UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
CENTRO DE EDUCAÇÃO Á DISTÂNCIA
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO CONTINUADA – MINISTÉRIO DO ESPORTE
CURSO DE ESPECIALIZAÇAO EM ESPORTE ESCOLAR
POR UM CURRÍCULO MULTICULTURAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA
AUTOR: FÁBIO FERNANDO DE ARAÚJO
ORIENTADOR: PROF.DR. MARCOS GARCIA NEIRA
SÃO PAULO
2007
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FÁBIO FERNANDO DE ARAÚJO
POR UM CURRICULO MULTICULTURAL DA EDUCAÇÃO FÍSICA
Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação á distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte pela obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador: Profª. Dr. Marcos Garcia Neira
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Agradecimentos Aos meus pais, Antonio Fernandes Araújo e Maria Camargo de Araújo, pela minha história. Ao Prof. Dr. Marcos Garcia Neira, pela orientação, apoio e incentivo. Meu muito obrigado. Aos Professores Ariovaldo Luiz Mudo e Ademar Ferreira Fagundes, pela influência e pela sustentação na minha trajetória. A equipe CEAD – UnB, a E.E. Mario Nakata, ao C.E.U. Vila Curuçá, e aos alunos sem os quais este estudo não se realizaria. E a todos aqueles que contribuíram direta e indiretamente para que esta pesquisa se concretizasse.
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RESUMO
O presente estudo teve como objetivo apresentar as possíveis contribuições de um currículo da Educação Física escolar multiculturalmente orientado, partindo -se da idéia de que o grande desafio da educação brasileira tem sido investir na superação da discriminação e o reconhecimento da riqueza representada pela diversidade cultural que compõe o patrimônio nacional. Buscou-se verificar que a legitimação de qual conhecimento deva ser transmitida pela escola é um dos grandes entraves atuais existentes no campo educacional. Através de um estudo baseado na revisão de literatura sobre o tema, concluiu-se que ao considerar-se que a escola é local para conviver, aceitar e discutir as diferenças, buscando o desenvolvimento de valores como a eqüidade e a convivência respeitosa, o currículo multicultural da Educação Física apresenta-se como alternativa relevante. Palavras-chave: Educação Física; Currículo; Multiculturalismo.
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SUMÁRIO
CAPITULO I - INTRODUÇÃO..................................................................................06 1. JUSTIFICATIVA ................................................................................................10
1.1. OBJETIVOS...................................................................................................12 1.1.1 Objetivo Geral ...........................................................................................12 1.1.2 Objetivos Específicos ..............................................................................12 CAPITULO II - REVISÃO DE LITERATURA ..........................................................13
2.1 O Currículo Escolar.......................................................................13
2.2. A Educação Física Escolar no Brasil......................................................16
2.3 A Cultura Corporal....................................................................................21
2.4 O Currículo Multicultural...........................................................................25
CAPITULO III - CONSIDERAÇÔES FINAIS............................................................30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................33
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1. INTRODUÇÃO
Por volta do século XVIII, filósofos preocupados com a educação empregaram
o termo “Educação Física” como referência ao principio básico da educação integral
[corpo, mente e espírito], nele situando a base para o desenvolvimento pleno da
personalidade na formação de jovens e adultos. A Educação Física foi agregada a
outras formas de educação como a educação intelectual e a educação moral, cujos
resquícios permanecem entre os atuais currículos escolares conferindo obediência
aos critérios de divisão do conhecimento que impera na ciência moderna. Assim
como ocorre com outras disciplinas que correspondem às áreas de um saber mais
cientifico e erudito, se desenvolvendo de forma isolada e sistematizada, tendo como
base conhecimentos estabelecidos em séculos passados. Neste contexto não só a
Educação Física, mas outras disciplinas ficaram marginalizadas em relação a suas
finalidades e propósitos.
Portanto, é compreensível que historicamente a tradição educacional
brasileira tenha situado a Educação Física como uma atividade complementar e
relativamente isolada nos currículos escolares, com objetivos na maioria das vezes
determinados de fora para dentro: treinamento pré-militar, eugenia, nacionalismo,
preparação de atletas, etc. Hoje vemos essas concepções completamente
esgotadas, em função das transformações político-econômico que passaram por
nossa sociedade nas ultimas décadas.
Essas concepções permearam a Educação Física durante anos, servido aos
propósitos de desenvolvimento físico e moral selecionando os indivíduos fisicamente
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perfeitos com o propósito de servir à nação e excluindo os “incapacitados”. A partir
do golpe militar de 1964 o governo passa a utilizar a escola como fonte de
propaganda do regime militar e em especial a Educação Física, onde se reafirmara
um forte predomínio dos conteúdos esportivos. Assim, o esporte através da
Educação Física Escolar exercia um poder de dissuasão através da recreação e do
lazer como forma de desviar a atenção da população para os problemas enfrentados
pelo país.
Neste período, o rendimento e a seleção dos mais habilidosos, mais uma vez
promovia a exclusão dos alunos que não se encaixavam nesse perfil, naquele
momento a Educação Física servia fortemente aos propósitos de controle social em
função do momento político que imperava na época.
Ainda na década de 1960 sob a influência do movimento escolanovista,
novas formas de pensamento iriam alterar a pratica e a postura profissional, mesmo
que timidamente.
