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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO, CIÊNCIAS CONTÁBEIS E TURISMO

CURSO DE TURISMO DEPARTAMENTO DE TURISMO

EDUARDO CAMACHO DIAS

RURALIDADE E EXPANSÃO URBANA EM ANÁLISE PARA O

DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE BASE LOCAL NO ENGENHO DO

MATO, NITERÓI (RJ)

NITERÓI 2011

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EDUARDO CAMACHO DIAS

RURALIDADE E EXPANSÃO URBANA EM ANÁLISE PARA O

DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE BASE LOCAL NO ENGENHO DO

MATO, NITERÓI (RJ)

Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao Curso de Graduação em Turismo na Universidade Federal Fluminense para obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

Orientador: Prof. Dr. Marcello de Barros Tomé Machado

Niterói

2011

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RURALIDADE E EXPANSÃO URBANA EM ANÁLISE PARA O

DESENVOLVIMENTO DO TURISMO DE BASE LOCAL NO ENGENHO DO

MATO, NITERÓI (RJ)

POR

EDUARDO CAMACHO DIAS

Trabalho de Conclusão de curso apresentado ao Curso de Graduação em Turismo da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Turismo

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________________________ Prof. Dr.– Orientador Marcello de Barros Tomé Machado

________________________________________________________________ Prof. Ms.– Bernardo Lazary Cheibub

________________________________________________________________ Prof.– Rodrigo Tadini

Niterói, 25 de maio de 2011

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AGRADECIMENTOS

A todos os amigos que fiz nestes anos de convivência na Universidade

Federal Fluminense, servidores, colegas de turma e professores. Cada um

destes amigos foi de extrema importância nesta jornada.

Um agradecimento especial à minha família que sempre me apoiou em

qualquer projeto de minha escolha. Não foi diferente quanto escolhi cursar

turismo. O apoio e investimentos dos meus familiares foram o maior

combustível para minha chegada até aqui.

Agradeço a minha namorada por me incentivar e ajudar das mais

diversas formas na conclusão deste trabalho e em tudo mais em minha vida.

Agradeço fortemente a todos os mestres com os quais tive a

oportunidade de conviver e trocar experiências na universidade. Alguns com

maior afinidade, mas que não cabe aqui citar quais, pois cada um dos

professores é indispensável para o sucesso deste curso.

Finalmente, agradeço em memória de meu pai por todas as maravilhas e

ensinamentos deixados e por carregar até o fim da vida o sonho de ver seu

filho formado pela UFF, sonho este que não fui capaz de realizar a tempo.

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RESUMO

O tema escolhido para investigação versa sobre a identidade cultural e peculiaridades do bairro Engenho do Mato, em Niterói (RJ), e a importância da contribuição dos empreendedores locais para o desenvolvimento do turismo. O objetivo é diagnosticar o potencial turístico do bairro tendo como referência o planejamento turístico de base local. No Engenho do Mato, situam-se haras, ranchos, além de parte do Parque Estadual da Serra da Tiririca o que dá condições para realização de atividades de ecoturismo e do turismo rural, em uma localidade considerada oficialmente urbana, mas com características fortemente rurais. Com o desenvolvimento de um turismo responsável, outros problemas podem ser solucionados como: a degradação do meio ambiente, o processo de aculturação da comunidade e a desigualdade social. A visão empreendedora do comércio local pode ser uma das saídas para a consolidação do Engenho do Mato como um destino turístico. A metodologia de pesquisa é descritivo-exploratória composta por uma pesquisa bibliográfica referente á literatura pertinente ao tema e ao lugar e uma pesquisa de campo de amostragem intencional com os empreendedores locais, em que foram aplicados onze questionários na área do bairro, nos estabelecimentos de maior relevância para o turismo. A base da reflexão da análise das pesquisas foi numa perspectiva integradora, das características do território, aspectos geográficos, históricos, legais da região e opinião dos empreendedores locais que valorizam a tradição rural local e a conservação ambiental, favorecendo o desenvolvimento das modalidades de ecoturismo e turismo rural, ou a tipologia adotada neste trabalho de turismo ecorrural.

PALAVRAS-CHAVE:. Turismo rural. Ecoturismo. Turismo ecorrural. Engenho do Mato / Niterói. Planejamento turístico de base local.

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ABSTRACT

The theme chosen for investigation focuses on cultural identity and peculiarities of the neighborhood's Engenho do Mato, in Niterói (RJ), and the importance of the contribution of local entrepreneurs to develop tourism. The goal is to diagnose the district's tourism potential with reference to the location-based tourism planning. In Engenho do Mato, lie farms and ranches, part of the Parque Estadual da Serra Tiririca which gives conditions for the activities of ecotourism and rural tourism in an urban area considered officially, but with strong rural characteristics. With the development of responsible tourism, other problems can be solved as: environmental degradation, the process of acculturation of the community and social inequality. The entrepreneurial vision of local trade can be an escape route to the consolidation of Engenho do Mato as a tourist destination. The research methodology is descriptive-exploratory consists of a bibliographic review the literature relevant to the theme and place, and a field survey of intentional sampling with local entrepreneurs in eleven questionnaires that were applied in the area of the district, in institutions of higher relevance to tourism. The basis reflection of the analysis research was an integrative perspective, the characteristics of the territory, geography, history, legal aspects about the region, and the opinion of local entrepreneurs who value tradition and environmental conservation, rural location, encouraging the development of arrangements for ecotourism and rural tourism, or the typology used in this work ecorrural tourism.

KEYWORDS: Rural tourism. Ecotourism. Ecorrural Tourism. Engenho do Mato / Niterói. Location-based tourism planning.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 Rancho do Quilombo. 11

Figura 02 Curral no Haras São Francisco de Assis. 12

Figura 03 Parque Rural do Engenho do Mato 32

Figura 04 Selaria – Trabalho Artesanal 36

Figura 05 Quadro - Situação Cooperativa e Situação Competitiva. 38

Figura 06 Gráfico - Evolução da População Residente na Região Oceânica. 47

Figura 07 Mapa das Regiões de Niterói. 47

Figura 08 Mapa de Uso e Gabarito Propostos: sub-regiões Engenho do Mato e Maravista 50

Figura 09 Gráfico – Local de residência. 55

Figura 10 Gráfico - Tempo de Existência do Comércio. 55

Figura 11 Gráfico – Tipo de Estabelecimento. 56

Figura 12 Gráfico – Dias em que o Estabelecimento Funciona. 57

Figura 13 Gráfico – Meios de Comunicação Utilizados para Divulgação. 58

Figura 14 Gráfico – Perfil do Público do Estabelecimento. 59

Figura 15 Gráfico – Principais Atrativos da Área. 59

Figura 16 Gráfico – Tipo de Turismo mais Adequado para o Engenho do Mato. 60

Figura 17 Baias no Haras São Francisco de Assis. 61

Figura 18 Gráfico – Perfil do Turista que Gostaria de Receber. 61

Figura 19 Gráfico – Interesse na Participação em Atividades para Desenvolvimento do

Turismo Responsável.

62

Figura 20 Gráfico – Apoio a Algum Projeto no Engenho do Mato. 63

Figura 21 Gráfico – Parceria com outra Organização para Promoção da Marca. 63

Figura 22 Gráfico – Conhecimento sobre a Condição da Área como de Especial

Interesse Turístico.

63

Figura 23 Gráfico – O que falta para Consolidação como Destino Turístico. 64

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Figura 24 Gráfico – Percepção Classificação do Bairro Engenho do Mato. 65

Figura 25 Rua de Terra Batida

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 10

2 TURISMO: CONTEXTO E CONCEITOS.................................................................... 16

2.1 CONCEITOS.................................................................................................................. 17

2.2 SISTEMA DE TURISMO................................................................................................. 20

2.3 AS DIMENSÕES DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO DE BASE LOCAL.................... 22

2.3.1 Elemento Geográfico: território urbano ou rural............................................................. 22

2.3.2 Turismo Rural, Ecoturismo e Turismo Ecorrural............................................................. 25

3 GESTAO DE DESTINOS TURÍSTICOS......................................................................... 31

3.1 A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO............................................. 32

3.2 A COOPERAÇÃO DOS AGENTES NO DESENVOLVIMENTO DE BASE LOCAL....... 37

3.2.1 O Terceiro Setor.............................................................................................................. 39

3.2.2 Os Empreendedores Locais............................................................................................ 40

3.3 CLUSTER TURÍSTICO................................................................................................... 43

4

4.1

4.1.1

4.1.2

4.2

4.2.1

4.3

TURISMO NO ENGENHO DO MATO............................................................................

PESQUISA DOCUMENTAL............................................................................................

Caracterização Geral da Área.........................................................................................

Aspectos Legais da Região............................................................................................

CARACTERÍSTICAS SÓCIO-CULTURAIS DO TERRITÓRIO ESTUDADO..................

Identificação dos programas, projetos e ações...............................................................

PESQUISA COM OS EMPREENDEDORES LOCAIS...................................................

44

44

44

48

48

51

53

4.3.1 Apresentação da Proposta............................................................................................. 53

4.3.2 Metodologia de Pesquisa................................................................................................ 54

4.3.3 Resultado Analítico da Tabulação dos Questionários.................................................... 55

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 68

REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 71

ANEXO A – Modelo de Questionário Utilizado para Realização da Pesquisa de

Campo

74

ANEXO B – Senso Turístico do Engenho do Mato........................................................ 77

ANEXO C – Ampliação do Mapa de Uso e Gabarito Propostos: sub-regiões

Engenho do Mato e Maravista

88

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1 INTRODUÇÃO

O tema escolhido para investigação versa sobre a identidade cultural e

peculiaridades do bairro Engenho do Mato, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro, e a

importância da contribuição dos empreendedores locais para o desenvolvimento do

turismo.

O bairro se diferencia do restante da cidade pela manutenção do ambiente

rural, comparando a urbanização do entorno. Esta foi a última área do município a ser

delimitada como perímetro urbano pela prefeitura de Niterói.

O Engenho do Mato originou-se do loteamento da antiga Fazenda do Engenho

do Mato. As atividades rurais foram mantidas e a produção de hortifrutigranjeiros

abasteceu a cidade de Niterói por alguns anos, mas hoje têm pouca

representatividade no mercado. A identidade rural do bairro é mantida pela presença

de haras e pequenas propriedades rurais, tendo os equinos um papel fundamental na

ambientação da paisagem, além das vias sem asfalto com chão de terra batida,

constituindo visualmente uma paisagem semelhante às de localidades rurais do

interior do estado do Rio de Janeiro.

O Plano Diretor de Niterói, Lei nº 1.157 de 1992, alterada pela Lei 2123 de

2004, principal instrumento de intervenção urbana e ambiental do município, que

estabelece diretrizes urbanísticas para o desenvolvimento urbano e econômico, divide

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o município em cinco regiões de planejamento: Região Norte, Região Praias da Baía,

Região Pendotiba, Região Oceânica e Região Leste.

A Região Oceânica é composta pelos bairros do Cafubá, Camboinhas,

Engenho do Mato, Jardim Imbuí, Itacoatiara, Itaipu, Jacaré, Maravista, Santo Antônio,

Piratininga e Serra Grande. Esta Região faz limite com o município de Maricá e com

as Regiões Leste, Pendotiba e Praias da Baía.

O Engenho do Mato possui atrativos naturais e culturais de relevância

municipal, estadual, federal e internacional. Como exemplo, destaca-se o Parque

Estadual da Serra da Tiririca (PESET), o circuito turístico Caminho de Darwin, o

projeto Caminhos Geológicos em Niterói e ainda a comunidade quilombola

remanescente dos tempos de fazendas antigas do século XVIII. Outro forte atrativo é a

presença de ranchos e haras, os quais são os maiores responsáveis pelo alto número

de equinos no bairro.

Fonte: arquivo pessoal

Figura 01: Rancho do Quilombo

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Fonte: arquivo pessoal

Figura 02: Curral no Haras São Francisco de Assis

Além da ocorrência de equinos, foi identificada na pesquisa no Engenho do

Mato a existência de organizações da sociedade civil e instituições com interesse em

realizar eventos culturais a fim de reforçar a característica rural local e promover um

turismo responsável. O fato de o PESET ser fruto da reivindicação do movimento

socioambiental da região e das demandas locais e possuir um Conselho Gestor,

mesmo que consultivo, contribuiu para a organização comunitária e envolvimento de

órgãos responsáveis por projetos, pesquisas e ações nesta área.

A ONG Estação Ambiental Charles Darwin, além de outros agentes da

sociedade civil, organiza projetos de preservação ambiental e desenvolvimento do

turismo responsável, apesar de a prefeitura não ser a responsável por estes projetos

na Área de Especial Interesse Turístico (AEIT) da Região Oceânica de Niterói (Lei

1968/2002), na qual o bairro do Engenho do Mato está localizado, entretanto a

Câmara de Vereadores reconhece o Circuito Turístico Caminho de Darwin (lei

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2699/2010) dentro do Parque Estadual da Serra da Tiririca. A trilha de acesso ao

circuito é pelo Engenho do Mato.

A visão empreendedora do comércio local pode ser uma das saídas para a

consolidação do Engenho do Mato como um destino turístico. A questão é se o

ecoturismo e o turismo rural são modalidades de turismo viáveis para o

desenvolvimento turístico de base local no Engenho do Mato, de acordo com as

características do território e a opinião dos empreendedores locais.

Supõe-se que as atividades de ecoturismo do Parque Estadual da Serra

da Tiririca e o ambiente rural do Engenho do Mato, a predisposição do poder

público para promoção do turismo na área, somado ao interesse privado,

percebido pela existência de empreendimentos de lazer e gastronomia,

condicionam o desenvolvimento do destino turístico. A escolha pelas

modalidades de turismo rural e ecoturismo para esta localidade é uma tentativa

de aliar a preservação da cultura campestre local e a conservação do meio

ambiente.

O objetivo geral deste estudo é diagnosticar o potencial turístico do

Engenho do Mato a partir da opinião dos empreendedores locais, de acordo

com o planejamento turístico de base local.

Para chegar à conclusão de quais são as potencialidades turísticas do

Engenho do Mato e sobre a viabilidade dessas atividades segundo o planejamento

turístico de base local, foram traçados os seguintes objetivos específicos: mapear os

potenciais atrativos turísticos do território; aplicar questionários para os

empreendedores locais com maior relevância para o turismo; analisar o discurso dos

empreendedores locais com ênfase na cooperação para consolidação do destino

turístico; e diagnosticar se o turismo rural e ecoturismo são modalidades de turismo

adequadas de acordo com as características sócio-espaciais da comunidade e a

opinião dos empreendedores locais.

O potencial de Niterói para o turismo é reconhecido pela prefeitura e por

empreendedores do setor turístico. A cidade já conta com infra-estrutura de apoio

turístico, operadores de mercado, atrativos culturais e naturais e possui um plano de

turismo coordenado pela Niterói Empresa de Lazer e Turismo (Neltur).

Como já foi destacado, no Engenho do Mato situam-se haras, sítios, ranchos

além de parte do Parque Estadual da Serra da Tiririca, o que dá condições para

realização de atividades de ecoturismo e de turismo rural em uma localidade

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considerada oficialmente urbana pela prefeitura de Niterói, mesmo possuindo

características rurais. Com o desenvolvimento do turismo responsável, outros

problemas podem ser amenizados ou mesmo solucionados, como: a degradação do

meio ambiente, a evasão da comunidade de origem local, o abandono de práticas

culturais tradicionais e a desigualdade social.

O Engenho do Mato sofreu historicamente com a evasão das famílias que

trabalhavam em atividades agrícolas devido aos conflitos por terra e especulação

imobiliária, mas há famílias antigas que permaneceram no movimento de resistência

ao processo de urbanização, conservando a tradição da vida no campo. O turismo

rural contribui para resgatar a cultura local e mitigar a descaracterização da cultura

rural, com a consequente internalização da noção de valor deste patrimônio intangível

e coletivo.

A atividade turística é garantida pelo interesse do homem em desfrutar

de recursos naturais, tecnologias e experiências socioculturais para seu lazer e

desenvolvimento pessoal ou social. Entende-se que a responsabilidade do

profissional do turismo é viabilizar a satisfação da demanda e pensar o

desenvolvimento do turismo pelos princípios da sustentabilidade econômica,

ambiental e sociocultural, incluindo os interesses da comunidade receptora no

planejamento do turismo, visando assim diminuir a desigualdade existente

entre empreendedores, população e governos.

