tal, pelos seus resultados e

respectivo potencial “produto”, ligado à sponsorização. Na realidade, este não é

um dado novo no contexto do alpinismo. Como lembra Gilchrist (2007), na

medida em que na década de 20 do século XX, era comum vender os direitos

das expedições a organizações jornalísticas em troca de uma contribuição nas

despesas da expedição. Tal situação aplica-se ao alpinista português pelo facto

17 JN 3

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

116

de o seu patrocínio lhe proporcionar a concretização de objectivos no âmbito

do alpinismo, e não noutro campo de acção, ou seja, de forma a ter capital para

as expedições.

A ideia de sponsorização cabe, pois, no caso de João Garcia. Como

refere Smart (2005), associados à publicidade nos meios de comunicação

social, estão os produtos de alto perfil dos atletas consagrados no produto e

promoção da marca. Percebe-se, então, a existência do já referido “triângulo de

ouro”, cujos vértices são o desporto profissional, os media e a sponsorização,

tendo todas as partes um lucro substancial (Smart, 2007). E é neste triângulo

que incluímos (já antes da leitura do corpus de estudo e sublinhado após a

mesma) João Garcia. Porque conseguiu alcançar o estatuto de herói, João

Garcia (o atleta profissional) pelos seus feitos memoráveis, foi contactado por

uma empresa para um patrocínio (sponsorização). Assim, possui mais

capacidade financeira, o que lhe permite dedicar-se de “corpo e alma” ao

alpinismo18: “…Garcia…encontrou um patrocinador que lhe permite dedicar-se

a tempo inteiro à missão de conquistar todas as maiores montanhas da Terra”.

Esta afirmação vem confirmar o referido anteriormente, em que João Garcia

usufrui de um patrocínio para consubstanciar o seu ideal de vida. Como tem

mais tempo dedicado à sua actividade, desenvolve o projecto “À conquista dos

Picos do Mundo”, o qual fará com que tenha mais visibilidade mediática

(media), o que interessa aos seus patrocinadores (Pereira, 2009). Ou seja,

quanto mais sucesso tiver nas suas ascensões, mais frequentemente

aparecerá no mundo dos meios de comunicação social e maior associação

haverá entre si e o seu patrocinador…e, mais uma vez, todos sairão a ganhar!

(idem).

Consultando novamente o Quadro 1 confirmamos o que acabámos de

referir. Embora não em termos absolutos, temos um aumento do número de

notícias no ano de 2006, após uma descida substancial posteriormente à

conquista do Evereste. Contrariamente à tendência geral do aumento do

número de notícias a partir do ano de 2006 relativamente aos anos

antecedentes e, igualmente, precedentes à conquista do Evereste, não se

18 P 49

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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

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verificou um aumento substancial das U.R. relativas à subcategoria

“conquistas”. No entanto, há um aspecto evidente que deve ser referido. Isto é,

o facto de a categoria “Herói” não ser a mais noticiada não implica que não o

seja de forma indirecta, ou seja, através da constante presença da palavra

“conquista” (a terceira subcategoria, pouco significativa em termos de valor-

notícia), podemos inferir a conotação de herói, ainda mais sublinhada.

Claramente, e tendo em consideração os parágrafos precedentes,

comprovou-se a existência de um “pano de fundo” heróico, na medida em que

se não se “reclamasse” a conquista inédita do “Tecto do Mundo” por João

Garcia, bem como o estatuto advindo desse feito, nem uma linha deste

trabalho faria sentido. Não obstante a conquista não constituir a totalidade do

nosso corpus de estudo, se não tivesse ocorrido, com certeza haveria, ainda,

menos notícias sobre a temática em estudo e, consequentemente, sobre João

Garcia. Portanto, independentemente do tipo de R.S. emergentes do discurso

da imprensa escrita, podemos referir que, efectivamente, essas representações

muito se devem ao mais consagrado alpinista português. Assim sendo,

percebemos uma forte contribuição de João Garcia para as R.S. do alpinismo

no nosso país. Inclusive, a influência que, apenas uma pessoa (João Garcia),

exerce na representatividade da actividade que pratica. Desta forma, podemos

considerar o tipo de R.S. do Alpinismo em Portugal quase como se de um

espelho se tratasse, na medida em que, estas manifestam as R.S. do

português “mais alto do mundo”!

