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Textos de apoio 7º módulo: Públicos da cultura
25 e 26 de novembro
Thereza Penna Firme
Gustavo Venturi
Maria do Rosário Ramalho
Sesc São José dos Campos
Fundação Cultural Cassiano Ricardo
2014
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A avaliação dos projetos culturais em sintonia
com os avanços da avaliação no século XXI Thereza Penna Firme, Ph.D.
A cultura é uma realidade multidimensional e suas características devem ser
respeitadas nas suas especificidades em termos de valores, ideais, costumes,
manifestações artísticas, descobertas científicas, necessidades e perspectivas, entre
outros. Um projeto cultural depende, substancialmente, de uma avaliação competente
que sustente seu planejamento e desenvolvimento, sob a responsabilidade de um
avaliador culturalmente competente e sensível que se apoia na competência cultural dos
integrantes do projeto cultural. Nessa conexão, é que se constrói o processo de
transformação e o aperfeiçoamento pleno de um empreendimento cultural de grande
alcance. Entender e apreciar cada contexto e inovação cultural é um desafio inadiável.
O conceito de avaliação evoluiu aceleradamente nas duas últimas décadas e a
prática da avaliação não tem acompanhado esse avanço, o que tem gerado distorções de
métodos e resultados. Nesse sentido, a capacitação do educador no que se refere aos
padrões da verdadeira, é crucial e urgente para que a avaliação cumpra o seu propósito
de promover a transformação.
Avaliar pode ser um empreendimento de sucesso, mas também de fracasso; pode
conduzir a resultados significativos ou a respostas sem sentido; pode defender ou
ameaçar. Ou avançamos na mudança de século, ou tropeçamos. A decisão clama pelo
desafio porque as aceleradas inovações teórico-metodológicas na avaliação, como
disciplina, estão em descompasso com a prática educacional que, lamentavelmente,
salvo algumas exceções, se perde na contramão da trajetória ascensional das grandes
tendências que os estudiosos apontam nesses 100 anos de história da avaliação, desde a
simples mensuração à negociação de juízos de valor, critérios, procedimentos e
resultados. Autores como Guba e Lincoln , Patton , Stufflebeam , Fetterman , Cronbach
, Worthen, Sanders e Fitzpatrick , sustentam esses avanços.
Dessa desafiadora concepção da avaliação resulta, como imprescindível, a
capacitação de educadores, líderes, dirigentes e profissionais, nos vários âmbitos
disciplinares, para a melhor utilização da avaliação. Mais especificamente, a formação
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do avaliador é um desafio conseqüente para a avaliação do novo século. É, pois, na
medida em que avaliados e avaliadores dialoguem, instituições e sistemas se sintonizem
e inteligências múltiplas se complementem, que a avaliação irá emergindo com as suas
características mais notáveis de propulsora das necessárias transformações
educacionais, sociais e culturais e advogada na defesa dos direitos humanos.
Assim, o grande desafio nesta era contemporânea da informação não é a
capacidade de produzir, armazenar ou transmitir informações, mas sim reconhecer o que
é importante saber e, de fato, utilizar essa informação .Nessa perspectiva, a questão
crucial é descobrir o que é preciso fazer para criar e desenvolver avaliações que sejam
realmente utilizadas para reduzir incertezas, melhorar a efetividade e tomar decisões
relevantes. Por isso mesmo, a grande meta da avaliação é a ação. Seu significado maior
está em fortalecer o movimento que leva à transformação, nele intervindo sempre que
necessário. A preocupação dos estudiosos da área em definir padrões de excelência
para a avaliação tal como foi dito anteriormente, gerou um substancial conjunto de
critérios agrupados em quatro categorias encabeçadas pela dimensão utilidade, o que
significa que uma avaliação não deverá jamais ser realizada se não o for para ser útil.
Segue-se a dimensão viabilidade, segundo a qual ela terá que, além de útil, ser
conduzida considerando aspectos políticos, práticos e de custo-efetividade. Em sintonia
com tais características, e não menos importante, é a ética com que deve ser realizada,
no respeito aos valores dos interessados, incluindo grupos e culturas. E, finalmente, se
for possível desencadear uma avaliação útil, viável e ética, então será importante
considerar a característica precisão, no que tange às dimensões técnicas do processo.