No bairro Engenho do Mato acontecem atividades de lazer ligadas ao

ambiente do campo que somadas à presença da União dos Amigos Cavaleiros

e Amazonas de Niterói (UACAN) reforçam ainda mais o clima bucólico do

bairro com a realização de eventos envolvendo equinos. O estudo sobre essa

região torna-se relevante, pois através dele será possível diagnosticar as

potencialidades do Engenho do Mato e as melhores condições de se

desenvolver atividades turísticas nessa região de Niterói, contribuindo para sua

consolidação em um destino turístico.

A metodologia de pesquisa é descritivo-exploratória composta de duas etapas.

Sendo que a primeira refere-se à pesquisa bibliográfica com consultas às fontes

impressas e eletrônicas, referentes à literatura pertinente ao tema, a fim de

estabelecer o quadro teórico. A segunda compõe-se de uma pesquisa de campo de

amostragem intencional, com uso de questionários, respondidos por onze

empreendedores locais, envolvidos com objeto desta investigação, responsáveis pelos

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estabelecimentos comerciais mais relevantes para o desenvolvimento turístico do

bairro, de acordo com as indicações da Estação Ambiental Charles Darwin,

responsável pela operacionalização do senso turístico do Engenho do Mato1, em abril

de 2009.

O questionário aplicado apresenta um total de quinze questões objetivas e de

produção de respostas. As respostas objetivas, uma vez tabuladas, foram tratadas em

termos percentuais e as respostas dissertativas foram analisadas qualitativamente.

O presente trabalho compõe-se de cinco capítulos.

O capítulo introdutório apresenta o tema, a delimitação do problema, os

objetivos e a justificativa para esta monografia, além da metodologia e da hipótese

para a realização da pesquisa sobre as peculiaridades do Engenho do Mato, inserido

na área de especial interesse turístico da Região Oceânica de Niterói.

No segundo capítulo, procura-se verificar a configuração do turismo: os

conceitos mais usados de turismo, uma noção do sistema turístico e

classificações; uma passagem pelas dimensões do planejamento turístico de

base local; uma breve discussão sobre a definição de território rural e urbano; e

a relação e diferença do turismo rural e ecoturismo.

No terceiro, apresenta-se a pesquisa documental com características

gerais da região e socioculturais do território estudado, além da apresentação

da pesquisa de campo desenvolvida no Engenho do Mato por meio de

questionários aplicados com os empreendedores locais como agentes sociais

importantes para impulsionar o desenvolvimento turístico de base local no

bairro.

O quarto capítulo é dirigido à concepção da gestão de destinos turísticos; uma

análise da importância do planejamento estratégico e da cultura da cooperação para

gerar vantagens competitivas com foco na função social do terceiro setor e dos

empreendedores locais e à conscientização da importância da participação efetiva

destes agentes sociais organizados em clusters turísticos.

O quinto e último capítulo traz as conclusões a respeito da pesquisa

bibliográfica e da pesquisa de campo com os empreendedores locais, retomando a

hipótese do trabalho e construindo sugestões alternativas que considerem as

1 O Senso Turístico do Engenho do Mato (abril/2009) está na integra no anexo deste trabalho.

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possibilidades de turismo para a área do Engenho do Mato, pautadas no planejamento

estratégico de desenvolvimento turístico de base local.

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2 TURISMO: CONTEXTO E CONCEITOS

Neste capítulo procura-se apresentar o embasamento teórico para o campo

científico do turismo, destacando as diferentes definições e conceitos relativos ao

turismo e ruralidade. Longe de tentar findar em conceitos, a intenção é colocar as

possibilidades e a importância da continuação dessas discussões acadêmicas.

No ano de 2004, segundo dados da OMT (2005), o turismo teve uma evolução

surpreendente, atingindo 10% de crescimento global e chegando a ocupar o primeiro

lugar entre todos os segmentos da economia mundial.

No Brasil, o setor de turismo envolve cerca de seis milhões de pessoas que

aplicam seus esforços aos quatrocentos mil empreendimentos, em sua maioria micro,

pequenas e médias empresas. Segundo o Ministério do Turismo, o turismo movimenta

cinquenta e dois segmentos diferentes da economia, com a versatilidade de agregar

pessoas de todos os níveis de escolaridade, no trabalho formal e informal,

despontando como um dos mais importantes setores de geração de ocupação e

renda, conforme apontado no Plano Nacional de Turismo (PNT, 2003),

O turismo é uma das atividades mais significativas em todo o mundo e de

grandes impactos. Segundo a Organização Mundial do Turismo (OMT, 2001) esses

impactos estão classificados da seguinte forma: impactos econômicos, impactos

socioculturais e impactos sobre o meio ambiente. Todos esses impactos possuem

aspectos positivos e negativos. Portanto, o trabalho do profissional de turismo consiste

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em não só multiplicar os efeitos positivos, como também evitar ou minimizar os

negativos, a partir do planejamento turístico com base local, que pressupõe uma

gestão participativa que respeite o meio ambiente e correlacione o crescimento

sociocultural e econômico da localidade receptora.

2.1 CONCEITOS

O turismo como campo de estudo é considerado novo, se comparado à

outras áreas do conhecimento como matemática, filosofia e biologia. Consolidou-se

como fenômeno da sociedade contemporânea no início do século XX e por esse

motivo, a discussão sobre conceitos e terminologias ainda está longe de se esgotar.

O surgimento de novos autores que pesquisam o fenômeno do turismo

enriquece antigas definições de importantes estudiosos no período entre as duas

grandes guerras mundiais (1918-1938), por vezes restritivas e outras por demais

abrangentes, com conotação de viagem. Além disso, o turismo está vinculado a

pessoas e lugares, sendo um fenômeno eminentemente socioespacial.

Uma definição importante no estudo do turismo, que ocorreu no período das

duas grandes guerras, foi a de Hunziker e Krapf (1942), tendo sido a mesma adotada

pela Association Internationale dês Experts Scientificques Du Tourisme (AIEST), que

destacava ser o turismo “a soma de fenômenos e de relações que surgem das viagens

e das estâncias dos não residentes, desde que não estejam ligados a uma residência

permanente nem a uma atividade remunerada” (OMT, 2001. p. 37). Outros relevantes

pesquisadores analisaram e debateram essa temática, como os economistas

Gluksmann, Schwinck e Bormann, da Escola de Berlim (1919-1938). Também a

fizeram, mais adiante e com uma conotação de viagem, Burkart e Medlik (1981) e

Mathieson e Wall (1982) destacaram o caráter temporário da atividade, segundo

Machado (2007, p. 67-71).

O resultado dessas pesquisas, em consonância com a Conferência sobre

Viagens e Estatísticas de Turismo (Conferência de Otawa), organizada pelas Nações

Unidas (ONU), Organização Mundial de Turismo (OMT) e Governo do Canadá (1991)

para debater os sistemas de estatísticas e adotar uma série de recomendações

internacionais sobre as estatísticas de turismo, contribuiu para aprovação de

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definições e classificações oficialmente adotadas pela ONU, que foram publicadas

pela OMT (1995) no livro Introdução ao Turismo2.

O livro formalizou os aspectos da atividade turística e adotou a seguinte

definição: “o turismo compreende as atividades realizadas pelas pessoas durante suas

viagens e estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período

consecutivo inferior a um ano, por lazer, negócios ou outros”.

Devido ao caráter multidisciplinar do turismo, há uma busca por novas

definições por parte de vários setores econômicos e disciplinas acadêmicas, portanto

esse conceito não deve ser entendido como absoluto. A própria OMT reviu a definição

e na seguinte edição inseriu no final do conceito “e outros motivos que não estejam

relacionados com o exercício de uma atividade remunerada no lugar visitado” (OMT,

2005). O importante para a OMT é saber que os seguintes elementos devem compor a

compreensão de turismo:

• Os turistas se deslocam para fora do seu entorno habitual;

• A estada no destino não é permanente (pelo menos um pernoite e

inferior a um ano);

• Compreende as atividades realizadas durante a viagem e na estada;

• Inclui os serviços e produtos criados para satisfazer as necessidades

dos turistas;

• Não pode haver ganhos diretos do turista no destino turístico.

No entanto, pesquisadores com uma formação mais humanista não concordam

com a definição atribuída para turismo pela OMT, devido ao viés economicista que não

considera os aspectos geográficos de maneira destacada para compreensão de um

fenômeno de caráter socioespacial e sugerem outros conceitos como norteador da

compreensão de Turismo, tais como Tomé Machado (1997) que afirma ser o turismo:

Um fenômeno de caráter socioespacial que consiste no deslocamento espacial, temporário e voluntário, realizado de forma individual ou coletiva que apresenta como fator motivador fundamental a alteridade, alcançada na busca pela satisfação pessoal, podendo esta ser motivada pelo lazer, recreação, descanso, cultura e em casos específicos a saúde. Para isso, usufrui-se de uma localidade que apresenta em seus elementos espaciais condições de satisfazer seus desejos pessoais e alcançar a alteridade almejada, não exercendo

2 No Brasil o livro foi publicado pela editora Roca, São Paulo. Com direção e redação de Amparo Sancho.

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nenhuma atividade lucrativa, nem remunerada, gerando múltiplas inter-relações nas esferas social, econômica, cultural e ambiental no espaço onde o turismo se insere, seja o espaço emissor ou receptivo. (MACHADO, 2007, p. 73-74)

Para Beni existem três tendências para a conceituação de turismo: a

econômica, a técnica e a holística. O autor expressa sua opinião a respeito quando

diz:

Tenho conceituado turismo com um elaborado e complexo processo de decisão sobre o que visitar, onde, como e a que preço. Nesse processo intervêm inúmeros agentes de realização pessoal e social, de natureza motivacional, econômica, cultural, ecológica e científica que ditam a escolha dos destinos, a permanência, os meios de transporte e o alojamento, bem como o objetivo da viagem em si para a fruição tanto material como subjetivas dos conteúdos de sonhos, desejos, de imaginação projetiva, de enriquecimento existencial histórico-humanístico, profissional, e de expansão de negócios. Esse consumo é feito por meio de roteiros interativos espontâneos ou dirigidos, compreendendo a compra de bens e serviços da oferta original e diferencial das atrações e dos equipamentos a ela agregados em mercados globais com produtos de qualidades e competitivos. (BENI, 2004, p. 37).

Segundo a pesquisadora Marutschka Moesch, em sua dissertação de

mestrado, tese de doutorado e no livro sobre a produção do saber turístico:

O turismo constitui-se num fenômeno sociocultural de profundo valor simbólico para os sujeitos que o praticam. O sujeito turístico consome o turismo, por intermédio de um processo tribal, de comunhão, de realização, de testemunho, em um espaço tempo tanto virtual quanto real, desde que possível de convivência, de presenteísmo. O valor simbólico perpassado pela comunicação táctil desse fenômeno, reproduz-se, ideologicamente, quando os turistas comungam de sentimentos, reproduzidos pela diversão, e quando há a possibilidade de materialização do imaginário, por vezes individual em societal. (MOESCH, 2000 apud BENI, 2004, p. 41).

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O fato de o turismo estar ligado a cinquenta e seis atividades econômicas e

muitas atividades sociais humanas é um dos motivos para a existência de tantos

conceitos. Por conseguinte, não se pode limitar a visão de uma área de conhecimento,

sendo o mais importante a contextualização de acordo com a realidade apresentada.

2.2 SISTEMA DE TURISMO

Para se ter uma visão holística de turismo é importante estar atento à lógica do

seu funcionamento, sendo esta um conjunto complexo de inter-relações diferentes que

estão inseridas no que chamamos de sistema turístico.

Sistema porque é um conjunto de combinações complexas que formam um

todo integral. O pensamento sistêmico é imprescindível para organizar todos os

agentes que influenciam o turismo, que não podem passar despercebidos no

planejamento de um destino turístico, como o ambiente externo, atividades

econômicas relacionadas, políticas de governo, mercado interno, mercado externo e

organizações da sociedade civil. Estar preparado para as influências que cada uma

dessas relações pode aferir nos resultados do plano de turismo é ter um pensamento

sistêmico sobre o turismo.

Para Beni o objetivo do Sistema de Turismo (Sistur) é:

Organizar o plano de estudo da atividade de turismo, levando em consideração a necessidade [...] de fundamentar as hipóteses de trabalho, justificar posturas e princípios científicos, aperfeiçoar e padronizar conceitos e definições, e consolidar condutas de investigação para instrumentar análises e ampliar a pesquisa, com a conseqüente descoberta e desenvolvimento de novas áreas de conhecimento em turismo (BENI, 2004. p. 45)

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Dentro da teoria geral dos sistemas, têm-se dois tipos: sistemas fechados e

sistemas abertos.

O sistema fechado não dialoga com o ambiente externo, pois se esgota dentro

dos seus processos internos que não dependem de nada mais. Mas o turismo, como

visto anteriormente, é um fenômeno socioespacial. Não só o sistema turístico depende

das variantes externas para se nutrir, como os seus subsistemas agregados e

correlacionados interagem de forma contínua com o ambiente.

Para Petrocchi (1998, p. 57) “o sistema turístico, na condição de sistema social,

configura um processo contínuo de reciclagem”, ou seja, é um sistema inter-

dependente, que não consegue ser auto-suficiente.

A partir desse contexto fica mais fácil entender que o Sistur nos permite

visualizar três grandes conjuntos, como explica Beni (2004. p. 45): “o das relações

ambientais, o da organização estrutural e o das ações operacionais, bem como seus

componentes básicos e as funções primárias atuantes em cada um dos conjuntos”.

Segundo a OMT (2001) a atividade turística é composta por um conjunto de

elementos básicos: demanda, oferta, operadores de mercado e espaço geográfico.

No turismo denomina-se demanda os consumidores ou possíveis clientes que

compram os serviços ou produtos turísticos. Existem diferentes termos técnicos para

definir a demanda turística. Os mais utilizados são: turistas, excursionistas, visitantes e

viajantes. Essas definições variam de acordo com a motivação da viagem, o

deslocamento da sua residência habitual e o tempo de permanência no destino ou

atrativo turístico.

Segundo a OMT (2001) o excursionista é um turista que não pernoita no

destino visitado. O viajante é todo aquele que se desloca para fora do seu entorno

habitual, sendo o visitante uma classificação generalizada para viajantes.

Para melhor compreensão do destino turístico é necessário identificar quais

são as ofertas turísticas do lugar. Para isso existe uma ferramenta de planejamento

conhecida como inventário da oferta turística, um registro das informações pertinentes

de cada estabelecimento relacionado. Para a OMT (2001. p. 43) oferta turística se

define como: “o conjunto de produtos turísticos e serviços postos a disposição do

usuário turístico num determinado destino, para seu desfrute e consumo”. A oferta

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turística é toda a forma de gastos da demanda no destino turístico, com alojamento,

alimentação, transporte, lazer, cultura, compras e etc.

As agências de viagens não estão incluídas no conceito de oferta turística, pois

são mediadoras entre a oferta e a demanda turística; estas estão inseridas no grupo

dos operadores de mercado, que a OMT define como:

Aqueles agentes que participam da atividade turística, geralmente, na qualidade de intermediários entre o consumidor final e o produto turístico, ainda que possam estender sua ação mediadora ao resto da oferta complementar. (OMT, 2001. p. 43)

O espaço geográfico no turismo é essencial, pois o deslocamento constitui um

dos elementos determinantes, é o lugar onde ocorre a experiência turística. Para

definir esse espaço, vários termos técnicos são utilizados por diferentes autores. Os

mais recorrentes são: espaço turístico e destino turístico.

O espaço turístico é o lugar onde as atividades turísticas são oferecidas e de

onde flui a demanda, que pode englobar unidades menores como zona turística, área

turística, complexo turístico, atrativos turísticos.

O destino turístico é o lugar para onde se dirige a demanda turística, onde

estão concentrados serviços e produtos planejados para atender principalmente as

necessidades dos turistas. Para a OMT (2001) o mais importante nas definições

atribuídas ao termo é especificar que esse destino constitui o objetivo do turista.