Voltando ao que, inicialmente, caracterizou o tipo de interesse dos media

pelo Alpinismo (apresentado aquando da análise da primeira categoria), as

histórias sensacionais, sobre a morte ou perto desta, na montanha, pode-se

dizer que continuam a vender.

Em 1996, por exemplo, numa tentativa de ascensão ao Evereste, oito

alpinistas morreram, tendo sido realizado um documentário acerca do

acontecimento que, mais uma vez, teve grande popularidade. Novamente, a

ligação entre “Evereste”, “Tragédia” e “Mediatismo”. Então, nesta fase, parece

claro que a tragédia é o que desencadeia o interesse e, por sua vez, os lucros

da imprensa (Gilchrist, 2007). Esta ideia, aliada ao conceito de valor-notícia é,

pela sua relevância, abordada.

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118

Pela análise dos quadros referentes a esta categoria percebe-se que é

um tema deveras noticiado, comparativamente, por exemplo, com o de “Herói”.

Estes dados vão ao encontro do nosso enquadramento teórico acerca da

ligação do alpinismo com os media, em que a tragédia foi amplamente

“valorizada”, tomando conta de muitas notícias. Com efeito, é indubitável que

grande parte das U.R. se referem a João Garcia mas, apesar disso, todas as

notícias não relacionadas directamente com o alpinista português, remetem-se

à tragédia mais do que a qualquer outro tema19: “ …alpinista norte-americano

Alex Lowe morreu…vítima de uma avalancha…Dave Bridges, um operador de

câmara…também pereceu…” Reconhece-se, pelo referido, o contributo

decisivo dos media na libertação das pessoas face ao desconhecido (Sousa,

2006). Ou seja, está patente a ideia de que os meios de comunicação social

quase que exercem uma soberana influência na construção social da realidade

(Correia, 2000), e sobre a qual não temos acesso directo, no caso do risco, em

geral, e do alpinismo, em particular. Daí, podermos afirmar, então, que os

media são o veículo primário pelo qual as pessoas adquirem informação sobre

o risco/perigo (Kasperson & Kasperson, 1996) e (Furedi, 2005) e,

posteriormente, pelo qual constroem as suas percepções acerca desta

temática. Inclusive, que os media são comunicadores de risco, responsáveis

pela amplificação ou atenuação desse mesmo risco (Kasperson & Kasperson,

1996).

Estes resultados implicam uma larga notoriedade da tempestade

(condições meteorológicas) que vitimou o parceiro de escalada de João Garcia

e os ferimentos por este sofridos no ano da conquista do Evereste e ano

seguinte20: “Garcia e Debrouwer instalam-se à espera que o mau tempo

passe.”. Efectivamente, as características do meio natural em que se

desenvolve o alpinismo, como as condições meteorológicas, podem

apresentar-se como uma limitação, ou mesmo risco, quando associadas a

variáveis qualitativas e quantitativas (Fuster i Matute & Agurruza, 1995). Esses

19 P 20 20 P 13

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DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

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riscos podem ser ou não previstos, mas impossíveis de eliminar, uma vez que

são parte integrante deste contexto natural (Pereira, 2005).

De facto, alturas superiores a 8.000 metros são bem acima da normal

vida humana e são, por isso, inóspitas para a maioria das espécies. Assim,

essas alturas extremas são muitas vezes referidas como a "Zona da Morte”

(Krakauer, 1997). As baixas temperaturas e os ventos fortes agravam os

stresses fisiológicos da extrema altitude. Por exemplo, as temperaturas

medidas no Colo Sul do Monte Evereste (aproximadamente 960 m abaixo do

cume) durante a Primavera de 1999 foram de 11,6°C ne gativos, caindo,

normalmente, para -20°C durante a noite. Embora não seja especialmente pelo

frio, a combinação de baixas temperaturas, ventos fortes, hipóxia e

desidratação podem, facilmente, induzir hipotermia e congelamentos, o que

aconteceu com João Garcia nesse mesmo ano21: “…o gelo…ter-lhe-á

queimado as falangetas.” Na verdade, com uma temperatura do ar de apenas

-10°C e uma velocidade do vento de apenas 50 km/h (um a mera "brisa" nos

Himalaias), a temperatura cairia para -25°C, muito pe rto do limite passível de

congelar carne humana exposta (-35 ° C) (Huey & Eguskitz a, 2001), alvo de um

elevado valor-notícia, relativo às congelações sofridas por João Garcia

(sequelas).

