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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NOS MOLDES DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Alessandra dos Santos Magalhães
Orientador:
Prof. Carlos Leocádio
RIO DE JANEIRO
2010
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DE MESTRE
A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NOS MOLDES DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL
Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito e Processo de Trabalho Por: Alessandra dos Santos Magalhães
3
AGRADECIMENTOS
A Deus A minha família Ao prof. Carlos Leocádio pela orientação deste estudo monográfico
4
DEDICATÓRIA Para as crianças e adolescentes trabalhadores
5
RESUMO
O objetivo geral deste estudo é discutir sobre a questão da exploração do trabalho infantil no Brasil, considerando as bases jurídicas pertinentes, especialmente a Constituição Federal. Como objetivos específicos o estudo se propõe a caracterizar o trabalho infantil no Brasil; analisar as bases jurídicas referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos e programas de combate ao trabalho infantil no Brasil. O trabalho tem como foco central a discussão sobre as ações de combate a exploração do trabalho infantil no Brasil, especialmente sob a luz das determinações da Constituição Federal. Palavras-chave: Trabalho infantil – Bases jurídicas sobre trabalho infantil – Direito trabalhista
6
METODOLOGIA
O estudo se apresenta como uma revisão de literatura, descritiva,
buscando discutir sobre as ações de combate a exploração do trabalho infantil
no Brasil. A coleta de dados será realizada em livros e artigos científicos que
colaborem para a obtenção dos objetivos propostos.
Para o acesso aos documentos de consulta serão utilizadas bibliotecas
de instituições especializadas, bibliotecas universitárias e Bancos de Dados
disponíveis na Web.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO 1. Caracterização do trabalho infantil no Brasil 09
CAPÍTULO 2. Bases jurídicas referentes ao trabalho infantil no Brasil 17
CAPITULO 3. Ações, planos e programas de combate ao trabalho
infantil
26
CONCLUSÃO 33
REFERÊNCIAS 35
INDICE 37
FOLHA DE AVALIAÇÃO 38
8
INTRODUÇÃO
Este estudo tem por objetivo geral discutir sobre a questão da
exploração do trabalho infantil no Brasil, considerando as bases jurídicas
pertinentes, especialmente a Constituição Federal. Na forma de objetivos
específicos o etupo propõe-se à: caracterizar o trabalho infantil no Brasil;
analisar as bases jurídicas referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir
sobre as ações, planos e programas de combate ao trabalho infantil no Brasil.
A exploração do trabalho infantil é uma realidade na sociedade brasileira
que, mesmo depois da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do
Adolescente, ainda apresenta números na ordem de 5 milhões de crianças e
adolescentes que estão afastados da escola para trabalhar. Apesar de ser um
tema bastante explorado, acredita-se que sua abordagem na esfera jurídica é
muito providencial, pois abre novas discussões no sentido de buscar na
legislação vigente, especialmente na Constituição Federal, subsídios para
combater e dar novas soluções para o problema da exploração do trabalho
infantil.
O afastamento da criança do meio escolar para exercer uma atividade
remunerada sem que para isso esteja qualificada, é estar colaborando para seu
futuro incerto e para o aumento do subemprego no país.
Apesar de alguns esforços no sentido de combater a exploração do
trabalho infantil, este ainda é um problema social brasileiro que foge ao
controle das autoridades, especialmente foram dos centros urbanos, onde a
escassez de políticas de educação e a pobreza absoluta exigem a participação
da mão-de-obra infantil no sustento da família.
Para melhor entendimento do tema o estudo foi dividido como se
apresenta:
O primeiro capítulo caracteriza o trabalho infantil no Brasil; o segundo
capítulo discute sobre as bases jurídicas referentes ao trabalho infantil no
Brasil; o terceiro capítulo analisa as ações, planos e programas de combate ao
trabalho infantil.
9
CAPÍTULO 1 – CARACTERIZAÇÃO DO TRABALHO
INFANTIL NO BRASIL
1.1 Comentários gerais
A erradicação do trabalho infantil é uma meta que, desde o início dos
anos 90, vem se tornando prioridade na agenda das políticas sociais no Brasil.
Tema quase desconhecido até então, ou diluído em meio às questões do
"menor abandonado", dos "meninos e meninas de rua" ou em "situação de
rua", a proteção das crianças e adolescentes trabalhadores entrou para a pauta
do governo e da sociedade brasileira, em grande parte como um reflexo das
iniciativas de instituições multilaterais dedicadas à defesa dos direitos da
infância e como uma resposta às pressões exercidas pela comunidade
mundial.
Segundo Veiga1, no plano internacional, a questão do trabalho infantil
emergiu com vigor ao final dos anos 80, principalmente a partir do advento da
Declaração Universal dos Direitos da Criança, em 1989, que consagrou a
doutrina de proteção integral e de prioridade absoluta aos direitos da infância.
Porém, para além de uma questão humanitária e de defesa dos direitos da
criança, o problema do trabalho infantil ganhou relevância diante do
acirramento da concorrência intercapitalista, num momento em que as
economias estão mais abertas e globalizadas, pelo fato de muitos países em
desenvolvimento explorarem a mão-de-obra infantil com o objetivo de baratear
as suas exportações. Neste sentido, a introdução de uma Cláusula Social nas
regras do comércio internacional, proibindo a utilização de mão-de-obra infantil
na fabricação de produtos exportados, é uma demanda de diversos governos e
de grande parte do sindicalismo internacional.
1 VEIGA, J. P. C. A questão do trabalho infantil. São Paulo: ABET (Coleção ABET - Mercado de Trabalho, v. 7), 2000.
10
Azevedo et al2 diz que no Brasil, estes elementos externos de pressão
encontraram condições propícias, que favoreceram e potencializaram seus
impactos. Nos anos 80, o término do regime político autoritário e a abertura
democrática possibilitaram a intensificação das demandas sociais,
desencadeando um intenso movimento nacional de defesa da criança e do
adolescente. Este movimento, envolvendo uma diversidade de atores sociais,
culminou na introdução do artigo 227 na Constituição de 1988, expressando os
direitos da criança na perspectiva da doutrina de proteção integral e
estabelecendo os deveres do Estado, da sociedade e da família para o seu
cumprimento. Porém, o maior símbolo desta trajetória reivindicatória é, sem
dúvida, o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, definindo
direitos e diretrizes para a política de atendimento.
Mas, especificamente sobre a questão do trabalho infantil, o grande
marco no Brasil é a implantação do Programa Internacional para a Eliminação
do Trabalho Infantil (IPEC), da Organização Internacional do Trabalho, no ano
de 1992. Logo, o trabalho infantil adquiriu status de uma questão social,
tornando-se objeto de esforços específicos, articulados e significativos,
desempenhados através de parcerias estabelecidas entre organizações
governamentais e não-governamentais, órgãos multilaterais, entidades da
sociedade civil e até mesmo por instituições do setor privado.3
Assim, nos últimos anos, se definiu e consolidou a vocalização da
sociedade brasileira no tocante à eliminação do trabalho infantil,
transformando-se esta em causa prioritária na agenda pública.
