38
1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NOS MOLDES DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL Alessandra dos Santos Magalhães Orientador: Prof. Carlos Leocádio RIO DE JANEIRO 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

1

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NOS MOLDES DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Alessandra dos Santos Magalhães

Orientador:

Prof. Carlos Leocádio

RIO DE JANEIRO

2010

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

2

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DE MESTRE

A EXPLORAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NOS MOLDES DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Apresentação de monografia à Universidade Cândido Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito e Processo de Trabalho Por: Alessandra dos Santos Magalhães

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

3

AGRADECIMENTOS

A Deus A minha família Ao prof. Carlos Leocádio pela orientação deste estudo monográfico

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

4

DEDICATÓRIA Para as crianças e adolescentes trabalhadores

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

5

RESUMO

O objetivo geral deste estudo é discutir sobre a questão da exploração do trabalho infantil no Brasil, considerando as bases jurídicas pertinentes, especialmente a Constituição Federal. Como objetivos específicos o estudo se propõe a caracterizar o trabalho infantil no Brasil; analisar as bases jurídicas referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos e programas de combate ao trabalho infantil no Brasil. O trabalho tem como foco central a discussão sobre as ações de combate a exploração do trabalho infantil no Brasil, especialmente sob a luz das determinações da Constituição Federal. Palavras-chave: Trabalho infantil – Bases jurídicas sobre trabalho infantil – Direito trabalhista

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

6

METODOLOGIA

O estudo se apresenta como uma revisão de literatura, descritiva,

buscando discutir sobre as ações de combate a exploração do trabalho infantil

no Brasil. A coleta de dados será realizada em livros e artigos científicos que

colaborem para a obtenção dos objetivos propostos.

Para o acesso aos documentos de consulta serão utilizadas bibliotecas

de instituições especializadas, bibliotecas universitárias e Bancos de Dados

disponíveis na Web.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO 1. Caracterização do trabalho infantil no Brasil 09

CAPÍTULO 2. Bases jurídicas referentes ao trabalho infantil no Brasil 17

CAPITULO 3. Ações, planos e programas de combate ao trabalho

infantil

26

CONCLUSÃO 33

REFERÊNCIAS 35

INDICE 37

FOLHA DE AVALIAÇÃO 38

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

8

INTRODUÇÃO

Este estudo tem por objetivo geral discutir sobre a questão da

exploração do trabalho infantil no Brasil, considerando as bases jurídicas

pertinentes, especialmente a Constituição Federal. Na forma de objetivos

específicos o etupo propõe-se à: caracterizar o trabalho infantil no Brasil;

analisar as bases jurídicas referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir

sobre as ações, planos e programas de combate ao trabalho infantil no Brasil.

A exploração do trabalho infantil é uma realidade na sociedade brasileira

que, mesmo depois da Constituição Federal e do Estatuto da Criança e do

Adolescente, ainda apresenta números na ordem de 5 milhões de crianças e

adolescentes que estão afastados da escola para trabalhar. Apesar de ser um

tema bastante explorado, acredita-se que sua abordagem na esfera jurídica é

muito providencial, pois abre novas discussões no sentido de buscar na

legislação vigente, especialmente na Constituição Federal, subsídios para

combater e dar novas soluções para o problema da exploração do trabalho

infantil.

O afastamento da criança do meio escolar para exercer uma atividade

remunerada sem que para isso esteja qualificada, é estar colaborando para seu

futuro incerto e para o aumento do subemprego no país.

Apesar de alguns esforços no sentido de combater a exploração do

trabalho infantil, este ainda é um problema social brasileiro que foge ao

controle das autoridades, especialmente foram dos centros urbanos, onde a

escassez de políticas de educação e a pobreza absoluta exigem a participação

da mão-de-obra infantil no sustento da família.

Para melhor entendimento do tema o estudo foi dividido como se

apresenta:

O primeiro capítulo caracteriza o trabalho infantil no Brasil; o segundo

capítulo discute sobre as bases jurídicas referentes ao trabalho infantil no

Brasil; o terceiro capítulo analisa as ações, planos e programas de combate ao

trabalho infantil.

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

9

CAPÍTULO 1 – CARACTERIZAÇÃO DO TRABALHO

INFANTIL NO BRASIL

1.1 Comentários gerais

A erradicação do trabalho infantil é uma meta que, desde o início dos

anos 90, vem se tornando prioridade na agenda das políticas sociais no Brasil.

Tema quase desconhecido até então, ou diluído em meio às questões do

"menor abandonado", dos "meninos e meninas de rua" ou em "situação de

rua", a proteção das crianças e adolescentes trabalhadores entrou para a pauta

do governo e da sociedade brasileira, em grande parte como um reflexo das

iniciativas de instituições multilaterais dedicadas à defesa dos direitos da

infância e como uma resposta às pressões exercidas pela comunidade

mundial.

Segundo Veiga1, no plano internacional, a questão do trabalho infantil

emergiu com vigor ao final dos anos 80, principalmente a partir do advento da

Declaração Universal dos Direitos da Criança, em 1989, que consagrou a

doutrina de proteção integral e de prioridade absoluta aos direitos da infância.

Porém, para além de uma questão humanitária e de defesa dos direitos da

criança, o problema do trabalho infantil ganhou relevância diante do

acirramento da concorrência intercapitalista, num momento em que as

economias estão mais abertas e globalizadas, pelo fato de muitos países em

desenvolvimento explorarem a mão-de-obra infantil com o objetivo de baratear

as suas exportações. Neste sentido, a introdução de uma Cláusula Social nas

regras do comércio internacional, proibindo a utilização de mão-de-obra infantil

na fabricação de produtos exportados, é uma demanda de diversos governos e

de grande parte do sindicalismo internacional.

1 VEIGA, J. P. C. A questão do trabalho infantil. São Paulo: ABET (Coleção ABET - Mercado de Trabalho, v. 7), 2000.

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

10

Azevedo et al2 diz que no Brasil, estes elementos externos de pressão

encontraram condições propícias, que favoreceram e potencializaram seus

impactos. Nos anos 80, o término do regime político autoritário e a abertura

democrática possibilitaram a intensificação das demandas sociais,

desencadeando um intenso movimento nacional de defesa da criança e do

adolescente. Este movimento, envolvendo uma diversidade de atores sociais,

culminou na introdução do artigo 227 na Constituição de 1988, expressando os

direitos da criança na perspectiva da doutrina de proteção integral e

estabelecendo os deveres do Estado, da sociedade e da família para o seu

cumprimento. Porém, o maior símbolo desta trajetória reivindicatória é, sem

dúvida, o advento do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, definindo

direitos e diretrizes para a política de atendimento.