Mais recentemente, um novo critério ou standard emergiu e se refere à accountability,
traduzido como prestação de contas e se refere à responsabilidade demonstrada no uso
de recursos, atividades ou decisões, na realização da avaliação. Tais critérios de
excelência clamam, portanto, por avaliações sensíveis à responsabilidade situacional,
metodologicamente flexíveis, dinâmicas no entendimento político e substancialmente
criativas para integrarem todas essas dimensões na direção do desenvolvimento e do
aperfeiçoamento de seu objeto seja ele um projeto, um programa, uma instituição, um
sistema ou indivíduos. Cada avaliação deve, pois, revestir-se de características próprias
em sintonia com o contexto social, político, cultural e educacional onde se realiza e de
forma tal que o avaliador é essencialmente um historiador , que descreve, registra e
interpreta a história singular de cada cenário.
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Nessa concepção, que representa um enfoque mais amplo e amadurecido
de avaliação, característico da década que vivemos, são levados em consideração os
valores, as preocupações e as percepções dos interessados em relação ao objeto da
avaliação. É com essa abordagem que a avaliação atinge um clímax de responsabilidade
e de participação como facilitadora de um processo de fortalecimento do seu objeto de
atenção. Nesse sentido, ela intervém para reforçar potencialidades e sucessos, em vez de
meramente registrar dificuldades e fracassos. No concerto dos vários atores e
harmonizando a inter-subjetividade na formulação dos juízos de valor, o processo
avaliativo terá que adentrar o mérito de seu objeto enquanto valor interno, implícito e
independente de quaisquer aplicações; e mais amplamente descobrir sua relevância ,
enquanto é útil nos seus resultados, repercussões e impactos. É também necessário levar
em consideração a importância do processo em questão. A avaliação no significado
mais amplo é, pois, um desafio e, para alcançá-lo, a criatividade e a sensibilidade, a
objetividade e a subjetividade estão presentes e atuantes, sempre que necessário, para
responder com propriedade às indagações e facilitar a ação de aperfeiçoamento.
Lamentavelmente, porém, a boa intenção de projetos e programas educacionais,
sociais e culturais não basta para sustentar seu desenvolvimento e mais crítico ainda,
seus resultados mais relevantes. O campo é desafiador e clama por múltiplas
inteligências, profunda sensibilidade e articulada comunicação entre os envolvidos nas
complexas dimensões e implicações, que são a marca mais contundente dos problemas
sociais que agridem todos os níveis e espaços de uma sociedade. E a nossa não está
isenta.
Os estudiosos mais atualizados da avaliação têm sido pródigos e criativos na
diversidade de concepções teóricas e metodológicas e na busca de abordagens mais
capazes de análise, compreensão e intervenção, para o efetivo desencadeamento de
impactos. Nessa gama de abordagens e modos de ver, a avaliação vai adquirindo
diferentes enfoques sem, contudo, mostrar conflitos ou divergências substanciais.
Em síntese, porém, um fator sumamente crucial e que está presente neste
momento atual de avanços na avaliação é o respeito à participação efetiva de todos os
interessados no processo ou stakeholders e que independente de sua condição social,
econômica acadêmica ou outras, são elementos cruciais que devem atuar no processo,
desde sua concepção até seus resultados. Somente assim, a avaliação será útil nas
necessárias transformações que os programas e projetos sociais, educacionais e culturais
pretendem alcançar.
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Thereza Penna Firme é doutora em Educação e Psicologia da Criança e do
Adolescente pela Stanford University, Estados Unidos. Atualmente, é coordenadora do
Centro de Avaliação da Fundação Cesgranrio. E-mail: [email protected]
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Públicos da cultura - pesquisa nacional Gustavo Venturi
Universo: população brasileira (16 anos e mais), residente nas áreas urbanas.
Técnica: survey nacional. Amostragem probabilística nos primeiros estágios (sorteio
dos municípios, dos setores censitários, dos quarteirões e dos domicílios), combinada
com controle de cotas de sexo e idade para a seleção dos indivíduos (estágio final).
Amostra: 2.400 entrevistas, com distribuição geográfica em 139 municípios de 25
estados, das cinco regiões que compõem o país (Sudeste, Nordeste, Sul, Norte e Centro-
Oeste), estratificada por localização do domicílio (capitais, regiões metropolitanas e
interior) e pelo porte dos municípios (divisão em tercis regionais: pequenos, médios e
grandes).
