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  • FORROBOD Burleta de costume canoca, d

    Lili'" Peixoto e CarIo Bettencollrt.

    Mu Ica de Franc/:>ca GOllzaga

    NESTE NMERO:

    JULHO E

    AGOSTO DE 1961

    MERO 322

    SOCIEDADE BRASILEIRA

    DE AUTORES TEATRAIS

    (Desellho de 'Irinaz Fax) . MAGICA, GENERO TEATRAL DESAPARECIDO, nas pginas 3 E' ,t)

  • A

    COLETANEA TEATRAL CADERNO N. 73

    LUIZ PEIXOTO e CARLOS BETTENCOURT

    FORROBODOI\

    Burleta de costumes cariocas em 3 atas, msica de FRANCISCA GONZAGA

    \

    (Representada pela primeira vez no teatro So Jos, do Rio de Janeiro, em 11 de junho de 191 2)

    Edio da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais 1 9 6 1

  • II F 6 d I IIA Histria de orro o o

    Foi no ano de 1911. Numa penso da rua do Catete, onde residia Luiz Peixoto, vamos en

    contrar ste e Carlos Bettencourt dispostos a escrever uma pea. Compram dois maos de cigarros, e s oito horas da noite, pem mos obra. O trabalho vai pela noite a dentro. Os cigarros acabam. Voltam a ser fumadas as pontas anteriormente desprezadas. As seis horas da manh, quando o sol se levanta, o pano cai no final da pea. Estava escrita a burleta "Forrobod".

    Mas tudo isso era apenas o comeo de uma penosa jornada. Nenhuma emprsa queria montar a obra dos dois novatos. Uma a uma fecharam-se as caras, e as portas tambm, diante dos dois autores. Mas les insistem. Ambos fazem malabarismos incrveis para demonstrar o mrito da pea.

    Por fim, o popular empresrio Paschoal Segreto, vencido pela infatigvel insistncia dos dois rapazes, chama Alvarenga Fonseca, que ento dirigIa o teatro So Jos, e ordena-lhe: "Vamos acabar de uma vez por tdas com isto. Monte essa pea de qualquer maneira." .

    A pea ia ser representada apenas por isso: para que Paschoal Segreto se visse livre daqules importunos. Montagem ... Qual nada! ... No valia a pena perder tempo com aquilo ... Havia muita fantasia velha no depsito. E ordenou-se a busca. Mesmo assim se tornou imprescindvel comprar uma farda de guarda noturno para o Alfredo Silva. Quanto custava isso ... Oitenta mil ris. E depois de alguma hesitao sempre se resolveu a Emprsa a gastar com a montagem de "Forrobod" oitenta mil ris.

    E "Forrobod", com msica de Francisca Gonzaga, a inolvidvel protetora de todos os autores novos que revelassem qualidades, sobe cena pela primeira vez para iniciar uma srie de 1.500 representaes consecutivas! ...

  • Personagens e Seus Criadores

    GUARDA NOTURNO o. oooo' . o o' o. o Alfredo Silva ESCADANHAS ooo. oooooo o. Asdrubal Miranda SEBASTIO oooo o o.. o.. ooo' Pedrozo PRAXEDES .. oo.... o o' ooo. o oo. oo... '" Magalhes BARRADAS o. o. oO" o o o o.' oo Machado LUL o. o o. o. o o.. oo o oo o.. o Mattos MAESTRO o o. o o.. o. . . .. Franklin de Almeida BICO DOCE oo o o oo o , NoN. PENETRA oo o o o oo. oo oo NoN. FUZILEIRO o.. o. o.. o' o o. o o.. " N.N. ZEFERINA .. o. o o o RITA oo o SI ROSA MADAME PETIT-POIS 1. MULATO o' 2. MULATO o.. o 3. MULATO o. oo

    "oo. . . . . . . . .. Ceclia Prto o , Pepa Delgado

    >,

    o N.N. o o Cinira Polnio

    O' o o oo. oo N.N. o o N.N.

    o. oo. . . . . . . . . . . . . . . . .. NoN.

    Populares, msicos, etc., etc. Ao: Num subrbio do Rio de Janeiro.

    \

    Tda e qualquer representao desta pea, seja por que processo fr, depende de autorizao prvia da Socidade Brasileira de Autores Teatrais.

  • FORROBOD Burleta de costumes cariocas em 3 atos, de LUIZ PEIXOTO e

    CARLOS BETTENCOURT, msica de FRANCISCA GONZAGA

    1.0 ATO tTrecho de rua suburbana. Ao fundo fa

    chada de casa assobradada, com sacada e por tas praticveis no andar trreo e no 1." andar. Mastro com a bandeira e o escudo do clube. - poca 1910).

    (H um intenso movimento no interior. porta de entrada, Praxedes, com a braa deira da agremiao, recebe os associados. Na rua, curiosos e associados. Ouvemse api tos insistentes, fra. Entram vrios homens e mulheres em trajes de dormir.)

    CRO GERAL-

    Que ser? Que haver? Sarrabulho? Porque est todo o povo alarmado? Que barulho! Que barulho! No se pode dormir sossegado I

    CRO DE MULHERES

    Que foi isso? Que foi isso? Porque tanto rebolio?

    (Entra Sebastio apitando desesperada mente).

    SEBASTIO De polcia no h furo. De apitar cansado estou! O ladro saltou o muro, Bateu asas e avuou!

    UM DO POVO - Mas afinal o que que est havendo no bco?

    SEBASTIO (chorando) - Um ladro limo pou o galinheiro do patro! No ficou um frango. Deixou o poleiro em frangalhos!

    VOZES - Ora! Por causa de um furtozinho de galinhas, tira-se o sono da vizinhana e quase vem o mundo abaixo?! (Rompe a charanga no interior.)