Mas, especificamente sobre a questão do trabalho infantil, o grande

marco no Brasil é a implantação do Programa Internacional para a Eliminação

do Trabalho Infantil (IPEC), da Organização Internacional do Trabalho, no ano

de 1992. Logo, o trabalho infantil adquiriu status de uma questão social,

tornando-se objeto de esforços específicos, articulados e significativos,

desempenhados através de parcerias estabelecidas entre organizações

governamentais e não-governamentais, órgãos multilaterais, entidades da

sociedade civil e até mesmo por instituições do setor privado.3

Assim, nos últimos anos, se definiu e consolidou a vocalização da

sociedade brasileira no tocante à eliminação do trabalho infantil,

transformando-se esta em causa prioritária na agenda pública.

Conseqüentemente, houve um redirecionamento das intervenções voltadas

para a infância e a adolescência: se antes elas se centravam em programas de

geração de renda e formação profissional, em meados dos anos 90, surge uma

ampla gama de ações específicas para a eliminação do trabalho infantil e a

proteção do trabalho do adolescente.

2 AZEVEDO, J.; BECKER, M. J.; SANTOS, B. R.; PEREIRA, I. Trabalho infantil no Brasil: um estudo das estratégias e políticas para sua eliminação. São Paulo, DCI/ISPICAN, dezembro (Relatório de Pesquisa), 1995. 3 Idem.

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

11

Antes de apresentar estes tipos ou modalidades de ação, acredita-se ser

importante destacar alguns aspectos do problema do trabalho infantil no Brasil,

as suas dimensões, características e os seus determinantes ou condicionantes

principais, pois delinear a natureza deste fenômeno possibilita entender melhor

as soluções adotadas e a diversidade de mecanismos e formas de atuação

institucional nessa área.

1.2 Características e dimensões

Para traçar um breve perfil do trabalho de crianças e adolescentes na

segunda metade da década de 90, serão utilizados os dados da Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) para os anos de 1995 a 1999,

publicadas no ano de 2000.

Assim, de acordo com a PNAD de 1999, existiam no Brasil 2,5 milhões

de crianças trabalhando na faixa etária de 10 a 14 anos e 375 mil na faixa

etária de 5 a 9 anos. No caso dos adolescentes de 15 a 17 anos, o contingente

total de ocupados era de 3,6 milhões de pessoas. As taxas de atividade1 eram

de 2,4% na faixa etária de 5 a 9 anos, 16,6% na faixa de 10 a 14 anos e 44,6 %

na faixa de 15 a 17 anos.4

O trabalho infantil assume na região Nordeste uma dimensão

significativamente maior que nas outras regiões. Além de ser responsável por

mais da metade do contingente total de crianças ocupadas na faixa de 10 a 14

anos, essa região apresenta uma taxa de atividade nessa faixa etária bastante

superior a das outras regiões. Já entre os adolescentes de 15 a 17 anos

observa-se uma distribuição mais equilibrada do contingente de ocupados e

uma variação proporcionalmente menor das taxas de atividades por região.5

Além do aspecto ligado à distribuição regional, existem outras

características importantes que diferenciam o trabalho de crianças e

adolescentes.

4 Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Síntese de indicadores: 1999/IBGE, Departamento de Emprego e Rendimento - RJ: IBGE, 2000. 5 Idem.

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

12

Na faixa etária de 10 a 14 anos, a maioria das crianças trabalhadores

reside em áreas rurais. A incidência do trabalho infantil é comparativamente

bem mais elevada nessas áreas, com a taxa de atividade chegando a superar

em quatro vezes aquela verificada em áreas urbanas. Coerentemente com

esse indicador, predominam entre as atividades laborais exercidas por crianças

nessa faixa etária, as ocupações ligadas à agricultura (58%), seguidas por

aquelas do setor de serviços (16,5%), comércio (12,3%) e indústria (8,6%).6

Quando se observa o tipo de relação de trabalho, nota-se que 58,6%

dos trabalhadores desta faixa etária não recebem nenhum tipo de

remuneração, sugerindo que eles trabalham junto com os pais. As atividades

não remuneradas ocorrem predominantemente no interior da pequena

produção familiar, mas podem envolver também outras situações, como, por

exemplo, o trabalho em plantations de cana de açúcar do Nordeste, quando as

crianças acompanham os seus pais para ampliar as cotas de produção da

família e a renda por ela auferida. Já as crianças que exercem atividades

renumeradas são absorvidas como empregados sem carteira assinada

(17,8%), trabalhadores na produção/construção para o próprio consumo/uso

(9,0%), empregados domésticos (7,4%) ou trabalhadores por conta própria

(5,1%)7.

O percentual de trabalhadores adolescentes não remunerados é de

28%. Entre os demais predominam as ocupações de caráter informal: 34% são

empregados sem carteira assinada, 16% são empregados com carteira

assinada, 12% são empregados domésticos e 6% trabalham por conta própria.

Apesar dessas diferenças, existem diversos elementos comuns à situação de

crianças e adolescentes trabalhadores.

Além de dificultar a frequência à escola, o trabalho precoce também

influencia negativamente o aproveitamento escolar de crianças e adolescentes.

58% das crianças de 10 a 14 anos que trabalhavam apresentavam defasagem

na relação idade-série, enquanto que entre as crianças que não trabalhavam

esse percentual era de 51%.

6 PNAD, op.cit. 7 Idem.

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

13

Os prejuízos do trabalho sobre a permanência das crianças na escola se

fazem sentir gradativamente e ao longo do tempo: as trajetórias erráticas de

evasão-retorno ao sistema escolar, as sucessivas reprovações, o atraso etário

com relação à série cursada culminam com o abandono definitivo dos estudos.

Um último aspecto a ser examinado relaciona-se com a evolução do trabalho

infantil na segunda metade da década de 90. Para tanto, serão considerados

os dados referentes ao número de crianças e adolescentes ocupados, bem

como as taxas de atividade desses dois segmentos, para o período de 1995 a

1999.8

Em resumo, os dados indicam que, no interior da segunda metade da

década de 90, apenas entre os anos 1995 e 1996, ocorre uma redução

expressiva (em termos absolutos e relativos) do trabalho de crianças na faixa

de 10 a 14 anos. Como se sabe, esse período concentra os efeitos

redistributivos da era pós-Real, em virtude da queda do nível inflacionário e do

aumento real do salário mínimo em 1995. Embora não existam evidências

empíricas que correlacionem os dois fenômenos, é lícito supor-se que a

redução do trabalho de crianças deva-se ao menos em parte ao incremento da

renda das famílias mais pobres, ocorrido naquele momento.

Por outro lado, a inexistência de mudanças significativas entre 1996 e

1999, indica que as ações institucionais de erradicação do trabalho infantil (que

se intensificam a partir de 1996 com a criação do PETI), embora tenham obtido

êxitos localizados, não têm conseguido alcançar uma redução na dimensão

desse problema em escala nacional.