Abordagem: aplicação de questionário estruturado em entrevistas pessoais e
domiciliares (tempo médio de 45 minutos/ entrevista). A amostra foi dividida em duas
sub-amostras espelhadas, aplicando-se a cada uma um questionário específico (A ou B),
sendo parte das perguntas comum a ambos, outra parte com perguntas diferentes.
Margens de erro: até ± 2 pontos percentuais para os resultados com o total da amostra,
até ± 3 p.p. para os resultados das perguntas apenas nas sub-amostras, ambas com
intervalo de confiança de 95%.
Data do campo: Coleta dos dados de 31 de agosto a 8 de setembro de 2013.
Iniciativa e realização: Sesc e Fundação Perseu Abramo (FPA).
Coordenação operacional: Núcleo de Estudos e Opinião Pública (FPA) e ECO
Assessoria em Pesquisas, sob a orientação do sociólogo Gustavo Venturi (USP).
PRINCIPAIS RESULTADOS
LAZER, ATIVIDADES CULTURAIS E USO DO TEMPO
Em relação aos principais hábitos de lazer, aproximadamente metade dos
entrevistados afirmou que nas horas livres dos fins de semana se dedica a atividades
dentro de casa e/ou faz atividades de lazer/entretenimento, como ir a restaurantes,
shoppings, sair com amigos, etc. Já entre segunda e sexta-feira, enquanto as atividades
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dentro de casa são mencionadas por 66% dos pesquisados, as atividades de lazer e
entretenimento se reduzem a 23%.
Considerando-se o total de horas gastas em atividades ao longo da semana, as
que fazem as pessoas gastarem maior tempo são: os cuidados pessoais com a própria
saúde, incluindo alimentação e tempo dormindo, a realização de algum trabalho
remunerado, os afazeres domésticos, assistir TV e o deslocamento de um lugar a outro.
Já aos fins de semana, a presença da TV sobe para o segundo lugar, seguida dos
afazeres domésticos, passeios e o trabalho remunerado. É importante salientar que o
trabalho remunerado está presente nos finais de semana para 31% dos entrevistados. O
público-alvo pesquisado, no entanto, tem nas viagens e na companhia da família as
atividades mais valorizadas. Quando perguntados sobre quais atividades gostariam de
fazer nas horas livres se pudessem escolher livremente, sem a preocupação com o
tempo, dinheiro ou permissão, mais da metade citou o desejo de viajar, enquanto 41%
citaram a companhia da família, 24% a vontade de cuidar de si mesmo(a) e outros 18%
a intenção de descansar e não fazer nada.
Os principais locais visitados quando desejam fazer alguma atividade cultural
nos fins de semana são os shoppings, cinemas, parques, igrejas, teatros, restaurantes e
outros espaços de alimentação e praças. A maior parcela se dedica, nos lugares citados,
a atividades de entretenimento e atividades culturais, com uma pequena participação de
atividades esportivas e religiosas. É importante salientar, no entanto, que na percepção
de 51% dos entrevistados nenhuma atividade cultural é feita por eles aos fins de
semana. Essa proporção chega a 85% entre segunda e sexta-feira, de forma que a
principal atividade cultural citada passa ser a ida a igrejas e outros locais religiosos. Não
obstante, se pudessem escolher, 60% fariam alguma atividade cultural no fim de semana
e outros 50% nos dias de semana. Entre os principais locais citados para essas
atividades, destacam-se o cinema, o teatro, os parques e praças e o shopping center.
PÚBLICOS DE CULTURA E GOSTOS
Em termos gerais, é pequeno o leque de atividades culturais realizadas pelos
pesquisados: 89% nunca foram a um concerto de ópera ou música clássica em sala de
espetáculo e 83% em qualquer outro local; 75% nunca foram a espetáculos de dança ou
balé no teatro; 71% nunca estiveram em exposições de pintura, escultura e outras artes
em museus ou outros locais; e 70% nunca foram a uma exposição de fotografia. Além
disso, outras atividades, como ver uma peça de teatro em qualquer local (61%), a uma
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peça no teatro (57%) e a um show de música em uma sala de espetáculo foram outras
atividades cuja maioria dos entrevistados afirmou nunca ter realizado.
Dentre as principais razões citadas para não realizarem mais atividades culturais,
os motivos se dividem entre impossibilidades objetivas – como a inexistência de
equipamentos correspondentes em seus municípios (salas de cinema, de teatro ou de
espetáculos), ou a inacessibilidade aos mesmos, por distância ou custo – e
impedimentos de natureza subjetiva, relativos à não formação de repertório e gosto,
alegando falta de hábito ou costume, não acharem interessantes/importantes alguns
desses tipos de atividades, ou simplesmente por não gostarem.
