PROF. MS. LUCRECIO A. SÁ JÚNIOR
Ser e Linguagem
Introdução
O tema central no âmbito do nosso estudo sobre ser e linguagem objetiva perceber a crítica heideggeriana à metafísica tradicional, assim como identificar sua sugestão de nova orientação para a filosofia.
Para este estudo é importante frisar a passagem de uma perspectiva epistemológica / gnoseológica da Hermenêutica para uma passagem ontológica. Observaremos que na historia da filosofia ocidental a relação entre ser e linguagem de acordo com Heidegger assume tratamento cientificista.
O Sentido do ser
A proposta de Heidegger é construir uma ontologia capaz de estabelecer de modo adequado o “sentido do ser”.
Quem é que propõe o sentido do ser? O homem é o ente cujo ser se
manifesta; O homem se coloca a questionar o
sentido do ser é um homem que já está em uma situação, Dasein.
O homem é, portanto, o ente que se propõe a perguntar sobre o “sentido do ser”.
Na crítica filosófica heideggeriana temos:
Uma proposta que sugere a passagem da
Perspectiva Epistemológica / Gnoseológica
à
Perspectiva Ontológica
1. A filosofia heideggeriana Opõe-se à tradição filosófica, desde
Platão até Hegel, por esta ter sido apenas investigação da idéia, por conceber o mundo pronto e acabado a partir de idéias, por conceber a existência como essência ideal ou aparição.
1.1 Modo de pensar fenomenológico versus o metafísico.
Na metafísica tradicional, há a separação entre ser e ente, o ser é inteligível.
Na fenomenologia o ser de um ente coincide com seu aparecer.
Na fenomenologia a coincidência entre o ser de um ente e seu aparecer torna-se evidente através de como as coisas aparecem para nós.
Na metafísica o ser se torna patente e disponível como a essência de um ente, acessível através de seu conceito (idéia).
A metafísica tradicional
Identificou o ser com a objetividade, com a simples presença dos entes; é metafísica na realidade é física;
Física que fez se esquecer do ser, e que está na origem da técnica, a qual, tornando a realidade – incluindo o homem – puro objeto a ser dominado e manipulado, torna o homem uma coisa entre as coisas.
1.2 O pensar filosófico segundo Heidegger
Heidegger critica a Filosofia tradicional, idealista, o sistema hegeliano pois esta filosofia se “esqueceu” do pensamento para ser apenas epistemologia.
O ser pensado até então manteve-se mergulhado no particular, na linguagem da ciência; onde o próprio desdobramento do conhecimento científico se torna acabamento da metafísica.
O que se questiona não é nem a ciência, nem mesmo à metafísica, mas esta redução lingüística para falar da totalidade das coisas à particularização da ciência.
Para ele a Filosofia não é nem metafísica (aos moldes tradicionais) e nem ciência.
Assim Heidegger diz que a Filosofia precisa dar uma volta sobre si mesma como reflexão do pensamento, da realidade para se chegar ao especificamente filosófico.
1.3 Pensar originário do ser A técnica é o resultado de Platão ao conceito
de verdade;
Para os Pré-socráticos (Anaximandro, Parmênides, Heráclito) a verdade era a-létheia, o desvelar-se do ser;
Platão ao contrário, inverteu a relação entre ser e verdade, no sentido em que a verdade estaria no pensamento que julga e estabelece relação com a realidade e não no ser que se desvela ao pensamento.
1.4 E, então como recuperar a verdade do ser? Para falar da realidade nós usamos nossa
linguagem (palavras, regras gramaticais, etc.) O ser se desvela, segundo Heidegger, não na
linguagem da ciência, ou na tagarelice inautêntica, mas numa linguagem autêntica.
Entretanto, existe a voz do ser, a consciência que chama à existência, quando então nos colocamos não no plano “ontico” ou “existentivo”, e sim no plano “ontológico” ou “existencial”, procurando o sentido do ser dos entes, isto é, o sentido do seu existir.
“A linguagem é a casa do ser. E nessa morada habita o homem. Os pensadores são os guardiães dessa morada”.