O número de adolescentes trabalhadores na faixa de 15 a 17 anos

apresenta uma redução de 19% entre 1995 e 1999. Apesar de também nesse

caso a queda mais expressiva ter sido registrada entre 1995 e 1996, a redução

distribui-se de forma mais equilibrada ao longo de todo o período.

Considerando-se que a maioria dos trabalhadores dessa faixa etária

exerce atividades remuneradas, estando portanto inserida no mercado de

trabalho, seria interessante verificar até que ponto a redução no número de

8 PNAD, op.cit.

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

14

adolescentes trabalhadores pode ser atribuído ao aumento do desemprego

ocorrido a partir de 1997.

Para o período de 1996 a 1999, o número de adolescentes ocupados

reduz-se em 11,2% enquanto que a taxa de atividade deste segmento

apresenta uma queda de apenas 2,8%. Isto significa que a redução no

contingente de adolescentes trabalhadores deveu-se menos à diminuição da

PEA adolescente (ou, dito de outra forma, à oferta de mão de obra por parte

dos adolescentes) e mais às crescentes dificuldades que os adolescentes vêm

enfrentando em serem absorvidos pelo mercado de trabalho.9

1.3 Condicionantes que levam ao trabalho infantil

Diante deste quadro constatado no item anterior, cabe colocar em

discussão alguns determinantes do trabalho infantil, destacados pela literatura

sobre este tema. Desde logo, ele deve ser encarado como um fenômeno social

complexo e sujeito a múltiplos condicionantes, de distintas naturezas e que

podem ser observados através de duas perspectivas complementares: a da

"oferta" de mão-de-obra infantil, ou seja, por quais motivos as crianças

começam a trabalhar desde cedo, e a da "demanda", ou porque o mercado

procura e absorve as crianças como força de trabalho.

Conforme colocam Barros; Mendonça10 na perspectiva da "oferta" de

trabalho pelas crianças, quatro fatores podem ser destacados: a pobreza, que

obriga as famílias a ofertar a mão-de-obra dos filhos pequenos; a ineficiência

do sistema educacional brasileiro, que torna a escola desinteressante para os

alunos e promove elevadas taxas de repetência e evasão; o sistema de valores

e tradições da nossa sociedade, fortemente marcado pela "ética do trabalho"; o

desejo de muitas crianças de trabalhar desde cedo.

9 PNAD, op.cit. 10 BARROS, R. P.; MENDONÇA, R. S. P. Determinantes da participação de menores na força de trabalho. Rio de Janeiro: IPEA, novembro (Texto para Discussão, Nº 200), 1990.

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

15

Existe certo consenso a respeito do papel preponderante da pobreza

como determinante do trabalho infantil. O baixo nível de renda auferido pelos

adultos é, muitas vezes, insuficiente para assegurar a sobrevivência da família,

levando crianças e adolescentes a ingressarem precocemente no mercado de

trabalho, sobretudo em empregos não formais, com trabalhos pouco

qualificados e sem perspectivas profissionais.

Estatisticamente, a relação entre o baixo nível de renda familiar per

capita e a maior incidência do trabalho infantil pode ser confirmada pelas

informações da PNAD para o ano de 1995. Para a faixa etária entre 10 e 14

anos, nas famílias com mais baixo nível de renda (até um quarto de salário

mínimo per capita), 12,3% das crianças apenas trabalham, estando fora do

sistema escolar; 14,7% conciliam trabalho e estudo e 58,6% se dedicam

somente aos estudos.

Por outro lado, na faixa de renda superior a dois salários mínimos per

capita, a situação das crianças é bem mais favorável: 1,2% apenas trabalham,

5,1% trabalham e estudam simultaneamente e, por fim, 91,5%, a grande

maioria, se dedica exclusivamente aos estudos. Na faixa etária entre 15 e 17

anos, observa-se também uma considerável diferença de situação de trabalho

e estudo dos adolescentes pertencentes a famílias de diferentes níveis de

renda.11

Embora a pobreza das famílias seja base de todo o processo de

exploração da mão-de-obra infantil, outros fatores as levam a ofertar a sua

força de trabalho desde cedo. Por exemplo, a ineficiência e a má qualidade do

sistema educacional brasileiro, denunciada nas duas últimas décadas, constitui

um importante condicionante do trabalho precoce.

Conforme Madeira12, ainda que o exercício do trabalho prejudique a

freqüência escolar, conforme foi constatado nas informações anteriormente

apresentadas, uma outra relação, em sentido contrário, também deve ser

reconhecida: os problemas internos ao sistema escolar desempenham um

papel decisivo nas altas taxas de repetência e evasão entre as crianças das

11 PNAD, op.cit. 12 MADEIRA, F. R. Pobreza, escola e trabalho: convicções virtuosas, conexões viciosas. São Paulo em Perspectiva, 7(1): 70-83, jan/mar 2001.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

16

classes populares, expulsando-as do mundo escolar e promovendo a sua

inserção prematura no mundo do trabalho.

Um outro determinante importante do trabalho infantil, amplamente

registrado pela literatura sobre este tema, são os padrões culturais e

comportamentais estabelecidos nas classes populares, que levam à construção

de uma visão positiva acerca do trabalho de crianças e adolescentes.

Para além de uma necessidade, no âmbito das estratégias de curto

prazo para assegurar a sobrevivência da família, o trabalho precoce é também

valorizado como um espaço de socialização, onde as crianças estariam

protegidas do ócio, da permanência “nas ruas” e da marginalidade. Ao mesmo

tempo, inculcaria nelas a disciplina, a responsabilidade e a experiência

necessárias ao bom desempenho na vida profissional futura. Assim, a

importância atribuída ao trabalho como um princípio educativo desencadeia um

processo no qual a "necessidade é transfigurada em virtude".13

13 GOUVEIA, A. J. O trabalho infantil do menor: necessidade transfigurada em virtude. Cadernos de pesquisa. São Paulo, (44): 55-62, fev/1993.

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

17

CAPÍTULO 2. BASES JURÍDICAS REFERENTES AO

TRABALHO INFANTIL NO BRASIL

A erradicação do trabalho infantil tem sido alvo das políticas sociais do

Governo brasileiro, que tem promovido ações integradas para garantir à

criança e ao adolescente o direito à vida e ao desenvolvimento total. Na base

dos diversos mecanismos de proteção à infância e à juventude, principalmente

nos que tangem à sua precoce inserção no mercado de trabalho, há um

avançado aparato jurídico-institucional, que reforça as ações governamentais

pela ênfase que dá, sobretudo, às parcerias com a sociedade.

