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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
BRINCAR E APRENDER
Glaudes Braz Faria
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
BRINCAR E APRENDER
Trabalho monográfico apresentado como requisito
parcial para obtenção do Grau de Especialista em
Psicopedagogia.
ORIENTADOR (A ):
PROFª: MARIA DA CONCEIÇÂO MAGGIONI POPPE
PIRANHAS – GOIÁS
2009
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AGRADECIMENTOS
A minha mãe que, com amor e
dedicação, sempre me incentivou a seguir em
busca dos meus objetivos ,aos meus filhos e
esposo que me deram condições para sonhar,
aos meus colegas de trabalho, com quem
possa dividir meus sonhos e continuar
sonhando.
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“O principal objetivo da educação é
criar homens capazes de fazer
coisas novas, não simplesmente
de repetir o que outras gerações
fizeram. Homens criativo,
inventivos e criadores”.
“ Piaget”
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SUMÁRIO
RESUMO 06
METODOLOGIA 07
INTRODUÇÃO 08
1. BRINCAR E APRENDER 13
2. OS JOGOS E BRINCADEIRAS NA FORMAÇÃO SOCIAL DA CRIANÇA 19
2.1 A INFLUÊNCIA DO MEIO PARA ATO DE BRINCAR 23
3. O LÚDICO NUMA VISÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA ESCOLA 27
3.1 VIGOSTSKY E O USO DOS SIGNOS NA APRENDIZAGEM 36
3.2 LEONTIEV E O JOGO DAS PALAVRAS PROIBIDAS E DO SIGNOS 51
3.3 OS JOGOS E BRINCADEIRAS UMA ESPERANÇA PARA A ESCOLA 55
CONSIDERAÇÕES FINAIS 58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 60
ANEXOS 63
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RESUMO
O presente trabalho tem a intenção de fazer-se um estudo teórico-
prático sobre as condições em que estão sendo desenvolvidas brincadeiras e
jogos na escola. O tema aborda a importância do lúdico nas séries iniciais, uma
vez que jogos e brincadeira são excelentes O tema aborda a importância do
lúdico nas séries iniciais, uma vez que jogos e brincadeira são excelentes
oportunidades de mediação entre o prazer e o conhecimento historicamente
constituído, já que o lúdico é eminentemente cultural. O objetivo principal foi
analisa-se de forma crítica e construtiva o desenvolvimento das atividades
escolares, identificando na prática do professor se há um momento de
aplicabilidade do lúdico em sua prática pedagógica. É comum, verificar-se que o
professor, em sua ansiedade de ensinar os conteúdos propostos, pensa que não
há tempo para brincadeira e jogos, pois lhes falta o conhecimento teórico para
introduzir estas práticas no cotidiano escolar. Essa postura exige profundas
mudanças nas atitudes pedagógicas. Independentemente das condições que a
escola e o Sistema Educacional proporcionaram à sua prática docente, é da
responsabilidade de cada professor motivar suas aulas, tornando-as atrativas e
prazerosas, preparando as crianças para que esta se constitua um sujeito
crítico,de seu próprio corpo e dominador de suas próprias ações com
conhecimento do meio em que vive. Por essa razão, o aprofundamento sobre o
lúdico se faz necessário para uma boa reflexão.
Palavras-chave: lúdico, brincadeiras e jogos, prática pedagógica,
reflexão.
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METODOLOGIA
Na Metodologia desta pesquisa, postulou-se trabalhar o Método
Dialético, por encontrar nele o que se pretende com este trabalho: superar os obstáculos
a aprendizagem através da socialização do aluno, levando-o a questionar, argumentar e
contra-argumentar, tornado-se capaz de entender sua posição no contexto social em que
se acha inserido, como sujeito participativo, consciente de seus direitos e deveres.
Segundo Silvia Vergara (2002): “o método e um caminho, uma forma e uma lógica de
pensamento”.
Através da prática docente é possível sentir-se a necessidade de enfatizar a
prática do brincar, adicionada ao processo educativo como um todo apresentando elos
claros entre alunos e professores, cultura e conteúdos apresentada, abstraindo uma
visão ampla e crítica da teoria aliada a prática pedagógica, a qual pode se certificar que o
brincar propicia situação de diálogos, garantindo a troca mútua de conhecimentos entre
alunos e professores, de forma que possam comunicar-se e expressar-se, demonstrando
seus modos de agir, de pensar, e de sentir, em um ambiente acolhedor e que estimule a
confiança e a auto-estima, entre alunos e o educador, desenvolvendo assim, situações
de interação social, nas quais conflitos e negociações de sentimentos, idéias e soluções
são elementos indispensáveis na hora de aprender e brincar.
Nesse sentido, o convívio com atividades lúdicas por vários anos e o
incentivo de colegas de trabalho, possibilitou que se a elaborasse este projeto, cujo
objetivo maior é contribuir para o sucesso do aluno como cidadão e formar pessoas
inventivas, críticas, que sejam capazes de integrar-se na comunidade e modificá-la.
A presente Monografia é de grande relevância para a unidade escolar,
pois possibilita a incorporação de sistemas abstratos e formais, desenvolver hábitos e
atitudes, e sobretudo para estimular o prazer de brincar e fazer descobertas.
Neste sentido foram utilizadas a pesquisa bibliográfica, pesquisas em livros
didáticos, Pesquisas em internet, pesquisas em revistas e a observação de docentes que
priorizam trabalhar o lúdico em sala de aula.
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INTRODUÇÃO
Independente de sua origem e de seu tempo e natural de toda criança
gostar de brinca. Por isso que se diz que as recordações da infância constitui a
fase mais bonita da vida de qualquer pessoa. Nela a criança descobre o
brinquedo, constrói e reconstrói as relações de amizade que perdurarão por toda
vida. É comum dizer-se “e meu amigo de infância”. Ao brincar, sem o
compromisso com a realidade que circunda, brincadeira torna para a criança puro
elemento de prazer.
Através do brinquedo a criança aprende a representar o mundo e a
vida, ainda aprende a preparar e organizar as operações mentais. Parece ser esta
razão primordial para a existência dele. Com ele a criança constrói o seu saber
partindo do concreto para o abstrato. O que está em “jogo” no brinquedo para a
criança e a essência de seus significados, os quais são de suma importância para
a construção de aprendizagem, conforme nos ampara a seguinte referência:
A própria criança constrói a sua aprendizagem com a interferência do professor. Se a criança está começando a brincadeira simbólica, isso significa que quando fornecemos um conjunto qualquer de objetos, só devemos pedir que brinque, sem nenhuma interferência ou sugestão de como brincar. (PIAGET, 1997, p. 57).
Desde a época pré-histórica existem registros de brinquedos infantis
provenientes das mais diversas culturas. A expressão lúdica enquanto objeto
concreto e com a capacidade de ser manipulado tem feito parte da vida do
homem e acompanhado o desenvolvimento deste durante a toda evolução de seu
pensamento criativo levando à interação do corpo com o espaço psíquico.
Segundo Landó ( 1995) a história retrata através de brinquedos o que
se é apresentado nos museus do mundo. Através da historicidade das relações
entre crianças e brinquedos, notou-se que as brincadeiras são interpretações
vivas de uma simbologia moldada por um artesão, porem com significados
validados pelas crianças. Percebe-se que os fantoches e marionetes,
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semelhantes as de hoje, e brinquedos articulados como as bonecas que se
moviam com barbantes, bola cheia de crina de cavalo ou palha, foram os
brinquedos preferidos das crianças de Roma e da Velha Grécia.
Na Idade Média a fabricação de brinquedos fez surgir as grandes fábricas
que impulsionaram a vida econômica das cidades e dos países da época. Os
brinquedos representavam o mundo real do quais os povos faziam parte e os
símbolos expressavam o aspecto social, cultural, econômico, ritual, isto é, os
símbolos representavam a expressão do que cada um dizia sobre este aspecto.
A partir da Revolução Industrial, os artesões foram substituídos em grande
parte pelos os fabricantes de bonecas, peças mobiliares, instrumentos musicais,
trens eletrônicos, barcos automáticos, controle remoto até chegar-se ao moderno
vídeo-game.
Apesar da crescente sofisticação da indústria de brinquedos, da reprodução
dos inventos eletrônicos, permanece o encanto da criança em relação a uma
simples bola, a uma boneca ou um brinquedo de sucata. Basta a presença de um
brinquedo para mudar todo o comportamento imediato da criança. Independente
de qualquer que seja o brinquedo, a criança brinca estando sozinha ou
acompanhada.
Pessoas responsáveis devem estar disponíveis quando a crianças brincam,
mas isso não significa que precisem ingressar no brincar das crianças, apenas
manter um vínculo de segurança para ela. Segundo Piaget (1997, apud SEBER,
p.199): " no contexto amplo e concreto de intercâmbios sociais que a criança
cresce”. Deixar a criança brincar, poderá servir para medir a partir de suas ações
o progresso em relação ao desenvolvimento do pensamento, que embora não
pode ser visto funcionar, é possível avaliá-Io a partir do que ela faz com os
objetos. O adulto só deve interferir nas atividades lúdicas para impedir situações
de perigo, de risco, e também para garantir a continuidade da brincadeira,
fornecendo um conhecimento que as crianças ainda não atingiram.
A brincadeira é uma atividade onde as crianças assimilam e recriam
experiências dos adultos. Winnicott (1975) defensor da teoria do vínculo, salienta
que a brincadeira é universal e aparece associada à saúde: "o brincar facilita o
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crescimento e, portanto, a saúde, conduzindo aos relacionamentos grupais
saudáveis". Assim, o brincar se constitui na primeira forma de comunicação da
criança com o mundo.
Freud, (1997) profundo conhecedor da mente humana, evidencia que
0obrincar esta a serviço da comunicação consigo mesmo e com os outros. É a
através desta superposição entre o brincar da criança e o brincar de outras·
pessoas que possibilita a introdução de enriquecimento, ou mesmo formas de
remover bloqueios" .
Para Seber, (2002) a brincadeira simbólica e uma atividade nas quais os
objetos são utilizados como suporte para o dialogo com a criança. "Manipular
objetos, criando com eles situação de experiências, propicia um ajuntamento cada
vez maior das imagens a realidade das coisas". Na brincadeira a linguagem se
amplia e se enriquece porque nela ocorrem trocas verba is com as quais a criança
ainda não esta familiarizada.
O brinquedo provê, assim, uma situação de transição entre a ação da
criança com os objetos concretos em suas ações significativas, onde o
brinquedo oportuniza uma situação imaginária regida por regras. No brinquedo a
criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida real e
também aprende a separar objeto e significado.
O brinquedo tem claras relações com o desenvolvimento da criança,
criando uma zona de desenvolvimento próxima da vivencia da criança onde a
mesma entende a grande influência das experiências para a vida e onde cada
uma da um significado particular a essas vivências
Tanto pela criação da situação imaginaria como pela definição de regras especificas, o brinquedo cria uma zona de desenvolvimento proximal na criança. No brinquedo a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida real e também aprende a separar objeto I significado. Vygotsky, (2004 p. 55).
Toda brincadeira que a criança utiliza durante seu desenvolvimento ela o
faz não simplesmente pela função de divertir-se, mas, por faze-Ia sentir uma
realidade na qual ela gostaria de estar verdadeiramente inserida. "A zona de
desenvolvimento proximal permite delinear o futuro imediato da criança e seu
estado dinâmico de desenvolvimento". (VYGOTSKY, 1997:97).
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Zona de desenvolvimento proximal e a distancia entre o nível atual de
desenvolvimento determinado pela capacidade de resolver um problema, e o
nível do desenvolvimento potencial determinado através da resolução de um
problema sob a orientação de um adulto ou com a colaboração de um
companheiro mais capaz.
Neste sentido a brincadeira do faz-de-conta", foi privilegiada neste
trabalho, na discussão sobre o papel do brinquedo, por entender-se que o
“brincar" faz parte da formação integral da criança. O lúdico deve ser a marca de
toda escola de ensino fundamental, pois ele e um recurso que ensina desenvolver
e educar de forma prazerosa, podendo traduzir-se no contexto sócio-cultural-
histórico, e de forma sensível nortear as atividades didático- pedagógica.
O convívio com atividades lúdicas por vários anos e 0 incentivo
de colegas de trabalho, levou a elaboração deste trabalho, cujo objetivo
maior e contribuir para o sucesso do aluno como cidadão e formar
pessoas inventivas, solidarias, criticas e capazes de integrar-se na
comunidade para modificar a realidade atual, repleta de violência e
insensibilidade para com a vida. As ações e metas estabelecidas para
este trabalho tem como finalidade contribuir para a formação de
indivíduos reflexivos com boas relações interpessoais e com capacidade
para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo altamente seletivo e
excludente.
Neste trabalho foi utilizada a abordagem teórica dos autores citados no
estudo da pesquisa bibliográfica, pesquisas em livros didáticos, pesquisas em
internet, pesquisas em revistas.
No Capítulo 1 - Brincar e Aprender: uma abordagem atual - propõe
discutir a educação numa visão das praticas pedag6gicas centradas na
historicidade do brinquedo para formação humana como promoção de melhorias
nas relações interpessoais e na motivação, conforme estudos de Vanessa
Amorim, Makarenko, Howard Gardner. Também farão parte deste capítulo os
estudos de Vygotsky, Leontiev, Paulo Freire e outros que poderão surgir ao longo
dotrabalho.
