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Profundo reconstrutor do pensamento sobre paradigmas das ciências sociais, Foucault através de seu estudo científico e com apoio em documentos e textos produziu uma obra de grande envergadura e importância no meio social, filosófico e jurídico, principalmente aos apreciadores da dogmática da ciência penal. Vigiar e Punir é sem dúvida um tratado histórico sobre a pena enquanto meio de coerção e suplício, meio de disciplina e aprisionamento do ser humano, revelando a face social e política desta forma de controle social aplicado ao direito e às sociedades de outrora, especialmente naquelas em que perdurou por muitos séculos o regime monárquico. A obra dividida pelo autor quatro partes, traz a forma de punição típica que perdurou até o fim do século XVII e princípio do século XVIII predominantemente na Europa onde o sistema de governo monárquico predominou, pontuando que o castigo da pena aplicado aos condenados travestia-se como um sofrimento físico incessante e brutal aplicado ao corpo dos mesmos. Narra contextos históricos principalmente desenvolvidos na França com numerosas maneiras de aplicação de flagelo humano, onde o poder soberano do estado mitigava qualquer forma de expressão dos direitos fundamentais inerentes a própria existência da pessoa enquanto sujeito de direitos. Apenas para exemplificar a crueldade da apenação enquanto retribuição ao mal causado, cita secções de membros seguidas de incêndio aos restos mortais, mutilações de cabeças seguidas de facadas lançadas ao peito, enforcamento seguido de banho em caldeira de água fervente, e todas as formas possíveis e imagináveis de tortura e manifestação do poder sobre os corpos dos condenados. Este método denotava a exortação do suplício, ou como Foucault mesmo definiu “a arte equitativa do sofrimento”, para traduzir a expressão máxima do poder estatal sobre os subordinados (a “economia do poder”, segundo o autor), alimentados pela violência aplicada ao corpo do condenado, como um processo de reconstrução da ordem violada naquele instante. Tudo franqueado por um processo criminal sigiloso e inquisitorial, onde nas palavras do insigne pensador, “o saber era privilégio absoluto da acusação”, onde o suplício se propaga enquanto agente do poder. Eis aí a maneira de garantir o sistema vigente e legitimá-lo enquanto poder de submissão do Estado sobre as massas de populações, sistema, aliás, que não nos parece estranho nos dias atuais, na medida em que continuamos a observar no poder do Estado sobre seus cidadãos, a franca estratégia das classes dominantes em dar continuidade ao processo de ideologia da submissão cuja qual dentre outros elementos sociais, encontra na prisão um meio de tornar o indivíduo apto à absorção inconteste das classes superiores normalmente amalgamadas às elites do poderio econômico. Segundo os estudos do Ilustre Professor, o corpo do condenado se tornava cosia do rei, sobre a qual o soberano imprimia sua marca e deixava cair os efeitos de seu poder. O povo temeroso e reverencial a este poder enxergava neste simbolismo exponencial, o caráter e função de prevenção geral negativa da pena, serviam de testemunhas para que o suplício fosse reverenciado por todos. Um martírio corporal que faz refletir ao leitor ao compreender o ser humano da época como verdadeiras massas de manobras a serviço das monarquias reinantes, sobretudo na França, donde colhido pelo autor grande parte dos relatos históricos. Foucault narra a mudança do paradigma do martírio infligido ao condenado, abordando a temática dos reformadores dos séculos XVIII e XIX, que, enxergando nos espetáculos de tortura do corpo do condenado o surgimento da compaixão popular, passaram a pleitear a supressão delas. Surgem as prisões como forma de manutenção da lei e ordem, de novo paradigma para legitimação do poder estatal, de validação do contrato social ante uma mudança nas relações sociais, causada principalmente pela economia de mercado e circulação de bens de consumo, alvos constantes de pilhagens e de roubos. Para dar apoio a esta nova dinâmica do poder do capital, com a mudança de novos bens jurídicos a serem protegidos, o sistema penal é concebido para deslocar-se do eixo de vingança do soberano para a defesa da sociedade burguesa. É realçada a existência de princípios mínimos a serem observados na aplicação da pena, que não mais atinge o corpo do condenado (antes coisa do rei, e agora “bem social, objeto de uma apropriação coletiva e útil”), mas sim sua alma. Em seu estudo, Michel Foucault identifica a disciplina mantida nas prisões como algo a moldar os corpos Revista liberdades home > publicações > revista liberdades > Revista nº 2: Setembro - Dezembro de 2009 > RESENHA