A legislação brasileira relativa à regulamentação do trabalho infantil

remonta ao ano de l891, quando o Decreto 1.313 definia que os menores do

sexo feminino, com idade entre 12 e 15 anos e os do sexo masculino, na faixa

entre 12 e 14 anos, teriam uma jornada diária máxima de 7 horas e fixava uma

jornada de 9 horas para os meninos de 14 a 15 anos de idade. Até o advento

da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em l943, vários dispositivos

regularam a idade mínima para o trabalho, destacando-se o Primeiro Código de

Menores da América Latina, de l927, que vedava o trabalho infantil aos l2 anos

de idade e proibia o trabalho noturno aos menores de l8 anos. A CLT tratou da

matéria de forma abrangente, definindo a idade mínima em l2 anos, e

estabelecendo as condições permitidas para a realização do trabalho.14

2.1 A Constituição Federal

Entre vários temas afetos à área social, a questão da criança encontra,

na Constituição Federal de l98815, respaldo sem precedentes se comparada ao

tratamento dado à temática infanto-juvenil pelas Cartas anteriores. Vários

14 GONÇALVES, R. O trabalho infantil e a agenda social. Revista do BNDES, v.4, n.7, p.221-40, jun/2002. 15 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 21.ed. São Paulo: Saraiva, 2007.

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

18

dispositivos enunciam a obrigatoriedade de proteger os direitos da criança e do

adolescente, destacando-se o artigo 22716, que define:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação , exploração, violência, crueldade e opressão.

A expressão concreta do compromisso do Estado, como promotor dos

direitos infanto-juvenis, está prevista no artigo 227, ao dispor que "..o Estado

promoverá programas de assistência integral à saúde da criança e do

adolescente, admitida a participação de entidades não-governamentais...". Esta

assistência é reafirmada no artigo 203, que prevê a sua prestação a quem dela

necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, com

ênfase no amparo às crianças e adolescentes carentes.

O mesmo dispositivo acima mencionado determina a idade mínima de l4

anos para a admissão ao trabalho, observado o disposto no artigo 7º, XXXIII,

que proíbe "o trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de dezoito

e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de

aprendiz, a partir de quatorze anos".

Convém observar que anteriormente à Emenda Constitucional nº 20, de

1998, a Constituição, ao deixar aberta a idade mínima inferior para o trabalho

do adolescente aprendiz, permitia que a legislação ordinária a regulasse.

Havia, todavia, um entendimento adotado por juristas de que 14 anos consistia

a idade mínima para trabalhos comuns e l2 anos para trabalho em regime de

aprendizado. Entre l2 e 14 anos, portanto, o trabalho só era aceitável dentro de

um processo pré-profissionalizante, excluídos todos os trabalhos que se

realizassem nas oficinas industriais.17 (Convenção nº 5, ratificada pelo Brasil, e

Decreto nº 66.280, de 27/2/70, art. 1º).

16 BRASIL. Constituição, op.cit. 17 OLIVEIRA, O. O trabalho infanto-juvenil no direito brasileiro. OIT, 2003.

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

19

Vale ressaltar, entretanto, que o Poder Executivo, com o intuito de

eliminar essa possibilidade, encaminhou ao Congresso Nacional o Projeto de

Emenda à Constituição Federal, nº 413/96, suprimindo a ressalva "salvo na

condição de aprendiz". A aprovação dessa Emenda culminou na alteração do

inciso XXXIII, do artigo nº 7º da Constituição Federal, que passou a vigorar com

a redação atual, viabilizando a ratificação da Convenção nº 138, da OIT.18

Como a educação constitui um ponto nodal de toda e qualquer política

infanto-juvenil, a Constituição Federal detalha, no artigo 22819, os deveres

próprios do Estado:

"I – ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não

tiveram acesso na idade própria;

II – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

preferencialmente na rede regular de ensino;

III – atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de

idade;

IV – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;

V – atendimento ao educando, no ensino fundamental, através de programas

suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e

assistência à saúde."

De acordo com a Constituição brasileira, as crianças com idade de

admissão ao trabalho têm direito à previdência e outros benefícios trabalhistas,

como férias pagas, décimo-terceiro e carteira assinada, além de direito de

acesso à escola.

A Constituição também proíbe diferença de salário, de exercício de

função e critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil.

Ainda segundo a Constituição, o governo federal tem o dever de garantir

o ensino fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para os que não tiveram

acesso à escola na idade própria. O ensino fundamental vai desde os 7 anos

até os 14 anos de idade.

18 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Brasil. In: Pela abolição do trabalho infantil Brasília: Ministério do Trabalho, 2002. 19 BRASIL. Constituição op.cit.

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

20

Mas, segundo dados do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a

Infância), cerca de duas a cada dez crianças trabalhadoras não freqüentam a

escola e, como conseqüência, a taxa de analfabetismo entre essas crianças

chega a 20,1%, contra 7,6% no caso das crianças que não trabalham.

2.2 Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

Promulgado pela Lei nº 8.069, de 13 de julho de 199020, o Estatuto da

criança e do Adolescente regula as conquistas consubstanciadas na

Constituição Federal em favor da infância e da juventude. O Estatuto introduz

inovações importantes no tratamento dessa questão, sintetizando mudanças de

conteúdo, de método e de gestão.

Uma das mudanças de conteúdo mais relevantes refere-se à defesa

jurídico-social de crianças e adolescentes. Em termos de método, para uma

ação mais efetiva, o ECA desloca a tendência assistencialista prevalecente em

programas destinados ao público infanto-juvenil, e a substitui por propostas de

caráter sócio-educativo, de cunho emancipatório.

Além disso, no campo do atendimento a crianças e adolescentes em

condição de risco pessoal e social, o Estatuto rejeita as práticas subjetivas e

discricionárias do direito tutelar tradicional e introduz salvaguardas jurídicas.

Consegue-se, dessa forma, conferir à criança e ao adolescente a condição de

sujeito de direitos frente ao sistema administrador da justiça para a infância e a

juventude.

Institucionalmente, o ECA criou os Conselhos Tutelares (art. 131) para

garantir a aplicação eficaz das propostas estatutárias. Órgãos permanentes e

autônomos, não jurisdicionais, são encarregados pela sociedade de zelar pelo

cumprimento dos direitos das crianças e dos adolescentes. Sempre que esses

direitos forem violados, por ação ou omissão do Estado ou da sociedade,

caberá aos Conselhos Tutelares adotar as medidas de proteção cabíveis,

ajuizando, quando necessário, uma representação junto à autoridade judiciária.

20 DEL-CAMPO, ERA; OLIVEIRA, TC. Estatuto da criança e do adolescente. (Série Leituras Jurídicas, v.8). 6.ed. São Paulo: Atlas, 2009.

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

21

Ao determinar que "a política de atendimento dos direitos da criança e do

adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações

governamentais e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios" (artigo 86), o ECA, no bojo de uma política de

atendimento descentralizada, cria os conselhos municipais, estaduais e

nacional de defesa dos direitos da criança e do adolescente. Esses Conselhos

de Direitos, constituídos de forma paritária por Governo e sociedade, atuam

como órgãos deliberativos e controladores das ações atinentes à esfera

infanto-juvenil, em todos os níveis de governo. Embora lhes sejam atribuídas

funções normatizadoras e formuladoras de políticas, os Conselhos de Direitos

não possuem função executiva: esta fica restrita à competência governamental.