Conseqüentemente, houve um redirecionamento das intervenções voltadas
para a infância e a adolescência: se antes elas se centravam em programas de
geração de renda e formação profissional, em meados dos anos 90, surge uma
ampla gama de ações específicas para a eliminação do trabalho infantil e a
proteção do trabalho do adolescente.
2 AZEVEDO, J.; BECKER, M. J.; SANTOS, B. R.; PEREIRA, I. Trabalho infantil no Brasil: um estudo das estratégias e políticas para sua eliminação. São Paulo, DCI/ISPICAN, dezembro (Relatório de Pesquisa), 1995. 3 Idem.
11
Antes de apresentar estes tipos ou modalidades de ação, acredita-se ser
importante destacar alguns aspectos do problema do trabalho infantil no Brasil,
as suas dimensões, características e os seus determinantes ou condicionantes
principais, pois delinear a natureza deste fenômeno possibilita entender melhor
as soluções adotadas e a diversidade de mecanismos e formas de atuação
institucional nessa área.
1.2 Características e dimensões
Para traçar um breve perfil do trabalho de crianças e adolescentes na
segunda metade da década de 90, serão utilizados os dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) para os anos de 1995 a 1999,
publicadas no ano de 2000.
Assim, de acordo com a PNAD de 1999, existiam no Brasil 2,5 milhões
de crianças trabalhando na faixa etária de 10 a 14 anos e 375 mil na faixa
etária de 5 a 9 anos. No caso dos adolescentes de 15 a 17 anos, o contingente
total de ocupados era de 3,6 milhões de pessoas. As taxas de atividade1 eram
de 2,4% na faixa etária de 5 a 9 anos, 16,6% na faixa de 10 a 14 anos e 44,6 %
na faixa de 15 a 17 anos.4
O trabalho infantil assume na região Nordeste uma dimensão
significativamente maior que nas outras regiões. Além de ser responsável por
mais da metade do contingente total de crianças ocupadas na faixa de 10 a 14
anos, essa região apresenta uma taxa de atividade nessa faixa etária bastante
superior a das outras regiões. Já entre os adolescentes de 15 a 17 anos
observa-se uma distribuição mais equilibrada do contingente de ocupados e
uma variação proporcionalmente menor das taxas de atividades por região.5
Além do aspecto ligado à distribuição regional, existem outras
características importantes que diferenciam o trabalho de crianças e
adolescentes.
4 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Síntese de indicadores: 1999/IBGE, Departamento de Emprego e Rendimento - RJ: IBGE, 2000. 5 Idem.
12
Na faixa etária de 10 a 14 anos, a maioria das crianças trabalhadores
reside em áreas rurais. A incidência do trabalho infantil é comparativamente
bem mais elevada nessas áreas, com a taxa de atividade chegando a superar
em quatro vezes aquela verificada em áreas urbanas. Coerentemente com
esse indicador, predominam entre as atividades laborais exercidas por crianças
nessa faixa etária, as ocupações ligadas à agricultura (58%), seguidas por
aquelas do setor de serviços (16,5%), comércio (12,3%) e indústria (8,6%).6
Quando se observa o tipo de relação de trabalho, nota-se que 58,6%
dos trabalhadores desta faixa etária não recebem nenhum tipo de
remuneração, sugerindo que eles trabalham junto com os pais. As atividades
não remuneradas ocorrem predominantemente no interior da pequena
produção familiar, mas podem envolver também outras situações, como, por
exemplo, o trabalho em plantations de cana de açúcar do Nordeste, quando as
crianças acompanham os seus pais para ampliar as cotas de produção da
família e a renda por ela auferida. Já as crianças que exercem atividades
renumeradas são absorvidas como empregados sem carteira assinada
(17,8%), trabalhadores na produção/construção para o próprio consumo/uso
(9,0%), empregados domésticos (7,4%) ou trabalhadores por conta própria
(5,1%)7.
O percentual de trabalhadores adolescentes não remunerados é de
28%. Entre os demais predominam as ocupações de caráter informal: 34% são
empregados sem carteira assinada, 16% são empregados com carteira
assinada, 12% são empregados domésticos e 6% trabalham por conta própria.
Apesar dessas diferenças, existem diversos elementos comuns à situação de
crianças e adolescentes trabalhadores.
Além de dificultar a frequência à escola, o trabalho precoce também
influencia negativamente o aproveitamento escolar de crianças e adolescentes.
58% das crianças de 10 a 14 anos que trabalhavam apresentavam defasagem
na relação idade-série, enquanto que entre as crianças que não trabalhavam
esse percentual era de 51%.
6 PNAD, op.cit. 7 Idem.
13
Os prejuízos do trabalho sobre a permanência das crianças na escola se
fazem sentir gradativamente e ao longo do tempo: as trajetórias erráticas de
evasão-retorno ao sistema escolar, as sucessivas reprovações, o atraso etário
com relação à série cursada culminam com o abandono definitivo dos estudos.
Um último aspecto a ser examinado relaciona-se com a evolução do trabalho
infantil na segunda metade da década de 90. Para tanto, serão considerados
os dados referentes ao número de crianças e adolescentes ocupados, bem
como as taxas de atividade desses dois segmentos, para o período de 1995 a
1999.8
Em resumo, os dados indicam que, no interior da segunda metade da
década de 90, apenas entre os anos 1995 e 1996, ocorre uma redução
expressiva (em termos absolutos e relativos) do trabalho de crianças na faixa
de 10 a 14 anos. Como se sabe, esse período concentra os efeitos
redistributivos da era pós-Real, em virtude da queda do nível inflacionário e do
aumento real do salário mínimo em 1995. Embora não existam evidências
empíricas que correlacionem os dois fenômenos, é lícito supor-se que a
redução do trabalho de crianças deva-se ao menos em parte ao incremento da
renda das famílias mais pobres, ocorrido naquele momento.
Por outro lado, a inexistência de mudanças significativas entre 1996 e
1999, indica que as ações institucionais de erradicação do trabalho infantil (que
se intensificam a partir de 1996 com a criação do PETI), embora tenham obtido
êxitos localizados, não têm conseguido alcançar uma redução na dimensão
desse problema em escala nacional.
O número de adolescentes trabalhadores na faixa de 15 a 17 anos
apresenta uma redução de 19% entre 1995 e 1999. Apesar de também nesse
caso a queda mais expressiva ter sido registrada entre 1995 e 1996, a redução
distribui-se de forma mais equilibrada ao longo de todo o período.