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    RESENHA

    VIGIAR E PUNIR

    Luis Eduardo Crosselli

    ResenhaVigiar e Punir: Histria da Violncia nas PrisesEditora Vozes, So Paulo 2001, 262p.Autor: Michel Foucault

    Michel Foucault (1926/1984), pensador e filsofo francs, detm um acervo considervel de trabalhospublicados durante a carreira de escritor. Tambm exerceu por muitos anos o magistrio como catedrtico dacadeira de sistemas de pensamento no Collge de France, onde desenvolveu o importante estudo e pesquisasobre a estrutura das instituies judiciais e penitencirias antigas e modernas.

    Profundo reconstrutor do pensamento sobre paradigmas das cincias sociais, Foucault atravs de seuestudo cientfico e com apoio em documentos e textos produziu uma obra de grande envergadura e importnciano meio social, filosfico e jurdico, principalmente aos apreciadores da dogmtica da cincia penal.

    Vigiar e Punir sem dvida um tratado histrico sobre a pena enquanto meio de coero e suplcio, meiode disciplina e aprisionamento do ser humano, revelando a face social e poltica desta forma de controle socialaplicado ao direito e s sociedades de outrora, especialmente naquelas em que perdurou por muitos sculos oregime monrquico.

    A obra dividida pelo autor quatro partes, traz a forma de punio tpica que perdurou at o fim do sculoXVII e princpio do sculo XVIII predominantemente na Europa onde o sistema de governo monrquicopredominou, pontuando que o castigo da pena aplicado aos condenados travestia-se como um sofrimento fsicoincessante e brutal aplicado ao corpo dos mesmos. Narra contextos histricos principalmente desenvolvidos naFrana com numerosas maneiras de aplicao de flagelo humano, onde o poder soberano do estado mitigavaqualquer forma de expresso dos direitos fundamentais inerentes a prpria existncia da pessoa enquantosujeito de direitos.

    Apenas para exemplificar a crueldade da apenao enquanto retribuio ao mal causado, cita seces demembros seguidas de incndio aos restos mortais, mutilaes de cabeas seguidas de facadas lanadas aopeito, enforcamento seguido de banho em caldeira de gua fervente, e todas as formas possveis e imaginveisde tortura e manifestao do poder sobre os corpos dos condenados.

    Este mtodo denotava a exortao do suplcio, ou como Foucault mesmo definiu a arte equitativa dosofrimento, para traduzir a expresso mxima do poder estatal sobre os subordinados (a economia do poder,segundo o autor), alimentados pela violncia aplicada ao corpo do condenado, como um processo dereconstruo da ordem violada naquele instante. Tudo franqueado por um processo criminal sigiloso einquisitorial, onde nas palavras do insigne pensador, o saber era privilgio absoluto da acusao, onde o suplciose propaga enquanto agente do poder.

    Eis a a maneira de garantir o sistema vigente e legitim-lo enquanto poder de submisso do Estado sobreas massas de populaes, sistema, alis, que no nos parece estranho nos dias atuais, na medida em quecontinuamos a observar no poder do Estado sobre seus cidados, a franca estratgia das classes dominantesem dar continuidade ao processo de ideologia da submisso cuja qual dentre outros elementos sociais, encontrana priso um meio de tornar o indivduo apto absoro inconteste das classes superiores normalmenteamalgamadas s elites do poderio econmico.