O Estatuto pauta-se, portanto, pelos princípios da descentralização

político-administrativa e pela participação de organizações da sociedade.

Amplia, sobremaneira, as atribuições do Município e da comunidade e restringe

as responsabilidades da União e dos Estados. À primeira devem caber,

exclusivamente, a emissão de normas gerais e a coordenação geral da política.

Destaca-se, nesse sentido, o papel do Conselho Nacional de Direitos da

Criança e do Adolescente (CONANDA), colegiado deliberativo de composição

paritária e função controladora das políticas públicas.

Além de constituir um marco legal inédito sobre a temática em apreço, o

ECA busca assegurar às crianças e aos adolescentes o pleno desenvolvimento

físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.

Permeia, ainda, o Estatuto, a concepção de que as crianças e adolescentes

devem ter resguardados a primazia na prestação de socorros, a precedência

de atendimento nos serviços públicos, a preferência na formulação e execução

de políticas sociais e, por fim, o privilégio da destinação de recursos públicos

para a proteção infanto-juvenil. Essas prioridades reiteram os preceitos

constitucionais mencionados na seção anterior.

De par com os direitos fundamentais: o direito à convivência familiar e

comunitária, o direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer, vale

destacar que o ECA também regula o direito à profissionalização e à proteção

ao trabalho. O capítulo V, reiterando dispositivo previsto na Constituição

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

22

Federal, proíbe qualquer trabalho a menores de 14 anos de idade, "salvo na

condição de aprendiz." O estímulo à aprendizagem, em termos de formação

técnico-profissional, subordina-se à garantia de acesso e freqüência obrigatória

ao ensino regular por parte do adolescente. Ademais, o Congresso Nacional

está avaliando a regulamentação do instituto do trabalho educativo previsto no

ECA e destinado ao adolescente entre 14 e 18 anos, de modo que se conciliem

as atividades educativas com a inserção desse grupo no mercado de

trabalho.21

2.3 Lei Orgânica de Assistência Social

A Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), promulgada em 7 de

dezembro de 1993 (Lei nº 8.742), que regulamenta os artigos 203 e 204 da

Constituição, estabelece o sistema de proteção social para os grupos mais

vulneráveis da população, por meio de benefícios, serviços, programas e

projetos. Em seu art. 2º, estabelece que a assistência social tem por objetivos

dentre outros: I) a proteção à família, à infância e à adolescência; II) o amparo

às crianças e adolescentes carentes.

Vale salientar que as ações de assistência social não se dirigem ao

universo da população infanto-juvenil, mas a um segmento específico que

delas necessita por se encontrar em estado de carência, exclusão ou risco

pessoal e social.

2.4 Acordos e Convenções Internacionais

Os documentos internacionais que constituem o embasamento para a

promoção e proteção dos direitos da criança e do adolescente no âmbito do

sistema de direitos humanos da Organização das Nações Unidas, inspiraram,

em grande medida, o aparato jurídico-institucional que, nos dias de hoje,

assegura a implementação do direito da criança e do adolescente brasileiros.

21 DEL-CAMPO; OLIVEIRA, op.cit.

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

23

O documento básico e primeiro a ser lembrado é a Declaração de

Genebra sobre os Direitos da Criança, de 1924, consubstanciada, mais tarde,

na Declaração dos Direitos da Criança, adotada pela Assembléia Geral das

Nações Unidas, em 1959. A convicção de que seria fundamental propiciar à

criança uma proteção especial foi, inicialmente, enunciada em 1924,

alcançando posterior reconhecimento na Declaração Universal dos Direitos

Humanos (1948), no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e no Pacto

Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, assinados e

ratificados pelo Governo brasileiro.22

Três décadas foram necessárias para que a comunidade internacional

viesse a adotar, em novembro de 1989, a Convenção das Nações Unidas

sobre os Direitos da Criança, que consagrou, por um lado, a doutrina de

proteção integral e de prioridade absoluta aos direitos da criança, e, por outro,

o respeito aos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais da

criança. Firmado pelo Governo brasileiro na ocasião em que foi aberto à

assinatura dos Estados-membros da ONU, esse instrumento foi ratificado pelo

Decreto Legislativo nº 28, de 14 de setembro de 1990. Ainda em setembro

daquele mesmo ano, o Brasil esteve representado no Encontro Mundial de

Cúpula pela Criança, realizado na sede das Nações Unidas. Naquela ocasião,

71 Presidentes e Chefes de Estado, além de representantes de 80 países,

assinaram a Declaração Mundial sobre Sobrevivência, Proteção e

Desenvolvimento da Criança, e adotaram o Plano de Ação para a década de

90, assumindo o compromisso de implementar, de imediato, a Convenção das

Nações Unidas sobre os Direitos da Criança.23

Noutro quadrante, o direito positivo brasileiro abriga, em linhas gerais, as

normas das convenções da Organização Internacional do Trabalho, a despeito

de nem todas terem sido ratificadas.

22 DERMIEN, J. M. Organização Internacional do Trabalho - Brasil. In: Fiscalização do Trabalho e o Trabalho Infantil. Brasília, Ministério do Trabalho, 2003. 23 Idem.

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

24

As convenções e recomendações resultantes da participação do Brasil

como Estado-membro da OIT desde a sua criação, em 1919, somente passam

a incorporar o ordenamento jurídico nacional na mesma hierarquia das leis

ordinárias depois de submetidas à aprovação do Congresso Nacional.

No âmbito do trabalho infantil, o Brasil ratificou: I) Convenção nº 5

referente à idade mínima na indústria (1919); II) Convenção nº 7, relativa à

idade mínima no trabalho marítimo (1920); III) Convenção nº 58 (revista),

também atinente à idade mínima no trabalho marítimo (1936). Vale ressaltar

que, embora o Brasil ainda não tenha ratificado a Convenção nº 138 (1973),

que restringe a atividade laboral para menores de 15 anos, o parâmetro de

uma idade mínima para ingresso no mercado de trabalho, conforme

mencionado anteriormente, foi adotado pela Constituição Federal e pelo

Estatuto da Criança e do Adolescente. Além do mais, convém destacar que o

Programa Nacional de Direitos Humanos (1996) tem como uma das suas

metas de curto prazo, não só ratificar essa Convenção, mas implementar a

Recomendação 146 da OIT, que também se refere à idade mínima para

admissão no emprego.24

Integrado ao combate de erradicar o trabalho infantil, o Governo

brasileiro tem participado, de forma intensa, de conferências internacionais que

abordam a temática sobre as mais diversas perspectivas. Em fevereiro de 1997

o Ministério do Trabalho esteve presente na Conferência de Amsterdã quando

discutiu com mais de 30 países, representantes de empregadores e

empregados e organizações não-governamentais, medidas de combate às

mais intoleráveis formas de trabalho infantil. Embora o trabalho infantil seja um

dado nacional, em alguns ramos de atividades assume uma dimensão

internacional. Nessa linha, a Conferência foi um marco fundamental para

fortalecer a cooperação internacional e regional em torno da temática.

