UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
O RELACIONAMENTO PROFESSOR-ALUNO E A
APRENDIZAGEM INTELECTUAL NO ENSINO NO PRIMEIRO
GRAU
MARIUZA BATISTA SANTOS
ORIENTADOR: PROF. ROBSON MATERKO
RIO DE JANEIRO
AGOSTO/2001
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
O RELACIONAMENTO PROFESSOR-ALUNO E A
APRENDIZAGEM INTELECTUAL NO ENSINO DO PRIMEIRO
GRAU
MARIUZA BATISTA SANTOS
Trabalho monográfico apresentado
como requisito parcial para a obtenção
do Grau de Especialista em
Psicopedagogia.
RIO DE JANEIRO
AGOSTO/2001
Agradeço as minhas filhas Christiane e
Caroline que com muito carinho me
incentivaram e colaboraram para a execução
desta pesquisa.
Dedico este trabalho de pesquisa a todos os
educadores que são comprometidos com o
seu fazer pedagógico.
“Creio no sonho, creio no trabalho
Sonhei com paixão e as ousadias utopias
maiores que podia sonhar e não me
arrependo.
Utopias indispensáveis para os incrédulos.
Utopia impossível para os pobres de
coração.
Mas aí estão concretizadas tantas de minhas
utopias”.
Darcy Ribeiro
SUMÁRIO
RESUMO 07
INTRODUÇÃO 08
1 – O HOMEM: UM SER DE RELAÇÃO 09
2 – A APRENDIZAGEM 12
2.1- Jean Piaget 15
2.1- Célestin Freinet 20
2.3- Lev Simyonovitch Vygotsky 22
2.4- Paulo Freire 28
2.5- Howard Gardner 30
3 – O RELACIONAMENTO PROFESSOR-ALUNO 33
E A APRENDIZAGEM INTELECTUAL
4 – CARACTERÍSTICAS E AITUDES 43
DOS PROFESSORES QUE MANTÊM
BOM RELACIONAMENTO COM OS ALUNOS
CONCLUSÃO 46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 48
RESUMO
Esta pesquisa procura demonstrar a importância da qualidade no
relacionamento professor-aluno e sua implicação na aprendizagem. Quando
rica e prazerosa favorece o aprendizado, ao contrário, dificulta e pode até
impedir o crescimento pessoal e intelectual do educando.
O trabalho teve como suporte o estudo das teorias dos
educadores: Piaget, Freinet, Vygotsky, Paulo Freire e Gadner, destacando o
papel do educador e sua relação com o aluno segundo estas teorias.
A metodologia utilizada foi o método dedutivo, com uma
abordagem descritiva.
INTRODUÇÃO
A escolha do tema surgiu com a necessidade que todo educador
deve ter, de preocupar-se com o aluno que apresenta dificuldades na apresenta dificuldades na aprendizagem intelectual. Quais os motivos e o que dificulta esse processo?
Na educação, cuja prática é interacionista, o papel do professor é
estimular a aprendizagem, daí pontuarmos a importância da relação professor-
aluno como um fator determinante na aprendizagem intelectual.
1 – O HOMEM: UM SER DE RELAÇÃO
Sendo o homem um ser, eminentemente, de relação não se pode
separar a aprendizagem da relação não se ode separar a aprendizagem da
relação que ele tem com o meio, no qual está inserido. Daí a importância das
relações do indivíduo com os grupos (família, comunidade, escola). Há uma
interferência mútua de trocas: quanto mais ricas e ordenadas as pessoas,
provavelmente serão mais educadas e instruídas. Não podemos esquecer da
importância da humanização nas relações dos indivíduos, o que possibilita um
mundo melhor.
Temos como fator importante nas relações com o outro a ética,
que determina os valores morais e espirituais e fazem do mundo um melhor
lugar para se viver.
O mundo flui mediante as relações humanas e o poder da
interatividade, porque “o homem é um ser de relação e busca no outro o
reconhecimento de si mesmo, que só se define na oposição com o outro”. Ele é
predominantemente um ser social. O reconhecimento de si passa pelo
reconhecimento do outro.
O homem não tem, garantido de pronto, o seu próprio ser,
depende da interação com o outro. Ele é anti-natural, está em constante
mutação.
A ética tem a ver com a ação e a relação com os outros. No
relacionamento humano é de grande importância a comunicação, a linguagem.
O homem e a linguagem cresceram juntos. Linguagem, homem e sociedade
cresceram e continuam crescendo juntos, cada um influenciado e sendo
influenciado pelo outro. Daí a sua importância no desenvolvimento da
sociedade humana e do homem como indivíduo e suas relações. A ética leva à
busca da perfeição do indivíduo nas suas relações.
Deve-se ter cuidado com as relações isto é, as ações. Elas são
marcadas pela irreversibilidade e impresivibilidade. As ações não retornam. A
praxis não retrocede, não se pode voltar o tempo.
A finalidade de relação (ação) é a boa ação, é ter consciência do
bem, do mal, do correto e do incorreto.
A ética pressupõe uma causa da ação, quer dizer, as razões que
levam um indivíduo a agir com consciência e liberdade.
A ética é regida por valores que se diferenciam de cultura para
cultura, de época para época. “Nada é perene, nada é fixo”. (Marx)
“É na relação com o outro, desde o nascimento, que vão se constituindo os papéis que a criança assume no diálogo (as formas culturais de responder à fala do outro), objetos do conhecimento (aquilo sobre o que se fala), e o próprio uso da língua (a noção desta com veículo comunicativo)”. (ASSIS, Regina; 1992, pg. 38)
Na relação com o outro, o homem constrói a sua identidade,
pois ela se define na prática do cotidiano vivido. Ela se constitui à medida
em que o homem tenha a oportunidade de participar como pessoa de um
grupo com suas características próprias. Dá-se a troca a partir da atividade
intra e interpessoal quando é definida sua singularidade.
A identidade nunca é um processo acabado. É um processo
pleno de tensões. A identidade se forma, se transforma, no contexto das
interações sociais, através de mediações entre a consciência individual e a
organização social e histórica.
As organizações sociais ditam os valores culturais, embora o
homem individualmente possa transformar estes mesmos valores. Ou
constituir outros, dependendo do tipo de relação que ele venha a ter com a
identidade grupal de autonomia e liberdade de fazer escolhas.
Na construção da identidade, aparece a influência da relação
no ser que se forma, ou seja, a pessoa que o meio colaborou na construção:
mais humanista; autônomo ou menos autônomo; mais livre ou menos livre;
mais feliz ou menos feliz.
2 – A APRENDIZAGEM
Quando se enfoca um determinado objetivo, segundo Demo,
acontece a aprendizagem quando a pessoa sabe lidar com a vida no seu
dia-a-dia. Não é necessariamente resolver os problemas, mas administrá-los
com inteligência. Administrar o problema envolve: pensar, analisar e buscar
caminhos que possam minimizar ou solucionar a dificuldade com lógica.
“Aprende-se muito a partir dos desacertos, sobretudo porque nos damos conta de nossa falibilidade. É preciso analisar melhor, olhar mais longe, aprender mais. Só não erra a máquina totalmente linear, reversível, que faz para frente o mesmo que faz para trás, que nada inventa. O aperfeiçoamento constante da aprendizagem permanente é diretamente proporcional aos erros cometidos e às suas retomadas. Nesse sentido a idéia apressada de resolver os problemas coincidiria com a pretensão de acabar com os erros, cometendo o pior deles”. (Demo; 2000, pg. 50)
Muitos estudos têm tentado explicar o que é aprender.