Por último, relembrando a intensa noticiabilidade da categoria “Riscos e

Acidentes no Alpinismo”, também se verificou o aumento do número de U.R. no

ano em que o aparecimento de um patrocínio proporcionou a João Garcia

dedicar-se de “corpo e alma” ao que mais gosta de fazer! Mais uma vez,

constatamos a imensa interdependência das categorias do presente estudo.

Pelo exposto, pode confirmar-se que são vários os riscos inerentes a

esta actividade. É muito frequente no alpinismo perder um companheiro, assim

como é raro não se sofrer qualquer tipo de lesão, tal como aconteceu com João

Garcia. Este assunto foi amplamente noticiado, quase como se de uma

apresentação da actividade se tratasse. No entanto, foi este trágico

acontecimento, por um lado, e compensador (quase se poderia dizer), por

21 JN 3

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

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outro, que fomentaram o desenvolvimento de um conhecimento, em Portugal,

sobre o alpinismo, pelo aumento do número de notícias.

Pelo feito concretizado, João Garcia é visto directamente como um Herói

mas, de uma forma pouco presente comparativamente com a sua conotação

indirecta. Visto como tal e depois de várias proezas, adquire um patrocinador

que lhe permite aliar-se da preocupação financeira para se dedicar a cada

etapa dos seus objectivos, também, amplamente noticiado. Tudo isto

proporciona uma maior experiência (indirecta) relativamente ao alpinismo,

dando, João Garcia, o seu contributo no desenvolvimento e conhecimento da

actividade em Portugal. Assim sendo, e tratando-se de uma experiência à qual

não temos acesso directo, percebe-se, então, a importância dos media na

construção social da realidade, contribuindo para as R.S. do alpinismo no

nosso país.

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VI CONCLUSÕES

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CONCLUSÕES

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Perante o exposto, e posteriormente à realização do presente estudo

concluímos que o discurso na imprensa escrita sobre o alpinismo é,

manifestamente, sensacionalista, comprovado pelo número elevado de U.R. da

categoria “Riscos e Acidentes no Alpinismo”, bem como na subcategoria

“sequelas” da categoria “João Garcia e Evereste”. Igualmente, o tipo de

discurso sobre o alpinista português João Garcia, remete-nos para o que,

inicialmente, marcou a ligação dos media com o alpinismo, ou seja, de forma

sensacionalista, na medida em que as referências a João Garcia estão

intimamente relacionadas com as sequelas sofridas aquando da conquista do

Monte Evereste. Deste modo, entendemos o tipo de R.S. do alpinismo

emergentes do discurso da imprensa escrita como uma actividade

inerentemente arriscada, o que não deixa de ter o seu fundo de verdade. No

entanto, o factor “risco” não cai, em momento algum, no esquecimento dos

meios de comunicação social portugueses e, ainda hoje, continua a vender,

mesmo quando as notícias se referem à conquista trágica de 1999.

Como referido na discussão dos resultados obtidos, de facto, as R.S. do

alpinismo em Portugal em muito se assemelham às R.S. de João Garcia como

alpinista. Ou seja, embora devidamente reconhecido pela sua proeza, as

referências ao “preço pago” pela conquista são uma constante. Daqui,

depreende-se, novamente, uma maior ênfase dos assuntos relacionados com a

tragédia. Não obstante o trágico acontecimento e, aliás, como um potencial

factor de um maior reconhecimento público (pelos obstáculos que João Garcia

teve de ultrapassar) estava confirmada a proeza. João Garcia, a 18 de Maio de

1999, tornou-se no primeiro alpinista português a atingir o cume do Evereste, e

esse estatuto ninguém lho tira…um feito inédito caracterizado por etapas

dolorosas e quase sobrenaturais! Atinge, assim, uma classificação superior, a

de Herói. Esta conotação é perceptível no nosso corpus de estudo, mesmo que

nem sempre de forma directa, assumindo, desta forma, a heroicidade de João

Garcia.

Finalmente, apesar de estas conclusões se avistarem como “negras”,

não podemos deixar de referir que, embora não seja impossível discorrer sobre

o alpinismo sem que se refira apenas a tragédia, de facto, revela-se uma tarefa

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REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO ALPINISMO EM PORTUGAL A PARTIR DO SEU REPRESENTANTE MÁXIMO, JOÃO GARCIA

124

complexa. Isto, porque apesar de alguns factores exercerem influência no

sucesso/insucesso de uma ascensão, de facto, o alpinismo é uma actividade

que se desenvolve num ambiente natural de risco e, como tal, impossível de

eliminá-lo por completo. No entanto, uma vez reconhecido o valor de João

Garcia como alpinista e, consequentemente, motivo de orgulho nacional,

pensamos que o número de notícias dedicadas a esta temática é reduzido,

bem como o número de referências às conquistas ao longo do seu percurso,

alvo de pouca notoriedade.