    UM DO SERENO - Ao chro! Ao chorongo, pessoal! (Sebastio sai, sempre apitan do, seguido do grupo dos vizinhos. O pessoal

    do sereno avana para a porta, onde Praxedes abre os braos para conter a invaso.)

    PRAXEDES - Que negcio sse? Onde que ns estamos? Aqui s entra scio quites com recibo do ms transquito I

    UM PENETRA - Seu Praxedes, seje mais igual com ns, que diabo! Isso uma insigna bsta, chefe!

    CRO - uma violncia! Quebra! Quebra logo essa bodga!

    SEGUNDO PENETRA - Um momento! melhor empregarmos a diplomacia. Eu amoleo o homem (A Praxedes) Distincto confrade, apelo pras suas colidade orgnica e inorgnica, para o seu carter firme, impoluto, qui inquebrantave. T falando em nome da coletividade, iminente prtico, dignssimo Pra xedes!

    PRAXEDES - Escusa de adorn as oito letra do meu nome com sses floriado. Aqui, penetra no forma! S entra passando por riba do meu cadver!

    VOZES - No adianta! No vai por bem, ento vai por mal! Mete o ombro pessoal I Entra tudo! De qualquer maneira I (Tumulto. Avanam todos. Entra guarda noturno, vagal'OSO, displicente.)

    VOZES - Chegou o guarda noturno ! GUARDA - Onde foi o fogo? VOZES - (Simultneas) uma violncia!

    Um absurdo! O baile pblico! GUARDA - Mas sintetizemos: qual obe

    jetivamente, o motivo do turumbamba? SEBASTIO - Seu guarda, por favor. O

    caso o seguinte. VOZES (Simultneas) - Querem nos bar

    rar a entrada! Ou o senhor toma uma provi dncia ou ns arrebentamos essa bodga!

    GUARDA - Espera a. No tumurtuemos. Que fale cada um de persi pessoalmente. Que

  • 5REVISTA DE TEATRO

    se manifeste em primeiro lugar aqui o homem do apito.

    SEBASTIO - Trata-se de um caso gravssimo, seu guarda. Roubaram os frangos do meu patro.

    GUARDA - Roubaram as aves? Que pena! SEBASTIO - E no meio dles, foram

    -se os dois melhores e mais raros. Que ser de mim, meu Jesus? Que far o patro quando souber!

    GUARDA - Se eram de raa, brama ... UM PENETRA - O baile j est fervendo

    l dentro. E ns vamos ficar aqui, chupando no ddo?

    VOZES - Afinal o senhor toma ou no toma uma providncia?

    GUARDA - No se impressionem. Vamos por partes. Inicialmente vou tratar do caso das galinhas. Consultemos a lista dos assinantes. (Desenrola uma comprid!l tira de papel. A Sebastio) Se o seu patro no figurar aQui na lista dos assinantes, isto , se no tiver morrido com os cinco bagarotes mensais para a corporao, adeus frangos, um feliz ano novo pro gatuno e os meus sinceros psames pra voc. Nome do seu patro.

    SEBASTIO - Juca Furtado, um seu criado.

    GUAR - Ah! le ento como a pescada que antes de ser j era ... (Correndo a lista) Furtado. .. Furtado... Furtado... Voc est com muita sorte! Encontrei.

    SEBASTIO - O gatuno? GUARDA - No, o Furtado.

    Eu no relaxo dste psto nem a sco, faa luar, ou faa chuva ou vendaval de olhos abertos! tda a noite estou no tco At dormir, dormir em qualquer fundo de

    quintal. (Cro repete)

    Vivo a rondar, vivo a apalpar, etc ...

    UMA MULATA nhor, ns tudo aqui se ninando pra ns.

    GUARDA - No

    Quer dizer que pro se semos lixo, no ? T

    se impressione. (Entra

    SEBASTIO - Ento vamos agir imedia- \2J ZEFERINA - Ningum. Est no sangue.

    Zeferina, bamboleando-se). VOZES - Chegou a porta-estandarte! GUARDA - Olha quem ela ! S Zeferina!

    Estou te gostando, mulata! Cada vez mais viosa, mais gelatinosa, maIs inzuberante!

    ZEFERINA - Bondade sua ... GUARDA - Como ? Continua namoran

    do pra fra? ZEFERINA - Como? GUARDA - Cozinhando, quero eu dizer ... ZEFERINA - Cozinhando? Iche! Suba I

    Agora estou cantando no circo. GUARDA - natural. Voc sempre foi

    do picadeiro rasgado... (Tomandolhe uma das mos e fazendolhe dar uma volta) Maravilhosa! Olhem s esta plstica I Parece uma Vnus de Milho!

    SEBASTIO (Ao Guarda) - Milho! No se esquea das galinhas, seu Guarda I

    GUARDA - No atrapalha. (A Zeferina, que continua mexendo as ancas) Isso, marva d!l! Me castigaI Tu me matas com essas tuas guinadas! Me maltrata mais, me xinga! Cspe nos galo do teu Guarda Noturno! Quem foi ~ue te ensinou tudo isso, peste?

    tamente. GUARDA - No se impressione. Agora,

    no. Terminou a hora da ronda. Neste momento volto a ser um cidado civil, gozando de tdas as prerrogativas que me garante a Constituio. O que eu quero gozar!

    (Canta) ( I Sou professor de clarineta e de sanfona, Durante o dia pra ganhar para os pires. Durante a noite sou o guarda aqui da zona, Tomando conta dos quintais e dos pores.

    CRO (Repete) Sou professor de clarineta e de sanfona, Etc, etc.

    GUARDA Vivo a rondar, vivo a apitar nas horas mortas e apalpo as portas por no ter mais nada que apalpar.

    (Canta).

    Sou mulata brasileira feiticeira frutinha nacional. Sou perigosa e matreira, Sou arteira Como um pecado mortal. Pra provar o gostoso delicioso sabor que esta fruta tem todo mundo anda ansioso e que guloso est seu guarda tambm!

    Quando eu dano no salo, -- que peixo I diz aqule que me v E eu vou girando o balo como um pio, somente para mo! (Cro repete)

    ...

  • 6 FORROBOD

    Tenho sempre uns renitente pela frente Mas em todos dou a lata. Nesta terra, francamente, minha gente, no se pde ser mulata! (Cro repete)

    GUARDA (B~tendo palmas) - Um viva magnfica, invicta rainha do Carnaval! A nossa porta estandarte! (Um viva muito chcho faz-se ouvir.)

    ZEFERINA - Que isso, pessoal? Estou vendo vocs todos de tromba cada. Que muI" cheza esta?

    UM PENETRA - A burrocracia do segundo secretrio, D. Zeferina, cismou de inzigi recibo. Diz que sem recibo de quitao das mensalidade, hoje no entra nem rato!

    ZEFERINA (A Praxedes) - No entra ningum? Nem eu? Tu no vai me diz que a porta-estandarte dste troo vai sofr sse vexame!

    PRAXEDES - No pense em semelhantes coisa, S Zeferina! A senhora nossa, do peito! Pra senhora tdas as porta esto aberta, inclusive a do meu corao. (Numa curvatura) A casa sua ...

    ZEFERINA - ? Pois ento fique sabendo: S entro se o pessoal todo entr!

    GUARDA - Isso, mulata! Solidariedade de princpios e firmeza de caractres!!

    CRO - Apoiado! (Vaia.) tJ PRAXEDES - Um momento! Neste caso

    eu fao como Pilto: - lavo as mos. O 1.0 Secretrio quem vai arresolv! (Chamando p\J.ra dentro) Seu Escandanhas! (Aparece Escandanhas na sacada.)

    ESCANDANHAS - Que que h? PRAXEDES - Um enguio. S Zeferina

    acaba de declar que no comparece ao baile se os demais membaros fic de fra. E nenhum dles to em dia com a tesouraria ...

    ESCANDANHAS - Mas abri ste precedente abal os alicl'ceos, a base fundamen t, a prpria inconomia entrinsca do nosso clube!

    GUARDA - sse mulato tem valor mesmo! Qual Homero, qual Ruy Barbosa! Tudo isso junto dle zero!

    ZEFERINA - No adianta vi com os teus canto de sereia. Vamos v logo. Sim ou spas! Arresorve logo!

    ESCANDANHAS - Que posso eu fazer diante do seu repto? A soluo entr tudo, mesmo! (Vivas entusisticos de todo o pessoal.)

    ESCANDANHAS - Entram todos, mas tem um porm. .. aqule que se fiz de bsta, o guarda se compromete a peg le!

    GUARDA - Tratarei de peg-lo. SEBASTIO - Galo! E as galinhas, seu

    Guarda? GUARDA - No se impressione. Vivas ou

    mortas, elas ho de aparecer! (Desembainha o chanfalho e ordena:) Em forma! (Canta) Forrobod de massada, gostoso como le s, to bom como a cocada, melhor que o po de L.

    CRO (repete)

    Forrobod de massada, gostoso como le s ...

    GUARDA

    Chi, a zona est encrencada! Meu Deus, que forrobod!

    Tem enguio, tem feitio, na garganta d um n.

    SEBASTIO - Ento, seu guarda que [isso?

    CRO - Meu Deus, que forrobod! SEBASTIO

    Mas, ento, pelo que vejo, no apanho um frango s.

    GUARDA

    Eu vejo que j no vejo Meu Deus, que forrobod!

    (Guarda oferecendo o brao a Zeferina) Engata aqui! (Com ar solene transpe a porta de entrada, seguido do resto do pessoal. Pra xedes est de braos cruzados. Cada um que passa por le estica a lngua, vitorioso.)

    FIM DO V ATO

  • REVISTA DE TEATRO 7

    2. (Salo de b!lile. Ao fundo, em plano ele

    vado, o palanque da charanga, composta de bombardo, clarinete, flauta, pisto de vara, caixa e violo. - Executa-se uma qu:tdrilha, marcada por Escandanhas e danada por to dos os presentes.)

    ESCANDANHAS - Alabaut! ch de dentro! Gran chen de palet rodondo! Anda roda! Outra vez! A ces places! Balancete! Atencion! Changer de, damas! Troc de parias. (Confuso. Cada qual procura o seu par.)

    ZEFERINA - (Ao Guarda) Tira sse chanfalho, que est me atrapalhando as pernas, home! (Entram seis "corretos" pretos, de bnmco, calas bombacha, polainas e flor lapela. As mulatas, inclusive Zeferina, vo juntarse a les, abandonando bruscamente os seus pares. A um sinal do maestro, a charan ga pra de tocar.)

    GUARDA - (A Escandanhas) Est tudo perdido! Os corretos abafaram a banca.

    1:' MULATA (A 1." Correto) - Tudo de branco, heim? Msca no leite

    L" MULATO - Acabou de sair da lavanderia. ,

    ZEFERINA - (A 2.' Correto) Bonito cravo

    '

    2. CORRETO - (Retirando a flr e oferecendoa a Zeferina) - Permita flore-la.

    ZEFERINA - (Coloc:tndo o cravo no seio) Vem de encontro ao meu anseio.

    ESCANDANHAS - (Ao Guarda) Eu vou j acab com essa concorrena desle, espera a. (Dirigese aos pretos.) Embora contra gsto, eu sou folado, cavalheiros, a vos adi verti que esto frigindo o regulamento, O inteneraro nas nossas soir danante fraque preto. Jamais foi aqui premitido outro quarqu aliforme., ,

    4." MULATO - Bem, se assim, s nos resta uma artenaltiva: - camb fra. (Faz um sinal aos companheiros) Desenfeta o bco, companhros!