Por outro lado, as únicas atividades cuja maior parte das pessoas pesquisadas
afirmou já ter realizado foram: assistir a um filme em casa ou outro lugar diferente do
cinema (91%), dançar em bailes e baladas (80%), ir ao cinema (78%) e ao circo (72%),
ler um livro por prazer (69%), assistir a um show de música em casa ou outro local
diferente de casas de espetáculos (69%) e a ida a bibliotecas (58%). A maior parte dos
entrevistados realiza essas atividades com amigos e/ou com cônjuge/companheiro(a).
Por fim, os principais meios pelos quais os entrevistados se informam sobre as
atividades culturais a que costumam ir são as sugestões de amigos, parentes e colegas
(41%), a divulgação na mídia (36%) e a internet (25%).
Com relação à primeira atividade cultural com a qual os entrevistados tiveram
contato (ainda na infância ou mais tarde), o circo (29%), o cinema (16%) e o teatro
(11%) foram, com grande distância, os mais citados. Embora não seja desprezível a
porcentagem de pessoas que realizaram essas atividades pela primeira vez já na
adolescência ou fase adulta, a maioria dos entrevistados teve o primeiro contato com
elas ainda na primeira infância (ou, no máximo, até os 10 anos de idade). Enão é
pequena a proporção de pessoas que dizem se envolver em alguma atividade cultural.
Cerca de 15% cantam e 13% dançam, individualmente ou em grupo; 10% tocam algum
instrumento, 7% fazem fotografias, 5% fazem algum tipo de pintura, escultura ou
desenho e somente 4% fazem algum tipo de escrita criativa ou compõem músicas.
No que se refere aos gostos culturais, a maioria das pessoas entrevistadas afirma
gostar de observar os principais elementos culturais e artísticos da cidade, tais como
parques (89%), arquitetura em geral (73%), luzes artísticas e decorativas (70%),
monumentos e estátuas (68%), propaganda e publicidade (54%) e grafites/murais
(49%). Com relação aos gostos musicais, os gêneros mais mencionados foram o
sertanejo, MPB, Forró, Gospel e Pagode; e as principais danças foram Forró, Dança de
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Salão, Samba e Street Dance/Rap. No que diz respeito aos gêneros de teatro, o
preferido, com grande distância, é a comédia, bem como os principais tipos de
apresentação que gostam de ver são o circo, as comédias stand up e os teatros de
bonecos. É importante ressaltar que 26% dos entrevistados afirmam que não gostam de
exposições artísticas e outros 26% que não sabem ou nunca foram a uma.
A maior parte das pessoas (58%) não leu nenhum livro nos últimos 6 meses e os
que leram possuem uma média de apenas 1,2 livros lidos neste período. O segundo tipo
de livro lido mais citado, depois de romance, foi a Bíblia. No que concerne à TV, 62%
afirmam assistir apenas aos canais abertos e 28% tanto a TV aberta quanto a por
assinatura. Os principais produtos culturais vistos na TV são as novelas (54%), filmes
(52%) e os jornais de notícias (44%). Entre os filmes prediletos, estão os de aventura
(39%), comédia (38%) e romance (29%), com preferência pelo cinema americano
(45%) e menos pelo nacional (33%). Cerca de 65% das pessoas vêem filmes nacionais
de vez em quando, enquanto 22% sempre e 14% disseram nunca assisti-los.
MEIOS DE COMUNICAÇÃO
É bastante significativa entre as pessoas pesquisadas a utilização da TV aberta
como meio principal de adquirir informação sobre o que acontece em sua cidade, no
Brasil e no mundo. Ela se destaca em todas as regiões do país (embora com menos força
no Sul) e portes de município. A internet foi citada, neste aspecto, por um terço dos
entrevistados (superando a TV aberta e se destacando como principal meio apenas nos
estratos de renda acima de 5 salários mínimos), seguida de conversas entre amigos,
rádio, jornais impressos e TV por assinatura. Apenas pouco mais da metade das pessoas
pesquisadas afirmou que usa computador e internet (predominantemente em casa),
aumentando significativamente a proporção conforme cresce a escolaridade e a renda
familiar mensal (entre os que possuem ensino superior e renda acima de 5 salários
mínimos, as porcentagens são de 94% e 85% respectivamente). As principais
finalidades do uso do computador e da internet se concentram no entretenimento e
pesquisa: conhecer pessoas e entrar em salas de papo (35%), buscar notícias (28%),
utilizar sites de busca (22%) e enviar emails ou mensagens (14%).