Considerando-se que a maioria dos trabalhadores dessa faixa etária
exerce atividades remuneradas, estando portanto inserida no mercado de
trabalho, seria interessante verificar até que ponto a redução no número de
8 PNAD, op.cit.
14
adolescentes trabalhadores pode ser atribuído ao aumento do desemprego
ocorrido a partir de 1997.
Para o período de 1996 a 1999, o número de adolescentes ocupados
reduz-se em 11,2% enquanto que a taxa de atividade deste segmento
apresenta uma queda de apenas 2,8%. Isto significa que a redução no
contingente de adolescentes trabalhadores deveu-se menos à diminuição da
PEA adolescente (ou, dito de outra forma, à oferta de mão de obra por parte
dos adolescentes) e mais às crescentes dificuldades que os adolescentes vêm
enfrentando em serem absorvidos pelo mercado de trabalho.9
1.3 Condicionantes que levam ao trabalho infantil
Diante deste quadro constatado no item anterior, cabe colocar em
discussão alguns determinantes do trabalho infantil, destacados pela literatura
sobre este tema. Desde logo, ele deve ser encarado como um fenômeno social
complexo e sujeito a múltiplos condicionantes, de distintas naturezas e que
podem ser observados através de duas perspectivas complementares: a da
"oferta" de mão-de-obra infantil, ou seja, por quais motivos as crianças
começam a trabalhar desde cedo, e a da "demanda", ou porque o mercado
procura e absorve as crianças como força de trabalho.
Conforme colocam Barros; Mendonça10 na perspectiva da "oferta" de
trabalho pelas crianças, quatro fatores podem ser destacados: a pobreza, que
obriga as famílias a ofertar a mão-de-obra dos filhos pequenos; a ineficiência
do sistema educacional brasileiro, que torna a escola desinteressante para os
alunos e promove elevadas taxas de repetência e evasão; o sistema de valores
e tradições da nossa sociedade, fortemente marcado pela "ética do trabalho"; o
desejo de muitas crianças de trabalhar desde cedo.
9 PNAD, op.cit. 10 BARROS, R. P.; MENDONÇA, R. S. P. Determinantes da participação de menores na força de trabalho. Rio de Janeiro: IPEA, novembro (Texto para Discussão, Nº 200), 1990.
15
Existe certo consenso a respeito do papel preponderante da pobreza
como determinante do trabalho infantil. O baixo nível de renda auferido pelos
adultos é, muitas vezes, insuficiente para assegurar a sobrevivência da família,
levando crianças e adolescentes a ingressarem precocemente no mercado de
trabalho, sobretudo em empregos não formais, com trabalhos pouco
qualificados e sem perspectivas profissionais.
Estatisticamente, a relação entre o baixo nível de renda familiar per
capita e a maior incidência do trabalho infantil pode ser confirmada pelas
informações da PNAD para o ano de 1995. Para a faixa etária entre 10 e 14
anos, nas famílias com mais baixo nível de renda (até um quarto de salário
mínimo per capita), 12,3% das crianças apenas trabalham, estando fora do
sistema escolar; 14,7% conciliam trabalho e estudo e 58,6% se dedicam
somente aos estudos.
Por outro lado, na faixa de renda superior a dois salários mínimos per
capita, a situação das crianças é bem mais favorável: 1,2% apenas trabalham,
5,1% trabalham e estudam simultaneamente e, por fim, 91,5%, a grande
maioria, se dedica exclusivamente aos estudos. Na faixa etária entre 15 e 17
anos, observa-se também uma considerável diferença de situação de trabalho
e estudo dos adolescentes pertencentes a famílias de diferentes níveis de
renda.11
Embora a pobreza das famílias seja base de todo o processo de
exploração da mão-de-obra infantil, outros fatores as levam a ofertar a sua
força de trabalho desde cedo. Por exemplo, a ineficiência e a má qualidade do
sistema educacional brasileiro, denunciada nas duas últimas décadas, constitui
um importante condicionante do trabalho precoce.
Conforme Madeira12, ainda que o exercício do trabalho prejudique a
freqüência escolar, conforme foi constatado nas informações anteriormente
apresentadas, uma outra relação, em sentido contrário, também deve ser
reconhecida: os problemas internos ao sistema escolar desempenham um
papel decisivo nas altas taxas de repetência e evasão entre as crianças das
11 PNAD, op.cit. 12 MADEIRA, F. R. Pobreza, escola e trabalho: convicções virtuosas, conexões viciosas. São Paulo em Perspectiva, 7(1): 70-83, jan/mar 2001.
16
classes populares, expulsando-as do mundo escolar e promovendo a sua
inserção prematura no mundo do trabalho.
Um outro determinante importante do trabalho infantil, amplamente
registrado pela literatura sobre este tema, são os padrões culturais e
comportamentais estabelecidos nas classes populares, que levam à construção
de uma visão positiva acerca do trabalho de crianças e adolescentes.
Para além de uma necessidade, no âmbito das estratégias de curto
prazo para assegurar a sobrevivência da família, o trabalho precoce é também
valorizado como um espaço de socialização, onde as crianças estariam
protegidas do ócio, da permanência “nas ruas” e da marginalidade. Ao mesmo
tempo, inculcaria nelas a disciplina, a responsabilidade e a experiência
necessárias ao bom desempenho na vida profissional futura. Assim, a
importância atribuída ao trabalho como um princípio educativo desencadeia um
processo no qual a "necessidade é transfigurada em virtude".13
13 GOUVEIA, A. J. O trabalho infantil do menor: necessidade transfigurada em virtude. Cadernos de pesquisa. São Paulo, (44): 55-62, fev/1993.
17
CAPÍTULO 2. BASES JURÍDICAS REFERENTES AO
TRABALHO INFANTIL NO BRASIL
A erradicação do trabalho infantil tem sido alvo das políticas sociais do
Governo brasileiro, que tem promovido ações integradas para garantir à
criança e ao adolescente o direito à vida e ao desenvolvimento total. Na base
dos diversos mecanismos de proteção à infância e à juventude, principalmente
nos que tangem à sua precoce inserção no mercado de trabalho, há um
avançado aparato jurídico-institucional, que reforça as ações governamentais
pela ênfase que dá, sobretudo, às parcerias com a sociedade.
