UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ALTAMIRA
FACULDADE DE ENGENHARIA AGRONÔMICA
O PAPEL DA CASA FAMILIAR RURAL DE ALTAMIRA
NA FORMAÇÃO TÉCNICA DE JOVENS DO CAMPO
Roberta Rowsy Amorim de Castro
Altamira-Pará-Brasil
Fevereiro de 2011
ii
Roberta Rowsy Amorim de Castro
O PAPEL DA CASA FAMILIAR RURAL DE ALTAMIRA
NA FORMAÇÃO TÉCNICA DE JOVENS DO CAMPO
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Faculdade de Engenharia
Agronômica da Universidade Federal do
Pará, Campus Universitário de Altamira,
como requisito parcial para a obtenção do
grau de Engenheiro Agrônomo.
Orientador: Prof. MSc. Miquéias
Freitas Calvi.
Altamira-Pará-Brasil
Fevereiro de 2011
iii
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) UFPA – Campus de Altamira - Biblioteca
___________________________________________________________________________________
Castro, Roberta Rowsy Amorim de.
O Papel da Casa Familiar Rural de Altamira na formação técnica de jovens do
campo/ Roberta Rowsy Amorim de Castro; orientador, Prof. MSc. Miquéias Freitas
Calvi. — Altamira: [s.n.], 2011.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Universidade Federal do Pará,
Faculdade de Engenharia Agronômica, Curso de Agronomia, Altamira, 2011.
1. Educação do Campo. 2. Agricultura Familiar. I. Calvi, Miquéias Freitas. II. Título.
CDD: 305.23
___________________________________________________________________________________
iv
Roberta Rowsy Amorim de Castro
O PAPEL DA CASA FAMILIAR RURAL DE ALTAMIRA
NA FORMAÇÃO TÉCNICA DE JOVENS DO CAMPO
Trabalho de Conclusão de Curso
submetido à aprovação como requisito
parcial para a obtenção do grau de
Engenheiro Agrônomo, pela banca
examinadora formada pelos professores:
Orientador: Prof. MSc. Miquéias Freitas Calvi
Faculdade de Engenharia Florestal, UFPA.
Banca Examinadora: Prof. MSc. Fábio Leandro Halmenshlager
Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural, UFPA.
Profª. MSc. Soraya Abreu de Carvalho
Núcleo de Ciências Agrárias e Desenvolvimento Rural, UFPA.
Altamira, 18 de fevereiro de 2011.
v
―A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas,
não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam
criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que
estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe."
(Jean Piaget)
―Determinação, coragem e autoconfiança são fatores decisivos para o sucesso.
Se estamos possuídos por uma inabalável determinação conseguiremos superá-los.
Independentemente das circunstancias devemos ser sempre humildes, recatados e
despidos de orgulho‖.
(Dalai Lama)
vi
À minha mãe Antonia, exemplo de mulher.
À meu pai Antonio Reinaldo, um guerreiro.
Aos meus irmãos Rosiane e Rozvelton, minha gratidão.
vii
AGRADECIMENTOS
À Deus pela vida, força e coragem, tiradas muitas vezes não sei de onde.
À meus pais, pelos conselhos, apoio incondicional e confiança em minha vitória.
À meus irmãos, meus anjos, pela força e apoio sempre.
Aos meus familiares, por crerem sempre em mim e acreditarem no meu potencial.
À meu orientador, professor MSc. Miquéias Calvi, por suas colocações e contribuições,
sempre muito bem vindas, que me ajudaram na construção desse trabalho.
Aos professores mestres e doutores, que ao longo do curso, contribuíram para a minha
formação profissional e pessoal.
À Kelle Adriana e Hélia Felix, grandes amigas, que sempre me ofereceram palavras de
apoio e conselhos quando eu mais precisei.
À Denise Reis e Elciomar Oliveira, pela ajuda em alguns momentos essenciais para a
construção desse trabalho.
À Kézia Oliveira, pela ajuda durante as entrevistas e pelo apoio moral, que sempre me
ofereceu.
À Carol Brito, Leandro Morbach, Mario Vitorino e Danilo Hoodson, pela ajuda e apoio
durante o Projeto de Inducão de Resistência em Cacaueiro, que por motivo de força
maior não vigorou.
À Edna Souza, Andréia Portugal, Mario Vitorino e Amanda Estefânia pelos conselhos
que me ajudaram a definir a área que quero seguir.
À Kelle Adriana, Hélia Felix, Denise Reis, Hugo Borges, Paulo André, Andréia Luz,
Oziane Borges e demais colegas de turma, pela amizade e pelos momentos de alegria,
que marcaram para sempre minha vida.
Aos amigos Gladson Xavier, Ronicharles Firmino, Fabíola Andressa, Kézia Oliveira,
Paulo Ricardo e demais membros das coordenações das SICAs, as quais tive a
oportunidade de fazer parte, pela amizade, compreensão, força e determinação e pelas
experiências, que com certeza contribuíram muito para minha formação.
Aos meus amigos de infância: Fredson Marlon, Gilmar Junior, Elisângela Vale e
Lucilene Batista, que não deixaram que o tempo nos afastasse, mesmo que eu muitas
vezes por estar ocupada com as atividades da faculdade não tivesse tempo para
compartilhar de suas alegrias e tristezas.
À Jozimar Santos, que mesmo distante, sempre me incentivou com suas palavras de
carinho e amizade.
viii
Aos meus colegas de trabalho: Marta Lougon, Marcio Bertolo, Waleska Roberta e
Rogério Brito, pela força e apoio em muitos momentos, principalmente quando precisei
me ausentar do trabalho para as atividades do curso.
A todos que contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho, o meu
muito obrigada!
ix
SUMÁRIO
Pág.
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 1
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ....................................................................... 3
2.1. HISTÓRICO DAS CASAS FAMILIARES RURAIS ................................... 3
2.2. PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA ............................................................. 6
3. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................ 8
3.1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................................................... 8
3.2. COLETA DE DADOS ................................................................................... 9
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 10
4.1. FUNCIONAMENTO E BASES METODOLÓGICAS DA CFR DE
ALTAMIRA .......................................................................................................... 10
4.1.1. A atuação dos monitores na formação de jovens da CFR de Altamira 14
4.2. ASPECTOS MOTIVACIONAIS E LIMITAÇÕES PARA ENSINO DA
CFR DE ALTAMIRA ........................................................................................... 16
4.2.1. Motivos que influenciam na escolha pelo ensino na CFR de Altamira 16
4.2.2. Limitações e dificuldades para o ensino na CFR de Altamira .................... 19
4.3. INFLUÊNCIA DA CFR NA FORMAÇÃO DE JOVENS DO CAMPO ...... 22
4.3.1.Adoção de inovações técnicas nas propriedades ...................................... 22
4.3.2. Perspectivas dos jovens e influência da CFR na formação pessoal dos
educandos ............................................................................................................. 25
5. CONCLUSÃO .................................................................................................. 28
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 30
APÊNDICE I – Questionário Alunos ................................................................. 34
APÊNDICE II – Questionário Pais .................................................................... 35
APÊNDICE III – Questionário Monitores ........................................................ 36
x
Lista de Figuras
Pág.
Figura 01. Aspectos que motivaram os alunos a optar pelo ensino na CFR de
Altamira, 2010........................................................................................................ 16
Figura 02. Aspectos que motivaram os pais dos educandos a optar pelo ensino
na CFR de Altamira, 2010...................................................................................... 18
Figura 03. Limitações para formação de alunos na CFR de Altamira, segundo
os monitores, 2010.................................................................................................. 20
Figura 04. Opinião dos pais sobre o que poderia ser melhorado na formação
técnica dos jovens na CFR de Altamira, 2010........................................................ 21
Figura 05. Avaliação dos alunos quanto aos resultados dos projetos
implantados em suas propriedades, 2010............................................................... 24
Figura 06. Mudanças ocorridas na vida dos jovens após a entrada na CFR de
Altamira, 2010........................................................................................................ 26
Figura 07. Áreas de atuação pretendidas pelos jovens educandos da CFR de
Altamira, 2010........................................................................................................ 27
xi
RESUMO
As Casas Familiares Rurais (CFR) surgiram como uma alternativa ao sistema de
educação formal buscando conciliar o trabalho educativo e a profissionalização do
homem do campo de acordo com suas peculiaridades, através da Pedagogia da
Alternância. No município de Altamira, Sudoeste do Pará, a CFR iniciou suas
atividades em 2007, buscando contemplar com esses princípios as especificidades de
jovens agricultores da Transamazônica. Objetivou-se analisar a influência das práticas
pedagógicas e os conhecimentos técnicos transmitidos na CFR de Altamira na
disseminação e adoção de técnicas de produção pelos jovens educandos, verificando os
resultados dessas ações e sua contribuição para o desenvolvimento pessoal dos atores
envolvidos, bem como do meio ao qual pertencem. Utilizou-se o método qualitativo,
por meio de questionários e entrevistas com alunos, pais e professores. Os resultados
demonstraram que os principais aspectos que motivaram os jovens estudar na CFR de
Altamira foram a possibilidade de estudar e trabalhar na propriedade agrícola e
educação diferenciada ofertada pela CFR. Constatou-se que a principal dificuldade
enfrentada pelos alunos foi o deslocamento de suas residências para a unidade escolar;
para os pais, a limitação de recursos financeiros e para os monitores, trabalhar a
interdisciplinaridade. Verificou-se que 100% dos estudantes colocaram em prática
alguma experiência/projeto desenvolvido na CFR, tendo boa aceitação por 76,5% das
famílias. Quanto ao futuro profissional dos jovens, 29,4% dos educandos destacam
pretender continuar como agricultores; 47% atuar em profissões relacionadas às
Ciências Agrárias e 17,6% profissões não relacionadas ao campo. Constatou-se que a
CFR de Altamira tem contribuído positivamente na formação profissional de seus
educandos, dado que reflete na adoção de inovações técnicas em suas propriedades.
Palavras-chave: Educação do Campo, Pedagogia da Alternância, Desenvolvimento
Rural.