Por ocasião da Primeira Reunião Ibero-americana Tripartite de Nível

Ministerial sobre Erradicação do Trabalho Infantil (Cartagena das Índias, maio

de 1997), o Governo brasileiro, representado pelo Ministério do Trabalho,

assinou a Declaração de Cartagena que reitera o compromisso dos países

24 DERMIRN, op.cit.

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

25

signatários de reconhecer que os direitos da infância são fundamentos dos

direitos humanos. Para implementar as políticas, todos concordaram em se

empenhar em: I) promover o crescimento econômico que resulte na mitigação

da pobreza; II) redobrar os esforços para erradicar o trabalho infantil, através

de estratégias que agreguem e comprometam os diversos atores sociais; III)

criar comitês nacionais para desenhar e implementar um Plano Nacional de

Ação para Erradicação do Trabalho Infantil; IV) estabelecer um

acompanhamento sistemático desses comitês, bem como um sistema regional

de informações.25

Segundo o Fórum Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil, a maior

parte dessas crianças inseridas precocemente no mercado de trabalho vem de

famílias pobres, de baixo nível educacional e cujos pais, em sua maioria,

trabalham por conta própria.

25 DERMIEN, op.cit.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

26

CAPÍTULO 3 – AÇÕES, PLANOS E PROGRAMAS DE

COMBATE AO TRABALHO INFANTIL

No decorrer da década de 90, diversos fatores têm gerado um quadro

mais favorável para o combate ao trabalho infantil no Brasil. A atuação de

organismos internacionais (especialmente da OIT e do UNICEF), a aprovação

do Estatuto da Criança e do Adolescente e a consequente implantação de uma

rede de conselhos de defesa dos direitos desses segmentos, as numerosas

denúncias de exploração da mão-de-obra infantil, a mobilização de grupos

sociais envolvidos com o tema, em diferentes regiões - são alguns dos fatores

que têm contribuído não só para a disseminação de ações institucionais de

erradicação do trabalho infantil, mas também para que essa questão tenha

assumido destaque na agenda social brasileira.

Notadamente na segunda metade da década, tendo como fator de

impulso e referência a atuação do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação

do Trabalho Infantil, vem emergindo um conjunto de ações e intervenções

diretamente ligadas ao tema, em todas as regiões do país. Trata-se de um

elenco diversificado de iniciativas desenvolvidas por diferentes atores sociais:

órgãos de governo, organizações não governamentais, instituições

empresariais, sindicatos de trabalhadores e agências multilaterais.

Face a este contexto, uma das frentes desenvolvidas no âmbito da

cooperação UNICEFNAPP consiste em um trabalho de mapeamento de

iniciativas em curso, na forma de um banco de dados dinâmico, passível de

consultas e atualizações através da Internet, a ser colocado à disposição do

público em geral a partir do início de 2001.

3.1 Sensibilização e mobilização para a questão do trabalho infantil

As ações de sensibilização e mobilização social em torno da erradicação

do trabalho infantil visam, de um modo geral, a chamar atenção para as

violações aos direitos da infância e adolescência e conscientizar segmentos

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

27

específicos ou a opinião pública, mais amplamente, para a questão do trabalho

infantil. Trata-se de um componente presente na maioria das iniciativas em

curso, mesmo quando se constituem em projetos localizados e com ênfase em

outros objetivos específicos. Constitui, por outro lado, um elemento-chave no

interior de iniciativas abrangentes como a Marcha Global contra o Trabalho

Infantil e o Programa Internacional para Eliminação do Trabalho Infantil

(IPEC/OIT), bem como das ações sistemáticas do Fórum Nacional de

Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e dos Fóruns Estaduais.

A prática de reuniões, seminários, eventos, missões conjuntas em área

críticas – de modo a envolver novos atores na questão – traduz a forma

predominante de expressão deste campo de ações.

3.2 Incentivos ou prêmios para a atuação contra o trabalho infantil

Esta vertente de iniciativas tem como focos diferentes segmentos sociais

e institucionais, como a imprensa (Prêmio Jornalista Amigo da Criança, da

ANDI - Agência de Notícias do Direito da Infância e da Fundação Abrinq), os

governos municipais (Projeto Prefeito Amigo da Criança - Fundação Abrinq) e,

particularmente, o segmento empresarial. Neste último campo, os programas

de certificação ou de concessão dos chamados selos sociais voluntários

procuram combinar o benefício direto às crianças com mecanismos de

incentivos às empresas e fornecimento de informações aos consumidores e à

opinião pública em geral.26

A idéia da premiação ou certificação de empresas situa-se na esteira do

processo mais amplo de cunhagem de idéia de responsabilidade social ou de

"empresas cidadã", como um movimento que se difunde no Brasil ao longo da

década de 90, também sob outros focos temáticos, além da questão do

trabalho infantil.

No tocante a esta questão, os efeitos esperados podem envolver

diferentes níveis: a retirada de crianças do trabalho, por parte das empresas

26 FISCHER, RM. O selo social contra o trabalho infantil: experiências brasileiras. São Paulo: CEATS, 2000.

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

28

que pretendam adotar o selo e seus fornecedores; benefícios diretos ou

indiretos às crianças oferecidos pelas empresas (serviços educacionais,

assistência às famílias, aos empregados, à comunidade); indução de

consumidores à preferência por produtos isentos de trabalho infantil na sua

fabricação; conscientização e pressão social para a erradicação do trabalho

infantil.27

Como iniciativa pioneira e referencial nesta área, destaca-se

amplamente o Programa Empresa Amiga da Criança, implementado pela

Fundação Abrinq, desde 1995. Outros exemplos significativos são o selo "Pró-

Criança" do Instituto Pró-Criança (Franca/SP) e o Projeto Semear (Fundação

Semear/RS). Enquanto os dois outros exemplos correpondem a ações setoriais

(indústria calçadista), o Programa Empresa Amiga da Criança busca mobilizar

o empresariado de vários setores, inclusive empresas de grande porte com alto

grau de visibilidade no mercado. Ao início do ano 2000, I348 empresas

encontravam-se certificadas pelo Programa. Não é uma ação isolada ou

concentrada estritamente na idéia da premiação ou do selo, envolvendo todo

um processo articulado de sensibilização e mobilização - campanhas na

imprensa, pactos e ações promocionais, ligando-se a outros programas

também implementados pela Fundação Abrinq.28

Assume porém um caráter emblemático como ilustração desta

modalidade de ação, embora não haja um modelo único neste campo, podendo

se identificar diferentes ênfases e metodologias - com ou sem um sistema de

monitoramento direto, envolvendo um ou mais setores de atividade econômica,

com certificação de empresas ou produtos, com ação concentrada ou

espraiada geograficamente.