O destino turístico e seu entorno regional podem configurar um espaço

turístico, pois o turismo aparece como função de especialização econômica relevante.

A produção e o consumo turístico são predominantes nesse espaço, não que seja a

única atividade da cadeia produtiva, ao contrário, a ideia é que seja importante para as

relações de complementaridade e concorrência com outros setores produtivos.

Entretanto, no planejamento do desenvolvimento turístico de um espaço geográfico,

não se deve privilegiar apenas os aspectos funcionais envolvidos.

2.3 AS DIMENSÕES DO PLANEJAMENTO TURÍSTICO DE BASE LOCAL

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Este trabalho de conclusão de curso se baseia no conceito de turismo como

um fenômeno socioespacial, caracterizado por ser uma atividade fortemente

territorializada, sendo relevante analisar a dimensão territorial do desenvolvimento

turístico, tomando-se o planejamento de base local como objeto de estudo.

2.3.1 Elemento Geográfico: território urbano ou rural

A noção de território deve se constituir no elemento norteador para o

planejamento do desenvolvimento turístico com base local. É importante analisar o

conjunto dos recursos localizados que compõe o território no qual se efetiva a

consumação turística, como os agentes sociais, o capital físico, institucional e social e

a estrutura produtiva do espaço.

O território é definido por múltiplas relações de poder, tanto de poder material (econômico-político), no sentido de dominação, manifestando-se em muitas escalas relacionais, do local ao global; quanto de poder simbólico (sócio-cultural), no sentido de apropriação. (RODRIGUES, 2001. p. 17)

Segundo o Manual de Ecoturismo de Base Comunitária (WWF Brasil, 2003)

“planejamento é um processo dinâmico e contínuo de definição de objetivos, metas e

ações, de forma integrada entre os diversos agentes sociais de interesse.”

Consideram os seguintes elementos: “temporal (curto, médio e longo); político

(regulador, incentivador, financiador, integrado); administrativo (público ou privado);

social (participativo ou de gabinete); geográfico (internacional, nacional, regional, local

ou sítio).”

A intenção de conceituar os espaços geográficos, com foco no território, se dá

pela impossibilidade de planejar a atividade turística sem entender a ordenação

territorial do destino turístico, uma vez que o território constitui um recurso essencial

para a gestão do turismo. O território engloba a noção de espaço, mas não se

confunde com ela.

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O território é um conjunto dinâmico, delimitado por uma fronteira, na qual se combinam e reacionam os elementos físicos e humanos [...]. A diferenciação territorial é o resultado de um processo que conduz os agentes sociais a organizar, administrar e apropriar-se do espaço. [...] A noção de território manifesta, explicitamente, a existência de uma organização social, política e econômica que organiza e ordena o espaço. (CUNHA, 1998, apud Revista Turismo em Análise, 2006. nº17)

O território é abordado por uma perspectiva integradora como base da reflexão

que norteia este trabalho, pois é fundamental insistir, de acordo com RODRIGUES,

que “o território não é apenas espaço físico, palco das atividades humanas, tampouco

é inerte. A sociedade ao atuar no espaço, incorpora-o à sua própria dinâmica [...]

através de um processo contínuo e dialético”. (2001. p. 17)

O planejamento territorial ou de base local é uma atividade endógena, pois é

pensado a partir das necessidades da comunidade e persegue continuidades

históricas. Busca uma melhoria geral na qualidade de vida para toda a população da

zona e está baseada no desenvolvimento completo do seu potencial produtivo,

necessitando-se de visão sistêmica e multidisciplinar sobre o território.

Para Vasquez Barquero (1998, 2000) pode-se definir o desenvolvimento com base local como um processo de crescimento e transformação estrutural que, mediante a utilização de um potencial de desenvolvimento existente no território, conduz a uma melhora do bem-estar da população local e ou regional. Quando a comunidade é capaz de liderar este processo de transformação estrutural, diz-se que está em curso o desenvolvimento local ou endógeno. (RODRIGUES, 2001. p. 20)

Do ponto de vista da autonomia e da endogenia do desenvolvimento local,

Aguiar estabeleceu os seguintes pressupostos:

a) dimensionar as potencialidades internas do território; b) promover processos de inclusão social a partir do crescimento dos níveis de empregabilidade e de renda; c) promover, capacitar e treinar os recursos humanos com vistas à mobilização de suas virtualidades e habilidades para relações empreendedoras; d) trabalhar para seu

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próprio desenvolvimento a partir de um esforço endógeno e autônomo de organização social; e) dimensionar a ociosidade dos recursos humanos e naturais e do capital social básico ou economias externas existentes. (2001, p. 104)

Os territórios no Brasil são administrados de acordo com três esferas do

governo: federal, estadual e municipal. As características sócio-políticas são

importantes para analisarmos os limites geográficos, a legislação que incide na área, a

sobreposição das leis e as políticas desenvolvidas e incentivadas pelo poder público.

Outro fator importante é identificar as características culturais e sociais do

território para definir se está localizado em espaço urbano ou rural.

No Brasil, de acordo com o aspecto político, urbano é quem habita o perímetro

urbano do município, delimitado segundo a legislação municipal. Mas a cobrança de

impostos (IPTU) a preços diferenciados para as zonas rurais e urbanas pode ter

contribuído para o crescimento das zonas urbanas, mesmo estas tendo fortes

características rurais. Deste modo, considerar apenas o elemento político como

representativo de um estudo de planejamento territorial seria uma maneira simples de

definir um contexto que é complexo pelas inúmeras relações sociais e culturais

inseridas no espaço.

Para entender as modalidades de turismo, como ecoturismo e turismo rural,

faz-se necessário estabelecer a distinção entre urbano e rural, uma vez que a

delimitação dessas zonas constitui assunto complexo, mas de fundamental

importância. A confusão que existe no mercado e no meio acadêmico quanto ao uso

adequado desses termos demonstrou a importância em esclarecer as suas diferenças,

semelhanças e abranger as suas possibilidades.

A zona rural deve ser entendida dentro do contexto socioespacial, analisando

todas as relações que existem numa dinâmica contemporânea. Pois muitos lugares

deixaram de ser rurais com o avanço acelerado do planejamento urbanístico, ficando

espaços intermediários, com características rurais que permanecem no espaço urbano

e vice-versa; esta área de transição do rural para o urbano é conhecida como franja

urbana.

Uma questão interessante levantada por Rodrigues (2001. p.106-107) é “qual é

a relação do proprietário ou do empreendimento com o entorno onde a atividade se

realiza?”. O autor defende que essa relação ajudará a definir se existe uma ligação

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histórica / afetiva ou meramente comercial com o lugar. O mesmo autor sugere o uso

do termo periurbano quando, por exemplo, as instalações de lazer, antes de cunho

rural, tenham sofrido modificações no uso, como antigos haras que, mudando de

função, hoje são adaptados e alugados para festas de casamento.

2.3.2 Turismo Rural, Ecoturismo e Turismo Ecorrural

O turismo rural é uma atividade nova no Brasil, portanto as análises não são

conclusivas quanto ao seu conceito. Entende-se que este conceito não incorpora

qualquer manifestação de turismo em espaços rurais.

Uma das maiores dificuldades encontradas para definir se a atividade que

ocorre no espaço rural é turismo rural, é a falta de consenso na sua conceituação, até

mesmo pela confusão em torno da concepção contemporânea dos qualificativos rural

e urbano.

Para Tulik (2003. p. 13) existem algumas questões que merecem ser

consideradas para avaliar o turismo rural, como: “o uso de termos como área, espaço,

zona e meio; critérios para delimitar o urbano e o rural; características e

transformações do espaço rural.”

Há quem considere as atividades e funções urbanas (industriais e serviços) e

as rurais (agropecuária) para definir turismo rural, ressaltando a dualidade entre os

espaços, sem pensar nos pontos convergentes com as mudanças que ocorrem nesse

espaço.

Outra forma de analisar é pelo tamanho e características demográficas da

região. O mais comum é a utilização da delimitação do perímetro urbano, por ser um

critério político-administrativo.

Trabalhar com essas classificações não pode ser algo simplista, apesar de

termos indicadores que apontem para uma determinada definição. Cada caso é único,

com características peculiares que devem ser analisadas de forma endógena e

considerando uma análise macroambiental da área.

Os modelos europeus nem sempre possibilitam sua aplicação em outras

localidades, por este motivo não serão utilizadas referências de casos na Europa. Será

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estudado, neste trabalho, um espaço localizado no Brasil, uma vez que este possui

outra conjuntura político-econômica, com a dimensão territorial de um continente,

tendo recebido imigrantes de várias culturas.

Cunha observa que a definição da zona rural deve, preferivelmente, respeitar suas características sociais, culturais e ambientais. Percebe-se, claramente, a idéia, que é consenso entre os especialistas, de zona rural englobando áreas de produção e áreas naturais. Já outros autores como Silva defendem a idéia de que não é a ocupação de cunho agrícola que vai delimitar se é rural, pois o meio rural no Brasil ganhou novas funções e novos tipos de ocupações. (TULIK, 2003. p. 23-24)

São muitas as definições adotadas para turismo rural e surgem novas

nomenclaturas para adequar melhor essas atividades, como: turismo em espaço rural,

agroturismo e ecoturismo. Os diferentes termos são usados de acordo com a origem e

o referencial teórico de cada autor. Todos são pertinentes, se complementam, mas

não esgotam as possibilidades para chegar a um consenso. Essas definições têm em

comum três características, segundo Graça (2001. p. 40): “conservação do patrimônio

natural e cultural; atividades baseadas nas potencialidades humanas e ambientais

locais; pequena dimensão das infra-estruturas de apoio às atividades turísticas.”

Segundo Graziano da Silva, Vilarinho e Dale (1998. p. 11-47), “o turismo rural é

composto por atividades que se identificam com as especificidades da vida rural, ou

seja, atividades que valorizam o ambiente rural, a economia e a cultura local.”

Os conceitos de agroturismo e ecoturismo se diferenciam pelos seguintes

fatos: o agroturismo desenvolve atividades internas à propriedade, que geram

ocupações complementares às atividades agrícolas e o ecoturismo baseia-se em

atividades realizadas em áreas naturais preservadas, com o objetivo de estudar,

admirar e desfrutar a flora e a fauna, assim como qualquer manifestação cultural

(passada ou presente) que ocorra nessas áreas. (CAMANHOLA e GRAZIANO da

SILVA, 1999, p. 09-47).

Entendendo o Turismo em Espaço Rural (TER) na sua forma mais

institucionalizada, de acordo com o Decreto Lei nº 256/86, o turismo rural, o

agroturismo e o turismo de habitação são apresentados como modalidades do TER.

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Posteriormente, o Decreto Lei nº 169/97 revoga a legislação anterior e cria novas

modalidades de turismo, passando a considerar as atividades que visam à divulgação

das características e tradições regionais, designadamente o seu patrimônio, os

itinerários temáticos, o folclore etc. Neste contexto:

O turismo rural assume a forma de aproveitamento turístico em casas rústicas com características próprias do meio rural onde se insere, situando-se em aglomerado populacional ou não longe dele. E o agroturismo corresponde à utilização de casas de habitação integrados em explorações agrícolas ou em formas de animação complementares. (GRAÇA, 2001. p. 38)

Uma das dificuldades encontradas deve-se ao fato de esta atividade ocorrer na

maioria das vezes em propriedades privadas, sujeitas a diversos interesses. No Brasil,

apesar da grande inovação expressa pelo novo rural, não há políticas públicas que

incentivem o setor do turismo e do lazer, essas iniciativas estão a cargo,

principalmente, dos empreendedores privados. Para Aguiar (2007. p.111) “há que se

desburocratizar e democratizar todo processo de gestão, de crédito, de incentivo e de

assistência técnica às atividades da agricultura familiar e turística, assim como, de

produção e circulação dos bens por elas produzidos.”

Outra possibilidade é através da existência de um Parque Natural no espaço

rural como facilitador no processo de gestão do turismo, formatando-se produtos

alternativos e atraindo incentivos governamentais e financiamentos privados.

Apesar das várias definições, o turismo rural aparece fortemente ligado à

natureza, na busca pela diversidade de recursos naturais, levando-se em conta o

lugar, considerando suas características rurais. Como o ecoturismo e o turismo rural

muitas vezes ocorrem no mesmo espaço, a confusão é ainda maior.

Autores brasileiros, como Silva, Carlyle e Dale, julgam ser mais apropriado referir-se à totalidade dos movimentos turísticos que se desenvolvem no meio rural com as expressões Turismo no Espaço Rural ou Turismo nas Áreas Rurais. Propõem que a expressão Turismo Rural seja reservada para aquelas atividades que, em maior ou menor grau, se identificam com as especificidades da vida rural, seu hábitat, sua economia e sua cultura. (TULIK, 2003. p. 42)

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Para Rodrigues (2001. p. 103) é fundamental considerar os seguintes fatores:

Processo histórico de ocupação territorial; a estrutura fundiária; características paisagísticas regionais; estrutura agrária com destaque para as relações de trabalho desenvolvidas; atividades econômicas atuais; características da demanda; e, tipos de empreendimentos.

A expressão turismo rural deve estar ligada, além do espaço, ao estilo de vida

e à cultura rural. A comercialização do típico se constitui como reinvenção do rural

para formatação de novos produtos turísticos. No Brasil, observa-se marcante a

influência européia, relativa a qualquer manifestação de turismo no espaço rural, como

mostra o Manual Operacional do Turismo Rural:

O Brasil adotou para o Turismo Rural um conceito múltiplo – um turismo diferente, turismo interior, turismo doméstico, turismo integrado, turismo endógeno, turismo alternativo, agroturismo e turismo verde. O Turismo Rural em todas as suas formas. (EMBRATUR, 2001, s.p.)

No entanto, os modelos de implantação, organização e desenvolvimento do

turismo rural apresentam diferenças significativas entre Portugal e Brasil, por exemplo.

O pesquisador português Sirgado, em visita ao Brasil, constata a diferença na imagem

de turismo rural e a dificuldade de dissociá-la do ecoturismo:

O próprio conceito de turismo rural tem no Brasil um sentido mais abrangente, envolvendo a fruição dos recursos rurais e as atividades desportivas e ecológicas, bem como a dimensão relativamente intangível da cultura e do modo de vida das comunidades rurais e/ou da montanha. (SIRGADO, 1999 apud RODRIGUES, 2001. p. 104)

Assim, tomando-se como ponto de referência a escala municipal, no Brasil

torna-se bastante difícil distinguir o turismo rural do ecoturismo. Quando o hibridismo é

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muito acentuado, Rodrigues (1998) propõe a denominação de turismo ecorrural, como

é o caso da região sudeste, cujo patrimônio cultural é muito rico devido aos ciclos do

ouro, do diamante e do café. Os roteiros turísticos são explorados com base em eixos

temáticos de difícil classificação por modalidades. (RODRIGUES, 2001. p.103-104)

A ideia de turismo ecorrural proposta por Rodrigues (1998, p. 94 apud

PORTUGUEZ, 1999, p. 77) consiste:

Numa prática de turismo alternativo ao turismo de massa, que atende aos interesses de pequenos grupos que se deslocam por “áreas naturais” protegidas, bem como pelos espaços ditos rurais, cujas características fujam ao “fenômeno urbano”.

Independentemente do sentido utilizado, o turismo rural possibilita o aumento

de renda para os moradores da região, ajuda a evitar o êxodo rural e promove a

valorização da cultura local. Segundo Aguiar (2007. p. 110) “há que se dar ênfase à

associação de pessoas em vez da associação de capitais na economia em tela”.

O ecoturismo é fortemente caracterizado por atividades que ocorrem em áreas

naturais, não dependendo se em zona urbana ou rural. A atividade do ecoturismo deve

abranger, em sua conceituação, a dimensão do conhecimento da natureza, a

experiência educacional interpretativa, a valorização das culturas tradicionais locais e

a promoção do desenvolvimento sustentável. Dessa forma, segundo as diretrizes para

a política nacional de ecoturismo, conceitua-se ecoturismo como:

Um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas. (Ministério da Indústria do Comércio e do Turismo e Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, 1994. p.4)

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Para Beni (2004. p. 427) ecoturismo é a “denominação dada ao deslocamento

de pessoas para espaços naturais delimitados e protegidos pelo Estado ou

controlados em parceria com associações locais e ONGs.”