1
1. INTRODUÇÃO
A atual formação escolar dos jovens rurais contribui para sua inserção no mercado de
trabalho urbano, sendo o Brasil um dos países latino-americanos com os piores indicadores
em matéria de educação do campo (ABRAMOVAY, 2001). Nos últimos trinta anos, o meio
rural brasileiro vem sofrendo um fenômeno chamado êxodo rural, que significa a evasão do
homem do campo, cujo resultado é o estabelecimento de agricultores nas grandes cidades, na
busca de melhoria da qualidade de vida. Diante disso, surge uma alternativa viável: a
educação voltada para a formação profissionalizante para os agricultores através das Casas
Familiares Rurais, cujo ensino é diferenciado das escolas regulares (QUADROS e
BERNARTT, 2007).
Tomando como exemplo experiência surgida na França, em 1935, com as Maison
Familiale Rurale, surgem no Brasil, no final da década de 1960, as Escolas Famílias
Agrícolas (EFA) e nos anos 80, as Casas Familiares Rurais (CFR), com um modelo de ensino
diferenciado que considera a realidade dos jovens do campo, contemplando em seu trabalho
educativo a profissionalização do produtor rural, através da busca permanente da melhoria da
qualidade de vida no campo (PASSADOR, 2000; PALILOT, 2007).
As Casas Familiares Rurais são escolas diferentes porque além de assegurar
conhecimento técnico e científico sobre agricultura, proporcionam aos jovens um
conhecimento básico dos conteúdos da grade curricular do Ensino fundamental. Portanto,
buscam conciliar a necessidade de o jovem prosseguir seus estudos e ao mesmo tempo, atuar
na agricultura, sem prejuízo para suas atividades no campo (QUADROS e BERNARTT,
2007).
Para esta proposta educacional foi adaptada a Pedagogia da Alternância como uma
forma de educação escolar capaz de atender às especificidades educacionais para jovens
agricultores, pois compreende um tipo de formação que possibilita aos jovens uma
aprendizagem teórico-prática e uma formação geral e técnica (WOLOCHEN et al., 2009).
Desse modo,
―A pedagogia de alternância é uma alternativa que surgiu para a educação no
campo, mais especificamente nas Casas Familiares Rurais, com o objetivo de
promover uma educação, formação e profissionalização eficaz e concreta mais
apropriada à realidade do campo. Tendo em vista que a tendência atual é de que os
jovens se desloquem para as grandes cidades em busca de novas alternativas de
sobrevivência diferente das quais se encontram seus pais, a Pedagogia de
Alternância busca incentivar a permanência do jovem na sua própria região, criando
alternativas de trabalho e renda, numa perspectiva da economia solidária‖
(PALARO, 2008, p.2).
2
Segundo Gimonet (1999), a alternância compreende espaços de tempo e local de
formação, isto é, de períodos socioprofissionais e situação escolar. Portanto significa uma
maneira de aprender pela vida, partindo da própria vida cotidiana, das experiências familiares,
sociais e profissionais, valorizando o saberes adquiridos em cada um desses contextos.
Na Amazônia, especificamente no Estado do Pará, região tipicamente rural, esta
proposta se desenvolveu apenas a partir de meados da década de 1990, na região
Transamazônica, no município de Medicilândia. Após a criação da primeira CFR na
Transamazônica, houve a necessidade de se constituir outras, existindo no ano de 2006 mais
de 20 Casas no Estado (PORTILHO e MAGALHÃES, 2006; PEREIRA e MONTE, 2008).
A partir dessas experiências surgiu em 1999 a Associação das Famílias da Casa
Familiar Rural de Altamira, em 2004 iniciou-se a construção da sede e somente no ano de
2007 a CFR de Altamira iniciou suas atividades, tendo como missão educar e qualificar
jovens, filhos e filhas de agricultores, através da Pedagogia da Alternância, em prol do
desenvolvimento da agricultura familiar regional, oportunizando dessa forma, melhor
qualidade de vida para as famílias do campo (CASA FAMILIAR RURAL DE ALTAMIRA,
2009).
O objetivo principal desta pesquisa foi analisar a influência das práticas pedagógicas e
os conhecimentos técnicos transmitidos na CFR de Altamira na disseminação e adoção de
técnicas de produção pelos jovens educandos, verificando os resultados dessas ações e sua
contribuição para o desenvolvimento pessoal dos atores envolvidos, bem como do meio ao
qual pertencem.
A pesquisa objetiva ainda:
Avaliar a opinião das famílias em relação à qualificação ofertada, bem como a
percepção delas em relação a mudanças de comportamentos dos educandos a partir da
inserção ao modelo pedagógico praticado na CFR de Altamira;
Verificar a importância da Pedagogia da Alternância no desenvolvimento das famílias
dos jovens que estudaram na CFR de Altamira;
Verificar se os jovens colocam em prática em suas propriedades as experiências
agrícolas desenvolvidas e ensinadas na CFR de Altamira, identificando como o
aprendizado adquirido poderá ser utilizado na propriedade ou comunidade de origem
dos mesmos.
3
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. HISTÓRICO DAS CASAS FAMILIARES RURAIS
As Casas Familiares Rurais surgiram no Sudoeste da França em 1935, no povoado de
Lot et Garonne. A iniciativa teve início com um grupo de pais agricultores que buscavam
solucionar dois grandes problemas: o primeiro dizia respeito às questões relacionadas ao
ensino regular, que por ser direcionado as atividades urbanas, favorecia o êxodo rural; em
segundo, estava a necessidade de fazer chegar ao campo a evolução tecnológica que
necessitavam. Desse modo, foi criada a primeira Maison Familiale Rurale (Casa Familiar
Rural), onde os jovens passavam por dois momentos distintos, primeiramente recebendo
conhecimentos gerais e técnicos voltados para a realidade agrícola regional (tempo escola) e,
posteriormente ficavam nas propriedades rurais aplicando os conhecimentos adquiridos
(tempo comunidade). Esta prática foi denominada ―Pedagogia de Alternância‖ (PASSADOR,
2000).
A experiência francesa idealizou a ―criação de uma escola que correspondesse às
necessidades e às aspirações da comunidade rural, ao mesmo tempo que permitisse a
conciliação entre a agricultura e cultura local‖ (CONCAGH, 1989, p. 90), com um currículo
baseado no estudo da realidade agrícola regional, planejado conjuntamente com as famílias
(PALILOT, 2007).
―A proposta dos agricultores, já naquela época, trazia em seu bojo os pilares
fundamentais propostos para a educação contemporânea: formação cognitiva, afetiva e
motora, ou seja, saber aprender, saber ser/conviver e saber fazer‖ (REVISTA EDUCAÇÃO
RURAL, 2006). Neste contexto, a escola atuaria em prol da formação de ―um agricultor que
fosse um homem completo, consciente de sua classe e de sua região‖ (CONCAGH, 1989, p.
90).
Somente na França existem cerca de 500 Maisons Familiales, cujo ensino é voltado
para diversas áreas de conhecimento da agricultura à mecânica avançada, que abrigavam,
segundo Passador (2000) aproximadamente 40 mil jovens e adultos. Com a experiência bem
sucedida na França, no final dos anos 60 se expandiu para Itália, Espanha, Continentes
Africano e Americano, estando presente em todos os continentes, em mais de 43 países,
somando aproximadamente 1.400 centros educativos (REVISTA EDUCAÇÃO RURAL,
2006).
4
No Brasil, as primeiras experiências educacionais utilizando a Alternância surgiram
em 1969, no Estado do Espírito Santo, com o nome de Escolas Famílias Agrícolas. Essas
experiências receberam influência do Padre Humberto Pietogrande, pertencente à Companhia
de Jesus, que percebeu a necessidade da Pedagogia da Alternância no Estado, que era local da
missão dos jesuítas, como estratégia de minimização do forte êxodo rural que ocorria na
época e à mão-de-obra não qualificada da maioria dos migrantes alemães e italianos que
habitavam aquela região (GIOANORDOLI, 1980).
Queiroz (2004 apud PALILOT, 2007), registrando a evolução histórica dos modelos
de núcleos educativos no meio rural, assinala que na década de 80 surgiram as Casas
Familiares Rurais (CFR), na década de 90, as Escolas Comunitárias Rurais (ECOR) e,
posteriormente, surgiram vários outros centros educativos no campo, denominados Centros
Familiares de Formação em Alternância (CEFFA), distribuídos pelas cinco regiões do país.
No ano de 2006, entre EFA e CFR encontravam-se mais de 250 espalhadas em todo
território, envolvendo uma capacitação superior a 20 mil jovens rurais, distribuídos em mais
de 820 municípios (REVISTA EDUCAÇÃO RURAL, 2006).
No território brasileiro, as CFR começaram a se desenvolver em 1988, no sudoeste do
Estado do Paraná, quando agricultores se depararam com os mesmos problemas enfrentados
pelos franceses: não havia uma escola de ensino médio que formasse os jovens agricultores de
acordo com a sua realidade e necessidade. Além disso, as dificuldades econômicas
enfrentadas nas pequenas propriedades rurais levavam trabalhadores e proprietários para os
centros urbanos, na busca de um padrão de vida que não encontravam no campo. Por
iniciativa da prefeitura de Barracão, ocorreram várias reuniões entre os agricultores,
envolvendo também outros membros da comunidade local. Em 1989, o primeiro grupo de
jovens inaugurou o projeto no município, no ano seguinte, a prefeitura do município vizinho –
Santo Antônio do Sudoeste – adotou a mesma prática. O projeto foi chamado de Casa
Familiar Rural, tendo por objetivo proporcionar aos jovens da zona rural o acesso à formação
em agricultura, para que pudessem utilizar de forma eficiente os fatores de produção e
consolidar sua vocação agrícola (PASSADOR, 2000).
Já Oliveira (2008) afirma que as primeiras experiências registradas no Brasil foram em
1989, nos Estados de Pernambuco e Paraná, nas cidades de Riacho das Almas e Barracão,
respectivamente.
Em relação ao Estado do Pará,
―A proposta de instalação de uma Casa Familiar Rural nasceu do anseio dos
agricultores, lideranças e profissionais da educação, preocupados com a busca de
5
uma alternativa de ensino-formação para os jovens residentes no meio rural. As
discussões sobre um Projeto Piloto da CFR aconteceram na Transamazônica, a partir
de junho de 1994, através de um encontro, em Altamira, promovido pelo
Movimento pela Sobrevivência na Transamazônica (MPST), em parceria com o
Laboratório Agroecológico da Transamazônica (LAET), que contou com a presença
do assessor das Casas Familiares Rurais no Brasil‖ (ARCARFAR, 1999, p. 3).