Provavelmente, a primeira teoria que surgiu para explicar como se aprende foi
a INATISTA ou APRIORISMO. Esta teoria parte do princípio de que todo
conhecimento é inato. Quando o homem nascia, já trazia dentro de si toda a
compreensão da realidade. Durante o seu desenvolvimento e maturação este
conhecimento desabrochava-se, desde que houvesse um ambiente propício. O
ambiente teria a única e exclusiva função de maximizar o surgimento dos
estágios de desenvolvimento. O que o homem viesse a ser no futuro, já estaria
pré-determinado em seu código genético, desde o nascimento.
Com o passar dos tempos foi sendo questionada e criticada,
dando lugar à outra teoria completamente oposta – o empirismo ou
ambientalismo. O empirismo, tendo como seu representante, Locke, passa a
afirmar que ao nascer, o homem é uma tábua rasa, nada existe dentro dele, e é
através dos órgãos dos sentidos que o conhecimento vai sendo impresso nesta
tábua.
Nesta teoria o ambiente passa a ser o único responsável pelo
desenvolvimento do ser humano. Este, considerado um ser plástico,
desenvolve as características de acordo com as condições presentes no meio
ambiente.
Em laboratório, Watson e Pavlov, começam a manipular estímulos
para controlar o comportamento e surgem os estudos de Skinner falando em
reforço positivo e negativo, punição e extinção.
Do laboratório esta teoria vai para a sala de aula e surgem os
prêmios, castigos, as cópias, as advertências e até as expulsões.
O professor ganha um papel de destaque. Ele é “magic dix”,
porque ele detém o conhecimento e o passa para os alunos, que devem
recebê-lo através dos órgãos dos sentidos. A ênfase é na memorização e a
aprendizagem ocorre através de passos previamente programados que se
iniciam nos exercícios mais simples para os mais complexos.
Nessa duas teorias fica uma questão: e o sujeito? Piaget, que
sem intenção pedagógica, ofereceu aos educadores importante princípios para
orientar sua prática. Piaget mostra que o sujeito humano estabelece desde o
nascimento uma relação de interação com o meio e a relação se desenvolve
construindo e reconstruindo suas hipóteses sobre o mundo que o cerca. E o
educador deve respeitar o nível de desenvolvimento do aluno e ser um
orientador da aprendizagem. É nesse momento que surge o construtivismo e o
sujeito passa a ter um lugar diferente. Para que aprenda algo, tem que existir a
ação – é a ação do sujeito que produz o conhecimento.
O sujeito passa a ser caracterizado como um ser ativo –
cognicente – que compreende o meio através das ações que realiza sendo elas
observáveis ou não. Com Vygotsky surge a teoria sociointeracionista. Que
pregando que o aprendizado é essencial para o ser humano e se dá sobre tudo
pela interação social, isto é, o social interferindo também na aprendizagem,
surgindo a prática pedagógica calcada nos pensamentos de Piaget e Wigst. Na
qual o homem e o meio se interagem construindo o conhecimento influenciado
pelo cognitivo – construcionismo.
Neste processo, o sujeito, ao agir sobre o meio para compreendê-
lo, modifica-o e também se modifica.
“Os erros passam a ser encarados como erros construtivos que, na verdade, representam formas lógicas de compreender o real. É através do erro que o sujeito chega ao conhecimento, já que o erro trás o conflito cognitivo, e é no conflito que se buscam outras formas de resposta”. (Pamplona, 1998)
O desenvolvimento e paralelamente a aprendizagem são
processos contínuos e só terminam com a morte.
Temos a aprendizagem formal e informal que não deveriam se
apresentar distintas e antagônicas como acontece. O conhecimento a ser
aprendido é que organiza de maneira distinta, isto é, sistematizado. “A
aprendizagem formal envolve elementos comuns à aprendizagem escolar, pois
ambas exercitam as mesmas funções, do ponto de vista orgânico e
psicológico”. (Lima, Elvira; 1997)
Todo conhecimento é construído, o que difere são os
procedimentos para este conhecimento, se formal ou informal. Em ambos os
casos o ser humano na relação com o outro.
A natureza da aprendizagem humana é sempre social e o
indivíduo utiliza estratégias para a aprendizagem. Na aprendizagem informal o
indivíduo domina as estratégias no processo, enquanto que na formal ele
depende da intervenção intencional do outro para que a estratégia seja
revelada a ele.
“... penso que nós superamos a ingenuidade. Porque o grande mal de todas as teorias da aprendizagem era considerar as pessoas como sendo objetos no espaço e no tempo. A nossa identidade não é a identidade de um saco de batatas ou de um balde de água num lugar determinado. Nós estamos naquele lugar e já o transformamos, já buscamos relações, e isto desde o primeiro momento da nossa existência. Portanto a identidade não é uma pura identidade no espaço e no tempo. Quando dissemos que o construtivismo pós-piagetiano incorpora, por exemplo, os conceitos de história, de movimento, etc., queremos dizer que a história é feita por esses indivíduos, por esses “eus” complexos no mundo. O aspecto da identidade isolada não existe”. (Steim, Renildo; 1993, pg.: 41)
Só existe aprendizagem se houver relacionamento humano e a
qualidade dessa aprendizagem depende eminentemente da qualidade da
relação.
2.1 – JEAN PIAGET
Jean Piaget nasceu n Suíça, em 1896,numa família rica e culta,
aos sete anos já se interessava por estudos científicos. Biólogo, de formação
estudou Filosofia e doutorou-se em Ciências Naturais, aos 22 anos. Faleceu
em 1980, na suíça.
Piaget tornou-se psicólogo com o propósito de estudar, questões
epistemológicas. Para ele o conhecimento é um processo e deve ser estudado
de maneira histórica. Não se contentou com a resposta à pergunta: “Como é
possível o conhecimento?”. Mas sobretudo, “Como muda e evolui o
conhecimento?”.
Os estudos sobre a Teoria do Construtivismo começaram com
Piaget, que explica o desenvolvimento cognitivo e mental do ser humano no
campo do pensamento, da linguagem e da afetividade.
Sendo impossível, a ele, retornar ao início da humanidade para
estudar o desenvolvimento cognitivo desde o homem primitivo até o atual,
iniciou seus estudos pelo nascimento até a idade adulta recorreu à psicologia
para explicar o fato de como o sujeito constrói conhecimento. Ao elaborar a
Teoria Psico-Genética procurou mostrar quais as mudanças qualitativas por
que passa a criança, esquematizando o desenvolvimento intelectual nos
seguintes estágios:
1) Inteligência Sensório-motora
- do nascimento até 2 anos de idade;
- parte dos reflexos incondicionados, dando preparação para as
operações concretas;
- nesse período o “eu e o mundo” são distintos
2) Período de preparação e organização das operações-
concretas
a) Pré-operatório
- 2 aos 7 anos de idade;
- Caracteriza-se por um pensamento pré-conceitual, intuitivo e
egocêntrico;
- Período de representação. Dá vida a objetos (fantasia);
- A criança não se coloca no lugar do outro.
b) Período operatório concreto
- 7 aos 12 anos de idade
- Surgem as operações mentais;
- Período de classificação e seriação;
- Começa a compreender o ponto de vista do outro.
3) Período do pensamento lógico-formal
- 12 aos 15 anos de idade;
- Caracteriza-se por ter um pensamento hipotético-dedutivo;
- Período do pensamento abstrato;
- Constrói sua realidade.
Para Piaget, o conhecimento não é algo-determinado desde o
nascimento (inatismo), nem simples registro de percepção e informações
(empirismo). Resulta das ações e interações do sujeito com o ambiente em que
vive. Todo conhecimento é uma construção que vai sendo elaborada desde a
infância, através de interações do sujeito com os objetos que procuram
conhecer, sendo eles do mundo físico cultural. O conhecimento resulta de uma
inter-relação entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido.