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No capítulo 2 - Os Jogos e brincadeiras na formação da inteligência da
criança priorizaram que não existe ensino sem que ocorra a aprendizagem, mas a
escola deve ser a promotora do espaço para que as brincadeiras possam fluir.
O capítulo 3 - A influência do brinquedo no desenvolvimento da criança
foram abordados os estudos de Piaget e Freud e dos estudos de Winnnicott que
ressalta que é no brincar que a criança manipula os fenômenos externos a serviço
do sonho e reveste estes fenõmenos com significados e sentimentos de que a
vida deve manter-se bela em todo seu percurso e valorizada em todos os
sentidos.
Nas Considerações Finais foram apontadas as conclusões que a
pesquisa possibilitou chegar mediante as teorias propostas para o estudo sobre
brincar e aprender como prática pedagógica.
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1. BRINCAR E APRENDER: UMA ABORDAGEM ATUAL
Através deste estudo foi possível verificar que o lúdico é uma
necessidade que precisa ser introduzida na escola através da prática do brincar,
adicionado ao processo educativo como um todo, por apresentar elos claros entre
cultura e conteúdos, consubstanciando-se uma visão ampla da teoria aliada a
prática pedagógica, uma vez que o brincar propicia situação de diálogos,
garantindo a troca mútua de conhecimentos entre alunos e professores.
A brincadeira possibilita comunicação ampla e agradável, na forma de
ambos se expressarem, demonstrando seus modos de agir, de pensar, e de
sentir em um ambiente acolhedor estimulado pela confiança e a auto-estima entre
o aprendiz e o educador.
O aprimoramento das brincadeiras possibilita o desenvolvimento
de situações de interação social, nas quais conflitos, sentimentos, idéias e
soluções são elementos indispensáveis na hora de brincar e ainda
possibilitam desenvolver na criança hábitos e atitudes para a vida diária.
Educar ludicamente tem uma significação muito profunda por fazer
parte de todos os segmentos da vida humana. As brincadeiras, os jogos e o
divertimento têm um papel fundamental no processo educacional. Um ambiente
lúdico, onde o bom humor e a espontaneidade prevalecem, faz com que o clima
esijlbelecido seja de confiança. A atividade lúdica na escola deve ser vista como
um dos mecanismos indispensáveis para a aquisição do conhecimento
necessário para uma vida digna e compensadora.
A escola possui um papel importante no processo ensino-
aprendizagem: considerar a pluralidade de informações e conhecimento, através
das múltiplas linguagens. (falada, escrita, televisiva, gráfica, plástica e lúdica.)
Sendo que a atividade lúdica independe do contexto escolar, pois permite uma
interface da aprendizagem nas diferentes áreas do conhecimento, bem como das
coisas, objetos e situações que se constituem em experiências de vida.
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Em outras épocas, e durante muito tempo, o brinquedo foi visto como
uma atitude de lazer interminável, que poderia ser nocivo à moral e à formação de
um adulto íntegro. A criança era vista como "mini-adulto" ou "adulto em
miniatura". Não havia reconhecimento da imaginação, da criatividade e da
curiosidade como elementos da infância. O brincar na antiguidade só era
percebido como atividades de recreação física. Às crianças não era dado o
espaço para brincar. O único momento a elas dedicado era o de espantar os
passarinhos nas plantações, o que não se constituía uma brincadeira, mas um
serviço, e de onde surgiu o terrível estilingue, brinquedo predatório e maléfico até
recentemente utilizado por crianças em nossa região, para caçar e matar
indiscriminadamente qualquer espécie de pássaro. Isto porque os povos
primitivos não tinham uma visão da brincadeira para a formação do
desenvolvimento da criança, de forma geral, mas para a formação de um adulto
capaz de garantir sua sobrevivência.
No mundo contemporâneo o brincar precisa ser resgatado na escola
como instrumento facilitador do processo de ensino aprendizagem e de
possibilidades de relacionamentos saudáveis ainda na infância, onde são
construídos os pilares para a vida adulta. Reconhecidamente esta modalidade de
ensino está fazendo falta para os adultos de hoje, desesperançados mal-
humorados e violentos, sem formação para a vida em comunidade.
O alto índice de fracasso e evasão na educação traz a necessidade de
reavaliar essa realidade e reverter esse quadro. Não é mais o aluno que deve
adaptar à escola, mas, a escola que deve se adaptar à realidade da qual este
aluno faz parte, às características e cultura que ele precisa levar consigo ao sair
da escola.
Os professores devem buscar novos métodos de ensino, adaptando-os
aos currículos escolares de acordo com a realidade vivenciada pelos alunos fora
da escola, onde as brincadeiras já não fazem parte do cotidiano de vida das
crianças e precisa ser suprido no ambiente escolar.
É comum criticar-se a escola tradicional, porém durante a vlgencla da
pedagogia tradicional as brincadeiras ocupavam lugar de destaque, o que veio a
finalizar-se com o advento da escola moderna, onde o recreio dura apenas 15
minutos e não dispõe de nenhum tempo para as crianças brincarem.
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A partir das décadas de 60 e 70 a psicologia do desenvolvimento e da
psicánalise contribuiu para que se visse a infância como o período principal do
desenvolvimento humano, enfatizando o ensino através da brincadeira na
educação.
Até bem recentemente em escolas, colégios, educandários e internatos
sob a direção das Missões Católicas ou Evangélicas, havia muitos tipos de
brinquedos e jogos que a criança tinha contato, alguns eram confeccionados por
si com a ajuda dos monitores, outros propostos pelo grupo, tais como: perna - de -
pau, pula corda, peteca, cata-vento, pião, amarelinha, bolinhas de gude, cantiga
de roda em que todas as crianças participavam das mesmas brincadeiras, com
finalidade de estreitar os laços afetivos e a aprender-se a obediência às regras e
preceitos ensinados na instituição.
Essa tendência seguia as instruções ditadas pelas escolas européias
de ensinar a criança a viver em comunidade, conhecer seus direitos e deveres e
respeitar os direitos dos outros, conforme citação abaixo:
A Pedagogia Tradicional, nascida e sistematizada no contexto da Revolução Francesa (1789), politicamente, se destinava a equalização social, através de indivíduos preparados em condições iguais, de tal forma que pudessem lutar por seus direitos na sociedade. É nesta perspectiva que se consagrou a legislação burguesa da garantia de que todo cidadão tem direito ao ensino.( KLROLlNG, 1985, p. 29-52).
Hoje visto dentro da visão sócio-histórica a criança está
constantemente modificada por estar imersa na sociedade, interagindo com Oi
adultos. Esse desenvolvimento ocorre através da interação e da experiência
social. A criança quando ingressa na educação fundamental começa a interagir
com ambientes diferentes, ritmos diferentes, com objetivos, ações e relações,
ainda desconhecidas. Porém, o contato com essa diversidade e heterogeneidade
são elementos primordiais para o enriquecimento social da criança.
A concepção sócio-interacionista preconiza que o homem é um ser
geneticamente social que o crescimento intelectual ocorre a partir da apropriação
de conhecimentos culturais, consequentemente dos processos de ensino-
aprendizagem.
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No processo educacional o papel do professor é primordial, pois é
aquele que cria espaço oferece os materiais e participa das brincadeiras e jogos
ou seja, media a construção do conhecimento. O educador é mediador e fazendo
parte da brincadeira ele terá oportunidade de transmitir à criança valores e cultura
da sociedade. Através de atividades lúdicas possibilita a aprendizagem de
maneira mais criativa e social possível, pois o brinquedo é visto como objeto e
suporte da brincadeira, permitindo à criança criar, imaginar, representar a
realidade e as experiências por ela adquiridas.
Uma das características pnnclpais do brinquedo é a motivação que ele
proporciona para a criança no mundo imaginário e vital, contribuindo para o
desenvolvimento global do ser humano. É a partir do brinquedo que a criança
aprende a agir. De modo geral os educadores reconhecem a importância do
lúdico no desenvolvimento da criança percebendo ser fundamental na construção
do conhecimento e sociabilidade.
Através do lúdico a criança realiza aprendizagem significativa. Assim
pode-se afirmar que o jogo e a brincadeira propõem à criança um modo do
tamanho de sua compreensão, no qual ela experimenta várias situações. O ato de
brincar proporciona as crianças relacionarem as coisas umas com as outras,
incorpora valores morais e culturais. O Modulo I - Recreação e Artes do Curso de
Psicopedagogia do Projeto A Vez do Mestre (2006) enfatiza: re-significar a
aprendizagem é proporcionar a descoberta de que:
Cada momento de aprendizagem representa a possibilidade de aprender o sentido do conhecimento. Aprender é o grande segredo da vida: transformar toda ação passível de introjeçao e reflexão, bem como toda oportunidade de crescimento e desenvolvimento em ação construtiva. (ALLESSANDRINI, 1996, p. 1).
As atividades lúdicas são indispensáveis para a apreensão dos
conhecimentos, pois possibilita o desenvolvimento da percepção, da imaginação,
da fantasia e dos sentimentos, estimula atividade mental, motora e psicomotora
do aluno.
Segundo o mesmo Módulo (2005, p. 19): um dos principais objetivos do
ensinar brincando é proporcionar condições favoráveis para a promoção e
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construção do conhecimento integral do educando levando em conta seus
interesses, suas necessidades e o prazer de ser ele próprio o sujeito desta
construção.
A ação fundamental do educador perante uma atividade lúdica é
propor atividade correspondente à faixa etária, ou seja, o nível de
desenvolvimento da turma. Segundo MARTINS (2005, p. 35) " o brinquedo é
influenciado pela idade, sexo, presença de companheiros, além de aspectos
ligados à novidade, à surpresa, complexidade e variabilidade".
Brincar é de fundamental importância para o desenvolvimento
educacional e sócio-cultural do educando, o qual faz com que a criança
desenvolva o seu papel, voltada para educação, quando pode conviver com a
leitura e com o brincar, subtraindo dessas formas de aprender o conhecimento
por prazer. A brincadeira oportuniza aos educandos o desenvolvimento de uma
atitude critico - reflexiva, onde o professor tem a obrigação de estimular seu aluno
através de vários métodos, incluindo a alfabetização lúdica, a qual passa
adicionar informações de qualidade, incorporando um trabalho pedagógico
estruturado, valorizando as necessidades e habilidades de cada aluno.
A atitude do professor em sala de aula precisa criar climas de atenção
e concentração, sem que se perca a alegria das crianças. Pois o andamento das
aulas tanto podem inibir o aluno quanto fazer que atue de maneira indisciplinada.
É preciso estabelecer regras de uso do espaço e de relacionamento entre os
alunos é importante para garantir o bom andamento dos trabalhos desenvolvidos
na escola.
Durante as brincadeiras adequação da roupa deve permitir mais
mobilidade para a criança sentir-se confortável para desempenhar com facilidade
as funções indicadas pelos professores. "É preciso dar condições para o aluno
criar confiança para explorar movimentos, para estimular inventividade e a
coordenação de suas ações com a dos outros" (PCN,2001, p.69).
O lúdico é um dos fatores determinantes para o sucesso dos alunos na
escola.
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Nesse sentido torna-se essencial que os professores integrem o lúdico
de forma prazerosa. Se para toda criança a brincadeira é importante, cabe ao
professor procurar se informar sobre o que é preciso trabalhar na sala de aula
para melhor assimilar o que a criança pretende com o brinquedo. Precisa
entender que o momento na sala de aula tem que ser agradável onde elas têm
prazer de ir para a escola para aprender com motivação, não deixando o espírito
de criança. Neste sentido o educador tem que integrar-se a vivência do aluno
vencendo a dificuldades e aprendendo a aprender e ensinar.
Para conseguir meios eficazes para o sucesso no trabalho é preciso
que cada professor tenha à sua disposição instrumentos e materiais que o ajudem
a melhor refletir sobre a sua vida profissional, ajudando-o a adquirir um empenho
renovado.
Sendo a relação pedagógica indispensável para a promoção do
sucesso escolar, esta muitas vezes dificultada em virtude de cada professor
conhecer e compreender seu aluno no singular e devido a heterogeneidade das
salas de aula, os professores deparam constantemente com alunos plurais, com
sua herança cultural diferenciada, sendo preciso se adequar a cada necessidade
do aluno e supri-Ia.
A missão educativa é formar a pessoa para a fé e a esperança
promovendo o comprometimento do ser para com os valores da existência.
Possibilitando ao indivíduo conhecer os preceitos necessários a convivência em
sociedade, tais como: a bondade, lealdade, respeito ao próximo, responsabilidade
par;a com a vida e o meio em que vive com direito de buscar a felicidade,
respeitando à coletividade.
É importante ressaltar que é na sala de aula que os indivíduos vão
aprender que as necessidades individuais estão subordinadas ao interesse de
todo o grupo. Sendo assim a sala de aula destina-se a levar o aluno a domar o
seu ego em favor dos demais. Em um trabalho em grupo é impossível o grupo
alcançar o sucesso se não houver a coesão do grupo. Desta forma a escola
promove o processo civilizatório e socializador. Cabe aqui a conclusão de
Huizinga, (1993):"à medida que a civilização vai se tornado mais complexa, vai
perdendo o elo com as regras e doutrinas e perde também qualquer relação direta
com o lúdico"
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2. OS JOGOS E BRICADEIRAS NA FORMAÇÃO SOCIAL DA CRIANÇA
Segundo Antunes (2002) durante muito tempo confundiu-se "ensinar"
com "transmitir" e, nesse contexto, o aluno era um agente passivo da
aprendizagem e o professor um transmissor não necessariamente presente nas
necessidades do aluno.
Acreditava-se que toda aprendizagem ocorria pela repetição e que os
alunos que não aprendiam eram responsáveis por essa deficiência e, portanto,
merecedores do castigo da reprovação. Atualmente essa idéia é absurda. Sabe-
se que não existe ensino sem que ocorra a aprendizagem, e esta não acontece
senão pela transformação, pela ação facilitadora do professor, do processo de
busca do conhecimento, que deve partir do aluno. Este conceito encontra o
devido apoio quando o autor afirma que:
Toda criança vive agitada e em intenso processo de desenvolvimento mental. Nesse desenvolvimento se expressa a própria natureza da evolução exige a cada instante uma nova função e a exploração de nova habilidade de funções, e essas novas habilidades, ao entrarem em ação, impelem a criar um tipo de atividade que lhe permita manifestar-se de forma mais o imprescindível a "linguagem" dessa atividade que é o brincar, e o jogar ( ANTUNES, 2002, p. 37).
Segundo Brotto (1996), "brincadeira é uma prática re-educativa capaz
de transformar o condicionamento competitivo para vencer na vida, em
alternativas cooperativas para o exercício da convivência". Brincar é socializar. O
brincar é de fundamental importância para o desenvolvimento educacional e
sócio-cultural do educando, e faz com que a criança desenvolva sua imaginação e
criatividade, estimulando-a a ter confiança em suas capacidades afetiva, física,
cognitiva, ética, de inter-relação pessoal e de inserção social, para agir com
perseverança em busca de conhecimento e no exercício da cidadania.
É fundamental que a escola trabalhe junto aos professores levando-os
a utilizar jogos e brincadeiras de forma adequada, considerando, porém que nem
toda criança possui habilidades para aprender todos os jogos e brincadeiras, mas
todas gostam de brincar. Assim, o professor precisa saber lidar com todo tipo de
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alunos para não prejudicar sua sociabilidade.
Se uma criança for humilhada pelo professor ou por um colega de
classe, pode ficar com sua auto-estima baixa e sofrer complicações· para
aprender os conteúdos da escola. Mas, se ela brinca na escola vai esquecer
facilmente o incidente e superá-Io.
Assim o papel do professor deve ser estimular a diversidade de jogos e
brincadeiras, permitindo aos alunos exporem suas próprias vocações, idéias e
suas diferentes visões de mundo. No processo da educação infantil o papel do
professor é de suma importância, pois é ele quem cria os espaços, disponibiliza
matérias, participa das brincadeiras, ou seja, faz a mediação da construção do
conhecimento.
A desvalorização do movimento natural e espontâneo da criança em
favor do conhecimento estruturado e formalizado ignora as dimensões educativas
da brincadeira e do jogo como forma rica e poderosa de estimular a atividade
construtiva da criança. Friedmann, (1998, apud Módulo do Projeto a Vez do
Mestre, 2005, p.12) ressalta: "O jogo é um quebra-cabeça. Não é uma brincadeira
que prepara a criança para o mundo, mas é uma atividade real para quem
brinca", mesmo que para jogar a criança tenha que sujeitar às regras do jogo e
renunciar a impulsividade que ela usa em outras ocasiões, os jogos constituem
um caminho para o prazer no brinquedo".
É urgente e necessário que o professor procure ampliar cada vez mais
as vivências da criança com o ambiente físico, com brinquedos, brincadeiras e
jogos com outras crianças. Tenham conhecimento do saber que a criança
construiu na interação com o ambiente familiar e sociocultural para formular sua
proposta pedagógica.
O professor deverá contemplar a brincadeira como princípio norteador
das atividades didático-pedagógicas, possibilitando às manifestações corporais
encontrarem significado pela ludicidade presente na relação que as crianças
mantêm com o mundo.
No dia-a-dia da escola é comum deparar-se com alunos que
apresentam distorções de comportamento e entram frequentemente em atrito
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com colegas e professores. Estes por não conhecerem o aluno na totalidade, a
realidade do aluno, sua família sua classe social, com quem se relaciona, e como
interage com o meio onde vive não compreende o aluno como um ser humano
complexo que precisa ser assistido integralmente. No seu cotidiano o aluno
enfrenta problemas que causam revoltas e indisciplina e resulta no déficit
cognitivo e na não-socialização desse aluno.
É nesse contexto que o jogo ganha um espaço como a ferramenta ideal
da aprendizagem, na medida em que propõe estímulo ao interesse do aluno, que
como todo pequeno animal adora jogar e joga sempre principalmente sozinho e
desenvolve níveis diferentes de sua experiência pessoal e social. O jogo ajuda-o
a construir suas novas descobertas, desenvolve e enriquece sua personalidade e
simboliza um instrumento pedagógico que dá ao professor a condição de
condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem.
A palavra jogo possui um campo muito amplo de interpretação,
inclusive, limitando-se ao simples ato de brincadeira infantil, todavia, é notório que
muitos pesquisadores professam a tese de ,que o jogo ganha espaço como
ferramenta facilitadora da aprendizagem.
Para Santos (2000, p.42): "Os jogos tornam a aula bem mais atraente,
devolve ao professor seu papel como agente construtor do crescimento do
aluno,elimina o desinteresse e, portanto, a indisciplina, devolvendo a escola a sua
função de agente responsável por criar pessoas mais completas" .
Tomando como exemplo, a brincadeira ou jogo do "faz-de-conta".
Neste tipo de brincadeira a criança experimenta diferentes papéis sociais, funções
sociais generalizadas, a partir da observação do mundo dos adultos. ~ uma
atividade psicológica de grande complexidade, mas é também uma atividade
lúdica que desencadeia o uso da imaginação criadora pela possibilidade de
satisfação imediata de desejos por parte da criança. Segundo Vigostsky (1985, p.
80 a 83) "Nesta brincadeira, a criança age como se fosse maior do que é na
realidade, realizando, simbolicamente, o que mais tarde realizará na vida real".
Essa atividade enriquece a identidade da criança, porque ela
experimenta outra forma de ser e de pensar; amplia suas concepções sobre
22
as coisas e as pessoas, porque a faz desempenhar vários papéis sociais ao
representar diferentes personagens.
No jogo de faz-de-conta a criança passa a dirigir seu
comportamento pelo mundo imaginário, isto é, o pensamento está separado dos
objetos e a ação surge das idéias. Assim do ponto de vista do desenvolvimento, o
jogo de faz-de-conta pode ser considerado um meio para desenvolver o
pensamento lógico.
Partindo dessa idéia do autor é possível notar que a partir do jogo de
faz-deconta é que a criança cria uma situação imaginária porque há regras que
devem ser seguidas. Ao brincar de ônibus, por exemplo, a criança exerce o papel
de motorista. Para isso tem que tomar como modelo os motoristas reais que
conhece e extrai deles um significado mais geral e abstrato para a categoria
"motorista". Para brincar conforme as regras têm que esforçar-se para exibir um
comportamento do motorista, o que impulsiona para além de seu corhportamento
como criança.
1
Quando brinca, a criança elabora hipóteses para a resolução de seus
problemas e toma atitudes além do' comportamento habitual de sua idade, pois
busca alternativas para transformar a realidade. Os seus sonhos e desejos, na
brincadeira podem ser realizados facilmente, quantas vezes o desejar, criando e
recriando as situações que ajudem a satisfazer alguma necessidade presente em
seu interior.
Certa vez, na Escola Estadual Costa e Silva, em Piranhas, uma
professora do 6° ano organizou uma turma de teatro. Apresentaram peças das
Historias Universais como o Casamento de Dona Baratinha, A Cigarra e a
Formiga e outras apresentações teatrais bem engraçadas. Eles foram criando
cada vez mais tipos de apresentação. No final criaram um teatro de sombras,
onde o auge deste teatro era a apresentação de uma situação de dentista e
cliente. Através das sombras eles imitavam toda a cena da extração de um dente,
onde o dentista ia explicando para o cliente os cuidados que se deve ter para
evitar a extração dolorosa. Enquanto na cena de teatro ou contação de histórias
elas riam e se divertiam a valer, nesta cena houve várias crianças que
começaram a chorar desesperadamente, como se aquela situação fosse real. A
23
diretora consolou-as dizendo que já iam começar novas historinhas e logo elas
voltaram a rirem das brincadeiras e piadinhas apresentadas pelo grupo.
Esta seria uma forma de levar o aluno a brincar e aprender. Enquanto
liam percentagem elevada de coordenadores acham que os castigos resolvem
mais que as brincadeiras , com certeza se fosse perguntado a uma criança o que
ela aprendeu mais naquele dia cela iria responder que foi a noção que se deve
cuidar dos dentes.
Por esta perspectiva, pode-se notar que o professor deve estar sempre
em busca de novos métodos de ensino, adaptando-se à realidade dos alunos.
Para que isso aconteça, deve ser colocado em prática tudo que for bom e
necessário para possibilitar aos educandos aprenderem por prazer. Estudos
teóricos e práticos direcionados além de enriquecer o vocabulário ampliam a as
idéias, desenvolvendo a linguagem e o pensamento lógico do. aluno, mas o
lúdico também educa e ensina.
Adotando a prática de ensinar brincando, o professor estará no
caminho certo, estimulando diversas percepções das crianças, instigando-as por
diferentes instrumentos didático- pedagógicas, pois brincar é criar, é exercitar a
mente para o mundo. "Onde a criança brinca, toda utopia é possível".
2.1 A INFLUÊNCIA DO MEIO PARA O ATO DE BRINCAR
O desafio das crianças e dos educadores comprometidos com a
democratização da educação é justamente inverter a situação vivida hoje nas
escolas de Educação Infantil e Ensino Fundamental, com posturas cristalizadas,
rotineiras, assistenciais, paternalistas, empiristas e autoritárias. O Módulo I
Teorias e Intervenções Psicopedagógicas na Instituição Escolar (2005, p. 9)
enfatiza: "é na interação social que o homem se humaniza".
O objetivo principal da escola precisa ser o de voltar-se para os
interesses da maioria da população. Como foi ressaltado anteriormente, a
pedagogia tradicional preconizava o direito de todos ao ensino. Percebe-se,
porém que esta garantia nunca foi cumprida, no seu todo. Desde o
24
momento em que a burguesia tornou-se vitoriosa, não trabalhou para que todos
tivessem acesso e permanência na escola.
Ainda hoje o espaço de equalização social ou para a sociabilidade
da criança não é respeitado, uma vez que a criança, deveria ter espaço e lugar
adequado para brincar na escola. Um exemplo clássico desta afirmação é o das
escolas públicas que não tem um parquinho, um campinho de futebol e muito
menos uma quadra esportiva, enquanto que as escolas particulares esbanjam
espaços para brincadeiras e jogos.
Nota-se que isto acontece porque a equalização social nega o
domínio dos poderosos e a criança cujos pais possuem poder aquisitivo precisa
crescer e ser educada diferentemente. Ela deve gostar do ambiente onde irá
estudar vislumbrar-se diante das possibilidades de brincadeiras que a escola
oferece e ainda para crescer saudável é preciso brincar e socializar-se desde
cedo.
O problema que as escolas estão presenciando na sociedade
como violência, corrupção, ausência de identidade, vem chamando a
atenção dos diversos segmentos desta mesma sociedade que prisma pelos
valores como socialização, honestidade, respeito ao semelhante e apontam
para pergunta: Que tipo de educação os alunos terão que receber para se
tornarem mais humanos? O que a sociedade precisa fazer para que todos
os alunos sejam contemplados com uma educação que faça com que
esses alunos ao chegarem à idade adulta sejam conscientes de seus
deveres e responsabilidades?
O que a escola poderá fazer para melhorar o intercâmbio de coisas
que os alunos gostam e os ensinem a se relacionar melhor priorizando o direito
de todos à educação? Da constatação deste problema surge a pergunta: - será
que os jogos e brincadeiras motivam os alunos a gostar da escola, a se
relacionarem melhor com os colegas e com o meio onde vive? Como a criança
pode brincar e aprender?
Neste sentido este trabalho tentou levantar as prerrogativas para
penetrar na raiz dos problemas como violência, da ausência da cordialidade para
desestruturá-los e assim propiciar ao aluno situações diversificadas de jogos e
25
brincadeiras com espaços intercalados e motivadores com ambientes adequados
para que eles sejam sujeitos da própria aprendizagem e mais flexível no modo de
agir.
São, portanto, os objetivos desta pesquisa: analisar e promover uma
intervenção junto à comunidade escolar para mostrar os pontos positivos que a
escola adquire ao trabalhar atividades lúdicas para melhorar a socialização dos
alunos, levando a escola a adquirir uma visão de que interação social como um
fator de desenvolvimento cognitivo precisa ser trabalhada pelos educadores como
meio para formar alunos na totalidade, para facilitar as relações deste com o meio
em que ele interage, visando melhorar a socialização em geral. Uma vez que
aluno possui a capacidade intelectual que lhe permite organizar e interpretar as
relações com o meio onde vive como ser que pensa e sente emoções.
O foco do objeto de pesquisa é brincar e aprender haja vista que a
falta de atividades lúdicas na escola, como forma de aprendizagem acarreta
sérios problemas para a escola e para a comunidade.
Desde antes do século XVIII, a brincadeira já era considerada como um
processo natural que auxilia no desenvolvimento da criança como instrumento
formativo, pois, além de exercitar a mente, os sentidos e as aptidões, os jogos
também preparavam para a vida em comum e para as relações sociais.
Contudo, constatou-se a necessidade de uma ruptura do ensino
tradicional-formal nos diferentes níveis de ensino, optando-se conscientemente
por um ensino mais dinâmico, humanista, voltado para o desenvolvimento de
habilidades, para ensinar a pensar e educar pela conquista.
Assim o conhecimento lúdico, seguido do pedagógico, deve possibilitar
uma compreensão dialética cultural da sociedade para além de um conjunto de
conteúdos e informação sócio-culturais contextualizadas à realidade do aluno.
É importante observar a brincadeira como modelo de
relacionamento entre alunos. Ao chegar a idade de relacionar-se com os
26
colegas a primeira brincadeira vem das brincadeiras de polícia e soldado, de
esconde-esconde e atualmente de jogos na internet. Assim vão se formando os
grupos de brincadeiras e de jogos que evoluem para além dos muros da escola.
E a escola deve constituir-se no prolongamento e acolhimento destas relações. É
preciso variar as metodologias oferecendo possibilidades diferentes, de acordo
com a idade e necessidades dos alunos.
O uso das atividades lúdicas por parte dos professores, tem
provocado discussões entre eles, pois é impossível realizar um processo de
ensino-aprendizagem eficaz sem conceber o lúdico na educação. Convém
lembrar que é necessário que haja uma lógica para aprendizagem entre
conteúdo e os meios utilizados para que ocorra a aprendizagem. Muitos
professores acham que as brincadeiras bagunçam a sala de aula, deixam os
alunos eufóricos e depois não querem mais saber dos conteúdos escolares.
A Psicopedagogia Institucional visa em primeiro lugar transformar a
relação professor-aluno no sentido de não diretividade, isto é, considerar desde o
início a ineficácia e a nocividade de todos os métodos á base de obrigação e
ameaças. Embora professor e aluno sejam desiguais e diferentes, nada impede
que o professor se ponha a serviço do aluno, sem impor suas concepções e
idéias, sem transformar o aluno em objeto.
Neste contexto que o trabalho do psicopedagogo deve prevalecer, no
sentido de transformar o próprio conceito de educação e de práxis a partir da
mobilização dos educadores e das comunidades para incentivarem as
brincadeiras como espaços para que as amizades aconteçam e possam ajudar a
formar pessoas mais humanas. O foco principal da Psicopedagogia é a
aprendizagem. Assim, o psicopedagogo deve assumir o papel de sujeito da
construção e defesa da educação e da hegemonia da escola, contribuindo para
que a instituição escolar não seja um espaço de conhecimento só para o aluno,
mas para todos nela envolvidos.
27
3. O LÚDICO NUMA VISÃO DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DA ESCOLA
A idéia de discutir o tema proposto não vem simplesmente repassar
uma "receita", pronta, acabada, mas levar aos educandos e educadores algumas
reflexões, sobre o que significa brincar em sala de aula. Este trabalho visa a
preservação e inserção das atividades lúdicas na escola, como forma de melhorar
tanto a realidade física, quanto as relações sociais, possibilitando a liberdade e a
capacidade criadora na escola como espaço de cultura e socialização da criança
através de jogos e brincadeiras.
A importância do lúdico é notória no desenvolvimento da coordenação
motora, na atenção, no movimento ritmado, no conhecimento quanto a posição do
corpo, na direção a seguir, na participação dos aspectos biopsicológicos e sociais,
na expressão corporal, na criatividade, na aquisição de hábitos de práticas
recreativas e físicas, sendo o brinquedo um estimulador das funções orgânicas da
criança.
O lúdico visa o equilíbrio da saúde dinâmica desenvolvendo o
espírito de iniciativa, tornando a criança capaz de resolver situações
imprevistas, contribuindo, para eficiência e equilíbrio do futuro adulto.
Neste sentido, refletir sobre a importância da ludicidade é facilitar o
ensino e aprendizagem do aluno nos primeiros anos do ensino fundamental.
Pode-se observar a alegria dos alunos ao desenvolver habilidades com
as quais seja capaz de sentir que pode aprender com prazer, "acredito que a
brincadeira para o aluno seja o primeiro passo para o sucesso" (Lima, 2004, p.
13).
Nessa perspectiva, o estudo sobre a importância do brincar, ajuda a
desenvolver um trabalho esclarecedor sobre as diferentes formas de brincar na
sala de aula, estimulando a pesquisa de novas brincadeiras, a fim de propor algo
renovado, através de idéias inusitadas de criação, buscando a consciência de que
28
é preciso deixar a criança brincar. É importante que o professor organize com o
grupo um ambiente que favoreça oportunidades variadas de atividades de ação
das crianças.
Brincadeiras são atividades que se propõem a produzir conhecimentos
e a consciência, onde a criança aprende "a criar e a transformar as experiências
em culturas, somada a uma idéia de qualidade. As atividades propostas devem
ser fundamentadas na observação das necessidades e interesses da faixa etária.
Este ambiente deve possibilitar o desenvolvimento do raciocínio, estruturando
uma nova forma de pensamento que deverá partir de uma visão particular,
isolada, visível, perceptível e simbólica de interpretar o real.
Organizar esta nova sala de aula implica em desmistificar a rotina
tradicional e reconstruí-Ia de modo a tornar-se criativa e ao mesmo tempo
desafiar a ação transformadora redirecionando o trabalho educativo de modo a
torná-Io um efetivo instrumento do desenvolvimento cognitivo, moral e social da
criança, constatando o que a criança aprendeu em cada momento do ato
pedagógico.
Pensar neste ambiente remete á questão de ter-se que recriar um
educador autônomo, confiante em sua capacidade de transformar a realidade,
contribuindo assim para a formação de sujeitos capazes de modificar a realidade
atual.
A ausência do lúdico na escola tem acarretado o aumento da
indisciplina, de relacionamento inadequado entre professor-aluno, aluno-escola,
aluno-aluno e queda do rendimento escolar ou déficit cognitivo.
A falta de atividades lúdicas na escola tem provocado discussões por
parte dos professores que buscam uma saída para os desajustes e distorções do
comportamento dos alunos. O que no entender dos teóricos como Antunes,
Howard Gardner, Vygotsky, Huizinga, Piaget, Leontiev, Friedmann, é impossível
realizar um processo de ensino aprendizagem eficaz sem conceber o lúdico na
aprendizagem.
29
Pressupõe-se que as brincadeiras e os jogos representam um papel
fundamental no processo ensino aprendizagem, pois um ambiente lúdico
proporciona no aluno o surgimento I da criatividade, da espontaneidade e da
autoconfiança. Este quesito está faltando à escola, e o processo ensino
aprendizagem não flui como devia.
Este estudo tem como centralidade promover uma intervenção na
instituição escolar, para mostrar que a escola tem priorizado ensinar os alunos a
se prepararem para o vestibular, para concursos e mercado de trabalho, mas não
prepara o aluno para viver com qualidade de vida, lazer, a praticar atividades
esportivas e a criar vínculos com os colegas e preservar amizades. Nisso perde-
se a formação integral do aluno nas dimensões: cognitiva, afetiva e social,
justamente onde ele mais carece.
A atividade lúdica serve para levar o aluno a aprender que a sociedade
possui regras que precisam ser respeitas. São aluno aprende as normas na
escola em forma de brincadeiras, vai levá-Ias consigo e ser um adulto capaz de
conhecer os seus limites.
Assim a discussão sobre o conceito aprender a aprender deve abarcar
outro conceito: brincar e aprender, como diz Piaget: IN: Teorias e Intervenções
Psicopedagógicas na Instituição Escolar (2005) "ideal da educação não é
aprender ao máximo, mas é antes de tudo aprender a se desenvolver e aprender
a continuar a desenvolver depois da escola". (PIAGET, 1973, p.32)
Este trabalho monográfico pretende envolver toda comunidade
escolar: pais, professores, alunos, coordenadores e outros profissionais ligados a
Arte e professores das disciplinas, tais como: Língua Portuguesa, Matemática,
Ciências, Geografia e Língua Estrangeira, Educação Física para juntos buscar
uma forma de introduzir no currículo da escola as modalidades de jogos e
brincadeiras, apontando que o trabalho de um profissional preparado pode gerar
resultados surpreendentes para a educação, conforme enfatiza Bossa, IN: Teorias
e Intervenções Psicopedagógicas na Instituição Escolar (2005) "o psicopedagogo
pode auxiliar para que todos os que participam da escola entendam
como e por que transformá-Ia em um lugar de conhecimento".
30
A relação interpessoal professor - aluno resulta de troca que se
estabelecem na interação entre o meio (natural, social e cultural) e o sujeito
sendo o professor o mediador, então a relação pedagógica consiste no
provimento das condições em que professores e alunos possam colaborar para
fazer progredir essa troca.
Para haver disciplina é necessária a presença de uma autoridade saudável.
Muitos alunos não respeitam seus professores e essa indisciplina
prejudica o ensino e a aprendizagem. Professores e orientadores têm dificuldade
em estabelecer limites na sala de aula e não sabem até que ponto intervir nos
comportamentos adotados na escola.
Existem motivos que podem levar um aluno a não se comportar de
forma adequada em atividades que necessitem de uma integração funcional com
outras pessoas. Seja por diferenças de idade ou de conhecimento e até de poder.
Nesse sentido é necessário o esforço do professor em orientar, em abrir
perspectivas a partir dos conteúdos. Esta percepção.implica em um envolvimento
com o estilo de vida dos alunos, tendo consciência inclusive do contraste entre
sua própria cultura e a do aluno.
Conforme foi ressaltado no Modulo I de Teorias e Intervenções
Psicopedag6gicas na Instituição Escolar (2005): "sem experiência coletiva não é
possível fazer distinção entre o certo e o errado, o normal e o anormal". E o
primeiro contato do aluno com as regras sociais começa na escola, mais
precisamente a hora do recreio, em que motivado pelo professor, o aluno principia
a relação com a coletividade através de jogos e brincadeiras.
AMORIM em sua obra Cem aulas Sem Tédio, enfatiza: "Ninguém
motiva ninguém", numa referência a Gardner, o renomado autor da teoria das
múltiplas inteligências. Segundo essa autora:
Aulas exaustivamente preparadas não garantem que os alunos fiquem maravilhados e entusiasmados como se gostaria: a motivação para aprender tem de partir da própria pessoa, que é em última análise quem vai investir uma grande dose de esforço pessoal no alcance deste objetivo. “O que para nós, para a família e para a sociedade pode parecer um preço razoável, para ela pode simplesmente não valer a pena. E não somos nós, com nossas aulas mirabolantes, que vamos fazê-Ia mudar de idéia” (AMORIM, 1998, p.
31
17).
Para Gardner (1998, Apud Amorim): "Nem ninguém se motiva
sozinho." Por isso, professor algum está eximido de preparar muito bem as suas
aulas e tentar "mexer" com o aluno, tendo para isto que utilizar aquilo que
chamará a atenção do aluno, isto é, o que ele mais gosta: brincar.
No entender da autora: o professor deve utilizar atividades lúdicas para
motivar esse aluno, aulas diversificadas e estimulantes, sobretudo nas horas
críticas em que ele está tentando decidir se vai ou não com a cara do professor
com a aula e que está tentando ensinar, com a filosofia da escola, e daí
decorrerão atos de disciplina ou de indisciplina.
É necessário que o educador insira o brincar em um projeto educativo
o que supõe ter objetivas e consciência da importância de sua ação em
relação ao desenvolvimento e á aprendizagem das crianças. É necessário
coragem para assumir o brincar como tema primordial no trabalho junto às
crianças, mas também é preciso que essa postura seja abraçada por toda a
equipe escolar, e não somente pelo professor de classe.
A seleção dos conteúdos para brincadeiras obedece a uma outra lógica
diversa daquela que é definida como conteúdo escolar, sua seqüência deve partir
daquilo que é considerado mais simples em direção ao mais complexo em
relação aquilo que se pretende repassar como conhecimento. A brincadeira torna
tudo estimulante, prazeroso e com isso oportunizará ótimos resultados no
desenvolvimento emocional, cognitivo e social do aluno. Conforme evidencia a
citação abaixo:
A brincadeira é lúdica, e nela estão incluídos os jogos, brinquedos e divertimentos, como também aquele que joga e está envolvido nesse processo. É por meio do lúdico e de um mundo de fantasias e encantamentos, de alegrias, de sonhos que a realidade e o faz-de-conta se confundem, fazendo com que o indivíduo construa a sua própria identidade, oportunizando seu conhecimento e aprendizagem por meio da brincadeira e tudo o que gira em torno dela (ANTUNES, 2002, p. 19).
Uma criança contempla muitos mundos. A escola pode ampliar
essa contemplação dando sentido ao lúdico', que passa a ser o suporte de
aprendizagem. O lúdico auxilia a criança na exploração e compreensão do mundo
em seu contexto, que por si só cria novos horizontes e estimula
32
Seu desenvolvimento no universo imaginário, intelectual e educacional.