A legislação brasileira relativa à regulamentação do trabalho infantil
remonta ao ano de l891, quando o Decreto 1.313 definia que os menores do
sexo feminino, com idade entre 12 e 15 anos e os do sexo masculino, na faixa
entre 12 e 14 anos, teriam uma jornada diária máxima de 7 horas e fixava uma
jornada de 9 horas para os meninos de 14 a 15 anos de idade. Até o advento
da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em l943, vários dispositivos
regularam a idade mínima para o trabalho, destacando-se o Primeiro Código de
Menores da América Latina, de l927, que vedava o trabalho infantil aos l2 anos
de idade e proibia o trabalho noturno aos menores de l8 anos. A CLT tratou da
matéria de forma abrangente, definindo a idade mínima em l2 anos, e
estabelecendo as condições permitidas para a realização do trabalho.14
2.1 A Constituição Federal
Entre vários temas afetos à área social, a questão da criança encontra,
na Constituição Federal de l98815, respaldo sem precedentes se comparada ao
tratamento dado à temática infanto-juvenil pelas Cartas anteriores. Vários
14 GONÇALVES, R. O trabalho infantil e a agenda social. Revista do BNDES, v.4, n.7, p.221-40, jun/2002. 15 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 21.ed. São Paulo: Saraiva, 2007.
18
dispositivos enunciam a obrigatoriedade de proteger os direitos da criança e do
adolescente, destacando-se o artigo 22716, que define:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação , exploração, violência, crueldade e opressão.
A expressão concreta do compromisso do Estado, como promotor dos
direitos infanto-juvenis, está prevista no artigo 227, ao dispor que "..o Estado
promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e do
adolescente, admitida a participação de entidades não-governamentais...". Esta
assistência é reafirmada no artigo 203, que prevê a sua prestação a quem dela
necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, com
ênfase no amparo às crianças e adolescentes carentes.
O mesmo dispositivo acima mencionado determina a idade mínima de l4
anos para a admissão ao trabalho, observado o disposto no artigo 7º, XXXIII,
que proíbe "o trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de dezoito
e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de
aprendiz, a partir de quatorze anos".
Convém observar que anteriormente à Emenda Constitucional nº 20, de
1998, a Constituição, ao deixar aberta a idade mínima inferior para o trabalho
do adolescente aprendiz, permitia que a legislação ordinária a regulasse.
Havia, todavia, um entendimento adotado por juristas de que 14 anos consistia
a idade mínima para trabalhos comuns e l2 anos para trabalho em regime de
aprendizado. Entre l2 e 14 anos, portanto, o trabalho só era aceitável dentro de
um processo pré-profissionalizante, excluídos todos os trabalhos que se
realizassem nas oficinas industriais.17 (Convenção nº 5, ratificada pelo Brasil, e
Decreto nº 66.280, de 27/2/70, art. 1º).
16 BRASIL. Constituição, op.cit. 17 OLIVEIRA, O. O trabalho infanto-juvenil no direito brasileiro. OIT, 2003.
19
Vale ressaltar, entretanto, que o Poder Executivo, com o intuito de
eliminar essa possibilidade, encaminhou ao Congresso Nacional o Projeto de
Emenda à Constituição Federal, nº 413/96, suprimindo a ressalva "salvo na
condição de aprendiz". A aprovação dessa Emenda culminou na alteração do
inciso XXXIII, do artigo nº 7º da Constituição Federal, que passou a vigorar com
a redação atual, viabilizando a ratificação da Convenção nº 138, da OIT.18
Como a educação constitui um ponto nodal de toda e qualquer política
infanto-juvenil, a Constituição Federal detalha, no artigo 22819, os deveres
próprios do Estado:
"I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não
tiveram acesso na idade própria;
II – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino;
III – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de
idade;
IV – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
V – atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde."
De acordo com a Constituição brasileira, as crianças com idade de
admissão ao trabalho têm direito à previdência e outros benefícios trabalhistas,
como férias pagas, décimo-terceiro e carteira assinada, além de direito de
acesso à escola.
A Constituição também proíbe diferença de salário, de exercício de
função e critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.
Ainda segundo a Constituição, o governo federal tem o dever de garantir
o ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para os que não tiveram
acesso à escola na idade própria. O ensino fundamental vai desde os 7 anos
até os 14 anos de idade.
18 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Brasil. In: Pela abolição do trabalho infantil Brasília: Ministério do Trabalho, 2002. 19 BRASIL. Constituição op.cit.
20
Mas, segundo dados do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a
Infância), cerca de duas a cada dez crianças trabalhadoras não freqüentam a
escola e, como conseqüência, a taxa de analfabetismo entre essas crianças
chega a 20,1%, contra 7,6% no caso das crianças que não trabalham.
2.2 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)
Promulgado pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 199020, o Estatuto da
criança e do Adolescente regula as conquistas consubstanciadas na
Constituição Federal em favor da infância e da juventude. O Estatuto introduz
inovações importantes no tratamento dessa questão, sintetizando mudanças de
conteúdo, de método e de gestão.
Uma das mudanças de conteúdo mais relevantes refere-se à defesa
jurídico-social de crianças e adolescentes. Em termos de método, para uma
ação mais efetiva, o ECA desloca a tendência assistencialista prevalecente em
programas destinados ao público infanto-juvenil, e a substitui por propostas de
caráter sócio-educativo, de cunho emancipatório.
Além disso, no campo do atendimento a crianças e adolescentes em
condição de risco pessoal e social, o Estatuto rejeita as práticas subjetivas e
discricionárias do direito tutelar tradicional e introduz salvaguardas jurídicas.
Consegue-se, dessa forma, conferir à criança e ao adolescente a condição de
sujeito de direitos frente ao sistema administrador da justiça para a infância e a
juventude.
Institucionalmente, o ECA criou os Conselhos Tutelares (art. 131) para
garantir a aplicação eficaz das propostas estatutárias. Órgãos permanentes e
autônomos, não jurisdicionais, são encarregados pela sociedade de zelar pelo
cumprimento dos direitos das crianças e dos adolescentes. Sempre que esses
direitos forem violados, por ação ou omissão do Estado ou da sociedade,
caberá aos Conselhos Tutelares adotar as medidas de proteção cabíveis,
ajuizando, quando necessário, uma representação junto à autoridade judiciária.
20 DEL-CAMPO, ERA; OLIVEIRA, TC. Estatuto da criança e do adolescente. (Série Leituras Jurídicas, v.8). 6.ed. São Paulo: Atlas, 2009.
21
Ao determinar que "a política de atendimento dos direitos da criança e do
adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações
governamentais e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios" (artigo 86), o ECA, no bojo de uma política de
atendimento descentralizada, cria os conselhos municipais, estaduais e
nacional de defesa dos direitos da criança e do adolescente. Esses Conselhos
de Direitos, constituídos de forma paritária por Governo e sociedade, atuam
como órgãos deliberativos e controladores das ações atinentes à esfera
infanto-juvenil, em todos os níveis de governo. Embora lhes sejam atribuídas
funções normatizadoras e formuladoras de políticas, os Conselhos de Direitos
não possuem função executiva: esta fica restrita à competência governamental.