Pouco mais de 8 em cada dez pesquisados possuem telefone celular, mas ainda é
baixa a proporção de pessoas que o utilizam para outras finalidades que não a de fazer e
receber ligações, como comunicar-se por SMS (34%), fotografar/filmar (17%), usar
internet (17%), ouvir música (16%), conectar-se às redes sociais (12%) e jogar (8%).
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Essas outras finalidades não atingem a maioria dos entrevistados nem mesmo entre os
mais escolarizados e com maiores níveis de renda.
PERFIL SÓCIODEMOGRÁFICO
A maioria das pessoas pesquisadas declara ser de cor branca ou parda. A maior
parcela não está estudando e é composta por pessoas que completaram o ensino médio
ou superior, seguida dos que possuem ensino fundamental incompleto. No que diz
respeito aos aspectos ligados ao trabalho, a maior parte dos pesquisados está inserida na
População Economicamente Ativa (PEA), mas é significativa a porcentagem de inativos
(em sua maioria formada por aposentados e pessoas donas de casa) e por
desempregados: mais de 4 em cada 10 entrevistados estão em uma dessas duas
situações. Também merece destaque a proporção de pessoas pesquisadas que estão no
chamado mercado informal, composto em sua maioria por assalariados sem carteira
assinada, conta-própria, temporários e auxiliares sem remuneração fixa. Entre os
entrevistados que estão empregados formalmente, destacam-se os assalariados com
carteira assinada, servidores públicos e os trabalhadores por conta-própria/autônomos
que recolhem ISS. Mais de 7 em cada 10 pessoas pesquisadas trabalham no ramo dos
Serviços (45%) ou do Comércio (29%).
No que concerne ao perfil socioeconômico, por fim, mais da metade dos
entrevistados está inserida nos chamados estratos médios (EM), cuja renda mensal
domiciliar per capita é situada entre R$ 290,00 e R$ 1.018,00. Embora a maior parcela
esteja localizada no baixo ou médio EM, é significativa a proporção de pessoas que
estão nos altos estratos médios (20%) e nos estratos altos (16%), cuja maior
concentração se dá no Sul e Sudeste. Um dado interessante diz respeito à comparação
dos perfis de escolaridade dos entrevistados com os dos seus pais. Quase 9 em cada 10
pessoas pesquisadas tiveram algum tipo de mobilidade geracional em relação ao perfil
de escolaridade da família, sendo a imensa maioria (73%) composta por pessoas que
ascenderam e conquistaram maiores níveis de escolaridade que seus pais. A maior
parcela é casada (54%) e é seguidora de alguma religião, com destaque para a católica
(57%) e a evangélica (28%).
Gustavo Venturi é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo.
Atualmente, é professor do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da mesma universidade. E-mail: [email protected]
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Programa VAI – uma política pública construída
a muitas mãos
Maria do Rosário Ramalho
O Programa para Valorização de Iniciativas Culturais – VAI – da Secretaria
Municipal de Cultura de São Paulo, é resultado de diferentes escutas de jovens e de
organizações que atuavam na cidade no início dos anos 2000. A Comissão da Juventude
da Câmara Municipal, por meio de visitas a projetos desenvolvidos por jovens e de
debates que visavam conhecer os problemas e interesses daquele segmento, trouxe à
pauta diversos temas, destacando-se a cultura pela necessidade de ser reconhecida como
direito da juventude, espaço de sociabilidade, experimentação e autonomia.
Muitas vezes os jovens eram vistos de maneira negativa, pelo envolvimento nos
índices de violência, especialmente nas áreas periféricas. A maior parte das propostas
existentes estava associada à prevenção do uso de drogas, à idéia de tirá-los da rua, ao
trabalho precário, entre outras.
Havia ainda os debates sobre mecanismos de financiamento à cultura, cujas
principais referências eram as leis de incentivo, que excluíam importantes segmentos
culturais de qualquer possibilidade de apoio à sua produção.