27 FISCHER, op.cit. 28 Idem.

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

29

3.3 Ações voltadas para a fiscalização, denúncia ou movimentação

de ações judiciais contra a exploração de mão-de-obra infantil

Este conjunto de ações visa, em última instância, a aplicação ou o

cumprimento dos dispositivos legais sobre o trabalho infantil, realizando-se

através de órgãos como o Ministério do Trabalho, o Ministério Público, os

Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e os

Conselhos Tutelares.29

A partir de meados da década de 90, ganham relevância a atuação do

Ministério do Trabalho e Emprego, por intermédio das Delegacias Regionais do

Trabalho, e a constituição dos Núcleos de Combate ao Trabalho Infantil, com o

objetivo geral de investigar, denunciar e levantar provas de incidência da

exploração de mão-de-obra infantil.

A intervenção do Ministério Público do Trabalho passa a ser decisiva

nesse processo, integrada ao controle e fiscalização do trabalho infantil

exercida pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Priorizando uma atuação

preventiva, voltada para o ajuste espontâneo, a adequação voluntária dos que

transgridem a legislação e exploram o trabalho infantil, o MPT adota também

procedimentos coercitivos que podem acarretar ações judiciais pela não

observância da legislação.

No decorrer da década de 90, tanto o desenvolvimento das ações de

fiscalização e de controle do trabalho infantil, quanto a implementação de

programas, projetos e iniciativas direcionadas para a erradicação do trabalho

infantil, evidenciavam a necessidade de uma maior integração entre os

diversos protagonistas comprometidos com os direitos de crianças e

adolescentes, que assegurasse a efetividade do aparato jurídico e institucional

estruturado desde a Constituição de 1988.

Esta necessidade tende a envolver não somente as instituições

legalmente constituídas, a exemplo do Ministério do Trabalho e Emprego, do

Ministério Público do Trabalho e do Ministério Público Estadual, dentre outros,

mas, sobretudo, garantir a participação concreta e ativa das entidades não

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

30

governamentais, dos fóruns e conselhos que expressam a organização da

sociedade.

Sem tal articulação entre as instituições constituídas para a defesa da

ordem jurídica e as redes, fóruns e espaços de intervenção que emergem da

sociedade, a construção de políticas e mecanismos que possam favorecer a

efetividade de uma legislação reconhecidamente avançada torna-se frágil,

comprometendo a sustentabilidade de todo esse processo.

3.4 Educação e ações complementares à escola

A questão educacional aparece como área estratégica de centralidade

crescente no universo de iniciativas voltadas para a prevenção e erradicação

do trabalho infantil. Dado o problema da evasão e sobretudo da repetência, as

intervenções voltam-se – mais do que para a questão do acesso –

principalmente para a permanência e o sucesso escolar das crianças, ao que

se acrescenta o desafio da correção do fluxo escolar (defasagem série-idade).

Incluem-se neste universo iniciativas de diversas entidades não

governamentais, fundações empresariais e governos municipais, através de

desenhos diversos de parceria. A título ilustrativo, podem-se citar programas

como os da Fundação Cidade Mãe, em Salvador, o programa Crer para Ver

(que envolve o apoio a dezenas de projetos localizados), o Projeto Somar, no

estado de São Paulo, o Programa de Educação em Tempo Integral, em Pato

Branco/PR, o Programa Desenvolvimento Global da Criança, em Dois

Irmãos/RS e o Programa Oficina de Criança, no Rio de Janeiro, entre inúmeros

outros.

Seja no âmbito da rede instalada, seja através da ação de organizações

da sociedade, assumem papel proeminente as ações sócio-educativas no

período complementar à escola (envolvendo reforço escolar, atividades

esportivas e culturais e educação para a cidadania).

29 FISCHER, op.cit.

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

31

Outras ações associadas referem-se à qualidade do ensino (capacitação

de agentes educacionais, distribuição de material pedagógico) e redução de

custos de permanência através da oferta de material escolar, transporte e

vestuário. Visibilidade crescente vem tendo ainda as iniciativas de aceleração

escolar, inclusive de forma a facilitar a (re)inserção escolar das crianças

egressas de situações de trabalho infantil. Como indicam as experiências em

curso (por exemplo em São Paulo e no Paraná), as atividades de aceleração

escolar, implementadas com métodos pedagógicos adequados, apresentam do

ponto de vista educativo resultados similares ou mesmo superiores aos do ciclo

normal de ensino.

3.5 Incremento da renda e ações sócio-educativas junto às famílias.

Um traço marcante das iniciativas relacionadas à prevenção e

erradicação do trabalho infantil é a presença de ações diretamente

relacionadas ao trabalho com a as famílias, cuja centralidade vem sendo

crescentemente reconhecida. Ainda que as iniciativas não abranjam via de

regra uma atenção integral à família – no sentido de ações em múltiplas frentes

e direcionadas ao conjunto de seus membros - geralmente envolvem mais de

um componente, tanto na dimensão formativa quanto de incremento da renda

familiar.

A modalidade de ação mais frequente corresponde ao trabalho sócio-

educativo junto às famílias, que pode assumir formas diferenciadas e

complementares como o suporte jurídico, o apoio psicológico (particularmente

em situações críticas como a violência doméstica, o alcoolismo, etc), a

educação de adultos e a formação para a cidadania.

Por sua vez, têm sido crescentes nos últimos cinco anos os programas

de complementação da renda familiar associados à contrapartida da proibição

do trabalho infantil e articulados ao ingresso e permanência de crianças entre 7

e 14 anos na escola. Em muitos casos, envolvem ainda outros componentes no

campo educacional – como jornada complementar – e ações de assistência e

promoção familiar. Estas linhas de atenção estão particularmente presentes

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

32

nas diferentes iniciativas de bolsa familiar de educação, como os programas

municipais e estaduais de bolsa-escola e o PETI – Programa de Erradicação

do Trabalho Infantil (MPAS / SEAS), abordado especificamente mais adiante.

Outro agregado de ações diz respeito às iniciativas para geração de

trabalho e renda, isto é, ao incremento da renda familiar em bases

sustentáveis, envolvendo, sobretudo o apoio a pequenos empreendimentos

(através de capacitação, crédito e alternativas de mercado) e a formação e

qualificação profissional de jovens e adultos. Vale observar que – em si mesmo

– o campo de programas e projetos de geração de trabalho e renda é bastante

amplo no Brasil, mas ainda limitado como ação explicitamente integrada à

prevenção e erradicação do trabalho infantil.

A grande maioria dos projetos existentes possui um caráter localizado.