O ecoturismo, por ocorrer em ambientes naturais, pode ser confundido com

turismo ecológico ou turismo verde. A diferença desses segmentos para o de

ecoturismo é a existência de uma infra-estrutura básica para atendimento dos

visitantes e a preocupação em envolver a comunidade, fazendo um trabalho de

conscientização ambiental. O turismo ecológico é compreendido como:

Denominação dada ao deslocamento de pessoas para espaços naturais, com ou sem equipamentos receptivos, motivadas pelo desejo/necessidade de fruição da natureza, observação passiva da flora e da fauna, da paisagem e dos aspectos cênicos do entorno. Nesse sentido pode-se chamar de Turismo de natureza, ou Turismo verde. (BENI, 2004. p. 428)

Em 1989, o turismo de natureza gerou aproximadamente 7% de todos os

gastos com viagens internacionais, segundo estimativas da Organização Mundial de

Turismo (WTO, 1992). Segundo o Guia de Planejamento de Gestão do Ecoturismo

(2001) “as áreas naturais juntamente com os elementos culturais existentes

constituem grandes atrações, tanto para os habitantes dos países aos quais as áreas

pertencem como para turistas de todo o mundo.”

Em contrapartida aos riscos ambientais e comunitários, o ecoturismo apresenta

significativos benefícios econômicos, sociais e ambientais, segundo o estudo das

diretrizes para a política nacional de ecoturismo, tais como:

Geração local de empregos; fixação da população no interior; diversificação da economia regional, através da indução do estabelecimento de micros e pequenos negócios; melhoramento das infra-estruturas de transporte, comunicações e saneamento; criação de alternativas de arrecadação para as Unidades de Conservação; diminuição do impacto sobre o patrimônio natural e cultural; diminuição do impacto no plano estético-paisagístico; e, melhoria nos equipamentos das áreas protegidas. (Ministério da Indústria do Comércio e do Turismo e Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, 1994. p.17)

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O ecoturismo é capaz de salvaguardar o patrimônio cultural e natural dos

destinos, se for feito um planejamento de desenvolvimento turístico responsável de

médio a longo prazo. Devem estar envolvidas uma equipe multidisciplinar e a

comunidade local, estando o planejamento alinhado às diretrizes e regulamentos do

plano de manejo da área, com ações contínuas que garantam um funcionamento

harmônico.

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3 GESTÃO DE DESTINOS TURÍSTICOS

O planejamento turístico é uma atividade com alta dependência político-

institucional e de grande importância para o desenvolvimento e promoção do território

para gerar impactos positivos.

O turismo mobiliza diferentes atividades econômicas, por isso é comum ocorrer

divergências de interesses entre os empresários, os agentes sociais envolvidos no

sistema de turismo, como o poder público (primeiro setor) e os representantes da

sociedade civil organizada (terceiro setor), que têm o papel de mediar os interesses da

comunidade e gerir as intervenções necessárias para desenvolver o destino turístico.

A pesquisa exposta no capítulo seguinte expressa as divergências de interesses e a

falta de definições no sentido de estipular as responsabilidades de cada agente

envolvido no desenvolvimento da atividade turística no Engenho do Mato. Segundo um

estudo realizado pelo Sebrae em 2004, o turismo estimula cinquenta e seis atividades

produtivas, e a maioria delas é realizada por pequenas empresas.

O maior desafio no desenvolvimento turístico de base local é aliar todas as

forças para convergirem em uma mesma direção, ou seja, a cooperação

intergovernamental, interempresarial e público-privada; mas para isso é necessária a

compreensão do papel dos profissionais, gestores, empresários e cidadãos e a

participação efetiva de todos no planejamento.

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3.1 A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

No mundo contemporâneo, pós-moderno, de relações dinâmicas e acelerado

avanço tecnológico, as transformações são constantes frente aos desafios da

globalização; a sociedade cria mecanismos para prever, estimar e controlar possíveis

problemas através de estratégias, onde o planejamento passa ser fundamental para

encarar as mudanças apresentadas nesse cenário.

O peculiar perfil rural do Engenho do Mato, estando localizado próximo de

grandes centros urbanos como o do Rio de Janeiro e de Niterói, faz com que seja

ainda mais complexo o entendimento sobre as dinâmicas das mudanças nas relações

e no território, tendo em vista o acelerado avanço da expansão urbana. Assim, o

planejamento estratégico do destino turístico torna-se ainda mais importante para

garantir a sustentabilidade e a competitividade, a partir da identificação das

características socioculturais do território e dos interesses dos envolvidos. A figura a

seguir ilustra a ruralidade na paisagem local.

Fonte: Arquivo pessoal

Figura 03: Parque Rural do Engenho do Mato

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Para Vignati (2008, p.43) “o objetivo do planejamento de destinos turísticos é

transformar recursos em produtos turísticos e produtos em ofertas competitivas”.

Segundo o autor, os recursos são os atrativos do território, podendo ser seu povo e as

riquezas materiais e imateriais. Quando um recurso passa a ter acessibilidade, está à

disposição do público, transforma-se em produto, e este quando é vendido fora da

localidade, comercializado no mercado, converte-se em oferta. O Engenho do Mato

pode ser entendido como um produto turístico, mas que ainda tem muito recurso

disponível para aumentar em número e qualidade este produto. Assim sendo,

entende-se que o bairro poderá ser um diferencial de oferta da cidade de Niterói no

mercado do turismo.

Para Petrocchi (1998, p.31-34) a estratégia “é um conjunto harmonioso e

integrado de objetivos que são de importância fundamental para a sobrevivência

satisfatória e a longo prazo de uma organização” e no planejamento turístico deve

gerar inovação, diversificação e planejamento financeiro com objetivos de longo prazo.

Portanto, um bom planejamento estratégico não se baseia em criar ações para atingir

resultados esperados o mais rápido possível, de acordo com a opinião de alguns

especialistas. O autor ainda afirma ter um ceticismo sobre os planos de longo prazo no

setor turístico, na administração pública e privada, sendo nesta última devido à

pressão de certas empresas por lucros imediatos, mas, principalmente nas estratégias

criadas pelo poder público, que costumam durar o tempo de um mandato político.

Neste sentido, destaca-se o histórico das políticas praticadas, no Engenho do

Mato, as quais não levavam em consideração as características sociespaciais do

bairro, uma vez que as propostas de desenvolvimento se alteravam de acordo com o

interesse de cada grupo político que assumia a administração local. No entanto, hoje

percebe-se um maior interesse político no desenvolvimento de diretrizes alinhadas

com os princípios de sustentabilidade, o que sugere continuidade nos projetos

deliberados pela administração. Estes fatos podem ser comprovados pelo teor da Lei

2699/2010, sancionada pela Câmara dos Vereadores, que reconhece o Circuito

Turístico Caminho de Darwin dentro do Parque Estadual da Serra da Tiririca, situado

em parte dentro do Engenho do Mato.

O avanço dos estudos do turismo no Brasil levou à mudança de paradigmas na

gestão de destinos turísticos, que passa a ter uma política de continuidade com

perspectivas de médio e longo prazos, como no caso do Plano Aquarela de marketing

turístico internacional do Brasil, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Turismo

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(Embratur) e Ministério do Turismo (MTur) inicialmente para o período de 2003-2006,

tendo continuidade em 2007-2010 e atualmente, estendendo-se para 2010-20203.

Todo produto ao virar oferta tem um tempo de duração no mercado. Uma

estratégia de venda não é suficiente para se manter competitivo, é necessário analisar

a opinião do mercado, da sociedade civil, do setor empresarial, do terceiro setor e dos

gestores públicos para ampliar as possibilidades de aceitação do produto e o tempo de

duração. Um exemplo de mudança de cenário no país foi com a constituição do Plano

Nacional de Turismo formulado pelo MTur com a participação de trinta e seis

organizações representativas do comércio, do Estado, da indústria e da sociedade

civil4.

Os planos de turismo citados não devem ser confundidos, pois há uma notável

diferença entre políticas de desenvolvimento e políticas de marketing de destinos

turísticos. As políticas de marketing são estratégias de promoção da oferta turística de

formação da imagem do destino. Neste trabalho o foco é no planejamento estratégico

de desenvolvimento turístico de base local, ou seja, um meio para facilitar a

organização do desenvolvimento sustentável do turismo (econômico, social e

ambiental), a partir do diagnóstico do território com a participação da comunidade

local.

O planejamento turístico para Hall (2004, p.30-31), portanto,

Ocorre de várias maneiras (desenvolvimento, infra-estrutura, uso do solo e de recursos, organização, recursos humanos, divulgação e marketing); estruturas (outro governo, organizações quase governamentais e não-governamentais); escalas (internacionais, transnacionais, nacionais, regionais, locais e setoriais) e em diferentes escalas de tempo (para desenvolvimento, implementação, avaliação e realização satisfatória dos objetivos de planejamento). [...] o planejamento turístico costuma ser uma combinação de considerações econômicas, sociais e ambientais que refletem a diversidade dos agentes que influenciam o desenvolvimento turístico.

O planejamento estratégico, para Vignati (2008, p.100), é importante na gestão

de destinos turísticos, pois exerce múltiplas funções, entre elas:

3http://www.turismo.gov.br/turismo/o_ministerio/publicacoes/cadernos_publicacoes/06planos_mkt 4 http://www.turismo.gov.br/turismo/o_ministerio/plano_nacional/

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É o principal instrumento da política de turismo; orienta e define políticas de crédito e incentivo; dá segurança a investidores, empresários e população, revelando um verdadeiro interesse do município pelo turismo; facilita a integração dos esforços públicos aos privados; direciona os destinos pelos caminhos da sustentabilidade e da competitividade turística; melhora a eficácia do destino turístico.

O plano de desenvolvimento turístico é um processo complexo e deve estar em

sinergia com todos os demais setores da economia, respeitando a existência dos

programas e projetos no território e alinhado com seus objetivos, como do Plano

Nacional de Turismo, Plano Diretor de Turismo do Estado e do Município e Plano

Urbanístico da Região.

A competitividade do destino turístico está mais relacionada à capacidade de

organização de processos e estruturas de uma economia criativa do que à quantidade

de recursos naturais e socioculturais do território. É importante fazer uma análise

macroambiental, mesmo se o planejamento proposto for de base local, como no caso

do Engenho do Mato, para estimular as vantagens comparativas com a região,

município ou pólo do entorno; a competitividade vai do local ao global, buscando

forças nas diferenças e semelhanças com a oferta do mercado onde está inserido.

Não existe uma fórmula perfeita para o planejamento de destinos turísticos. A

metodologia escolhida vai de acordo com o objetivo do plano e das características do

território, sendo uma ferramenta para minimizar os impactos negativos e aumentar a

competitividade do destino, mas não garante a resolução de todos os problemas

locais. O primeiro passo é investigar o território em questão para identificar suas

peculiaridades, proposta desenvolvida neste trabalho, e classificá-lo como um novo

destino, analisando se está se reposicionando, ou se possui agentes específicos que

impeçam ou dificultem o desenvolvimento de um tipo de atividade turística. No caso do

Engenho do Mato, as características rurais são bem perceptíveis no comércio local,

como pode ser visto na figura seguinte:

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Fonte: Arquivo pessoal.

Figura 04: Selaria – Trabalho Artesanal.

Segundo Vignati (2008, p.102-103) “a metodologia não é um instrumento

estático e precisa adaptar-se às condições do destino que se pretende desenvolver”, o

mesmo autor apresenta uma alternativa de metodologia baseada em quatro fases:

delimitação do âmbito territorial, diagnóstico, estratégias e ações e indicadores de

controle e sustentabilidade.

Já Petrocchi (2008, p.51) aponta dez etapas que devem ser observadas no

planejamento: “análise macroambiental; elaboração de diagnóstico; definir os

objetivos; determinar as prioridades; identificar os obstáculos, as dificuldades; criar os

meios, os mecanismos; dimensionar os recursos necessários; estabelecer

responsabilidades; projetar cronograma; estabelecer pontos de controle.” No caso do

planejamento turístico a análise macroambiental pode ser externa e interna, a primeira

significa fazer uma análise de mercado, definir ameaças e oportunidades, e a interna é

composta pelo inventário e pontos fortes e fracos do destino turístico. A criação de

meios e mecanismos resulta na formulação de estratégias de marketing e de

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comunicação e, quando definidas as responsabilidades dos agentes sociais, devem

ser criados planos setoriais para desenvolvimento socioeconômico de destino turístico.

Hall (2004) chama atenção para as formas de participação no planejamento

turístico, o preparo da comunidade, os arranjos de poder e interesses criados para

administrar o destino e se as estruturas de governo públicas estão realmente abertas a

intervenções; e o considera como produto de um conjunto de relacionamentos, ao

publicar que:

A escolha das técnicas empregadas no planejamento turístico, na identificação de indicadores, na seleção de objetivos e na produção de resultados (que convencionalmente é reconhecido como um plano na forma de um documento) é determinada pelo conjunto de relacionamentos que existem entre as várias partes interessadas e pelo grau em que são inclusivos ou exclusivos. (2004, p.92-93)

3.2 A COOPERAÇÃO DOS AGENTES NO DESENVOLVIMENTO DE BASE LOCAL

No mercado de trabalho é recorrente escutar que o mercado está muito

competitivo, que é necessário criar vantagens competitivas e estar em constante

qualificação e atualização para se manter competitivo. A competição faz parte do

sistema econômico capitalista vigente, o mercado do livre comércio é ajustado pela

concorrência, e a tecnologia da informação contribui para aceleração dos processos

de mudança e inovação, levando a um cenário contemporâneo dinâmico e

competitivo, um ringue de disputas por posições.

Não diferente do que ocorre nos dias atuais, na realidade apresentada, tendo

como cenário os ambientes criados pelos empreendedores do Engenho do Mato,

parece contraditório trabalhar a cooperação de empreendimentos, uma vez que foi

detectado na pesquisa de campo, apresentada no próximo capítulo, que não há

articulação entre tais empreendedores no sentido de realizar um projeto de interesse

único e que sugira retorno para todos, de forma concisa. O modo de pensar

dicotômico das dualidades, proveniente da visão disseminada por Descartes, que se

alinha à realidade acima exposta, pode impedir a construção de novos modelos de

negócio, ou seja, uma empresa que deseja manter-se competitiva poderia se aliar a

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outras empresas afins para elaborarem estratégias de cooperação mútua e se

destacarem em seu segmento ou localidade e como consequência ganhariam maior

visibilidade a um menor custo, cooperando para se tornarem mais competitivas.

Para Vignati (2008, p.50) “cooperação é um acordo em que organizações,

grupos e indivíduos trabalham em conjunto na realização de uma tarefa específica

para atingir um objetivo de interesse comum.” E pode ser coordenada quando os

objetivos dos participantes estão muito bem relacionados. Para Brown (1994, p.16)

pode-se definir como uma situação de cooperação:

Aquela em que os objetivos dos indivíduos, numa determinada situação, são de tal natureza que, para que o objetivo de um indivíduo possa ser alcançado, todos os demais deverão igualmente atingir seus respectivos objetivos.

Em análise sobre situações cooperativas e competitivas, Brotto (2001, p.27)

destaca as seguintes características comparativas:

Situação Cooperativa Situação Competitiva

Percebem que o atingir de seus objetivos é,

em parte, conseqüência da ação dos outros

membros.

Percebem que o atingir de seus objetivos é

incompatível com a obtenção dos objetivos

dos demais.

São mais sensíveis às solicitações dos

outros.

São menos sensíveis às solicitações dos

outros.

Ajudam-se mutuamente com frequência. Ajudam-se mutuamente com menor

frequência.

Há maior homogeneidade na quantidade de

contribuições e participações.

Há menor homogeneidade na quantidade de

contribuições e participações.

A produtividade em termos qualitativos é

maior.

A produtividade em termos qualitativos é

menor.

A especialização de atividades é maior. A especialização de atividades é menor.

Fonte: Brotto, 2001. Jogos Cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência.

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Figura 05: Quadro - Situação Cooperativa e Situação Competitiva

O desafio na cooperação não é técnico, mas cultural, pois a sociedade ainda

não privilegia o aprendizado do trabalho em conjunto como forma de alcançar

resultados, do benefício mútuo; além da dificuldade em se estabelecer relações de

confiança, com transparência e equidade entre os membros. Este fato aplica-se na

realidade encontrada no Engenho do Mato. Faz-se necessário, portanto, para efetiva

mudança nos costumes e cultura, um investimento a longo prazo em fomento e

conscientização de melhores práticas de empreendedorismo.

Para ampliar os benefícios no desenvolvimento dos destinos turísticos deve-se

planejá-lo com base local, ou seja, envolvendo a participação social e a cooperação

entre o Estado e demais agentes. O conhecimento prático da realidade local pelos

atores sociais é essencial, pois eles sabem as possibilidades e limitações do local, os

principais problemas e possíveis causas e efeitos, e em alguns casos, podem até

compartilhar responsabilidades com o Estado.

Para fortalecer a posição do destino turístico no mercado, algumas estratégias

baseadas na cooperação foram elaboradas por Vignati (2008, p. 127-133), para:

Reduzir a ameaça de novos destinos turísticos; reduzir a ameaça das alternativas ao turismo; melhorar a capacidade de negociação com fornecedores; melhorar a capacidade de negociação com os clientes; reduzir o grau de rivalidade das empresas no mesmo destino turístico; melhorar a eficácia da política e da gestão de destinos turísticos.

3.2.1 O Terceiro Setor

No Brasil, a denominação “terceiro setor” é utilizada para identificar as

atividades da sociedade civil que não se enquadram na categoria das atividades

estatais, e em linhas gerais, é constituído por organizações da sociedade civil de

direito privado e sem fins lucrativos, que realizam atividades complementares às

públicas, visando contribuir com a solução de problemas sociais, em prol do bem

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comum. No Engenho do Mato, há uma Organização Não Governamental atuante que

busca desenvolver projetos de proteção ambiental e desenvolvimento de atividades

alinhadas com os princípios da sustentabilidade. Este é um ponto positivo para o

desenvolvimento do bairro como destino turístico.

O terceiro setor torna-se necessário pelas características do sistema

econômico capitalista, principalmente, em países considerados subdesenvolvidos ou

em desenvolvimento, com a ausência do Estado no que tange a garantia dos direitos

sociais e humanos. Assim, o terceiro setor passa a ter uma grande importância para o

desenvolvimento socioeconômico do país. Cabe destacar que o terceiro setor não

substitui e não assume as responsabilidades do estado.

Para o setor empresarial, o terceiro setor pode fortalecer o ambiente

competitivo tornando-o mais próspero, que se mostra cada vez mais interessado nas

parcerias com o terceiro setor, através do financiamento de projetos sociais que

possam beneficiar a comunidade e os mercados consumidores.

Uma das maiores dificuldades desse setor é conseguir se organizar de forma

estratégica, usar as ferramentas de gerenciamento de projetos de forma similar às

grandes instituições privadas sem deixar de ter um foco social e democrático.

3.2.2 Os Empreendedores Locais

Adotar a cooperação nas estratégias de trabalho é o que distingue um mero

profissional ou investidor de alguém que empreende de fato. É preciso estimular a

troca de experiências e compartilhar o conhecimento para o desenvolvimento

progressista do local, com protagonistas sociais no planejamento participativo e na

gestão compartilhada do destino turístico.

No desenvolvimento de destinos turísticos com base local a cooperação entre

as empresas antecede o momento de competição.

Como percebido na pesquisa de campo, existe interesse em participar de

forma cooperativa por parte dos empreendedores locais do Engenho do Mato, de

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atividades e projetos que objetivem o desenvolvimento do turismo sustentável, apesar

de não acontecer de fato.

As estratégias de cooperação, segundo o Sebrae Nacional, têm o objetivo de

fortalecer o poder de compras, compartilhar recursos, combinar competências, dividir o

ônus de realizar pesquisas tecnológicas, partilhar riscos e custos para explorar novas

oportunidades, oferecer produtos com qualidade superior e diversificada. De fato, essa

é uma estratégia que deve ser adotada pelos empreendedores da região, para que

possam investir e acreditar no desenvolvimento do turismo no Engenho do Mato.

Na gestão de destinos turísticos a cooperação entre os empreendedores locais

nas diferentes formas de organização (associações, redes, cooperativas, arranjos

produtivos locais ou clusters turísticos) podem aumentar o poder de negociação do

destino turístico, através de estratégias para ganhar representatividade nas decisões

políticas, negociar créditos com bancos e o Estado, participar de campanhas de

marketing e conseguir facilidades de pagamento; são algumas vantagens competitivas

que fortalecem a posição do destino turístico no mercado. Para Buhalis e Cooper

(1998) apud Hall (2004, p.234) esse tipo de organização em redes possibilitará que

empresas de turismo de pequeno e médio porte: “reúnam seus recursos a fim de

aumentar a competitividade, idealizem planos de marketing e gerenciamento

estratégico, reduzam os custos operacionais e aumentem seu know-how.”

3.3 CLUSTER TURÍSTICO

A palavra cluster não pode ser traduzida perfeitamente para o português, mas

a expressão Cluster Turístico é usada no sentido de indicar atividades afins que se

unem para desenvolver-se conjuntamente. Segundo Porter:

Os clusters são aglomerados de atividades produtivas afins, localizadas em determinado espaço geográfico e desenvolvidas por empresas autônomas de pequeno, médio e até de grande porte, intensamente articuladas, constituindo ambiente de negócios onde prevalecem relações de recíproca confiança entre as diferentes partes envolvidas. (2002, p. 13)

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O conceito de cluster pode ser empregado na definição de um arranjo produtivo

local segmentado, delimitado pelo espaço geográfico e pelas atividades econômicas

que possuem ligação na cadeia produtiva para beneficiar os envolvidos. Dessa forma,

o turismo também pode se organizar em clusters, aglutinando os empreendimentos

mais relevantes para o seu desenvolvimento limitado pelo território. Para Vignati:

Clusters, pólos e arranjos produtivos locais são agrupamentos de empresas, localizadas em um mesmo território, que apresentam uma oferta especializada e mantêm vínculos de cooperação, articulação e aprendizagem entre si com outros agentes locais, tais como o governo, associações de classe, instituições de crédito, ensino e pesquisa. (2008, p.147)

A partir da compreensão apresentada, o modelo de desenvolvimento turístico

de base local deve estar baseado nas vantagens da prática da cooperação por todos

os agentes locais envolvidos para gerar vantagens competitivas para os produtos e

serviços do destino, através da diferenciação pela qualidade e preço.

Tendo por base o mencionado no parágrafo anterior, é visível que a

característica rural reforçada pela existência da criação de equinos no Engenho do

Mato, em diferentes propriedades, é um cenário favorável à aplicação do modelo de

cluster. Este cenário possibilita aos responsáveis a troca de experiências em busca de

um padrão de excelência na prestação de serviços, bem como fornece subsídios para

que os mesmos possam negociar melhores preços junto aos fornecedores, reduzindo

custos e proporcionando aplicação de melhores preços aos produtos e serviços, na

relação final com o consumidor.

Para Beni (1999), “cluster é um conjunto de atrativos com destacado diferencial

turístico, dotado de equipamentos e serviços de qualidade, com excelência gerencial,

concentrado num espaço geográfico delimitado.”

O benefício mais evidente do desenvolvimento dos clusters turísticos está na

melhoria da comunicação entre os setores público, privado e sociedade civil e

ampliação de parcerias público-privadas; que pode resultar, por exemplo, em ajudar o

setor público na identificação eficaz das necessidades de investimentos e os

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pequenos e médios empreendedores locais a melhorar o acesso ao crédito, além de

fomentar a geração de trabalho, renda e processo de qualificação turística.

Fazendo um paralelo com as investigações realizadas por Porter (1995 e

1998), Vignati (2008, p. 152-154) identifica oito importantes vantagens competitivas

que o cluster turístico pode desenvolver, são elas:

Fortalecer a imagem do destino turístico; Promover maior tempo de permanência do turista; incentivar o turista a gastar mais; aumentar a satisfação do turista; fortalecer o poder de negociação com fornecedores; fortalecer o poder de negociação com os clientes; diminuir a vulnerabilidade diante de destinos turísticos concorrentes; promover a cooperação.

Os clusters turísticos podem ser formados pelas empresas de infra-estrutura

turística, comércio local, terceiro setor e empresas públicas, concentradas em um

determinado território com o objetivo comum de ampliar a competitividade econômica

das empresas locais.

Definidos os conceitos de destino turístico e cluster turístico percebe-se que o

primeiro desafio do planejamento turístico estratégico é organizar e gerir clusters

turísticos, a estrutura que vai sustentar as operações do destino turístico, para depois

comercializá-lo, como já mencionado em parágrafos anteriores, tendo por base os

empreendedores locais do Engenho do Mato.

A gestão de clusters turísticos faz parte de um sistema produtivo aberto, um

processo dinâmico, que deve ter um planejamento estratégico com base local, que

incentive processos de cooperação, inovação e empreendedorismo, atualizado com o

mercado de acordo com o seu ciclo de evolução. Segundo Gollub (2005) apud Vignati

(2008, p.60) “o cluster pode ser classificado segundo seu estágio no ciclo de vida em

três categorias: inicial, emergente e em expansão.”

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4 TURISMO NO ENGENHO DO MATO

A pesquisa refere-se ao bairro do Engenho do Mato, localizado na Região

Oceânica do município de Niterói (RJ), que vem passando por um processo de

urbanização acelerada, marcada pela mudança de toda sua zona rural para zona

urbana5, chegando em 1991 a uma taxa de crescimento anual de 10,6%, de acordo

com o Censo Demográfico (IBGE).

4.1 PESQUISA DOCUMENTAL

4.1.1 Caracterização Geral da Área

De acordo com o que foi destacado anteriormente, o Plano Diretor de Niterói,

Lei nº 1157 de 1992, alterada pela Lei 2123 de 2004, caracteriza-se como o principal

instrumento de intervenção urbana e ambiental do município, que estabelece diretrizes

urbanísticas para o desenvolvimento urbano e econômico, divide o município em cinco

regiões de planejamento baseando-se em critérios de homogeneidade em relação à 5 IBGE, Primeiros Resultados do Censo 2010. Acesso em 18 de fevereiro em: www.ibge.gov.br

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paisagem, tipologia, uso das edificações e parcelamento do solo, considerando-se

ainda, aspectos sócio–econômicos e físicos, em especial, as bacias hidrográficas. São

elas: Região Norte, Região Praias da Baía, Região Pendotiba, Região Oceânica e

Região Leste.

A Região Oceânica era conhecida como região de Itaipu. Nesta região

sediavam-se fazendas de ampla dimensão territorial formando um grande

hortifrutigranjeiro. Os nomes destas propriedades rurais deram origem aos nomes de

ruas e bairros da cidade. A produção destas fazendas abastecia o centro urbano de

Niterói e do Rio de Janeiro. Havia também uma extensa colônia de pescadores, devido

à existência de duas lagoas, das praias de mar aberto e da cultura caiçara dos

indígenas.

Em 1890, a região de Itaipu foi incorporada ao município de São Gonçalo, e em 1943 é reincorporada ao município de Niterói, que ficou dividido em dois distritos: o da sede (compreendendo duas zonas e bairros – estritamente urbanos) e o de Itaipu (essencialmente rural). Desde então a região de Itaipu transformou-se acentuadamente: “com os loteamentos de grandes áreas, surgiram bairros inteiros da noite para o dia, estimulados pela desenfreada especulação imobiliária” (WEHRS, 1984, p. 205 e 207 apud MENDONÇA, 2006, p. 12).

Segundo Paz (2006, p. 08-12) em 1944 foi encaminhado um oficio ao governo

do Estado apresentando o "Plano de Urbanização das Regiões Litorâneas de Itaipu e

Piratininga", que apesar de não ter sido implantado, estimulou muitas empresas a

investir na região. Em 1945 foi aprovado o maior loteamento da época, "Cidade

Balneária de Itaipu", de propriedade da Cia. de Desenvolvimento Territorial. Outro

loteamento importante surge em 1946, o "Vale Feliz", com o parcelamento da primeira

gleba da Fazenda do Engenho do Mato.

O autor afirma em seu trabalho que a construção da Ponte Rio-Niterói, em

1974, intensifica a construção imobiliária e redireciona a ocupação para áreas

expansivas da cidade, como a Região Oceânica, levando à urbanização de

Piratininga. Em 1976 foi aprovado o "Plano Estrutural de Itaipu", da Veplan

Residência, substituindo parte do antigo Loteamento "Cidade Balneária de Itaipu",

marco do processo de transformação ambiental da área, pois previu o aterro das

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margens da lagoa de Itaipu e a abertura do Canal de Camboatá, interligando as duas

lagoas e a passagem permanente para o mar, ampliando as terras loteáveis em volta

da Lagoa de Piratininga, com o seu assoreamento.

A Região Oceânica, originalmente, era recoberta de vegetação arbustiva

característica da mata atlântica, onde ainda hoje existem manchas remanescentes

como a que recobre a Serra Grande e a Serra da Tiririca. Drenada pelas bacias dos

rios Jacaré e João Mendes entre outros, todos tributários do sistema lagunar

Piratininga – Itaipu. A região se caracteriza pela alternância de baixadas, restingas,

morros, costões rochosos e algumas escarpas. Há extensas áreas de planícies muito

baixas que dificultam o escoamento superficial ocasionando alagamentos e

transbordamentos de rios e canais por ocasião de chuvas mais fortes.

Com a construção da ponte, Niterói passa a ser a grande zona de expansão

urbana da Cidade do Rio de Janeiro. Contando com uma qualidade de vida

comparável a dos bairros de zona sul da cidade vizinha, no que concerne à beleza

natural da orla. Na ocasião, por ainda não ter sido objeto de uma grande especulação

urbana, Niterói começou a atrair novos moradores, que acompanharam a tendência de

atração para a Região Oceânica, como observado na tabela 1.

Tabela 1 - População da Região Oceânica e Taxa Média Anual de Crescimento

Fonte: Elaborado pelo autor, com base no Censo Demográfico 1970, 1980, 1991 e 2000.

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Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 06: Gráfico - Evolução da População Residente na Região Oceânica

Atualmente, a Região Oceânica é composta pelos bairros do Cafubá,

Camboinhas, Engenho do Mato, Jardim Imbuí, Itacoatiara, Itaipu, Jacaré, Maravista,

Santo Antônio, Piratininga e Serra Grande e limita-se com o município de Maricá e

com as Regiões Leste, Pendotiba e Praias da Baía, como podemos ver na Figura 1.

Além do trecho de litoral banhado pelo Oceano Atlântico onde se destacam quatro das

mais importantes praias do município, Piratininga, Camboinhas, Itaipu e Itacoatiara.

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Fonte: www.nitvista.com.br

Figura 07: Mapa das Regiões de Niterói

4.1.2 Aspectos Legais da Região

Toda a Região Oceânica de Niterói é considerada Área de Especial Interesse

Turístico, o que garante a preservação das trilhas de interesse ecoturísticos, ecológico

e científico, de acordo com Lei Municipal 1.968/2002 – Plano Urbanístico (PUR) da

Região Oceânica e integra, em sua totalidade, a Área de Proteção Ambiental (APA)

das Lagunas e Florestas de Niterói, que foi criada e delimitada pela Lei Municipal nº

1.157/1992 – Plano Diretor de Niterói (PDN).

O PUR da Região Oceânica apresenta políticas setoriais da proteção do

patrimônio cultural e do meio ambiente; classifica a sede da Fazenda do Engenho do

Mato como bem cultural e discorre sobre a proibição de edificações e aterramentos na

área do Parque Estadual da Serra da Tiririca até que o Estado defina seu Plano de

manejo, além da criação das unidades de conservação municipal e Áreas de Especial

Interesse Ambiental na Região Oceânica.