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VII REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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VIII ANEXOS

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da.”

JN 1

1-2

008

- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e

- E

tapa

s/O

bjec

tivos

- P

atro

cíni

o

- C

onqu

ista

s

- C

onsa

graç

ão

- “J

oão

Gar

cia

quer

junt

ar-s

e às

set

e pe

ssoa

s qu

e já

esc

alar

am s

em o

xigé

nio

artif

icia

l as

14 m

onta

nhas

com

mai

s de

oito

mil

met

ros.

Fix

ou 2

010

com

o m

eta.

- “J

á te

m d

ez n

o cu

rríc

ulo…

- …

a 22

qui

lóm

etro

s do

Eve

rest

e qu

e ve

nceu

em

199

9.”

P 1

-199

8 -

Ris

cos

e A

cide

ntes

no

Alp

inis

mo

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e -

“Doi

s al

pini

stas

rus

sos…

Na

desc

ida,

Koc

hele

nko

sofr

eu u

m tr

aum

atis

mo

dors

al…

P 2

-199

8 -

João

Gar

cia

e E

vere

ste

- H

erói

- P

repa

raçã

o

- A

rqué

tipo

- “O

P

OR

TU

GU

ÊS

Jo

ão

Gar

cia

está

em

te

rras

do

N

epal

…on

de

vai

real

izar

um

“t

rekk

ing”

de

aclim

ataç

ão p

ara

prep

arar

a e

scal

ada

à m

onta

nha

mai

s al

ta d

o m

undo

…”

- “…

feito

nun

ca a

lcan

çado

por

um

por

tugu

ês.”

P 3

-199

8 -

João

Gar

cia

e E

vere

ste

- P

repa

raçã

o -

“…Jo

ão G

arci

a…ex

pedi

ção

ao c

ume

do E

vere

ste…

deix

aram

em

mea

dos

da s

eman

a pa

ssad

a os

últim

os s

inai

s de

civ

iliza

ção…

P 4

-199

8 -

João

Gar

cia

e E

vere

ste

- P

repa

raçã

o -

“…o

prim

eiro

ass

alto

ao

cum

e…”

P 5

-199

8 -

João

Gar

cia

e E

vere

ste

- P

repa

raçã

o

- “A

FIN

AL,

Joã

o G

arci

a só

ago

ra p

ôde

lanç

ar-s

e na

rot

a pa

ra o

cum

e do

Eve

rest

e.”

Page 181: Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a … · Catarina Queiroz Lucas Porto, 2009 Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a partir do seu Representante Máximo,

VI

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o -

Tra

gédi

a/A

cide

nte

- “…

bloq

uead

o pe

los

vent

os fo

rtes

que

ass

olar

am a

mon

tanh

a m

ais

alta

do

mun

do…

P 6

-199

8 -

João

Gar

cia

e E

vere

ste

- H

erói

- P

repa

raçã

o

- A

rqué

tipo

- “…

João

Gar

cia

teve

de

dar

por

finda

a s

ua a

vent

ura…

Des

conh

ece-

se a

inda

as

razõ

es q

ue p

rovo

cara

m

esta

des

istê

ncia

…”

- “…

João

Gar

cia

já g

anho

u o

dire

ito d

e po

der

recl

amar

o tí

tulo

de

“por

tugu

ês m

ais

alto

do

mun

do”.

P 7

-199

8 -

João

Gar

cia

e E

vere

ste

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

- H

erói

- P

repa

raçã

o

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

- A

rqué

tipo

- “…

o al

pini

sta

port

uguê

s te

ve d

e vo

ltar

de n

ovo

para

trás

…”

- “O

frio

e o

ven

to te

rão

impe

dido

Joã

o G

arci

a de

pro

sseg

uir…

- “…

Gar

cia

é, m

esm

o as

sim

, o p

ortu

guês

mai

s al

to d

o m

undo

.”

P 8

-199

8 -

(Rec

orde

) *

-

“O R

EC

OR

DE

mun

dial

de

esca

lada

do

Eve

rest

e pe

rten

ce…

ao “

sher

pa”

nepa

lês

Kaj

i…”

P 9

-199

8 -

Ris

cos

e A

cide

ntes

no

Alp

inis

mo

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e -

“…al

erta

r pa

ra o

s pe

rigos

das

exp

ediç

ões

com

erci

ais

à m

onta

nha

mai

s al

ta d

o m

undo

.”

P 1

0-19

98

- (M

useu

) *

-

“…de

dica

do a

o m

onta

nhis

mo…

em P

okha

ra…

P 1

1-19

99

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e -

Pre

para

ção

- N

ÃO

dua

s se

m tr

ês…

mai

s um

a te

ntat

iva

de e

scal

ar a

mon

tanh

a m

ais

alta

do

mun

do s

em o

xigé

nio.

P 1

2-19

99

- (E

xped

ição

) *

-

“…E

NT

RE

os

dias

19

de M

aio

e 10

de

Junh

o va

i dec

orre

r um

a ex

pedi

ção

de a

lpin

ism

o lu

so-s

ueca

ao

Per

u.”

P 1

3-19

99

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e -

Pre

para

ção

- “S

ó m

esm

o um

a ex

cele

nte

cond

ição

atlé

tica

e um

a vo

ntad

e fé

rrea

, al

iada

s a

uma

aclim

ataç

ão b

em

Page 182: Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a … · Catarina Queiroz Lucas Porto, 2009 Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a partir do seu Representante Máximo,

VII

- H

erói

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

- C

onsa

graç

ão

- A

rqué

tipo

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

prog

ram

ada…

- “S

ão m

uito

pou

cas

as p

esso

as q

ue c

onse

guira

m…

esta

r de

no t

ecto

do

mun

do.

Des

de t

erça

-fei

ra,

uma

dela

s é

o po

rtug

uês

João

Gar

cia.

- “…

a pr

oeza

de

esta

r de

no te

cto

do m

undo

…”

- “P

ara

evita

r os

ris

cos

da

altit

ude

e da

s co

ndiç

ões

met

eoro

lógi

cas

(os

da

próp

ria

esca

lada

o

inev

itáve

is)

…” P 1

4-19

99

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

- S

eque

las

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

- JO

ÃO

GA

RC

IA e

scap

ou à

mor

te, m

as s

ofre

u qu

eim

adur

as…

- “…

Deb

rouw

er te

rá m

orrid

o em

con

sequ

ênci

a de

um

a qu

eda…

P 1

5-19

99

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

- S

eque

las

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

- “…

João

Gar

cia

deve

rá e

scap

ar s

em c

onse

quên

cias

fís

icas

das

que

imad

uras

de

gelo

sof

ridas

no

mon

te

Eve

rest

e…”

- “…

que

prov

ocou

a m

orte

do

seu

parc

eiro

d e

esca

lada

, o

belg

a P

asca

l D

ebro

uwer

. S

empr

e de

vido

a

tem

pest

ades

que

sur

gira

m in

opin

adam

ente

ao

cair

da ta

rde.

P 1

6-19

99

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e

- H

erói

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

- C

onsa

graç

ão

- S

eque

las

- A

rqué

tipo

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

- “…

João

Gar

cia,

o p

rimei

ro a

lpin

ista

por

tugu

ês n

o to

po d

o E

vere

ste…

- “N

o re

gres

so, q

uase

mor

ria. O

gel

o qu

eim

ou-lh

e as

mão

s, o

s pé

s e

o na

riz.”

- “…

João

Gar

cia

gara

ntiu

um

luga

r de

des

taqu

e na

his

tória

nac

iona

l…”

- “…

João

Gar

cia…

uma

tris

teza

que

o in

vadi

u pe

la p

erda

de

um a

mig

o.”

P 1

7-19

99

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e -

Con

sagr

ação

- S

eque

las

- JO

ÃO

GA

RC

IA, o

prim

eiro

por

tugu

ês n

o cu

me

do E

vere

ste…

- “A

s co

ngel

açõe

s so

frid

as n

a de

scid

a da

mon

tanh

a m

ais

alta

do

mun

do…

P 1

8-19

99

Page 183: Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a … · Catarina Queiroz Lucas Porto, 2009 Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a partir do seu Representante Máximo,

VII

I

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e

- C

onsa

graç

ão

- S

eque

las

- “…

João

Gar

cia,

o ú

nico

por

tugu

ês q

ue c

hego

u ao

cum

e do

Eve

rest

e…”

- “N

o se

u re

gres

so…

oste

ntav

a as

mar

cas

do a

lto p

reço

que

pag

ou p

or te

r ch

egad

o a

8848

m d

e al

titud

e.”

