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Saída Sul (61) 3301 9900 - www.brasiliamotors.com.br
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>> C A R T A S
FecuryEndosso a homenagem que vocês
zeram ao Fecury (Formato nº. 4) e estoucomunicando aos companheiros de internet.Ele nos brindava com sua cultura einteligência. Quanto à revista, gostei muito.Não conhecia. Tem presença, personalidadee está com uma pauta de alto nível.Alexandre Garcia
André GiordanoNosso amigo, diagramador,
programador visual. Colaboradorde primeira hora da Formato.
Inesquecível em sua gentileza,alegria, disponibilidade. Esses e
outros tantos atributos,Andrezinho levou com ele em sua
viagem eterna. Para nós cou, alémda saudade innda, o exemplo de
amizade e carinho que sempreacalentarão a sua ausência.Obrigado, querido parceiro.
Os amigos da FFormato
AdmiraçãoÉ com muita alegria que vejo a revista Formato se
rmar a cada dia como uma publicação que desperta ointeresse e a admiração de seus leitores. Continuem assim.Luciano Padrão
MatériasLi com interesse a revista
Formato, que nos proporcionaexcelentes matérias.Tereza Machado
SucessoCada vez melhor.
É assim que posso denir otrabalho que vocês realizam
na Formato. Brasília, semdúvida, merece uma
revista como esta. Valdir Machado
A Formato querfalar com você
ProssionalismoQuero manifestar minha satisfa-
ção em ler uma publicação com o incom-parável nível de qualidade da revista
brasiliense Formato.Em apenas 50 anos, Brasília tem
que se orgulhar de seus prossionais e desua mídia impressa, principalmente,
dessa revista que retrata a história, per-sonalidades, modo de vida, cultura e
arte da capital da república. A qualidadegráca, a programação, textos e fotogra-
as deixam transparecer o esmero deprossionais competentes comprometi-dos com a vida da capital federal. Para-
béns a Brasília, parabéns à equipeeditorial.
Aeldo Luna (Pial)
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ormato entra em uma nova fase, mas sem perder o forte
viés cultural ligado a Brasília, que marcou nossas edições an-
teriores. No entanto, ampliamos nossos horizontes.
-Também vamos investir em temas e personalidades nacionais e in-ternacionais. Neste número trazemos uma entrevista com Ziraldo, um denossos maiores escritores infantis. Para realizá-la, participamos, durantecinco horas, do cotidiano do estúdio de criação que mantém na rua Ba-ronesa de Poconé, uma tranquila ladeira na Lagoa, um dos bairros maisaristocráticos do Rio de Janeiro. Dentro desta proposta, analisamos asraízes quenianas de Barack Obama, o primeiro presidente multiculturaldos Estados Unidos, e convidamos os leitores a percorrer a Índia por meiodos olhos de Viviane Pretti. O diretor do Jardim Botânico de Brasília,Jeanitto Gentilini, levantou a presença de Burle Marx, o maior paisagistabrasileiro, na construção da nova capital do país. Ele conviveu com o mes-tre durante sua passagem no Conselho de Arquitetura e Urbanismo(CAU) na década de 80. Se estivesse vivo, Burle Marx completaria 100anos em agosto. Destacamos também o trabalho do fotógrafo Rui Fa-quini, e, por último, traçamos um panorama da arquitetura feita na ci-dade, cheia de luz e espaços amplos.
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E D I T O R I A L
Mudanças à vista
E X P E D I E N T E
DIRETOR DE REDAÇÃO
Cícero Venâncio
DIRETOR COMERCIAL
Geraldo Magela
EDITOR
Pedro Paulo Rezende
SUB-EDITOR
José Humberto Fagundes
COLABORADORES
Cláudia Mohn e Reynaldo Jardim
FOTOGRAFIA
Gilberto Soares, Clausem Bonifácio, Luiz Clementino eRoberto Castello
REVISOR
Edvaldo Almeida da Silva
CONSELHO EDITORIAL
João Mendonça, José Reinaldo,Paulo Mota, Reynaldo Jardim
DIAGRAMAÇÃO E PROJETO GRÁFICO
Rafael Francisco Pereira eLaerty F. Silva
JURÍDICO
Mendonça e Amorim Associados
Starprint Gráfica e Editora LTDACNPJ: 26.996.926/0001-72CF/DF: 07.333.372/001-15SIG/SUL Quadra 08, lote 2.325(61) 3344-0555 e-9333-3334
Pedro Paulo Rezende Cícero Venâncio
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>> S U M Á R I O
>>ENTREVISTAAUTOR NAINTIMIDADEZiraldo revela seus segredos,projetos e mágoas em entrevista exclusiva
Brasília vai recuperar a obra de Burle Marx, maior paisagista brasileiro
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58IMAGEMSEGREDOSDA LUZDesvendamos os caminhos de Rui Fa-quini, um dos maiores fotógrafos brasilienses
32ARQUITETURA
CASAS EINTERIORESIntegração entre áreasinternas e externas evariedade no uso demateriais caracterizamBrasília
>> 20PERFILO MAGODO VERDE
>> 78QUÊNIA
AS ORIGENSDE OBAMALendas revelam a alma africana do novopresidente norte-americano
>> 68VIAGEM
ÍNDIAMÍSTICA
Terra indecifrável.Plena de mistérios, tra-dições e divindades
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E N T R E V I S T A Z I R A L D O
UM DOS MAIORES AUTORES INFANTIS BRASILEIROS, COM MAIS DE 50 OBRASPUBLICADAS, MANTÉM UMA ROTINA PESADA DE TRABALHO AOS 77 ANOS
A
O operário das artes{ Pedro Paulo Rezende }
máquina de escrever Olivetti Lettera 88 ocupa lugar de destaque no estúdio de
Ziraldo. O autor, um dos maiores escritores para crianças do Brasil, não se rendeu
à internet e à cibernética. Para tarefas simples, como ler e responder e-mails, de-
pende de “anjos da guarda”, como chama a pequena troupe que circula ao seu
redor, entre milhares de livros organizados em rígida estrutura bibliográca.
— O computador falseia o
processo criativo — justi-
ca-se. — Gosto de manipu-
lar o papel e revisar
continuamente todas as ver-
sões de meus livros, rabiscá-
las mesmo quando voo.
Guardada as devidas pro-
porções, sou como João Ca-
bral de Melo Neto. Ele dizia
que era preciso muito esforço
para que o texto parecesse
espontâneo (pega um
enorme envelope, gordo e
quase desconjuntado). Isso
aqui é o meu mais novo livro,
O menino da Terra, que será
lançado neste ano. Aprontei
antes O menino de Mercúrio (pega um caderno menor, já ilustrado e digitado), todo em versos
alexandrinos (de 12 sílabas), mas, por uma questão de mercado, terá de esperar. São fruto de
uma aposta que z com a morte aos 75 anos, de só ir embora depois de produzir uma obra para
cada planeta. Como são dez planetas, ganhei dez anos.
Yvonne Prieto, sua assessora, que digita e ordena essas imensas confusões criativas, intervém:08
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>>
Regina Martins, prima do ar-tista e mãe da cantora Paula More-lembaum, responde pela parteadministrativa. Nilton Sampaio, o faztudo do estúdio, completa a trupe.Outra importante função de Yvonneé ajudar o autor nas pesquisas:
— Recorro muito a enciclopé-dias, mas a Yvonne, com seu domínioda Internet, é que é completa. Sabetudo! — reconhece. — Você me dá li-cença, mas tenho de trabalhar — in-terrompe. — Ninguém na minha idadetem meu ritmo de trabalho. Tenho 77anos, na verdade 76 completos, masconto o tempo como os japoneses, quecontam, como sua idade, o ano que vocêestá vivendo. Minha aposentadoria éde R$ 1.300 e ainda bem quenão faltam encomendas.
JORNADA PESADA
Ele chega todos os dias porvolta de 11h e sai do estúdio às 2h.Nas décadas de 70 e 80 a jornadaacabava no meio da madrugada dodia seguinte. Na época, ele vivia noapartamento térreo com a primeiramulher, Vilma, falecida em 2000. Ocartunista e artista plástico Caulosmorava na área hoje ocupada peloestúdio. Os dois juntavam esforçoscriativos noite adentro.
— Minha casa não tinha salade estar, daquelas com mesa de cen-tro e com livros bonitos — lembra.— Era meu lugar de trabalho.Criava em meio a meus lhos brin-cando, com a televisão ligada, numaconfusão danada. Eu e o Caulos só
CAMPANHA PARA A PF Em poucos minutos surge
uma nova campanha contracriminosos internacionais que
buscam refúgio no Brasil
A memória é uma
coisa espantosa. Moro
nesta rua há trinta
anos e não conheço um
só de seus moradores.
Vivi oito anos de
minha infância em
Caratinga e sou capaz,
até hoje, de desenhar
cada casa de sua rua
principal e contar quem
morava nelas.10
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>> E N T R E V I S T A Z I R A L D O
— Eu recebo o equivalente empapel a um roteiro de cinema — tes-temunha. — O texto chega todo ra-biscado...
Sentado em uma velha cadeirade bar da Brahma, uma de duaspeças que sobraram de uma fotono-vela feita para o Pasquim, Ziraldo re-toma:
— O processo criativo é dolo-roso e o papel guarda essas marcas.No computador, elas se vão. Posso re-tomar um trecho que descartei ante-riormente e manter um registro detudo que z. Além disso, datilografocom a velocidade de um escrivão, fuiformado em Caratinga (dá umapausa e chama a assessora). Yvonne,por favor, traz a foto da minha forma-tura!
A imagem em preto-e-brancochega bem-conservada, colada emgrosso papelão cinza.
— Eu sou este (mostra umvulto magricela no alto da foto) eaqui é meu irmão Ziralzi. A forma-tura teve paraninfo, missa, baile e ju-ramento. Prometi usar a datilograapara o bem da humanidade, masposso ter de me modicar. O técnico
que dá manutenção à minha má-quina quer se aposentar e não temherdeiros.
Para editar e digitalizar suasimagens, o escritor e artista multimí-dia depende de Luis Saguar, a quemchama de “meu mouseman”. Depoisde produzir um esboço no papel e co-lori-lo com ecoline (um tipo de tintaacrílica), Ziraldo encaminha o traba-lho para o assistente, que dá o aca-bamento nal, com a supervisão doautor.
— É um cara extremamentecriativo e competente — elogia. —Um artista gráco completo e ágil.Ele e Rose Araújo são os responsáveispor minha biograa, O almanaquedo Ziraldo, lançado pela Me-lhoramentos em 2006.
ZIRALDO Jurou usar a datilografia para o bem da humanidade. A formatura teve missa, baile e paraninfo
PESQUISAAntes de escrever,Ziraldo pesquisa o tema emenciclopédias.Yvonne, seu braçodireito, enfrenta o Google
O AUTOR COM MÁRCIA
A mulher nasceu no dia daderrota brasileira
para o Uruguai naCopa de 1950
PRÊMIOS
Em dezembro, o autor recebeuo Prêmio Quevedos, da Universidadede Salamanca (Espanha), o maiorconcedido a cartunistas de imprensade língua hispânica. Foram 30 mileuros. Apesar disso, a repercussãonos jornais brasileiros foi mínima.
— O Globo apenas traduziuuma nota da agência de notícias es-panhola EFE, como se eu não ti-vesse história no Brasil. Fui tratadocomo um estrangeiro — reclama.— O prêmio, que me deixou mui-tíssimo feliz, chegou meio tarde.Hoje sou mais autor do que char-gista ou cartunista.
E não se pode minimizar a im-portância de Ziraldo para o cartu-nismo, as artes grácas e as históriasem quadrinho brasileiras. Ele criouPererê, um marco nas tiras infantis,em 1960. A revista circulou até 1964.Para trabalhar seus personagens,pegou o que havia de melhor nosamigos. A coragem de Galileu, aabnegação de Moacir, a espertezamoleque do irmão Geraldo, a agili-dade de raciocínio de Alan Vig-giano, a generosidade de PedroVieira e o amor innito de Pimentelpela mulher, Quiquica.