O Estatuto pauta-se, portanto, pelos princípios da descentralização
político-administrativa e pela participação de organizações da sociedade.
Amplia, sobremaneira, as atribuições do Município e da comunidade e restringe
as responsabilidades da União e dos Estados. À primeira devem caber,
exclusivamente, a emissão de normas gerais e a coordenação geral da política.
Destaca-se, nesse sentido, o papel do Conselho Nacional de Direitos da
Criança e do Adolescente (CONANDA), colegiado deliberativo de composição
paritária e função controladora das políticas públicas.
Além de constituir um marco legal inédito sobre a temática em apreço, o
ECA busca assegurar às crianças e aos adolescentes o pleno desenvolvimento
físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
Permeia, ainda, o Estatuto, a concepção de que as crianças e adolescentes
devem ter resguardados a primazia na prestação de socorros, a precedência
de atendimento nos serviços públicos, a preferência na formulação e execução
de políticas sociais e, por fim, o privilégio da destinação de recursos públicos
para a proteção infanto-juvenil. Essas prioridades reiteram os preceitos
constitucionais mencionados na seção anterior.
De par com os direitos fundamentais: o direito à convivência familiar e
comunitária, o direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, vale
destacar que o ECA também regula o direito à profissionalização e à proteção
ao trabalho. O capítulo V, reiterando dispositivo previsto na Constituição
22
Federal, proíbe qualquer trabalho a menores de 14 anos de idade, "salvo na
condição de aprendiz." O estímulo à aprendizagem, em termos de formação
técnico-profissional, subordina-se à garantia de acesso e freqüência obrigatória
ao ensino regular por parte do adolescente. Ademais, o Congresso Nacional
está avaliando a regulamentação do instituto do trabalho educativo previsto no
ECA e destinado ao adolescente entre 14 e 18 anos, de modo que se conciliem
as atividades educativas com a inserção desse grupo no mercado de
trabalho.21
2.3 Lei Orgânica de Assistência Social
A Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), promulgada em 7 de
dezembro de 1993 (Lei nº 8.742), que regulamenta os artigos 203 e 204 da
Constituição, estabelece o sistema de proteção social para os grupos mais
vulneráveis da população, por meio de benefícios, serviços, programas e
projetos. Em seu art. 2º, estabelece que a assistência social tem por objetivos
dentre outros: I) a proteção à família, à infância e à adolescência; II) o amparo
às crianças e adolescentes carentes.
Vale salientar que as ações de assistência social não se dirigem ao
universo da população infanto-juvenil, mas a um segmento específico que
delas necessita por se encontrar em estado de carência, exclusão ou risco
pessoal e social.
2.4 Acordos e Convenções Internacionais
Os documentos internacionais que constituem o embasamento para a
promoção e proteção dos direitos da criança e do adolescente no âmbito do
sistema de direitos humanos da Organização das Nações Unidas, inspiraram,
em grande medida, o aparato jurídico-institucional que, nos dias de hoje,
assegura a implementação do direito da criança e do adolescente brasileiros.
21 DEL-CAMPO; OLIVEIRA, op.cit.
23
O documento básico e primeiro a ser lembrado é a Declaração de
Genebra sobre os Direitos da Criança, de 1924, consubstanciada, mais tarde,
na Declaração dos Direitos da Criança, adotada pela Assembléia Geral das
Nações Unidas, em 1959. A convicção de que seria fundamental propiciar à
criança uma proteção especial foi, inicialmente, enunciada em 1924,
alcançando posterior reconhecimento na Declaração Universal dos Direitos
Humanos (1948), no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e no Pacto
Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, assinados e
ratificados pelo Governo brasileiro.22
Três décadas foram necessárias para que a comunidade internacional
viesse a adotar, em novembro de 1989, a Convenção das Nações Unidas
sobre os Direitos da Criança, que consagrou, por um lado, a doutrina de
proteção integral e de prioridade absoluta aos direitos da criança, e, por outro,
o respeito aos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais da
criança. Firmado pelo Governo brasileiro na ocasião em que foi aberto à
assinatura dos Estados-membros da ONU, esse instrumento foi ratificado pelo
Decreto Legislativo nº 28, de 14 de setembro de 1990. Ainda em setembro
daquele mesmo ano, o Brasil esteve representado no Encontro Mundial de
Cúpula pela Criança, realizado na sede das Nações Unidas. Naquela ocasião,
71 Presidentes e Chefes de Estado, além de representantes de 80 países,
assinaram a Declaração Mundial sobre Sobrevivência, Proteção e
Desenvolvimento da Criança, e adotaram o Plano de Ação para a década de
90, assumindo o compromisso de implementar, de imediato, a Convenção das
Nações Unidas sobre os Direitos da Criança.23
Noutro quadrante, o direito positivo brasileiro abriga, em linhas gerais, as
normas das convenções da Organização Internacional do Trabalho, a despeito
de nem todas terem sido ratificadas.
22 DERMIEN, J. M. Organização Internacional do Trabalho - Brasil. In: Fiscalização do Trabalho e o Trabalho Infantil. Brasília, Ministério do Trabalho, 2003. 23 Idem.
24
As convenções e recomendações resultantes da participação do Brasil
como Estado-membro da OIT desde a sua criação, em 1919, somente passam
a incorporar o ordenamento jurídico nacional na mesma hierarquia das leis
ordinárias depois de submetidas à aprovação do Congresso Nacional.
No âmbito do trabalho infantil, o Brasil ratificou: I) Convenção nº 5
referente à idade mínima na indústria (1919); II) Convenção nº 7, relativa à
idade mínima no trabalho marítimo (1920); III) Convenção nº 58 (revista),
também atinente à idade mínima no trabalho marítimo (1936). Vale ressaltar
que, embora o Brasil ainda não tenha ratificado a Convenção nº 138 (1973),
que restringe a atividade laboral para menores de 15 anos, o parâmetro de
uma idade mínima para ingresso no mercado de trabalho, conforme
mencionado anteriormente, foi adotado pela Constituição Federal e pelo
Estatuto da Criança e do Adolescente. Além do mais, convém destacar que o
Programa Nacional de Direitos Humanos (1996) tem como uma das suas
metas de curto prazo, não só ratificar essa Convenção, mas implementar a
Recomendação 146 da OIT, que também se refere à idade mínima para
admissão no emprego.24
Integrado ao combate de erradicar o trabalho infantil, o Governo
brasileiro tem participado, de forma intensa, de conferências internacionais que
abordam a temática sobre as mais diversas perspectivas. Em fevereiro de 1997
o Ministério do Trabalho esteve presente na Conferência de Amsterdã quando
discutiu com mais de 30 países, representantes de empregadores e
empregados e organizações não-governamentais, medidas de combate às
mais intoleráveis formas de trabalho infantil. Embora o trabalho infantil seja um
dado nacional, em alguns ramos de atividades assume uma dimensão
internacional. Nessa linha, a Conferência foi um marco fundamental para
fortalecer a cooperação internacional e regional em torno da temática.