A Educação Física passaria por profundas mudanças em suas concepções
somente na década de 1980, em um processo de transformação tanto na área
acadêmica como na pratica pedagógica. Simultaneamente o país passava por uma
serie de transformações na área político-econômica sendo este período denominado
como “redemocratização”. Essas transformações alteraram profundamente a escola,
através da constituição de 1988, do ECA e principalmente da LDB que viria sugerir
um novo posicionamento para a Educação Física na escola, conferindo-lhe o status
de componente curricular obrigatório.
A partir desse momento a escola passa a tentar promover e garantir o acesso
democrático à educação através da legislação vigente. A escola passa a enfrentar
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os desafios que essa “redemocratização” exigiu: “escola para todos” e “ensino de
qualidade” deveriam ser suas metas e obrigações.
Sob essa influencias e transformações, a Educação Física não passaria ilesa.
Em contraposição às concepções biológica e esportivista, surgiram propostas na
tentativa de romper com os modelos anteriores surgindo outras como a
Psicomotricidade, Desenvolvimentista, Construtivista, Critico-Superadora, Critico
Emancipatoria, Saúde Renovada e PCN’s.
Partindo da premissa de que o multiculturalismo desafia discursos que
homogeneízam identidades culturais e busca reconstruí-los em novas perspectivas,
acreditamos nas formas pelas quais o pensamento multicultural pode contribuir na
desconstrução da idéia massificada de corpo e de atividades físicas escolares, de
modo a valorizar a pluralidade de expressões corporais e de identidades enfatizando
suas implicações na educação para a valorização da diversidade cultural e o desafio
aos preconceitos vigentes. É preciso esclarecer que o multiculturalismo constitui
uma ruptura com a perspectiva na qual se acreditava na homogeneidade e evolução
“natural” da Humanidade rumo a um acúmulo de conhecimentos que levariam à
construção universal do progresso.
Ao contrário, entende-se por multiculturalismo a abordagem que vai além da
valorização da diversidade cultural em termos folclóricos ou exóticos, mas sim
aquela que questiona a construção das diferenças e, por conseqüência, dos
estereótipos e preconceitos contra aqueles percebidos como diferentes em
sociedades desiguais e excludentes. Nesse contesto, a escola e a Educação Física
de modo particular, tenderam, ao longo da sua história, a silenciá-los e neutralizá-
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los, sentindo-se muito mais seguras e confortáveis com a homogeneização e a
padronização.
Tem-se discutido nos últimos anos a Educação Física Escolar numa
perspectiva cultural, e é a partir deste referencial que consideramos a Educação
Física como parte da cultura humana. Ou seja, ela se constitui numa área de
conhecimento que estuda e atua sobre um conjunto de práticas sociais ligadas ao
corpo e ao movimento, criadas e recriadas pelo homem ao longo de sua história: os
jogos, as ginásticas, as lutas, as danças e os esportes.
Construir um currículo baseado no multiculturalismo requer dos professores,
novas posturas, novos saberes, novos conteúdos e novas estratégias de ensino.
Segundo Neira (2006) currículo é um processo discursivo intimamente ligado a
nossa identidade, à nossa subjetividade, à nossa personalidade. O currículo é forma
de política cultural. O currículo define relações de poder.
Tendo em vista a atualidade do tema do multiculturalismo e a necessidade de
investigações que aprofundem nessa discussão, configura-se como problema de
investigação nessa pesquisa a seguinte questão: Quais contribuições poderá
oferecer o currículo multicultural à Educação Física escolar?
Para responder a esta questão, procedemos a uma pesquisa bibliográfica e
encontramos como descobertas mais relevantes alguns princípios orientadores para
a implementação do currículo multicultural da Educação Física escolar como forma
de promover uma nova sociedade, uma sociedade multicultural, valorizando os
saberes e as manifestações populares que a criança carrega para a escola e a
articulação desses com a cultura da escola. Assim, dentro deste modelo, a
Educação Física serve como experiência potencializadora para a transformação da
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nossa sociedade, rompendo com o modelo centralizador, neoliberal e excludente
vigente em nossa sociedade.
1.2 JUSTIFICATIVA
A Educação Física escolar, historicamente, sempre encontrou dificuldades e
obstáculos para reconhecer e valorizar a diversidade cultural, em função das
diversas concepções pedagógicas que permearam sua trajetória quase sempre
servindo a interesses políticos e econômicos, bem como, ao modelo de cidadão que
cada uma dessas concepções pretendeu formar. Dada a atualidade do tema, se faz
necessário que se investigue e aprofunde a discussão sobre o currículo multicultural
na escola, esta pesquisa, de caráter teórico, tem como objetivo aproximar a
Educação Física desse panorama temático.
O presente trabalho busca fazer um estudo sobre o reconhecimento e a
valorização da diversidade da cultura corporal na escola. Nesse sentido, uma das
grandes dificuldades da educação brasileira tem sido encontrar caminhos para a
superação da discriminação e reconhecer a riqueza representada pelo patrimônio
cultural que compõe a nossa sociedade. Nesse aspecto o currículo multicultural tem
a convicção de que todas as crianças possuem um patrimônio cultural que precisa
ser reconhecido, socializado e ampliado no espaço escolar.