Existem, no entanto iniciativas com naturezas distintas que, devido à sua

centralidade e à sua abrangência nacional, merecem particular destaque, como

o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e o PETI -

Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.30

30 BRASIL. Ministério da Previdência e Assistência Social/ Secretaria do Estado de Assistência Social. Programa de Erradicação do Trabalho Infantil: Área de Assistência Social. Série Programas de Assistência Social.

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

33

CONCLUSÃO

O trabalho infantil consiste em um dos principais desafios sociais que

estão sendo enfrentados no Brasil. Governo e sociedade civil aliam-se para

cumprir uma pauta de direitos humanos, alicerce de uma sociedade

democrática que almeja a igualdade de oportunidades para todos. Com raízes

profundas na história social brasileira, o problema, agravado pelo processo de

globalização, vem adquirindo maior visibilidade perante o público nacional e

internacional e, por conseguinte, gerando uma forte indignação coletiva.

Partilhando dessa indignação, o Governo brasileiro assume o

compromisso de erradicar o trabalho infantil não apenas como parte da sua

agenda de direitos humanos, mas como uma das prioridades de política social.

Embora ainda haja muito por fazer, as ações já realizadas têm demonstrado

eficácia, reconhecida pelo UNICEF no seu mais recente relatório sobre a

Situação das Crianças no Mundo.

Combater o trabalho infantil é uma tarefa complexa, em um país que

apresenta distintas características nas suas várias regiões. O trabalho da

criança, freqüentemente associado à pobreza e à desigualdade, constitui uma

forma perversa de dificultar a mobilidade social inter e intrageracional. A

participação precoce de crianças na força de trabalho é uma das

conseqüências de uma adversa situação econômica e social que compromete

o bem-estar das famílias.

Identificaram-se regiões e setores onde ocorre o trabalho infantil.

Estratégias e ações estão sendo concebidas e implementadas para mudar as

formas pelas quais a organização social da produção utiliza o trabalho infantil

como insumo produtivo. Pretende-se erradicar formas primitivas de produção e

de convivência, que impõem um alto custo social para esta e para as futuras

gerações de brasileiros.

As ações destinadas a colocar as crianças na escola são essenciais

para o sucesso dos programas de combate ao trabalho infantil. A política

educacional do Governo Federal, em parceria com estados, municípios e

sociedade civil, visa a eliminar o analfabetismo e a colocar todas as crianças na

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

34

escola, retirando-as da rua e do trabalho. É imperativo, portanto, estabelecer

uma ação integral para evitar que crianças retiradas do trabalho, retornem a

sua condição anterior devido à pobreza e à ausência de boas oportunidades

educacionais.

A erradicação do trabalho infantil é um compromisso do Governo e um

esforço que deve ser de todos. O repertório de programas, que está sendo

implementado, ao abrigar as metas do Programa Nacional de Direitos

Humanos, demonstra enfaticamente que o Governo está disposto a reduzir as

situações de desigualdade e de injustiça que afligem ainda grande parte da

sociedade brasileira, especialmente os mais vulneráveis, como as crianças e

os adolescentes.

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

35

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, J; BECKER, M. J.; SANTOS, B. R.; PEREIRA, I. Trabalho infantil no Brasil: um estudo das estratégias e políticas para sua eliminação. São Paulo, DCI/ISPICAN, dezembro (Relatório de Pesquisa), 1995. BARROS, R. P.; MENDONÇA, R. S. P. Determinantes da participação de menores na força de trabalho. Rio de Janeiro: IPEA, novembro (Texto para Discussão, Nº 200), 1990. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 21.ed. São Paulo: Saraiva, 2007. BRASIL. Ministério da Previdência e Assistência Social/ Secretaria do Estado de Assistência Social. Programa de Erradicação do Trabalho Infantil: Área de Assistência Social. Série Programas de Assistência Social. DEL-CAMPO, ERA; OLIVEIRA, TC. Estatuto da criança e do adolescente. (Série Leituras Jurídicas, v.8). 6.ed. São Paulo: Atlas, 2009.

DERMIEN, J. M. Organização Internacional do Trabalho - Brasil. In: Fiscalização do Trabalho e o Trabalho Infantil. Brasília, Ministério do Trabalho, 2003. FISCHER, RM. O selo social contra o trabalho infantil: experiências brasileiras. São Paulo: CEATS, 2000. GONÇALVES, R. O trabalho infantil e a agenda social. Revista do BNDES, v.4, n.7, p.221-40, jun/2002. GOUVEIA, A. J. O trabalho infantil do menor: necessidade transfigurada em virtude. Cadernos de pesquisa. São Paulo, (44): 55-62, fev/1993. MADEIRA, F. R. Pobreza, escola e trabalho: convicções virtuosas, conexões viciosas. São Paulo em Perspectiva, 7(1): 70-83, jan/mar 2001. OLIVEIRA, O. O trabalho infanto-juvenil no direito brasileiro. OIT, 2003. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Brasil. In: Pela abolição do trabalho infantil Brasília: Ministério do Trabalho, 2002. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Síntese de indicadores: 1999/IBGE, Departamento de Emprego e Rendimento. Rio de Janeiro: IBGE, 2000.

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

36

VEIGA, J. P. C. A questão do trabalho infantil. São Paulo: ABET (Coleção ABET - Mercado de Trabalho, v. 7), 2000.

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

37

INDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTO 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 CAPÍTULO 1 CARACTERIZAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NO BRASIL 09 1.1 Comentários gerais 09 1.2 Características e dimensões 11 1.3 Condicionantes que levam ao trabalho infantil 14 CAPÍTULO 2 BASES JURÍDICAS REFERENTES AO TRABALHO INFANTIL NO BRASIL

17

2.1 A Constituição Federal 17 2.2 Estatuto da Criança e do Adolescente 20 2.3 Lei Orgânica da Assistência Social 22 2.4 Acordos e Convenções Internacionais 22 CAPÍTULO 3 AÇÕES, PLANOS E PROGRAMAS DE TRABALHO INFANTIL 26 3.1 Sensibilização e mobilização para a questão do trabalho infantil 26 3.2 Incentivos ou prêmios para a atuação contra o trabalho infantil 27 3.3 Ações voltadas para a fiscalização, denúncia ou movimentação de ações judiciais contra a exploração de mão-de-obra infantil

29

3.4 Educação e ações complementares à escola 30 3.5 Incremente da renda e ações sócio-educativas justo às famílias 31 CONCLUSÃO 33 REFERÊNCIAS 35 ÍNDICE 37

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO … · 2010. 8. 24. · referentes ao trabalho infantil no Brasil; discutir sobre as ações, planos

38

FOLHA DE AVALIAÇÃO Universidade Cândido Mendes A exploração do trabalho infantil nos moldes da Constituição Federal Alessandra dos Santos Magalhães Data da entrega: Avaliado por: Conceito: