SETEJABI^O I f l S Fj O A. ± 8 8 5
glorias da sciencia não são morgado de fami- ia alguma, nem patrim ónio de nenhum par
tido : pertencem ao seu paiz, são da hum anidade inteira.
A luz que d’esses astros se expande não póde ser cir- cumscripta no seu poder il- luminante, e apenas encontra reflexo na posteridade que os celebra e os applaude.
Essa—a posteridade— ia-se agora approximando com todas as suas glorias, mas tambem com todas as dôres que a precedem, de um dos vultos mais honrosos do partido legitim ista, de um dos membros mais venerandos , da nossa aristocracia, de um dos luminares da nossa lit- teratura, no rigor da investigação histórica, e no valor e tenacidade do trabalho.
A doença, porém, foi vencida, e nós hoje justam ente nos regosijamos dó poder apresentar a biographia d’a- quelle homem, que é nosso correligionário, nosso amigo e nosso mestre, ainda em v ida d’elle, e debaixo d’aquel- le tríplice aspecto de político, de fidalgo e de sabio.
A uma outra gloria d’este partido, que tantas conta, apresentava o nosso celebrado Malhão, n ’uma das mais brilhantes coroas da sua preciosissima vida oratoria, debaixo de tres pontos de vista: como fidalgo, como soldado, como homem retirado das scenas do mundo.
E se o Conde de Barbacena merecia do grande ora
dor a applicação do justumãeãuxit Dominus per vias rec- tas, considerado sob qualquer d’aquelles aspectos, não menos a merece o nosso illustre biographado, fidalgo como aquelle, e das mais nobres tradicçoes; soldado das lettras, como elle o foi das armas; e como elle re
tirado das scenas do mundo, bastante mesquinho para conter um homem do seu valor e bastante néscio para o levar a retirar-se de suas vergonhosas scenas.
João Antonio de Lemos Pereira de Lacerda, 2.° visconde e2.°alcaide-mórde Ju - romenha, 15.° senhor do morgado de Yalformoso, commendador da ordem de S. Bento d’Aviz e socio da Academia Real das Sciencias, nasceu em Lisboa, na rua de S. Domingos, á Lapa, no dia 25 de maio de 1807, filho dos viscondes de Jurom enha, o tenente general dos reaes exercitos, Antonio de Lemos Pereira de Lacerda, e de D. Maria da Luz W illoughby da Silveira.
Os, primeiros annos da vi • da do illustre septagenario foram passados no Collegio de S. Pedro e S. Paulo, vu lgo Ingleeirihos, d ’onde passou para o Real Collegio dos Nobres, de que era reitor, ao tempo, o sabio dr. R icardo de Sá Nogueira, governador do reino durante a
ausência do Senhor D. João VI, e onde recebeu, conjunctamente com muitos que depois ennobreceram este paiz, e que a morte tem ceifado, uns apoz outros, as primeiras sementes d’aquelle saber, com que mais ta r de havia de florir e fructificar, em brilho e proveito
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para a nosssa litte ratu ra liistorica. Passou depois a Coimbra, sendo seu mestre o celebre arcebispo d’Evo- ra, .F r . Fortunato de S. Boaventura, com destino a doutora^-se nos cursos mathematico e philosophico; mas aqui surgio, para desgraça do paiz e de tantos que lhe foram victimas, a triste guerra civil, que a rm ava irmãos contra irmãos, condiscipulos contra con- discipulos, portuguezes contra portuguezes, e que ta n tos preclaros engenhos mallogrou, arrebatando-os em suas luctas fratricidas.
Abre-se então um parenthesis na vida litte raria do nosso biographado, parenthesis honrosamente prehen- ebido pela sua curta carreira militar, inicio da sua exemplar vida politica. Entre a mão, que havia de m anejar a penna com singular saber, e aquella que se apoiava com fidelidade nos copos da espada estava um coração immaculado que não esquecia os preceitos da justiça e os dictâmes do direito, antes palpitava de enthusiasmo pela legitim idade do throno e das instituições.
Quando o Sr. B. Miguel descia de Santarém, para cortar os vôos á revolução, o Visconde, com seu pae, corre a reunir-se ao sr. Infante, a quem encontrou no Cartaxo. Depois sentou praça de cadete no 4 de cavallaria para defender a causa da legitim idade das instituições, onde teve por companheiros a muitos m ancebos da nobreza que então se alistaram no exercito para o mesmo fim.
E quando o paiz pela vóz quasi unanim e dos seus filhos, pelas representações dos seus munícipes, pelas manifestações de toda a ordem e de todas as classes, saudava como Bei o inquebrantável Principe que re gressava do exilio, a que a intrigante e covarde revolução o condemnára, foi o Visconde de Jurom enha o iniciador e promotor da representação, por muitos motivos brilhante, que áquelle Augusto Senhor foi d irigida, pedindo a sua acclam ação; foi elle que procurou o arcebispo de Lacedemonia, como membro do clero, e o Duque de Lafões, como membro da nobreza, para que pozessem a sua influencia ao serviço de tão alevantada idéa, e os seus nomes respeitáveis no alto d’essa mensagem.
Nem adm ira que em tão verdes annos manifestasse com tal ardor o sentimento politico, quem já revelara sisudez e prudeneia em subido gráu, pedindo a um dos vultos mais influentes d’essa epocha que se dirigisse ao sr. D. Miguel e o aconselhasse a que dêsse a am nistia politica aos liberaes, pedido esse que, tendo-se realisado, talvez houvesse salvado da queda o throno legitimo.
E esta dedicação pela dynastia já vinha dos seus maiores, e tanto que o sr. D. João vi agraciou o nosso biographado, ainda em vida de seu pae, com a sobrevivência do titulo de Visconde, da commenda de Jurom enha da ordem de S. Bento de Aviz, em cuja ordem professou no mosteiro das coinmendadeiras da Encarnação, e alcaidaria mór da mesma villa.
O Visconde, por si. e como representante de seu pae. tomou tambem parte n ’aquella luzida e im portante reunião, em que se discutiu e deliberou sobre_ a questão da legitim idade dynastica, reunião que foi, e será sempre, o mais elevado protesto contra as accusações de ambição de poder n ’um Bei, que não se declarou tal, sem que a nação se pronunciasse primeiro; e que foi, é, e será o mais estável argumento a favor da li- gitim idade d esse Bei.
O Visconde de Jurom enha foi, pois, um dos 78 titu lares que assignou o eloquente assento do braço da nobreza, dos quaes poucos restam.
Devia sem duvida tem er as consequencias de seguir tão aberta e claramente a causa que, convicto, protegia, quem presenciáva o modo pirque eram tratados, pelos que vinham em nome da uberdade, os que defendiam as nossas verdadeiras liierdades tra- dicionaes; e por isso foi que, em seguidt á derrota de
Cacilhas, o Visconde, que ali sustentára, em quanto poude, com a espada, a causa da legitimidade, teve de homisiar-se em casa do vice-consul de França, M. Pichon, de onde emigrou para esse paiz, attenta a impossibilidade e perigos de se jun ta r novam ente ao exercito fiel, depois da entrada de Terceira em Lisboa.
Era o exilio que principiava; era a emigração levando agora para o estrangeiro os legitim istas, como já levára os liberaes; era o partido trium phante in timando aos vencidos o silencio para quando mais tarde, fortes com a victoria, lançassem ás faces d’estes as suas tyrannias de quando governo; era-ainda um triste conjuncto de circumstancias restituindo o soldado á litteratura, era a guerra restituindo-o aos livros, de que ella propria o arrancára.
Em França, onde residiu sua ex.mas mãe e irmãs que , tambem se exilaram por igual motivo, tra vou conhecimento cOm muitos homens emminentes, e bebeu nos riquissimos mananciaes de suas inst.iuctivas bibliothecas aquelles conhecimentos, e aauelles estudos que lhe haviam de trazer as prim eiras cans.
J á por esse tempo elle esboçára uma obra para estudo, seguindo a inspiração e systema de Chateaubriand no Gênie du Cliristianisme, e que intitulava “Influencia da Beligião Catholica nos costumes, engrandecim entos, litteratu ra e bellas-artes entre os "portuguezes,,, e que, como muitas das obras do illustrado escriptor, é ainda desconhecida, pelo fatal motivo de uma modéstia extrema, que nos homens da p lana do Visconde de Jurom enha, quasi attinge as proporções de’ um crime contra a humanidade, privada assim dos seus talentos.
Serenados mais os ânimos no paiz, entendeu o Visconde poder voltar a Portugal em fins de 1834; e desde esse dia começou a applicar-se com todo o vigor da sua vontade inquebrantável aos estudos históricos, procurando e investigando nos archivos publicos os factos que lhe poderiam ser guia para os trabalhos que a sua grande intelligencia já delineara. A aptidão do Visconde em pouco se tornou conhecida pelos homens de letras notáveis d’aquella epocha. Almeida G arrett, Alexandre Herculano e todos quantos então cultivavam as letras procuraram as relações do illustre fidalgo, apesar da diversidade de idéas políticas. E em breve se estabeleceram entre o Visconde e aquelles ligações de cordealissima amisade: nem outra cousa podia succeder attentas as qualidades distinctissimas do nosso biographado.
Eram-lhe enlevo os trabalhos assíduos das letras, mas nem por isso olvidava as luctas políticas. Vigorosos lidaadores eram Manuel e Josè Passos, Almeida G arrett Alexandre Herculano, e com estes amigavelmente sustentou o Visconde animadas discussões, nas quaes não poucas vezes levava a melhor aos seus valentes adversarios. E n ’essas pugnas da palavra grandes serviços fazia á causa que convictoj urára.
Quantas vezes o Visconde imporia áquelles b rilhan tes espiritos a luz que esclarece e illnmina?
Quantas vezes aquelles soldados do campo liberal se teriam compenetrado da justiça e verdade da causa que o caudilho da legitim idade advogava? A amisade d’esses homens pelo Visconde o attesta.
E de quanto foi sincera e leal a amisade entre os illustres paladinos de campos diversos é prova a convivência intima em que passavam, convivência tão in tim a que causou a admiração a um general hespa- nhol ao presencear aquelle fraternal trato.
Com o regresso á patria, term ina o periodo m ilitante da vida politica do Visconde, que se recolhe á sua mesa de trabalho, sempre povoada de innumeros manuscriptos, e preciosos livros, e onde apezard’isso o foram muitas vezes desassocegar as vistas da politica adversa. L iga depois a sua existencia á do um a vir
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tuosa senhora, a ex.raa sr.a D. Carlota Em ilia F erreua Sarmento, filha do conselheiro Manuel José Sarmanto, e da Ex.ma Sr.a D. M arianna Baym unda Ferreira da Silva Leitão, que a de outubro de 1857 o deixou na viuvez.
Por mais de uma vez se lhe fizeram iortes insistências para que acceitasse Um emprego do paço ou, do estado, indicando-se mesmo, o de guarda-mór da Torre do Tombo.
Tudo, porem, regeitou aquelle vulto spartano, nascido para o estudo e para o sacrifício, que não conseguem derrubal-o. Caem-lhe na sepultura,, uns apoz outros, os parentes e os amigos; desfazem-se-lhe á força de investigação histórica as calumnías com que rodearam a Lu- crecia Borgia, e a lenda em que envolveram o nosso Grão Vasco; mas nada anniquila aquella compleição, fraca na apparencia, forte na realidade.
B ehabilita a memória de Lucrecia, reduz ás verdadeiras proporções a lenda do celebrado pintor, cuja certidão de. baptismo conhece; e segue no aturado estudo de quanto respeita ao grande e imm ortal cantor de nossas glorias.
O Visconde de Jurom enha é, incontestavelmente, o primeiro camoneano, permitta-se-nos o termo Foi elle, por isso, o escolhido e eleito para presidir ás celebradas festas do 0/ ntenario de Camões, mas tanto o honrou a nomeação, que lhe era homenagem da imprensa de todo o paiz, como a sua demissão, quando presen- tio que alguma cousa ía de envolta com o fim prim ordial cbesse centenário.
L ’ de grande valor litterario o seu conhecido livro Obras de Luiz de Camões, cuja critica não nos compete a nós fazel-a, nem o espaço nol-o p e rm ittir ia ; mas já antes publicára outro de bastante interesse, e que foi o seu baptismo litterario — Cintra Pinturesca, revista por Alexandre Herculano, com quem tomára conhecimento por intermedio do talentoso escriptor, Ignacio Pizarro de Moraes Sarmento.
Quando 0 exercito italiano entrou em Poma, o seu coração de puríssimo catholico palpitou vehemente, e de sua penna saiu um Submisso Protesto de Portuguez Catholico ao Santíssimo Padre Pio IX .
Afora estas obras, que a modéstia do seu auctor não privou de publicação, como aos trabalhos já feitos— Lucrecia Borgia, Resposta ao sr. Latino Coelho a proposito do seu livro “Camòes„, Engelberg — descripção de viagem, feita pelo Visconde á Allemanha, onde foi assistir, em 1873, ao casamento da Augusta Irm ã de Dom Miguel II, a archiduqueza d’Áustria Dona Maria Thereza, Onde estava a liberdade?, valiosissimo e instructi- vo estudo comparativo a favor das nossas antigas instituições, e varias biographias de poetas clássicos sobre novos documentos; afora tudo isso, que a exaggerada e m elindrosa modéstia do ^ isconde tem com invencível tenacidade privado da publicação, apenas existem dois pequenos folhetos, um jocoso e conhecido — O Leão e 0 Burro, dirigido ao general Leone, em defeza do livro Camões; e outro impresso, inflamado de patriotismo e vehemencia contra 0 facto de não estarmos representados na abertura do Isthmo de Suez, intitulado O Isthmo de Suez e os Portuguezes.
Pelos jornaes legitimistas andam espalhados muitos e valiosos artigos seus, e tanto 0 Jornal de Bellas Ár- tes, como a Revista Critica trazem preciosas deseripções feitas por seu punho, e com a sua aturada investigação de muitas das nossas obras artísticas._ O conhecido conde de Baezynski, ministro da Prus-
sia, mereceu-lhe especial collaboração no seu diccio- nario Historico-artitisque du Portugal, onde a pag. 123 se lê esta nota: “je dois avouer à propos de cet arti- cle (Orand Vasco) que sans M. le vicomte de Jurom enha je ne serais jam ais parvenu à débrouiller laques- 'io n de Grand-Vasco et que sans lui mon ouvrage se- ra it bien plus incomplèt qu’il ne l ’est pas.„
E assim, trabalhando sempre, e sempre escondido, vive ainda hoje, restituido aos seus livros, os maiores amigos que no mundo tem o nosso biographado, que tantos affeiçoados conta, pelo seu bondosíssimo caracter, pelo seu talento, pela sym pathia que inspira.
Vemol-o fidalgo, e soldado das lettras, retirado das scenas do mundo, como veterano d’esta inexpugnável fortaleza da legitimidade, animado sempre d’uma convicção fortíssima, sempre esperançoso do resurgim en- to da sua patria, sempre conciliador e affavel para todos, amigos e adversarios, legitim istas e liberaes.
E ’ 0 cerebro illustrado que na noite, que vamos atravessando, illum ina o passado, restituindo- á verdade histórica, e guia 0 presente, dando-lhe exemplo, e instruindo-o.
O J v L I N H O
Solo d’enlêvos, onde a vida abraça,Com terna graça, o castanheiro em flor! Abre-me o seio, em que um vergel se apinha, O’ patria m inha de encantado amor!