Existe um sujeito ativo que procura conhecer e compreender o
que se passa à sua volta. Isto não acontece de forma imediata no contato com
os objetos. As possibilidades do conhecimento decorrem dos esquemas de
assimilação, ou esquemas de ação (agitar, sugar, balançar, etc.) ou operações
mentais (reunir, separar, classificar, estabelecer relações) que não deixam de
ser ações, mas que se realizam no plano mental.
Esses esquemas se modificam com o resultado do processo de
maturação biológica, experiências, trocas interpessoais e transmissões cultura.
Os estudos de Piaget têm como fundamentos psicológicos:
acomodação, adaptação, equilíbrio e assimilação.
Os objetos do conhecimento apresentam propriedades e
particularidades que nem sempre são assimiladas (incorporadas) pelos
esquemas já estruturados do sujeito.
Isto ocorre porque o esquema assimilado é muito geral e não se
aplica à uma situação particular ou é insuficiente para um objeto mais
complexo.
Quando acontece a ampliação ou modificação de um esquema de
assimilação (transferência) Piaget chamou de mecanismo de acomodação.
Embora este mecanismo seja provocado pelo objeto, é também possível pela
atividade do sujeito, pois é este que se modifica para a construção de novos
conhecimentos.
É o desenvolvimento cognitivo que determina o conteúdo das
assimilações e acomodações, embora a atividade inteligente é sempre um
processo ativo e organizador de assimilação do novo ao já construído e de
acomodação de construído no novo. Acontece assim a relação do sujeito
conhecedor e do objeto conhecido. Por aproximações sucessivas, articulando
assimilações e acomodações, temos o processo de adaptação. A cada
adaptação realizada novo esquema assimilador se torna estruturado e
disponível para que o sujeito realize novas acomodações e assim
sucessivamente. O que promove este movimento é processo de equilibração
(conceito central na teoria construtivista).
Para Piaget a aprendizagem é construída através de desafios,
pois estes são estímulos ao “desequilíbrio” intelectual. Pela curiosidade o
indivíduo fica motivado e na busca do equilíbrio (alcançado pelas ações físicas
e mentais) acontecem assimilações e acomodações.
O pensamento torna-se cada vez mais complexo e abrangente e
interage com objetos do conhecimento cada vez mais abstratos e diferenciado
(estágios). Para Piaget, devemos respeitar o nível de desenvolvimento
intelectual da criança.
Educar para Piaget significa provocar o desenvolvimento
intelectual, social, moral do indivíduo. A família e a escola devem juntas
proporcionar trocas de experiência, levando a pessoa à construir o seu
conhecimento.
Não deixando de levar em conta o estágio cognitivo e biológico de
cada um como também considerar um dos fatores mais importantes do
processo que é autonomia moral e intelectual. Autonomia moral é a capacidade
de agir conscientemente com os valores construídos, por ser próprio na
interação com o meio, como sendo os mais corretos.
“A construção da moralidade resulta de um processo de
conscientização da inserção da criança num mundo social”. (Freitas, Barbara;
1993, pg.: 34) Quando fala-se em autonomia não quer dizer deixar o aluno
livre, acreditando que ele evoluirá sozinho, mas sim provocar um conflito
cognitivo para que novas aprendizagens sejam elaboradas e finalmente
construídas. Para Piaget, a moral é construída, o que permite a construção da
autonomia moral é o estabelecimento da cooperação ao invés da coação, e do
respeito mútuo no lugar do sujeito intelectual. Na relação com o outro isso
significa democratizar as relações para termos sujeitos autônomos.
Para Piaget, devemos nos preocupar com o ser heterônimo, isto
é, agir e ou fazer julgamentos sem questionar os valores que os sustentam.
Devemos encorajar as pessoas a construir elas mesmas seus valores.
“A essência da autonomia é que as crianças se tornam capazes de tomar decisões por elas mesmas. Autonomia não é a mesma coisa que liberdade completa. Autonomia significa ser capaz de considerar os fatores relevantes para decidir qual deve ser o melhor caminho de ação. Não pode haver moralidade quando alguém considera somente o seu ponto de vista. Se também considerarmos o ponto de vista das outras pessoas veremos que não somos livres para mentir, quebrar promessas ou agir irrefletidamente”. (Kamü; 1986, pg.: 72)
Piaget deixou à pedagogia os pressupostos que: - o aluno desempenha um papel ativo no processo da
aprendizagem e constrói o seu conhecimento;
- a escola consiste em estimular o desenvolvimento das
atividades;
- o ensino deve levar em conta o ritmo evolutivo do aluno;
- o professor tem o papel de facilitador, orientador da
aprendizagem, evitando oferecer soluções prontas ao
conhecimento.
2.2 – Célestin Freinet
Nascido em 1896 ao Sul da França, Freinet ainda sem concluir
seus estudos como professor primário, já pesquisava sobre educação. Iniciou
sua carreira docente em 1920, construindo os princípios de sua prática; cujo
mais relevante é proporcionar ao aluno um trabalho real. Suas técnicas surgem
da preocupação com a escola teórica desligada da vivência do educando.
Freinet nas investigações percebe que a aprendizagem é
estimulada pelo ambiente. Sua sala de aula era prazerosa e ativa. Respeitava
a maneira de pensar do aluno e como ele construía o conhecimento.
Observava muito os seus alunos, suas relações e, em seguida
intervinha nas suas dificuldades. Freinet percebia que “a aprendizagem se dá
pelo tateio experimental” e a medida que o aluno obtém sucesso, a tendência é
que vá avançando e construindo outro conhecimento.
Para Freinet, o aluno precisa de um mediador (professor) para
adquirir o conhecimento; ele não avança sozinho. A cooperação é um dos
pontos fundamentais da pedagogia de Freinet, e a interação entre o professor e
o aluno é essencial para a aprendizagem.
Freinet dá muita importância a sintonia entre o professor e o
aluno, que acontece no respeito do educador pela vivência do educando e suas
experiências.
Não bastam as aulas-passeio, cantinhos, jornal, troca de
correspondência (prática da pedagogia Freinet), se o professor não considerar
os aspectos sociais e políticos da comunidade do aluno.
O pensamento de Freinet é que toda aprendizagem deve ter
aplicabilidade para a vida, e principalmente para o trabalho. Esta prática,
também, tem a intenção de preparar o aluno para construir e transformar a sua
comunidade, e isto é possível pela prática de conviver em contatos com ela
(comunidade).
Esta pedagogia tem a preocupação com a formação social do
indivíduo, porque ele interfere na sua qualidade de vida.
Segundo a pedagogia de Freinet, o professor deve ser sensível,
comprometido com o seu fazer profissional, e estar, sempre, buscando
atualizar a sua prática.
Nesta prática a metodologia aplicada é socializar para o grupo o
conhecimento adquirido individualmente. Porque cada aluno tem um
aprendizado pessoal. Desse modo eleva a auto-estima da turma e ninguém
avança sozinho na sua aprendizagem, a cooperação é fundamental.
Freinet reforça a importância da relação professor-aluno baseada
na confiança, no respeito mútuo e na cumplicidade. Professor a aluno
convivem em igualdade; eles constróem e organizam seus saberes no “Livro
da Vida” (registros das experiências do dia-a-dia com o meio). A prática
acontece com entusiasmo e as próprias idéias registradas no papel. Além disso
há troca de correspondência com amigos e familiares através da “Imprensa
Escolar”. Com a “Correspondência Interescolar” acontece a dinamização
do conhecimento porque possibilita o intercâmbio sociocultural e dá ênfase à
troca de saberes.