O projeto CFR na Transamazônica teve início no ano de 1995, no município de
Medicilândia - Pará, através de um convênio de cooperação técnica entre Governo do Estado
e entidades da região para apoio e funcionamento da CFR. O sucesso dessa ação precursora
fez com que a ideia se expandisse para outros municípios vizinhos, que culminou no Projeto
de Consolidação da Produção Familiar Rural e Contenção dos Desmatamentos na Região da
Transamazônica e Xingu, formalizado através de um contrato entre a Fundação Viver,
Produzir e Preservar (FVPP), o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES) e Governo do Estado do Pará, em 2003 (PEREIRA e MONTE, 2008). Segundo os
mesmos autores, os defensores do projeto na região enfrentaram muitos obstáculos para a
consolidação do mesmo, principalmente o movimento social organizado liderado pelo
Movimento Pela Sobrevivência da Transamazônica - MPST (hoje FVPP) com realização de
várias manifestações para efetivação desta parceria: caravanas à Belém e Brasília,
acampamentos, reuniões, audiências com órgãos de Governos, trabalho voluntariado de
monitores, dentre outras ações.
Após a criação da primeira CFR na Transamazônica, houve a necessidade de se
constituir outras CFR, atualmente existindo mais de 20 Casas só no Estado do Pará, geridas
pela Associação das Casas Familiares Rurais - ARCAFAR/Norte-Nordeste (PORTILHO e
MAGALHÃES, 2006). A partir da experiência em Medicilândia, outras CFR surgiram na
região, dentre elas a Casa Familiar Rural de Altamira. No ano de 1999, criou-se uma
Comissão Provisória da Associação das Famílias da Casa Familiar Rural de Altamira e no ano
de 2001 fundou-se a Associação devidamente regularizada. Em 2004, iniciou-se a construção
da sede em um terreno doado pelo Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de
Altamira - STTR (CASA FAMILIAR RURAL DE ALTAMIRA, 2009).
A CFR de Altamira iniciou suas atividades no ano de 2007, recebendo o nome de CFR
José Delfino Neto, homenagem a um agricultor que se destacou como um dos principais
articuladores na consolidação do projeto no município. Tem como missão educar e qualificar
jovens, filhos e filhas de agricultores, através da Pedagogia da Alternância, por meio da
construção do conhecimento, habilidades e atitudes necessárias ao bom desempenho
profissional, utilizando eficientemente tecnologias mais avançadas para o desenvolvimento da
6
agricultura familiar, em prol de uma melhor qualidade de vida, oportunizando concluir o
ensino fundamental e/ou médio profissionalizante necessários para o exercício pleno da
cidadania no campo (CASA FAMILIAR RURAL DE ALTAMIRA, 2009).
Todas as experiências citadas são fundamentais para a compreensão dos processos
educativos que se desencadeiam no Estado do Pará, nas escolas formais em que o tempo
comunidade e o tempo escola estão dissociados, assim como a relação escola/ trabalho estão
colocadas como elementos dicotômicos no processo de aprendizagem nas CRF, portanto,
diferem da educação escolar oficial, normativa, marcada por um modelo burocrático de
escola. ―Essas experiências são frutos da organização popular, dos movimentos sociais e
entidades não-governamentais e governamentais que caminham na direção da construção de
uma educação popular‖ (OLIVEIRA, 2008, p. 15).
2.2. PEDAGOGIA DA ALTERNÂNCIA
As Casas Familiares Rurais têm como princípio norteador de seu projeto educativo a
Pedagogia da Alternância, utilizando-se modalidades de tempos/espaços educativo,
alternando ciclos de estudo nas Casas Familiares Rurais e ciclos nas propriedades rurais dos
estudantes, oportunizando a divisão do tempo entre o estudo e o trabalho nas unidades
produtivas (PORTILHO e MAGALHÃES, 2006). Desse modo,
―A Pedagogia da alternância compreende o ver, julgar e agir de cada educando em
tempo real no meio presencial, ou seja, na Casa Familiar Rural e na unidade de
produção familiar. As atividades do educando tanto no momento presencial como
junto à família, são orientadas pela equipe de educadores, através de instrumentos
pedagógicos que integram a participação da família e a convivência com o
conhecimento já elaborado, científico‖ (HILLESHEIM et al., 2010, p. 1).
Além disso,
―A Pedagogia da Alternância procura conciliar o trabalho na propriedade rural com
a educação, utilizando de métodos pedagógicos como a interdisciplinaridade e temas
geradores no processo de ensino-aprendizagem [...]. Desta forma, a educação não
fica limitada às atividades de sala de aula. Este processo propicia ao jovem a
elevação da sua autoestima, a permanência em seu meio e uma forte relação com sua
família. A metodologia de ensino, que não dispersa o estudante da família e nem da
escola, compreende além das disciplinas básicas de uma escola tradicional,
temáticas relacionadas à vida associativa e comunitária, ao meio ambiente e é
voltada totalmente ao desenvolvimento integral do jovem‖ (GNOATTO, et al.,
2006, p. 8).
Com essa concepção, Palilot (2007) explica que alternância significa o processo de
ensino-aprendizagem que acontece em espaços e territórios distintos e alternados. O primeiro
7
é o espaço familiar e a comunidade de origem e o segundo é a escola onde o educando
compartilha os saberes que possui com os outros atores e reflete sobre eles em bases
científicas, e em seguida, retorna à família e a comunidade a fim de continuar realizando suas
práticas cotidianas (atividades de técnicas agrícolas), mas agora se embasando nas práticas e
teorias estudadas na CFR.
―Uma justificativa para o desenvolvimento da metodologia da alternância consiste em
que o modelo tradicional, por problemas de concepção, quase que ignora a realidade rural‖
(ROSA e TEIXEIRA, 2009, p. 1). Ou seja, a escola pública tradicional possui um sistema
educacional voltado quase exclusivamente para a área urbana. A metodologia educativa
adotada nas CFR possui com uma série de ferramentas pedagógicas que favorecem a
animação dos princípios dessa pedagogia. Essas ferramentas devem ser construídas pelos
próprios sujeitos do processo educativo, integrando todos os atores envolvidos (jovens,
famílias, professores/monitores) e os tempos/espaços (CFR e propriedade familiar rural),
considerando as demandas de ordem cultural, econômica e social.
Segundo Gimonet (1999), a alternância pode ser considerada como uma modalidade
de educação e de formação, uma pedagogia para o jovem, por responder as necessidades
essenciais dessa idade, uma vez que favorece e realiza os principais anseios do jovem, que são
ter um lugar e conquistar um estatuto, agir, ser bem sucedido, ser reconhecido e amado,
crescer. Além disso, permite ao jovem adentrar no espaço dos adultos, possibilitando
encontrar uma utilidade, uma posição social, uma consideração, um reconhecimento. A
alternância, portanto, põe o jovem em ação, o colocando em um estatuto profissional, que
estabelece, por sua vez, uma relação com o trabalho e a profissão, incluindo as exigências, os
valores e as aprendizagens correspondentes.
Entende-se então, que os espaços pedagógicos de formação não ocorrem apenas em
sala de aula, mas também nos espaços de produção, da família, da convivência com a
sociedade, da cultura, dos serviços, dentre outros. Segundo Baptista (2003 apud PALILOT,
2007, p. 26), ―a educação está referenciada aos processos mais variados, enfatizando a sua
dimensão formal, informal e outras, efetivamente acontecendo em casa, nos sindicatos,
igrejas, no interrelacionamento das pessoas e naturalmente na escola‖.
Dentro dos procedimentos teóricos que fundamentam esta pedagogia, existem
algumas limitações especificadas a seguir:
―Os grandes desafios presentes nos espaços/tempos, talvez, sejam o da prática da
transversalidade do conhecimento no dia a dia e a relação de constante negociação
entre os atores envolvidos: as famílias lavradoras e os monitores. Ambos mantêm
8
uma relação de adesão/resistência quanto aos conhecimentos de cada categoria, que
nomeamos como os ―ditos tradicionais‖ (dos lavradores) e os ―ditos acadêmicos‖
(dos monitores)‖ (PORTILHO e MAGALHÃES, 2006, p.1).
Conforme Begnami (2002), as CFR apresentam quatro princípios básicos, os quais são
chamados de pilares da alternância, estabelecidos ao longo da história do movimento da
Pedagogia da Alternância: 1°) uma associação de famílias que compartilha do poder
educativo; 2°) um método pedagógico específico; 3°) uma formação integral e personalizada;
e 4°) o desenvolvimento sustentável e solidário.
O processo de transferência de informações alavancado pela família permite
discussões e reflexões que promovem motivação aos jovens, que alimentam sua curiosidade
por intermédio do processo de ensino-aprendizagem, que pode ocorrer tanto na CFR como
dentro da própria família e/ou comunidade. Ou seja, ao mesmo tempo em que estimula o
questionamento para adoção das inovações, ainda prepara e desperta, o aluno, geralmente
filho de agricultor, a participar e ter desafios a serem superados, quando se pensa em sua
relação junto à sua propriedade e o desenvolvimento rural e social de sua região (PALILOT,
2007).
Em suma, a Pedagogia da Alternância está fundamentada na concepção de que a vida
ensina mais que na escola formal, valorizando o aprender pelo fazer concreto do cotidiano,
nas experiências com a família e com outros atores.
3. MATERIAL E MÉTODOS
3.1. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Compreendem instrumentos de coleta de dados utilizados neste estudo, a delimitação
do espaço da pesquisa, os critérios de amostragem, bem como a estrutura dos recursos que
foram utilizados para embasar e dar resultados a esta pesquisa.
Optou-se como abordagem metodológica a pesquisa exploratória utilizando-se da
observação, registro, classificação e interpretação dos fatos ou dados por meio da análise
documental de projetos pedagógicos e situações do cotidiano pertinentes ao estudo realizado.
Segundo Palilot (2007, p. 40) ―a pesquisa exploratória tem por finalidade proporcionar ao
pesquisador maior familiaridade com o problema em estudo com vistas a torná-lo mais
explícito‖. Para Malhotra (2001), o objetivo principal desse tipo de pesquisa é possibilitar a
9
compreensão do problema enfrentado pelo pesquisador. Segundo Boone e Kurtz (1998), ela
utiliza métodos amplos e versáteis, que compreendem: levantamentos em fontes secundárias
(bibliográficas, documentais), levantamentos de experiência, estudos de casos selecionados e
observação participativa.