A pedagogia multicultural abre espaços para as manifestações e a
valorização da cultura popular e de movimento dentro do ambiente escolar. Muitas
vezes, dentro do processo escolar, esses conteúdos só encontram significado nas
chamadas atividades extraclasse, sendo denominadas de atividades
complementares, extra-escolares ou de lazer, situando-se à margem do currículo de
Educação Física. A legitimação de qual conhecimento deva ser transmitido pela
escola é uma dos grandes dificuldades existentes no campo educacional. Nesse
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sentido, a escola deve ser o local de diálogo, de aprendizagem, de convívio,
respeitando e valorizando as diferentes formas de expressão cultural.
Acreditamos que a elaboração e implementação de um currículo multicultural
permitirá ações políticas e democráticas de igualdade de oportunidades, além de
excluir ações de desigualdade e injustiças sociais.
Num contexto de uma sociedade cada vez mais heterogênea no que se refere
à cultura e etnias, a construção de um currículo multicultural privilegia não somente
os alunos excluídos do processo hegemônico de ensino como se faz necessário aos
alunos de classes sociais mais privilegiadas e elitizadas como forma de reconhecer,
valorizar e respeitar a diversidade cultural.
Quando falamos de escola de qualidade para todos, não podemos deixar de
lado o pluralismo, o respeito aos saberes culturais que o aluno traz para dentro da
escola, essa educação multicultural hoje muito defendida por educadores e
movimentos sociais, busca superar os preconceitos, de raça, etnia e gênero, onde
os grupos sociais historicamente subalternizados são os principais excluídos na
escola. Uma escola de qualidade para todos deverá prover uma educação a todos
que têm acesso a ela, na qual a quantidade e qualidade não sejam excludentes.
A ausência de metas comuns a todas as pessoas, independentemente de sua
etnia, gênero ou classe social é o grande desafio dentro do ambiente escolar.
Estabelecer metas que sejam justas e que abranjam a todos os grupos
sociais é fundamental para que todos tenham direitos iguais a oportunidades de
sucesso e que permitam uma mudança social a partir do próprio processo escolar.
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1.3. OBJETIVOS
1.3.1 Objetivos Gerais
Apresentar os possíveis benefícios de um currículo multiculturalmente orientado para a Educação Física escolar
1.3.2 Objetivos Específicos
Destacar a importância do reconhecimento e a valorização da cultura corporal no Currículo Multicultural.
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2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 O Currículo Escolar
Etimologicamente a palavra Currículo vem de Curriculum, ou pista de corrida,
sintetizado na idéia de o que somos e o que nos tornamos. Atualmente a
compreensão em torno do Currículo privilegia mais o por quê do que o quê,
refletindo o conjunto de reflexões e práticas vivenciadas na escola. De qualquer
forma, o pano de fundo para qualquer teoria curricular é a de saber qual
conhecimento deve ser ensinado, pois o Currículo é sempre o resultado de uma
seleção de conteúdos e conseqüentemente da exclusão de outros.
Durante a década de 60, sobretudo nas culturas européias e estadunidenses,
momentos de contestação e mobilização vividas pela sociedade do período
trouxeram a tona diversas teorias de crítica aos currículos tradicionais. As teorias
críticas viriam desconfiar daquele status quo vigente na época, responsabilizando-o
pelas desigualdades e injustiças sociais.
De acordo com Silva (2003), um dos marcos significativos da discussão sobre o
Currículo tem início no ano de 1918 nos EUA com o lançamento da obra “The
Curriculum” por Bobbitt. Nesta época em diferentes forças econômicas, políticas e
culturais procuravam moldar os objetivos da educação de massa de acordo com
suas diferentes visões. Ainda segundo Silva (1999) a pergunta que não calava era:
deve-se formar o trabalhador especializado ou proporcionar uma educação geral e
acadêmica à população? Em outras palavras, o que deve ser conteúdo de ensino e
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aprendizagem? Diferentes concepções e forças políticas estabelecem a disputa em
torno de seus diferentes objetivos, que por sua vez delineariam o Currículo.
Tradicionalmente o conceito de Currículo limitava-se a nada mais que uma lista
de conteúdos que deveriam ser ministrados na escola. Só na década de sessenta
vamos compreender melhor a legitimidade desta lista, ou porque ela se estabeleceu
por tanto tempo para os educadores e educadoras, como algo definido e estático
que deveria ser seguido sem questionamentos. Hoje sabemos que o importante não
é desenvolver técnicas de como fazer o Currículo, mas desenvolver conceitos que
nos permitam compreender os efeitos que ele produz.
Segundo Aplle (2000): “O Currículo nunca é simplesmente uma montagem
neutra de conhecimentos, que de alguma forma aparece nos livros e nas salas de
aula de um país. Sempre parte de uma tradição seletiva, da seleção feita por
alguém, da visão que algum grupo tem do eu seja o conhecimento legítimo. Ele é
produzido pelos conflitos, tensões e compromissos culturais, políticos e econômicos
que organizam e desorganizam um povo”.
As teorias do Currículo deduzem o tipo de conhecimento considerado
importante a partir das características sobre o tipo de pessoa que querem formar:
Qual o tipo de ser humano desejável para um determinado tipo de sociedade?