Quero cantar-te, como a rôla, ausente,Canta, plangente, os africanos ceus,Como ella aspira ao seu distante ninho,Aspiro, ó Minho, aos attractivos teus.
Amo os teus campos com perfumes varios, Verdes sacrarios de um constante abril;Amo os teus montes collossaes d’altura,E a luz, tão pura, do teu ceu d’anii.
Veias de prata, em ten fecundo seio,Passam-te em meio rios, não caudaes,E d’entre as flores, que 0 teu chão guarnecem, Cidades crescem, que não teem rivaes.
Braga, a princeza de rem ota era,V irtude austera ainda conserva e a fé;E eleva ás nuvens em padrões de gloria,A nobre historia, de que herdeira ó.
Assenta o throno de entrançado arbusto,No monte augusto do seu Bom Jesus,E tem por corôa de opulência tanta,A Virgem Santa do Sameiro, e a Cruz.
Amares veste laranjaes floridos,Faustos vestidos, com doirado veu;E solta as tranças, de verdura infinda,Na espadua linda, ás virações do ceu.
E ’ Guimarães uma fidalga edos 1Bica e orgulhosa, em seus gentis mameis,Que diz ao mundo, em derredor disperso “Eu fui 0 berço do maior dos reis.,,
Caminha é a joven m arinheira bella,Em pé na ourella do espumoso mar.Monsão envolta nas senis muralhas,Conta as batalhas que logrou ganhar.
Villa dos Arcos, que a sorrir desatas D’entre cascatas, que delicias dão.Barcellos, lyrio, adormecido em sombras Sobre as alfombras do virente chão.
P inha de flores, que a frescura anima,Ponte do Lima, que ideal tu és;Finges o cysne, a re tra ta r a face N’agua, que nasce, e que te corre aos pés.
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■Vianna.. . foge ao incessante beijo,Que o Lima, vejo a lhe tentar depôr;E da m ontanha na, m aterna encosta,Lá se recosta com gentil pudôr.
Eu sou suspeito, porque sou teu filho,'E assim teu brilho não direi jamais,Que o diga quem, ao respirar-te os ares,Te entrou nos lares e passeou teu caes.
Solo d’enlêvo, onde a vida abraça,Com terna graça, o castanheiro em ftôr !Abr e-me o seio, em que um vergel se apinha, O’ patria m inha de encantado amor!
S e b a stiã o P e r e ir a da C uxh a .
V o s s a , m e r c ê e ncuo u o s s êO dr. Joaquim Saneies Semedo foi o ultimo juiz de
fóra da comarca d’Elvas, no antigo regimen.Era um magistrado intelligente, sobremaneira zelo
so do serviço publico, de presença magestosa, polido e ameno trato.
Recolheu-se, depois da convenção d’Evora Monte, á sua casa de Alcains, no concelho de Castello B ranco ; foi, porém, logo obiigado a abandonal-a.
Refugiou-se em Lisboa, mas nem aqui se julgou seguro, e, quando poude, emigrou para a Italia, fixando depois a sua residência em 1'alermo.
C a q u i o chamou El-R ei a Roma, para o incum bir de uma missão im portante em Paris.
Foi a missão, que menciona a paginas 46, 73 e 116 a obra in titu lada Discussão e Votação da Associação dos Advogados áe Lisboa, etc. ha pouco publicada.
Desempenhada esta missão, foi o dr. Semedo á embaixada do governo portuguez ifiaquella côrte, para se lhe visar o passaporte, e depois retirou-se.
Tres vezes foi áquella repartição, e tres vezes se lhe recusou, sob fúteis pretextos, preencher aquella formalidade de expediente ordinário.
Rão era o dr. Semedo homem, que Soffresse paciente e impassivel qualquer vexame.
Dirigiu-se ao ministro dos negocios estrangeiros de França; queixou-se da violencia, que lhe fizera o embaixador portuguez, obrigando-o a permanecer, contra sua vontade, em Paris, com offensa do governo de França, sob cuja proteccão se achava como estrangeiro. Pedia, por isso, que por aquelle ministerio lhe fosse visado o passaporte, para sem mais demora regressar a Roma.