Por ocasião da Primeira Reunião Ibero-americana Tripartite de Nível
Ministerial sobre Erradicação do Trabalho Infantil (Cartagena das Índias, maio
de 1997), o Governo brasileiro, representado pelo Ministério do Trabalho,
assinou a Declaração de Cartagena que reitera o compromisso dos países
24 DERMIRN, op.cit.
25
signatários de reconhecer que os direitos da infância são fundamentos dos
direitos humanos. Para implementar as políticas, todos concordaram em se
empenhar em: I) promover o crescimento econômico que resulte na mitigação
da pobreza; II) redobrar os esforços para erradicar o trabalho infantil, através
de estratégias que agreguem e comprometam os diversos atores sociais; III)
criar comitês nacionais para desenhar e implementar um Plano Nacional de
Ação para Erradicação do Trabalho Infantil; IV) estabelecer um
acompanhamento sistemático desses comitês, bem como um sistema regional
de informações.25
Segundo o Fórum Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil, a maior
parte dessas crianças inseridas precocemente no mercado de trabalho vem de
famílias pobres, de baixo nível educacional e cujos pais, em sua maioria,
trabalham por conta própria.
25 DERMIEN, op.cit.
26
CAPÍTULO 3 – AÇÕES, PLANOS E PROGRAMAS DE
COMBATE AO TRABALHO INFANTIL
No decorrer da década de 90, diversos fatores têm gerado um quadro
mais favorável para o combate ao trabalho infantil no Brasil. A atuação de
organismos internacionais (especialmente da OIT e do UNICEF), a aprovação
do Estatuto da Criança e do Adolescente e a consequente implantação de uma
rede de conselhos de defesa dos direitos desses segmentos, as numerosas
denúncias de exploração da mão-de-obra infantil, a mobilização de grupos
sociais envolvidos com o tema, em diferentes regiões - são alguns dos fatores
que têm contribuído não só para a disseminação de ações institucionais de
erradicação do trabalho infantil, mas também para que essa questão tenha
assumido destaque na agenda social brasileira.
Notadamente na segunda metade da década, tendo como fator de
impulso e referência a atuação do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação
do Trabalho Infantil, vem emergindo um conjunto de ações e intervenções
diretamente ligadas ao tema, em todas as regiões do país. Trata-se de um
elenco diversificado de iniciativas desenvolvidas por diferentes atores sociais:
órgãos de governo, organizações não governamentais, instituições
empresariais, sindicatos de trabalhadores e agências multilaterais.
Face a este contexto, uma das frentes desenvolvidas no âmbito da
cooperação UNICEFNAPP consiste em um trabalho de mapeamento de
iniciativas em curso, na forma de um banco de dados dinâmico, passível de
consultas e atualizações através da Internet, a ser colocado à disposição do
público em geral a partir do início de 2001.
3.1 Sensibilização e mobilização para a questão do trabalho infantil
As ações de sensibilização e mobilização social em torno da erradicação
do trabalho infantil visam, de um modo geral, a chamar atenção para as
violações aos direitos da infância e adolescência e conscientizar segmentos
27
específicos ou a opinião pública, mais amplamente, para a questão do trabalho
infantil. Trata-se de um componente presente na maioria das iniciativas em
curso, mesmo quando se constituem em projetos localizados e com ênfase em
outros objetivos específicos. Constitui, por outro lado, um elemento-chave no
interior de iniciativas abrangentes como a Marcha Global contra o Trabalho
Infantil e o Programa Internacional para Eliminação do Trabalho Infantil
(IPEC/OIT), bem como das ações sistemáticas do Fórum Nacional de
Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e dos Fóruns Estaduais.
A prática de reuniões, seminários, eventos, missões conjuntas em área
críticas – de modo a envolver novos atores na questão – traduz a forma
predominante de expressão deste campo de ações.
3.2 Incentivos ou prêmios para a atuação contra o trabalho infantil
Esta vertente de iniciativas tem como focos diferentes segmentos sociais
e institucionais, como a imprensa (Prêmio Jornalista Amigo da Criança, da
ANDI - Agência de Notícias do Direito da Infância e da Fundação Abrinq), os
governos municipais (Projeto Prefeito Amigo da Criança - Fundação Abrinq) e,
particularmente, o segmento empresarial. Neste último campo, os programas
de certificação ou de concessão dos chamados selos sociais voluntários
procuram combinar o benefício direto às crianças com mecanismos de
incentivos às empresas e fornecimento de informações aos consumidores e à
opinião pública em geral.26
A idéia da premiação ou certificação de empresas situa-se na esteira do
processo mais amplo de cunhagem de idéia de responsabilidade social ou de
"empresas cidadã", como um movimento que se difunde no Brasil ao longo da
década de 90, também sob outros focos temáticos, além da questão do
trabalho infantil.
No tocante a esta questão, os efeitos esperados podem envolver
diferentes níveis: a retirada de crianças do trabalho, por parte das empresas
26 FISCHER, RM. O selo social contra o trabalho infantil: experiências brasileiras. São Paulo: CEATS, 2000.
28
que pretendam adotar o selo e seus fornecedores; benefícios diretos ou
indiretos às crianças oferecidos pelas empresas (serviços educacionais,
assistência às famílias, aos empregados, à comunidade); indução de
consumidores à preferência por produtos isentos de trabalho infantil na sua
fabricação; conscientização e pressão social para a erradicação do trabalho
infantil.27
Como iniciativa pioneira e referencial nesta área, destaca-se
amplamente o Programa Empresa Amiga da Criança, implementado pela
Fundação Abrinq, desde 1995. Outros exemplos significativos são o selo "Pró-
Criança" do Instituto Pró-Criança (Franca/SP) e o Projeto Semear (Fundação
Semear/RS). Enquanto os dois outros exemplos correpondem a ações setoriais
(indústria calçadista), o Programa Empresa Amiga da Criança busca mobilizar
o empresariado de vários setores, inclusive empresas de grande porte com alto
grau de visibilidade no mercado. Ao início do ano 2000, I348 empresas
encontravam-se certificadas pelo Programa. Não é uma ação isolada ou
concentrada estritamente na idéia da premiação ou do selo, envolvendo todo
um processo articulado de sensibilização e mobilização - campanhas na
imprensa, pactos e ações promocionais, ligando-se a outros programas
também implementados pela Fundação Abrinq.28
Assume porém um caráter emblemático como ilustração desta
modalidade de ação, embora não haja um modelo único neste campo, podendo
se identificar diferentes ênfases e metodologias - com ou sem um sistema de
monitoramento direto, envolvendo um ou mais setores de atividade econômica,
com certificação de empresas ou produtos, com ação concentrada ou
espraiada geograficamente.