Para fins de ordenação do uso e da ocupação do solo, a Região Oceânica é

dividida nas sub-regiões de planejamento: Engenho do Mato, Maravista, Itaipu, Jacaré

e Piratininga; que passa a ter o seguinte zoneamento ambiental:

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I – Zona de Preservação da Vida Silvestre (ZPVS): áreas de domínio público ou particular, consideradas de preservação permanente, onde não são permitidas quaisquer atividades que importem na alteração do meio ambiente, assim como novas edificações, parcelamento do solo, abertura de vias, aterros ou cortes de terreno, cortes de vegetação nativa, extração mineral ou quaisquer tipos de exploração de recursos naturais; II – Zona de Conservação da Vida Silvestre (ZCVS): áreas públicas ou particulares, com parâmetros restritivos de uso e ocupação do solo estabelecidos nesta lei, com vistas à manutenção dos ecossistemas naturais;

III – Zona de Uso Especial (ZUE): unidades de conservação ou outros espaços naturais protegidos legalmente, que deverão obedecer às normas relativas à legislação específica;

IV – Zona de Uso Urbano (ZU): áreas correspondentes às frações urbanas e às Áreas de Especial Interesse próprias para ocupação urbana, obedecidos os parâmetros estabelecidos nesta lei.

4.2 CARACTERÍSTICAS SÓCIO-CULTURAIS DO TERRITÓRIO ESTUDADO

A pesquisa em questão abrange o território do Engenho do Mato com 10,5 km²

de área e 12.219 habitantes (IBGE 2000), que faz limite com os bairros de Itaipu,

Jacaré, Rio do Ouro, Várzea das Moças e é divisa intermunicipal Niterói-Maricá,

marcado por uma linha imaginária no cume do Morro Cordovil.

O bairro leva esse nome por estar localizado na antiga sede da Fazenda do

Engenho do Mato, com registros datados de 1779 como Fazenda do Mato, que

abrigava um dos quatro engenhos de açúcar da freguesia de São Sebastião de Itaipu,

segundo afirma WEHRS (1984, p. 205-206). Com o tempo, a fazenda é rebatizada

como Fazenda Engenho do Mato, depois da venda para outros proprietários. A

Fazenda Engenho do Mato tinha como função principal a produção de banana prata e

grande variedade de hortifrutigranjeiros. Contígua à fazenda estava a antiga Fazenda

Itaocaia e ligando estas duas fazendas existia a estrada Itaocaia, que desemboca no

município de Maricá. Segundo MENDONÇA (2006, p. 13),

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Esta estrada foi chamada, no passado, Estrada de Itaocaia, e era freqüentada por tropeiros e viajantes que partiam da antiga Vila Real da Praia Grande para as sesmarias de Cabo Frio. A estrada é conhecida por Vai-e-vem e, hoje, oficialmente, Estrada São Sebastião. Em 1833, como nos informa Machado de Mendonça, passou pela estrada em direção a Itaocaia o cientista Charles Darwin.

O lugar tem uma história de conflitos por terra recente, com resquícios que

interferem no aprofundamento da compreensão do território. O loteamento e venda

das terras da fazenda pela “Empresa de Terras Brasileiras – Terrabraz Ltda” levou os

sitiantes que trabalhavam como meeiros, posseiros e até mesmo grileiros à disputa

armada pelo direito de uso e ocupação da terra. Foi nesse contexto histórico que o

governo do Estado, com o Decreto-lei nº 7577 de 2 de agosto de 1961, desapropriou

para fins de reforma agrária parte da fazenda, localizada na vertente da Serra da

Tiririca, sendo a primeira área a ser contemplada pelo Plano de Ação Agrária do

Estado do Rio de Janeiro, na tentativa de evitar um possível êxodo dessa população

para o centro urbano e também para garantir a continuidade de uma produção agrícola

próxima à cidade de Niterói, além de evitar a derrubada da mata existente, rica em

madeira de lei. Mas com o golpe militar, em 1964, as ações previstas no plano foram

esquecidas e as terras só foram completamente desapropriadas em 1998.

Para acirrar mais ainda o conflito fundiário na região, em 1991, por iniciativa

popular, o estado cria (Lei nº 1.901) a unidade de conservação do Parque Estadual da

Serra da Tiririca, cujo trecho passa por dentro do Engenho do Mato. A intenção era de

conter a especulação imobiliária da cidade que se expandia para a Região Oceânica,

para salvaguardar as áreas cobertas por Mata Atlântica que ainda não haviam sido

ocupadas, mas acabou prejudicando os agricultores que ainda sobreviviam do plantio

na última área rural da cidade, como relata Lucia Maris de Mendonça6 na sua pesquisa

que conta com o registro oral de moradores antigos da região.

A sub-região do Engenho do Mato engloba duas ZCVS e duas ZUE, segundo o

PUR da Região Oceânica. A Serra da Tiririca e a Serra Grande são classificadas como

ZCVS, que determina como parâmetro para uso e ocupação do solo para comércio e

serviços, individual, somente atividades de caráter turístico ecológico (pousada, hotel,

restaurante, bar, agência e serviços de guia para turistas, loja de venda ou aluguel de

6 Trabalho de Conclusão de Curso “Fazenda Engenho do Mato (Niterói-RJ): breve histórico dos conflitos gerados pelo parcelamento do solo - de ontem e, de hoje, como atual bairro Engenho do Mato”. Lucia Maris Velasco Machado de Mendonça. Niterói, 2006.

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materiais esportivos). O Parque Estadual da Serra da Tiririca e a Reserva Ecológica

Darcy Ribeiro são ZUE.

Fonte: Associação Brasileira de Perícia e Gestão Ambiental

Figura 08: Mapa de Uso e Gabarito Propostos: sub-regiões Engenho do Mato e Maravista

(ampliação em anexo)

Atualmente, de acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento,

Ciência e Tecnologia de Niterói – 19917, grande parte da área plana é ocupada por

residências de moradores de classe média que, em sua maior parte, tiveram acesso à

terra a partir da compra direta dos posseiros mais pobres. A população de baixa renda

localiza-se principalmente no Jardim Fluminense e nas encostas da Serra da Tiririca.

4.2.1 Identificação dos programas, projetos e ações

A pesquisa documental do território do Engenho do Mato para levantamento de

dados preliminares permitiu a identificação de programas, projetos e ações 7 Niterói-Bairros - Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia de Niterói – 1991. Obtido em: www.cdp-fan.niteroi.rj.gov.br/bairros/engenho_do_mato.h... Acesso em 19 de Fevereiro em: http://wikimapia.org/6039955/pt/Engenho-do-Mato

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desenvolvidas principalmente na área do Parque Estadual da Serra da Tiririca, no

bairro.

A área natural do bairro é de especial interesse para organizações públicas,

privadas e do terceiro setor. O envolvimento de muitas instituições nesta área ocorre

devido à abertura de participação na administração do Parque através do Conselho

Consultivo formado por mais de quarenta personalidades representando a sociedade.

Atualmente, a ação principal discutida pelo conselho é a implantação do Plano de

Manejo do Parque, assistido pelos cursos afins da Universidade Federal Fluminense,

como as pesquisas de demanda do perfil do visitante do parque que vêm sendo

realizadas desde 2009 pelo Grupo de Trabalho de Turismo em Áreas Protegidas

(GTTAP).

A Casa da Ciência da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 2008,

vislumbrou a importância do Parque com a descoberta histórica da passagem do

cientista Charles Darwin, criador da teoria da evolução das espécies, pela região em

1832, que atravessou a estrada do Vai e Vem no Engenho do Mato, de acordo com

relatos no livro A Origem das Espécies. Desta forma a Casa da Ciência em parceria

com o Ministério da Ciência e Tecnologia e o Departamento de Recursos Minerais do

Rio de Janeiro (DRM-RJ) organizou o projeto Caminhos de Darwin que deu origem à

Expedição Caminhos de Darwin e outras ações nos 12 municípios integrantes.

Caminhos de Darwin participou do 37º Congresso Brasileiro das Agências de Viagens e Feira das Américas, o maior evento de turismo da América Latina. Na ABAV, foi possível ver a história do projeto, conhecer exemplares de rochas, minerais e flora dos 12 municípios trilhados pelo naturalista e aprender com a Mostra Ver Ciência, que reúne programas de TV de diversos países.A Expedição Caminhos de Darwin celebrou, em 2009, os 200 anos do nascimento de Darwin e os 150 anos de seu clássico livro A Origem

das Espécies. O objetivo foi propor ações, inserir o roteiro nas comemorações nacionais e internacionais já programadas, consolidar parcerias e construir alternativas para a implantação do Caminhos de Darwin como um roteiro turístico, educacional e científico no Rio de Janeiro. Além disso, foram instaladas 23 placas sinalizadoras nas estradas que dão acesso a essas cidades e, durante a expedição, foram organizadas diversas atividades por professores, alunos, instituições locais e pelas prefeituras das cidades do Rio de Janeiro, Maricá, Saquarema, Araruama, São Pedro da Aldeia, Cabo Frio, Barra de São João, Macaé, Conceição de Macabu, Rio Bonito, Itaboraí e Niterói.

(http://www.casadaciencia.ufrj.br/caminhosdedarwin/)

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A importância geológica do costão rochoso da Serra da Tiririca foi um dos

agentes que impulsionou a pesquisa e elaboração do projeto Caminhos Geológicos

em Niterói pelo DRM-RJ, em parceria com a Secretaria de Estado de Desenvolvimento

Econômico, Energia, Indústria e Serviços para sinalizar os monumentos geológicos do

município de Niterói, de forma a proporcionar aos visitantes conhecimentos sobre a

sua evolução geológica. O projeto tem os objetivos específicos de criar um ambiente

propício ao turismo científico, disseminar o conhecimento geológico à sociedade em

geral, auxiliar na proteção dos monumentos geológicos e incentivar a preservação

ambiental. Prevê também a instalação de doze painéis no Parque Estadual da Serra

da Tiririca8.

A Associação Brasileira de Perícia e Gestão Ambiental atua no Engenho do

Mato em parceria com o Inea, Casa da Ciência, DRM-RJ, Associação de Moradores e

empreendedores locais, com o apoio do governo municipal e estadual. Atualmente,

desenvolve o Programa Estação Ambiental, um portfólio de projetos culturais e

ambientais, com o objetivo de conservar o meio ambiente e preservar a cultura local

para proporcionar melhores condições sociais para os moradores da região oceânica,

através da educação informal e implementação do Pólo Turístico Charles Darwin

(entre Niterói e Maricá / RJ), como alternativa para o desenvolvimento regional

sustentável.

A associação tem abrangência nacional, com sede na cidade do Rio de Janeiro

e escritório da regional no Engenho do Mato. O Programa Estação Ambiental está

respaldado pela Secretaria de Estado da Cultura através da lei de incentivo fiscal e

pela lei municipal que reconhece e institui o Circuito Turístico Caminho de Darwin na

Área de Especial Interesse Turístico da Região Oceânica. Nessa primeira fase de

execução do programa foram realizadas atividades para a sensibilização e

conscientização da comunidade, como a distribuição gratuita de lixeiras recicladas

com a marca do Pólo Turístico para coleta seletiva do lixo aos empreendimentos locais

e posteriormente visitas dos voluntários técnicos em gestão ambiental para orientação

o uso adequado; além do inventário da oferta turística do bairro com a colaboração de

estagiários de turismo e formação dos moradores através de cursos de qualificação

(agentes ecológicos, jovens articuladores socioambientais, formação ecológica para

educadores, artesãos de ecobijouterias, teatro e condutores ecológicos).

8 Acessado dia 25 de Abril em: www.drm.rj.gov.br

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4.3 PESQUISA COM OS EMPREENDEDORES LOCAIS

A pesquisa documental realizada na área é de fundamental importância para

este trabalho, faz-se necessária uma pesquisa de campo para diagnosticar, de forma

mais completa, se o turismo rural e o ecoturismo são as modalidades de turismo mais

viáveis para desenvolvimento turístico do bairro. Mas foi relevante para esse estudo,

pois não seria possível pensar uma pesquisa de campo sem antes ter feito um

levantamento dos aspectos geográficos, socioeconômicos e político-administrativos da

região. A pesquisa documental funcionou como base para elaboração da pesquisa de

campo na comunidade do Engenho do Mato com os empreendedores locais.

4.3.1 Apresentação da Proposta

A pesquisa de campo com os empreendedores locais no Engenho do Mato

teve o intuito de melhor compreender as relações existentes entre os proprietários dos

estabelecimentos comerciais locais, dos mesmos com o mercado, com o lugar, sua

percepção sobre a atividade turística e sobre as possibilidades para o bairro. O

objetivo deste estudo é analisar qual modalidade de turismo o mercado local considera

mais apropriada e o nível de envolvimento com o lugar, como agente social crítico

para o desenvolvimento do turismo com base local.

4.3.2 Metodologia de Pesquisa

Para diagnosticar as modalidades de turismo mais adequadas para o bairro foi

imprescindível observar a opinião dos empreendedores locais que atendem aos

turistas e o que eles pensam do turismo no Engenho do Mato. Para isso foi elaborado

um questionário que foi aplicado na área do bairro, nos estabelecimentos de maior

relevância para o turismo, totalizando onze questionários. É importante esclarecer que

essa pesquisa serve como ferramenta complementar para auxiliar na compreensão

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das possibilidades de turismo para a região, não sendo determinantes as respostas

dos empresários, passíveis de interpretações na análise do pesquisador. No entanto,

autores como Panosso Netto (2005) justificam não ser necessário um número

expressivo de entrevistados em casos como este, afirmando que “uma pesquisa

qualitativa e humanista está interessado no aprofundamento das respostas obtidas e

não no número de questionários aplicados” (PANOSSO NETTO, 2005, p. 117).

A pesquisa de campo é por amostragem intencional. O critério de seleção para

aplicação dos questionários com os empreendedores locais responsáveis pelos

estabelecimentos comerciais foi uma análise de quais seriam mais relevantes para o

desenvolvimento turístico da área, de acordo com as indicações da Estação Ambiental

Charles Darwin, quem operacionalizou o senso turístico do Engenho do Mato9, em

abril de 2009.

O questionário aplicado apresentava um total de quinze questões, objetivas e

de produção de respostas. As respostas objetivas, uma vez tabuladas, foram tratadas

em termos percentuais e as respostas dissertativas foram analisadas qualitativamente,

sintetizadas em frases, agrupadas quando possível para serem mais representativas

na amostragem gráfica do resultado.

4.3.3 Resultado Analítico da Tabulação dos Questionários

A primeira parte do questionário aplicado teve a preocupação de recolher

dados para identificação dos empreendedores locais e do estabelecimento comercial,

um cadastro operacional da pesquisa, pensando na importância do registro como fonte

de consultas posteriores e para facilitar a sua replicabilidade.

Nesse primeiro momento, foi questionado o local de residência do

empreendedor com a intenção de analisar o tipo de relação que o proprietário tem com

o lugar, se é morador do bairro ou região do entorno, ou se o vínculo é apenas com o

trabalho que desenvolve. Esta é uma forma de detectar a porcentagem dos

comerciantes efetivamente locais. Foram questionados, também, sobre o tempo de

existência do comércio na tentativa de avaliar a estabilidade do negócio e o nível de

inserção do mesmo no mercado local.

9 O Senso Turístico do Engenho do Mato (abril/2009) está na integra no anexo deste trabalho.

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Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

Figura 09: Gráfico – Local de residência.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

Figura 10: Gráfico - Tempo de Existência do Comércio.

Os gráficos demonstram que 73% dos empreendedores moram no bairro do

Engenho do Mato, 9% em Camboinhas e 9% em Itacoatiara. Somando os três bairros,

chegamos a 91% de empreendedores que moram na região oceânica de Niterói.

Como a maioria reside e trabalha no Engenho do Mato e região do entorno é mais

provável que a sensibilização ocorra no sentido de identificação com o lugar e no

envolvimento das questões inerentes ao desenvolvimento turístico do bairro. Cabe

ressaltar que a condição de ser efetivamente morador e, supostamente, conhecedor

das carências locais é um fator positivo, se não condicionante, para o desenvolvimento

de base local. Além disso, 73% dos empreendimentos funcionam a mais de quatro

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anos, ou seja, possuem uma boa entrada no mercado local, baixo risco de fecharem,

pois já passaram pela fase crítica do negócio, pois segundo o Sebrae, a maioria das

empresas brasileiras fecham nos primeiros dois anos. O tempo de existência do

comércio também demonstra o conhecimento empírico de mercado local desses

empreendedores.