    2.' MULATA - Como ? Vocs vo zarp? Se forem me levem de reboque.

    3." MULATA - E duas! ZEFERINA - E trs! GUARDA - (A Escandanhas) Acho me

    lhor revogar as disposio em contrrio, seno o salo fica despido do alimento feminino, seu Escandanhas.. (Os "Corretos" vo saindo, de brao, com as mulatas).

    ESCANDANHAS - (Aos pretos) Por obsquio, faz fav! Atendendo a, im,meros pe-

    ATO didos, arresorvi abri uma exeplao - Fic8 o dito por no dito! (As mulatas aplaudem.)

    FUZILEIRO - Maestro, continua! (A oro questra volta tocar a quadrilha. Escandanh:ts. Guarda, Praxedes, vo ao encontro das suas damas, mas estas vo caindo nos bracos dos "Corretos". - E a quadrilha continu~, mar cada, agora por 1." Mulato.)

    Lu MULATO - Caminho da roa! Quem trouxe no leva! Balancete com a vizinha da frente! Meia vorta vorv! (As mulatas se desmancham a rir, enquanto os engeitados se agrupam, de um lado da cena, visivelmente contrariados. )

    (Bic Doce aparecendo na porta do fundo, depois de enfiar dois dedos na bca e soltar um estridente assobio) - Do licena? (Interrompe-se a dana, todos se voltam para o fundo. Cessa a msica. Rufos de caixa.)

    PRAXEDES - Eis que surge, meus senhores, um insig-ne arrepresentante da imo prencia. (Bico-Dce dirige-se para o centro de cena.) Tenho a honra de vos apresent o doutor Bico-Dce. (A BicoDce, indicando Escan danhas:) Aqui o nosso iminente secretrio.

    ESCANDANHAS - Escandanhas da Purificao, com salo de barbeiro a duzento ris barba e cabelo, rua da Sade. Apricam -se ventosas.

    ZEFERINA - E poeta. ESCANDANHAS - Nas horas vaga. A apa

    rec: os "Gemidos surdo", volume brochado com duzentas pgina. (Apertam-se as mos. lndicando Zeferina: -) Aqui a nossa invicta porta-estandarte, perdio da colnia portugusa domiciliada no Brasil.

    ZEFERINA - (Remexendo as ancas) Talvez te escreva, com tinta rxa.

    ESCANDANHAS - (Baixo, a Zeferina) No sacode tanto a chocolateira, mulata. Seje mais discreta. Que isso?

    PRAXEDES - (Apresentando o Guarda) O mantened da ordem.

    BICO-DCE - (Batendo uma continncia) Capito!

    GUARDA - No debocha! (Indicando Sebastio) O galinheiro. (Sebastio afasta-se, praguejando. )

    ESCANDANHAS - Falta o nosso indigno presidente. Cad o presidente? (Gritando para dentro) Seu Barradas! Seu Barradas!

    BARRADAS - (Entrando) (Com um guaro dan!lpo amarrado ao pescoo) Que l? Que ctiabo est boc a berrar pra i?

  • 8. .----=F:....:O:..:R:.:.:R=-=-O:..:B=-O.::....D_~ _

    ESCANDANHAS - o Barradas. BARRADAS - Joaquim Farias dos Ma

    galhes Barradas, natural da Porcalhota. Grau 33 da mercearia, com armazm de secos e molhados "Ao no se fia", pro serbir. (Bico Dce estendelhe a mo:) Tire pra l o bacalhau. Estou casmes sujas do dito, que hoje c o temos e do bom.

    ESCANDANHAS - O doutor Bico-Dce. BICO-DCE Redator-contnuo do "Jor

    nal do Brasil". BARRADAS Ah! jornaleiro? (A Es

    candanhas) sor Escandanhas. Anto? Que mais est espera pra meter o discursio? ESCANDANHAS - (Depois de retirar da aba do fraque vrhs flhas de papel que passa a ler.) Meus senhores, minhas senhoras de ambos os sexos: Revertere ad locum tum! Faltaria ao mais salgado dos deveres, se, neste momento solnico no erguesse a minha dbil voz para exaltar as colidade orgnica daqule que desapareceu! (surprsa geral) O grmio recreativo familiar danante Flor do Castelo do Corpo da Cidade Nova cobre-se de luto ...

    TODOS - Oh! BARRADAS - Cobre-se de qu? ESCANDANHAS - Cobre-se de luto. BARRADAS - No se cobre de coisa ne

    nhuma, sua vsta! ESCANDANHAS - Cobre-se sim, senhor.

    Est aqui escrito. Eu ainda tenho dois olhos na cara. Est aqui escrito!

    FUZILEIRO - Voc se estrepou, moreno! ste discurso o que foi lido no cemitrio de Marui, por ocasio do enterro de falecido tesoureiro Zacaria, quando bateu o 31.

    BARRAD,.:\S - Isto s pelos diabos! (Gri. tando pan dentro) Rosa! mulher! (Apa. rece porta da E. Rosa, uma crioula, limpan. do as mos no avental.)

    ROSA - Nh? BARRADAS - Cad-los os papis do dis

    curso do recepo que estabam na gaveta do antrio?

    ROSA - i! Vai v que foi aqules que os menino andou co les s vorta pra faz papagaio!

    BARRADAS - Papagaio! (D scos na ca bea.) Isto s a mim m'acontece! Raios os partam e mais me que os ps no mundo! (Sai, fuzilando.)