O estudo foi realizado no município de Altamira – PA, mais precisamente na Casa
Familiar Rural, localizada a 10 km da sede do município.
A busca por uma resposta satisfatória para a investigação realizada orientou a seleção
dos atores estudados: jovens filhos de agricultores alunos da Casa Familiar Rural de Altamira,
concluintes da primeira turma do Ensino Fundamental, professores/monitores e pais dos
referidos jovens. Essa estratégia foi utilizada para garantir a representatividade da amostra, a
saber: 100% dos alunos concluintes do Ensino Fundamental em 2010; 92% dos
professores/monitores atuantes na CFR de Altamira; e 42% dos pais dos referidos alunos,
resultando universo amostral de 17 alunos, sete professores e sete pais, somando 31
entrevistados.
Neste estudo não foi possível entrevistar 100% dos pais em virtude da distância das
localidades/comunidades de origem, bem como dificuldade de acesso, devido as propriedades
se encontrarem distantes uma das outras ou até em outros municípios.
Os alunos entrevistados fazem parte de 12 comunidades, dos municípios de Altamira e
Senador José Porfírio, a saber: Altamira (P.A. Ressaca – Comunidades Santa Isabel, São João
Batista, São José, Céu Azul e São Gaspar; P.A. Assurini – Comunidades Catijuba e Dispensa
I; P.A. Itapuama – Comunidade Nossa Senhora de Guadalupe; Betânia – Comunidade Nossa
Senhora Aparecida); Senador José Porfírio (Comunidades São Francisco de Assis, Nossa
Senhora das Graças, Travessão da Firma).
3.2. COLETA DE DADOS
Mediante os objetivos pré-estabelecidos para esta pesquisa elaborou-se um quadro
teórico-metodológico que permitiu a elaboração de questionários para os trabalhos de campo.
O questionário consiste em uma técnica de investigação que visa obter conhecimento
de opiniões, crenças, interesses, expectativas e situações vivenciadas pelos pesquisados, ainda
que eles não tenham domínio das habilidades de leitura e escrita (GIL, 1991).
Como os questionários foram aplicados de forma oral pela pesquisadora, podem
também ser designados de questionário aplicado como entrevista. A opção por esta técnica se
deu em razão da padronização de parte das respostas e da possibilidade de se obter dados com
10
maior profundidade acerca do tema estudado. No intuito de garantir resultados expressivos
optou-se por questionários, cujas respostas eram abertas para os entrevistados, não havendo
nenhum tipo de indução às respostas.
As entrevistas semiestruturadas foram aplicadas a alunos, professores e pais, sendo
três questionários, com algumas perguntas idênticas entre si e outras diferentes, de acordo as
proposições da pesquisa, objetivando identificar o papel da Casa Familiar Rural na formação
de jovens, averiguando neste sentido, se os mesmos colocam em prática em suas propriedades
e/ou comunidades as experiências ou projetos práticos inicialmente apresentados na CFR de
Altamira, durante as aulas de campo, tomando como base as respostas dos três grupos
entrevistados.
Assim, as respostas obtidas nos questionários passaram por um processo de
categorização (BARDIN, 2002), conforme as seguintes etapas: a) preparação e exploração do
material – codificação/numeração dos questionários, em ordem crescente; b) primeiras
leituras de contato com alguns textos-base para elaboração do trabalho; c) agrupamento de
respostas; d) identificação de frases e palavras indicadoras em cada resposta (frequência de
aparecimento); e) reagrupamento das respostas de acordo com cada em categoria de
entrevistados (alunos, professores e monitores), considerando a frequência de aparecimento e
homogeneidade das respostas em relação à temática; e f) sistematização dos dados no
programa Microsoft Excel 2010, para elaboração de gráficos para contribuírem na exposição
dos dados.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. FUNCIONAMENTO E BASES METODOLÓGICAS DA CFR DE ALTAMIRA
Através da Pedagogia da Alternância busca-se relacionar a experiência concreta do
aluno (conhecimento empírico) com o conhecimento dos professores monitores, bem como
com os membros da família e da comunidade a qual pertence o educando. Observou-se que a
Casa Familiar Rural de Altamira elabora o seu planejamento pedagógico considerando todas
as atividades a serem desenvolvidas nos períodos de alternância no tempo escola e na
propriedade/comunidade, levando em conta o cotidiano e a realidade dos alunos para
elaboração dos temas geradores que embasam o desenvolvimento de atividades teóricas e
11
práticas. Esse método busca unir saberes e proporciona trocas de conhecimentos e interação
entre os diversos atores e meios.
O funcionamento da CFR de Altamira compreende duas semanas (15 dias) na unidade
de formação/Casa Familiar Rural, onde os jovens convivem com os professores, recebendo
conhecimentos da Base Comum do Ensino Fundamental e da Base Técnica (disciplinas
voltadas para as atividades agrícolas e pecuária como: Agricultura, Zootecnia, Prática de
Campo, dentre outras). O tempo comunidade tem duração de três semanas (20 dias) na
unidade de produção familiar, compreendendo e difundindo o que foi aprendido, bem como
fazendo atividades pedagógicas (tarefas de casa), as quais são acompanhadas a partir de um
Plano de Estudo, sendo consideradas também como parte da carga horária total do curso.
A carga horária anual presencial (tempo escola) é de 1.248 horas divididas em dez
alternâncias ao longo de três anos de formação (Ensino Fundamental – 5ª a 8ª séries),
complementada com atividades práticas realizadas pelos educandos em suas propriedades
(tempo comunidade), somando carga horária de 312 horas/ano, totalizando 1.560 horas anuais
de atividades. Esses períodos ultrapassam os duzentos dias letivos e oitocentas horas exigidos
pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), permitindo que os
jovens estejam sempre envolvidos com sua realidade, com atividades diversas na CFR e com
reflexões acerca dos conhecimentos adquiridos.
Os temas geradores que dão suporte as alternâncias são elaborados a partir de
pesquisas participativas junto às famílias e de reuniões realizadas nas comunidades as quais
pertencem os alunos, havendo, portanto, a interação aluno-família-comunidade-CFR, através
da mediação realizada pelos professores/monitores. Estes temas que são desenvolvidos na
Unidade de Formação/CFR estão embasados em quatro grandes eixos: Humano, Vegetal,
Animal e Conteúdos Diversos. A partir desses são realizadas as ramificações das disciplinas,
de acordo com a realidade local e com os resultados das pesquisas participativas, portanto, os
eixos pedagógicos são baseados em três momentos: propriedade, meios e fatores de produção
e Projeto Profissional de Vida do Jovem - PPVJ (CASA FAMILIAR RURAL DE
ALTAMIRA, 2009).
O PPVJ é um projeto elaborado pelo educando ao longo do curso, quando desenvolve
uma pesquisa voltada para meio rural, cujo objetivo maior é verificar se o jovem conseguiu
absorver, ao longo dos três anos de estudo, ferramentas suficientes para colocar em prática o
que aprendeu teoricamente.
Para Quadros e Bernartt (2007 apud ESTEVAM, 2010, p. 7), o PPVJ é
12
―o fio condutor na formação do educando, que deverá ser concretizado em sua
propriedade durante a sua formação. A partir de seu projeto, o jovem constrói o seu
conhecimento com base em sua própria realidade e aprende a valorizar o meio em
que vive; ou seja, o conhecimento do senso comum vai se transformando aos poucos
em conhecimento científico. Desta maneira o jovem é estimulado a pensar no seu
futuro como profissional do campo e a construir e implantar o seu próprio PPVJ,
como forma de possibilitar a geração de renda e trabalho digno e melhorar a sua
condição de vida e de seus familiares.‖
Neste contexto, a CFR de Altamira compreende alguns instrumentos pedagógicos,
descritos no Projeto Político Pedagógico, a saber:
Plano de Formação: deve estar ligado à época que atividade ocorre na propriedade,
isto é, deve ligar-se ao calendário agrícola voltado ao tema gerador. Portanto, trata-se
do conteúdo que será trabalhado durantes os três anos de estudo. Neste sentido,
através do plano é possível fazer ligação dos diferentes conteúdos científicos com as
disciplinas de formação geral, uma vez que, no plano de formação têm-se temas
principais que são ligados à agricultura, pecuária, meio ambiente, cooperativismo,
associativismo e outros conteúdos julgados importantes pela equipe de monitores e os
familiares dos jovens;
Plano de Estudo: é o trabalho de pesquisa que o educando leva da CFR para a sua
propriedade, com base no Plano de Formação, objetivando trabalhar um tema de
interesse da comunidade junto à família, permitindo maior diálogo com a família e os
membros da comunidade. O plano de estudo, além de oportunizar o envolvimento da
família na formação do jovem, proporciona a este pesquisar, analisar e refletir sobre
sua realidade, desenvolver sua escrita e expressão oral, aprimorar o conhecimento do
monitor em relação realidade da propriedade e despertar o espírito de mudança e
empreendedorismo entre os membros que compõem a família e a comunidade;
Caderno de Acompanhamento: são registrados pelo aluno os resultados das
observações e pesquisas que são realizadas no momento família, ou seja, anotações
que o jovem faz ao participar efetivamente das atividades familiares. Os objetivos
desse caderno são: proporcionar um elo de ligação entre a família e os monitores,
informar a família sobre os conteúdos abordados na CFR, acompanhar a evolução dos
jovens, entre outros. O caderno de acompanhamento deve ser entregue pelo jovem no
primeiro dia de formação de cada alternância;
Colocação em Comum: o jovem apresenta o plano de estudo oralmente a todos. Esta
fase é importante, pois permite ao jovem fazer uma ligação entre a sua realidade e a
aquisição de novos conhecimentos, permitindo socialização e troca de experiências
13
com os demais. A apresentação do plano ocorre de acordo com o nível de maturidade
dos jovens, podendo ser feita em grupo, individualmente, através de resumos, etc.;
Cursos-Exercícios: corresponde a aquisição de novos conhecimentos através de cursos
que são trabalhados a partir do Plano de Formação, o qual contempla o Plano de
Estudo. Podem ser trabalhados de várias maneiras, como exercícios individuais, em
grupo ou até mesmo através de palestras de colaboradores;
Visita de Estudo: são visitas realizadas pelos jovens acompanhados dos monitores
durante as semanas de alternância na CFR em propriedades rurais, empresas, órgãos,
enfim, locais que tenham relação com o tema estudado. Tais visitas objetivam o
desenvolvimento dos sensos de observação, análise, comparação e raciocínio dos
jovens. Podem também ser realizadas visitas nas propriedades dos próprios estudantes,
com o intuito de permitir ao monitor, conhecer a realidade da propriedade de cada
aluno;
Caderno Pedagógico (Fichas Pedagógicas): são instrumentos utilizados para os cursos,
contendo os conteúdos que serão ministrados em cada disciplina, em consonância com
os temas geradores;
Experiências práticas: os jovens colocam em prática os conteúdos que aprenderam,
adaptando-os a sua realidade;
Avaliações: São realizadas continuamente, devendo apresentar caráter formativo. As
avaliações devem ser realizadas considerando os instrumentos pedagógicos
apresentados, devendo ocorrer em cada fase do processo de ensino-aprendizagem,
para que os monitores possam avaliar o grau de aprendizagem do aluno.