Ouviu-o com a proverbial cortezia franceza o m inistro, e convidou-o a voltar á embaixada em hora apra- sada.
E ra então embaixador do governo portuguez em Paris Luiz Antonio de Abreu e Lima, depois visconde o oonde da Carreira, cavalheiro bem nascido e reputado, geralmente, um fidalgo em toda a extensão da palavra.
Resentido do lembrete do minisiro francez, appareceu, logo que se lhe annunciou a chegada do queixoso, e dirigiu-se-lhe com assomos e sobrecenho de irr itado :
— “Estes senhores emigrados trazem sempre o rei na b a rr ig a ...
— “O que quer vossê?— “ Prim eiro que tudo, respondeu com serenidade
im perturbavel o dr. Semedo, quero se me dê o tra ta mento que me compete por lei.,,
— “ Sou membro da antiga m agistratura portugue-ZBi-
“Tenho um vossa mercê e não um vossê.,,Pareceu fulminado Abreu e Lima com tão inespe
rada resposta, e aprum ada sentença do emigrado.
Esteve calado alguns in stan tes. . .Pediu desculpa dos seus termos inconvenientes, e
procedimento arrebatado, e mandou immediatamente visar o passaporte.
Ouvimos esta anedocta, referida substancialmente como fica escripta, ao nosso excellente e saudoso am igo dr. Semedo, que, ao contai-a, ainda se m aravilhava da extraordinária impressão, que produziram suas palavras em um diplom ata costumado, em sua longa carreira, a tra ta r negocios publicos xariados.
F. A. R o d r ig u es d e G usm ão .
A e s m o la ,
Bôm é o jejum, mas melhor é a esmola; se pelo je jum se afflige e macera a carne propria, com a esmola se recreia e restaura a alheia. Bom ó orar, mas m elhor é esmolar, porque tambem ora o que dá esmola, e m elhor é o orar das obras, que o das palavras, diz Innocencio. Santo Agostinho affirma que m elhor é esmolar, que jejuar, porque fazer esmola basta a quem não póde jejuar, não bastando o jejum sem esmola a quem póde dar por amor de Deus um púcaro de agua fria.
O’ quem fôra como Job, pae de orphãos, medico de enfermos, vista de cegos, pés de côxos, capa de nús, porta aberta para peregrinos, e consolação a desconsolados !
Q H A ^ A D J Í
Um partido por mim se tem marcado./ 9Ra Franceza Ração, e seu Congresso; iRa terra aonde entrei altivo e irado I ^Batido sahi e mui veloz regresso; i .Bem, que por longas éras ignorado,Me dão hoje as Rações mui alto apreço,Depois que em mim, com gloria edeficaramNovo imperio, qac tanto sublimaram.
Explicação das charadas e logogripho do numero antecedente:
Logogripho — Legitimidade.Charada — Socego.
EXPEDI ~ !=
A administração do Álbum Legitimista,. previne os seus assignantes, que ainda não satisfizeram a importancia das assignaturas, e a quem roga o obséquio de as satisfazer com brevidade, que mantém a declaração do seu programma, não enviando o numero seguinte a quem não tiver satisfeito pelo menos a importancia da primeira serie.
xO Á lb u m J L e g i í im í s ía , assigna-se, e vende-s», em Lisboa, na
rua dos Fanqueiros 235, 2.% paia onde deve ser dirigida toda a correspondencia.
XI.ISBOA=Mez (ou numero,), 100 réis, pagos no acto da entrega.PROVIXCIAS=Cada série de 3 nutner s, 300 réis, pagos adiantado.NUMERO AVULSO—120 réis.
PROPRIETARIOS!). João Pacheco Pereira Coutinho— 11. M .lu p s to da Silva Rruschy
PH OT. R. P. M. BASTOSCalçada do Duque, 25
Typ. Gutierres—R. do iSorte, 104