    GUARDA - No, o velho tem razo. O caso mesmo para dar o discurso... (A Es candanhas) Mas no se impressione. Eu vou salvar a situao arrecitando para esta se letra assistncia uma poesia. (Palmas).

    CRO - Ateno! O Guarda vai recitar!

    GUARDA - Trata-se de um troo publi cada no almanaque da "Sade da Mulher", da lavra do grande poeta brasileiro... Como mesmo o nome dle? Bem, isto no vem ao causo. (Anunciando) A caridade e a jus tia! (Recita) No tope do Carvalho erguia-se uma cruz E assim, em volta dela um bando de urubs. A noite estava safada. Nuvens de cambulhada Corriam pelo azul do firmamento Ao assoprar do vento! Nisto Judas chegou, O miservel, por trinta mil ris, tinha acabado de vender o Cristo. Ao ver aquela farra, perguntou: que isto? E uma coruja que estava em cima do aparador assim lhe respondeu: .- a tua obra, traidor! Judas encabulou e tirando do blso um comprido barbante, e vendo ali ao p um p de bananeira, deu-lhe logo vontade de fazer uma asneira. E praguejou: remorso cruel, que tanto me atazanas! Cuspiu pro lado e ali ficou dependurado como se fsse um cacho de bananas! (Aplau

    sos. Enxugando uma lgrima)

    mais forte do que eu. Cada vez que re cito ste negcio, d-me um n gog!

    ZEFERINA - (A Escand!lnhas, que est pensativo, batendo-lhe no ombro) Em que peno sas, Cardeal? Tristezas no pagam dividas ...

    ESCANDANHAS - Voc acha pouco o vexame? Mas tambm uma coisa eu te garanto: de hoje em diante no serei mais orador ofi cial desta melca!

    ZEFERINA - Isto besteira. Mas escuta aqui: onde que voc anda com a cabea? Nas nuvens. Pensando em qu?

    ESCANDANHAS -

    Pensando em ti! (Canta) No sei porqu te amei, Si Zeferina. 6 Porqu foi que te encontrei. Maldita sina! Esta dor no corao que sinto agora loucura da paixo que me devora: Se te encontro, tanajura, eu me enterneo e

  • REVISTA DE TEATRO 9

    logo esqueo. Mas se as vez bbo um bocado, ai, podes cr por ser to desprezado por voc!

    ZEFERINA -Seu cantor da madrugada eu te agradeo. Tanta frase apaixonada no mereo. Mas no posso as aceit, por Deus que no, Pois conheo a tua m reputao.

    ESCANDANHAS

    No sei porque te amei, Si Zeferina!

    ZEFERINA

    Porque foi que te encontrei ali na esquina.

    ESCANDANHAS

    Arde em nossos coraes chama perene.

    ZEFERINA

    Somos dois, dois lampees de querozene!

    TODOS - Bravissimo! Si Zeferina! Foi mesmo ao p da letra!

    ZEFERINA - E vocs ainda no viram nada. Hoje estou afrnica.

    BICo-DCE - Como arranjou isso, malmazel?

    ZEFERINA - Foi ante ontem. A patra havia saido. Eu fui experimentar uma soire dela, que me cabia como uma luva, e me esqueci da panela no fogo e entrou o bispo no feijo. Quando a dona voltou e tomou conhecimento das ocorrncia, me sapecou na rua e eu tive que enfrent o orvalho da noite. Acabei apanhando ste resfriado na garganta, que nem um d de meia fra posso dar!

    1.0 MULATO - Mas como ? A orquestra no d um ai da sua graa?

    PRAXEDES - (A maestro, que est dormindo) - Maestro Fraso, acorda pra cuspir!

    MAESTRO - (Levantando-se) Heim? Perdo, pensei que a minha humilde figura tivesse sido equilipiada!

    ESCANDANHAS - Modstia, Maestro! Tu um patrimnio nacion, e estaria mmo ao lado dos mai gnio da Orpa se no fsse anarfabeto.

    MAESTRO - Obrigado. Eu peo pr~xm!5-

    so ao nobre colega pr transmiti sses elogios aqui a todos os profess da orquestra. (Os msicos pem-se de p, sob aplausos.)

    (Canta) Entra firme, seu Manduca, agora avana os met! Sustenta a nota, seu Juca, Fum-fum-fum-fum fungag!

    Enquanto o bronze demora tapiando o violo, A clarineta vai embora. Vrta depoi!> com o pisto.

    Ao som da varsa chorosa na maior animao todos dana, todos goza -S quem no dana o Frazo ...

    ESCANDANHAS - (Batendo palmas) Senhores conscios e senhoras conscias! Ateno! Chegou o momento de se retemper os organismo. Saco vazio no fica em p, j dizia o grande fislofo lusitano Jaques Pires!

    GUARDA - ~sse moleque mmo das \ arabia! No perde ocasio de mostr a sua curtura! >,ESCANDANHAS - Antes, porm, de tomarmos assento nas mesa do fuai, arrecomendo aos ilustre conviva que se sirvam das comedoria com indiscreo e evitem, se possve, carreg os tai no brso. Cavalheiros, lev damas ao bufte !

    MARCHA FINAL

    ESCANDANHAS Vamos ao vinho, bagaceira e s empadinhas de camaro! Vamos s papas, ao porco assado, e feijoada de estimao!

    Tudo de graa, no custa nada! S a rabada So dez tosto!

    CRO Tudo de graa, no custa nada! Vamos ao grude! Segue o cordo!

    (Saem todos pela esquerda, de brao da do, em p!lSSO de marcha, convidados pelo Guarda, de chanfalho em riste.)

    FIM DO 2: ATO

  • ]0 FORROBOD

    3. (Mesmo cenrio do 2. Ato. Vozes no in

    terior.) UMA VOZ - Rip, hip, hurra! (Palmas.