Toda prática frenetiana nasce do comprometimento de criar uma
pedagogia que dá origem a uma escola democrática e popular que proporcione
ao filho do povo instrumentos necessários a sua emancipação. “A criança não
se cansa de um trabalho funcional, ou seja, que atenda aos rumos de sua
vida”. (Freinet; 1987, pg.: 40)
As técnicas utilizadas por Freneit deram origem às Invariáveis
Pedagógicas.
Invariáveis Pedagógicas:
• As crianças aprendem mais através da experimentação (tateio
experimental) do que pelas explicações dos professores;
• Uma escola democrática, sem imposições autoritárias;
• Uma escola onde o respeito mútuo educa para a dignidade;
• Uma ambiente onde a disciplina e a ordem são frutos da
motivação para o trabalho (educação para o trabalho);
• O trabalho individual é produzido numa equipe cooperativa;
• Pedagogia de êxito: aposta na necessidade que o ser humano
tem de conseguir sucesso naquilo que faz.
Todas as técnicas criadas por Freinet tem como principal objetivo
educar o homem para exercer a sua cidadania.
2.3 – Lev Simyonovitch Vygotsky
Vygotsky nasceu em Bielorússia em 5 de Novembro de 1896.
Teve uma vida curta, morreu aos 37 anos. Suas obras foram proibidas durante
muito tempo na União Soviética, porque embora militante do Partido
Comunista, ele ressaltou o aspecto individual da formação da consciência, e
portanto, a concepção de que uma coletividade constitui-se de pessoas com
singularidade próprias.
Para Vigotsky o desenvolvimento do indivíduo e da espécie
humana resulta de um processo sócio-histórico, e coloca em suas pesquisas
uma visão interdisciplinar.
Na teoria de Vygotsky o indivíduo não nasce pronto, nem é cópia
do ambiente externo. Contrapõe-se ao pensamento inatista, segundo o qual o
homem já nasce com suas características, como inteligência e estados
emocionais predeterminados. Da mesma forma contestou o empirismo;
pensamento que define “que as pessoas nascem como um copo vazio e são
formadas de acordo com as experiências vividas”.
Vygotsky afirma que na evolução há uma interação constante
ininterrupta entre os processo internos e influências do mundo social. Deste
modo deve-se procurar analisar o reflexo do mundo exterior no mundo interior
do indivíduo, a partir da interação destes sujeitos com a realidade.
Fundamentou-se nas Funções Psicológicas Naturais (nascem com o
indivíduo) e as Funções Psicológicas Superiores (resulta do
desenvolvimento cultural).
A origem da vida consciente e do pensamento abstrato são
procuradas na interação do organismo com as condições de vida social, e nas
formas histórico-sociais de vida da espécie humana.
As pessoas mudam, segundo seus princípios, na interação entre
elas, a sociedade, a cultura e a sua própria história. É o interacionismo social.
O referencial histórico-cultural apresenta uma nova maneira de entender a
relação entre sujeito e objeto, no processo de construção do conhecimento.
No referencial construtivista o conhecimento se dá a partir da
ação do sujeito sobre a realidade (considerando sujeito ativo). Esse mesmo
sujeito não é só ativo, mas também interativos, porque constitui conhecimento,
e só se constitui conhecimento a partir de relações intra e interpessoais. É na
troca com outros sujeitos e consigo próprio que vão se interiorizando
conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a constituição de
conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que parte do
plano social (relações interpessoais), para o plano individual (relações
intrapessoais).
Para Vygotsky o sujeito do conhecimento não é apenas passivo,
regulado por forças externas que vão moldando e nem somente ativo regulado
por forças internas: ele é interativo. São peças importantes na construção do
desenvolvimento de uma criança ao nascer, a história e a cultura dos seus
antepassados, próximos e distantes, as quais ela se integra. A família, seus
hábitos e atitudes influem na construção do desenvolvimento da criança; assim
como a história e cultura de outros indivíduos com quem a criança se relaciona
em outras instituições, próximas ou distantes, como: escola, cidade, estado,
país ou outras nações. Não é um processo passivo, a criança interage, ela
participa ativamente da construção da sua própria cultura e de sua história,
modificando-se e provocando transformações nos demais sujeitos que com ela
interagem.
Vygotsky defere de Piaget; enquanto este afirma que a
aprendizagem depende do estágio intelectual do sujeito, para Vygotsky a
aprendizagem favorece o desenvolvimento. “O aprendizado adequadamente
organizado resulta em desenvolvimento mental e põe em movimento vários
processos de desenvolvimento que de outra forma, serão impossíveis de
acontecer”. (Vygotsky; 1987, pg.: 101)
Antes de iniciar vida escolar a criança já adquire esse
aprendizado através de interações com diferentes sujeitos (adultos e crianças),
e vive experiências que lhe permitem atribuir significados a diferentes ações,
diálogos e vivências. Vigotsky atribui um valor significativo a aprendizagem
escolar quando afirma: “... Produz algo fundamentalmente novo no
desenvolvimento da criança”. (1987, pg.: 95)
Existe, para Vygotsky, uma relação entre desenvolvimento e
aprendizagem: só nos desenvolvemos quando aprendemos. A zona de
desenvolvimento proximal e a zona de desenvolvimento real explicam essa
relação. Quando o indivíduo tem o conhecimento construído ele tem o nível de
desenvolvimento real; e quando o indivíduo não consegue realizar sozinho o
conhecimento, mas entrando em interação com outro ou outros parceiros,
através de estímulos consegue realizá-lo, tem-se a zona proximal de
desenvolvimento. Neste caso o desenvolvimento estava em processo; já
continha aspectos e partes mais ou menos desenvolvidas de instituições,
noções e conceitos.
O nível mental de uma pessoa não pode ser medido, somente,
com o conhecimento que ele domina, deve-se investigar o que ele consegue
realizar com o auxílio de outros. Assim torna-se possível avaliar o nível de
dificuldade do sujeito e qual o processo utilizado, possibilitando trabalhar
funções que, ainda estão completamente, consolidadas.
Para Vygotsky; quando não consideramos essa funções que se
encontra em processo de consolidação, deixamos de atuar na zona de
desenvolvimento proximal, que é a distância entre o nível de desenvolvimento
real e o nível de desenvolvimento potencial. Essa intervenção é possível
utilizando experiências de aprendizagem compartilhada e assim amadurecem
essas funções.
A boa aprendizagem é a que consolida e cria zona de
desenvolvimento proximal sucessivas. Daí a importância de um mediador
ou estimulador da aprendizagem. Ela é um componente determinante do
processo de desenvolvimento pois “pressagia” o que indivíduo poderá
posteriormente realizar sozinho. “O que o aluno pode fazer hoje colaborando
com outro, pode fazê-lo sozinho amanhã”. (Vygostky; 1987, pg.: 58)
Ressalta-se também que, nesse processo em construção
compartilhada, não é somente um sujeito que tem a abertura da zona de
desenvolvimento proximal, mas todos os sujeitos que estão em interação.
Todos ensinam e aprendem.
Este processo de interação não ocorre somente em sala de aula,
pode acontecer em outras relações.
Segundo Vygostky o indivíduo desenvolve as funções mentais
inferiores e superiores.
O desenvolvimento das funções mentais inferiores: memória,
linguagem e consciência, não seria possível senão pela manipulação dos
sistemas simbólicos: a linguagem, a escrita e os números que são verdadeiros
instrumentos de construção psicológica. A aprendizagem dos sistemas de
signos é importante para o desenvolvimento individual.