Galileu virou onça; Moacir, umjaboti; Geraldinho um travesso coe-lho vermelho; Alan, um macaco, ePedro Vieira, um tatu. Todos estãovivos, com a exceção de Pimentel.Faltava um personagem que reunissetodos os aspectos positivos dosamigos e o autor se lembroude um indiozinho, Tininim,
escritores brasileiros a ter sua obracompleta no mercado. Não tenhonem um título que tenha cado naprimeira edição.
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>> E N T R E V I S T A Z I R A L D O
parávamos quando os remadores doVasco tiravam os barcos para trei-nar. De vez em quando, chegava al-guém. O portão de serviço, que dápara o pátio, vivia aberto e os ami-gos subiam sem avisar. Só davaconta quando apareciam na janela,já no jardim, dizendo que iam en-trar para tomar um café ou um uís-que. Funcionou assim até a décadade 80, quando tive de expulsar umvagabundo da cozinha. Aí, mandeifechar o portão.
Hoje, o apartamento, na ruaBaronesa de Poconé, uma tranquilaladeira na Lagoa, integra um com-plexo de três andares, misto de localde trabalho e hospedaria para os -lhos e netos que vivem em São Paulo
e para os amigos e parentes. — Aqui terminei de criar meus
três lhos, Daniela, Fabrizia e Antô-nio — conta. Antes, vivia na Praçado Lido, num pequeno apartamento,onde tinha a vista do mar comocompensação. Até que achei esseapartamento de quatro quartos. Eutinha juntado 60 mil cruzeiros daépoca e não dava para comprarnada. O apartamento mais baratoem Ipanema, de dois quartos, valia120 mil. Aí, encontrei esse lugar por80 mil. Havia uma favela lá paracima. De manhã e por volta das 19hera como se fosse uma procissão mo-rena subindo e descendo a ladeira.Dei a entrada e nanciei o resto.Duas semanas depois que mudei, ogoverno do estado da Guanabaratransferiu os favelados e o valor doimóvel duplicou.
CASAMENTOS
A decoração do apartamento,com peças mineiras, artesanatos emóveis de madeira escura, remeteos visitantes aos tempos da contra-cultura. Uma colcha de retalhos co-lorida marca o quarto do casal. Osdos lhos continuam intactos, comoforam deixados ao saírem de casa.
— Quando a Vilma morreu,mantive tudo como era — revela.— Casei de novo em 2002 com Már-cia, uma prima, 17 anos mais novaque eu. Ela nasceu no mesmo diada derrota brasileira para o Uru-guai, na Copa de 1950. Acompa-nhei meu tio que foi buscar mãe elha na maternidade. Ao chegarem casa, chorou o tempo todo. Nin-guém conseguiu dormir.
Como a presença da ex-mulherera muito forte, Márcia pediu umnovo local para morar. “Um pedidojusto”, ressalta o autor. Encontraram
uma cobertura duplex em frente aoestúdio, com vista para o CristoRedentor e parte da Lagoa. Oapartamento é claro, no ambientepredomina o branco que se espalhapor móveis e paredes.
— O dono era um cara sol-teiro, que trabalhava no mercadonanceiro e transformou isso aquino maior quarto e sala do mundo— brinca. — A Márcia decoroutudo sozinha.
Para adquirir o imóvel, Zi-raldo fez um acordo com a EditoraMelhoramentos, que detém a distri-buição de toda a obra do escritor.
— Meus lhos assinaram umcontrato mantendo minhas obrascom eles depois de minha morte.Em compensação, recebi dinheirosuciente para adquirir o aparta-mento. Tenho uma relaçãoótima com a Melhoramen-tos. Hoje, sou um dos poucos
Os Estados Unidos
demoraram mais
de 200 anos para
eleger um presidente
negro e ele assume o
país em uma das
piores crises da
história americana.
Acho impressionante
que ninguém tenha
feito uma charge com
ele olhando para os
céus e dizendo:
Tinha de ser na
minha hora, senhor?
jurídicas e descobri que isso é possível.A concessão da indenização
atraiu críticas dos conservadores.— É uma clara implicância. O
pior de tudo é que nós não entramoscom nenhuma ação, nem eu nem oJaguar. Quem decidiu abrir o pro-cesso foi o Sindicato dos Jornalistasdo Rio de Janeiro. Nós apenas subs-crevemos. Um jornal, quando a co-missão nos deu ganho de causa,chegou a publicar o seguinte texto:“O governo decidiu pagar indeniza-ção a Ziraldo e, merecidamente, a Ja-guar. Por que eu sou um imerecedor?
COBRANÇA
A vitória sobre a morte na idéiade fazer um livro por ano sobre os me-ninos dos planetas, deixou Ziraldo
numa saia justa. Durante o lança-mento de O menino da Lua, uma me-nina perguntou-lhe porquê só existiamenino nos seus planetas. Ziraldocou em saber o que responder. Masa sabidinha da menina explicou: “Éque os meninos são do planeta e asmeninas são das estrelas!”
— Escrevi um novo livro como título: Menina das estrelas. Garotasrealmente gostam mais de ler do queos meninos.
Para atendê-las, criou novosálbuns de histórias em quadrinhospela Editora Globo.
— São histórias com persona-gens bem femininas, meninas comseus problemas, suas descobertas daadolescência. Que namoram, feste-jam o primeiro sutiã e a primeira ta-tuagem. Acho que junto com minhaequipe – história em quadrinhos é
igual cinema – a gente conseguiubons resultados. Os álbuns de qua-drinhos dirigidos às meninas estãofazendo o maior sucesso.
UM PEPINO
Yvonne interrompe a entre-vista para avisar que uma rede dehortifrutigranjeiros se apropriou daimagem de O menino maluquinho,um dos maiores sucessos de Ziraldo,no cinema, vídeo e literatura.
— Imagina — conta — puse-ram uma panela em um pepino eainda zeram um slogan: “O maislevado da rede”.
Ziraldo coça a cabeça e responde:— Sei que é uma homenagem,
mas não me consultaram. Porfavor, liga para a agência depublicidade.
PANELAS NA CABEÇAQuando brincava de soldado nos tempos de Caratinga, o escritor usava umapanela em lugar dechapéu de papel
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>> E N T R E V I S T A Z I R A L D O
primo do cacique TxucarramãeRaoni. Eles se conheceram em 1959.
— A revista O Cruzeiro promo-veu um grande evento. Trouxe re-presentantes de inúmeras naçõesindígenas para mostrar sua culturano Estádio do Fluminense. O Raonie o Tininim se hospedaram emminha casa e eu e a Vilma nos encan-tamos pelo menino — conta Ziraldo.
Na época, um gerente dos Diá-rios Associados resolveu bancar umaaposta de risco: ele acreditava que aesquerda tomaria o poder e que osquadrinhos norte-americanos, prin-cipalmente os de Walt Disney, se-riam proibidos no país.
— Ele tinha uma grandevisão. Dizia para todos que estavaaprendendo russo, mas que na ver-dade deveria estudar mandarim,porque os chineses iriam passar a
perna nos soviéticos, exatamentecomo aconteceu — reete o autor.
Com o golpe de 1964, os DiáriosAssociados se desinteressaram peloprojeto. O escritor participou de ou-tras experiências marcantes, como OPasquim, jornal que revolucionou aimprensa brasileira na década de1970. Foi preso duas vezes pelos mili-tares e quase expulso do país. Preso noForte de Copacabana, desenhava mu-lheres inspirado pela sombra de umagueira que se ltrava pelas grades.
— Não participei da fundaçãodo Pasquim desde o início. Agreguei-me ao projeto depois. Jaguar esco-lheu esse nome porque sabia que osmilitares iam acabar chamando o se-manário de pasquim, mesmo.
Com o m da ditadura, o jornalperdeu sua razão de ser e minguou.Ziraldo já deixara o projeto. Tentou
CENAS DO PASSADOZiraldo com a mãe,dona Zizinha (E). Ao lado de Vilma,descobre umpersonagem aoconhecer o índio Tininin.Ainda menino, com oirmão Geraldo e o pai.
relançá-lo, sem sucesso, na década de1990. Em 2000, promove um traba-lho revolucionário na revista Palavra,de caráter cultural. A publicação nãoconseguiu se manter economica-mente e deixou de circular um anodepois. Quatro anos depois, lançouBundas, uma resposta bem humo-rada a Caras. Segundo o humorista,“quem mostrava a bunda em Carasnão mostraria a cara em Bundas.” Osanunciantes não gostaram da brinca-deira e a publicação fechou.
— Nem o Banco Itaú, quetopou fazer o seguro da bunda daCarla Peres, quis anunciar — reclama.
Como resultado, Ziraldo acu-mulou uma dívida com a Previdên-cia de R$ 1,2 milhão.
— Pretendo pagar com aindenização que o governo vaime conceder. Já z consultas
sensação é maravilhosa. A gente virapássaro. Perguntei se dava para des-ligar o motor. Começamos a planaraté que pegamos uma corrente des-cendente e mergulhamos rumo aosolo. Ele conseguiu ligar a hélicemuito perto do chão. A Vilma coucom o coração na boca.
ÁGUAS CORRENTES
Aos 77 anos, Ziraldo estáprestes a realizar um sonho de in-fância: morar perto de uma ca-choeira. Conta a novidade, pelotelefone, para o lho, que está na
Nova Zelândia, fazendo a músicapara um novo lme. Em seguida,conta como tudo surgiu:
— Minha mãe nos levavapara a fazenda de um amigo emCaratinga, que tinha uma quedad’água linda perto de um casarãofantástico do século 19. Eu sem-pre lhe disse que, um dia, com-praria a propriedade só para carperto da cachoeira. Num dia,contei isso para um dos herdeirosda propriedade, hoje decadente emeio abandonada, que na mesmahora a colocou à minha disposi-ção. O problema é que era longedemais, oito horas daqui. Agra-
deci e não aceitei o presente. Nasférias do ano passado, a Márciaalugou uma casa num condomí-nio em Petrópolis e encontrei aobra de um restaurante embar-gada por motivos ambientais.Imagine que dá para ver a Baíade Guanabra inteira, tudo, o Riointeiro lá embaixo. Eu me en-cantei pelo lugar que fica ao ladode uma cachoeira alta, com maisde 700 metros, descendo pelaserra. Imagina, será igual amorar em Falling Water (casadesenhada por Frank LloydWright, na Califórnia), só que aolado de um precipício...
Uma das coisas mais sensuais que já
passou na televisão era aquela bispa da
Igreja Renascer (Sônia Ernandes).
Em suas pregações usava um vestido
vermelho extremamente decotado e parecia
que estava tendo um orgasmo. Ela trepava
com Deus ao vivo e a cores.
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>>cente livro do poeta Altino Caixeta,em Patos de Minas. Caixeta era ogênio da palavra. Argumentei que sóiria se fosse de avião, porque era muitolonge do Rio. Eu pegaria o avião emBelo Horizonte. A Doralice respondeuna hora (imita a amiga, com um sota-que mineiro bem arrastado): “Ziraldo,eu num vou incomodar o prefeito comisso, não, sô. Ce tá doido”.
Apesar de duvidar muito, ela re-solveu consultar as autoridades locaise cou perplexa quando aceitaram aexigência. Ligou em seguida dizendo:“Nossa Senhora, eu num sabia que cêera tão importante”.
Nessa viagem, o autor coudiante da morte.
— Em Patos, havia uma re-voada de ultraleves e eu morria devontade de voar numa coisa daque-las. Perguntei se um piloto to-pava me levar. Lá no alto, a
No telefone, é incisivo:— Vocês precisam respeitar o
direito autoral. Deviam ter consul-tado antes. Agora está fora da minhaalçada. Tenho um agente e, se nãopedem licença de publicação, tam-bém afetam o bolso dele.
E ressalta, enquanto envia umolhar bem moleque para Yvonne:
— Essa homenagem podecustar muito caro para vocês.
Depois, desabafa:— É incrível como, em pleno
século 21, uma agência de publici-dade age com total desconhecimentodos direitos do autor.