Alguém com um perfil racional e ilustrado do ideal humanista de educação?
Otimizadora e competitiva que agrade os atuais modelos neoliberais de educação?
Uma pessoa desconfiada e crítica dos arranjos sociais existentes preconizadas nas
teorias educacionais críticas? A cada um desses modelos de ser humano
certamente corresponderá um tipo de conhecimento, um tipo de currículo.(SILVA,
2003).
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Então a partir dos estudos de Bourdieu e Passeron se verifica que a dinâmica
da reprodução social se dá por meio do processo de reprodução cultural. Isso se
explica ao considerarmos que a cultura que tem prestígio e valor social é justamente
a cultura das classes dominantes: seus valores, seus gostos, seus costumes, seus
hábitos, etc. Na medida em que vale alguma coisa, ela se constitui como capital
cultural. Essa idéia permite a classe dominante definir sua cultura como a cultura, e
assim através da imposição e ocultação, acaba por aparecer como algo natural,
chamado por estes pesquisadores de dupla violência do processo de dominação
cultural.
Neste sentido, a atuação da escola se dá mediante mecanismos de exclusão.
Como o Currículo da escola está baseado na cultura dominante, que se expressa na
linguagem dominante e é transmitida através do código cultural dominante, a criança
pertencente a estas classes compreendem facilmente o código que lhes é
extremamente familiar, pois se trata de um ambiente muito parecido com o seu. Já
para as crianças e jovens das classes dominadas, esse código é simplesmente
indecifrável, funciona como uma língua estrangeira. Daí que o resultado é que as
crianças e jovens das classes dominantes são bem sucedidos na escola, o que
permite o prosseguimento de estudos em graus mais elevados. Já as crianças e
jovens das classes dominadas, em compensação, só podem encarar o fracasso,
ficando pelo caminho. O capital cultural destas populações não é socialmente
reconhecido. Então é através dessa reprodução cultural que as classes sociais se
mantém como tal, garantindo o processo de reprodução social.
Os estudos sobre o currículo vêm assumindo nas duas últimas décadas um
espaço de grande visibilidade na pauta educacional. No Brasil este debate ampliou-
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se consideravelmente a partir de 1997 com o advento dos Parâmetros Curriculares
Nacionais, os PCN, documentos produzidos pelo Ministério da Educação destinada
a docentes dos diversos sistemas de ensino.
Apontamos o lançamento dos PCN como referência destes estudos, por
entendermos que boa parte das publicações sobre Currículo assumiu múltiplas
posições diante do fato: alguns de apoio, outros de aprofundamento à temática e
também de críticas a propostas de currículo nacional.
Diferentemente das discussões cotidianas pautadas pelo senso comum sobre
o currículo que apontam para um pensamento que valoriza apenas o
conhecimento.O currículo se constitui de um processo que esta intimamente ligada a
nossa identidade, a nossa personalidade. De acordo com Silva (1999) o currículo é
uma forma de política cultural. O currículo define relações de poder.
O currículo na área da Educação Física, muitas vezes viveu sob uma
atmosfera autoritária, de disciplina e controle, transmitindo uma imagem de
desbravamento e vitória. O currículo “técnico esportivo” possuía todo o apoio dos
órgãos oficiais da época.
2.2 A Educação Física Escolar no Brasil
Por volta do século XIX alguns estudiosos e pensadores defendiam a
importância da Educação Física como forma de promover a eugenização da
raça que colocavam o físico a serviço do intelecto. Também era apontada
como uma alternativa contra os problemas de origem ortopédica que
incomodava setores privilegiados da sociedade (NEIRA, 2006).
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O método ginástico caracterizava-se como a principal proposta dentro da
educação física da época, fortemente influenciados pelos métodos do sueco
Ling, o francês Amoros e do alemão Spiess. Dessa forma a Educação Física
tinha como preocupação medidas sócio-sanitárias, sociais e educacionais que
influenciam física e mentalmente, o desenvolvimento das qualidades
hereditárias dos indivíduos e, portanto da sua geração.
Ambas as concepções, higienista e militaristas, da Educação Física
consideravam-na como disciplina essencialmente pratica, não necessitando,
portanto, de uma fundamentação teórica que a desse suporte (DARIDO, 2005).
Com o fim do Estado Novo, pré-elaboração de uma carta magna, que
gerou um debate por parte de diversos educadores sobre os rumos da
educação. Na prática houve apenas uma regulamentação do funcionamento e
controle do que já estava estabelecido. A Educação Física passou a ser vista
como uma prática meramente educativa.
Por volta de 1964 foi promovida uma censura à imprensa e as artes que
contradiziam os interesses militares. A Educação Física entrava em uma fase
tecnicista, privilegiando o esporte e os atletas de alto nível utilizando-se da
propaganda do atleta “herói” como forma de elevar um o espírito ufanista
brasileiro. Foram propagandas com o claro interesse de mostra a força do povo
brasileiro e a necessidade de se acreditar no País e se desviar dos problemas
internos.
Após a abertura política e econômica promovida no país na década de
80, a Educação Física passa por uma crise de identidade, onde sem uma linha
teórica definida acabou ligada a modismos (academia, testes físicos, novas
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modalidades desportivas), também foi o início ainda que tímido de uma filosofia
que visava à organização e mobilização dos trabalhadores, que influenciando a
busca de um caráter social, busca pela inclusão (preocupação com uma
educação física voltada para os deficientes e terceira idade, meninos de rua,
etc).