2. O ser dito pela linguagem: O ocultamento do ser
O ser está continuamente se mostrando nos entes e permanentemente ocultando-se neles próprios. O ser se esconde justamente onde se manifesta, porque, manifestando, se oculta na própria manifestação.
Na medida em que se oculta é buscado, na medida em que se revela é deixado de ser buscado.
O saber do ser fica assim, ainda, escondido nele mesmo. O que podemos dizer do ser é infinitamente menor do que é o próprio ser.
Na proporção em que desvelamos o velado, este ainda continua velado por aquilo que não conseguimos atingir nele.
2.1 O uso da Linguagem Do ponto de vista wittgensteineano isso
equivale a dizer que não é possível reduzir a linguagem à isomorfia entre signo e coisa. O real se diz, antes e depois, por meio de diferentes jogos de linguagem impossíveis de serem objetificados totalmente.
2.2 A linguagem enquanto ‘princípio’ filosófico A linguagem, do ponto de vista da hermenêutica
heideggeriana, não se reduz a um objeto passível de dissecação nem se constitui num simples instrumento de comunicação, mas ocupa, num certo sentido, o lugar ocupado pelo Ser no mundo, Dasein na expressão de Heidegger.
Ora, considerando a linguagem como um princípio filosófico, e que tudo que se pressupõe na hermenêutica é linguagem, podemos dizer que a hermenêutica é um discurso ontológico.
“O pensamento não é nada sem a palavra”.
2.3 A linguagem como tarefa específica do filosofar
Para Heidegger a Filosofia se caracteriza por ir
ao encontro da possibilidade do que pode ser comunicado, da linguagem que se diz do ser nos entes.
A linguagem possibilita o dialogo entre os filósofos , é colocar-se de suas inquietações, diante do problema que colocaram, respondendo ao apelo do ser no ente.
O dialogar aparece como potencialidade de gestar a Filosofia, o filosofar é o contínuo dizer do ser no ente.
Na verdade o filosofar é um constante penetrar, através do diálogo, na realidade das coisas.
Considerações finais... No mundo da práxis a sociedade pensa o ente como sendo o ser, o
particular como universal, as múltiplas formas de aparecer do ser com o SER propriamente dito.
A realidade fenomênica (política, social, econômica e cultural) está sempre velada, escondida, escamoteada, manipulada e desvirtuada quando os outros usam-na em seu próprio benefício.
Somente um pensamento que se abstrai e se retira do imediatismo das coisas e de suas circunstâncias pode buscar uma compreensão mais abrangente de realidade.
Deste modo, nosso ser histórico, inserido no mundo, toma consciência não só de que está nele, mas percebe que possui a capacidade de transformá-lo a partir do pensamento e da linguagem enquanto compreensão, sentido e ação.
Linguagem e pensamento se constituem em ação em que a alteridade se produz de modo imanente e imediato diante da manifestação do ser.
Através da linguagem o ser se identifica não só e nem unicamente em sua própria subjetividade mas na intersubjetividade do outro, como alteridade de si mesmo que se reconhece no outro.
Ao encontrar a alteridade em si, o eu encontra a identidade consigo mesmo, tornando-se possível apreender a alteridade do outro enquanto identidade.
A alteridade do si, no eu, dá-se, justamente, na alteridade do outro que se manifesta no nós. O eu não se compreende se não a partir desta identidade que se constrói, pelo diálogo, de intersubjetividade .
Avaliação Questão para reflexão Depois de estudar a temática ser e
linguagem elabore um texto sobre o filosofar enfatizando a crítica heideggeriana à metafísica tradicional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FLEISHER, Margot (org.). Filosófos do Século XX. São Leopoldo: UNISINOS, 2006.
__________ & HENNIGFELD, J. (Orgs.) Filósofos do século XIX. Vale do Rio dos Sinos: UNISINOS, 2006.
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________________. Ser e Tempo. Trad. De Marcia Sá Cavalcanti Schuback. Editora Vozes: Rio de Janeiro, 1986.
REALE, G. História da Filosofia. São Paulo: Paulus: 2005. Vol 1-7.