MINEIRICE
Apesar de passar a maior parteda vida no Rio de Janeiro, Ziraldo éuma expressão de Minas Gerais. Pa-
lavra dedicava-se a acompanhar avida cultural de seus conterrâneos emterras cariocas. Para seu projeto maisrecente, que guarda em segredo, masmostrou para Formato, ele importouPaulo Vieira, um jovem pintor de Ca-ratinga, terra natal do escritor.
— Ele fez carreira no circuitode Vitória, mas aposto tudo em seutalento. Além de colaborar comigo,fará uma exposição solo muito bre-vemente — arma.
O autor sobe para o terceiroandar, onde se concentra a produçãodos quadros do novo projeto. En-quanto discutem detalhes na tela,com mais de dois metros de altura,Ziraldo conta como uma amiga sua,Doralice, que mora em Patos deMinas, descobriu que ele tinha “al-guma importância”.
— Ela me ligou perguntando seeu podia ir ao lançamento do mais re-
E N T R E V I S T A Z I R A L D O
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>>
PAI CORUJA
Ziraldo se casou com Vilma em1957, depois de sete anos de namoro.Conheceu-a em Belo Horizonte.
— Foi uma longa espera. Espe-rei me formar. Sou bacharel em direito,apesar de não praticar a profissão.
Ele não esconde o orgulho pelotrabalho de Daniela, Fabrizia e Antô-nio, que constam do primeiro timedas artes brasileiras. Daniela, que jáfoi casada com o diretor de teatroGerald Thomas, deixou sua marca
como cenógrafa nas produções histó-ricas do marido. Depois, ganhou prê-mios no palco e em produções para atelona, como Terra estrangeira e Linhade passe, co-dirigidos com Walter Sal-les, entre outras inúmeras produções.
Fabrizia, a filha do meio, fezcarreira como mímica, trabalhandoao redor do mundo com Bob Wil-son, antes de se lançar na publici-dade e no cinema. Além de dirigir Omenino maluquinho 2, ao lado de Fer-nando Meirelles, com roteiro dairmã e do pai, realizou episódios
para as minisséries Antônia, Som efúria e Filhos do carnaval. Segundo opai, “ela é a maior especialista brasi-leira em cenas de multidão.” Antô-nio, o mais jovem, é um especialistaem trilhas sonoras para o cinema.Dois dos filmes em que participou,Central do Brasil e Cidade de Deus, con-correram ao Oscar.
— Um vizinho de meu pai diziasempre: “Pôxa, nenhum dos filhos doZiraldo faz algo produtivo. É tudo ar-tista” — lembra irônico, mas comgrande prazer.
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CARTAZES PARA A POLÍCIA
Um turista abandonou uma pele de jacaré no banheiro do Aeroporto doGaleão depois que viu um cartaz feito, a pedido da Interpol e da Polícia Federal,por Ziraldo para a campanha contra o tráco de animais silvestres. Na parte decima, um homem de camisa orida leva um tucano numa coleira, na inferior, umpolicial leva o turista numa gaiola. Os próximos combaterão os foragidos in-ternacionais que buscam abrigo no Brasil e a pedolia. O autor já fez maisde 400 cartazes e pretende reunir os melhores em um livro. f
P E R F I L B U R L E M A R X
mundo, uma expressão deamor que transcende o olharmeramente curioso e disci-plinado do artista. Carismae personalidade lhe confe-rem o que é peculiar aos gê-nios. Temperamento regidopelo sol, sua presença fazia
com que pessoas gravitassem ao seuredor e que sua obra irradiasse pai-xão e liberdade.
Na década de 60, Burle Marx de-dicou-se aos jardins de Brasília. Fiel aosentido de observação e coerência como meio ambiente, ele penetrou no ma-crocosmo do cerrado, a savana brasi-leira, cenário natural da região Centraldo Brasil, escolhida por Juscelino Ku-bistchek para implantar a nova capitalfederal. Um estudo preciso da ora localpossibilitou a introdução de espécies na-tivas nos jardins que implantaria.
O alquimista em Brasília
AS INTERVENÇÕES DO MESTRE MARCARAM A PERSONALIDADE DA NOVACAPITAL BRASILEIRA, CONSTRUÍDA PARA SINALIZAR A MODERNIZAÇÃO DO PAÍS
{ Jeanitto Gentilini }Especial para a Formato
CANTEIROS CIRCULARESMicrossistemas ecológicossurgem em ilhas artificiais no lago do Itamaraty
Captar seu universo criativo nosleva a entender que reside no processode observar, conhecer e interpretar o
lquimista do seu tempo, Burle
Marx, um dos maiores paisagistas da
história, traz em sua obra a possibili-
dade de transmutar a nossa condição
humana a um estado de contemplação.
A
Fotos: Giba
>>
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Foto: Giba
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>>
Não tenho
medo de errar.
Erro a gente
pode corrigir.
Tenho medo
é da fórmula.
P E R F I L B U R L E M A R X
PRISMAS DE CONCRETO
O diálogo permanente naconstrução da obra de Burle Marx,entre o reino mineral e vegetal,entre plantas nativas e exóticas sereete na concepção dos jardins doMinistério do Exército. As escultu-ras implantadas no lago, criadas apartir das estruturas geométricasespecícas dos cristais, emergemda água. A composição foi reali-zada a partir da distribuição decinco grupos irregulares de escul-turas, emolduradas pelo monu-mento de forma curva ao fundoque, diante do prédio, parece xaro olhar do observador. Na marcação
dos canteiros e na progressão docalçamento em mosaico foramacentuadas as formas retilíneascom ângulos marcantes que se de-senvolvem no espaço e formam apraça triangular.
No Tribunal de Contas, ojardim planejado por Burle Marxfunde-se na fachada do edifícioprojetado pelo arquiteto César Al-varenga. O pátio quadrado que dáacesso à corte é composto por can-teiros profundos e curvos. Largoscanteiros de plumbago, logo aofundo, complementam o con-junto. Margeando a avenida na la-teral do prédio, uma grandelâmina de água sustenta uma ex-tensa ilha de vegetação. BurleMarx explora nesse trabalho aágua em movimento com o uso decascatas, as elevações cons-truídas e as concordânciaslúdicas dos canteiros.
PRAÇA DO SMUPrismas de concreto estabelecemum diálogo com a vegetaçãonativa do cerrado
A convite do embaixadorWladimir Murtinho, Burle Marxinicia sua obra em Brasília pelo Pa-lácio do Itamaraty, sede do Minis-tério das Relações Exteriores. Oambiente natural, aparentementeárido, inspirou-o a criar generososespelhos d’água para compensar oclima seco da região e valorizar aslinhas arquitetônicas do edifício,desenhado por Oscar Niemeyer,projetando-as na água. A esculturaMeteoro, de Bruno Giorgio, pareceutuar sobre a lâmina do lago. Re-exos do céu formam desenhos emmovimento. Canteiros projetadosa partir da concordância de retase curvas, estrategicamente coloca-dos nas laterais e próximos àborda da calçada, não interferemno plano de projeções dos reexoscriado pela lâmina d’água e criamuma pintura quase abstrata, colo-rida pela vegetação.
Tapeçarias e jardins interio-res, no térreo e no terraço, com-plementam o trabalho dopaisagista em um de seus momen-tos de maior inspiração.
Foto: Luiz Clementino
MANUTENÇÃO DO ACERVO
A importância plástica e his-tórica do conjunto de Lucio Costa,na concepção urbanística; OscarNiemeyer, na arquitetura, e Ro-berto Burle Marx, no paisagismo,levou Brasília, a ser o primeiro nú-cleo urbano contemporâneo ins-crito pelo Comitê do PatrimônioMundial, Cultural e Natural daUnesco na lista dos bens de valoruniversal. Em 1990 a capital fede-ral, torna-se Patrimônio Mundialda Humanidade equiparada a ou-tros sítios urbanos notáveis, comoFlorença, Veneza e Havana. Esseconjunto valioso merece uma aten-ção especial.
Neste ano, o Brasil come-mora o centenário de Roberto
Burle Marx. Em 2010, Brasíliacompletará 50 anos. Esforçosdevem ser direcionados para a re-cuperação e manutenção dos jar-dins em sua forma original. Todoregistro e memória construtivadesse acervo, felizmente, perma-necem vivos na pessoa do arqui-teto Haruyoshi Ono, que, desde1968, desenvolveu com Robertoos projetos do escritório.
O Jardim Botânico de Brasí-lia, vinculado à Secretaria de De-senvolvimento Urbano e MeioAmbiente, compõe a comissão degoverno que, num esforço con-junto, reuniu órgãos da área fede-ral e distrital para recuperar essesjardins. A visita técnica do ar-quiteto Haruyoshi a Brasí-lia iniciará esse processo.
Foto: Luiz Clementino
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OÁSIS DE SOMBRA
As bacias de concreto projeta-das na fachada do prédio do Minis-tério da Justiça, idealizado peloarquiteto Oscar Niemeyer, de onde aágua cai em cascata até o espelho
d’água, sombreiam as composiçõesrealizadas por Burle Marx com altascolunas de xaxim cobertas por vege-tação de sombra. O contraste com aintensa luminosidade de Brasília,aqui acentuada pela Praça dos TrêsPoderes, torna os jardins do ministé-rio quase um oásis para o visitante.
O projeto do Parque da Ci-dade, concebido por ele em 1974,participaria da Bienal de Veneza em
1978. A obra nunca chegou a sercompletada e sofreu mudanças aolongo dos anos, mas a Praça dasFontes dá provas de sua genialidade.A presença do paisagista ainda podeser percebida na estrutura das super-quadras 308 e 114 Sul, feitas por en-comenda do Banco do Brasil, e naembaixada da Bélgica.
Além de trabalhar no projetoe implantação de projetos paisagís-ticos, Burle Marx participou doConselho Arquitetura, Urbanismo eMeio Ambiente (Cauma) do DistritoFederal durante o governo de JoséAparecido. Na época, vistoriavaseus trabalhos e chegava a recolocarnos locais projetados as pedras des-locadas por mendigos que fa-ziam do Teatro Nacionallocal de dormitório.
ITAMARATYA escultura de Bruno Giorgio parece
flutuar, ilusão criada pelo espelhod`água. O movimento das nuvens
se integra ao jardim
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Fotos: Giba
EM FAMÍLIANo sítio, Roberto retrata o irmão Walter, pianista, maestro e compositor erudito
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IMPACTO DOS MESTRES
Ao retornar de Recife, seu pri-meiro projeto importante, realizadoem 1938, foram os jardins do Minis-tério da Educação e Saúde, no Riode Janeiro, atual palácio da Cultura,fazendo parte da equipe que traba-lhava no desenvolvimento do esboçofeito por Le Corbusier, ao lado deLucio Costa, junto com Oscar Nie-meyer, Affonso Eduardo Reidy,Jorge Machado Moreira, Carlos Leãoe Ernani Vasconcelos.
Encontros com esses homensnotáveis transformam-se em apren-dizado para Burle Marx, comoquando escuta atentamente as im-pressões do mestre Le Corbusier, nasvisitas ao atelier de Portinari, ouconversa sobre losoa, literatura emúsica com Mario de Andrade,autor do revolucionário romanceMacunaíma — seu professor de his-toria e losoa da arte na Universi-dade do Distrito Federal.
Em 1942, Roberto planeja osjardins da Pampulha, a convite do
arquiteto Oscar Niemeyer, autor doprojeto. Data dessa época sua ami-zade com o botânico Henrique Lah-meyer de Mello Barreto. Essaassociação fraterna origina expedi-ções e pesquisas que deram a Ro-berto a compreensão denitiva docomplexo associativismo das plantase nortearam futuros projetos, comoo Parque de Araxá, síntese de cria-ção artística e conhecimento cientí-co. Cada togeograa de MinasGerais é reproduzida nas 15seções do parque.