No segundo momento foi feito um levantamento das características

operacionais dos estabelecimentos para analisar a viabilidade do desenvolvimento

turístico no bairro, como: quais são os tipos de estabelecimentos, os dias de

funcionamento e os meios de comunicação utilizados para a divulgação, que sejam

relevantes para a oferta turística local.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

Figura 11: Gráfico – Tipo de Estabelecimento.

Os estabelecimentos de lazer e alimentação somados, em partes iguais,

representam 84% do comércio local. Dentre os negócios que trabalham o lazer no

Engenho do Mato destacam-se os ranchos e haras, sendo as atividades com equinos,

cavalgadas, aluguel de cavalos, passeios, equoterapia e outras, as de maior

importância na opinião dos entrevistados. Além dos ranchos e haras, foi detectada a

presença de pesque e pague, organizadores de passeios ciclísticos e caminhadas,

além de outras iniciativas envolvendo as atividades de lazer. No caso dos

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empreendimentos de alimentação, é importante destacar que é crescente a procura

por parte dos comerciantes. Durante as entrevistas foi exposto pelos proprietários de

novos restaurantes que a procura pelo bairro foi em busca de uma vida mais tranquila,

longe da correria do centro da cidade. O Engenho do Mato não possui uma ampla

infra-estrutura turística, com a presença de pouquíssimos meios de hospedagem, mas

oferece variadas opções de lazer e gastronomia para entreter durante todo o dia

excursionistas e turistas que visitam a cidade.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

Figura 12: Gráfico – Dias em que o Estabelecimento Funciona.

A maioria dos estabelecimentos é de entretenimento e gastronomia, 55% deles

só funcionam nos fins de semana e feriados, em função do público que frequenta:

visitantes, turistas e os próprios moradores nas suas folgas. Este fato constitui um

problema para os comerciantes, pois com menos dias funcionando o negócio rende

menos e, muitas vezes, se torna inviável. A maioria dos ranchos e haras abre todos os

dias, mas a procura não é grande nos dias de semana. O público que busca o lazer

com equinos é bastante fiel e parte dele é formado por donos de cavalos residentes

em outras cidades, ou mesmo outros países, que mantém seus animais em baias

alugadas, o que garante um bom fluxo de consumidores. A cidade de Niterói ainda não

atingiu um bom nível de fluxo turístico e isto reflete também no Engenho do Mato.

Acredita-se que com um conjunto de produtos turísticos mais heterogêneo a cidade se

torne mais atrativa turisticamente.

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Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

Figura 13: Gráfico – Meios de Comunicação Utilizados para Divulgação

As formas de divulgação aparecem muito dissipadas, não havendo uma

preferência notável por um canal de distribuição nessa localidade, o que pode ser

resultado da falta de um planejamento de marketing, com estratégias de divulgação de

acordo com uma pesquisa de mercado, característico da cultura organizacional. Nas

entrevistas, foi percebido que existe uma falta de conhecimento até mesmo das

potencialidades de cada negócio e da localidade. A percepção e entendimento sobre

as atividades de cada negócio e sobre dinâmica das relações entre os

empreendedores poderiam facilitar a articulação entre eles e assim direcionar melhor

suas ações de marketing e até mesmo o planejamento.

A terceira etapa da pesquisa foi elaborada para contribuir na análise do tipo de

turismo mais adequado para a área do Engenho do Mato, a partir da visão dos

empreendedores locais, com perguntas abertas e fechadas sobre o perfil do público

que o frequenta, a caracterização do espaço, identificação de iniciativas relacionadas

ao turismo, registro dos anseios e expectativas para o desenvolvimento turístico local.

As perguntas foram elaboradas estrategicamente para demonstrar se haveria uma

predisposição dos empreendedores locais no envolvimento participativo de acordo

com o desenvolvimento turístico de base local.

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Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

Figura 14: Gráfico – Perfil do Público do Estabelecimento.

Na tentativa de reproduzir em percentuais a questão descritiva sobre o perfil do

público atendido nos estabelecimentos foram reunidas as repostas em grupos

representativos que demonstram que o bairro atrai mais famílias, estas oriundas de

Niterói, outras cidades do Estado do Rio de Janeiro e de fora do país. Isso significa

que existe um fluxo turístico no bairro, apesar dos moradores da cidade aparecerem

como os principais usuários desses estabelecimentos.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

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Figura 15: Gráfico – Principais Atrativos da Área.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

Figura 16: Gráfico – Tipo de Turismo mais Adequado para o Engenho do Mato.

As respostas abertas para os principais atrativos da área foram listadas e

classificadas por frequência no gráfico acima. Segundo os empreendedores locais, o

principal atrativo do bairro são os equinos (35%). O fato de o Engenho do Mato ter

sido zona rural do município de Niterói até a década de 90, favoreceu a conservação

da tradição e dos espaços rurais, e por estar próximo a grandes centros urbanos e de

fácil acesso, atrai donos de cavalos, montadores e amantes do esporte, interessados

em usufruir dos serviços dos haras. Logo em seguida aparecem com frequencia quase

similar o Parque Estadual da Serra da Tiririca (18%) e o clima rural (17%), que

demonstram percepção dos entrevistados sobre a importância significativa da

conservação ambiental que pode expressar a vocação natural do bairro para o turismo

rural e o ecoturismo, ou o turismo ecorrural. Para ratificar esta questão foi

questionado em seguida qual o tipo de turismo mais adequado ao Engenho do Mato e

os mais representativos foram, respectivamente: turismo rural (42%) e ecoturismo

(32%). É importante esclarecer que essa resposta no questionário era objetiva, mas

poderia ser marcada mais de uma opção.

Ilustrando o resultado maioritário da pesquisa apresenta-se abaixo imagem de

equino na região.

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Fonte: Arquivo pessoal

Figura 17: Baias no Haras São Francisco de Assis

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

Figura 18: Gráfico – Perfil do Turista que Gostaria de Receber.

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Quando questionados sobre o perfil do turista que gostariam de receber, os

empreendedores demonstram falta de objetividade, justificando o argumento

apresentado no início da pesquisa, de que a falta de uma pesquisa de mercado e um

posicionamento e direcionamento estratégico desses empreendimentos pode ser uma

característica cultural dos empreendedores da região. Mas que não se deve adotar

com condição imutável e sim como um ponto fraco que deve ser trabalhado para

melhor condicionar o desenvolvimento do turismo local. Em resumo, não existe um

definição de qual seria o público alvo para os empreendedores locais.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

Figura 19: Gráfico – Interesse na Participação em Atividades para Desenvolvimento do

Turismo Responsável.

O interesse de 82% dos participantes da pesquisa em se envolver nas

atividades para desenvolvimento do turismo responsável no bairro significa um

percentual bem alto e importante para começar a articular e formular políticas de

turismo para a região com a participação efetiva do comércio local como cooperadores

através de apoio, parcerias e até mesmo somando forças entre eles na forma de um

arranjo produtivo local ou cluster turístico.

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Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

Figura 20: Gráfico – Apoio a Algum Projeto no Engenho do Mato.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

Figura 21: Gráfico – Parceria com outra Organização para Promoção da Marca.

Apesar da forte intenção de participar em atividades para o desenvolvimento

turístico de base local, a realidade encontrada mostra um cenário de pouco

aproveitamento, com 45% dos empreendedores apoiando algum projeto no Engenho

do Mato e 36% tendo feito algum tipo de parceria. O mais importante nesse caso é

buscar a(s) causa(s) para baixa participação, podendo ser por motivos de falta de

informação, insatisfação com o poder público, falta de incentivo e desconhecimento

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sobre os benefícios que a cooperação estratégica pode gerar para o comércio local e

todo o seu entorno.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

Figura 22: Gráfico – Conhecimento sobre a Condição da Área como de Especial Interesse

Turístico.

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Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

Figura 23: Gráfico – O que falta para Consolidação como Destino Turístico.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nas pesquisas de campo realizadas.

Figura 24: Gráfico – Percepção Classificação do Bairro Engenho do Mato.

A informação passada pelos empreendedores locais em relação ao turismo é

que a maioria (64%) sabe que o seu estabelecimento está em uma área de especial

interesse turístico, mas ainda falta disseminar para mais pessoas na tentativa de

melhor aproveitar essa forma de incentivo do poder público para desenvolvimento

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turístico da área. Sendo assim, percebe-se que os comerciantes não se mobilizam e

nem se organizam para fazer das intenções um fato. Ficam à espera de que os órgãos

governamentais tomem frente de todo o processo de desenvolvimento da área. Faz-se

necessária uma articulação entre empreendedores, sociedade civil, governos e

técnicos a fim de definir parâmetros e estabelecer claramente as responsabilidades de

cada agente. Em resumo, é preciso fomentar o instinto de inovação, mudança dos

empreendedores locais. Na opinião dos comerciantes, a falta de apoio político (33%),

incentivos do Governo (22%) e infra-estrutura básica, como saneamento e

pavimentação (39%), são os principais problemas que impedem a consolidação do

Engenho do Mato como um destino turístico. É interessante observar na descrição dos

empreendedores que todos os problemas do bairro têm apenas um responsável - o

poder público - neste caso representado pela prefeitura de Niterói. Pode-se entender

este posicionamento pelo histórico de corrupção e falta de seriedade dos políticos de

Niterói. No bairro, é comum encontrar ruas que constam como asfaltadas e com

instalação de esgoto pronta na documentação da prefeitura, mas na realidade não

existe nem sinal de pavimento e saneamento.

O bairro foi classificado como rural por 91% dos empreendedores, de acordo

com as suas características eminentemente socioespaciais, o que reitera a afirmação

de o turismo rural ser a modalidade mais relevante para o desenvolvimento turístico do

bairro (42%). No entanto, a falta de pavimentação que poderia descaracterizar o

ambiente rústico é um dos problemas apontados por eles, cabe salientar que não se

trata de melhorar o acesso ao bairro, pois a estrada principal já foi asfaltada, a

discussão é pela pavimentação das vias internas, na localidade onde estão os haras e

ranchos, como na figura abaixo.

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Fonte: Arquivo pessoal

Figura 25: Rua de Terra Batida

A Câmara de Vereadores vem legislando a favor do desenvolvimento turístico

da área, por exemplo, com a criação e reconhecimento do Circuito Turístico Charles

Darwin, em janeiro de 2010. A ausência do poder público no bairro não deve ser vista

como a única causa para todos os males. A comunidade também é responsável, os

moradores e empreendedores podem exercer de forma ativa a cidadania e

mobilizarem-se para exigir mais benefícios para a região nas assembléias públicas,

nas reuniões da associação de moradores da região oceânica e do bairro do Engenho

do Mato, com maior participação.

Uma questão ambiental e social importantíssima levantada no questionário é a

falta de saneamento. Um bairro que quer se consolidar como destino de ecoturismo

não ter tratamento de esgoto é uma grande controvérsia, uma entrave para o

desenvolvimento turístico de base local.

Entende-se que a melhor forma de chamar a atenção da prefeitura e aumentar

o incentivo do governo para o desenvolvimento turístico do bairro é através da

cooperação entre os empreendedores, terceiro setor e comunidade local, no intuito de

gerar projetos, ações e propostas de melhoria para o bairro, por meio da mobilização

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social e articulação em grupos separados por setores ou atividades econômicas afins

para elaborarem estratégias que priorizem os problemas do bairro e beneficiem a

todos os atores sociais.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A base da reflexão deste trabalho de conclusão de curso foi uma perspectiva

de integração, levando em conta o território, as vivências e as inter-relações que

acontecem no mesmo. Este processo é definido por múltiplas relações de poder, nos

sentidos econômico, político-administrativo e sócio-cultural manifestando-se em

variadas escalas relacionais.

O Engenho do Mato foi analisado a partir deste processo de relações

contínuas, que resulta em mudanças de uma realidade sócio-territorial. Este processo

ocorre com a participação dos agentes locais em redes de cooperação e com a

criação de externalidades que se agregam e conferem diferentes papéis de excelência

no quadro local-regional.

A cultura empreendedora é fundamental para o dinamismo econômico e

desenvolvimento turístico e gera alta dose de criatividade para inovar. Este processo,

marcado por forte dose de endogeneidade com o planejamento de base local, se

define pelo protagonismo dos agentes sociais na construção de um entorno inovador

e, portanto, competitivo.

O processo de urbanização não gerou mudanças apenas nas cidades. Nos

dias atuais é muito difícil distinguir o que é urbano do que é rural. Nesse sentido, o

turismo rural não pode se restringir ao conteúdo técnico, pois cada lugar é único, com

subjetividades que vão além de restrições teóricas e classificações em (sub)

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modalidades. Por este motivo é importante valorizar as características do ambiente

receptor, que acaba por caracterizá-lo muito mais como extensão do fenômeno urbano

do que propriamente do campo.

Assim, caracterizar o território, os tipos de empreendimentos voltados ao

turismo e os atrativos turísticos em potencial seja talvez a tarefa que precede as

demais, na tentativa de estabelecimento de uma tipologia para o destino turístico.

A definição de turismo ecorrural proposta por Rodrigues (1998) possui certa

dimensão “virtual”, no sentido da simulação, oferecendo empreendimentos de diversos

tipos cujas características fujam ao fenômeno urbano.

A hipótese de que as atividades de ecoturismo do Parque Estadual da Serra da

Tiririca e o clima rural do Engenho do Mato eram condicionantes para o diagnóstico da

modalidade de turismo do bairro foi confirmada na pesquisa documental e na pesquisa

de campo com os empreendedores locais.

O diagnóstico do potencial turístico do território do Engenho do Mato segundo a

pesquisa documental e de campo é de um bairro que ainda não se consolidou como

destino turístico, não tem uma infra-estrutura turística adequada, possui poucos

empreendimentos de hospedagem e os empreendedores locais não estão mobilizados

para mudar a realidade local e inovar com criatividade, por meio de pesquisas de

mercado e parcerias estratégicas. Apesar de expressarem o desejo em participar de

ações para o desenvolvimento turístico do bairro, ainda não estão envolvidos

efetivamente com os projetos que ocorrem no bairro e não têm uma cultura de

cooperação na forma de parecerias para sua divulgação.

As características do território, os aspectos geográficos, históricos e legais da

região, como a conservação dos recursos naturais proporcionados pela existência do

Parque Estadual da Serra da Tiririca, a cultura country com a presença de haras e

ranchos que valorizam a tradição rural local favorecem o desenvolvimento das

modalidades de ecoturismo e turismo rural, ou a nova tipologia adotada neste trabalho

de turismo ecorrural. Os principais atrativos naturais e culturais segundo a pesquisa de

campo com os empreendedores locais são as atividades relacionadas com os equinos

e o Parque Estadual da Serra da Tiririca.

Este trabalho teve a pretensão de apresentar à sociedade acadêmica o

potencial turístico do Engenho do Mato, aplicando o conhecimento adquirido na

graduação de turismo em um tema importante para a comunidade do entorno da

Universidade. Acredita-se ser impossível entender a teoria sem a prática, uma vez que

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estas não estão em oposição, são complementares, não fazendo sentido tentar

compreendê-las dissociadas. Por isso, o resultado deste trabalho é a união do

conhecimento empírico, com a pesquisa documental e a pesquisa de campo. O

material de pesquisa está longe de abordar todos os aspectos relevantes para o

desenvolvimento turístico de base local do bairro, mas pode ser considerado o início

de uma investigação que deverá ocorrer com todos os agentes sociais e a longo

prazo. Apresenta-se como uma produção científica que poderá servir como norteadora

de novos estudos sobre a região ou temática.

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ANEXOS A

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Modelo de Questionário Utilizado para Realização da Pesquisa de Campo

Nome: Data

1. Local de residência:

Tempo de moradia:

Nome do estabelecimento comercial:

2. Tempo de existência do comércio:

( ) menos de 1 ano ( ) 1-2 anos ( ) 2-4 anos ( ) mais de 4 anos

3. Tipo de estabelecimento:

( ) Alimentação ( ) Hospedagem ( ) Transporte ( ) Agência ( ) Lazer

4. Quais os dias que funciona:

( ) todos os dias ( ) quinta a domingo ( ) final de semana e feriados

5. Quais os meios de comunicação que utiliza pra se divulgar:

( ) jornal e revista ( ) Site próprio ( ) guia da região oceânica ( ) Internet - site de terceiros

( ) Outdoor ( ) panfletos ( ) outros Qual?_____________________________________

6. Qual perfil do seu público?

7. Quais os principais atrativos da área?

8. Qual o tipo de turismo mais adequado para esse bairro?

( ) ecoturismo ( ) turismo rural ( ) turismo de negócios ( ) turismo de aventura ( ) outro Qual?