Existem motivos que podem Ievar um aluno a não se comportar de forma
adequada em atividades que necessitem de uma integração funcional com outras
pessoas. Seja por diferenças de idade ou de conhecimento e até de poder. Nesse
sentido é necessário o esforço do professor em orientar, em abrir perspectivas a
partir dos conteúdos. Esta percepção implica em um envolvimento com o estilo
de vida dos alunos, tendo consciência inclusive do contraste entre sua própria
cultura e a do aluno.
Conforme foi ressaltado no Modulo I de Teorias e Intervenções
Psicopedagógicas na Instituição Escolar (2005): "sem experiência coletiva não é
possível fazer distinção entre o certo e o errado, o normal e o anormal". E o
primeiro contato do aluno com as regras sociais começa na escola, mais
precisamente à hora do recreio, em que motivado pelo professor, o aluno
principia a relação com a coletividade através de jogos e brincadeiras.
AMORIM em sua obra Cem aulas Sem Tédio, enfatiza: "Ninguém motiva
ninguém", numa referência a Gardner, o renomado autor da teoria das múltiplas
inteligências. Segundo essa autora:
Aulas exaustivamente preparadas não garantem que os alunos fiquem maravilhados e entusiasmados como se gostaria: a motivação para aprender tem de partir da própria pessoa, que é em última análise quem vai investir uma grande dose de esforço 'pessoal no alcance deste objetivo. "O que para nós, para a família e para a sociedade pode parecer um preço razoável, para ela pode simplesmente não valer a pena. E não somos nós, com nossas aulas mirabolantes, que vamos fazê-Ia mudar de idéia".(AMORIM,1998, p. 17).
Para Gardner (1998, Apud Amorim): "Nem ninguém se motiva sozinho."
Por isso, professor algum está eximido de preparar muito bem as suas aulas e
tentar "mexer" com o aluno, tendo para isto que utilizar aquilo que chamará a
atenção do aluno, isto é, o que ele mais gosta: brincar.
No entender da autora: o professor deve utilizar atividades lúdicas para
motivar esse aluno, aulas diversificadas e estimulantes, sobretudo nas horas
críticas em que ele está tentando decidir se vai ou não com a cara do professor
33
com a aula e que está tentando ensinar, com a filosofia da escola, e daí decorrerá
atos de disciplina ou de indisciplina.
É necessário que o educador insira o brincar em um projeto educativo
o que supõe ter objetivas e consciência da importância de sua ação em relação
ao desenvolvimento e á aprendizagem' das crianças. É necessário coragem para
assumir o brincar como tema primordial no trabalho junto às crianças, mas
também é preciso que essa postura seja abraçada por toda a equipe escolar, e
não somente pelo professor de classe.
A seleção dos conteúdos para brincadeiras obedece a uma outra lógica
diversa daquela que é definida como conteúdo escolar, sua seqüência deve partir
daquilo que é considerado mais simples em direção ao mais complexo em relação
aquilo que se pretende repassar como conhecimento. A brincadeira torna tudo
estimulante, prazeroso e com isso oportunizará ótimos resultados no
desenvolvimento emocional, cognitivo e social do aluno. Conforme evidencia a
citação abaixo:
A brincadeira é lúdica, e nela estão incluídos os jogos, brinquedos e divertimentos, como também aquele que joga e está envolvido nesse processo. É por meio do lúdico e de um mundo de fantasias e encantamentos, de alegrias, de sonhos que a realidade e o faz-de-conta se confundem, fazendo com que o indivíduo construa a sua própria identidade, oportunizando seu conhecimento e aprendizagem por meio da brincadeira e tudo o que gira em tomo dela ( ANTUNES, 2002, p. 19).
Uma criança contempla muitos mundos. A escola pode ampliar essa
contemplação dando sentido ao lúdico, que passa a ser o suporte de
aprendizagem. O lúdico auxilia a criança na exploração e compreensão do mundo
em seu contexto, que por si só cria novos horizontes é estimula seu
desenvolvimento no universo imaginário, intelectual e educacional.
Nesse sentido Negrine (1994), em estudos sobre a aprendizagem e
desenvolvimento da criança, afirma: "quando a criança chega á escola, traz
consigo toda uma pré-história, construída a partir de suas vivências, grande parte
delas através da atividade lúdica".
As idéias de Cipriano (1996); ressaltam a importância do lúdico para a
34
aprendizagem da criança. Segundo esta autora: "É preciso buscar compreender o
que é lúdico". Lúdico é aprender brincando, onde, através das brincadeiras as
crianças assimilam os conteúdos propostos como experiências, jogos e
divertimentos. Lúdico nada mais é que experiência, alegria, satisfação. Lúdico é
brincar com a magia, e a vida da criança é brincadeira.
Através da brincadeira seja sozinha ou em grupo, a criança pode criar
e recriar seu universo lúdico, não se restringindo a um já dado, permitindo que
sua espontaneidade permeie todas as suas ações. Estabelecer uma relação de
identidade com a brinquedo, que não e uma recompensa, como muitas vezes a
brinquedo e interpretado, mas um instrumento de sua relação com a mundo.
Cipriano (1996, p. 53) descreve: "A realidade infantil e construída a partir da
magia. O jogo, as brincadeiras e a faz-de-conta para crianças são como os
sonhos para os adultos”.
O jogo e uma atividade própria da criança, sua forma de estar
diante do mundo social e físico e interagir com ele, e a parte com qual entram
em cantata com as outras pessoas e com as coisas e, a instrumento para a
construção coletiva do conhecimento. Se a criança necessita brincar com ela
mesma, para desenvolver-se, para construir conhecimentos, expressar suas
emoções, pode-se dizer que ela tem direito de brincar e ser feliz e o adulto
têm a obrigação de possibilitar a exercício desse direito. Como se pode
observar a própria Constituição Federal, Art. 227, da ênfase ao lúdico ao
afirmar:
E dever da família da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito a vida, a saúde, a alimentação, a educação, ao lazer, a profissionalização, a cultura, a dignidade, ao respeito, a liberdade, a convivência familiar e comunitária. além de colocá-Ios a salvo de toda forma de negligência, discriminação. “exploração, violência, crueldade e opressão”. Constituição Federal, 1988. p. 148).
O termo usado é "Iazer", mas sua interpretação e abrangente,
envolvendo especificamente a brincar. Se brincar é típico da criança, se a
infância é uma idade do jogo, se a atividade mais extensa. Mais intensa, mais
característica da infância e a ludicidade, não se pode conceber a infância sem
brinquedo. Impedir a criança de brincar equivale as roubar-Ihe a infância.
35
Através do jogo, que nada mais e do que um brinquedo, cujas regras
são a desafio principal, as crianças podem explorar e pesquisar em um ritmo
pr6prio os conhecimentos trabalhados pode modificar as regras, recriando novas
de acordo com seus interesses ao do grupo.
É importante destacar que no, ambiente escolar é necessário que haja
um bom relacionamento, tratando o grupo de maneira igual, respeitando as
individualidades e capacidades de cada criança. A harmonia que o professor
estabelece em sala de aula resulta na relação de confiança com a criança,
elevando sua auto-estima, proporcionando um bom desenvolvimento da criança
em todos os aspectos.
Os espaços físicos, materiais, brinquedos, instrumentos sonoros e
mobiliários são componentes poderosos para auxiliar no desenvolvimento infantil
e no relacionamento da criança com os demais. É necessária a observação de
que estes estejam adequados às crianças.
Valorizar o espaço devido a seu poder de organizar, de promover
relacionamentos agradáveis entre pessoas de diferentes idades, de criar um
ambiente atraente, de oferecer mudanças, de promover escolhas e atividades
contribui para uma sensação de bem-estar e segurança.
Oferecer as crianças uma pedagogia da educação infantil que garanta
o direito a infância e, conseqüentemente, o direito a melhores condições de vida,
deve necessariamente partir da diversidade cultural e, portanto a organização dos
espaços deve ser versátil e flexível. É através das observações, registros e
reflexões que os professores por meio de ações institucionais e planejadas,
criarem no seu ambiente de trabalho um contexto favorável para a exploração
significativa das diversas situações cotidianas de intercâmbio entre os alunos.
O brincar deve ser posto constantemente em questão prática nas
instituições escolares. Pois no brincar, não se aprende somente conteúdos, mas
se aprende para a vida. A interação social é um fator de desenvolvimento
cognitivo. Para Piaget o intercâmbio de idéias entre as pessoas, é um fator muito
36
importante para o desenvolvimento social.
Piaget concebe que a aprendizagem é apresentada com uma visão do
desenvolvimento cognitivo nos termos de construção de estruturas lógicas,
explicadas por mecanismo endógeno e para a qual a intervenção social externa
pode ser facilitadora ou obstacularizadora, capaz de oferecer um sujeito ativo, que
faz da aprendizagem um derivado do próprio desenvolvimento ou impedir-lhe que
avance. Conforme evidencia Rubem Alves (1994): Há muitas escolas que são
jacarés. Devoram as crianças em nome do rigor; do ensino apertado de boa base
para o vestibular... Mas e a infância?"
3.1 VIGOTSKY E O USO DOS SIGNOS NA APRENDIZAGEM
Segundo Vygotsky o meio influencia na aprendizagem da criança,
mas essa aprendizagem depende de um adulto para estimular e orientar os
passos a serem seguidos de acordo com a realidade evolutiva e educacional da
criança. Apresenta também um aspecto interacionista, na media em que busca
explicar o aparecimento de inovações e mudanças no desenvolvimento, a partir
do mecanismo de internalização. Salienta também que o desenvolvimento do
homem caminha junto, e mais do que isso está de tal forma inteirada que, um
não seria o que é, sem o outro. Com essa perspectiva é que se estudou o
desenvolvimento da criança.
Graças ao faz-de-conta, a criança pode imaginar, imitar, criar ou jogar
simbolicamente e, assim, pouco a pouco, vai reconstruindo em esquemas verbais
ou simbólicos tudo aquilo que desenvolveu em seu primeiro ou segundo ano de
vida. Com isso, pode ampliar seu mundo, estendendo ou aprofundando seus
conhecimentos para além de seu próprio corpo; pode encurtar tempos, alargar
espaços, substituir objetos, criar acontecimentos. Além disso, pode entrar no
universo de sua cultura ou sociedade aprendendo costumes, regras e limites. No
faz-de-conta, aquilo que a criança cria está atribuído aos objetos ou
acontecimentos de sua historia ou fabulação. Ao mesmo tempo, são objetos e
37
acontecimentos que só se tornaram como tais pelas criações dela.
O faz-de-conta permite o desenvolvimento da evocação e da
simbolização. Isso é fundamental, pois nada está completo, inteiro, diante de
nós. Um objeto, por exemplo, nunca é visto tocado ou sentido totalmente. Uma
parte dele sempre está escondida, falta-nos. Como saber algo como um todo, se
nossa relação com ele é sempre parcial, incompleta? É pelo símbolo, pelo faz-de-
conta como uma de suas expressões, que podemos reunir ou imaginar as
pessoas e aos acontecimentos, um nome que sintetiza, classifica, ordena,
identifica, que nos remete a algo impossível, como totalidade, não fosse a
linguagem, o pensamento ou a imagem. Assim, o faz-de-conta possibilita-nos
desfrutar, gozar uma presença, e concede-nos a ilusão da permanência de
alguma coisa, por si mesma sempre passageira, eventual, incompleta.
A "sociedade do conhecimento" é um dos modos de se caracterizar a
sociedade atual. Com a tecnologia da informação, dos transportes, da
comunicação, por exemplo, o mundo virou um grande faz-de-conta, e o espaço e
o tempo de vida está podendo ser encurtados, estendidos, aproximados de
muitos modos.
Neste mundo, ler, escrever, calcular, experimentar, explicar e criar são
expressões de formas de descentração. As pessoas estão cada vez mais se
aprofundando para dentro de si mesmas ou exteriozando-se em objetos ou
tecnologias. Estas se sofisticam e; só fazem melhorar suas "facilidades" e
promessas. Graças aos diferentes sentidos de um faz-de-conta.
Partindo dessas visões, pode-se ressaltar que a aprendizagem
necessita muito mais que isso, porque a mesma acontece de acordo com o meio,
mas também depende do que o meio tem a oferecer. Nem tudo que está presente
na escola pode ser considerado como ambiente educacional saudável, logo este
meio norteia a influencia no comportamento da criança, adicionando referências
positivas ou negativas.
A aprendizagem depende da facilidade com que a informação se relaciona com o
38
que se sabe. É particularmente motivador, por um lado, o professor começar as
aulas levando em conta o que seu discurso expositivo quer alcançar, objetivando
a hierarquização e a compreensão da· relação entre as idéias, bem como durante
o ritmo da exposição, permitir ao aluno assimilar seu conteúdo e finalmente,
estabelecendo com o aluno através de imagens concretas, uma conexão com
eles mesmos, sendo possível ao educador, trabalhar a construção do
conhecimento através de fatos históricos, salientando uma aprendizagem no
sentido mais amplo, ou seja, mais inovador, norteando novos padrões de
condutas, no processo ensino aprendizagem.
Nesse sentido Negrine (1994), em estudos realizados sobre a
aprendizagem e desenvolvimento da criança, afirma que "quando a criança chega
á escola, traz consigo toda uma pré-história, construída a partir de suas vivências,
grande parte delas através da atividade lúdica".