“O papel dos signos é fundamental a medida que eles tornam possíveis uma série de controles: sobre outrem, sobre o comportamento e sobre o pensamento. O exemplo típico é o da escrita cuja apropriação e domínio permitem não somente expressar o pensamento, mas sobretudo organizá-lo e regulá-lo”. (Foulim&Mouchon; 2000, pg.: 136)
Na teoria de Vygotsky, a linguagem ocupa um espaço exemplar
no desenvolvimento do sujeito: primeiramente a comunicação da criança com o
seu ambiente que é o meio de interação com os outros, função externa da
linguagem, que será progressivamente aperfeiçoada. Em seguida vem a
linguagem dirigida a si mesmo, denominada egocêntrica, que é o meio da
criança organizar suas próprias ações, é a “ferramenta intelectual”, que
possibilita a regulamentação das atividades mentais.
“O estatuto da linguagem egocêntrica no desenvolvimento é um ponto de divergência essencial entre Piaget e Vygotsky: para Piaget sinal de imaturidade destinado a evoluir, para Vygotsky instrumento de pensamento destinado a progredir”. (Foulin & Mouchon; 2000, pg.: 149)
A função comunicativa da linguagem permite ao homem conviver
em processo de interlocução constante com os seus semelhantes. Mas não só
o papel de comunicação que exerce a linguagem. Ela permite formular
conceitos, isto é, abstrair e generalizar a realidade através de atividades
mentais complexas.
O desenvolvimento conceitual não se dá de forma definitiva, mas
gradual. Inicialmente a criança formula conceitos a partir de uma relação que
estabelece com a realidade concreta, aos poucos ela vai isolando
determinados atributos do objeto, rumo à abstração e generalização, cada vez
mais complexa.
Vygotsky investigou dois tipos de conceitos: os cotidianos e os
científicos. Conceitos cotidianos são os do dia-a-dia, adquiridos quando se está
em interação com o meio. E esses conceitos vão se modificando desde o
nascimento até a morte. Os conceitos científicos são os construídos em uma
situação sistematizada, como por exemplo: a escola através das suas
propostas curriculares e conteúdos selecionados.
Para Vygotsky os conceitos tanto cotidianos como científicos não
ocorrem distanciados um dos outros, mas encontram-se interrelacionados.
Vygotsky prova o quanto a aprendizagem interativa permite que o
desenvolvimento avance. Coloca a importância das trocas interpessoais e
ressalta que o processo de constituição do conhecimento é tão importante
quanto o produto (avaliação final).
O papel do professor, a partir de Vygotsky, não é ser o centro do
processo “que ensina pessoas leigas e passivas, mas sim um orientador que
interage com o aluno através de trocas intelectuais na construção do
conhecimento mútuo”.
2.4 – Paulo Freire
Paulo freire foi o grande autor da Pedagogia da Libertação ou
Dialógica. Nasceu em 1921, no Estado do Recife, e faleceu em 1997. Ele foi
mais do que educador, foi um pensador. Toda sua obra voltou-se para a teoria
do conhecimento aplicada à educação.
A pedagogia do Freire foi toda sustentada pela dialética, na qual
educador e educando aprendem juntos, ou seja, se educam de maneira mútua.
Tal método dialético retratou-se na sua principal obra (pedagogia do Oprimido,
1970) a qual gerou as seguintes contribuições: contribuição à teoria dialética do
conhecimento, à qual se fundamenta no fato de que a melhor maneira de se
refletir é ir à prática e retornar à reflexão. Pensar o concreto, a realidade e
fornecer elementos para mudança, e contribuição à categoria pedagógica da
conscientização, visando uma autonomia intelectual.
“O saber se faz pela superação constante. O saber superado já é uma ignorância. Todo saber humano tem em si testemunho do novo saber que já anuncia. Todo saber trás consigo sua própria superação. Portanto, não há saber, nem ignorância absoluta: há somente uma relativização do saber ou da ignorância”. (Freire; 1985, pg.: 60)
Ainda em Pedagogia do Oprimido, Paulo Freire propõe o método
no qual a linguagem passa a ser sinônimo de cultura, alfabetizar passa a ter o
significado de descodificar a palavra, de conscientizar o alfabetizado, levando-o
a pensar o mundo, julgá-lo e aprender a Ter discernimento. Deste modo, o
professor deve ensinar ao educando a expressar o seu próprio juízo e opiniões
e não a reproduzir, copiar o que já existe. Portanto, o método de Paulo Freire é
contra qualquer atitude paternalista em relação ao analfabeto, pois o educador,
segundo Freire, o processo de educação se dá através de troca constante de
conhecimento entre o professor e o aluno. Assim, seu método visa superar a
contradição educador-educandos, defendendo a idéia de que o educador não
está a serviço da opressão, mas sim à serviço da libertação.
Segundo Paulo freire o educador deve valorizar a experiência de
vida de cada ser (educando) e incentivar nos educandos a consciência de que
“ser” significa mais do que “ter”.
No desenvolvimento de suas idéias a prática pedagógica, o autor
defende uma série de concepções em relação ao verdadeiro significado de
educar, como as que são apontadas à seguir:
- A educação não é neutra, ela é sempre de cunho político;
- A educação deve mover-se pelo ânimo de libertar o pensar
pela ação dos homens uns com os outros, na tarefa comum de
refazerem o mundo e torná-lo mais e mais humano;
- A educação deve nutrir-se pelo amor à vida;
- A educação deve ser contra a paz social que, na verdade, é a
paz privada dos dominadores (opressores);
- A educação tem que pretender, ter por objetivos, a libertação
autêntica dos homens a qual é a humanização em processos;
esta libertação é praxis que implica na ação e na reflexão dos
homens sobre o mundo para transformá-lo;
- A educação baseia-se na consciência como consciência
intencionada ao mundo.
“Quanto mais o homem é indócil, tanto mais é criador, apesar de
em nossa sociedade se dizer que o rebelde é um ser inadaptado”. (Freire;
1985, pg.: 32) O método de Paulo Freire propõe, então, a educação da
problematização dos dialogicidade e se faz dialógica; rompe os esquemas
verticais característicos da educação bancária (característica da escola
tradicional), na qual em lugar de comunicar-se, o educador faz comunicados e
depósitos e os alunos recebem depósito e arquivam. Não há desenvolvimento
do conhecimento, não há práxis, supera a contradição educador-educandos,
pois educador e educando se tornam sujeitos do processo em que crescem
juntos e em que os “argumentos de autoridade tradicional” já não valem, pois,
para ser-se, funcionalmente, autoridade, se necessita de estar sendo com as
liberdades e não contra elas.
“O educando recebe passivamente os conhecimentos, tornado-se um depósito para o educador. Educa-se para arquivar o que se deposita. Mas o curioso é que o arquivado é o próprio homem, que perde assim o seu poder de criar, se faz menos homem, é uma peça. O destino do homem deve ser, criar e transformar o mundo, sendo sujeito de sua ação”. (Freire; 1975, pg.: 89)
Como, para Freire, os homens se educam em comunhão,
mediatizados pelo mundo, então educando e educador são, na verdade,
investigadores críticos, em diálogo constante na construção do conhecimento.
A educação problematizadora de Paulo Freire, de caráter
autenticamente reflexivo, implica em um constante ato de desvelamento da
realidade, é uma educação que busca emersão de consciências, de que resulte
sua inserção crítica na realidade.
2.5 – Howard Gardner
Gardner, psicólogo e autor do livro Estrutura da mente: Teoria das
Inteligências Múltiplas, ao lançar no Brasil em 1994, seu livro; faz com que as
educação e consequentemente os educadores repensem algumas posturas
pedagógicas.