UM HOMEM UNIVERSAL
Em 1928, uma estufa deplantas tropicais brasileiras, noJardim Botânico de Dahlen, emBerlim, revelou toda a força da na-tureza tropical a um jovem estu-dante de artes plásticas de 20 anos:Roberto Burle Marx. Na incursãopelo universo da cor e da forma,pintura e paisagismo se amalgama-vam sem, no entanto, perder suaautonomia distinta. Artista de di-mensões continentais, trilhou ouniverso das formas, traduzindo-asnas mais diversas técnicas: cená-rios, esculturas, desenhos, gravu-ras, painéis, tapeçarias, joias,
arranjos orais, construtor de jar-dins, defensor da natureza, cultiva-dor de amigos. Sua criação plásticatraz para a realidade brasileira umaproposta ecológica de grande im-portância, tão atual que atingiuesfera planetária.Indicado, em1934, para ser diretor de Parques eJardins do Recife, Burle Marx am-plia seus conhecimentos em botâ-nica e realiza suas primeirasexpedições de coletas em áreas decaatinga, introduzindo as espéciesnos primeiros projetos de paisa-gismo, rompendo com o modelo eu-ropeu. Essa nova concepçãoinuenciou de forma inquestionávelo conceito dos jardins modernos.
308 SULAparelhos urbanos
e vegetação delimitam os espaços de uso
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Fotos: Giba
Em 1989, Jeanitto Gentilini desenvolveu o projeto de reforma de uma residência paraabrigar a galeria Práxis, inaugurada com uma mostra comemorativa dos 80 anos deRoberto Burle Marx. O autor deste texto, diretor do Jardim Botânico de Brasília, mon-tou a exposição e teve oportunidade de retomar contato com o maior paisagista brasi-leiro, com quem conviveu durante sua passagem pelo Cauma.
SOBRE O AUTOR
formou uma geração de jardineirose viveiristas.
Na década de 80 a coleçãoatinge proporção institucional queexige um esforço na sua manutençãoe preservação. Preocupado em garan-tir esse acervo de valor inestimável,Burle Marx doa ao povo brasileirosua obra ainda em vida, incor-porando-a ao governo federal. f
O SÍTIOA capela deSanto Antônioatraia acomunidadepara a residênciade Burle Marx,misto de centrode pesquisa elocal de lazer
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>>PROJEÇÃO INTERNACIONAL
Na década de 50, sua arteganha projeção internacional naBienal de Veneza e na União Pan-americana, em Washington, com amostra Arquitetura paisagística noBrasil: Roberto Burle Marx. EmLondres, expõe pinturas e projetosna Contemporary Arts Gallery. EmZurique, mostra seus projetos dejardins no Kunstgewerbemuseum.A exposição segue para Amsterdã,Bruxelas, Roma e Nápoles.
O Rio de Janeiro abrigou osprojetos mais especiais para BurleMarx: o calçadão de Copacabana,o Parque do Flamengo e os jardinsdo Museu de Arte Moderna. Napaisagem carioca gura, de formamagistral, o Sítio Santo Antônioda Bica, em Guaratiba, adquiridoem 1949, com área de 800 mil m².Lá, Burle Marx pode organizaruma respeitável coleção botânicade plantas tropicais e subtropicais,com certeza uma das maiores doplaneta, fruto de coletas, permu-tas com os jardins botânicos e comos produtores comerciais brasilei-ros e de várias partes do mundo.
Num processo laborioso asplantas são identicadas, adapta-das e harmoniosamente agrupa-das, materializando as composiçõescriadas por ele e emoldurando a ca-pela e a sede da fazenda antiga,que passou a ser a sua morada.Local de encontro dos amigos, depersonalidades estrangeiras e bra-sileiras das áreas das artes, ciênciase políticas, o sítio promoveu o in-tercâmbio entre o Brasil e outrospaíses, além de divulgar a nossacultura. Com seu primoroso acervode arte popular, de imagens sacrasbarrocas, esculturas, pinturas euma innidade de objetos.
Roberto recebia com a sabe-
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doria de um oriental, que reco-nhece em cada visitante uma pre-sença divina. A cozinha do sítio,sob o comando do amigo e mestre-cuca Cleofas César da Silva, pro-moveu o deleite dos que gozaramda hospitalidade do carismáticoantrião. Foram tantas e tão va-riadas as descobertas gastronômi-cas que, recentemente, foi lançadono Rio de Janeiro em comemora-ção ao seu centenário o livro Àmesa com Burle Marx.
Mas o universo burlemar-xiano, transpassa a elite intelectuale abraça a comunidade local, quepassa a frequentar o sítio para as-sistir às missas dominicais na ca-pela de Santo Antônio da Bica eusufruir o contato com os jardins ecom a vegetação luxuriante. Começaum processo de mudança da condi-ção social dos moradores, que apren-deram com as plantas umanova forma de sobrevivênciae inclusão social, Roberto
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MODERNIDADE E ESTILO REFINADOFAZEM DE BRASÍLIA A CAPITAL DO BEM VIVER
Fazendo uma compilação, desco-briu-se que os moradores da Capital Fe-deral têm em comum o desejo de receberbem e, por isso, desejam obter outrasfuncionalidades aos ambientes tradicio-
nais como uma forma de per-mitir que a sua residência es-teja sempre pronta paraacolher. Os nossos habitantesdemonstram também queestão preocupados com a pre-servação do planeta e sempreque possível escolhem produtosecologicamente sustentáveis.
Segundo a arquitetaSilvana Andrade, existe uma tendên-cia à valorização da área social dacasa. “Os ambientes devem ser limpose práticos, permitindo maior confortona hora de receber”, comenta. A ar-quiteta explica ainda que para au-mentar esse conforto, os prossionaistêm lançado mão da integração deambientes. Nesse apartamento si-tuado na Asa Norte, Silvana Andradeintegrou o home theater com a sala deestar por meio de uma porta de correr.A idéia é aumentar a funcionalidadedo espaço. É um recurso quepode ser utilizado mesmo emmetragens reduzidas.
{ Claudia Mohn }Especial para a Formato
que é viver e morar em Brasília?
Que tipo de projeto agrada aos mora-
dores da nossa cidade? A pergunta feita
a arquitetos e designers de interiores
inspirou uma série de respostas que de-
nem o perl brasiliense de ser.
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Uma cidade coma cara do Brasil
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INTEGRAÇÃOProjeto da aquiteta Silvana Andrade
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BARREIRAS ROMPIDASÂngela Borsoi eliminou as barreiras entre a área de estar, o espaço gourmet e a piscina
MULTIFUNCIONALIDADEMaria do Carmo Araujorge busca espaços que tenham múltipla função. O objetivo é ampliar a área social
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>> B E M - V I V E R I N T E R I O R E S
Multifuncionalidade é a tô-nica do século 21 e essa tendênciaaparece com muita propriedade naresidência brasiliense. A arquitetaMaria do Carmo Araujorge reforçaque as pessoas querem ampliar afunção original dos espaços dispo-níveis. “De um tempo para cá, omaior desejo dos moradores é tra-zer a parte externa da casa para oseu interior, ou mesmo o contrá-rio. Mais do que uma piscina, sím-bolo das casas de Brasília, elesquerem um SPA para receber osamigos em um ambiente líquido echeio de calor. Querem uma lareiraa gás para poder receber nas gran-des áreas avarandadas em noitesfrias de inverno e uma área de lazerintegrada à cozinha gourmet”, ex-plica a prossional.
No projeto da arquiteta Ân-gela Borsoi, a área externa da casatransformou-se em um eciente es-paço de convivência familiar. “Re-tiramos a antiga churrasqueira,substituindo-a por um anexo, quefoi construído em estrutura metá-lica revestida por placas cimentí-cias. Atrelada a essa estrutura, umaCozinha Gourmet foi estrategica-mente projetada para permitirmaior conforto aos moradores.Criou-se ainda um deck molhadojunto ao deck seco de madeira ilu-minado por leads azuis. Tambémfoi realizado um novo paisagismo,abrigado por uma Baywindow devidro e estrutura metálica paraproteger a cozinha do vento. A ilu-minação indireta tornou ambienteclean e, ao mesmo tempo,convidativo e despojado”.
TENDÊNCIAMaria do Carmo
Araujorge amplia a função original dos espaços
Arquitetos e decoradores res-saltam que a arquitetura moderna deBrasília inspira os projetos dos inte-riores e por sua vez a vida dos seushabitantes. Linhas retas e móveispráticos e funcionais são tendênciasque foram incorporadas à decoraçãoda casa brasiliense. A arquiteta Gis-laine Garonce acredita que as pessoastêm preferido um estilo atemporal dedecoração e isso é a “cara” da cidade.“O designer de qualidade tem sidomuito valorizado. Eles preferem es-perar e pagar por uma peça diferen-ciada do que comprar uma que nãotenha estilo denido”. No projetoacima, a prossional, em parceriacom o arquiteto Marcelo Martiniano,ilustra bem o estilo do brasiliense.
ÊNFASE NAS PEÇASGislaine Garonce e MarceloMartiniano (acima) valorizamo design em seus projetos
Os clientes, cada
vez mais, preferem
esperar por uma
peça diferenciada e
valorizam o design
de qualidade
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>>ESPAÇOS
DISPONÍVEISA reforma permitiuo aproveitamento
de todos os espaços
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Pequenos espaços tambémpodem ser valorizados com uma de-coração de traços modernistas. Esseapartamento localizado no Su-doeste pertence a um jovem casal.No projeto de Maria do CarmoAraujorge, foram utilizados todosos espaços disponíveis. Na sala em
L, o destaque cou por conta doquadro da artista plástica brasilienseMônica Menkes. “A reforma foisendo feita aos poucos. Isso permitiuque o casal conseguisse terminar aobra e a decoração no momentocerto e sem estresse”, comentaa arquiteta.
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>>Os arquitetos João Rafael de
Paula e Valéria Motta ressaltam queespaços reduzidos permitem tambémalgumas variações. “Os que moramem apartamentos têm menos opçõesdo que aqueles que habitam em gran-des espaços. Porém, um pequenoquarto pode ser transformado em umagradável home theater e até a va-randa em um espaço gourmet, que,por sua vez, recebe uma pequenabancada com pia, churrasqueira,fogão barbecue e sofás de bra e me-sinhas para dar charme e con-forto”, explicam.
SOLUÇÕES DIVERSASJoão Rafael de Paula procura criar
opções de multiuso (EE). Mini spaprojetado dor André Martins (D)
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Pequenos espaços
são valorizados na
arquitetura de traços
modernistas e podem
assumir funções
variadas
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Brasília não funciona comofoi planejada, mas sim como plane-jaram todos aqueles que aqui vie-ram morar. Viver em Brasília étrazer um pouco da maneira demorar de outros estados brasileiros.O mineiro nunca dispensará um te-lhado. O carioca sempre vai quererdespojamento. O paulista não abremão de uma banheira para descan-sar. O nordestino procura logo umlugar para uma rede. O goianoadora um forno à lenha e o gaúchovai sempre querer uma bela chur-rasqueira. Este morar daqui é umamistura de urbanidade. É ummorar múltiplo onde todos se en-contram e trocam receitas de viver.É, na realidade, a cara do Brasil.Vários brasis em um só.
CLÁUDIA MOHN É JORNALISTA
SUSTENTABILIDADEAndré Martins valorizatexturas naturais eobjetos que fazem parteda história da família
Porém, não é fácil encontrar na ci-dade peças diferenciadas.
Valorizar o que as pessoastêm em suas residências também éa tônica da maioria dos projetos.Aquela “cara” de loja está fora demoda. André Martins explica quegosta de elaborar uma arquiteturabásica utilizando cores neutras emseus projetos. “Gosto de ousar comadornos exóticos e diferenciadosque podem ser trocados depois.Assim ca mais fácil renovar a de-coração do local”.
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>>Novos bairros surgiram e com
eles outras formas de morar. Asgrandes construtoras mostraram àclasse média brasiliense possibili-dades que antes eram restritas ape-nas aos mais ricos. Termos comohome theater, espaço gourmet,spa, espaço tness e home ofcepassaram a fazer parte do sonho deconsumo das pessoas. Poucos sãoos projetos que não contemplamum desses prazeres.
SUSTENTABILIDADE
Na questão da sustentabili-dade, o arquiteto André Martinsrecebe muitos pedidos para a utili-zação de materiais rústicos e ecolo-gicamente corretos. “As pessoas
procuram o aconchego e uma formade promover isso é utilizar bras,adornos e artesanato de qualidade”,aposta o prossional.