A CFR de Altamira busca, então, atender o preconizado pela LDB, satisfazendo em
sua estrutura curricular metodologias apropriadas à realidade e interesse de seus alunos,
estabelecendo:
―Na oferta de educação básica para população rural, os sistemas de ensino
promoverão as adaptações necessárias a sua adequação às peculiaridades da vida
rural e de cada região, especialmente:
I – conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e
interesses dos alunos do meio rural;
II – organização escolar própria incluindo a adequação do calendário escolar às fases
do ciclo agrícola e às condições climáticas;
III – adequação ao trabalho no meio rural‖ (LEI DE DIRETRIZES E BASES –
9.394/96).
14
Desse modo, a presente pesquisa terá seus resultados divididos em etapas de acordo
com as respostas obtidas com cada objeto de pesquisa, portanto, serão apresentados os
resultados obtidos e sistematizados dos questionários realizados com os alunos, pais e
monitores, bem como, as discussões pertinentes aos enfoques abordados.
4.1.1. A atuação dos monitores na formação de jovens da CFR de Altamira
Os monitores da CFR de Altamira possuem formações específicas, que contribuem nas
suas funções e trabalhos, tendo formação em: Licenciatura em Física, Licenciatura em Letras,
Licenciatura em Ciências Agrárias, Licenciatura em Pedagogia, Zootecnia e Engenharia
Agronômica.
Os professores que possuem Licenciaturas trabalham disciplinas da Base Comum, no
entanto, o conteúdo dessas disciplinas deve ser repassado aos alunos em consonância com a
realidade dos mesmos e de acordo com o tema gerador de cada alternância. Os demais
monitores são responsáveis por disciplinas da Base Técnica, repassando conhecimentos
técnicos para os educandos, considerando sempre as particularidades regionais.
Quanto ao monitoramento das tarefas/experiências executadas pelos educandos em
suas propriedades, os monitores afirmaram que foram realizadas visitas às comunidades e
estabelecimentos, onde os professores responsáveis por disciplinas da Base Técnica
prestavam aconselhamentos em relação ao desenvolvimento das atividades realizadas pelos
jovens e os professores da Base Comum conversavam com os pais sobre o comportamento,
avanços e dificuldades dos alunos. No entanto, o monitoramento das atividades nas
propriedades dos alunos foi comprometido, uma vez que, os recursos financeiros para
deslocamento foram escassos, motivo pelo qual houve inconstância de visitas, que segundo
alunos, pais e professores não foram realizadas na frequência adequada. Segundo os
monitores, a frequência ideal para realização das visitas seria três ou mais visitas anuais, no
entanto, durante os três anos em que os alunos do Ensino Fundamental estudaram na CFR
ocorreram, no máximo, duas visitas anuais, em virtude de dificuldades financeiras, logística e
das distâncias entre as propriedades dos educandos.
Além disso, no início de cada ano são realizadas pesquisas participativas nas
comunidades, onde as equipes de profissionais são divididas e cada uma se desloca para uma
área diferente, de forma que todos, ou maior parte dos alunos sejam visitados. Durante essas
pesquisas, os monitores se utilizam da estratégia de divulgação através de visitas ou reuniões
intermediadas por apoiadores membros do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras
15
Rurais de Altamira (STTR), para chamarem a atenção das famílias e convidarem mais
estudantes à Casa.
Existem também visitas gerais, realizadas por monitores regionais, que atuam em
várias CFR, durante os intervalos das alternâncias, contemplando alguns jovens educandos de
cada CFR. No entanto, nem todos os alunos das CFR regionais são contemplados com essas
visitas devido às distâncias e também porque a equipe de monitores é reduzida.
Em relação ao PPVJ, o acompanhamento dos monitores se deu a partir da prestação de
assistência quanto a estrutura do projeto, ao cronograma de realização, a disponibilização de
material bibliográfico, a correção ortográfica e gramatical do texto, nas discussões e
pesquisas, na utilização de uma linguagem mais técnica, etc..
Um dos monitores, responsável geral pelo acompanhamento dos jovens na realização
do PPVJ enfatizou que desde o início da 1ª Alternância começou a orientar os alunos e que no
início do último ano de formação, os educandos definiram a temática que queriam trabalhar e
após isso, em todas as alternâncias os temas foram trabalhados, com auxílio de materiais
bibliográficos e posteriormente receberam um modelo de projeto, no qual se embasaram para
elaborar seus projetos individuais.
Em suma, a equipe de monitores possui várias funções, ou seja, prestam
aconselhamentos, animam os jovens a realizarem projetos, buscam informações, conversam
com os pais, fazem visitas e reuniões nas propriedades e comunidades dos educandos, fazem
o monitoramento das atividades desenvolvidas pelos jovens no tempo escola e no tempo
comunidade, buscam apoio em outras instituições para o desenvolvimento de tarefas, entre
outras atividades. Para Cruz (2004 apud RODRIGUES, 2008, p. 137) ―a relação entre o
monitor, as famílias e os outros agentes da sociedade local (sindicatos, associações da
comunidade onde vivem seus alunos) é um fator de fundamental importância ao trabalho da
alternância. A relação entre os dois agentes do meio escolar e socioprofissional é fundamental
e segue a lógica da cooperação mútua, numa alternância de interação entre os diferentes
meios‖.
16
4.2. ASPECTOS MOTIVACIONAIS E LIMITAÇÕES PARA ENSINO DA CFR DE
ALTAMIRA
4.2.1. Motivos que influenciam na escolha pelo ensino na CFR de Altamira
Segundo os monitores, dentre os aspectos motivacionais considerados importantes
para a inserção de jovens do campo na CFR de Altamira, destacam-se principalmente a
metodologia de ensino adotada na CFR, que proporciona ao aluno adquirir conhecimentos da
Base Comum e a Base Técnica, ambas voltadas para a agricultura familiar. Além disso, é uma
metodologia que aflora a formação cognitiva integral, em âmbito pedagógico, político e
social. Portanto, consideram que a Pedagogia da Alternância é mais viável às especificidades
da agricultura, pois o método tradicional não se adapta bem quando comparado a Pedagogia
da Alternância, uma vez que esta última permite que jovem não perca o vínculo com a
realidade rural. Ainda, segundo os monitores, esta metodologia é interessante por considerar
aspectos peculiares dos alunos, possibilitando atuarem de forma coerente com sua realidade,
aliando teorias e práticas aprendidas na CFR, em prol do desenvolvimento de sua propriedade
e comunidade.
Já os alunos destacam outros motivos que influenciaram na escolha pelo ensino da
CFR de Altamira, conforme apresentado na Figura 01.
Figura 01. Aspectos que motivaram os alunos a optar pelo ensino na CFR de Altamira, 2010.
0 5 10 15 20 25
Menor tempo para conclusão do Ensino Fundamental
Convite dos professores
Influência dos pais
Falta de escola na comunidade
Adquirir conhecimentos técnicos
Educação diferenciada
Possibilidade de estudar e trabalhar na propriedade
4,5
9,1
13,6
13,6
13,6
22,7
22,7
Frequência (%)
17
Neste caso, constatou-se que os principais aspectos que motivam os jovens estudar na
CFR de Altamira são a possibilidade de estudar e trabalhar na propriedade agrícola e
educação diferenciada, ambas com 22,7% de frequência.
Esta educação baseada na Pedagogia da Alternância oferece aos alunos características
peculiares, que valorizam o saber empírico acrescido de conhecimentos teóricos e práticos
que são repassados pelos monitores através de aulas presenciais, bem como através de
experimentos práticos. Além disso, permite ao jovem aliar os estudos aos trabalhos em suas
propriedades, favorecendo a permanência no campo, ficando evidente que o ensino permite a
promoção do indivíduo enquanto ser social.
Tal situação foi resumida por Coombs (1976, p. 56), onde enfatiza que
―a educação não é um fim em si, mas um dos meios essenciais de preparar os jovens
pra uma vida produtiva e útil ao meio em que serão chamados a evoluir; igualmente
um dos meios de promover o progresso econômico e social em seu conjunto.‖
A possibilidade de estudar e paralelamente efetuar atividades em suas propriedades
reflete a vontade dos jovens de contribuírem com o desenvolvimento familiar, uma vez que,
através da força de trabalho, promovem uma renda extra à suas famílias. Tal iniciativa
evidencia a vontade ou necessidade da permanência no campo e aprimoramento dos
conhecimentos para posterior aplicação e promoção do desenvolvimento local.
Baruffi e Cimadon (1989 apud VISBISKI e WEIRICH NETO, 2004, p. 5), explicam
que trabalho e as relações de produção nas comunidades rurais, ―formam valores e estruturam
uma organização social diferenciada do contexto urbano, exigindo, portanto que as ações
educativas sejam norteadas pelas características que lhe são peculiares‖.
Neste contexto, é relevante a atuação da CFR, que busca em seus pilares
metodológicos atuar de acordo com a realidade dos jovens, e é de acordo com essa realidade
que são feitos os planos de estudo, os planos de aula e as experiências práticas. Tais
atividades podem influenciar diretamente no cotidiano dos jovens em suas propriedades,
permitindo a estes atuarem de forma diferenciada, considerando os conhecimentos técnicos
adquiridos no tempo escola, que neste caso, podem também ser levados para o tempo
comunidade.
Surge também como um dos motivos que os levaram a escolher a CFR de Altamira
(13,6%) a falta de escolas nas comunidades. Esse dado evidencia o quão precário ainda é o
sistema educacional do campo na região, oferecendo poucas opções de desenvolvimento e
estudo aos jovens do campo.
18
Diante disso, Prazeres (2008) enfatiza que
―A importância da educação para os povos da Amazônia e especificamente do
campo é um direito e um instrumento fundamental de acesso à cultura, a cidadania e
a inclusão social. Portanto, a educação deve ser defendida como direito na
perspectiva de levar em consideração as diferentes realidades amazônicas e que
possa oportunizar aos sujeitos do campo com aquisição de conhecimentos que
possam ser utilizados na vida, permitindo-lhes criar uma conexão com a realidade,
respeitando as diversidades regionais, culturais e sociais‖ (PRAZERES, 2008, p. 3).
Perante essa afirmativa, a ideia de educação do campo pode ser defendida quando
incorporadas nos seus pilares os conhecimentos populares, contemplando desse modo, a
diversidade amazônica, formada pelos povos da floresta (indígenas, quilombolas, pescadores,
seringueiros, lavradores, roceiros, agricultores), sendo, portanto, notório que trabalhar
somente um único modelo de educação para todos torna-se inviável e insustentável para a
permanência destes atores em suas realidades (PRAZERES, 2008).
Aparece como outra variável importante (13,6%) de influência na opção dos alunos
pelo estudo na CFR, a aquisição de conhecimentos técnicos relativos às atividades agrícolas,
principalmente, por poderem atuar com maior eficiência em suas propriedades. Com igual
frequência aparece a influência dos pais.
Para os pais, os aspectos que motivaram a opção pela CFR foram o convite dos
professores/monitores, com 37,5% de frequência, o que evidencia a influência que esses
profissionais têm entre os membros das comunidades, seguido da oferta de uma educação
diferenciada para a formação dos filhos, com 25,0% de frequência (Figura 02).
Figura 02. Aspectos que motivaram os pais dos educandos a optar pelo ensino na CFR de
Altamira, 2010.
0 10 20 30 40
Vontade do filho
Situação Financeira
Falta de escola na comunidade
Educação diferenciada
Convite dos monitores
12,5
12,5
12,5
25,0
37,5
Frequência (%)
19
Em relação às opiniões sobre a metodologia e educação ofertadas na CFR, para os
alunos ambas são excelentes (53%) e boas (47%). Os pais avaliaram a metodologia como
muito boa (62,5%), avançada (25,0%) e importante (12,5%). Portanto, pais e alunos estão
satisfeitos com o ensino da CFR de Altamira, principalmente em razão da proposta
metodológica que incorpora situações relacionadas ao cotidiano e às realidades regionais,
além de oportunizar aos alunos maior aprendizado prático por meio de aulas de campo, por
contemplar em sua grade curricular disciplinas voltadas para práticas agrícolas.
Tortora e Bernartt (2009) expõem que
―Há influências da Pedagogia da Alternância na vida e no desenvolvimento
sustentável do jovem agricultor, uma vez que o jovem e sua família buscam em seu
trabalho, ações voltadas a realidade local desenvolvendo potencialidades existentes
com enfoque na melhoria da qualidade de vida da família com o comprometimento
social e ambiental, isto se firma de maneira visível nos resultados desempenhados
pelo jovem junto com sua família‖ (TORTORA e BERNATT, 2009, p.10).
Assim, a própria comunidade constitui-se como uma associação que participa
ativamente do processo de existência e manutenção da CFR, e a família, ao mesmo tempo em
que compõe a associação, é contemplada com os novos conhecimentos que os alunos recebem
na CFR. E neste caso, família e CFR estão intrinsecamente ligadas pelos benefícios que uma
oferece à outra.
4.2.2. Limitações e dificuldades para o ensino na CFR de Altamira
Segundo os monitores as principais limitações para a formação do jovem na CFR
estão relacionadas infraestrutura (laboratórios experimentais, melhorias no acervo
bibliográfico e construção de um laboratório de informática), com 28,6% de frequência; com
igual percentagem de frequência destacam ainda a necessidade de maior engajamento das
famílias e maior envolvimento em atividades diversas (28,6%). Tal constatação está de acordo
com Gnoatto et al. (2006, p.11), onde ressaltam ―para que o crescimento ocorra, é necessário
que a educação em alternância tenha uma associação de base familiar e profissional, que seja
responsável pela sua gestão, orientação e formação‖. Batistela (1997) destaca que a
participação da família é um suporte de ação educativa, pois pode atuar em dois planos:
―1º. No plano intelectual: cada família participa na formação de seu filho, seja
através do levantamento de sua realidade e acompanhamento de experiência, seja na
discussão dos elementos apontados.
2º. No plano coletivo: em associação, a família é parte ativa na gestão da escola, da
educação e formação dos filhos‖ (BATISTELA,1997, p. 48).
20
Outra constatação diz respeito aos recursos financeiros disponíveis para custeio da
CFR e de suas atividades (28,6%), principalmente a realização de mais aulas práticas
(14,3%), fundamentais para melhor qualificação dos jovens na CFR (Figura 03).
Figura 03. Limitações para formação de alunos na CFR de Altamira, segundo os monitores,
2010.
Dentre as dificuldades enfrentadas para estudar na CFR de Altamira, os alunos
destacam a dificuldade de acesso, principalmente no período chuvoso com 41,2% de
frequência; dificuldades financeiras (41,2%), longas distâncias das propriedades à CFR
(11,8%). Com 5,9% dos entrevistados afirmaram não enfrentar nenhum tipo de dificuldade.
Portanto, as dificuldades de deslocamento juntamente com as financeiras foram para os
estudantes as principais limitações durante os três anos em que estudaram na CFR. Para os
pais, as maiores dificuldades são: financeiras com 66,7% de frequência, distância para
deslocamento (11,1%), a falta de transportes (11,1%) e os outros 11,1% sem dificuldades.
Percebe-se então, que a Região Amazônica ainda está à margem de políticas públicas
voltadas para a Educação do Campo, pois as estradas de acesso e vicinais são mal
conservadas agravando a situação com o aumento das chuvas, prejudicando
consideravelmente os jovens que precisam se deslocar para escolas das zonas rural e urbana,
muitas vezes não conseguindo chegar às escolas.
Em relação a possíveis avanços que poderiam ocorrer para melhoria da formação
técnica dos jovens na CFR foram citados pelos alunos: maior quantidade de aulas práticas;
construção de um laboratório de informática; maior quantidade de visitas às propriedades dos
educandos; curso de informática; ampliação da biblioteca e melhorias no acervo; maior
0 5 10 15 20 25 30
Aulas práticas
Investimento financeiro
Maior envolvimento das famílias
Infra-estrutura
14,3
28,6
28,6
28,6
Frequência (%)
21
assiduidade dos professores; maior investimento público; maior contribuição dos órgãos
públicos (assistência e recursos financeiros); maior quantidade de cursos técnicos; construção
de laboratórios para fins diversos, etc.
Monteiro (2009, p. 41), ao pesquisar jovens egressos da Casa Familiar Rural de Xaxim
(SC) identificou que os principais instrumentos pedagógicos que influenciam em uma
formação técnica adequada são as visitas de estudo (aulas práticas) e visitas as propriedades,
―pois é com eles que se podem realizar as atividades práticas na busca do bem estar das famílias
do meio rural e o jovem consegue verificar se seu conhecimento está sendo realmente válido para
a sua realidade‖. Portanto, mais visitas seriam necessárias para que os monitores pudessem
conhecer as principais limitações e potencialidades de cada estabelecimento e orientar os
alunos sobre a melhor maneira de atuarem considerando a realidade de cada unidade de
produção.
Os pais destacaram como dificuldades a falta de apoio financeiro (62,5%), a
quantidade reduzida de visitas nas propriedades (25,0%) e insuficiência de estrutura física na
CFR (12,5%), conforme Figura 04:
Figura 04. Opinião dos pais sobre o que poderia ser melhorado na formação técnica dos
jovens na CFR de Altamira, 2010.
Portanto, pais e monitores possuem as mesmas opiniões sobre melhorias necessárias
na CFR de Altamira, que influenciariam em um ensino de melhor qualidade. No entanto,
possíveis avanços esbarram na questão financeira, uma vez que a instituição recebe pouco
apoio financeiro para manutenção. A CFR possui um convênio com o Estado, firmado em
parceria com a FVPP, para pagamento dos professores e outro convênio com a Prefeitura
Municipal de Altamira - PMA, que custeia dois monitores, um caseiro e uma merendeira. As
0 10 20 30 40 50 60 70
Estrutura física da CFR
Visitas nas propriedades
Apoio financeiro
12,5
25,0
62,5
Frequência (%)
22
despesas relacionadas à alimentação são providas pelos pais dos alunos, que pagam uma taxa
de R$20,00 por alternância.
Para os monitores a principal dificuldade é trabalhar de forma interdisciplinar, pois
muitos não possuem formações específicas voltadas para áreas agrícolas e têm que trabalhar
os temas geradores, considerando o conhecimento empírico dos educandos e repassar outros
conhecimentos, proporcionando qualificação técnica à esses alunos. Além disso, destacaram
que não há uma formação pedagógica continuada voltada a adequação da Base Comum à
Base Técnica, o que prejudica a atuação interdisciplinar e a formação multidisciplinar dos
professores.
Segundo Gnoatto et al. (2006), a interdisciplinaridade é uma caminhada no processo
educativo que objetiva a realização do homem como pessoa, em todas as suas dimensões,
superando o individualismo e a desesperança, integrando política e socialmente o jovem em
seu meio.
Logo, quando não há um planejamento de ensino e apoio para uma formação
profissional que permita a atuação interdisciplinar dos professores, os alunos serão
prejudicados, pois
―A prática da interdisciplinaridade é uma medida eficaz para eliminar o problema da
fragmentação dos conteúdos programáticos, transmitidos através de diferentes
componentes curriculares (...) é necessário que haja no planejamento e
replanejamento de ensino um trabalho coletivo, já que todos vão realizar juntos a
seleção dos conteúdos de cada componente, procurando interagir
multidisciplinarmente os conhecimentos que serão transmitidos aos alunos‖
(AZEVEDO, 1998, p.122).
4.3. INFLUÊNCIA DA CFR NA FORMAÇÃO DE JOVENS DO CAMPO
4.3.1. Adoção de inovações técnicas nas propriedades
Os educandos concluintes do Ensino Fundamental da CFR de Altamira em 2010 estão
numa faixa etária compreendida entre 16 e 32 anos, sendo aproximadamente 70% do sexo
masculino e 30 % do sexo feminino. Em relação à tendência masculina em CFR, Carneiro
(2005) relata em suas pesquisas que normalmente isso ocorre porque as moças não têm um
papel social relevante na sucessão familiar, como é no caso dos rapazes. Elas, por não serem
candidatas à sucessão, são mais estimuladas a continuar seus estudos ―formais‖, e assim
acabam afastando seus projetos pessoais da propriedade.
23
Constatou-se que os alunos se sentem aptos a atuarem profissionalmente, mesmo que
o Ensino Fundamental ofertado na CFR de Altamira apenas habilite-os em Agricultura. No
entanto, a junção de conhecimentos técnicos, práticos e empíricos que possuem, desperta a
vontade de agirem em prol do desenvolvimento de suas comunidades.
O aprendizado adquirido na CFR, segundo os pais e alunos, pode ser utilizado através
da implementação de projetos e técnicas inovadoras; reuniões na comunidade com o objetivo
de despertar o interesse de seus membros para incorporação de novas técnicas agrícolas;
orientação técnica aos vizinhos; diálogos com a família e a comunidade, dentre outras.
Todavia, os pais reagem de forma diferenciada quando os jovens desejam implementar
experiências/projetos na propriedade. Verificou-se que em 76,5% das famílias dos jovens
entrevistados a aceitação para a implantação de novas técnicas agrícolas é boa, apesar de
alguns pais terem visão mais tradicional, onde a introdução de tecnologias muitas vezes não é
bem vinda, principalmente porque muitos dizem que ―o que vem dando certo não deve ser
mexido‖. Através do diálogo os jovens afirmam conseguir modificar esta concepção, fazendo
com que os pais aceitem e muitas vezes colaborem na implantação do projeto. Outros 23,5%
afirmaram que a aceitação dos pais em relação à adoção de novas práticas agrícolas é difícil e
está diretamente ligada ao tipo de projeto que é apresentado à família, enfatizando que as
maiores restrições surgem principalmente, quando o projeto está relacionado à preservação do
meio ambiente, como plantio de roça sem queimar, conservação de áreas de preservação
permanente ou recomposição dessas áreas, entre outras.
Verificou-se que 100% dos entrevistados conseguem manter diálogo com a família e
na maioria dos casos, há apoio da família quando querem implantar inovações na propriedade.
Mesmo que em alguns casos obtenham certa resistência dos pais, o dialogo tem sido
fundamental para que estes assimilem os conhecimentos adquiridos pelo filho e passem a
apoiá-lo em seus projetos. Constatou-se que os jovens recebem maior apoio das mães, por
serem as pessoas mais próximas, visto que os pais geralmente permanecem a maior parte do
tempo nos afazeres do campo.
Em relação ao interesse dos alunos em desenvolver projetos apresentados na CFR, os
monitores destacaram ser nítida a vontade dos jovens em continuar realizando novas práticas
em suas propriedades. Verificou-se que 100% dos estudantes afirmou que já colocou em
prática alguma experiência/projeto desenvolvido na CFR. Dentre os projetos implementados
pelos alunos destacam-se: horta orgânica ou agroecológica, manejo de cacauais, composto
orgânico, enxertia, produção de mudas de essências florestais, suinocultura, plantio de
mandioca, entre outros.
24
Ribeiro (2008) explica essa relação entre ensino e trabalho como sendo situações
sinergéticas contempladas pela Pedagogia da Alternância, pois para a autora,
―a Pedagogia da Alternância é uma expressão polissêmica que guarda elementos
comuns, mas que se concretiza de diferentes formas: conforme os sujeitos que as
assumem, as regiões onde acontecem as experiências, as condições que permitem ou
limitam e até impedem a sua realização e as concepções teóricas que alicerçam suas
práticas. Com esse cuidado e de modo amplo, pode-se dizer que a Pedagogia da
Alternância tem o trabalho produtivo como princípio de uma formação humanista
que articula dialeticamente ensino formal e trabalho produtivo‖ (RIBEIRO, 2008,
p.5).
Portanto, a CFR tem colaborado para adoção de novas técnicas nos sistemas de
produção, o que pode refletir em dinamização econômica e melhoria de renda das famílias,
pois os conhecimentos técnicos agregados ao conhecimento empírico culminam em novas
experiências, contribuindo significativamente para promoção do desenvolvimento local.
Segundo os alunos, 82,4% dos projetos implementados obtiveram bons resultados,
devido à boa produção e utilidade tanto para consumo familiar quanto para venda (de acordo
com o tipo de projeto); 5,9% dos projetos conseguiram resultados excelentes (alta produção);
5,9% alcançaram resultados ruins, pois não houve produção significativa e outros 5,9% ainda
não alcançaram resultados, por terem sido implementados há pouco tempo (Figura 05).
Figura 05. Avaliação dos alunos quanto aos resultados dos projetos implantados em suas
propriedades, 2010.
Segundo avaliação dos pais, tomando como base a produção e produtividade
alcançadas em cada experimento, os resultados dos projetos foram bons (72%) e ótimos (28%),
o que evidencia a satisfação com as inovações incorporadas às suas propriedades sob orientação
de seus filhos.
0 20 40 60 80 100
Sem resultado
Ruim
Bom
Excelente
5,9
5,9
82,4
5,9
Frequência (%)
25
Os monitores destacaram que, por adquirirem uma gama de conhecimentos, os
educandos estão preparados para serem cidadãos disciplinados e não apenas técnicos, pois
tiveram a oportunidade de fazer cursos extracurriculares, conviver com diferenças, respeitar
horários, experiências essas que agregam a vida profissional, enfatizando, que por serem
filhos de agricultores, morarem no meio rural, os educandos se aperfeiçoam para tornarem-se
profissionais competentes, em prol de suas propriedades e comunidades. Há ainda troca de
informações, uma vez que os alunos detêm de saberes empíricos e trocam experiências com
colegas e monitores, principalmente no que diz respeito ao gerenciamento das propriedades.
4.3.2. Perspectivas dos jovens e influência da CFR na formação pessoal dos educandos
Verificou-se que a convivência na CFR foi importante para alunos que adquiriram
conhecimento, qualificação e aprenderam a conviver com pessoas diversas, e essas
experiências poderão ser levadas para a vida profissional. Para os alunos, a formação ajudou a
definir as áreas que pretendem atuar futuramente como Agronomia, Engenharia Florestal,
Medicina Veterinária ou mesmo continuar na agricultura. Portanto, os alunos dão muita
credibilidade ao aprendizado recebido na CFR de Altamira e consideram os conhecimentos
adquiridos uma base para dar continuidade a seus estudos.
A educação, portanto, possui objetivos diversos, que incluem aspectos teóricos,
absorção de conhecimentos e relações pessoais, como evidenciado por Knob e Corona (2009):
―A educação deve hoje ser pensada como uma preparação para a vida, tratando de
garantir a segurança do emprego e aptidão para o trabalho, de permitir a cada um
satisfazer a demanda de uma sociedade em rápida evolução, assim com as mudanças
tecnológicas que condicionam hoje, direta ou indiretamente, cada aspecto da
existência e, finalmente, de conseguir responder à busca da felicidade, do bem-estar
e da qualidade de vida‖ (KNOB e CORONA, 2009, p. 19).
A maioria dos alunos formandos do Ensino Fundamental tem uma relação de carinho
com a CFR, bem como com os monitores, uma vez que os anos de convivência e estudos
proporcionaram muitas experiências novas, conhecimentos e mudanças, inclusive
comportamentais e familiares. Segundo os alunos, o convívio com outras pessoas (alunos e
monitores) durante os anos de estudo em muito contribuiu para melhorar a convivência e o
diálogo com os familiares e a comunidade. Afirmaram que a comunidade passou a dar mais
credibilidade e respeito a eles, proporcionando maior interação. Outros destacaram melhorias
na leitura, caligrafia, oratória e a maneira de se comunicar.
26
Segundo os pais, houve mudanças principalmente no comportamento dos filhos, que
passaram a dialogar mais com a família e vizinhos, pois em alguns casos os filhos eram muito
tímidos e após a inserção na CFR, passaram a ser mais comunicativos e disciplinados.
As respostas dos jovens em relação às principais mudanças que ocorreram em suas
vidas a partir da entrada na CFR de Altamira podem ser resumidas na Figura 06:
Figura 06. Mudanças ocorridas na vida dos jovens após a entrada na CFR de Altamira, 2010.
Em estudo semelhante ocorrido no município Xaxim, Santa Catarina, Monteiro (2009)
expôs que 70% dos educandos da CFR afirmaram ter ocorrido mudanças significativas no
modo de agir e de pensar na propriedade e com a família após a sua inserção na CFR, sendo que o
grau de responsabilidade desses alunos variou de bom, muito bom e ótimo.
Em relação à permanência dos filhos nas propriedades e consequentemente na
agricultura, 57% dos pais afirmaram desejar que os filhos permaneçam nas propriedades,
usando os conhecimentos e técnicas adquiridos durante os anos de estudo na CFR. Os outros
43% disseram que a escolha quanto a profissão dependerá da vontade dos filhos, e que não
interferirão nesta decisão.
Os educandos destacam pretensão em dar continuidade a seus estudos, principalmente
em áreas voltadas para agricultura ou Ciências Agrárias. Desses, 76% pretendem fazer o
Ensino Médio Técnico na CFR de Altamira, 12% pretendem cursar o Ensino Médio em outra
escola na cidade e conciliar os estudos com um trabalho, 6% querem cursar o Ensino Médio
Técnico em Castanhal – PA e os 6% restantes não desejam prosseguir os estudos.