27 FISCHER, op.cit. 28 Idem.
29
3.3 Ações voltadas para a fiscalização, denúncia ou movimentação
de ações judiciais contra a exploração de mão-de-obra infantil
Este conjunto de ações visa, em última instância, a aplicação ou o
cumprimento dos dispositivos legais sobre o trabalho infantil, realizando-se
através de órgãos como o Ministério do Trabalho, o Ministério Público, os
Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e os
Conselhos Tutelares.29
A partir de meados da década de 90, ganham relevância a atuação do
Ministério do Trabalho e Emprego, por intermédio das Delegacias Regionais do
Trabalho, e a constituição dos Núcleos de Combate ao Trabalho Infantil, com o
objetivo geral de investigar, denunciar e levantar provas de incidência da
exploração de mão-de-obra infantil.
A intervenção do Ministério Público do Trabalho passa a ser decisiva
nesse processo, integrada ao controle e fiscalização do trabalho infantil
exercida pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Priorizando uma atuação
preventiva, voltada para o ajuste espontâneo, a adequação voluntária dos que
transgridem a legislação e exploram o trabalho infantil, o MPT adota também
procedimentos coercitivos que podem acarretar ações judiciais pela não
observância da legislação.
No decorrer da década de 90, tanto o desenvolvimento das ações de
fiscalização e de controle do trabalho infantil, quanto a implementação de
programas, projetos e iniciativas direcionadas para a erradicação do trabalho
infantil, evidenciavam a necessidade de uma maior integração entre os
diversos protagonistas comprometidos com os direitos de crianças e
adolescentes, que assegurasse a efetividade do aparato jurídico e institucional
estruturado desde a Constituição de 1988.
Esta necessidade tende a envolver não somente as instituições
legalmente constituídas, a exemplo do Ministério do Trabalho e Emprego, do
Ministério Público do Trabalho e do Ministério Público Estadual, dentre outros,
mas, sobretudo, garantir a participação concreta e ativa das entidades não
30
governamentais, dos fóruns e conselhos que expressam a organização da
sociedade.
Sem tal articulação entre as instituições constituídas para a defesa da
ordem jurídica e as redes, fóruns e espaços de intervenção que emergem da
sociedade, a construção de políticas e mecanismos que possam favorecer a
efetividade de uma legislação reconhecidamente avançada torna-se frágil,
comprometendo a sustentabilidade de todo esse processo.
3.4 Educação e ações complementares à escola
A questão educacional aparece como área estratégica de centralidade
crescente no universo de iniciativas voltadas para a prevenção e erradicação
do trabalho infantil. Dado o problema da evasão e sobretudo da repetência, as
intervenções voltam-se – mais do que para a questão do acesso –
principalmente para a permanência e o sucesso escolar das crianças, ao que
se acrescenta o desafio da correção do fluxo escolar (defasagem série-idade).
Incluem-se neste universo iniciativas de diversas entidades não
governamentais, fundações empresariais e governos municipais, através de
desenhos diversos de parceria. A título ilustrativo, podem-se citar programas
como os da Fundação Cidade Mãe, em Salvador, o programa Crer para Ver
(que envolve o apoio a dezenas de projetos localizados), o Projeto Somar, no
estado de São Paulo, o Programa de Educação em Tempo Integral, em Pato
Branco/PR, o Programa Desenvolvimento Global da Criança, em Dois
Irmãos/RS e o Programa Oficina de Criança, no Rio de Janeiro, entre inúmeros
outros.
Seja no âmbito da rede instalada, seja através da ação de organizações
da sociedade, assumem papel proeminente as ações sócio-educativas no
período complementar à escola (envolvendo reforço escolar, atividades
esportivas e culturais e educação para a cidadania).
29 FISCHER, op.cit.
31
Outras ações associadas referem-se à qualidade do ensino (capacitação
de agentes educacionais, distribuição de material pedagógico) e redução de
custos de permanência através da oferta de material escolar, transporte e
vestuário. Visibilidade crescente vem tendo ainda as iniciativas de aceleração
escolar, inclusive de forma a facilitar a (re)inserção escolar das crianças
egressas de situações de trabalho infantil. Como indicam as experiências em
curso (por exemplo em São Paulo e no Paraná), as atividades de aceleração
escolar, implementadas com métodos pedagógicos adequados, apresentam do
ponto de vista educativo resultados similares ou mesmo superiores aos do ciclo
normal de ensino.
3.5 Incremento da renda e ações sócio-educativas junto às famílias.
Um traço marcante das iniciativas relacionadas à prevenção e
erradicação do trabalho infantil é a presença de ações diretamente
relacionadas ao trabalho com a as famílias, cuja centralidade vem sendo
crescentemente reconhecida. Ainda que as iniciativas não abranjam via de
regra uma atenção integral à família – no sentido de ações em múltiplas frentes
e direcionadas ao conjunto de seus membros - geralmente envolvem mais de
um componente, tanto na dimensão formativa quanto de incremento da renda
familiar.
A modalidade de ação mais frequente corresponde ao trabalho sócio-
educativo junto às famílias, que pode assumir formas diferenciadas e
complementares como o suporte jurídico, o apoio psicológico (particularmente
em situações críticas como a violência doméstica, o alcoolismo, etc), a
educação de adultos e a formação para a cidadania.
Por sua vez, têm sido crescentes nos últimos cinco anos os programas
de complementação da renda familiar associados à contrapartida da proibição
do trabalho infantil e articulados ao ingresso e permanência de crianças entre 7
e 14 anos na escola. Em muitos casos, envolvem ainda outros componentes no
campo educacional – como jornada complementar – e ações de assistência e
promoção familiar. Estas linhas de atenção estão particularmente presentes
32
nas diferentes iniciativas de bolsa familiar de educação, como os programas
municipais e estaduais de bolsa-escola e o PETI – Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil (MPAS / SEAS), abordado especificamente mais adiante.
Outro agregado de ações diz respeito às iniciativas para geração de
trabalho e renda, isto é, ao incremento da renda familiar em bases
sustentáveis, envolvendo, sobretudo o apoio a pequenos empreendimentos
(através de capacitação, crédito e alternativas de mercado) e a formação e
qualificação profissional de jovens e adultos. Vale observar que – em si mesmo
– o campo de programas e projetos de geração de trabalho e renda é bastante
amplo no Brasil, mas ainda limitado como ação explicitamente integrada à
prevenção e erradicação do trabalho infantil.