P 1

9-19

99

- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- E

tapa

s/O

bjec

tivos

- “G

onça

lo V

elez

igu

alar

á Jo

ão G

arci

a, q

ue s

oma

três

asc

ensõ

es b

em s

uced

idas

aci

ma

dess

a m

ítica

barr

eira

.”

P 2

0-19

99

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o -

Tra

gédi

a/A

cide

nte

- “O

ALP

INIS

TA

nor

te-a

mer

ican

o A

lex

Low

e m

orre

u na

sem

ana

pass

ada

vítim

a de

um

a av

alan

cha…

P 2

1-19

99

- (C

arre

ira)

*

- “…

vai d

eixa

r o

alpi

nism

o…”

P 2

2-19

99

- (I

nfor

maç

ão d

a m

orte

de

um g

uia)

*

- “O

GU

IA d

e al

ta m

onta

nha

fran

cês…

fale

ceu

na s

eman

a pa

ssad

a…”

P 2

3-19

99

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o -

Tra

gédi

a/A

cide

nte

- “…

um fr

enes

im p

ouco

rec

omen

dáve

l em

par

agen

s tã

o pe

rigos

as…

corp

os q

ue s

e fo

ram

acu

mul

ando

ao

long

o da

rot

a…”

P 2

4/1-

2000

-

Ris

cos

e A

cide

ntes

no

Alp

inis

mo

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e -

“…tr

ês a

lpin

ista

s ru

ssos

…O

frio

foi a

cau

sa d

a m

orte

…”

P 2

4/2-

2000

-

Ris

cos

e A

cide

ntes

no

Alp

inis

mo

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e -

“Um

a no

rte-

amer

ican

a de

51

anos

e u

m a

lem

ão d

e 55

fale

cera

m d

evid

o a

uma

qued

a qu

ando

tent

avam

esca

lar

a m

onta

nha

mai

s al

ta d

e Á

fric

a.”

P 2

5-20

00

- (A

scen

são)

*

-

“Fili

pe O

livei

ra…

pret

ende

…a

asce

nsão

ao

Kili

man

jaro

.”

P 2

6-20

00

Page 184: Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a … · Catarina Queiroz Lucas Porto, 2009 Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a partir do seu Representante Máximo,

IX

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e

- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- C

onsa

graç

ão

- E

tapa

s/O

bjec

tivos

- “…

João

Gar

cia,

o p

ortu

guês

que

no

ano

pass

ado

cheg

ou a

o cu

me

do E

vere

ste…

- “A

ID

EIA

par

tiu d

e Jo

ão G

arci

a…or

gani

zar

a pr

imei

ra e

xped

ição

tot

alm

ente

lus

a a

uma

mon

tanh

a de

8000

m…

P 2

7-20

00

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e

- H

erói

- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

- C

onsa

graç

ão

- S

eque

las

- A

rqué

tipo

- E

tapa

s/O

bjec

tivos

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

- “J

oão

Gar

cia…

mos

trou

a b

ande

ira p

ortu

gues

a no

cum

e m

ais

alto

do

plan

eta,

o m

onte

Eve

rest

e

(884

8m).

- “…

sofr

eu l

esõe

s irr

ever

síve

is q

ue r

esul

tara

m e

m a

mpu

taçõ

es u

num

lon

go c

alvá

rio e

m c

amas

de

hosp

ital.”

- “…

torn

ou-s

e…um

a es

péci

e de

sím

bolo

nac

iona

l…”

- “…

entr

e os

seu

s in

úmer

os p

roje

ctos

…re

gres

so a

os H

imal

aias

.”

- “N

a de

scid

a…o

belg

a P

asca

l Deb

rouw

er a

cabo

u, p

or m

orre

r…”

P 2

8-20

00

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o -

Tra

gédi

a/A

cide

nte

- “A

s m

aior

es d

ificu

ldad

es s

erão

a fa

lta d

e ox

igén

io e

as

baix

as te

mpe

ratu

ras…

P 2

9-20

01

- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

- E

tapa

s/O

bjec

tivos

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

- “A

exp

ediç

ão b

elga

ond

e se

inc

lui

o po

rtug

uês

João

Gar

cia

cont

inua

ret

ida

no a

cam

pam

ento

bas

e do

Gas

herb

rum

I…”

- “

…um

a eq

uipa

des

troç

ada

pela

mor

te (

a 20

) do

bel

ga J

ean-

Fra

nçoi

s B

assi

ne, v

ítom

a de

um

a qu

eda.