___________________________________________________________________________

9. Qual o perfil do turista que gostaria de receber?

10. Você participaria como parceiro de alguma ação para desenvolver o turismo responsável

no Engenho do Mato?

( ) Sim

( ) Não --> Porque?

_____________________________________________________________________

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11. Você apóia algum projeto no Engenho do Mato?

( ) Sim Qual?

( ) Não

12. Você já fez alguma parceria com outra organização para promoção da sua marca??

( ) Sim O que?

___________________________________________________________________

( ) Não

13. Você sabia que o Engenho do Mato é considerado pelo município como área de especial

interesse turístico?

( ) Sim

( ) Não

14. O que falta para o Engenho do Mato se consolidar como um destino turístico?

15. Levando em consideração todas as características do Bairro do Engenho do Mato, como

você o classificaria?

Rural ( )

Urbano ( )

Obrigado por participar!!!

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ANEXO B

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Senso Turístico do Engenho do Mato

SENSO TURÍSTICO DO ENGENHO DO MATO.

Abril de 2009.

CAMINHO CHARLES DARWIN

NITERÓI / RJ.

Coordenador:

Professor Rodrigo Astromar.

Turismólogo e MBA Gestão pela Qualidade Total LATEC – UFF / RJ.

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Realização:

Estação Ambiental Charles Darwin

Apoio:

ABPG – Associação Brasileira de Peritos em Gestão Ambiental e ONG – Alegria de ser Brasileiro.

INTRODUÇÃO

Inventário Turístico, documento elaborado pela Empresa de Turismo local que tem como

objetivo identificar os atrativos, serviços, equipamentos, infra-estrutura, meios de acesso,

variáveis gerais fornecedores, concorrentes, clientes, mão-de-obra, entidades de classe e

variáveis operacionais características sócio-econômicas, tecnológicas, legais e políticas. Este

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documento é utilizado não só pelo poder público a fim de obter subsídios para planejamento

turístico sustentável,assim como turistas em busca de informações sobre a região, estudantes

para realização de pesquisas e estudos, empreendedores com objetivo de ter maiores

informações sobre o local que pretende abrir empreendimento turístico ou não, além da

imprensa responsável por divulgar tais valores naturais ou artificiais.

ENGENHO DO MATO

Entrando pela praçinha do Engenho do Mato tanto ao lado direito, quanto ao lado esquerdo, foram identificados os seguintes atores comerciais da localidade:

• BARES – 11

• SORVETERIA – 01

• ACADEMIA – 01

• POUSADA – 02

• CENTRO CULTURAL E ATELIER – 02

• HARAS - 05

• LOCAIS PARA EVENTOS – 04

• PENSÃO – 01

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• RESTAURANTE – 09

• ÁREA DE EVENTOS – 05

• BRECHÓ – 02

• SUPERMERCADO – 01

• POSTO DE SAÚE – 01

• CORPO DE BOMBEIROS – 01

• POSTO DE GASOLINA – 01

• ASSOCIAÇÃO DE MORADORES – 01

• PARQUE RURAL – 01

• BARBEARIA E SALÃO DE BELEZA – 02

• PAINT BOLL – 02

• PADARIA – 02

• CICLE – 01

• CONSULTÓRIO PEDIÁTRICO - 02

• CONSULTÓRIO PSICOLÓGICO/FISIOTERAPIA – 01

• PET SHOP – 01

• DISK BEBIDAS – 01

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• CURSO DE INFORMÁTICA/ELÉTRICO/MÚSICA – 01

• ATIVIDADES ESPORTIVAS – 01

RELAÇÃO GERAL DOS 54 ATORES COMERCIAIS:

SORVETERIA/BAR

BAR CARMELO - MERCEARIA

ACADEMIA – ENGENHO DO CORPO.

POUSADA ENGENHO DO MATO - INATIVO

BAR DO RANCHO SÃO FRANCISCO – C/ALMOÇO E ALUGUEL DA CAVALOS.

ATELIER (FECHADO SEM NOME)

BAR (SEM NOME DEFINIDO)

BAR DO JAIRO

CHICÃO BAR

BAR DÚ FEIO

HARAS SÃO SEBASTIÃO – INATIVO. ABERTO P/ FUTEBOL E QUENTINHAS.

VILA RESIDENCIAL ENG.MATO

ENGENHO-EVENTOS

PENSÃO - BURACO DE MARIA

SALÃO DE BELEZA DO ENGENHO

HARAS – ALUGUEL DE BAIAS

RANCHO DO TOMATE

QUILOMBO RESTAURANTE

ESPAÇO VERDE

PARQUE RURAL – INATIVO POR SUA NATUREZA DE CRIAÇÃO.

CENTRO DA PRAÇINHA DO ENGENHO DO MATO.

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BAR DO GODÔ

SUPERMECADO KLM

POSTO DE SÁUDE

BARBEARIA (SEM NOME DEFINIDO)

BAR – (SEM NOME DEFINIDO-venda de bebidas e petiscos)

BAR DO CHIQUINHO

POUSADA HARAS CLUB RANCHO DA REGINA

PAINT BOLL (SEM NOME DEFINIDO)

CASA DA VOVÓ SELMA

CASA DE EVENTOS JOÃO MARCELO

HARAS SANTA ISABEL

BAIA DO CARLINHO

MANIA BRASILEIRA

BRECHÓ (SEM NOME DEFINIDO)

PADARIA REAL

CONSULTORIO PEDIÁTRICO

POSTO BR

LAS LENHAS

BRECHÓ (SEM NOME DEFINIDO)

BODEGA DO NORTE

POSTO DE SAÚDE

BOMBEIRO

TABERNÁCULO

DISK BEBIDAS (SEM NOME DEFINIDO)

PADARIA AZUL

CICLE (SEM NOME DEFINIDO)

PET SHOP (SEM NOME DEFINIDO)

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DELÍCIAS DA GORDA

BAR E RESTAURANTE (SEM NOME DEFINIDO)

ASSOCIAÇÃO DE MORADORES

CONSULTÓRIOS: PEDIATRIA FISIOTERAPIA PSICOLOGIA

CURSOS: INFORMÁTICA ELÉTRICO MÚSICA

ESPORTES: CAPOEIRA MUAI TAI FUTEBOL

ATRATIVOS NATURAIS

A localidade detém inúmeros atrativos naturais no em torno da serra da tiririca, para

caminhadas ecológicas, passeios a cavalo, moutain bike, atividades físicas, áreas para

meditações e yoga, além de uma relação íntima com a exuberante natureza local. Podemos

definir sem receio que, assim como a Amazônia é o pulmão do mundo, o engenho do mato é o

pulmão verde de Niterói e adjacências. Devendo ser preservado. A todo custo pelas

autoridades públicas, moradores, ambientalistas e por seus visitantes.

ATRATIVOS CULTURAIS

Os atrativos culturais são identificados pela história dos tropeiros nas fazendas da região que

ainda transitam dentro de uma atmosfera da “casa grande” onde nos dias de hoje podemos

encontrar ruídas de senzalas que contam as tristes histórias dos negros nesta região. Uma

delas pode ser vivenciada pelo assassinato de uma criança de 3 anos filha do fazendeiro e uma

negra, que foi descoberta por sua esposa, a mesma atirou a criança em um taxo de melado

gerando sua morte. Esta história pode ser comprovada na fazenda Itaocaia, pois os ossos da

criança continuam no local. Além disso, a fazenda conta com outras histórias como os

encontros secretos de D.Pedro I e a Marquesa de Santos. Outro atrativo da localidade é a

diversidade cultural existente junto aos moradores, comerciantes, artistas e ambientalistas

locais que proporcionam uma variedade de estilos a cada caminhada por essas vias culturais

pouco exploradas, mas ricas em histórias de um região que foi fundamental para nosso estado,

país e que há 200 anos foi descoberta por Charles Darwin, que eternizou em seus livros o

encantamento por essas matas, montanhas e espécies que lhe proporcionaram uma variedade

imensa de conhecimento, proporcionando descobertas relevantes para humanidade.

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MANIFESTAÇÕE DE USOS TRADICIONAIS E POPULARES

Neste setor o município deve buscar resgatar a tradição dos tropeiros na localidade, não

apenas introduzindo-a no calendário das exposições agropecuárias, mas impulsionando uma

maior divulgação das origens, tradições e história da região e sua importância cultural,

fomentando dentro do próprio município tais valores, junto a sua população da cidade.

REALIZAÇÕES TÉCNICAS E CIÊNTÍFICAS

É fundamental para a localidade, a implantação de um ponto estratégico científico que possa

estimular os profissionais envolvidos no processo, motivando sua participação e aproximando

a população. A construção de uma base técnica/científica na localidade irá impulsionar

grandes realizações na região, através da capacitação técnica, qualificação, implantação do

turismo sustentável e acima de tudo, inclusão dos moradores a partir do conhecimento

proporcionado pela educação. Essas indicações apresentadas irão gerar empregos não apenas

estatísticos, mas estruturados e com bases fortes para o verdadeiro crescimento profissional,

intelectual e sócio ambiental, que deve ser exaltado em todos que participarão deste projeto.

EVENTOS E ACONTECIMENTOS PROGRAMADOS

Esta área não deve ser trabalhada como prioridade no início do processo de construção de

uma identidade local. Sabemos que os eventos, são fundamentais para exploração comercial

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da localidade, geração de empregos e receita, não apenas para novas realizações, mas

também para maiores investimentos, entretanto, devemos nos atentar que grandes eventos

que refletem retorno financeiros, não podem se sustentar por muito tempo sem que se invista

na identidade do local, fortaleça sua cultura e impulsione a imagem de um crescimento

positivo e real dos moradores detentores dos atrativos turísticos, sejam culturais, naturais ou

científicos. Os turistas ou excursionistas devem poder identificar de forma clara o equilíbrio

entre três fatores para um crescimento maduro e contínuo da localidade, que tange o

ecologicamente correto para a região, o economicamente viável para investimentos no local e

o socialmente justo para quem reside na localidade explorada por tais projetos. Esse

fundamento se define com Turismo Sustentável de uma região, essencial para o sucesso de

qualquer empreendimento turístico.

EQUIPAMENTOS E SERVIÇOS TURÍSTICOS

Não foram identificados na localidade nenhum equipamento ou serviço turístico relevante

para o turismo local.

INFRA-ESTRUTURA TURÍSTICA

Não foi identificada, nenhuma infra-estrutura turística no local, apenas poucas placas de uma

sinalização turística pífia, com referência a presença de Charles Darwin na região. A falta de

preservação permanente, a baixa visualização de tais placas, em sua maioria escondidas pelo

mato e a dificuldade de sua visualização para os visitantes excursionistas da localidade,

demonstram o amadorismo e o abandono turístico, que tal região foi submetida durante esses

anos de inércia, de um projeto turístico para a localidade.

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INFRA-ESTRUTURA BÁSICA

A localidade foi esquecida pelas autoridades públicas. Sua via principal, ainda de terra dificulta

a circulação dos visitantes e dos moradores que para se protegerem dos carros velozes de

finais de semana, fazem buracos na própria via para diminuir a velocidade dos aventureiros

irresponsáveis da região que contam com a falta de fiscalização do poder público local. No

local, deverão ser colocados paralelepípedos com quebra molas, pois em caso de chuva ficam

escorregadios, não apenas para proteger a população, aliás, principal motivo, mas também

para “levantar” a auto-estima local e dar uma maior caracterização turística para o mesmo.

Também será necessária a drenagem das ruas e implantação de rede de água e esgoto em

toda a região, calçamento e iluminação das vias. Com relação ao posto de saúde local, o

mesmo deverá contar com um maior investimento, tornando-se um posto 24h, pois estará

sendo explorado por turistas e excursionistas do mundo todo e como a região é um atrativo

natural, acidentes freqüentes poderão acontecer. O fortalecimento da guarda florestal e das

rondas policiais constantes é fundamental para a segurança dos moradores e dos visitantes,

além de uma parceria mais estreita do corpo de bombeiros com a localidade, sinalizando para

o mesmo que mesmo, em caso de emergências no local, não a necessidade de seus “carros

vermelhos” entrarem em alta velocidade na região como foi constatado durante o inventário

turístico, pois essa forma de entrada, não é aconselhável podendo gerar outros acidentes, uma

vez que existem no local crianças que brincam livremente, por ser uma área caracterizada pela

harmonia e tranqüilidade de seus moradores e de sua natureza.

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Dados sobre o perfil da localidade

Localização do Atrativo: Niterói - Engenho do Mato.

Produto Turístico: Caminho Charles Darwin.

Segmento do Atrativo: Atrativo Natural - Ecoturismo.

Tipo de acesso ao atrativo: Estrada de chão.

Rodovia: Municipal e Estadual.

Pavimentada: Não.

Meio de Transporte local: Ônibus viação Amparo / Pendotiba.

Tempo de percurso: Centro – Engenho do Mato 40 minutos (Viação Pendotiba 38 A).

Centro – Engenho do Mato 1h (Viação Amparo pela BR).

Ponto de partida: Praça do Engenho do Mato.

Percurso total do atrativo: 3 km

Atrativos do Local: Haras; Trilhas; Pesque-Pague; Paintbol.

Período de funcionamento: Sábados e Domingos.

Instalações Sanitárias: Não existem banheiros químicos.

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Estacionamento: Não existem. Apenas para clientes.

Unidade Hospitalar: Não existem.

Rede hoteleira: Não existem.

Local de valor arquitetônico: Não existem.

Local de valor geológico: Confirmado

Casa de Shows: Não existem.

Centro de Convenções: Não existem.

Centro Cultural: Não existem.

Banco 24 horas: Não existem.

Sinalização Turística: Poucas placas, frágeis, mal conservadas na entrada, no percurso e

ao final do caminho.

Guias locais: Não existem.

Associação de Moradores: Sim.

Agências de Viagens: Não existem.

Agências de Correios: Não existem. Entregas precárias.

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Centros Esportivos: Não existem.

Parques de exposição: Parque rural.

Calendário de eventos: Não existem.

Equipamentos turísticos: Não existem.

Meios de hospedagem: Não existem.

Tipologia de via de acesso: Via de terra. Acesso carro e caminhadas.

Gastronomia: Caseira.

Entretenimento: Limitado

Legislação municipal: Não

Locais de alimentação: Sim

Souvenir local: Tear, reciclagem e artesanato.

Perfil do visitante: Excursionista ecoturistas.

Perfil do morador: Descendentes de Tropeiros com baixa escolaridade e artistas.

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Segurança local: Precária.

Infra-estrutura básica: Precária.

Infra-estrutura turística: Precária.

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CRÉDITOS

Coordenador Operacional da Estação Ambiental Charles Darwin e responsável pelo Senso

Turístico da região do Engenho do Mato.

Professor Rodrigo Astromar.

Turismólogo - UNIPLI e MBA em Gestão pela Qualidade Total – LATEC/UFF-RJ.

Estagiários envolvidos:

• João Bosco Júnior (Promoter de eventos do trade turístico).

• Natália (Universitária do curso de Turismo do UNIPLI).

• Isabel (Universitária do curso de Turismo do UNIPLI).

Coordenador Geral da Estação Ambiental.

Diretor da ABPG Nacional – Associação Brasileira de Peritos em Gestão Ambiental.

Técnico Ambiental Sérgio Bacellar.

Fotos

Fotógrafo Otto Vay.

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Realização:

Estação Ambiental Charles Darwin – Engenho do Mato.

Apoio:

ABPGA – Associação Brasileira de Peritos em Gestão Ambiental e ONG – Alegria de ser

Brasileiro.

Agradecimentos:

Aos moradores, comerciantes e a Associação de Moradores do Engenho do Mato.

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ANEXO C

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Ampliação do Mapa de Uso e Gabarito Propostos: sub-regiões Engenho do Mato e

Maravista

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