A grande maioria dos projetos existentes possui um caráter localizado.
Existem, no entanto iniciativas com naturezas distintas que, devido à sua
centralidade e à sua abrangência nacional, merecem particular destaque, como
o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e o PETI -
Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.30
30 BRASIL. Ministério da Previdência e Assistência Social/ Secretaria do Estado de Assistência Social. Programa de Erradicação do Trabalho Infantil: Área de Assistência Social. Série Programas de Assistência Social.
33
CONCLUSÃO
O trabalho infantil consiste em um dos principais desafios sociais que
estão sendo enfrentados no Brasil. Governo e sociedade civil aliam-se para
cumprir uma pauta de direitos humanos, alicerce de uma sociedade
democrática que almeja a igualdade de oportunidades para todos. Com raízes
profundas na história social brasileira, o problema, agravado pelo processo de
globalização, vem adquirindo maior visibilidade perante o público nacional e
internacional e, por conseguinte, gerando uma forte indignação coletiva.
Partilhando dessa indignação, o Governo brasileiro assume o
compromisso de erradicar o trabalho infantil não apenas como parte da sua
agenda de direitos humanos, mas como uma das prioridades de política social.
Embora ainda haja muito por fazer, as ações já realizadas têm demonstrado
eficácia, reconhecida pelo UNICEF no seu mais recente relatório sobre a
Situação das Crianças no Mundo.
Combater o trabalho infantil é uma tarefa complexa, em um país que
apresenta distintas características nas suas várias regiões. O trabalho da
criança, freqüentemente associado à pobreza e à desigualdade, constitui uma
forma perversa de dificultar a mobilidade social inter e intrageracional. A
participação precoce de crianças na força de trabalho é uma das
conseqüências de uma adversa situação econômica e social que compromete
o bem-estar das famílias.
Identificaram-se regiões e setores onde ocorre o trabalho infantil.
Estratégias e ações estão sendo concebidas e implementadas para mudar as
formas pelas quais a organização social da produção utiliza o trabalho infantil
como insumo produtivo. Pretende-se erradicar formas primitivas de produção e
de convivência, que impõem um alto custo social para esta e para as futuras
gerações de brasileiros.
As ações destinadas a colocar as crianças na escola são essenciais
para o sucesso dos programas de combate ao trabalho infantil. A política
educacional do Governo Federal, em parceria com estados, municípios e
sociedade civil, visa a eliminar o analfabetismo e a colocar todas as crianças na
34
escola, retirando-as da rua e do trabalho. É imperativo, portanto, estabelecer
uma ação integral para evitar que crianças retiradas do trabalho, retornem a
sua condição anterior devido à pobreza e à ausência de boas oportunidades
educacionais.
A erradicação do trabalho infantil é um compromisso do Governo e um
esforço que deve ser de todos. O repertório de programas, que está sendo
implementado, ao abrigar as metas do Programa Nacional de Direitos
Humanos, demonstra enfaticamente que o Governo está disposto a reduzir as
situações de desigualdade e de injustiça que afligem ainda grande parte da
sociedade brasileira, especialmente os mais vulneráveis, como as crianças e
os adolescentes.
35
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, J; BECKER, M. J.; SANTOS, B. R.; PEREIRA, I. Trabalho infantil no Brasil: um estudo das estratégias e políticas para sua eliminação. São Paulo, DCI/ISPICAN, dezembro (Relatório de Pesquisa), 1995. BARROS, R. P.; MENDONÇA, R. S. P. Determinantes da participação de menores na força de trabalho. Rio de Janeiro: IPEA, novembro (Texto para Discussão, Nº 200), 1990. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 21.ed. São Paulo: Saraiva, 2007. BRASIL. Ministério da Previdência e Assistência Social/ Secretaria do Estado de Assistência Social. Programa de Erradicação do Trabalho Infantil: Área de Assistência Social. Série Programas de Assistência Social. DEL-CAMPO, ERA; OLIVEIRA, TC. Estatuto da criança e do adolescente. (Série Leituras Jurídicas, v.8). 6.ed. São Paulo: Atlas, 2009.
DERMIEN, J. M. Organização Internacional do Trabalho - Brasil. In: Fiscalização do Trabalho e o Trabalho Infantil. Brasília, Ministério do Trabalho, 2003. FISCHER, RM. O selo social contra o trabalho infantil: experiências brasileiras. São Paulo: CEATS, 2000. GONÇALVES, R. O trabalho infantil e a agenda social. Revista do BNDES, v.4, n.7, p.221-40, jun/2002. GOUVEIA, A. J. O trabalho infantil do menor: necessidade transfigurada em virtude. Cadernos de pesquisa. São Paulo, (44): 55-62, fev/1993. MADEIRA, F. R. Pobreza, escola e trabalho: convicções virtuosas, conexões viciosas. São Paulo em Perspectiva, 7(1): 70-83, jan/mar 2001. OLIVEIRA, O. O trabalho infanto-juvenil no direito brasileiro. OIT, 2003. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Brasil. In: Pela abolição do trabalho infantil Brasília: Ministério do Trabalho, 2002. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Síntese de indicadores: 1999/IBGE, Departamento de Emprego e Rendimento. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.
36
VEIGA, J. P. C. A questão do trabalho infantil. São Paulo: ABET (Coleção ABET - Mercado de Trabalho, v. 7), 2000.
37
INDICE
FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTO 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 CAPÍTULO 1 CARACTERIZAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NO BRASIL 09 1.1 Comentários gerais 09 1.2 Características e dimensões 11 1.3 Condicionantes que levam ao trabalho infantil 14 CAPÍTULO 2 BASES JURÍDICAS REFERENTES AO TRABALHO INFANTIL NO BRASIL
17
2.1 A Constituição Federal 17 2.2 Estatuto da Criança e do Adolescente 20 2.3 Lei Orgânica da Assistência Social 22 2.4 Acordos e Convenções Internacionais 22 CAPÍTULO 3 AÇÕES, PLANOS E PROGRAMAS DE TRABALHO INFANTIL 26 3.1 Sensibilização e mobilização para a questão do trabalho infantil 26 3.2 Incentivos ou prêmios para a atuação contra o trabalho infantil 27 3.3 Ações voltadas para a fiscalização, denúncia ou movimentação de ações judiciais contra a exploração de mão-de-obra infantil
29
3.4 Educação e ações complementares à escola 30 3.5 Incremente da renda e ações sócio-educativas justo às famílias 31 CONCLUSÃO 33 REFERÊNCIAS 35 ÍNDICE 37
38
FOLHA DE AVALIAÇÃO Universidade Cândido Mendes A exploração do trabalho infantil nos moldes da Constituição Federal Alessandra dos Santos Magalhães Data da entrega: Avaliado por: Conceito: