UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ Programa de Pós-graduação em Administração
Curso de Mestrado Acadêmico em Administração
THIAGO DOS SANTOS
MATERIALISMO, CONSUMO EXCESSIVO E PROPENSÃO AO ENDIVIDAMENTO DOS JOVENS UNIVERSITÁRIOS
BIGUAÇU – SC 2012
ii
THIAGO DOS SANTOS
MATERIALISMO, CONSUMO EXCESSIVO E PROPENSÃO AO ENDIVIDAMENTO DOS JOVENS UNIVERSITÁRIOS
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado Acadêmico em Administração da Universidade do Vale do Itajaí, como requisito à obtenção do título de Mestre em Administração. Orientadora: Profa. Dra. Maria José Barbosa de Souza
BIGUAÇU – SC 2012
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THIAGO DOS SANTOS
MATERIALISMO, CONSUMO EXCESSIVO E PROPENSÃO AO ENDIVIDAMENTO DOS JOVENS UNIVERSITÁRIOS
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do título de Mestre em
Administração e aprovada pelo Curso de Mestrado Acadêmico em Administração, da
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI.
Área de Concentração: Marketing
Biguaçu, 26 de abril de 2012.
Prof. Dr. Carlos Ricardo Rosseto UNIVALI – Biguaçu
Coordenador do Programa
BANCA EXAMINADORA
Profa. Dra. Maria José Barbosa de Souza UNIVALI – Biguaçu
Orientadora
Prof. Dr. Carlos Ricardo Rosseto UNIVALI – Biguaçu
Avaliador
Prof. Dr. Miguel Angel Verdinelli UNIVALI – Biguaçu
Avaliador
Prof. Dr. Tomás Guimarães de Aquino, Ph.D UNB – Universidade de Brasília
Avaliador Externo
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Dedico aos meus amados pais, Lenirce e Orlandino.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço imensamente:
A Deus, por prover de sua luz. Guiar-me no caminho da vida.
Aos meus pais, Lenirce e Orlandino, pelo carinho e estímulo para a conclusão
desse estudo. Referências de vitória, conquista e luta pela vida. Amor incondicional!
Ao meu irmão, Alexandre, amigo e companheiro. Gratidão eterna.
À luz que me guia e me protege. Alma que me alivia e me acalenta, ligados
somos pelo coração e pelo amor.
A Nilana Rodrigues, pelo carinho e por ser peça fundamental de motivação
para o término deste estudo. Amizade imensa e amor intenso, ambos renovados a
cada dia.
A Ana Lúcia, amiga e companheira. Obrigado por fazer parte desta minha
vitória.
Aos meus amigos de mestrado: Elvis, Maria da Graça, Leonardo, Matusalém
e Isabel, pelo carinho, pelos conselhos e pela parceria. Muito obrigado por
compartilharem comigo momentos tão especiais!
À minha querida orientadora Profa. Dra. Maria José Barbosa de Souza, por
acolher-me e sempre auxiliar nas minhas dúvidas e nos meus anseios, além de
dispor da sua experiência e conhecimento para este trabalho. Por saber retirar de
qualquer situação o aprendizado. Muito obrigado pelo carinho e pela amizade. Você
é, sem dúvida, um exemplo profissional!
À Univali e a todos os professores que, de alguma forma, contribuíram para a
minha formação, em especial: o Prof. Dr. Carlos Ricardo Rossetto, o Prof. Dr. Miguel
Angel Verdinelli e a Profa. Dra. Christiane Kleinübing Godoi. Brilhantes
ensinamentos.
Ao Prof. Dr. Tomás Guimarães de Aquino, pela satisfação de tê-lo como
membro convidado para a banca de defesa deste estudo.
Aos demais amigos e familiares que, de alguma forma, contribuíram para o
término desta dissertação.
Batalha vencida, que venham as próximas!
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“No Egito, as bibliotecas eram chamadas ‘Tesouros dos remédios da alma’. De fato é nelas que se cura a ignorância, a mais perigosa
das enfermidades e a origem de todas as outras.”