P 3

0-20

01

- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e

- C

onqu

ista

s

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

- C

onsa

graç

ão

- S

eque

las

- “J

oão

Gar

cia

no to

po d

o G

ashe

rbru

m II

.”

- “D

evid

o às

dem

oras

cau

sada

s pe

lo m

au t

empo

, já

não

ser

á po

ssív

el t

enta

r o

cum

e do

Gas

herb

rum

I

(806

8m)

…”

- “P

ara

o po

rtug

uês…

em 1

999,

qua

ndo

esca

lou

o E

vere

ste.

- “…

após

as

cong

elaç

ões

sofr

idas

em

199

9…”

P 3

1-20

02

Page 185: Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a … · Catarina Queiroz Lucas Porto, 2009 Representações Sociais do Alpinismo em Portugal a partir do seu Representante Máximo,

X

- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

. Joã

o G

arci

a e

Eve

rest

e

- C

onqu

ista

s

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

- C

onsa

graç

ão

- “G

arci

a no

cum

e do

McK

inle

y”

- “…

em 1

996…

o m

au te

mpo

impe

diu

que

foss

e al

ém d

os 5

900m

.”

- O

por

tugu

ês J

oão

Gar

cia,

que

três

ano

s as

cend

eu c

om s

uces

so a

o cu

me

do E

vere

ste…

P 3

2-20

02

- (C

onqu

ista

) *

-

“Gon

çalo

Vel

ez e

scal

ou o

Mak

alu”

P 3

3-20

03

- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e

- C

onqu

ista

s

- C

onsa

graç

ão

- “G

arci

a co

nqui

sta

“set

e m

il” n

o N

epal

- “

O a

lpin

ista

por

tugu

ês J

oão

Gar

cia,

que

em

199

9 es

calo

u o

Eve

rest

e se

m o

xigé

nio

artif

icia

l…”

P 3

4-20

04

- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

- D

iário

da

Exp

ediç

ão

- E

tapa

s/O

bjec

tivos

- C

onqu

ista

s

- C

onsa

graç

ão

- S

eque

las

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

- “A

gora

, o

obje

ctiv

o do

alp

inis

ta p

ortu

guês

…é

o G

ashe

rbru

m I

(80

68),

a 1

1ª m

onta

nha

mai

s al

ta d

o

plan

eta.

- “P

ara

o po

rtug

uês

que

tam

bém

esca

lou

o E

vere

ste

(884

8m,

1999

), o

Dha

ulag

iri (

8167

m,

1994

) e

o

Cho

Oyu

(82

01m

, 199

3) …

- “…

em 1

999

no E

vere

ste…

- …

depo

is d

as le

sões

sof

ridas

em

199

9…”

- “…

195

alpi

nist

as já

che

gara

m a

o to

po d

a m

onta

nha,

mas

reg

ista

ram

-se

21 m

orte

s.”

P 3

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04

- D

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da

Exp

ediç

ão

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Exp

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ão

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XI

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Exp

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0-20

04

- (C

onqu

ista

) *

-

“Prim

eira

esc

alad

a in

vern

al d

e um

“oi

to m

il” e

m s

olitá

rio”

P 4

1-20

05

- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e

- H

erói

- E

tapa

s/O

bjec

tivos

- P

atro

cíni

o

- C

onsa

graç

ão

- S

eque

las

- A

rqué

tipo

- “G

arci

a te

m a

gora

com

o ob

ject

ivo

o m

onte

Lho

tse

(851

6m)

…”

- “…

Gar

cia,

que

con

ta c

om o

apo

io d

a G

alp

e do

Ski

parq

ue p

ara

mai

s es

ta e

xped

ição

…”

- “O

úni

co a

lpin

ista

por

tugu

ês a

sub

ir ao

cum

e do

Eve

rest

e…”

- “…

o al

pini

sta

port

uguê

s, q

ue q

uase

pag

ou c

om a

pró

pria

vid

a…”

- “…

o fe

ito d

e su

bir

ao p

ico

mai

s al

to d

o m

undo

.”