Em sua teoria Gardner propõe a existência de um espectro de
inteligência que comanda a mente humana; o que suscitou algumas polêmicas.
Segundo Gardner o ser humano tem as seguintes inteligências:
- Lógico-matemática: capacidade de realizar operações
matemáticas e de analisar problemas com lógica. Matemáticos
e cientistas têm essa capacidade privilegiada;
- Lingüística: habilidade de aprender línguas e de usar a língua
falada e escrita para atingir objetivos. Advogados, escritores e
locutores a exploram bem;
- Espacial: capacidade de reconhecer e manipular uma
situação espacial ampla ou mais restrita. É importante tanto
para navegadores como para cirurgiões ou escultores;
- Físico-cinestésica: potencial de usar o corpo para resolver
problemas ou fabricar produtos: dançarinos, atletas, cirurgiões
e mecânicos se valem dela;
- Interpessoal: capacidade de entender as intenções e os
desejos dos outros e, consequentemente, de se relacionar
bem com eles. É necessária para vendedores, líderes
religiosos, políticos e, o mais importante professores;
- Intrapessoal: capacidade da pessoa se conhecer, incluindo aí
seus desejos, e de usar essas informações para alcançar
objetivos pessoais;
- Musical: aptidão na atuação, apreciação e composição de
padrões musicais.
Gardner admite existir a oitava inteligência a naturalista que é a
capacidade de reconhecer objetos da natureza.
Ele, também, questiona sobre outras inteligências: a existencial
ou espiritual, e, até mesmo, a inteligência moral; mas não as acrescenta as
sete primeiras.
Alguns estudiosos divergem da teoria de Gardner, dizem que falta
profundidade nos seus estudos, mas acreditam que a teoria ajuda muito no
campo da educação.
Uma das conclusões que se chega com relação a educação,
afirma que a escola deve valorizar o aluno por inteiro; seus interesses,
aptidões, capacitações, e, não priorizar determinados conhecimentos em
detrimento de outros. “A escola deve considerar as pessoas inteiras e valorizar
outras formas de demonstração de competências além dos tradicionais eixos
lingüísticos e lógicos-matemáticos”. (Machado; 2001, pg.: 20)
Para Gardner proporcionar ao aluno determinadas atividades não
quer dizer que se dá oportunidade ao aluno de desenvolver suas inteligências
“múltiplas”. Para que isso aconteça é preciso que o aluno questione o que faz e
esteja em estágio de criação.
A teoria de Gardner tem como base o respeito às diferenças
individuais e o desenvolvimento das potencialidades do aluno, e visa o seu
crescimento total.
3 – O RELACIONAMENTO PROFESSOR-ALUNO
E A APRENDIZAGEM INTELECTUAL
A importância do relacionamento professor-aluno e a
aprendizagem passa, primeiramente, pela afirmativa de que o homem é um
ser, essencialmente, de relações.
“Nenhuma ação educativa pode prescindir de uma reflexão
sobre o homem e de uma análise de suas condições
culturais. Não há educação fora das sociedades humanas e
não há homens isolados”. (Freire; 1965, pg.: 61)
As teorias de aprendizagem apontam, notadamente, a
importância do professor e seu relacionamento com o aluno.
Segundo Piaget e sua teoria do construtivismo o desenvolvimento
cognitivo do aluno está no campo do pensamento, da linguagem, e da
afetividade. Em todos esses aspectos o professor tem um papel especial na
estimulação desses desenvolvimentos.
Quando Piaget diz que o conhecimento resulta das ações e
interações do sujeito (aluno) com o ambiente em que vive, e nesse ambiente,
um aprendizado intelectual, o professor tem um papel de grande influência.
Para Piaget o educador é um observador ativo, embora sem
interferir, diretamente durante a aprendizagem, mas sim provocar de maneira
amistosa a construção do conhecimento.
O professor não é um transmissor de conhecimentos, ele não
coloca, de pronto “o certo” ou “o errado”, deve levar o aluno a descobrir o erro.
Para Piaget o aluno é o construtor do seu conhecimento.
O fazer do professor, na maioria das situações, contraria o
pensamento de Piaget.
“A criança na realidade não tem nenhuma oportunidade de tateio e pesquisa pessoal; sua atividade é dirigida, canalizada. É o professor quem explica, repete, questiona, responde às perguntas das crianças”. (Goulart; 2000, pg.: 162)
A teoria piagetiana valoriza a atividade do aprendiz e organiza as
atividades educativas a partir dos objetivos.
Outra tese piagetiana afirma que o desenvolvimento cognitivo é
processo seqüencial marcado por etapas caracterizadas por estruturas mentais
diferenciadas. A maneira do aluno compreender e resolver os problemas
depende da estrutura mental em que ele se encontra. Daí é necessário uma
constante observação criteriosa para identificar o momento (etapa) que o aluno
está vivendo. É o que podemos chamar “sondagem de prontidão”.
“É útil relembrar que cada estrutura cognitiva tem o seu momento próprio de aparecer. A interação adequada com o ambiente fará com que ela emirja e possa ser utilizada em toda sua plenitude. A perda deste momento parece-nos desastrosa, pois uma estrutura mental, se não exercitada no momento próprio, irá requerer, em etapa posterior, maior esforço, tanto do sujeito em desenvolvimento, quanto de quem pretende facilitar-lhe este processo”. (Goulart; 2000, pg.: 163)
Deve-se observar que para Piaget o desenvolvimento é um
processo seqüencial, e é mesmo para todas as pessoas; mas a cronologia é
variável de pessoa para pessoa. É necessário que através do estudo do
comportamento do aluno adequar as atividades propostas.
Segundo Piaget há uma grande relação entre as estruturas
cognitivas e o desenvolvimento social. Para ele o desenvolvimento cognitivo e
um processo social. A interação com as outras pessoas (importância do
professor) tem significante papel nas operações lógicas. A cooperação é
indispensável no aprendizado do sujeito (importância do professor).
A fala da criança, também nos permite localizar a sua estrutura
mental. O professor para facilitar a aprendizagem cria oportunidades de
comunicação. A evolução da linguagem e do raciocínio se interfluenciam.
Piaget ressaltou em seus estudos a importância da autonomia
para o maior desenvolvimento moral e intelectual do aluno. Ele passa a não
depender, exclusivamente da memória e se torna independente para resolver
desafios pelos seus próprios meios(autonomia intelectual). Na autonomia moral
o educando é capaz de agir a partir dos valores morais, conscientemente
assumidos como os mais corretos.
“Num momento em que a meta da educação é a formação de indivíduos autônomos, os educadores deveriam retomar a análise do desenvolvimento afetivo-social realizado por Piaget”. (Goulart; 2000, pg.: 166)
Quanto a importância do papel do professor na aprendizagem e a
teoria de Vygotsky, o que mais temos a considerar é a zona de
desenvolvimento proximal.
Para Vygotsky só nos desenvolvemos quando aprendemos, a
aprendizagem caminha a frente do desenvolvimento. Isso tem relação com
zona de desenvolvimento proximal e a zona de desenvolvimento real.
Quando o aluno tem um conhecimento construído ele atingiu o
nível de desenvolvimento real; e quando ele, ainda não construiu esse
conhecimento sozinho, mas, estimulado por outros parceiros conseguir
construir o seu conhecimento; o seu nível de aprendizagem se encontra na
zona de desenvolvimento proximal.
A importância da qualidade da relação professor-aluno torna-se
imprescindível, porque da interação com o aluno o professor pode detectar o
nível mental em que este se encontra, e organiza caminhos que estimulem a
construção do conhecimento e provoca o desenvolvimento real do educando
que realiza o seu nível de conhecimento independente.