É na arte que capto
através das antenas
que disponho — meu
corpo — que exprimo
minha sensibil idade
possível como ser
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Novo sonho. Dessa vez o tioaparecia em uma praça no centro deParis cercado de belos pombos bran-cos, como São Francisco de Assis. Nodia seguinte, um artesão apareceuem sua loja vendendo o mesmo santoem sua forma bruta. A artista resol-veu pintar alguns exemplares e estesforam imediatamente vendidos.
Em 1999, descobriu que tinhacâncer no ovário. Para amenizar oproblema, buscou na arte da restau-ração uma forma de terapia. Assimrestaurou quadros e objetos de anti-guidade, empregando técnicas quehavia aprendido. Isso a acalmava.Interessou-se tanto pelo trabalhoque passou a pesquisar tudo sobre oassunto. Tornou-se apta a fazer be-líssimas restaurações. Logo após res-taurar dois quadros de pintoresfamosos, a pedido de uma amiga,Dorys viu sua fama aumentar.
Hoje, a restauradora é reconhe-cida pela grande capacidade que ad-quiriu ao longo dos anos. Já restaurouobras de artistas brasileiros e estran-geiros. Atua também com a restaura-ção de arte sacra. É responsável pelaconservação de todo o acervo de obrasdo Templo da Boa Vontade (LBV), in-cluindo o anjo da entrada da ga-leria. Fechou sua loja,expandiu os negócios e hoje
Fotos: Giba
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oris Venâncio viu sua
vida mudar completamente logo
após um sonho que teve com o
seu padrinho, o pioneiro Antô-
nio Venâncio da Silva, um dia
depois de sua morte. No sonho,
ele a alertava sobre a necessidade
de se aproveitar as oportunida-
des oferecidas pela vida.
Segundo ele, somente assimseria possível ganhar dinheiro. Naépoca, Dorys possuía um pequenoquiosque no Gilberto Salomão pararevender artigos para presente eassim garantir seu sustento. O que acomerciante não sabia era que o des-tino lhe reservava uma surpresa.
No dia seguinte, parte do tetodo shopping desabou em cima do seuquiosque. Com o incidente, Dorys teveoportunidade de reabrir seu negócioem uma loja maior. Com o intuito deobter mais mercadorias para a re-venda, convidou uma amiga que tra-balhava com antiguidades para exporseus produtos no local e, frente ao su-cesso, começou a comercializarmolduras, espelhos, quadros ealguns objetos de decoração.
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Sonhos de uma artista
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>>trabalha em seu atelier para atendero público em geral, companhias deseguro e diplomatas que a procuramcom o intuito de restaurar suasobras avariadas nas constantes via-gens que fazem.
Dorys participa de todas as fei-ras de antiguidades que acontecemna cidade. Com uma técnica diferen-ciada, prepara pessoalmente todo omaterial de que precisa para fazer asrestaurações. Passou também a tra-balhar com a repaginação de móveisseguindo técnicas como a pátina, po-licromia e outras. E ainda encontratempo para pintar quadros.
Recentemente, a restauração econfecção de lustres antigos tem des-
pertado a paixão de Dorys Venâncio. — Utilizo o material de outros
lustres para compor peças contempo-râneas, barrocas e no estilo francês —diz.
Para o futuro, Dorys pensa emvoltar a desenhar jóias — sua pai-xão. Com certeza será um su-cesso. Quem duvida?
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SERVIÇOAteliê Dorys Venâncio QI 05, conjunto 1, casa 1Tel.: 8157-9590 E-mail:[email protected]
SOLUÇÕES DIVERSASConcreto no projeto de
Ângela Borsoi (à direita)
CONCRETO E MADEIRAProjeto da Domo (acima) e de Lecomte (abaixo)
De acordo com sua
percepção estética,
cada profissional
está em busca do
resultado mais
primoroso de sua obra
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com o lugar onde nasceram, a ori-gem da sua família e seus arquétipos.
A relação desses prossionaiscom os diversos tipos de material re-presenta não somente um meio paraalcançar uma solução, mas um prin-cípio, uma paixão pelas possibilida-des que podem brotar dali. Essapaixão, transformada em obra dearte, faz surgir um envolvente jogoequilibrado de estruturas, onde abusca pela superfície trans-cende cada material.
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Surpresas cotidianas
DIFERENTESMATERIAIS EFORMAS, MASSEM PERDER A LINHA
{ Humberto Macêdo }Especial para a Formato
ESTILO DIFERENCIADOProjeto de Gilson Paranhos
Apesar da presença dominantede estruturas em concreto, a arqui-tetura de Brasília reserva surpresasque fazem parte do nosso cotidiano.São obras onde foram utilizados ti-jolos, madeira, argamassa-armada eaço. A cidade, nascida de um sonho,tomou vida, amadureceu e vem in-corporando experiências muito ricasrealizadas pelos prossionais queaqui estão. Plenos de informaçõesculturais, esses arquitetos e urbanis-tas carregam em seu estilo a relação
Sobre os arquitetos:
Daniel Mangabeira daVinha é Arquiteto e Urbanista for-mado pela Universidade de Brasí-lia (1999). Atualmente é membrodo Conselho Superior do IAB-DF.
Henrique Eduardo Cal-das Coutinho é Arquiteto e Ur-banista formado pela Universidadede Brasília (1997).
Matheus Conque SecoFerreira é Arquiteto e Urbanistaformado pela Universidade de Bra-sília (1999). Possui Mestrado emArchitectural Design pela BartlettSchool of Architecture, Universityof London (2004)
Projeto dos arquitetos DanielMangabeira, Henrique Coutinho eMatheus Seco, a residência locali-zada na QI 28 no Lago Sul de Bra-sília é composta por um pavilhãodividido entre o espaço interno emdois níveis e o espaço de varandaem pé-direito duplo, articuladospor um bloco mais baixo com ter-raço e equipamentos de lazer. Asfachadas laterais que são mais ex-postas ao sol funcionam como uma"pele" dupla formada por uma ca-mada externa em forma de pérgolavertical de madeira e uma camadainterior em vidro, entremeadas poruma camada de vegetação que -cará voltada para o interior dos
quartos. A escada principal é com-posta por lâminas de concreto re-vestidas em madeira, xadaslateralmente à parede. Esta escadaconecta o hall de pé-direito duplono térreo à sala íntima no pavi-mento superior. A sala íntima temsuas laterais abertas para a vistaprincipal ao mesmo tempo em quevislumbra a entrada da casa.
A piscina é o ponto central dacomposição do projeto, para onde seabrem seus ambientes de convivên-cia. A piscina se encontra no platô deimplantação, que será erguido noponto médio do terreno de modo aobter uma vista aberta para oLago Paranoá.
Inovação
DOMO ARQUITETURA
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>> B E M - V I V E R A R Q U I T E T U R A
Brasília, surgida do concreto,apresenta inusitadas formas estrutu-rais. Mas, a exemplo de outras cida-des em desenvolvimento, vemadaptando-se também aos novosmateriais. Madeira, aço e alumíniointeragem para dar ritmo e contrasteà luminosidade do cerrado. A cidadese transforma na imaginação cria-dora de seus arquitetos.
De acordo com sua percepçãoestética, cada um desses prossionaisestá em busca do resultado mais pri-moroso e “belo” de sua obra, semabrir mão da funcionalidade. Muitasvezes, inuenciados pelas imposiçõesdo mercado, procuram soluçõesnovas e variadas, concebendo umaarquitetura que esteja de acordo coma contemporaneidade e até permi-tindo-se criar uma arquitetura atem-poral. Sem temer as “tendências”,mas, administrando, muitas vezes,
contradições, buscam soluções belas,inesperadas e harmoniosas, traduzindopoesia e imaginação.
Nem sempre o “cliente” sabe oque quer como resultado estético eacaba escolhendo o prossional emconsideração às obras por ele já edi-cadas. Assim, quanto mais vasto ocurrículo de um arquiteto, melhor asua trajetória de estilo será traduzida.
Verica-se na cidade a presençade alguns prossionais com carreirasbastante consolidadas, que podemmostrar uma evolução estética jábem amadurecida. A proposta dessaeditoria de arquitetura é apresentá-los a cada número, mostrando seuperl e a arquitetura que seidentica com a nossa cidade.
HUMBERTO MACÊDO É ARQUITETO E URBANISTA
INTEGRAÇÃOO projeto de Ângela Borsoi
integra o interior com o entorno da residência
Nesta edição serãoapresentados osprojetos dosarquitetos ÂngelaBorsoi, DanielMangabeira,HenriqueCoutinho,Matheus Seco,Roberto Lecomtee Gilson Paranhos
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e LEED (Leadership in Energyand Environmental Design ou Li-derança em Energia e DesenhoAmbiental), a madeira é conside-rada o material ambientalmentemais correto.
A pouca difusão do seu uso es-trutural e construtivo no Brasil estárelacionada a diversos fatores, comoa tradição construtiva em pedra her-dada da colonização portuguesa, o
grande desenvolvimento experimen-tado pelas indústrias do cimento e doaço e a ilegalidade presente na ativi-dade madeireira que faz com que sejarejeitada pelo consumidor preocu-pado com a questão ambiental.
A conjuntura da ilegalidade degrande parte da atividade madeireirano Brasil não é exclusiva do material:ainda hoje, por exemplo, a atividadesiderúrgica em Minas Gerais é ali-mentada pelo carvão nativo que é ex-traído ilegalmente nas regiões decerrado e da caatinga. Este mesmocarvão também alimenta uma inni-dade de olarias que produzem otijolo e a telha de barro queconsumimos em nossas obras.
ESTRUTURASA madeira é destaque nos projetos de Roberto Lemconte
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Solução Ambiental
ROBERTO LECOMTE
A losoa de uso intensivo demadeira e de estruturas de madeiraem nossos projetos foi fundamentadana experiência com o movimento am-bientalista e com a busca de alterna-tivas às soluções arquitetônicas ditas“globalizadas”. Ou seja, que se mani-festam em várias partes do mundo in-dependentemente de condicionantesbioclimáticos e socioculturais locais.
O desenvolvimento tecnológicoé imprescindível, mas a arquiteturadeve sempre que possível levar em con-sideração o ambiente onde será reali-zada, e os novos tempos onde a buscade soluções ditas “sustentáveis” está setornando regra e apontam para a ne-cessidade de se avaliar criteriosamenteo custo das decisões arquitetônicas.
Cite-se como exemplo que, emalgumas propostas de edifícios com“caixas de vidro” em regiões declima quente, o custo de climatiza-ção torna-se equivalente ao custo daobra em poucos anos. Estudos re-centes indicam que uma obra de umedifício representa cerca de 20% doseu custo, enquanto que os 80% res-tantes representam o custo de ma-nutenção ao longo de sua vida útil.Ou seja, o grande impacto decorrede como esse edifício foi concebido ede como as soluções tecnológicas aliempregadas são ambientalmenteadequadas ou não.
Soma-se a isto o fato de que aconstrução civil é responsável peloconsumo de cerca de 40% dos mate-riais e energia produzidos pelomundo. Nesse contexto, nenhumoutro material de construção possui odesempenho ambiental da madeira,sendo considerada por estudiosos dasustentabilidade na construção civilcomo o “material do futuro”.
Trata-se do único material re-novável da construção civil, alémde consumir menos energia e pro-duzir menos resíduos e poluição emseu beneciamento, bem como serum estoque de carbono de longaduração. De acordo com o conceitode “edifícios verdes” difundido nospaíses da Europa e América doNorte, e monitorado em programasde avaliação do desempenho dosmateriais como o LCA (LifeCycle Assesment or Analysisou Análise do Ciclo de Vida)
Por ser renovável, a
madeira é o material do
futuro. Consome menos
energia e produz menos
resíduos e poluição em
seu beneficiamento
O tijolo de barro é consideradoo nosso material de construção maisbarato e acessível, mas o seu custonão é real: se as olarias fossem devi-damente responsabilizadas pelo im-pacto que causa a extração deargila, como erosões irreversíveis,certamente o preço do tijolo seriaoutro. O mesmo se aplica aos demaismateriais básicos da construçãocomo areia, brita e cimento, emcujos custos não está “internali-zado” o custo ambiental.