    Segundo os estudos do Ilustre Professor, o corpo do condenado se tornava cosia do rei, sobre a qual osoberano imprimia sua marca e deixava cair os efeitos de seu poder. O povo temeroso e reverencial a este poderenxergava neste simbolismo exponencial, o carter e funo de preveno geral negativa da pena, serviam detestemunhas para que o suplcio fosse reverenciado por todos. Um martrio corporal que faz refletir ao leitor aocompreender o ser humano da poca como verdadeiras massas de manobras a servio das monarquiasreinantes, sobretudo na Frana, donde colhido pelo autor grande parte dos relatos histricos.

    Foucault narra a mudana do paradigma do martrio infligido ao condenado, abordando a temtica dosreformadores dos sculos XVIII e XIX, que, enxergando nos espetculos de tortura do corpo do condenado osurgimento da compaixo popular, passaram a pleitear a supresso delas. Surgem as prises como forma demanuteno da lei e ordem, de novo paradigma para legitimao do poder estatal, de validao do contrato socialante uma mudana nas relaes sociais, causada principalmente pela economia de mercado e circulao debens de consumo, alvos constantes de pilhagens e de roubos.

    Para dar apoio a esta nova dinmica do poder do capital, com a mudana de novos bens jurdicos a seremprotegidos, o sistema penal concebido para deslocar-se do eixo de vingana do soberano para a defesa dasociedade burguesa. realada a existncia de princpios mnimos a serem observados na aplicao da pena,que no mais atinge o corpo do condenado (antes coisa do rei, e agora bem social, objeto de uma apropriaocoletiva e til), mas sim sua alma.

    Em seu estudo, Michel Foucault identifica a disciplina mantida nas prises como algo a moldar os corpos

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    dos indivduos, enquanto processo de docilizao para sujeio da vontade e controle da produo de energiaindividual voltado ao capitalismo. D-nos uma clara viso dos processos de adestramentos desenvolvidos nocrcere, semelhantes em seminrios, quartis, escolas, locais em que a supresso do tempo um forte aliadoneste processo de sujeio. Identifica a aprendizagem corporativa como forma de desenvolvimento deprogramas bem definidos para atendimento deste estado de coisas, pautado pela dominao do sistema e pelasujeio dos seres humanos.

    Em verdade, o brilhante professor demonstra que as prticas disciplinares que tornam os homensdomveis (e porque no dizer domesticveis), prprias da priso, suplantam a rbita daquele meio, e tm alcanceque transplanta muito alm das barreiras impostas pelas muralhas correcionais, transmudando-se econstituindo-se em verdadeiras armas tecnolgicas de poder, alcanar todos os membros da sociedade ondeencontra-se contextualizada.

    O autor conclui pelo paradoxo da realidade e do modelo coercitivo de correo franqueado peloaprisionamento, na medida em que enquanto o modelo pensado desejaria reprimir e reduzir a criminalidade,selecionar e organizar a delinqncia, em verdade passa a contribuir para a manuteno dela, como um crculovicioso e sem fim. Esta forma de constatar o sentido de punir o indivduo pe em cheque tanto alguns estudosliberais que vem na priso moderna algo de mais avanado em termos de humanizao das prticas penaisoutrora tidas como desumanas, quanto concepo marxista mais radical, que v nas transformaes daspenalidades, apenas um instrumento a mais, a dar sustentao ao modo de vida capitalista calcado na produode massa.

    Vigiar e Punir, uma obra atual e necessria compreenso da histria do direito penal, do jogo emanuteno do poder constitudo sobre a sociedade de um modo geral, que nos faz refletir sobre a proteo queeste importante meio de controle social pde, e ainda pode oferecer enquanto poderoso instrumento garantidordos interesses dominantes.

    Luis Eduardo CrosselliAdvogado, Especialista em Direito Penal pela Escola Superior de Advocacia da OAB/SP e Coordenador-adjunto de

    internet do IBCCRIM.

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