As Abordagens Pedagógicas da Educação Física podem ser definidas
como movimentos engajados na renovação teórico-prático com o objetivo de
estruturação do campo de conhecimentos que são específicos da Educação
Física. Existem disputas pela hegemonia no pensamento pedagógico e científico
da Educação Física, como também, a construção de seu campo acadêmico
gerando uma diversidade de abordagens norteadoras da Educação Física
brasileira.
A Psicomotricidade surgiu a partir da década de 1970 como primeira forma
articulada de oposição aos modelos anteriores, utiliza-se da atividade lúdica como
impulsionadora dos processos de desenvolvimento e aprendizagem. Trata das
aprendizagens significativas, espontâneas e exploratórias da criança e de suas
relações interpessoais. Focaliza-se na criança pré-escolar, destacando sua pré-
história como fator de adoção de estratégias pedagógicas e de planejamento.
Busca analisar e interpretar o jogo infantil e seus significados.
Tem na Psicomotricidade seus objetivos funcionais, onde os mecanismos
de regulação entre o sujeito e seu meio permitem o jogo da adaptação que
implica nos processos de: assimilação e acomodação. Onde a assimilação, é a
transformação das estruturas próprias em função das variáveis do meio exterior
(LE BOULCH, 1982). O discurso e a pratica da Educação Física sob essa
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influência da psicomotricidade conduz a necessidade do professor se sentir com
responsabilidades escolares e pedagógicas. Busca desatrelar sua atuação na
escola dos pressupostos da instituição esportiva, valorizando o processo de
aprendizagem, e não mais a execução de um gesto técnico isolado
(DARIDO,2005).
A Abordagem Desenvolvimentista busca nos processos de aprendizagem e
desenvolvimento uma fundamentação para a Escolar Física Escolar. É uma
tentativa de caracterizar a progressão normal do crescimento físico, do
desenvolvimento fisiológico, motor, cognitivo e afetivo-social, na aprendizagem
motora. Procura privilegiar a aprendizagem do movimento embora possam estar
ocorrendo outras aprendizagens decorrentes da prática das habilidades motoras.
Os principais autores dessa abordagem como Gallahue e Tani, partem da
idéia de que o movimento é o principal meio e fim da Educação Física, não tendo
nenhuma preocupação com a relevância social dentro desta perspectiva, bem
como auxiliar no desenvolvimento de outras habilidades com a leitura, escrita e
pensamentos lógico-matemáticos. Porém esta abordagem também apresenta
limitações, principalmente no que diz respeito à influência do contexto
sociocultural em relação à aquisição das habilidades motoras. (DARIDO, 2005).
Baseado principalmente na obra publicada em 1992, denominada
“Metodologia do ensino da Educação Física”, os autores que defendem uma
abordagem crítica como Medina, Costa e Bratch acreditam que qualquer
consideração sobre a pedagogia mais apropriada deve versar não somente sobre
questões de como ensinar, mas também sobre como elaboramos conhecimentos
valorizando a questão da contextualização dos fatos e do resgate histórico.
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(NEIRA, 2006). Resumidamente, trata a cultura corporal como elemento
fundamental, visando a aprendizagem da expressão corporal como linguagem.
A avaliação do processo ensino-aprendizagem é entendida como algo além
da aplicação de testes, levantamento de medidas, seleção e classificação de
alunos. Dentro desta perspectiva a Educação Física possui uma função
diagnostica porque faz uma leitura da realidade, onde a interpretação emitira um
juízo de valor.
Busca uma ampla reflexão sobre a possibilidade de ensinar os esportes
pela sua transformação didático-pedagógica e de tornar o ensino escolar em uma
educação de crianças e jovens para a competência crítica e emancipada, onde é
necessário orientar o ensino num processo de desconstrução de imagens
negativas que o aluno interioriza na sua prática de esportes autoritários e
domesticadores. Deve contemplar uma Educação mais emancipadora, voltada
para a formação da cidadania do jovem do que de mera instrumentalização
técnica para o trabalho (KUNZ, 1996).
Este conceito crítico pode ser entendido como a capacidade de questionar
e analisar as condições e a complexidade de diferentes realidades de forma
fundamentada permitindo uma constante auto-avaliação do envolvimento objetivo
e subjetivo no plano individual e situacional.
Mais recentemente, identifica-se na produção acadêmica da Educação
Física, algumas obras que tendem à educação para a saúde. Mesmo possuindo
algumas semelhanças com o modelo higienista esta abordagem possui um
caráter bastante renovado.
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Tendo como campo de estudo a área biológica, tendo como principio
norteador, levantar alternativas que possam auxiliar na tentativa de reverter à
elevada incidência de distúrbios orgânicos associados à falta de atividade física.
(GUEDES & GUEDES,1996). Considera de fundamental importância a promoção
da prática prazerosa de atividades que conduzam ao aperfeiçoamento das áreas
funcionais: resistência orgânica ou cardiovascular; flexibilidade; resistência
muscular e a composição corporal como fatores coadjuvantes na busca de uma
melhor qualidade de vida por meio da saúde.