Com relação à madeira, estarepresenta uma das grandes possi-bilidades de manutenção dos nossosrecursos orestais, pois o setor ma-deireiro prescinde da oresta. Asestatísticas do desmatamento naAmazônia conrmam isto: a ativi-dade agropecuária é a grande res-ponsável pelo ritmo vericado,pois exige a retirada da orestapara sua expansão.
O uso da madeira na constru-ção civil representa uma valorização
do produto orestal, e quanto maisnobre for este uso, mais valorizadoserá o material. O seu emprego comoprincipal elemento estrutural e cons-trutivo em uma edicação signicapromover a madeira ao mesmo pata-mar dos materiais considerados tra-dicionais, como o concreto, o aço e oalumínio, e signica também estarcontribuindo para a sua valorizaçãoem um país onde metade do seu ter-ritório ainda é uma oresta em pé.
O baixo desenvolvimento tec-nológico vericado nas obras emmadeira em geral não expressa assuas inúmeras possibilidades de uso,que nos países do Hemisfério Nortejá colocam o material como o maisversátil, permitindo-se conceber es-truturas com vãos que chegam aquase 200m e casa que saem pron-tas de indústrias e são transporta-das por helicóptero até os locais deimplantação.
Em nosso projetos procura-mos experimentar novas soluções
tecnológicas em sistemas pré-fabri-cados com madeira roliça ou comvigas laminadas e coladas, semprebuscando a integração entre arqui-tetura e estrutura, criação e tecnolo-gia. Invariavelmente, percebemosnas obras nalizadas que a estéticaestá diretamente relacionada com apresença da madeira.
Finalizando, acreditamos nasinnitas possibilidades de uso damadeira como elemento estruturale construtivo, sem mencionar as va-riadas opções de composição arqui-tetônica com as quais perseguimoso nosso objetivo nal, que é a obrabela, funcional e coerente com osnovos tempos. Sim, pois para 10m3de madeira empregado em umaedicação, temos, descontadas asemissões para se processar o mate-rial, aproximadamente 4 toneladasde carbono “estocadas” em pilarese vigas, como contribuição parauma atmosfera mais limpapara as próximas gerações.
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A solução despojada ado-tada por Gilson Paranhos ao dese-nhar uma residência conferiuautenticidade ao projeto, segundoMatheus Gorovitz, professor daFaculdade de Arquitetura e Urba-nismo da Universidade de Brasília(FAU-UnB) e autor de A invençãoda superquadra, obra lançada emabril deste ano.
— A forma como o arquitetoconcebeu a cobertura imprimegraça e dispensa qualquer outroartifício ou ornamento. A identi-dade da casa á dada pela cober-tura que se resume ao essencial —arma o professor.
Segundo Gorovitz, essa des-
pretensão em fazer uma arquite-tura singela é muito interessante.
— A casa é aconchegante,com todos os seus espaços di-mensionados para a função quefoi concebida. O projeto possuitudo o que é necessário parauma vida confortável e sem os-tentação — conclui.
Sobre Gilson Paranhos:
Em 1980, graduou-se em Ar-quitetura e Urbanismo pela Universi-dade de Brasília. É sócio-fundador daGP Arquitetura e Engenharia e autorde 156 projetos (54 obras), entre eles:terminal III do aeroporto de São
Paulo (Guarulhos-SP), CondomínioResidencial – classificado em 1º lugar(edificações de pequeno porte) na Bie-nal de Brasília em 1998 (Brasília-DF), Capela do Seminário NossaSenhora de Fátima – classificada em2º lugar (categoria Institucional) naBienal de Brasília de 2003 (Brasília-DF), Mercado de Sobral – classifi-cado em 2º lugar no ConcursoNacional (Sobral-CE), Hospital deOncologia (Natal-RN), reforma doHospital de Base (Brasília-DF) e re-forma da recepção dos Presidentes naBase Aérea (Brasília-DF). Entreoutros cargos, foi Presidente do IAB -DF e Coordenador Nacional deConcursos Públicos.
SIMPLICIDADEA cobertura imprime
autenticidade ao projeto
Graça e identidadeGILSON PARANHOS
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Sobre Roberto Lecomte:
Arquiteto formado pela Univer-sidade Católica de Goiás (1989), pos-sui Mestrado em Arquitetura eUrbanismo pela Universidade de Bra-sília (2007). Atuou em projetos e obrascom uso da madeira como principal ele-mento construtivo, tais como a Casa deChá e Orquidário do Jardim Botânicode Brasília, Orquidário Nacional doIBAMA, restaurante Ipê em CaldasNovas (GO), centros de visitantes e es-truturas de apoio para parques ecológi-cos no Distrito Federal, como naEstação Ecológica de Águas Emenda-das, para parques estaduais como TerraRonca e Pirineus (GO), em parquesnacionais como Serra dos Órgãos (RJ)e Fernando de Noronha (PE), além deobras especiais em madeira como a Tri-buna Coberta e Pavilhão do Parque deExposições da Granja do Torto e Es-paço de Eventos no Setor Gráfico, emBrasília (DF), bem como em obras re-sidenciais em madeira. Ganhou duas
menções honrosas em duas edições daBienal de Arquitetura de Brasília, comas obras do Restaurante Ipê, em CaldasNovas (GO), e do Espaço de Eventosno Setor Gráfico (em parceria com osarquitetos Regina e Sérgio Fitipaldi).Ganhou, com o projeto e obra do CE-NAFLOR (Centro Nacional de Apoioao Manejo Florestal), o 1º lugar doConcurso de Arquitetura em Madeira,categoria Profissional, do EBRA-MEM (Encontro Brasileiro em Ma-deiras e em Estruturas de Madeira), ea Medalha de Ouro na categoria Am-biente Construído do GREENAPPLE AWARDS, prêmio interna-cional concedido pela The Green Orga-nization e Governo Britânico.
Roberto Lecomte contou nos pro-jetos apresentados com a valorosa con-tribuição do engenheiro Júlio Eustáquiode Melo, mestre em estruturas de ma-deira e calculista de todas as estruturas.No projeto Espaço de Eventos, assinamtambém os arquitetos Sérgio e Re-gina Fitipaldi.
ECOLOGIAA estrutura em
madeira trazuma grande
economia naemissão de
carbono. Aolado, projetopara Marabá
Por ser renovável,
a madeira é o
material do futuro.
Consome menos
energia e produz
menos resíduos e
poluição em seu
beneficiamentoIsso ocorre não somente pela
comodidade na hora da escolha, mastambém pela possibilidade de que oprojeto saia exatamente como foiplanejado.
De olho nesse mercado cadadia mais exigente, os empresáriosAdilson Magela e Célio Caixeta re-solveram unir as empresas Multipe-dra e Metro Quadrado. A primeira
especializada emmármores e grani-tos nacionais e im-portados e silestonee, a segunda, comatuação no seg-mento de armários
planejados. A união das marcas ga-nhou um moderno showroom enovos clientes interessados nas inú-meras possibilidades disponíveis.
Após 20 anos de experiência,Adilson Magela constatou que o clientebusca comodidade e atendimento rá-pido e eciente. “Unir os serviços demarcenaria com as possibilidades deuma marmoraria permite que os pro-
jetos sejam executados sem risco deerro. Além disso, o contexto para suaexecução é muito mais rápido e e-ciente”, comenta.
As empresas atendem a qual-quer tipo de projeto e possuem umcompleto mostruário de pedras deco-rativas e acabamentos em madeira elaminados. No salão de vendas, pro-jetistas e vendedores estão à disposi-ção dos clientes para auxiliá-los naescolha das melhores opções para umdeterminado projeto. O showroomestá guarnecido também com todasas tendências lançadas recentementeno mercado nacional e internacionalde arquitetura e decoração.
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>> E M P R E E N D E D O R I S M O
Soluções Inteligentes
FUSÃO AGRADA SEGMENTO DE ARQUITETURA E DECORAÇÃO
arcerias entre empresas do ramo de mate-
riais de construção são iniciativas que sempre
agradaram consumidores e prossionais do
ramo de arquitetura e decoração.
P
SERVIÇOMultipedra e Metro QuadradoSIA Trecho 4, lote 780Tel.: 32345793 3361-4945 E-mail: [email protected]
R
luz
I M AG E M R U I FAQ U I N I
ui Faquini nasceu em Morrinhos, Goiás em 1943. Assistiu e participou da cons-trução de Brasília. Morou no Irã, Japão, e a antiga Iugoslávia, aonde fez a primeiradocumentação fotográfica. Passou pela Suíça, Inglaterra e Itália realizando oficinas
e estágios. Voltou ao Brasil em 1975 e hoje possui umacervo de mais de 20 mil imagens. Participou e editou novelivros. Suas origens demarcaram o caminho que seguiriaprofissionalmente. Goiás, nas décadas de 40 e 50, era umestado isolado, mas de rico artesanato e cultura. Essa in-fluência é visível nas inúmeras exposições que montou ouparticipou. As duas mais recentes, Kalunga, que retratao cotidiano dos quilombolas, e Estradas e margens, sín-tese de 30 anos de viagens pelo Brasil, principalmente nasregiões Norte e Centro-Oeste, permitem um mergulho pro-fundo e autêntico em um país de grandes contrastes.
Além do trabalho de documentar um país pouco co-nhecido, o fotógrafo trabalha, há 25 anos, para agências de publicidade de Brasíliae outros estados. É membro fundador da União dos Fotógrafos de Brasília e associadoà Abrafoto — Associação Brasileira de Fotografia Publicitária. Em sua próximamostra, Menire (Mulher), disseca o universo feminino Kaiapo.
No caminhoda luz
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>> I M AG E M R U I FAQ U I N I
“Eu sou um caçador
de luz e de cores.
Busco sempre os
aspectos inusitados
dos locais que visito.”
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“E stradas e margens
resume mais de 30
anos de trabalho pelo
interior do Brasil.”
I M AG E M R U I FAQ U I N I
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“Não tenho saudades
da fotografia em filme.
Hoje, faço em seis dias
o que levaria meses
para preparar antes.”
I M AG E M R U I FAQ U I N I
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Dadas (monges) e didis (monjas) vestidos com trajesalaranjados, dançam e cantam no Templo de Ananda Marga,uma das centenas de religiões e seitas indianas, em Calcutá.Giram em torno do altar, viram para a direita e para aesquerda e sempre batem a ponta dos pés no chão cantandode maneira incessante: Babanam Kevalam (Tudo que existe éamor, amor é tudo). Há milênios, os mantras são entoadosnos templos indianos. Uma forma de ativar a terceira visão.São horas e horas de ritual que leva ao transe completo.
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>> V I AG E M Í N D I A
{ Viviane Pretti }Especial para a Formato
{ José Humberto Fagundes }Edição de texto
UMA VIAGEM À ÍNDIA É UMA EXPERIÊNCIA SINGULAR E INESQUECÍVEL. ARELIGIOSIDADE IMPRESSIONA E CONTAGIA. TERRA DO AMOR ONIPRESENTE
espiritualUm mergulho espiritual
devoção. A Índia é um país peculiar.
Terra de Ghandi. Difícil de denire impossível de descrever. Seus mis-térios, tradições, divindades... Umpovo à or da pele. Caos urbano,miséria e beleza em um só lugar.Avanço tecnológico, crescimentoeconômico acelerado e religiosi-dade atemporal. Um povo sereno,sem medo da morte.
BHODIGAYAA estação ferroviária de Calcutá
é esplendorosa. Linda. Todo ilumi-nado, o prédio resplandece uma co-loração dourada. No interior, hajagente. Burburinho inndável deuma multidão inacreditável. Nossodestino, Bhodigaya. Lugar em queSidarta Gautama iluminou-se,dando origem ao Budismo, umadas maiores religiões mundiais. De-zenas de templos de todas as linha-gens e regiões da Ásia marcam aarquitetura. O formato das cons-truções e as cores denunciam a ori-gem dos monges. Templo emmadeira, nas cores marrom, ocre,bege, sem muitos penduricalhos, éjaponês. Com muito vermelho,todo colorido, é budista puro.