Os exemplos de estudos feitos por Vygotsky e seus colaboradores no
sentido de compreender como o processo de mediação, em meio de instrumentos
e signos é fundamental para o desenvolvimento das funções psicológicas
superiores, distinguidos o homem dos outros animais.
Quando Vygotsky discute o papel do brinquedo, refere-se
especificamente à brincadeira de "faz-de-conta", como brincar de casinha, brincar
de escolinha, brincar com um cabo de vassoura como se fosse um cavalo. Faz
referência a outros tipos de brinquedos, mas a brincadeira de “faz-de-conta" é tida
como o mais importante papel do brinquedo no desenvolvimento.
Vygotsky (1996) salienta que no jogo de faz-de-conta a criança passa a dirigir seu
comportamento pelo mundo imaginário, isto é, o pensamento está separado dos
objetos e a ação surge das idéias. Assim do ponto de vista do desenvolvimento, o
jogo de faz-de-conta pode ser considerado um meio para desenvolver o
pensamento lógico. Atividades lúdicas conhecidas como brincadeiras de rua
Cabra-cega, Esconde-esconde, Amarelinha, Bola-cartás, Barra-manteiga, Pião,
Pula-corda, Passa-anel, Estátua, já não fazem parte das brincadeiras das
crianças atuais.
39
O estudo desta temática emerge do reconhecimento de que existe um
problema sério na escola que pode ter surgido com a falta das atividades
necessárias para o desenvolvimento social do aluno, e isto leva a escola a
ressentir da ausência de uma modalidade lúdica para compensar o longo período
de aulas, pois este se constitui em uma rotina estressante para alunos e
professores.
As estratégias do ensinar a aprender culminam com o ensinar através
da brincadeira. Conforme indicativos da pedagogia crítica pode-se observar
segundo as concepções de ARROIO (apud FERRETI, 1999) que existem
caminhos que auxiliam na aquisição do conhecimento:
• A escola deve considerar as diversas estratégias afetivas envolvidas
na esfera escolar.
• Voltar-se a um cenário mais amplo do que a que proporcionada pela
contemplação exclusiva da área da escola.
• Envolver-se com processos, estratégias e formas de conhecimentos
que envolva mais socialização com uma pedagogia mais abrangente.
• Discutir as dimensões importantes que envolva o gosto da criança
quanto ao conhecimento e as atividades lúdicas levando-a a brincar e aprender
ou a aprender brincando.
• Investir na capacitação dos professores para que sejam flexíveis com
espírito crítico, capacidade de inovação, adaptabilidade às mudanças e espírito
de cooperação e mediação.
Na perspectiva sócio-histórico de construção do sujeito, os estudos
vigotskyanos mostram que a criança interage através do brinquedo, desde cedo.
Por isso o brinquedo deve ser utilizado na escola com a intenção de aproximar o
aluno da escola e mantê-Io motivado neste ambiente. Para isso, faz se
necessário que o professor conheça a processo de desenvolvimento da criança,
assim com as etapas que ela deve conquistar. Deve conhecer também, como
40
ocorre o processo de aquisição de conhecimento, a partir da teoria de Vygotsky
(1996) que muito contribuiu para se obter a visão que se tem hoje, a respeito da
importância do brincar no âmbito da sala de aula.
Ele complementa: "É no brinquedo que a criança aprende a agir numa
esfera cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo das
motivações e tendências internas, e não dos incentivos fornecidos pelos objetos
externos". "Esta citação evidencia que os objetos ditam a criança o que ela tem
que fazer: uma porta solicita que abra e fecha uma e outra que desça escada e
que suba novamente". É comum observar-se crianças subindo e descendo
escadas de forma ininterrupta, neste sentido percebe-se que a criança aprende
por treinos, que ela faz até se cansar e aprender.
Dessa forma o aluno passa a ser um desafio ao professor e ao
contexto de um modo geral. Neste sentido não se pode deixar de mencionar a
importância do brinquedo na escola que deve ter um espaço destinado à
atividade do brincar.
A aceitação do brinquedo na escola foi um marco legitimador e
histórico para importância do brincar junto á criança. É uma conquista para a
sociedade e, em especial, para a criança que assim aprende de forma mais
harmoniosa através do lúdico.
O estudo da historicidade do ato de brincar traz a convicção que,
independentemente do espaço que ocorra, deve ser valorizado por se
constituir num instrumento de aquisição de conhecimentos e de aprendizado
das regras e normas adultas vigentes na sociedade, contribuindo para a
formação de um cidadão critico e atuante.
Neste contexto, é importante notar que em qualquer circunstância de
cultura, raça, credo ou classe social, toda criança brinca, que todos os seus
conceitos estão ligados à brincadeira. Assim a escola poderá fazer muito pela
educação se for construído um espaço para jogos e brincadeiras com práticas
41
pedagógicas que valorizem a ludicidade, pautando-se no desafio de uma
educação que contribua para diminuir a evasão, a repetência e melhore a auto-
estima da criança.
Em primeiro lugar o educador deve assumir que é sua
responsabilidade garantir o tempo e o espaço para brincar. A rotina diária não é
neutra, e o modo como o tempo é ocupado na sala de aula, diz muito sobre as
concepções de ensino aprendizagem, aluno, professor e conhecimento.
Conforme nos auxilia a citação a seguir:
A criança amadurece á medida que é ensinada e educada, ou seja, á medida que, sob a orientação de adultos ou companheiros mais experiente, se apropriam de cultura elaborada pela humanidade. A criança se desenvolve ao ser educado e formado, de modo que a maturação se manifesta e se produz no processo de educação e ensino qualificado. Vygotsky (1996, p. 13).
Ao docente, cabe intervir no brincar com o respeito de que não é
estraga prazeres, mas que sabe que é seu papel organizar, estruturar e contribuir
para a brincadeira, fazendo questionamentos incluindo situações - problema,
variando as condições do jogo e principalmente a partir de cada jogada, propor
novas atividades, que podem ser jogos ou outras. Através dos jogos na sala de
aula, os papéis perdem estereotipia e rigidez, pois o professor além de ensinar,
aprende, e o aluno ensina, além de aprender.
Vygotsky apontaria o jogo como prenúncio do pensamento adulto abstrato, pois
através do confronto de diferentes idéias a respeito das coisas e na acomodação
de algumas regras, as crianças vão desenvolvendo o que ele considera
imaginação. Ao mesmo tempo, podem exercitar seu autocontrole, ao serem
obrigados, durante a ação do jogo a adaptar suas próprias ações às do
companheiro e ao tema do jogo.
42
Já Piaget (1996) acredita que ele é essencial na vida de ambos, tanto
aluno como professor. De inicio tem-se o jogo de exercício que é aquele que a
criança repete uma determinada situação por puro prazer, por ter apreciado seus
efeitos.
Em torno dos 2-3 e 5-6 anos os jogos simbólicos, satisfazem à
necessidade da criança de não somente relembrar o mentalmente o acontecido,
mas de executar a representação. Em período posterior surgem os jogos de
regras, que são transmitidos socialmente de criança para criança e por
conseqüência vão aumentando de importância de acordo com o progresso de seu
desenvolvimento social. Para Piaget, o jogo constitui-se em expressão e condição
para o desenvolvimento infantil, já que as crianças quando jogam assimilam e
podem transformar a realidade.
Já Vygotsky (1996), diferentemente de Piaget, considera que o
desenvolvimento ocorre ao longo da vida e que as funções psicológicas
superiores são construídas ao longo dela. Ele não estabelece fases para explicar
o desenvolvimento como Piaget e para ele o sujeito não é ativo nem passivo: é
interativo.
Segundo ele, a criança usa as interações sociais como formas
privilegiadas de acesso a informação: aprendem à regra do jogo, por exemplo,
através dos outros e não como o resultado de um engajamento individual na
solução de problemas. Desta maneira, aprende a regular seu comportamento
pelas reações, quer elas pareçam agradáveis ou não.
"As maiores aquisições de urna criança são conseguidas no brinquedo,
aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e moralidade
(Vygotsky, 1996)".
Piaget (1998) diz que a atividade lúdica é o berço obrigatório das
atividades intelectuais da criança, sendo, por isso, indispensável a pratica
educativa.
43
Na visão sócio-histórico de Vygotsky, a brincadeira e o jogo, são
atividades específicas da infância, em que a criança recria a realidade usando
sistemas simbólicos. Essa é uma atividade social, com contexto cultural e social.
No começo essa forma de assimilação é "deformante", uma vez que a
criança assimila ou revive situações fazendo deturpações de todos os tipos.
Trata-se, portanto, de forma livre de representação em que as coisas imaginadas
nem sempre podem ser também um rigoroso exercício de "imaginação
reprodutiva" ou "imitação representativa" em que os melhores esforços da criança
estão a serviço de um fazer igual, de repetir, dentro dos limites de suas
possibilidades.
Neste mundo, ler, escrever, calcular, experimentar, explicar e criar são
expressões de formas de descentração. As pessoas estão cada vez mais se
aprofundando para dentro de si mesmas ou exteriozando-se em objetos ou
tecnologias.
A utilização do computador em sala de aula possibilita ao aluno
visualizar suas construções mentais estabelecendo uma relação dialética entre o
ser concreto e o ser abstrato, entre a ação e o pensamento. Nesse ambiente o
aluno é o sujeito da aprendizagem significativa com liberdade de desenvolver um
conhecimento que esteja em sintonia com seus interesses e necessidades e o
papel do professor como mediador, torna-se o promotor do processo de
aprendizagem com condições de atuar sobre sua própria prática.
Por esta abordagem torna-se imprescindível que o professor incorpore
o computador à sua prática que promova a criação de redes de significados no
processo de construção e reconstrução do conhecimento. O professor deve atuar
como agente de mudança, valorizando os interesses e necessidades de seus
alunos e assim utilizar como ponto de partida, em seu trabalho pedagógico, os
conhecimentos do contexto dos alunos, os quais interagem diariamente com os
meios tecnológicos disponíveis e os recursos da Informática.
44
Esta prática inventiva dá ênfase do processo à coletividade: a construção do conhecimento passa a ser atribuída aos grupos que interagem no espaço do saber, algo próprio da inteligência coletiva - uma inteligência distribuída por toda parte, valorizada, coordenada em tempo real que resulta em uma mobilização efetiva das competências individuais. (LEVY,1998, p. 28).
Neste contexto visualiza-se que a introdução da tecnologia e de suas
vertentes na Educação está sendo provocada em suas origens, pela necessidade
de mudança real no processo educacional. A necessidade de mudança, de
reconstrução do processo educacional, deve ser a causa, não a conseqüência da
introdução dos recursos informatizados na escola. Nota-se que em ambientes
computacionais não há lugar para embates entre alunos e professores por causa
de indisciplina, pois o papel do professor restringe-se a intermediar o
conhecimento e a ajudar o aluno a avançar.
A Internet é uma tecnologia que facilita a motivação dos alunos pelas
novidades e as possibilidades de pesquisa. Essa motivação aumenta se for feita
em um clima de confiança, de liberdade e cordialidade entre professores e
alunos. A tecnologia ajuda nas formas do professor atuar para despertar o
interesse do aluno e mantê-Io motivado.
A Internet é um novo meio de comunicação que pode ajudar a escola a
rever, a ampliar e a modificar as formas de ensinar e aprender. Ensinar com as
novas mídias poderá ser uma revolução para mudarem-se os paradigmas
convencionais de um ensino que até agora distanciou professores e alunos.
O professor pode alterar o trabalho de pesquisa com as aulas
habituais, nas quais podem ser acrescentados textos escritos e usar-se o
vídeo para aprofundar os temas pesquisados na Internet. A capacidade
autentica do professor em estabelecer relações de confiança melhora as relações
professor - aluno e aluno - aluno, tornando-se a sala um ambiente de confiança,
equilíbrio, competência e simpatia. Percebe-se que um clima destes e impossível
existir indisciplina e desmotivação, mesmo que o conteúdo seja considerado difícil
e maçante.
45
Esse jogo de relações entre professores e alunos precisa ser
desvendado, para que se possa compreender e interferir na pratica pedag6gica.
Se o foco do ensino e aprendizagem estiver centrado no desenvolvimento de
habilidades e competências do aluno, elas se tornarão os objetivos do ensino.
Ao procurar evoluir sua pratica pedagógica o professor percebe que
muitos aspectos de sua formação precisam ser aprofundados e definidos. A
educação de professores deve partir da indagação .sobre o que determina o
desempenho do professor na prática da sala de aula. A escola afluem as
contradições do contexto social, os conflitos psicológicos, as questões das
concepções valorativas daqueles que compõem o ato pedagógico: o professor e
os alunos.
Os profissionais da educação pressentem a necessidade de se
capacitarem diante das mudanças que se processam no mundo globalizado, os
termos capacitação e qualificação tornam-se necessidade premente na vida das
pessoas principalmente na vida dos professores.
Uma das finalidades. essenciais da formação de professores quer inicial, quer continuada, e. desenvolver neles as qualidades de ordem ética intelectual e afetiva que a sociedade espera que possuam de modo a poderem em seguida cultivar nos seus alunos 0 mesmo leque de qualidades. (DELORS, et al,1996, p.139).
Mudar o foco para desenvolvimento de competências e habilidade
implica, além da mudança de postura da escola, um trabalho pedagógico
integrado que defina as responsabilidades de cada professor nessa tarefa. Um
grande obstáculo, e que os professores podem ter duvida sobre em que consiste,
real mente, determinada habilidade; mais ainda sobre como auxiliar o
desenvolvimento dela. Provavelmente isso ocorre por problemas na formação do
professor.
Entretanto, as dificuldades não devem desanimar o professor, pelo
contrário, elas devem desafiar e contribuir para uma mudança significativa da
pratica didática. Perrenoud (1999) enfatiza: "construir uma competência significa
aprender a identificar e a encontrar os conhecimentos pertinente”.
46
Do ponto de vista pratico, isto significa ser necessário que os alunos
descubram seus próprios caminhos. Quanto mais pronto e o conhecimento que
chega a eles menos estarão desenvolvendo a própria capacidade de buscar
esses conhecimentos, de "aprender a aprender". Cabe ao professor reconhecer
que o ensino não pode mais se centrar na transmissão de conteúdos conceituais
e que seu papel passa a ser o de facilitador do desenvolvimento de habilidades e
competências pelos alunos.
A aprendizagem supõe uma organização lógica da realidade. Mesmo, o
professor ao propor uma atividade lúdica de jogos, o primeiro passo é manuseá-
Io, sequentemente obedecendo as regras estabelecidas na atividade.
As brincadeiras que são oferecidas a criança devem estar de acordo
com a zona de desenvolvimento em que ela se encontra, desta forma, pode-se
perceber a importância do professor conhecer a teoria de Vygotsky (1996) que
muito contribuiu para se obter a visão que se tem hoje a respeito da importância
do brincar no âmbito da sala de aula.
Não se pode deixar de mencionar a importância da brinquedoteca. Um
espaço destinado especial mente a atividade do brincar. A criação da
brinquedoteca foi um marco legitimador e histórico para importância do brincar
junto à criança. É uma conquista para a sociedade e, em especial, para a criança
que assim aprende de forma mais harmoniosa e lúdica.
O estudo da historicidade do ato de brincar nos traz a convicção de
que, independentemente do espaço que ocorra, deve ser valorizado por se
constituir num instrumento de aquisição de conhecimentos e de aprendizado
das regras e normas adultas vigentes na sociedade. Ele poderá contribuir
para a formação de um cidadão crítico e atuante, pois, em qualquer
circunstância de cultura, raça, credo ou classe social, toda criança brinca.
Todos os seus conceitos estão Iigados à brincadeira.
47
Vygotsky assimilou que uma das funções básicas do brincar e permitir
que a criança aprenda a elaborar I resolver situações conflitantes que vivencia no
seu dia a dia. E para isso, usará capacidade como a observação, a imitação e a
imaginação.
Essa representação que de início pode ser "simples", de acordo com a
idade da criança, darão lugar a um faz-de-conta mais elaborado, que além de
ajuda-Ia a compreender situações conflitantes ajuda a entender e assimilar os
papéis sociais que fazem parte de nossa cultura (o que e ser pai, mãe, filho,
professor, médico). Através desta imitação representativa a criança vai também
aprendendo a Iidar com regras e normas sociais. Desenvolve a capacidade de
interação e aprende a lidar com o limite e para tanto, os jogos com regras são
fundamentais, principalmente a partir dos 06 anos aproximadamente.
As crianças evoluem por intermédio de suas próprias brincadeiras e
das invenções das brincadeiras feitas por outras crianças e adultos. Nesse
processo, ampliam gradualmente sua capacidade de visualizar a riqueza do
mundo externamente real, e, no plano simbólico procuram entender o mundo dos
adultos, pois ainda que com conteúdos diferentes, estas brincadeiras, possuem
uma característica comum: a atividade do homem e suas relações sociais e de
trabalho. Deste modo, elas desenvolvem a linguagem e a narrativa e nesse
processo vão adquirindo uma melhor compreensão de si próprio e do outro, pela
contraposição com coisas e pessoas que fazem parte de seu meio, e, que são,
portanto, culturalmente definidas também.
Para Vygotsky, ao reproduzir o comportamento social do adulto em
seus jogos, a criança esta combinando situações reais com elementos de sua
ação fantasiosa. Esta fantasia surge da necessidade da criança, em reproduzir o
cotidiano da vida do adulto da qual ela ainda não pode participar ativamente.
Porém, essa reprodução necessita de conhecimentos prévios da realidade
exterior, deste modo, quanta mais rica for a experiência humana, maior será o
material disponível para as imaginações que irão se materializar em seus jogos.
A construção do real então do social (da interação com outros), quando
48
a criança imita o adulto e é orientado por ele, e paulatinamente internalizada pela
criança. Ela começa com uma situação imaginária, que e uma reprodução da
situação real, sendo que a brincadeira é muito mais a lembrança de alguma coisa
que de fato aconteceu, do que uma situação imaginária totalmente nova.
Conforme a brincadeira vai desenvolvendo acontece uma aproximação com a
realização consciente do seu propósito.
Vygotsky coloca que o comportamento das crianças em situações do
dia a dia e, em relação aos seus fundamentos, o contrário daquele apresentado
nas situações de brincadeira. Na brincadeira, aparece tanto a ação na esfera
imaginativa numa situação de faz-de-conta, como a criação das intenções
voluntárias e as formações dos planos da vida real, constituindo-se assim, no
mais alto nível do desenvolvimento pré-escolar. (Vygotsky, 1984, p.117).
Outro aspecto importante colocado por Vygotsky e que, no jogo de faz-
de-conta, a criança passa a dirigir seu comportamento pelo mundo imaginário,
isto é, o pensamento está separado dos objetos e da ação surge das idéias.
Assim, do ponto de vista do desenvolvimento, o jogo de faz-de-conta pode ser
considerado um meio para desenvolver o pensamento abstrato.
A interpretação de Vygotsky atribui ao jogo imaginário uma dupla
tendência com ações subordinadas ao real, pelos seus vínculos com
acontecimentos e regras daquilo que é vivenciado, e com a transformação do
real, pelas possibilidades de recombinação criativa das experiências, conforme
salienta Rocha (1994). No entanto, segundo a mesma autora, a primeira
tendência foi enfatizada por outros autores da abordagem histórico-cultural, tendo
sido subestimado aquilo que o teórico esboçou como processo de criação
imaginativa. Tanto a atividade lúdica quanto a atividade criativa surgem marcadas
pela cultura e medidas pelos sujeitos que com ela se relaciona.
Vygotsky vem quebrar a dicotomia de mundo-adulto-sério-real e
mundo-infantil-Iúdico-fantasioso. Fantasia e realidade se realimentam e
49
possibilitam que a criança - assim como os adultos - estabeleça conceitos e
relação; insira-se enquanto sujeito social que e. Ele sinaliza que, ao brincar, a
criança não esta só fantasiando, mas fazendo uma ordenação do real; tendo a
possibilidade de ressignificar suas diversas experiências cotidianas. Não se pode
esquecer de que para elas, os jogos, a imitação, o faz-de-conta, permite a
reconstrução interna daquilo que é observado externamente e, portanto, através
da imitação são capazes de realizar ações que ultrapassam o limite de suas
capacidades.
Pois, se através da imitação (nos sentidos atribuídos por Vygotsky,
como um instrumento de reconstrução), a criança aprende, nada mais positivo
que a escola promova situações que possibilitem a .. imitação, a observação e a
reprodução de modelos. Logicamente o sentido de imitação explícito nas idéias
do autor, não pode ser confundido com o que podem ser constatados ainda em
tantas escolas: proposição de atividades que visam tão somente a reprodução,
descontextualizadas da realidade, imitações mecânicas de modelos fornecidos
pelos professores, as "famosas cópias" de desenhos fornecidos pelos docentes
ou retirados de alguma cartilha. As situações de imitação precisam intervir e
desencadear um processo de aprendizagem real.
A promoção de atividades que favoreçam o envolvimento em
brincadeiras, principalmente aquelas que promovem a criação de situações
imaginárias, tem nítida função pedagógica. A escola e, particularmente a pré-
escola, podem a partir desse tipo de situações, atuarem no processo de
desenvolvimento das crianças. Principalmente na pré-escola, a brincadeira não
deveria ser considerada uma atividade de passatempo, sem outra finalidade que
a diversão.
Para tanto, é preciso considerar as brincadeiras que as crianças trazem
de casa ou da rua, que organizam independente do adulto. Tanto no diz respeito
ao mundo físico ou social, bem como do afeto e, é necessário que a escola
possibilite o espaço, o tempo e um educador que seja o elemento mediador das
interações das crianças com os objetos de conhecimento.
50
Acredita-se que a criança vai construindo seu conhecimento do mundo
de modo lúdico, transformando o real com os recursos da fantasias e da
imaginação. Tem a chance, assim, de dar vazão a uma afetividade que
freqüentemente, dificulta, na difícil luta pela sobrevivência enfrentada dia-a-dia por
seus pais.
A atividade lúdica não pode ser considerada aleatória, pois ela
complementa a ação do professor em preparar a criança para o meio em que vive
permitindo-a ter condições para o que o mundo vier Ihe oferecer, para conviver
como um ser social.
Parece que falta a escola e aos educadores uma visão desta
totalidade, tendo em vista que a "interação social é um fator de desenvolvimento
cognitivo" e necessita ser trabalhada na escola. No que se refere a educação
integral do aluno, em termos práticos, pode-se dizer que as políticas educacionais
precisam se tornarem estratégicas, não só para significar a busca de esforços,
recursos e articulações no sentido de oferecer uma educação de qualidade onde
o aluno tenha motivação para ir a escola.
No que se refere ao processo ensino-aprendizagem a escola pode
realizar mudanças na organização da sala, por exemplo: O velho esquema de
fileiras que não permite a socialização entre os alunos e utilizar os jogos e
brincadeiras como forma para levar o aluno aprender a se relacionar melhor.
Diante do exposto vale ressaltar a idéia do mestre MAKARENKO (Apud
Caprilles.( 1989, p.8): "Educar o ser humano é propiciar-Ihe perspectivas para a
felicidade do amanhã dentro da disciplina para a construção do caráter, exigindo o
máximo da pessoa e respeitando-a ao máximo."
Neste sentido é importante ressaltar que ampliar a noção da
aprendizagem pressupõe mudanças na visão de mundo em geral e na cultura em
particular. A escola está presa a um conceito de atividades recreativas dissociada
51
do cotidiano das crianças, onde o esporte serve apenas ao crescimento para o
mercado de trabalho e não para a promoção da saúde, da socialização e do bem-
estar.
3.2 LEONTIEV E O JOGO DAS PALAVRAS PROIBIDAS E DOS SIGNOS
Leontiev utilizou um jogo infantil tradicional na Europa como base para
estruturar a situação experimental. Nesse jogo uma pessoa faz perguntas a outra,
que deve responder sem usar determinadas "palavras proibidas". No caso do
experimento de Leontiev, as crianças deveriam responder a diversas questões
sobre cores, por exemplo: "Qual a cor de um tomate?”, "Qual a cor da sua
blusa?", sem usar o nome de duas cores definidas no experimento como
"proibidas" (verde e amarelo, por exemplo).
Na primeira fase do experimento o pesquisador formulava as perguntas
oralmente, e a criança simplesmente as respondia, como no jogo original. Sua
resposta era considerada errada se falasse o nome das cores proibidas. Numa
segunda fase, a mesma brincadeira de pergunta-resposta era feita, mas a criança
recebia cartões coloridos que podia utilizar se quisesse, como auxiliares no jogo.
Algumas crianças passaram, então, a utilizar os cartões como suportes externos
para sua atenção e memória: separavam os cartões com as cores proibidas e,
antes de responder as perguntas, olhavam para os cartões, como se estivessem
"consultando" uma fonte de informação. Esse jogo também é conhecido no Brasil,
sendo as "palavras proibidas" o sim, o não e o porquê.
Segundo o autor os processos de mediação também sofrem
transformações ao longo do desenvolvimento do indivíduo. Por constituírem
ficções psicológicas mais sofisticadas, os processos mediavam ser constituídos
ao longo do desenvolvimento, não tanto ainda presente nas crianças pequenas.
No experimento da "cores proibidas", que acabamos de desenvolver, por
exemplo, é só a partir de oito anos, aproximadamente, que a criança vai começar
a beneficiar-se dos cartões, utilizando-os como auxiliares psicológicos.
52
.
As crianças menores não se beneficiaram dos cartões com signos de apoio a sua atividade psicológica. Ao resolver esse tipo de tarefa, sua atividade era direta, não mediada.. Sem serem capazes de fazerem uso de recursos externos, como os cartões, essas crianças pequenas lembravam-se ou não das cores proibidas mas, não conseguiam controlar sua própria atividade por meio desses signos mediadores. (LEONTIEV, 1991.p. 38)
A invenção e o usa de signos como meios auxiliares para solucionar
um dado problema psicológico (Iembrar, comparar coisas, relatar, escolher, etc.),
é análoga a invenção e usa de instrumentos, só que agora no campo psicológico.
"O signo age como um instrumento da atividade psicológica de maneira análoga
ao papel de um instrumento no trabalho". Os instrumentos, porem, são elementos
externos aos indivíduos, voltados para fora dele; sua função e provocar
mudanças nos objetos, controlar processos da natureza. Os signos ou
"instrumentos psicológicos", são orientados para o próprio sujeito, dirigem-se ao
controle de ações psicológicas, seja do próprio indivíduo, seja de outras pessoas
e não nas ações concretas, como os instrumentos.
As características do funcionamento psicológico tipicamente humano
não são transmitidas por hereditariedade nem são adquiridas passivamente,
graças a pressão do ambiente externo. Elas são construídas ao longo da vida do
indivíduo, através de um processo de interação do homem e seu meio físico e
social, que possibilita a apropriação da cultura elaborada pelas gerações
precedentes, ao longo de milênios. Como afirmou Leontiev (1978, p. 267): "Cada
indivíduo aprende a ser homem. O que a natureza Ihe dá, quando nasce não Ihe
basta para viver em sociedade". Ele precisa adquirir o que foi alcançado no
decurso do desenvolvimento histórico da sociedade humana.
Se faz necessário empreender uma nova revolução no ensino
priorizando assim uma tomada de consciência coletiva, com vista a reconhecer
que não e só na escola que o aluno aprende. Ele aprende em pesquisa na
Internet, nos televisivos, nas Lan-houses, na conversa com o colega e
principalmente com os produtos da tecnologia presente em quase todas as
atividades da vida atual.
53
Os atuais brinquedos que esperam as crianças ao saírem da aula como
Pokemon, Power Ranger, aos desenhos animados como Chaves, Pica-Pau,
Naruto X YU-Gi-Oh!, X-Men Evolution, Garfield, Bob Esponja, Liga da Justiça e
Os Mutantes como ênfase para os extraterrestre e seres geneticamente
modificados, são histórias que farão parte das lembranças das crianças que
nasceram no inicio de século XXI e os ajudarão a discernir entre o bem e o mal
entre o que é permitido e o que é proibido.
3.3 OS JOGOS E BRINCADEIRAS UMA ESPERANÇA PARA A ESCOLA
Para Paulo Freire ensinar exige alegria e esperança, uma vez que a
escola vem se tomando um ambiente que pauta pela luta em manter o aluno
estudando, com a finalidade de fazer desse aluno um ser que mereça a sigla de
"humano".
O reflexo maior desta questão são os problemas que afetam
diretamente os profissionais da educação que enfrentam sérios problemas
tais como: a não valorização do profissional, deficiências na formação de
professores, baixos salários, carreiras desestimulantes, escassez de
materiais de apoio ou recursos para facilitar o processo ensino-
aprendizagem e evitar a desmotivação dos alunos.
Os reflexos dessa situação são percebidos nas dificuldades de
aprendizagens dos alunos, na reprovação, na evasão escolar e outros problemas
que afetam o cotidiano das escolas públicas e deixam a desejar o essencial para
as crianças: o brincar e aprender. Fernando Haddad atual Ministro da Educação
enfatiza essa carência dizendo:
Se quisermos um ensino fundamental de qualidade, temos de atender a criança já durante a infância. O atendimento a criança na educação infantil, faz melhorar, indiscutivelmente, seu desempenho no ensino fundamental, reduz tanto a evasão quanto a repetência e favorece o ingresso desta criança no ensino médio com possibilidades de concluí-Io. É no ensino fundamental que se assentam as bases das primeiras noções de tudo o que a criança irá vivenciar no futuro (ANAIS E DELIBERAÇÕES, 2006, p. 32).
54
Neste trabalho postulou-se trabalhar os jogos e brincadeiras como
forma de esperança de que os alunos no futuro possam ser mais solidários. Que
se lembrem das atividades lúdicas da escola como símbolo de que o mundo pode
ser melhor.
No entender de Freire: o envolvimento com a prática educativa,
sabidamente política, moral, gnosiológica, jamais deixou de ser feito com alegria,
para criá-Ia nos educandos, enquanto clima ou atmosfera do espaço pedagógico.
Há uma relação entre alegria necessária a atividade educativa e a
esperança. A esperança de que professor e alunos juntos possam aprender,
ensinar, inquietar-se, produzir e juntos resistir aos obstáculos que se justaponha a
alegria. Neste sentido não pode haver alegria para a criança sem a presença do
brinquedo. As crianças de menor poder aquisitivo esperam o ano inteiro por um
brinquedo que poderá vir ou não na época do Natal.
A esperança faz parte da natureza humana. Seria contradição se o ser
humano não se inscrevesse ou não se achasse predisposto a participar de um
movimento constante de busca e se buscasse sem esperança. A esperança é
uma espécie de ímpeto natural possível e necessário indispensável a experiência
histórica. Sem ela, não haveria História, mas puro determinismo. Só ha História
onde ha tempo problematizado e no pré-dado.
A desesperança do ser humano é a distorção da esperança. Daí que uma das nossas brigas como seres humanos deva ser dada no sentido de diminuir as razões objetivas para a desesperança que nos imobiliza. A luta por um futuro assim prescinde da esperança ( FREIRE, 2002, p.80).
Para FREIRE estar no mundo, "sem fazer tratar sua presença no
mundo, sem sonhar, sem cantar, sem musicar (...), sem politizar e 'sem brincar' é
impossível" .
Se analisar-se a maioria dos currículos escolares, constatam que
existem previsões para o ensino de atividades lúdicas. No entanto observa-se que
é reduzido o número de escolas que as adotam efetivamente.
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Ainda que ela fosse introduzida nos currículos, tendo em vista apenas
aqueles aspectos relativos a recreação, isso seria suficiente para provar a sua
eficácia como complemento de qualquer estrutura educacional. Se observar-se
detidamente os valores dos jogos e das brincadeiras em termos educacionais,
pode se concluir que esta prática é altamente formativa.
Os alunos do Ensino Fundamental necessitam de afirmação perante o
grupo social ao qual está inserido. Para isso, conhecer os gostos, os anseios e
necessidades destes alunos são o primeiro passo para o sucesso das atividades
com jogos e brincadeiras. Buscar assim estabelecer-se uma relação de amizade,
e não de obrigação entre aluno e a escola.
Este trabalho se fundamentou na teoria construtivista e está embasado
na Lei de Diretrizes e Bases da Educação - (LDB) e nos Parâmetros Curriculares
Nacionais - (PCN) e visa unir a brincadeira e aprendizagem.
Através do lúdico o aluno adquire habilidades para buscar a autonomia
para aprender a aprender. Para que ocorra a interação necessária com
conhecimento esperado por parte do professor a criança deve desenvolver sua
mente e auto-estima através da afetividade tornando-se ativa e motivada.
É por meio do brincar que a criança tem oportunidade de relacionar, e
descobrir, de persistir e de preservar a cultura. Durante uma brincadeira ela
capaz de aprender a perder, percebendo que haverá novas oportunidades para
vencer. Aprender a esforçar-se e a esperar, não desistindo facilmente das varias
situações encontradas.
O brincar proporciona a criança possibilidade de criar sua identidade. É
uma oportunidade de desenvolvimento porque faz com que ela solte sua
imaginação e desenvolva a criatividade, possibilitando exercício de concentração,
de atenção e de engajamento social. É através dele que a criança experimenta,
descobre, inventa, exercita e confere habilidades.
Para Freire, (2002): "O brincar é universal, facilita o crescimento e,
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portanto, a saúde, conduz os conhecimentos grupal sendo uma forma de
comunicação consigo mesmo e com os outros".
Todos os aprendizados que o brincar permitem é fundamental para a
formação humana. Brincando a criança estimula a curiosidade, a iniciativa e a
autoconfiança. Brincar desenvolve a linguagem e proporciona aprendizagem. Não
e um simples passatempo. Ajuda no desenvolvimento, promovendo processos de
socialização, ensinando a criança a lidar com suas emoções e descobertas do
mundo. Os educadores, devem ter espírito aberto para o lúdico, reconhecer a sua
importância enquanto fator de desenvolvimento, fazendo-se necessário que
desde cedo as crianças tenham condições de participar de atividades que deixem
florescer a criatividade. A criança precisa sempre, em qualquer hora, em qualquer
lugar, de brincar. Este é o trabalho da criança. Assim, se tomará, em seu tempo,
um adulto responsável, de sucesso e principalmente feliz.
Qualquer adulto recorda os velhos tempos de criança, onde as
brincadeiras eram ensinadas entre os amigos, vizinhos e promoviam, além de
divertimento, a manutenção da saúde e do desenvolvimento social e psicomotor.
Nos dias de hoje, a preocupação continua sendo a mesma: da criança
interagir em grupo e desenvolver-se. Porém, os meios que favorecem essa
interação mudou do Iúdico para p tecnológico. Algumas crianças passam parte do
seu tempo jogando no computador e no vídeo-game, mesmo que haja espaço e o
dia de sol convida para brincar ao ar livre.
Em diversos livros que tratam do tema do desenvolvimento infantil,
exemplos são dados, mas não um modelo que deve ser seguido que está
ocorrendo, segundo algumas publicações em revistas e jornais, e a numerosa
procura por soluções alternativas, onde as crianças possam gastar sua energia.
Um exemplo conhecido é aquele que, quanta mais atividades a
criança abranger (inglês, natação entre outras), melhor será seu desempenho na
escola. Atividades extras são extremamente produtivas, todavia não engloba tudo
o que a criança precisa para crescer saudável e manter um bom círculo de
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amizades. É comum as crianças realizarem todas as tarefas da escola, apenas
não tem tempo para a tarefa principal desta fase: o brincar, pois seguem horários
rígidos até para a diversão. Neste sentido a escola precisa suprir esta falta.
Antunes (2002, p. 41) propõe algumas dicas de como usar os jogos em
sala de aula. Segundo esse autor, para que o jogo venha surtir o efeito desejado
é preciso que haja condições para a aplicação dos mesmos. Sendo necessário a
observação de quatro elementos essenciais: a) capacidade para elevar a auto-
estima do aluno; b) condições psicológicas favoráveis; c) condições ambientais; d)
fundamentos técnicos. Em sua obra Jogos para a estimulação das múltiplas
inteligências, Antunes apresenta cerca de 370 jogos, propícios .para sala de aula.
Veja alguns exemplos nos anexos.
Ao pensar-se na importância do jogo no desenvolvimento global da
criança, o jogo seja de que tipo for, e o meio natural da criança se auto-expressar.
A criança tem dentro de si um potencial inato para o jogo e este emerge nas
situações de sua vida, e nestes momentos, o indivíduo apresenta ao mundo seu
ritmo e sua harmonia. Jogo quer dizer: divertimento, brincadeira, passa-tempo
sujeito a regras que deve ser obedecidas quando se joga. Assim pode-se concluir
que todo jogo verdadeiro representa uma metáfora da vida (id, p. 11) já que
detém a oportunidade de liberar os sentimentos e descontentamentos alem de ser
um estímulo ao crescimento, ao desenvolvimento cognitivo e aos desafios do
viver e não uma competição que implica em vitória ou derrota.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após profunda pesquisa a fontes bibliográficas, estudo, reflexão
individual chegou-se a conclusão de um trabalho, o qual trouxe experiência e a
satisfação de apresentar meios para auxiliar na problemática que permeia o
ensino-aprendizagem: a ausência de brincadeiras na escola. Os novos
paradigmas do ensino precisam orientar o aluno aprender os conceitos ditados
pelo universo atual não só para atender as exigências da escola, mas como a
Iinguagem do mundo contemporâneo modificado pela tecnologia, mas que faz
parte do universo que ele irá conviver.
No percurso deste trabalho foi possível perceber que as idéias dos
teóricos como Vygotsky, Piaget, Howard Gardner, Paulo Freire, Celso Antunes, e
Makarenko convergem para o mesmo horizonte: é preciso que a escola se
coloque efetivamente disposta a implementar uma teoria mais crítica e mais
espontânea que valorize o conhecimento as aptidões do aluno, respeitando suas
vocações, cultura, sexualidade, subjetividade e sua forma de organizar-se para
viver com mais qualidade numa sociedade em constante mudanças.
A proposta de trabalhar dentro da perspectiva de transformar o aluno é
leva-Io a gostar da escola, leva a crer que jogos e brincadeiras poderão ser
relevantes para que uma intervenção pedagógica possa lograr a eficácia
esperada.
Muitas são as falas a respeito de transformar a escola num lugar que
privilegie as vocações e gosto do aluno, mas parece longe ser uma realidade
afirmar que a escola seja esse lugar. Toda criança gosta de brincar e os espaços
de brincadeiras na escola são mínimos, resultando daí estresse indisciplina em
sala de aula.
Ficou claro, que a forma pedagógica de atuar hoje, está longe de ser o
ideal, mas aponta um sinal positivo quanto ao uso de jogos e brincadeiras na
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escola admitindo que a escola precisa se adequar aos novos recursos da
tecnologia e buscar formas de capacitar os professores para ministrar as aulas
mais significativas, reconhecendo que o aluno não é apenas um aparelho
biológico, mas é dotado de emoções, sentimentos e inteligências, e o professor
deve atuar como um mediador das "inteligências dos alunos".
Jogos e brincadeiras devem fazer parte do cotidiano escolar. Assim a
escola poderá responder diferentemente das formas educacionais propostas até
agora sobre a formação integral do aluno e prepará-Io para que ele seja capaz de
intervir no seu próprio desenvolvimento social, afetivo, cognitivo e para contribuir
para a formação de uma sociedade mais justa e humanizada.
Este trabalho não esta pronto, acabado. Mas pode ser revisado,
ampliado e melhorado, pois o conhecimento se renova a "todo" instante.
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ANEXOS