    Entra Rita, pensativa, medindo os passos. A seguir, o maestro.)

    MAESTRO - (Num salto) Rita! RITA - (Assustada) Vte! O senhor pa

    rece assombrao I Me prega cada susto. MAESTRO - Ritinha, a minha arma de

    artista, neste momento, vibra . .'. RITA _. Vibra fite de cobra, no ? MAESTRO - (Continuando) Vibra como

    uma corda de violino tangida pelos dedos de Cupido.

    RITA - Fala logo o que tem que falar, Maestro.

    MAESTRO - Tem razo. Serei menos pro lixo. Em suma: eu ando rxo por voc!

    RITA - Por mim? (Torcendo o vestido) Eu no sou merecendente ...

    MAESTRO - Sim, amo-a. E amarlaei internamente.

    RITA - Posso, entretanto, sab quais as suas inteno?

    MAESTRO - Casar, ali, na exta! RITA - Ento o Cazuza vai ficar sem a

    sua ama-sca. Porqu, pra que negar? - eu sou sca mas por voc! (Cantam)

    MAESTRO -

    Sinh Rita, que tortura, eu no posso mais reg. A batuta, nesta altura no me qu obedec!

    Ai, criadinha, to bonitinha, ai, que derrio! ai, que feitio!

    RITA -

    Eu tambm ando encrencada. Cada vez t mais confusa. Ficou entupigaitada a chupta do Cazuza.

    Meu maestrinho, to meudinho Meu bom-bocado to desejado!

    MAESTRO

    Quando formos casadinhos lfu sempre agarrado a ti

    ATO vou te d muitos beijinhos. D r mi f sol l si ...

    RITA

    Na noite do casamento vai haver forrobod com a batuta em movimento. Si l sol f mi r d... (Vozes que se aproo ximam).

    MAESTRO - (Agarrando-a) Me oscla-me, querida! chapa a minha bca com o carimbo dos teus lbios! (As vozes cada vez mais se aproximam. )

    RITA - Me larga, que vem gente! (Os dois se separam. Maestro corre para o estrado da orquestra. Rita sai pela esquerda, esbarran do no Guarda, que entra, acompanhado de Sebastio. )

    GUARDA - (Palitando os dentes) Aqule peixe coberto com ovos no era peixe - era bacalhu.

    SEBASTIAO - Ovos? (Pondo as mos cabea) E os frangos, meu Deus?

    GUARDA - No se impressione. Dou-lhe a minha palavra de honra que vivos ou mortos os seus frangos ho de aparecer. (Entram, de braco dado, Escandanh:ls, Zeferina, Barra das, Rosa, agora enfiada numa toilette de baile, com plumas cabea e luvas compridas, mulatas e muhtos - todos eufricos.)

    BARRADAS - Ah, rapazes! Estou abarrotado! Pruponho um biba c mulher que se arrebelou uma cozinheira de mo cheia, raios a partam!

    TODOS - Viva a D. Rosa! Vivo! BARRADAS - (D:lndolhe um pescoo,

    carinhoso) Aguardece, estapre! ROSA - Brigada. (Forte discusso fra) UMA VOZ - No pode, j disse! Seu ca

    rona indesejve! OUTRA VOZ - Repete! Repete que te

    fao engoli j essa dentadura! (Voltam-se to dos para o fundo. Aparece Lul.) E quem tiver a coragem de me chamar de feio, que aparea!

    ZEFERINA - Ih! O Lul! O pinta brava! Acabou-se o baile!

    LULU - (Ajeitando o cinto e com passos de capoeira) E tem mais uma coisa: no vim s. Vim de francsa. E vocs tm que respei tar o meu chavco. (Para fora) Entra, madama!

    FRANCESA Bonjour, messieurs-dames!

    LU~-q - (Canta)

  • REVISTA DE TEATRO 11

    @No vejo cara em vocs, no me destorce quem quer. Sou chapa 46 bonde Lapa-Carceler. J fui cabo eleitoral de um partido no sei donde, J fui bandeira de bonde, e graxeiro da Central.

    Trs meses fiscal de lixo num cafund suburbano, cinco meses banquei bicho Sou vagabundo h dez ano!

    ZEPERINA - (Que se colocou por trs de Escand'ilnhas sem por ste ser percebida) Tem gente, no vagabundo? Tu me arrespeita, viu? Olha que eu sou muito home pra arranc os chichs dessa polaca!

    ESCANDANHAS - No faz sujeira, Si Zeferina! O que teu est guardado aqui dentro do meu peito.

    ZEPERINA - (Empurrando-o) Sai da pra fra antes que eu te meta a mo na cara, vagabundo! (Escandanhas, afasta-se, gingan do.)

    PUZILEIRO - (Palmas) Vai-se danar um maxixe!

    ESCANDANHAS - (A Lul) Falando GUARDA - ( francsa, oferecendo-lhe o que a gente se entende ... (Dirigindo-se fran brao) Tem par para esta, excelena? csa) Madame, como mesmo a sua graa? FRANCSA _ Avec plaisir, monsieur ...

    LULU - Madame Petit-pois, com escola @ de corte e professra de lnguas. 'L~ (Dueto)

    ESCANDANHAS - Parfaitement. Madama, em nome da diretoria eu ... Quem que maneja a a

    GUARDA ( francsa) ques chses

    MADAME

    lngua de Moliere? - Lngua de mulher comigo. Madama, voulez-vous de quel

    de merei beaucoup? (Rindo-se) Je ne comprends

    rien de tout, monsieur. GUARDA - Ela est dizendo que desculpe

    ela estar se rindo de tudo. Mas natural. Ela mesmo da vida alegre... ( parte) Rira bien que rira com o derriere... Eu conheo esta zinha de outras casas ...