Bhodigaya gira em torno doMahabodhi Temple (Templo doGrande Despertar). A área equi-vale a pouco mais de um quartei-rão. Nos jardins e pátios internos,os monges passam o dia fazendo re-verências, orações. E lá está a ár-vore embaixo da qual SidartaGautama meditou e se iluminou.Os locais por onde o Buda andou,durante as semanas seguintes à suailuminação, foram divididos em es-tações. Junto a pessoas de várioslugares e nacionalidades — e mui-tos monges com trajes laranja,bege, marrom, vermelho,que indicam linhagens e
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>> V I AG E M Í N D I A
Vinda de todos os cantos daÍndia e do mundo, uma multidãoestimada em 5 mil pessoas partici-pava do Encontro Anual dos Mon-ges de Ananda Marga. Eramhomens, mulheres, crianças, ido-sos, doentes. O clima de tranquili-dade e resignação impressionava.Debaixo de um grande galpão delona, improvisado como proteçãoao sol escaldante, as pessoas rece-biam pratos, produzidos com fo-lhas de árvore prensadas —ecologia viva. O panelão de arroz,a concha com a porção de cada um.Distribuição de comida em massa.As pessoas de cócoras no chão. Amão esquerda sustentava o prato.A direita, comia. Algo surreal.
Havia uma cozinha especialpara os estrangeiros. Fui visitar...Cada panelão... Limpeza de dar dó.Além do mais, a comida ainda iademorar. A exaustão também aca-bou me fazendo desistir. A expe-riência da alimentação em Calcutácou mesmo por conta de um caldode cana, água de coco, uma goiabae um saco de pipoca. Acondicio-
nada em saco transparente, pipocaé comida de verdade por lá.
Ainda estava fresca na memóriaa chegada pela manhã, na cidade.Choque com a pobreza, falta decondições de higiene. Trânsito ini-maginável: gente, carro, cachorro,vaca, moto, ônibus. Bicicletas comdois passageiros, motonetas comtrês. Cenas inesquecíveis, no en-tanto, superadas pela harmonia e
A coloração dourada
do prédio da estação
ferroviária de
Calculá impressiona
tanto quanto a
multidão que por
lá lácircula
Fotos: Viviane Pretti
versidades. Shastriye, a segunda,abriga prossões nobres, como co-merciantes e soldados. A terceira,kaist, engloba os trabalhadores,mas nada se compara com aquarta casta: harjan. Aí estão ospárias. Deserdados, favelados detoda sorte. Limpadores de latrinas,encarregados das tarefas desagra-dáveis. Dependem de banheiros co-letivos em vilas e bairros com valasa céu aberto. Mulheres fortíssimaspara sustentar o peso, o fardo, ta-refa não afeita aos homens. Exem-plo vivo nos cestos de pedras quecarregavam para uma brita-deira em Bhodigaya.
TRABALHOCarregar pedras é
tarefa feminina nessabritadeira em Bhodigaya
alternativa do automóvel fora des-cartada. O caminho incluía a tra-vessia de um rio lamacento, e dealgumas aldeias. Oportunidadeúnica de conhecer um pouco o in-terior indiano. Casas de barro epalha. Mulheres cuidando de afa-zeres domésticos. Meninos nusbrincando na terra. Meninas comsuas lousas rumo à escola. A maio-ria de pés descalços. Em volta dascasas, o leite das crianças. Vacascompondo o cenário.
CASTASNa Índia, há quatro castas ou
divisões sociais. Cada um cumpre àrisca o seu destino. É proibido ca-samento entre elas. A brâmane é aprimeira. São os sacerdotes. Têmpele mais clara, frequentam uni-
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>> V I AG E M Í N D I A
monastérios diferentes —, rodeisete vezes em volta do templo cum-prindo ritual milenar.
O objetivo budista é a liberaçãodo sofrimento e da ignorância dosseres sencientes nos seis reinos daexistência (Deva, o reino dos deu-ses; Asura, dos semideuses; dosseres humanos; dos animais; dosfantasmas famintos e dos infer-nos). Ao fazer suas meditações eorações, monges e praticantes es-tendem sua prática a todos osseres. É como se rezassem para ali-viar nossas cargas e diculdades.
Neste roteiro místico por Bho-digaya — naquele dia éramos osúnicos brasileiros — a aventuracou por conta do trajeto a ser per-corrido a pé, cerca de duas horas,para chegar à caverna do Buda. A
COTIDIANOO sorriso largo docamponês, no retornopara casa. Abaixo, Bikki(esq.) com um barbeirode rua em Bhodigaya
à morte é assustador. Antes, como em uma procissão, a
padiola percorre as ruas da cidade. Ocorpo coberto com muitas ores. Fami-liares, amigos entoam cânticos. Depoisde cremado, o ato derradeiro. Cinzas jo-gadas no Ganges.
Exceções à cremação, só emcasos especiais: grávidas,bebês, crianças e quem morreupor picadas de cobra, símbolode Shiva, deusa da destruição erenovação. Uma honra. Nessassituações, os corpos são envol-vidos em panos. Amarram-se aeles pedras pesadas. Destinocerto, o fundo do Ganges. Ali-mento para os peixes. O corpoé mero receptáculo do espírito.O rio é sagrado.
ALDEIASNo interior da Índia, os estrangeiros
despertam a curiosidade popular
tes de tirar o fôlego. Experiênciasque só mesmo uma cultura milenarpode proporcionar. A hospedagemno monastério budista vietnamitaTrung Tam Vien Giac, em Bhodi-gaya, resume a sensação de que alise alimenta não só o corpo, mas aalma. Nosso antrião é o mongeHanh Tue. Jovem, baixinho, morana Alemanha. Retorna a Bhodi-gaya entre novembro e fevereiro,todos os anos. Para recepcionar vi-sitantes de todo o mundo. E passaradiante visões de vida peculiar.
O ritual da alimentação vai muitoalém dos conceitos ocidentais. Os mon-ges tocam o sino. A hora é exata. A co-mida vegetariana. Sopas, legumesrefogados, arroz frito. Vegetais e frutas.Três refeições diárias. Nem pão, nemderivados de leite. As orações ecoampelo ambiente: “Zoro bodo boro go.Zoro bodo boro go.” Todos de mãospostas. O m da prece sinaliza: é horade comer. Atenção plena. Silêncio. Res-peito milenar. Não há como sair im-pune. Bendito seja o alimento da vidae do espírito. Na Índia, no Brasil, nomundo. Terra de todos nós.
O RIO SAGRADOO Ganges até poderia ser um rio
qualquer, igual a qualquer outro.Mas não é. O fato de ser o único riosagrado do mundo faz a diferença.Pelo menos para os indianos, éclaro. Às suas margens, tudo acon-tece. De cerimônias hindus, com ri-tuais e oferendas, a local de tomarbanho, lavar roupa ou simples-mente ingerir goles da água sa-grada. Milhares de pessoas aomesmo tempo. Homens, mulheres,idosos, crianças. Tudo isso próximoao lixo o u a um cachorro morto,que passa utuando.
O rio nasce nas montanhas do Hi-malaia, corta Bangladesh e atravessa aÍndia até desembocar na Baía de Ben-
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Depois de todos aqueles impressio-nantes quadros, em que religiosidade semescla com pobreza e beleza, a surpresacaria por conta de Abhishek KumarSinah, ou simplesmente Bikki, umkaist. Rapaz esperto, estudante de so-ciologia, tornou-se meu amigo de Bho-digaya. No pátio do templo budista doSri Lanka, tentava conversar com os tu-ristas em espanhol. Eu respondi
Começou, então, um mergulho nouniverso de Bikki. Hábitos, família,castas. Ele nos seguia por todos os can-tos. Era sair do monastério vietnamitae lá estava o garoto. No segundo dia,veio com uma caderneta. Pedia paraformar frases em espanhol e o correlatoem inglês. Aprendeu sozinho com umlivro de castelhano e falava direitinho.Em 2009, vai realizar, nalmente, osonho de estudar o idioma em uma es-cola de Bhodigaya. Sem computadorem casa, aprender pela internet cariamuito caro, impossível.
Vida dura. Único lho homem. Paiadoentado e quatro irmãs (uma delascom deciência mental). Uma luta paraajudar a montar os dotes das três quese casaram. Entre novembro e fevereiro,Bikki para de estudar. Faz bicos comturistas para ganhar algum dinheiro.Agora, economiza para o parto da irmãrecém-casada. Um péssimo casamento.O cunhado não tem recursos para man-ter a família.
Bikki quer se formar. Fazer umcurso de informática para trabalhar emum call center. Virar terceirizado dasgrandes corporações mundiais que do-minam o setor. É onde se ganha muitobem, em comparação aos parcos salá-rios indianos, no entendimento de nossoguia. Facilitador da entrada em qual-quer lugar da cidade. Barreira entre ospedintes. Interlocutor atento.
ALIMENTAÇÃO RITUALA Índia deixa marcas indelé-
veis. Paisagens, situações, contras-
gala, num percurso de 2.510 km. Aolongo desse trajeto, em território in-diano, as cerimônias se sucedem. Pareceque o tempo parou. E 5 mil anos de his-tória se repetem a cada dia. Devoçãotem explicação?
Os indianos são um povo diferente.Entendem que corpo é matéria, e nãoespírito. Ao morrer, a matéria deve re-tornar não só aos elementos que, origi-nalmente, a formaram, mas à natureza.A cremação funciona para dissolver oinvólucro material e evitar que o espí-rito que apegado a Terra. É algo sim-ples e sereno para eles.
À noite, movimento intenso àsmargens do Ganges. Crepitar de fo-gueiras montadas no chão. Nadade palatas, como se vê no cinema.Quanto mais altas as chamas, maisrica a pessoa. Mais lenha compradapara alimentar o fogo. Processomais demorado o dos pobres...Menos lenha. Os corpos chegamem padiolas, envoltos em uma capaprateada, que parece papel lami-nado. Para eles, nada relacionado
SCLS 313 bl.A lj. 29 Fone/fax: 3345.0596 Celular: 84175232E-mail: [email protected]
Home-page: http://www.kalanchoefestas.com.brf76
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EFEITOS ESPECIAISAo amanhecer, as brumas de
Varanasi dispensam efeitos espe-ciais. imagens deslumbradas e des-lumbrantes no nevoeiro doanoitecer. Cenário hollywoodiano.Sem pré-produção, natural (mere-ceria mais do que o Oscar que pre-miou a creatividade indiana em2009). Mergulho profundo no hin-duísmo puro. Borbulhante às mar-gens do Ganges, sagrado rio. Emque outro lugar rio tem acesso porescadarias? Gente, motos, riqui-xás. Engarrafamentos a granel. Noordenamento do caos, tudo fun-ciona, todavia.
Varanasi é um torvelinho inaca-bado de energia. Diversidade cul-tural, agitação imensurável,choque de visão e audição. Sinfo-nia interminável de buzinas. Crian-ças a nos seguir, como se nãofossemos deste mundo. Gangesacima, seguimos em aventura no-turna. Incontáveis velas ilumina-vam o caminho do desembarque namargem escura do rio. Sacrifício erecompensa. Depois da subida na“escadinha” enorme, lá no alto,uma sala ampla. Colchonetes e ta-petes no chão. Cítara, harmonium(teclado) e damru (tambor). Mú-sica exclusiva na sala de uma casaindiana que virara palco. Com pul-seiras e chocalhos nos tornozelos, ojovem indiano dançava descalço ebatia com os pés no chão. Integra-ção perfeita. Música e ritmo.Aroma incensado no ar. Velas a nosiluminar.
De volta ao barco, o jantar, pre-parado pelo barqueiro e sua es-posa. Atividade familiar, paraagregar valor. No cardápio, bata-tas, pimentas e doces, parecidoscom nosso doce de leite. Menosaçucarado, porém. Servidos empratos feitos de folhas de árvore
prensadas. Maravilha ecológica,funcional. A gororoba cumpriumuito bem seu papel. Reetida noGanges, a gastronomia do bar-queiro vive da simplicidade, da re-ligiosidade, do amor.
