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    RESENHA

    VIGIAR E PUNIR

    Luis Eduardo Crosselli

    ResenhaVigiar e Punir: Histria da Violncia nas PrisesEditora Vozes, So Paulo 2001, 262p.Autor: Michel Foucault

    Michel Foucault (1926/1984), pensador e filsofo francs, detm um acervo considervel de trabalhospublicados durante a carreira de escritor. Tambm exerceu por muitos anos o magistrio como catedrtico dacadeira de sistemas de pensamento no Collge de France, onde desenvolveu o importante estudo e pesquisasobre a estrutura das instituies judiciais e penitencirias antigas e modernas.

    Profundo reconstrutor do pensamento sobre paradigmas das cincias sociais, Foucault atravs de seuestudo cientfico e com apoio em documentos e textos produziu uma obra de grande envergadura e importnciano meio social, filosfico e jurdico, principalmente aos apreciadores da dogmtica da cincia penal.

    Vigiar e Punir sem dvida um tratado histrico sobre a pena enquanto meio de coero e suplcio, meiode disciplina e aprisionamento do ser humano, revelando a face social e poltica desta forma de controle socialaplicado ao direito e s sociedades de outrora, especialmente naquelas em que perdurou por muitos sculos oregime monrquico.

    A obra dividida pelo autor quatro partes, traz a forma de punio tpica que perdurou at o fim do sculoXVII e princpio do sculo XVIII predominantemente na Europa onde o sistema de governo monrquicopredominou, pontuando que o castigo da pena aplicado aos condenados travestia-se como um sofrimento fsicoincessante e brutal aplicado ao corpo dos mesmos. Narra contextos histricos principalmente desenvolvidos naFrana com numerosas maneiras de aplicao de flagelo humano, onde o poder soberano do estado mitigavaqualquer forma de expresso dos direitos fundamentais inerentes a prpria existncia da pessoa enquantosujeito de direitos.

    Apenas para exemplificar a crueldade da apenao enquanto retribuio ao mal causado, cita seces demembros seguidas de incndio aos restos mortais, mutilaes de cabeas seguidas de facadas lanadas aopeito, enforcamento seguido de banho em caldeira de gua fervente, e todas as formas possveis e imaginveisde tortura e manifestao do poder sobre os corpos dos condenados.

    Este mtodo denotava a exortao do suplcio, ou como Foucault mesmo definiu a arte equitativa dosofrimento, para traduzir a expresso mxima do poder estatal sobre os subordinados (a economia do poder,segundo o autor), alimentados pela violncia aplicada ao corpo do condenado, como um processo dereconstruo da ordem violada naquele instante. Tudo franqueado por um processo criminal sigiloso einquisitorial, onde nas palavras do insigne pensador, o saber era privilgio absoluto da acusao, onde o suplciose propaga enquanto agente do poder.

    Eis a a maneira de garantir o sistema vigente e legitim-lo enquanto poder de submisso do Estado sobreas massas de populaes, sistema, alis, que no nos parece estranho nos dias atuais, na medida em quecontinuamos a observar no poder do Estado sobre seus cidados, a franca estratgia das classes dominantesem dar continuidade ao processo de ideologia da submisso cuja qual dentre outros elementos sociais, encontrana priso um meio de tornar o indivduo apto absoro inconteste das classes superiores normalmenteamalgamadas s elites do poderio econmico.

    Segundo os estudos do Ilustre Professor, o corpo do condenado se tornava cosia do rei, sobre a qual osoberano imprimia sua marca e deixava cair os efeitos de seu poder. O povo temeroso e reverencial a este poderenxergava neste simbolismo exponencial, o carter e funo de preveno geral negativa da pena, serviam detestemunhas para que o suplcio fosse reverenciado por todos. Um martrio corporal que faz refletir ao leitor aocompreender o ser humano da poca como verdadeiras massas de manobras a servio das monarquiasreinantes, sobretudo na Frana, donde colhido pelo autor grande parte dos relatos histricos.

    Foucault narra a mudana do paradigma do martrio infligido ao condenado, abordando a temtica dosreformadores dos sculos XVIII e XIX, que, enxergando nos espetculos de tortura do corpo do condenado osurgimento da compaixo popular, passaram a pleitear a supresso delas. Surgem as prises como forma demanuteno da lei e ordem, de novo paradigma para legitimao do poder estatal, de validao do contrato socialante uma mudana nas relaes sociais, causada principalmente pela economia de mercado e circulao debens de consumo, alvos constantes de pilhagens e de roubos.

    Para dar apoio a esta nova dinmica do poder do capital, com a mudana de novos bens jurdicos a seremprotegidos, o sistema penal concebido para deslocar-se do eixo de vingana do soberano para a defesa dasociedade burguesa. realada a existncia de princpios mnimos a serem observados na aplicao da pena,que no mais atinge o corpo do condenado (antes coisa do rei, e agora bem social, objeto de uma apropriaocoletiva e til), mas sim sua alma.

    Em seu estudo, Michel Foucault identifica a disciplina mantida nas prises como algo a moldar os corpos

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    dos indivduos, enquanto processo de docilizao para sujeio da vontade e controle da produo de energiaindividual voltado ao capitalismo. D-nos uma clara viso dos processos de adestramentos desenvolvidos nocrcere, semelhantes em seminrios, quartis, escolas, locais em que a supresso do tempo um forte aliadoneste processo de sujeio. Identifica a aprendizagem corporativa como forma de desenvolvimento deprogramas bem definidos para atendimento deste estado de coisas, pautado pela dominao do sistema e pelasujeio dos seres humanos.

    Em verdade, o brilhante professor demonstra que as prticas disciplinares que tornam os homensdomveis (e porque no dizer domesticveis), prprias da priso, suplantam a rbita daquele meio, e tm alcanceque transplanta muito alm das barreiras impostas pelas muralhas correcionais, transmudando-se econstituindo-se em verdadeiras armas tecnolgicas de poder, alcanar todos os membros da sociedade ondeencontra-se contextualizada.

    O autor conclui pelo paradoxo da realidade e do modelo coercitivo de correo franqueado peloaprisionamento, na medida em que enquanto o modelo pensado desejaria reprimir e reduzir a criminalidade,selecionar e organizar a delinqncia, em verdade passa a contribuir para a manuteno dela, como um crculovicioso e sem fim. Esta forma de constatar o sentido de punir o indivduo pe em cheque tanto alguns estudosliberais que vem na priso moderna algo de mais avanado em termos de humanizao das prticas penaisoutrora tidas como desumanas, quanto concepo marxista mais radical, que v nas transformaes daspenalidades, apenas um instrumento a mais, a dar sustentao ao modo de vida capitalista calcado na produode massa.

    Vigiar e Punir, uma obra atual e necessria compreenso da histria do direito penal, do jogo emanuteno do poder constitudo sobre a sociedade de um modo geral, que nos faz refletir sobre a proteo queeste importante meio de controle social pde, e ainda pode oferecer enquanto poderoso instrumento garantidordos interesses dominantes.

    Luis Eduardo CrosselliAdvogado, Especialista em Direito Penal pela Escola Superior de Advocacia da OAB/SP e Coordenador-adjunto de

    internet do IBCCRIM.

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