Quanto ao futuro profissional dos jovens, 29,4% dos educandos afirmaram que
pretendem continuar sendo agricultores; 47% pretendem atuar em profissões relacionadas as
0 15 30 45 60 75
Maior credibilidade e respeito da família e comunidade
Mais conhecimentos
Melhorou o dialogo com a família e comunidade
17,6
17,6
64,7
Frequência (%)
27
Ciências Agrárias (Agronomia, Engenharia Florestal e Medicina Veterinária) e 17,6%
desejam atuar em profissões não relacionadas ao campo (Figura 07).
Figura 07. Áreas de atuação pretendidas pelos jovens educandos da CFR de Altamira, 2010.
Os educandos que afirmaram pretender atuar em profissões voltadas para Ciências
Agrárias enfatizaram que estas profissões serão válidas para que possam atuar nas suas
propriedades, promovendo o desenvolvimento destas, uma vez que, mesmo que queiram atuar
nas referidas profissões, não pretendem abandonar definitivamente suas raízes rurais.
Em estudo semelhante em Santa Catarina, Estevam (2003) revelou expectativas dos
jovens da CFR, em relação ao seu futuro profissional, após o término do curso. Neste caso,
87,2% dos entrevistados aspiravam continuar na profissão de agricultor, enquanto apenas
12,8% pretendiam continuar os estudos, em profissões associadas ao meio rural, como técnico
agrícola e engenheiro agrônomo. Diferentemente dessa constatação, a maior parte dos jovens
da CFR de Altamira pretende continuar os estudos e seguir profissões relacionadas a
atividades agrícolas. Tal discrepância entre os dois estudos pode estar relacionada a fatores
particulares de cada região, uma vez que, no Sul e Sudeste do país, as condições para a
permanência dos jovens no campo são melhores (escola, estradas, energia, tecnificação da
produção), enquanto que na região Norte, esses atrativos são limitados ou inexistentes.
Sobre o Projeto Profissional de Vida do Jovem - PPVJ as temáticas escolhidas foram
Cacauicultura (50%), Psicultura (18,8%), Bovinocultura (12,5%), Avicultura (6,3%),
Suinocultura (6,3%) e Mandiocultura (6,3%). O tema do PPVJ escolhido por cada um diz
respeito a sua realidade, demonstrando áreas com maior afinidade, o que irá evidenciar suas
capacidades de desenvolver alternativas para o seu próprio meio, através das habilidades e
conhecimentos adquiridos ao longo de sua formação. Com estes projetos, os jovens deverão
0 10 20 30
Medicina Veterinária
Profissão não voltada para agricultura ou áreas afins
Engenharia Florestal
Agronomia
Agricultura
5,9
17,6
23,5
23,5
29,4
Frequência (%)
28
buscar soluções próprias e particulares para cada situação específica, devendo se mostrar
capazes de solucionar problemas a partir dos recursos familiares, comunitários e locais.
Em relação a avaliação geral dos pais sobre a CFR de Altamira, 57,1 % avaliaram
como boa, uma vez que proporciona aos filhos a continuidade de seus estudos, além de ser um
ambiente seguro, com profissionais competentes e qualificados, que trocam e repassam
conhecimentos e experiências com os alunos, agregando informações para ambas as partes;
28,6% avaliaram como ótima, afirmando ficarem despreocupados, pois os filhos aprendem
novas técnicas que poderão ser colocadas em prática nas propriedades; 14,3% avaliam a CFR
como importante para a formação dos jovens, haja vista que os educandos recebem uma
disciplina rigorosa, que influencia na vida pessoal dos mesmos, onde passam a agir com
pontualidade, enfim, passam a ter mais responsabilidade sobre seus atos, principalmente
àqueles que dizem respeito a sua atuação profissional.
5. CONCLUSÃO
Os resultados da pesquisa evidenciam que a CFR de Altamira tem contribuído
positivamente na formação profissional de seus educandos, refletindo significativamente na
adoção de inovações técnicas nas propriedades, em alguns casos, influenciado diretamente na
dinamização econômica das famílias, assim como na melhoria da qualidade de vida.
Verificou-se que 100% dos estudantes colocaram em prática alguma experiência ou
projeto desenvolvido na CFR, tendo boa aceitação por 76,5% das famílias. Cerca de 88%
dessas experiências obtiveram resultados classificados como bom ou excelente, enquanto que
5,9% ruins.
Para os atores entrevistados, seria necessária a realização de mais visitas dos
monitores para acompanhamento dos jovens durante o espaço comunidade, para melhor
conhecerem as potencialidades e limitações de cada estabelecimento agrícola e orientar os
alunos sobre a melhor maneira de atuarem em suas realidades. O diálogo com as famílias e o
maior conhecimento dos estabelecimentos, possibilitaria aos monitores melhor orientação aos
educandos, para atuação eficiente em suas propriedades.
Para os monitores a principal dificuldade encontrada para desenvolvimento das
atividades foi trabalhar a interdisciplinaridade, problema este que poderia ser amenizado se
houvesse uma formação pedagógica continuada.
29
Quanto ao futuro profissional dos jovens, 29,4% dos educandos destacam pretender
continuar como agricultores; 47% atuar em profissões relacionadas às Ciências Agrárias e
17,6% profissões não relacionadas ao campo. Entretanto, os jovens que afirmaram querer
atuar em profissões relacionadas às Ciências Agrárias destacam que estas oportunizam o
vínculo com o rural, ou seja, os educandos pretendem adquirir conhecimentos técnicos e
específicos para poderem também coloca-los em prática em suas propriedades.
Mesmo com algumas dificuldades em termo de estruturas e recursos financeiros, pais,
alunos e professores estão satisfeitos com a metodologia de ensino da CFR e seus resultados
alcançados durante o período de formação da primeira turma do Ensino Fundamental. No
entanto, destacam a necessidade de maior investimento público para o seu funcionamento e
manutenção.
30
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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34
APÊNDICES
35
APÊNDICE I – Questionário Aluno
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ALTAMIRA
FACULDADE DE ENGENHARIA AGRONÔMICA
Pesquisa: O PAPEL DA CFR DE ALTAMIRA NA FORMAÇÃO TÉCNICA DE JOVENS DO CAMPO
QUESTIONÁRIO - ALUNO
Nome: Nº. Questionário:
1. Idade: Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
2. Nome do Pai:
3. Nome da Mãe:
4. Comunidade:
5. Telefone: Outro contato:
6. O que o(a) motivou a estudar na CFR?
7. O que você acha da metodologia de ensino adotada pela CFR?
8. De que maneira o aprendizado adquirido na CFR poderá ser utilizado na sua propriedade ou
comunidade?
9. Você possui bom diálogo com a família?
10. Como é a aceitação de sua família para a implantação de novas práticas/projetos na propriedade?
11. Já colocou em prática na sua propriedade alguma experiência/projeto desenvolvido ou apresentado
na CFR?
11.1. Se sim, quais foram os resultados?
11.2. Qual sua avaliação desse projeto?
12. Como o aprendizado e as práticas desenvolvidas na CFR são válidos para a sua vida profissional?
13. Quais mudanças ocorreram na sua vida (família e propriedade) após entrada na CFR?
14. Quais as dificuldades para estudar na CFR?
15. O que poderia ser melhorado na formação técnica do jovem na CFR?
16. Você pretende continuar na agricultura ou outra profissão?
17. Você pretende continuar os estudos?
18. Qual o seu Projeto Profissional de Vida?
36
APÊNDICE II – Questionário Pais
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ALTAMIRA
FACULDADE DE ENGENHARIA AGRONÔMICA
Pesquisa: O PAPEL DA CFR DE ALTAMIRA NA FORMAÇÃO TÉCNICA DE JOVENS DO CAMPO
QUESTIONÁRIO - PAIS
1. Nome: Nº. Questionário:
2. Idade: Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
3. Pai/Mãe de:
4. Comunidade:
5. O que o(a) motivou a colocar seu (a) filho(a) para estudar na CFR?
6. O que você acha da metodologia de ensino adotada pela CFR?
7. De que maneira o aprendizado adquirido pelo seu/sua filho(a) na CFR poderá ser utilizado na sua
propriedade ou comunidade?
8. Seu/ sua filho (a) já colocou em prática na sua propriedade alguma experiência/projeto desenvolvido
ou apresentado na CFR?
Se sim, quais foram os resultados?
Qual sua avaliação desse projeto?
9. Como o aprendizado e as práticas desenvolvidas na CFR são válidos para a sua vida profissional de
seu (ua) filho (a)?
10. Houve mudanças na vida de seu(ua) filho(a) em relação à família, comunidade e/ou propriedade,
após entrada na CFR?
11. Quais as dificuldades para manter seu (ua) filho (a) estudando na CFR?
12. O que poderia ser melhorado na formação técnica do jovem na CFR?
13. Você quer que seu(ua) filho(a) continue na agricultura ou outra profissão? Por quê?
14. Qual a sua avaliação sobre a CFR/ Altamira?
37
APÊNDICE III – Questionário Monitores
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE ALTAMIRA
FACULDADE DE ENGENHARIA AGRONÔMICA
Pesquisa: O PAPEL DA CFR DE ALTAMIRA NA FORMAÇÃO TÉCNICA DE JOVENS DO CAMPO
QUESTIONÁRIO – PROFESSOR/MONITOR
1. Nome: Nº. Questionário:
2. Idade: Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
3. Formação:
4. Por quais disciplinas é responsável?
5. Qual a sua opinião sobre a metodologia de ensino adotada na CFR?
6. Você percebe interesse dos alunos em trabalhar ou desenvolver projetos apresentados na CFR?
7. Qual a sua atuação no monitoramento das tarefas/experiências nas propriedades e comunidades dos
alunos?
8. Qual a frequência de visitas dos monitores para acompanhar os jovens em suas propriedades?
9. Foi possível acompanhar todos os jovens nas propriedades?
10. A turma já elaborou o Projeto Profissional de Vida do Jovem?
11. Você acompanha diretamente o (a) aluno (a) na realização do Projeto Profissional de Vida do
Jovem?
12. Como o aprendizado e as práticas desenvolvidas na CFR são válidos para a sua vida profissional do
aluno?
13. O que poderia ser melhorado na formação técnica do jovem na CFR?
14. Quais os desafios encontrados para lecionar na CFR?