    BARRADAS - Bem, j q'a madama entrou, deixa ficar. Tome assento onde quiser. E comece o baile. (Francsa senta-se a um canto da sala, acompanhada de Escandanhas)

    LULU - Espera a. E no tem umas cachaa pra gente refresc os coraes?

    BARRADAS - Pelo amor de Deus! (Gritando para dentro) 6 Rosa!

    ROSA - (Que havia saido a correr pela porta da E., metendo a cabea para fra daquela porta) Nh!

    BARRADAS- Uma lambada d'aquela que eu uso, aqui pro nosso convidado. (A Lulu) Entre, meu amigo. A casa sua ... (Lulu sai pela E. Escandanhas vai ao encontro da francsa.)

    ZEPERINA - (Ao Guarda) Aquilo cafifa at o Chico vir de baixo.

    GUARDA .- Isto hoje uma profisso como outra qualquer. T muito generalizada. S eu posso dizer de bca cheia: nunca levei tosto de mulher. Mas nunca tarde para comear. .. (Dirige-se para junto da francsa)

    GUARDA - Posso met uma palavrinha, madama?

    ESCANDANHAS (Afastando-o) Tem gente!

    GUARDA

    FRANCSA -

    Madama, tu qu me d uma aulas de franci?

    Oui, je te donnerai, Marque-moi um rendez-vous.

    I

    \ >,

    GUARDA -

    L nas Marreca no vou e se fr de relance.

    FRANCSA -

    Aprs le forrobod. Maintenant je veux la danse. Viens comigue, maxix.

    GUARDA -

    s quer ...

    FRANCSA

    J'aime a mon petit cochon

    GUARDA -

    Colcho t bom .. Dormir, sonhar... que praz! Tu qu, meu bem, me embal?

    FRANCSA -

    Tu peux faire ce que tu quiser mais ne me chatouille pas ...

  • ------

    12 FORROBOD

    GUARDA

    L nas Marrecas no vou e se fr de relance ...

    FRANCSA -

    Aprs le forrobod. Maintenent je veux la danse. Viens comigue maxix.

    GUARDA

    s quer.

    FRANCSA

    J'aime a, mon petit cochon! @ GUARDA -

    Colcho t bom ... Dormir, sonhar... que praz! Vem, meu amor, me embal.

    FRANCSA

    Tu peux faire ce que tu quiser, mais ne me chatouille pas!

    (Danam todos o maxixe. Durante a dano a, por vrias vzes, Guarda mergulha a ca hea no colo da Francesa e esta, volta o rosto, repug'nada com o cheiro da banha que le usa. .. O Guarda percebe o jgo, visivelmen,te contrariado. Lulu entra pela E. atrac!l.do com uma csteleta de porco, seguido de Rosa.)

    LULU - Onde que anda sse portugus? ROSA - Moo, me d o dispertad que o

    sinh enfiou no brso! LULU - msmo! Que distrao a mi

    nha! (Entrega o despertador Rosa, que sai, resmungando.) Seu Barradas!

    BARRADAS - Que mais quer boc, rapaz? LULU - (Falando grudado ao rosto de

    Barradas) Trata-se do seguinte: BARRADAS - Eira pra l a fucinheira.

    Ests com um bafo d'gua ardente, que int me causa nzes!

    LULU - O negcio simplssimo. Eu estive pensando... Me passa a vinte e te cedo a francsa por esta noite. ou no negcio?

    BARRADAS - No. (Cat!l.ndo uma nota en tre vrias que retira do blso) Levas os vinte, levas a Francsa e promete esquecer o nmaro da minha porta, combinado?

    LULU - Est certo. (Recebe o dinheiro e dirige-se Francsa, que, nesta altura, tem

    volta de si, o Maestro, o Fuzileiro, Pl'axedes e o Guarda)

    FRANCSA - (Solt!l.ndo gostosas garga lhadas) Oh, qu'ils sont btes ces tipes l! (Com a aproximao de Lulu, todos se afastam. Lulu senta-se, sentando a Francsa sbre os joelhos.)

    GUARDA - (Indicando os dois ao Fuzi leiro) No, o ambiente est se tornando nitidamente familiar ...

    FUZILEIRO - Essa madama escandi losa mesmo. Eu at vou promov um desafio, pra desvi as ateno pr'aqule quadro asss chocante ... (Bate palmas) Chegou o momento do puxa-frieira! Vamos ao desafio!

    TODOS - Ao desafio! FUZILEIRO-

    Quem possa puxar frieira {\f (2

    Muito melhor do que eu? Procurem na terra inteira, Que o cabra inda no nasceu!

    C6RO

    Ora bate mulambo, bate, coi! Faz o corpo bambo de uma banda s!

    ZEFERINA -

    Seu doutor, nesta sabena, quem quiser me competir, pea um ano de licena pr poder arresistir!

    cRO

    Ora bate, mulambo, etc.

    GUARDA -

    Eu no sou muito letrado, mas fao sempre uma aposta: Num desafio rasgado Comigo ningum encosta!

    CRO

    Ora bate, mulambo, etc.

    ESCANDANHAS -

    Eu garanto, todo ancho que, na hora das comida, todo inteiro me desmancho como banha derretida!

  • REVISTA DE TEATRO 13

    CRO Ora bate, mulambo, etc.

    BARRADAS - (Consultando o relgio) Bem, rapazes. So onze horas aqui na minha cebla. E eu no sou scio da Light. Bou apagar o gs e recolham-se bossemecs a penates ...

    SEBASTIO - Penates! E as penosas? E' as penosas?

    FUZILEIRO - Senhores membranos e senhoras membranas. Vamos dar inio ao leilo de prendas!

    ESCANDANHAS - Bem lembrado! A aurora j bruxoleia. Os passarinhos esto acordando pra fazer piu-piu!