É nesse contexto que surge o VAI, em 2003, como política pública destinada a
fomentar grupos não profissionais, prioritariamente entre 18 e 29 anos, que já
desenvolvem - ou querem desenvolver - atividades culturais na cidade, sobretudo em
áreas periféricas com sérios problemas de infraestrutura urbana e de baixo acesso a bens
e serviços culturais. O Programa, de autoria do vereador Nabil Bonduki, foi criado pela
lei 13540, com objetivos de estimular a criação, o acesso, a formação e a participação
do pequeno produtor e criador no desenvolvimento cultural da cidade; promover a
inclusão cultural; estimular dinâmicas culturais locais; e a criação artística.
Dentre as marcas do VAI estão a diversidade de ações que abarca e a
capilaridade no território da cidade. Espraiam-se espetáculos e performances de teatro,
dança e música; exibição e produção de vídeos e gravação de cds; oficinas, eventos de
rua e em espaços fechados; festivais, cultura indígena, cultura popular, capoeira, rádio,
hip hop, produção de jornais, revistas e livros, saraus, contadores de histórias,
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biblioteca, videoteca, memória, formação de produtores culturais, cultura digital,
desenho, entre outros.
A seleção dos projetos é anual, com ciclos completos, do edital à conclusão dos
mesmos. Todo o processo é acompanhado de pesquisa sobre origem dos candidatos,
idade, condição escolar, trabalho, região de moradia e desenvolvimento dos projetos,
custos, etc. Esses dados alimentam a gestão do programa, que baliza sua atuação nas
informações obtidas e no diálogo constante com os envolvidos.
A Comissão de Avaliação e Acompanhamento é composta por membros do
governo e da sociedade civil, indicados pelo Secretário de Cultura, dentre entidades com
atuação cultural, principalmente com a juventude. Além da escolha de projetos, a
Comissão reúne-se periodicamente com a equipe do Programa para acompanhar seu
andamento e fazer sugestões de aprimoramento.
A equipe do VAI elabora o edital em conjunto com a Comissão e responde por
todas as etapas, das inscrições à prestação de contas final.
A formação dos participantes na gestão dos projetos e dos recursos tem grande
importância, razão pela qual a equipe dá assessoria aos grupos desde a divulgação dos
resultados, orientando-os quanto a eventuais necessidades de revisão de projetos e de
composição de orçamento. Acompanha o seu desenvolvimento, identifica dificuldades e
busca junto aos responsáveis as formas de superação. As orientações ocorrem na forma
de reuniões gerais, atendimentos individuais e de grupo, visitas e intercâmbio de
experiências.
Nestes onze anos de existência e com mais de 1300 projetos realizados, o VAI
tornou-se referência de política pública para juventude, contribuindo para a criação de
programas similares em outras localidades. Com o passar do tempo, verificou-se uma
forte articulação entre os participantes e a consolidação de um circuito cultural
periférico. Muitos projetos passaram a ter como objetivo a conexão ou o fortalecimento
de redes, o que modificou o cenário cultural da cidade.
A parceria com o poder público e a apropriação dessa política por parte dos
envolvidos é visível: há grande presença dos grupos em debates do orçamento, de novas
políticas públicas, de lutas por melhorias ou criação de novos equipamentos culturais na
cidade, pelo direito de interferir na programação e na gestão dos equipamentos
existentes.
Em 2013 foi aprovada a lei 15897, que modifica o Programa e cria o VAI II. A
partir da mobilização dos interessados e da inexistência de programas similares que
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permitissem a continuidade das ações nas áreas periféricas, o Programa foi dividido em
duas modalidades: o VAI I continua atendendo jovens, de 18 a 29 anos, com projetos de
até R$ 30 mil. O VAI II apóia projetos de até R$ 60 mil, pressupõe experiência de
atuação cultural em áreas periféricas, sem limite etário. Em sua primeira edição,
subsidiou 60 projetos. A gestão da SMC vem ampliando sua atuação nesse campo, com
a implantação do Programa Cultura Viva/Pontos de Cultura e o Programa Bolsa
Cultura/Agente Comunitário de Cultura, que libera bolsas mensais a articuladores
culturais regionais.
É o VAI fazendo história na periferia de São Paulo.
Maria do Rosário Ramalho é assessora de cultura do gabinete do vereador Nabil
Bonduki, que instituiu o VAI em São Paulo, programa para Valorização de Iniciativas
Culturais, uma política pública de fomento à produção cultural.