O educador detecta a zona de desenvolvimento proximal, que se
estimulada, possibilita a aprendizagem.
O professor é mediador e estimulador da aprendizagem. O nível
de desenvolvimento mental de uma criança não pode ser determinado apenas
pelo que ele consegue produzir sozinho. É necessário o professor reconhecer o
que ele consegue realizar, mesmo com o auxílio de outras pessoas, e ser
mediador dessa aprendizagem.
É importante que o professor reconheça o processo mental
realizado pelo aluno até ele chegar as respostas; isto é fundamental. Nem
sempre o desempenho correto significa que houve aprendizagem, pode
acontecer “decoreba”. Deste modo também, o professor na sua intervenção
quando o aluno necessita, num determinado ponto, torna-se possível ele
(professor) trabalhar ao aluno funções que não estão de todo consolidadas.
É importante que o professor considere o processo de
consolidação. Se deixa de considerar, deixa, também, de atuar na zona de
desenvolvimento proximal; que é a distância entre o nível de desenvolvimento
real e o nível de desenvolvimento potencial.
O educador é responsável pelas experiências de aprendizagem
compartilhadas que atuam na zona de desenvolvimento proximal e estimula a
aprendizagem. “A boa aprendizagem é aquela que consolida e sobretudo cria
zonas de desenvolvimento proximal sucessivas”. (Góes; 1991, pg.: 20)
Para Vygotsky a aprendizagem só é possível com a interatividade,
pois permite que o desenvolvimento caminhe. Ele destaca a importância das
trocas interpessoais na constituição do conhecimento; o que traz uma série de
implicações na prática pedagógica do professor. Vygotsky diz que o processo
de construção do conhecimento é tão importante quanto o produto final, que
acontece com a aprendizagem.
Diante desta colocação de Vygotsky muda o papel do professor:
- Ele não é mais o centro do processo que ensina a pessoas
passivas;
- O professor interage com o aluno (detecta a zona de
desenvolvimento proximal);
- O professor é o estimulador e mediador do processo;
- O professor estimula a cooperação.
Na pedagogia de Vygotsky o aluno aprende sozinho, a
aprendizagem não é uma atividade individual é basicamente interpessoal. O
que o aluno realiza hoje com a ajuda do professor, estará realizando sozinho
amanhã.
A aprendizagem implica em apropriar-se de conhecimentos. Logo,
exige do professor planejamento e reorganização constante de experiências
significativas para o alunos.
A qualidade da relação professor-aluno permite o professor
detectar as dificuldades do aluno que pode objetivar atividades necessárias ao
seu aprendizado. Desta forma, o professor poderá avaliar o processo: o nível
de propostas que estão sendo feitas, mas, sobretudo o nível de
desenvolvimento real do aluno, revelado pela sua produção independente, e,
ainda o seu nível de desenvolvimento proximal, onde ele necessita de ajuda.
Assim o professor consegue conhecer a realidade do aluno “o curso interno no
seu desenvolvimento”, e ele pode prever o quanto o aluno necessita de ajuda,
e, principalmente, como se planeja para ajudá-lo.
Para que o professor possa atingir esses objetivos não pode
prescindir de constantes interação com os alunos através da linguagem.
Para Vygotsky, a linguagem é a “ferramenta psicológica mais
importante”. Deste modo o professor pode conhecer o seu aluno no que ele é
agora e no que pode vir a ser.
Ao observar as crianças em atividades Vygotsky conclui que elas
desenvolvem as suas atividades práticas com a ajuda da fala, assim como a
dos olhos e das mãos. Ele atribui grande importância a linguagem egocêntrica
(sentido intra-pessoal).
O momento de maior significado no curso do desenvolvimento intelectual, que dá origem as formas puramente humanas de inteligência prática e abstrata, acontece quando a fala e a atividade prática, então duas linhas completamente independentes de desenvolvimento, convergem”. (Vygotsky; 1980, pg.: 27)
Segundo Vygotsky, para que aconteçam as trocas de
experiências e consequentemente o conhecimento através da cooperação as
turmas não devem ser homogêneas e o professor deve estimular um ambiente
de interação constante. “Na ausência do outro o homem não se constrói
homem”. (Vygotsky)
Quanto a teoria de Freinet e a importância do papel do professor
na aprendizagem tem-se que a pedagogia frenetiana é completamente voltada
para a qualidade no relacionamento professor-aluno. Do sucesso desta relação
está o sucesso da aprendizagem.
Para Freinet a relação do professor com os alunos deve ser de
confiança, respeito mútuo e cumplicidade.
Na teoria de frenetiana é completamente voltada para a qualidade
no relacionamento professor-aluno. Do sucesso desta relação está o sucesso
da aprendizagem.
Para Freinet a relação do professor com os alunos deve ser de
confiança, respeito mútuo e cumplicidade.
Na teoria de Freinet, o professor promove aulas-passeio, onde as
vivências são compartilhadas e enriquecidas pelas trocas. Tudo sob a
orientação do educador que aproveita todas as oportunidades, e até provoca
algumas, com o objetivo de levar o aluno a construir a sua autonomia e
cidadania. Tudo que é vivenciado no grupo é registrado e socializado entre
todos num ambiente amistoso.
A pedagogia de Freinet preocupa-se em respeitar o ambiente e a
cultura do aluno, e daí parte todo o aprendizado.
Para Freinet não existe aprendizagem divorciada da realidade e
da praticidade, fazer pedagógico do professor, segundo Freinet, se constitui
nas Invariáveis Pedagógicas:
- As crianças aprendem mais pela experimentação (tateio
experimental) do que pelas explicações do professor;
- A escola é democrática, sem imposições autoritárias;
- Um ambiente onde a disciplina e a ordem são frutos da
motivação para o trabalho (educação para o trabalho);
- O trabalho individual é produzido numa equipe cooperativa;
- Pedagogia do êxito, aposta na necessidade que todo ser
humano tem de conseguir sucesso naquilo que faz.
Essas Variáveis Pedagógicas dependem, essencialmente da
qualidade na relação professor-aluno, enfatizada no interesse, bom
relacionamento, empatia, competência e muito respeito ao ser humano.
Quando se estuda a pedagogia de Paulo Freire e faz-se um
parâmetro com relação a importância do papel do professor na aprendizagem
vê-se que o fazer do professor é de muita influência na formação do aluno.
Podemos citar os valores do educador que influi a sua ética, e a
formação acadêmica e cultural. Segundo Paulo Freire a educação é produto da
interação entre as pessoas, e certamente, um influencia o outro. Porém, devido
ao lugar ocupado pelo professor, ele interfere, sempre na formação dos alunos;
“ensinando” coisas boas ou más para eles.
A pedagogia de Freire é sustentada pela dialética, na qual
educador e educando aprendem juntos, isto é, se educam de maneira mútua.
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo. As pessoas se educam
em comunhão”. (Freire; 1985, pg.: 28)
Como para Freire os homens se educam em comunhão,
mediatizados pelo mundo, portanto educando e educador são, na verdade,
investigadores críticos; em diálogo constante na construção do conhecimento.
Analisando a pedagogia de Freire e o papel do professor tem-se
que o educador interage com o aluno através de uma pedagogia
problematizadora, reflexiva, em constante desvelamento da realidade que
provoca a conscientização; com o objetivo da inserção do aluno na realidade. É
a pedagogia do desafio, da desalienação, que produz o compromisso consigo
mesmo e com e com os outros, isto é, educar para a cidadania.