Essa proposta é denominada de saúde renovada porque incorpora
princípios e cuidados já consagrados em outras abordagens com enfoque mais
sociocultural.
2.3. A cultura corporal
A relação entre as questões corporais e as questões sociais comparece no
cenário acadêmico, primeiramente, pela via da saúde e das conexões entre pobreza
e doença, já no século XIX. Eram estudos voltados para a saúde física e mental no
âmbito do processo de industrialização.
Mas isso não contribuiu para tornar o corpo um objeto de estudo a ser
explorado pelas Ciências Sociais. Na verdade o corpo não chegou a ser um tema de
interesse da Sociologia clássica, como o foram, a religião e o conhecimento que
criaram tradição ao longo da história e se tornaram áreas consagradas.
Havia como que uma divisão de tarefas na qual às Ciências Sociais estavam
reservados os fenômenos “superorgânicos”, aqueles que são resultantes da
capacidade humana de simbolização. Os fenômenos orgânicos eram destinados às
Ciências Naturais.
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O ser humano desde suas origens produziu culturas e de acordo com os
Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2000), a historia da humanidade é uma
historia de cultura, à medida que tudo o que o ser humano faz esta introduzido num
contexto cultural, produzindo e reproduzindo cultura.
Segundo Daolio (2004), a cultura é o principal conceito para a Educação
Física, porque todas as manifestações corporais humanas são geradas na dinâmica
cultural.
Darido (2005) afirma que a cultura pode significar toda a produção humana e
possivelmente essa é a conceituação mais ampla que se pode chegar. O termo
Cultura Corporal tem a intenção de reduzir esse campo à produção humana
vinculada as pratica corporais e suas representações simbólicas, assim como a idéia
de Cultura Física, que é ainda mais restrita.
Assim o termo Cultura Corporal de Movimento permite a ampliação do campo
de analise a todas a praticas veiculadas ao movimento e suas representações, de
maneira semelhante a expressão Cultura Motora, que valoriza o pensamento de que
a Motricidade compreende mais do que aspectos físicos, biológicos ou corporais,
mas também aspectos culturais.
Os estudos sobre a cultura corporal de movimento que fundamentam a
intervenção pedagógica do professor são os conteúdos historicamente para a
Educação Física escolar no Brasil, valorizando as diferenças regionais: os jogos, os
esportes, as ginásticas, as danças, as lutas e a Capoeira, por ser uma expressão
genuinamente brasileira. Assim, não só as regras, a técnica a tática e o aprendizado
desses conteúdos são o foco dos estudos, mas principalmente o contexto em que
acontece sua pratica (SOARES et al., 1992). Os Parâmetros Curriculares Nacionais
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(BRASIL, 1998) entendem a Educação Física como uma área de conhecimento da
Cultura Corporal de Movimento e a Educação Física escolar como um componente
curricular que introduz e integra os alunos nessa Cultura Corporal de Movimento,
formando cidadãos críticos.
No âmbito mundial, a Cultura Corporal de Movimento pode ser entendida
como uma parte da cultura humana, definindo e sendo definida pela cultura geral
numa relação dialética. Segundo Betti (1993), a Cultura Corporal de Movimento
abrange o domínio de valores e padrões de atividades físicas, sobretudo as
institucionalizadas, como o esporte. Os saberes tradicionalmente transmitidos pela
escola provem de disciplinas cientificas, o que a cultura corporal parece não aceitar
sem a devida critica e contextualização, já que a racionalidade cientifica pode
suprimir do movimento humano seu caráter de fenômeno cultural (BRACHT, 1999).
Porém, entendemos que é a Cultura Corporal de Movimento, nas atuais
discussões acadêmicas vislumbradas na Educação Física, que permite associar a
elaboração cientifica dos conhecimentos á pratica pedagógica no meio escolar de
modo mais contextualizado. Parece ser essa área a que mais se aproxima das
condições para a elaboração de conhecimentos baseada na realidade complexa do
cotidiano.
A cultura corporal de movimento tende a ser socialmente partilhada, quer
como prática ativa ou simples informação. Tal valorização social das práticas
corporais de movimento legitimou o aparecimento da investigação científica e
filosófica em torno do exercício, da atividade física, da motricidade, ou do homem em
movimento. Inicialmente restrito ao domínio da Fisiologia do Exercício, área da
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Medicina, esse campo de pesquisa está presente hoje em muitas áreas científicas,
como História, Psicologia e Sociologia, além da Filosofia.
Assim, é só com os movimentos sociais dos anos de 1960, que atingiram
vários setores da cultura e do comportamento, no ocidente, que os corpos vêm a ser
corporeidades.
Rodrigues (2005) explica que nesta época constituiu-se um contexto propício
para estudos que “punham em evidência as diferenças gigantescas entre o humano
e o corpo simplesmente animal”.
A Educação é um processo no qual as experiências que o aluno adquire no
seu próprio ambiente servem de base para conhecimentos mais complexos, que
podem ampliar a visão de mundo e proporcionar autonomia e liberdade às pessoas.
Para ensinar a linguagem corporal devemos ter claro que a alfabetização
desse tipo de linguagem foi feita durante a filogênese do homem, assim, quando ele
nasce já possui todas as capacidades e habilidades para se comunicar
corporalmente, apropriando-se do mundo das ações por um método também
filogenético que é a imitação.
Assim, o primeiro que aprendemos são as ações que estão a nossa volta,
dentro do grupo familiar, o que lhes confere a essas aprendizagens uma relevância,
dado que são as formas de comunicação e convívio dos progenitores as que
passam a ser registrada em nossa memória com um alto grau de afetividade e por
essa razão impregnadas no inconsciente de cada pessoa.
O fato mais relevante dos conteúdos da cultura corporal é que eles são
conhecidos, são de domínio público. Os jogos e brincadeiras e os outros conteúdos
da cultura corporal são conhecidos pela criança. É muito difícil encontrar uma
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criança que não saiba jogar ou brincar ou que não possua informações do jogo ou
da brincadeira antes de efetivamente executá-la.
Nessa perspectiva o indicado é saber que coisa a criança sabe daquilo que
queremos que ela vivencie e assim utilizar esse conhecimento para aproximá-la do
novo ou não vivenciado, dado que na maioria das vezes o "novo", não é mais que
uma variação do conhecido. Saber o que a criança sabe é o ponto chave da
metodologia da apropriação e o ponto de partida da ação pedagógica, já que ponto
de chegada nessa concepção não existe.
A Educação Física enquanto componente curricular da Educação básica deve
assumir então uma outra tarefa: introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de
movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la,
instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, das atividades rítmicas e
dança, das ginásticas e práticas de aptidão física, em benefício da qualidade da
vida. A integração que possibilitará o usufruto da cultura corporal de movimento há
de ser plena – é afetiva, social, cognitiva e motora. Vale dizer, é a integração de sua
personalidade (Betti, 1994).
2.4 O currículo multicultural
Cada sociedade imprime nos indivíduos um modo específico de ser e de
pensar, alheio à vontade de cada um. Cada cultura constitui-se de determinada
maneira, segundo suas crenças, mitos e modos de viver.
O currículo multicultural se apresenta como possibilidade de compreender
esse fenômeno para uma convivência democrática e harmoniosa. Ela se faz
necessária não só em regiões onde ocorrem grandes massas de imigrantes. Ela
30
se constitui num elemento fundamental da educação integral de hoje. Teve início
com a criação e a organização de movimentos "minoritários" que questionavam a
hegemonia do pensamento branco, masculino e ocidental (cristão). É um
movimento contra a discriminação racial ou sexual e a discriminação contra os
imigrantes. A explosão de reivindicações das minorias étnicas, a radicalização
dos lobbies "minoritários" são demonstrações desse movimento cultural que
caracteriza esse final de século.
A implementação de um currículo multicultural torna-se extremamente
relevante quando queremos transpor os problemas através de ações educativas
focadas a integrar e atender as diversidades. Dentro desta perspectiva devem
discutir questões que de classe, gênero, etnia, comumente deixadas de lado em
modelos neoliberais.
Na escola e em especial na Educação Física, a discussão em torno do
currículo nos leva a questionar, a saber, qual conhecimento deve ser ensinado, a
quem serve e destina-se. Contudo, questões de “como” o currículo deve ser
trabalhado continuam a ter sua relevância, mas só vão adquirir significado se
estiverem inseridas dentro de um contexto que releve e indagam pelo “por que”
nas formas de organização do conhecimento escolar.
Na perspectiva de Moreira e Silva (2005), o currículo há muito tempo
deixou de ser apenas um assunto meramente técnico, voltado para questões
relativas aos procedimentos, técnicas e métodos.
Nesta forma de pensar devemos nos inquietar pela forma com a qual
certos conhecimentos acabam prevalecendo e se tornando legítimos em
detrimento de outros, lembrando que nos modelos tradicionais o conhecimento
31
desenvolvido é rígido, inflexível e inquestionável. Neste aspecto a Educação
Física foi fortemente influenciada pelas classes dominantes perpetuando de forma
hegemônica sobre o conhecimento transmitindo valores à classe dominada,
tornando-se inquestionáveis.
Para que o currículo seja legitimo, aceito e compreendido devemos sempre
indagar sobre suas relações com o poder. O currículo não é um elemento
inocente e neutro de transmissão desinteressada do conhecimento social; ele
está implicado em relações de poder, transmite visões particulares e interessadas
(NEIRA, 2006).
Tomando com exemplo o esporte, que na antiguidade sempre fora
considerado mítico e sagrado, muitas vezes atrelado à sobrevivência de
determinados grupos, porém, essa sobrevivência se perpetua até hoje, mas de
maneira individual e egoísta alcançando status social e econômico através do
esporte. Essa cultura esportiva acabou se transformando em uma cultura de
poder que classifica quem entra ou sai por suas características sociais e
econômicas. Por sua vez o processo hegemônico atua na escola através de
métodos e abordagens e na Educação Física configura-se através de uma pratica
pedagógica descontextualizada e sem compromisso. Dentro da cultura corporal
também encontramos praticas conservadoras negando formas de expressão tidas
como “diferentes” sejam elas as diversas formas de jogar, lutar, dançar, etc.
A Educação Física como componente curricular pode ser como uma área
com um conhecimento próprio denominado cultura corporal, abrangendo temas
como o jogo, a dança, a ginástica, outras manifestações corporais como as lutas.