P 4

2-20

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da

Exp

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- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- C

onqu

ista

s -

“Alp

inis

ta J

oão

Gar

cia

atin

giu

onte

m o

cum

e do

Lho

tse”

P 4

4-20

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Exp

ediç

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- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e

- E

tapa

s/O

bjec

tivos

- P

atro

cíni

o

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

- C

onsa

graç

ão

- “O

ito p

icos

com

mai

s de

oito

mil

met

ros

de a

ltitu

de e

m c

inco

ano

s é

o ob

ject

ivo

que

João

Gar

cia

quer

cum

prir”

- “O

con

trat

o co

m o

Mill

eniu

m…

liber

tou-

o da

s qu

estõ

es fi

nanc

eira

s…”

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há c

oisa

s qu

e nã

o co

ntro

la, c

omo

é o

caso

das

con

diçõ

es c

limat

éric

as…

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o ún

ico

alpi

nist

a po

rtug

uês

a co

nqui

star

com

suc

esso

o c

ume

do E

vere

ste…

P 4

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- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

- H

erói

- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

- A

rqué

tipo

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onqu

ista

s

- “N

o S

hish

apan

gma,

em

cuj

as v

erte

ntes

Bru

no C

arva

lho

enco

ntro

u a

mor

te n

a te

rça-

feira

, qu

ando

desc

ia d

o cu

me…

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os a

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ista

s sã

o de

spor

tista

s…de

um

a au

ra d

e he

roís

mo

e ro

man

tism

o ra

ra n

os t

empo

s qu

e

corr

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João

Gar

cia,

que

na

terç

a-fe

ira c

onse

guiu

o s

eu o

itavo

pic

o de

800

0m.”

P 4

9-20

06

- H

erói

- Jo

ão G

arci

a e

Eve

rest

e

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- A

rqué

tipo

- P

repa

raçã

o

- C

onsa

graç

ão

- S

eque

las

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

- P

atro

cíni

o

- A

lpin

ista

Joã

o G

arci

a ta

mbé

m é

her

ói d

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nda

dese

nhad

a…a

fam

a e

o es

tatu

to d

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rói…

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depo

is d

e du

as te

ntat

ivas

falh

adas

.”

- “J

oão

Gar

cia

piso

u o

cum

e do

Eve

rest

e em

199

9…”

- “…

sofr

eu c

onge

laçõ

es ir

reve

rsív

eis

nas

mão

s, n

os p

és e

no

nariz

.”

- “…

perd

eu o

com

panh

eiro

de

esca

lada

Pas

cal D

ebro

uwer

, víti

ma

de u

ma

qued

a…”

- “G

arci

a, 3

9 an

os,

enco

ntro

u um

pat

roci

nado

r qu

e lh

e pe

rmite

ded

icar

-se

a te

mpo

int

eiro

à m

issã

o de

conq

uist

ar to

das

as m

aior

es m

onta

nhas

da

terr

a.”

P 5

0-20

06

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

- P

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cíni

o

- “B

runo

Car

valh

o m

orre

u qu

ando

des

cia

do S

hish

apan

gma…

- “…

com

a c

olab

oraç

ão d

o M

illen

ium

BC

P, p

atro

cina

dor

da e

xped

ição

lide

rada

por

Joã

o G

arci

a…”

P 5

1-20

07

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XII

I

- (R

ecor

de)

*

- “A

ppa

é um

she

rpa

nepa

lês…

torn

ou a

inda

mai

s in

alca

nçáv

el o

seu

rec

orde

, ao

sub

ir o

Eve

rest

e…pe

la

17ª

vez.

P 5

2-20

07

- P

roje

ctos

de

João

Gar

cia

- H

erói

- R

isco

s e

Aci

dent

es n

o A

lpin

ism

o

- E

tapa

s/O

bjec

tivos

- A

rqué

tipo

- T

ragé

dia/

Aci

dent

e

- “É

a te

rcei

ra e

tapa

do

proj

ecto

“Á

Con

quis

ta d

os P

icos

do

Mun

do””

- “…

só 1

3 ho

men

s co

nseg

uira

m e

sta

proe

za,

men

os d

e m

etad

e se

m r

ecor

rere

m a

o us

o de

gar

rafa

s de

oxig

énio

, um

a pr

emis

sa n

as e

scal

adas

do

port

uguê

s.”

- “…

infe

lizm

ente

mar

cada

pel

a m

orte

do

Bru

no C

arva

lho…

* N

otíc

ias

não

cont

abili

zada

s no

nos

so s

iste

ma

cate

goria

l por

não

se

incl

uíre

m e

m n

enhu

ma

das

cate

goria

s cr

iada

s.

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