    GUARDA - Bonita image! TODOS - Ao leilo! ZEFERINA - Quem o leiloeiro'? PRAXEDES - (Entrando com vrios em

    brulhinhos e uma travessa coberta com uma toalha.) C estou eu! (Palmas. Coloca os ob jetos sbre um banco, e trepado numa ca deira, exibindo uma manteigueira, comea a leiloar.) Temos aqui, meus senhores, uma vitrea e cristalina manteigueira. Com uma pequena rachadura que no lhe tira, entretanto, o val artstico. Quanto me 'do pela, manteigueira?

    MAESTRO - Dois tostes! PRAXEDES - Tenho dois tostes pela

    manteigueira. Dois, dois tostes, dois! Ningum d mais? Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe trs! (Entregando a manteigueira ao Maestro.) sua. (Exibindo um pequeno fras co.) Temos agora, meus senhores, um vidro de delicada e perfumosa gua Flrida! um produto indicado para cortar o cheiro de barata que predomina em excesso em certos ambientes fechados. Quanto me do pelo vidro de gua Flrida, meus senhores? Quanto me do?

    LULU - Quinhentos ris para o meu pedao!

    PRAXEDES - Quinhentos ris, quinhenhentos ris, quinhentos ...

    GUARDA - Seiscentos pra Si Zeferina! PRAXEDES - Seiscentos ris, seiscentos

    ris. LULU - Setecentos! E o cheiro pra

    Francsa ... PRAXEDES - Setecentos, setecentos, se

    tecentos ris. .. GUARDA - Oitocentos e a Francsa no

    leva. Quem vai levar Si Zeferina! PRAXEDES - Oitocentos, oitocentos, te

    nho oitocentos pela gua Flrida! LULU - Ah, assim? Ento novecentos

    ris. E quero ver quem d mais uma palavra aqui.

    GUARDA - (Estende o indicador da mo direita e juntando o polegar e o indicador da esquerda, em forma de zero).

    PRAXEDES - Desconheo sse lance ... GUARDA - (Baixo) Dez ... E Si Zefe

    rina vai se perfumar. E quem no concordar com isso, prepare-se para sentir o cheiro da banha que eu uso! ... (Ameaa uma cabeada.)

    LULU - (Dando um pulo para o centro da cena) pa! Ento vamos a isso! Quem no quiser entrar no brinquedo desafaste, porque vai correr muito melado! (Recua tda gente. Maestro cai numa cadeira com gritos histri coso Rita corre a abanlo.)

    1.0 MULATO - Calma, seu Lulu. (Procura detlo, mas recebe um rabo de arrah e es tendese no cho. Fuzileiro, 2., 3. e 4. Mula tos, agarramse a Lulu).

    2. MULATO - Solta a faca! FUZILEIRO - Deixa de besteira! 3. MULATO - No vale a pena! (Estas

    frases so ditas simultneamente. Enquanto isso, o Guarda vai se esconder, de ccoras, atrs de um banco.)

    LULU - Me larga! (Livre, apanha uma cadeira e atiraa ao cho.)

    BARRADAS - (Quase chorando) meu amigo, sulpicu-Io pela sadezinha da senhora sua me. Rache l a cabea de quem lh'apetecer, mas poupe-me os mveis. (Lulu arrebata o vidro que Praxedes conserva na mo.)

    LULU - Me d esta porcaria! E tem mais uma: no pago, ests ouvindo?

    BARRADAS - Pois est bisto ... O senhor no paga nada!

    LULU - ( Francsa) Anda d'ai! FRANCSA - Comment? LULU - (Dandolhe um empurro) Cai

    fora, anda! (Saem pelo fundo.) GUARDA - (Saindo do esconderijo, e

    procurando pelo cho) Quantos so os feridos? (Gargalhada geral).

    ZEFERINA - (Ao Guarda) Lamento ter sido a causadoura dste lamentvel acidente, mas dou-lhe meu parabens pela sua altitude. Tu macho mesmo!

    GUARDA - (Pernstico) Voc ainda no viu nada ...

    PRAXEDES - Depois desta pequena pausa pra meditao, vai prosseguir o leilo! Temos agora, senhoras e senhores - um precioso donativo do nosso querido Guarda-Noturno! Trata-se de... (Retira a toalha e apa recem dois frangos assados) Dois frangos assados. (Guarda pese a rir, perdidamente.)

    SEBASTIO - Os meus frangos!

  • 14 FORROBOD

    GUARDA - Eu no lhe disse? A justia tarda mas no falha. Vivos ou mortos les haviam de aparec!

    SEBASTIO - Ladro! (Sai, faiscando pelo fundo.)

    GUARDA - (Rindo-se) Perdo, no foi um roubo: foi uma requisio!

    BARRADAS - Est suspenso o leilo! (Consulta o relgio) Na minha cebla so onze horas, e aqui no h scios da Light. Bou apagar o gs! Tratem de me ebacuar a sdea!

    ESCANDANHAS - Ordens so ordens! Mas ainda temos direito a um maxixe final!

    TODOS - Ao maxixe! ESCANDANHAS -

    Pessoal, est na hora da festana terminar, mas antes d"irmos embora toca tudo a maxixar!

    CRO

    Ai, ai, que forrobod! bom como le s! deixem l falar!

    Ai, ai, no afroxa o passo, ai, ai, no sai do compasso pra no errar!

    ZEFERINA

    O maxixe bem remexido e requebrado a alegria das pernas, deixa tudo quanto cara esbodegado nos sales da gente chic ou nas tavernas.

    CRO

    Ai, ai, meu forrobod, s o meu chod Pra qu negar?

    Ai, ai, no abaixe o pano, aguenta, mano, at cansar!

    (Todos danam.)

    P a n o

    FIM


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