A cultura popular encontra-se inserida no cotidiano, enquanto a pedagogia
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transmite valores e idéias da classe dominante. Essa cultura popular esta
assimilada pelos alunos serve para validar e impor suas experiências e
expectativas, enquanto a pedagogia corrobora as idéias de professores e
gestores da escola. Esses conflitos de idéias e valores devem ser discutidos e
apropriados no currículo escolar.
O movimento é que garante a especificidade na Educação Física na
escola, mas não se trata de qualquer movimento, precisa tratar do movimento
humano contextualizado e significado pelo contexto sociocultural em que esta
inserida.
O currículo multicultural na Educação Física deve enfrentar o desafio de
manter o equilíbrio entre a cultural local, regional, própria de um grupo social ou
minoria étnica, e uma cultura universal, patrimônio hoje da humanidade. A escola
que se insere nessa perspectiva procura abrir os horizontes de seus alunos para
a compreensão de outras culturas, de outras linguagens e modos de pensar, num
mundo cada vez mais próximo, procurando construir uma sociedade pluralista e
interdependente.
Levando-se em conta a gama de diferentes manifestações da cultura
corporal, a escola de acordo como o projeto político-pedagogico devera fazer as
escolhas sobre quais poderão ser estudadas.
Assim ao reconhecer o conhecimento que o aluno trás consigo, o professor
reconhece como sujeito capaz de adquirir novos saberes discuti-los e resignifica-
los, através do conhecimento que a escola pode lhe oferecer.
O professor terá nesta perspectiva condições para dar um novo significado
quando reconhece a cultura corporal de domínio de seus alunos, desta maneira
33
poderá oferecer melhores condições para que possam viver em uma sociedade
multicultural e preparando-os para enfrentar melhor uma luta por sobrevivência.
Temos que reafirmar o ideal de uma sociedade que considere como
prioridade o cumprimento do direito que todos os seres humanos têm de ter uma
boa vida, de ter uma vida em que sejam plenamente satisfeitas suas
necessidades vitais, sociais, históricas (NEIRA, 2006).
34
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Numa perspectiva multicultural, a discussão sobre a forma como ocorre a
socialização dos saberes e a quem eles estão relacionados é fundamental na
Educação Física escolar. Para que se obtenha sucesso na socialização de tais
saberes, estes deverão acontecer de maneira democrática, respeitando e
abrangendo os mais diversos grupos e segmentos que compõe a comunidade
escolar.
As mais diversas manifestações culturais devem elevar a uma elevação de
idéias, crenças e valores, onde cada pratica poderá ser discutida, problematizada,
confrontada e resignificada, afim de que os alunos se identifiquem dentro um
contexto cultural e sua realidade. Estimular que o espaço da aula se torne um
campo fértil para a produção das mais diversas formas de manifestação da
cultura corporal
A essas manifestações devem somar-se outras estratégias quando se tem
em vista o plano cognitivo: discussões sobre temas da atualidade ligados à
cultura corporal de movimento, leitura de textos, dinâmicas de discussão em
grupo, matérias de jornais, revistas, mural de notícias e informações sobre
esporte e outras práticas corporais, organização de campeonatos pelos próprios
alunos, trabalhos escritos, pesquisas de campo, etc.
As ações pedagógicas baseadas na diversidade de grupos culturais
presentes na escola dão subsídios para uma transformação na melhora da
qualidade de sua educação uma vez que o aluno se sente inserido e acolhido
35
quando compreende a realidade em que se encontra. A coleta de informações a
respeito do patrimônio da cultura corporal da comunidade se faz necessário para
que se amplie e valorize estes saberes.
Com base na analise destes dados, o professor tem condições de
organizar e direcionar o currículo abordando temas da cultura corporal,
adequando-o ao longo do ciclo. Este processo deve partir deve partir de uma
temática que esteja presente no universo do aluno, atrelada aos objetivos do
projeto político pedagógico da escola.
Também devemos estar atentos com relação à aplicação de alguns
métodos como a de não encarar a problemática das discriminações e dos
preconceitos de forma superficial, mas sim destacando o conteúdo discriminador
e estimulando a reflexão sobre ele sem esquecer a especificidade do componente
curricular; valorizar as diferentes manifestações culturais espontâneas e propor
situações em que estas se mostrem e sejam problematizadas; escolher e
contextualizar os conteúdos de forma diversificada, favorecendo a formação
multicultural dos alunos; avaliar através de observação sistemática as atitudes
dos alunos com relação ao respeito às diferenças; analisar criticamente os jogos e
as brincadeiras desenvolvidos nas aulas para verificar se os mesmos não
valorizam os alunos que apresentam determinadas capacidades físicas,
notadamente velocidade e agilidade, criando um novo tipo de discriminação: a
dos menos habilidosos; ou mesmo se não reforçam e divulgam preconceitos;
realização de projetos interdisciplinares que objetivem a diminuição de práticas
discriminatórias e levem em consideração a realidade cultural da comunidade na
qual a escola se encontra.
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Refletindo diante desta postura, o professor de Educação Física apresenta
condições para orientar suas ações pedagógicas e os processos de tomada de
decisões visando à formação crítica dos sujeitos da educação.
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