JOIA DE MÁRMORE“A lágrima que rola sobre o
tempo”, na denição do poeta Ra-bindranath Tagore. Ou um verda-deiro monumento ao amor. Nãoimporta a concepção. As fotos oupostais do Taj Mahal não fazemjustiça à lenda, à poesia e ao ro-mance que envolvem o mais fa-moso monumento da Índia, umadas maravilhas arquitetônicas domundo. Tombado pela Unescocomo patrimônio histórico da hu-manidade, é também o mais bempreservado e o mais belo mausoléuque existe.
Estilos hindu e persa fundem-se na harmonia de suas linhas ar-quitetônicas. Construído em1631, às margens do rio Yamuna,reverencia Mumtaz Mahal, se-gunda esposa do imperador ShahJahan. União marcada por amore paixão. Mahal foi companheirainseparável durante 18 anos.Morreu assim que deu à luz o dé-cimo quarto filho do casal, emmeio a uma campanha militar naqual acompanhava o marido.
O monumento levou 22 anospara ser concluído. Empregou 20mil artesãos. Pouco se sabe sobre oautor do projeto. As únicas assina-turas registradas são as do calí-grafo Amanat Khan Shirazi.Responsável pela transcrição deversos do Corão, que adornam asfachadas, a precisão da escrita éinigualável. Obedece a proporçãomilimétrica. Da base ao topo, vaicrescendo. Ao olho humano, ca aimpressão de que os caracteres sãotodos do mesmo tamanho.
Da província de Rajastão, Noroesteda Índia, veio o mármore de Makrana.Considerado o melhor e o mais rígido domundo. Bem menos poroso do que omármore italiano de Carrara. Séculosse passaram e passarão. E a construçãointacta, elevada sobre uma rocha ver-melha. Precisão e equilíbrio são marcasindeléveis do Taj Mahal. O edifício prin-cipal, e seu famoso domo, tem quatrominaretes estrategicamente inclinadospara fora, nos ancos da estrutura. Zeloextremado. Se algum dia ruíssem, nãoatingiriam o monumento. Renadatécnica de incrustação de pedras semi-preciosas sobre o mármore reete a be-leza dos adornos. Pedras cortadasmilimetricamente. Depois, coladassobre os desenhos. A cola usada é se-gredo passado de pai para lho, entreos poucos artesãos que até hoje traba-lham essa técnica.
O amor entre Shah Jahan eMumtaz Mahal, na verdade,contaminou os indianos do sé-culo 15. Solidariedade com ador da perda, carinho pela prin-cesa. Influência exacerbada noesmero, na realização da obragrandiosa. Projeto desenhadopor gigantes, terminado porjoalheiros. Quem haverá, então,de questionar a sabedoria popu-lar, milenar? Amor para sem-pre, Taj Mahal.
Para os indianos,
o corpo não passa
de mero receptáculo
do espírito e a
cremação funciona
para que ele não fique
apegado à Terra.
Antes de mais nada, um alerta: não leiaesta matéria de dia, quando os maus es-píritos deixam as entranhas do LagoVitória e fazem o gado desaparecer,trazendo consigo as raízes da desgraça edo infortúnio. Guarde-a para as horas danoite, benfazejas e serenas. Contarhistórias é coisa séria no Quênia, país queganhou um papel de destaque na mídiacom a eleição para a Presidência dos Es-tados Unidos, a maior potência mundial,de Barack Hussein Obama Jr.
O novo chefe de Estado norte-ameri-cano nasceu no Havaí, filho de queni-ano muçulmano com americana ateísta.Foi educado na Indonésia (em escolasislâmica e católica) e no Havaí, pela avópresbiteriana. Um homem multicul-tural, que recebeu um país doente das
mãos de George W. Bush, em meio aduas guerras e a maior depressãoeconômica desde 1929.
A vila de Kogelo, povoada pela etniaLuo, onde nasceu o pai do atual presi-dente estadunidense, está às margens doLago Vitória, o segundo maior de águadoce existente. De lá nasce o Nilo, omaior rio do mundo em curso d’água. Olocal é famoso por seus magos e curan-deiros, donos de vastos conhecimentossobre medicina natural, capazes de pro-teger inocentes de feitiços e de curas mi-lagrosas. Bem ou mal, bastanteadequado para a situação atual dos Es-tados Unidos...
Quanto a contar histórias, ainda hojeas aldeias se reunem à noite para ouvirvelhos mestres em torno da fogueira.
ASraízesDEOBAMA
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>> PA Í S Q U Ê N I A
O PRIMEIRO PRESIDENTEMULTICULTURAL DOS
ESTADOS UNIDOS SOFREUINFLUÊNCIAS AFRICANAS,ISLÂMICAS, CATÓLICAS E
PROTESTANTES
Nyamgondho era um homem pobre, que vivia às mar-gens do Lago Vitória. Cansado de sofrer, rezou para osdeuses. Uma mulher estranha, caolha, emergiu das águase desposou-o. Ela não tinha medo do trabalho e ajudou natransformação do camponês miserável em um homem ex-tremamente rico, proprietário de um enorme rebanho.
Com a riqueza, Nyamgondho mudou. Virou um homemorgulhoso e arrogante. Num dia, perdeu a cabeça, espan-cou a mulher e disse:
— Não preciso mais de uma esposa tão feia, agora quesou um próspero fazendeiro.
A mulher, sem dizer uma palavra, retornou para o lago.Todas as cabeças de gado a seguiram, deixando Nyam-gondho na miséria.
UMAliçãoMORALluo
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O poder da vida e da morte está nas mãos de Ngai, quevive em Kirinyaga (Monte Kenya). No início dos temposele chamou Gikuyu, pai da tribo, a quem concedeu partede seus domínios, com rios, vales e florestas, ricas em fru-tos e animais.
Um dia, ele levou Gikuyu ao topo de Kirinyaga. Noponto mais alto da montanha, mostrou uma área no cen-tro do descampado, onde despontavam figueiras sel-vagens. E Ngai disse ao homem:
— Vá até o bosque e construa seu lar. Quando precisarde mim, sacrifique um bode e erga suas mãos em direçãoao Kirinyaga e Ngai virá ao seu encontro.
Gikuyu seguiu as instruções de Deus e, ao chegar, en-controu uma bela mulher a quem desposou. Chamou-a deMumbi (a Criadora). Tiveram nove filhas.
Sentindo que era a hora de arrumar marido para asmeninas, Gikuyu visitou Ngai que lhe ordenou:
— Pegue um cordeiro e sacrifique-o sob a grandefigueira que está no seu quintal. Espalhe seu sangue egordura pelas raízes. Depois, queime a árvore. Mandesua família para casa e retorne para o local do sacrifício.Lá encontrará nove homens dispostos a desposar suasfilhas para povoar a Terra.
O mitoKIKUYU
DA CRIAÇÃO
O sol e a lua se casaram no início dos tempos. Viajaram,o sol na frente, vigiando o caminho, seguido pela lua.Quando ela se cansava, o sol carregava-a nos ombros portrês dias seguidos. É quando ela desaparece. Um dia, alua cometeu um erro e apanhou do marido, mas, comotinha temperamento forte, revidou, e feriu o rosto do sol.
Ele não deixou por menos e arranhou a face da esposa,arrancando-lhe um olho. Ao perceber que estava ferido,decidiu que ninguém mais lhe olharia o rosto. Passou abrilhar intensamente. A lua não ficou constrangida pelascicatrizes da briga. Por isso, ao vê-la nas noites claras,percebemos as marcas deixadas pelo sol.
solE DAlua,
UMA LENDAmasai
OcasamentoDO
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A ORIGEMDAmorte
SEGUNDO OSEmbuA hiena é um animal rancoroso, egoísta e ganancioso.
Há muito, muito tempo, os seres começaram a envelhecere resolveram perguntar a Mwene Njeru (Deus) o que seriadeles. Em acordo, decidiram enviar a hiena e a toupeira,para que pelo menos um deles pudesse completer a jor-nada em segurança. Eles chegaram ao Kirinyaga. MweneNjeru escutou e lhes disse:
— A cada um confiarei uma mensagem. A que for ou-vida primeiro determinará o destino de todos os seres.
Para a hiena entregou a mensagem da morte. Atoupeira recebeu a da vida. Viajaram juntas, mas, no finalda jornada a toupeira correu para ser ouvida antes.Chegou cansada. Alongou-se para descansar os músculose tentou se lembrar das palavras de Mwene Njeru,coçando a cabeça:
— Ele me disse... Ele me disse… Ele me disse que…Nesse instante, a hiena chegou e falou decidida:— Mwene Njeru determinou que as pessoas morram
para que me sirvam de alimento!Nesse instante, a toupeira lembrou-se da mensagem:— Ele me disse que as pessoas velhas devem ser car-
regadas para fora da aldeia para que renasçam!Mas já era tarde demais…
PA Í S Q U Ê N I A
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Famoso por seus fundistas e jogadores de futebol, o paísse localiza na África Oriental, limitando-se com o OceanoÍndico, a Somália e a Tanzânia. Possui grandes reservaspara a vida selvagem, o que atrai um grande número deturistas, mas apenas 8,01% de seu solo, sujeito a secasprolongadas, é cultivável. O território abrange uma áreade 582.650 km², quase igual ao estado de Minas Gerais.A população chega a 39 milhões, com uma expectativade vida de 57,8 anos. A divisão tribal segue a seguinteproporção: Kikuyu 22%, Luhya 14%, Luo 13%, Kalenjin12%, Kamba 11%, Kisii 6%, Meru 6%, Masai e outrosgrupos 15%, não-africanos (asiáticos, europeus e árabes)1%. Em termos religiosos, a maioria é cristã, com 45%de protestantes, 33% de católicos e 10% de muçul-manos. Dez por cento seguem crenças tribais.
Diversidadecultural
Ereligiosa
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ZiraldoUMA GRIFE
Uma boa parte de meus poemas foram publicados pelo Ziraldo, enquantoeditor d’O Pasquim, O Pasquim 21, Revista Bundas, Caderno B do Jornaldo Brasil. Toda vez que o Ziraldo comanda uma redação, me transformoem poeta profissional, devidamente remunerado. Esse fato torna minhasconsiderações suspeitas. Tentarei, no entanto, poupar adjetivos, o que é umamissão quase impossível.
Ziraldo é o antípoda do Henfil. Este desenhava caligraficamente como senão pudesse conter seu ímpeto compulsivo. Aquele, aquele é o Ziraldo, é o mestreda paciência e do perfeccionismo. Seu traço é nítido, limpo, preciso nos detalhese no acabamento. Este, este é o Henfil, tem no traço o prolongamento nêurico desua, poderia dizer, neurastênica inquietação.
São paralelas que não precisam do infinito para se encontrarem. A genia-lidade os irmana e cria em torno de ambos uma aura de encantamento que ostornam presas fáceis de mulheres fascinantes. Estrelas da televisão deixaramque Henfil usasse suas coxas como travesseiro. Ziraldo, com toda sua mineiricee recato, não se deixou levar. E aí está ele casado com a delicada sensualidadede Márcia. Não levasse eu tanto ao pé da letra a praga de que mulher de amigoé homem e me arriscaria a fazer uma serenata romântica a essa moça tão suave,tão brilhante, tão carinhosa. E se, de fato, mulher de amigo é homem, sou capazaté de me homossexualizar.
Há dezenas de anos sentado à prancheta de desenho, durante pelo menos16 horas por dia, Ziraldo só interrompe seu meticuloso trabalho de criador com-pulsivo para atender o telefone. Mas ele não para. Enquanto ouve o pedido deum novo cliente, sua mão se ocupa em preencher cada centímetro quadrado daenorme página de um bloco, com desenhos e rabiscos precisos, sem vacilações,sem titubeios. Ziraldo, nem conversando e divagando, distraído faz de cadatraço uma autêntica obra de arte.
REYNALDO JARDIM É JORNALISTA, POETA E ARTISTA GRÁFICO
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Revista Formato TON:Formato 18/4/2009 16:34 Page 88