“O desenvolvimento de uma consciência crítica que permite ao homem transformar a realidade se faz cada vez mais urgente. Na medida em que os homens, dentro de sua sociedade, vão respondendo aos desafios do mundo, vão temporalizando os espaços geográficos e vão fazendo história pela sua própria atividade criadora”. (Freire; 1985, pg.: 33)
Freire objetiva o aluno independente e autônomo, preza a prática
da liberdade “uma educação libertadora” que resulta na sua humanização.
Ressalta, ainda, Freire a educação problematizadora,
comprometida com a libertação, que se empenha na desmitificação do mundo;
parte do caráter histórico e da historicidade dos homens, os quais esta
educação reconhece como seres inacabados, inconclusos, “em” e “com” uma
realidade igualmente inacabada.
As raízes da educação, se encontram na inconclusão dos homens
e na consciência que dela têm; daí que seja a educação um “que – fazer”
permanente na razão desta inconclusão dos homens e do definir da realidade.
Para educar para a cidadania o professor deve observar a visão
sobre os homens, segundo Paulo Freire:
- Os homens com o mundo e com os outros (não homens
simplesmente no mundo);
- Homens recriadores do mundo (e não homens simplesmente
no mundo).
Homens como “corpos conscientes”:
- Homens como sujeito de sua ação e como seres de opção
(que optam pelo que querem e pelo que não querem).
Segundo Freire, o educador deve valorizar a experiência do
educando e incentivar neles a consciência de que “ser” significa do que “ter”,
isto ;e educar para ser feliz.
“Em todos existe um ímpeto criador. O ímpeto de criar nasce da inclonclusão do homem. A educação é mais autêntica quanto mais desenvolve este ímpeto ontológico de criar. A educação deve ser desinibidora e não restritiva. É necessário darmos oportunidade para que os educandos sejam eles mesmos. Caso contrário o desmistifamos”. (Freire; 1985, pg.: 32)
O papel do professor na teoria de Horward Gardner implica na
postura do educador com relação ao respeito às diferenças individuais dos
alunos e suas potencialidades. Cabe ao professor oportunizar aos alunos
momentos de expansão dessas inteligências múltiplas.
O educador proporciona diferentes recursos pedagógicos para dar
oportunidade a todos os alunos de expandir as suas diferentes capacidades e
ainda respeitar todo e qualquer conhecimento que o aluno possui, e não,
somente o conhecimento lógico-matemático e a lingüística; como é mais
comum. Assim fortalece a auto-estima e a construção de outros
conhecimentos.
Para Gardner, o aluno desenvolve as diversas inteligências. O
aluno não deve ser visto pelo professor, somente como um executor de tarefas,
mas também deve ser levado a resolver problemas através da autonomia.
4– CARACTERÍSTICAS E ATITUDES
DOSPROFESSORES QUE MANTÊM BOM
RELACIONAMENTO COM OS ALUNOS
O fazer pedagógico do educador determina a relação que ele tem
com o aluno. E este fazer requer atenção e reorganização constante.
É muito importante que o professor se coloque como aprendiz,
aberto a também a aprender com os alunos, com a vida, com as mudanças, e
ser um pesquisador constante.
O professor comprometido politicamente é tecnicamente
competente. A competência técnica se renova da mesma forma que o
compromisso político.
O educador que está politicamente comprometido com a sua
prática; sabe da importância social, cultural, coletiva e política do seu trabalho,
assim como a dimensão transformadora da sua ação.
“O compromisso é como um ato de amor, que tem de se renovar diariamente. Na realidade, o ato de educação exige necessariamente uma espécie de renovação diária de compromisso com o ato educativo”. (Rodrigues; 1988, pg.: 68)
Em sua tarefa educativa o educador assume uma postura
democrática sabe da importância coletiva do seu trabalho, isto é, intera-se com
o seu grupo de trabalho e desenvolve com os alunos um ambiente
democrático, de cooperação, solidariedade e respeito mútuo.
Não podemos listar atitudes e características do professor ideal,
porque há muitas variantes a considerar. Pode-se, sim, selecionar algumas
indispensáveis a um bom relacionamento professor-aluno que favorece a
aprendizagem intelectual do educando.
O professor é competente, está sempre atualizando-se, e é
humilde ao se relacionar com o saber do aluno, procura não esquecer que
está sempre aprendendo. O aprendizado do professor não finda ao término de
as graduação, ele continua sendo um aluno-professor.
O professor é ético; auto-avalia-se, avalia os acontecimentos e o
mundo, é um ser crítico. O professor ó pode levar o aluno a construir valores
que ele possui.
“Professores que não são livres para construir sua próprias atividades, pesquisar, engajar-se em aprendizagem significativas, assumir riscos, tomar decisões e assessorar suas próprias competências, serão incapazes de criar tais possibilidades para o estudante”. (Demo; 2001, pg.: 42)
O professor procura seguir uma linha pedagógica progressista,
ele é sensível às mudanças, as inovações, as críticas e respeita as opiniões
dos outros e está pronto ao diálogo às discussões.
O professor atencioso é observador do aluno para melhor
conhecê-lo e ajudá-lo.
O professor é democrático, tem consciência dos seus direitos e
deveres (autonomia) e procura passar esta prática para os alunos. Enfim, não é
necessariamente, tendo ou não estas características que o professor vai
construir com o seu aluno a aprendizagem; mas, principalmente humanizando
todas as suas ações pedagógicas e amando, sempre o sujeito do seu trabalho
“o aluno”, seja ele “quem” e “como for”.
E, finalmente, lembre que você é um educador, portanto,
orientador e estimulador da aprendizagem de quem, ainda está em
desenvolvimento.
“Qualquer que seja a postura pessoal, sem dúvida transmitimos mais do que ensinamos formalmente...E pode acontecer que isso seja o mais importante e duradouro ... Não há relação humana – e a relação professor-aluno na sala de aula é relação humana – em que não se dê uma influência mútua... Influímos, para bem ou para mal, querendo ou não”. (Morales; 1998:43)
CONCLUSÃO
Neste novo cenário da educação será preciso reconstruir o saber
da escola e a formação do educador.
De tudo que se observa no processo ensino-aprendizagem e a
sua relação com a importância do papel do professor, está evidente que, seja
qual for a proposta do educador, ele interfere diretamente na construção do
conhecimento do aluno e sua formação.
O professor não é mais um mero transmissor de conhecimentos e
o aluno um recipiente que armazena informações e reproduz quando solicitado,
como faz até um papagaio.
Não se tem um aluno passivo, que não pensa, não questiona e
não coloca suas idéias. Diante desse aspecto, até surgem conflitos entre
educando e educadores.
No momento, o professor deve repensar o seu papel, buscar
conhecimentos e estar sempre se atualizando para enriquecer o seu trabalho.
Reconhecer que o mundo está em constante mutação e isso também ocorre
com o seu aluno e com toda a humanidade.
Não existe mais o professor simplesmente, existe o educador cujo
papel é estar em interação com o sujeito do seu fazer pedagógico (o aluno). O
educador é o mediador e o estimulador da aprendizagem e ao mesmo tempo
um eterno aprendiz, aberto a questionar e buscar sempre o aperfeiçoamento. O
professor deve dar atenção à sua formação, seus valores, para poder orientar
melhor seus alunos; dos valores do professor dependem os valores do aluno.
Finalmente, conclui-se que a formação acadêmica do educador é
muito importante, mas não se pode prescindir em todo o processo educacional
da relação humanística que norteia todo o processo. Porque somos seres
humanos. Educação sem humanização produz pessoas desumanas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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LEMBO, Jonh M. Por que Falham os Professores? SP: Pedagógica e
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MORALES, Pedro. A Relação professor-Aluno. SP: Loyola, 1999.