Jacques Bossuet
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RESUMO
Atualmente, o Brasil passa por uma mobilidade e estratificação social, bem como estabilidade e o aquecimento da economia. Esses fatores, adicionados aos valores materialistas da população, fazem com que os consumidores fortaleçam seus desejos de consumo e as facilidades oferecidas por agências financiadoras proporcionam o acesso à compra de bens e serviços que nunca haviam consumido. Diante da ótica do comportamento do consumidor, este estudo objetiva analisar a relação entre materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento do jovem universitário. Para responder aos objetivos desta investigação, foi realizada uma pesquisa descritiva, com aplicação das estratégias qualitativa e quantitativa. A primeira, com a realização de dois grupos focais, permitiu conhecer características dos jovens universitários e seus comportamentos relacionados aos três construtos utilizados: materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento. Já a segunda abordagem consistiu de um survey (levantamento), aplicado a 415 estudantes de diversas cidades do Estado de Santa Catarina, cujos dados foram obtidos por meio de questionários impressos, autopreenchíveis e presenciais. Aos resultados da pesquisa foram aplicadas as análises estatísticas: descritivas (média, desvio padrão, teste t, correlações de Pearson e Spearman) e multivariadas (análises fatoriais, cluster e regressão logística). O materialismo manteve índices expressivos entre os jovens pesquisados. As mulheres apresentaram-se como mais materialistas, com uma média de 3,607 em uma escala de 1 a 7, idade até 20 anos (3,714), e mais endividadas (3,618). O consumo excessivo obteve médias baixas, no entanto, homens (2,433), solteiros (2,439) e endividados (2,449) indicaram os maiores escores. A propensão ao endividamento apontou que homens (4,466), com idade entre 21 e 30 anos (4,475), solteiros (4,789) e das classes econômicas C e D (4,559), foram mais propensos ao endividamento financeiro. A aplicação da análise fatorial no construto de consumo excessivo permitiu reduzir a escala proposta por Wu (2006) de 5 para 3 dimensões, na qual todos os fatores obtiveram confiabilidades válidas para futuros estudos. A análise de cluster permitiu estabelecer diferenças nas atitudes de compra entre as classes econômicas dos entrevistados. Os resultados indicam que os indivíduos de baixa renda são mais propensos ao endividamento financeiro, pois não se mostraram preocupados com a reputação de devedor na sociedade, não se importam em poupar agora para consumir no futuro e compram produtos e serviços mesmo sem condições financeiras. O autocontrole dos gastos, dimensão que indica a gestão do rendimento, obteve a menor média do construto de propensão ao endividamento. Por fim, a regressão logística apontou que existe associação entre os três construtos. Porém, como os coeficientes dessa análise apresentaram-se similares não se pode determinar o que causa o endividamento dos indivíduos pesquisados. Este acontece, em sua maior parte, por atitudes positivas ao materialismo (0,270), seguidas do consumo excessivo (0,205) e por serem propensos ao endividamento (0,139). Palavras-chave: Materialismo. Consumo Excessivo. Endividamento. Jovens Universitários. Baixa Renda.
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ABSTRACT
Currently, Brazil is going through a mobility and social stratification and through a stable and growing economy. These factors, added to the materialistic values of the population, makes the consumers to strengthen their consumer desires, and the facilities offered by funding agencies, provide access for goods and services that never consumed. Given the perspective of consumer behavior, this study aims to analyze the relationship between materialism, excessive buying and the propensity of the indebtedness young university. To meet the objectives of study, we performed a descriptive study, with application of qualitative and quantitative strategies. First, the completion of two focus groups helped identify characteristics of college students and behaviors related to the three constructs used: materialism, excessive buying and the propensity of the indebtedness. The second approach consisted of a survey, applied to 415 students from various cities of the State of Santa Catarina, whose data were obtained through questionnaires printed, self fallible and face to face. The results of research, statistical analyses were applied (mean, standard deviation, t-test, Pearson and Spearman correlations) and multivariate (factor analyses, cluster and logistic regression). Materialism indices remained significant among young people surveyed and women presented themselves as more materialistic, with an average of 3.607 on scale of 1 to 7, up to age of 20 years old (3.714), and more debit (3.618). The excessive buying rated lower results, however, men (2.433), single (2.439) and debtor (2.449) shoed the highest scores. The propensity for debit, found that men (4.466), aged between 21 and 30 years old (4.475), single (4.789) and socioeconomic classes C and D (4.559) were more prone to financial debit. The application of factor analysis in the construct of excessive buying has reduced the scale proposed by Wu (2006) from 5 to 3 dimensions, in which all factors has reliabilities valid for future studies. Cluster analysis allowed determining differences in attitudes towards purchases between economic classes of respondents. The result indicates that low-income individuals are more prone to financial debt, because they were not more concerned about the reputation of a debtor in society. They are net concerned about saving now to consume in the future and buy products and services without financial conditions. Self-control spending, a dimension that indicates the performance management, had the lowest average propensity to construct debit. Finally, logistic regression showed that an association exist between the three constructs. However, the coefficients of this analysis showed similar results cannot determine what causes the indebtedness of individuals surveyed. This happens for the most part, positive attitudes to materialism (0.270), followed by excessive buying (0.205) and being prone debit (0.139). Keywords: Materialism. Excessive Buying. Indebtedness. University Students. Low Income.
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LISTA DE FIGURAS Figura 1 Níveis de compra excessiva à compra compulsiva........................... 44 Figura 2 Causas do endividamento................................................................. 49 Figura 3 Mesorregião do Vale do Itajaí............................................................ 72 Figura 4 Microrregião de Florianópolis............................................................. 73 Figura 5 Gênero e ocupação profissional dos entrevistados........................... 85 Figura 6 Caminho de Influências ..................................................................... 126 Figura 7 Análise Fatorial Confirmatória: Materialismo, Consumo Excessivo e
Propensão ao Endividamento ........................................................... 128
x
LISTA DE QUADROS Quadro 1 Construto de materialismo de Richins e Dawson (1992).................. 29 Quadro 2 Síntese de construções teóricas de materialismo............................. 32 Quadro 3 Síntese das relações entre o materialismo e idade, gênero e
renda.................................................................................................
36 Quadro 4 Dimensões do construto de consumo excessivo. ............................ 40 Quadro 5 Resultados do construto aplicado aos estudantes e adultos............ 41 Quadro 6 Quadro comparativo entre compra excessiva, compulsiva
e impulsiva........................................................................................
45 Quadro 7 Síntese de construções de propensão ao endividamento. .............. 52 Quadro 8 Síntese das relações entre endividamento e idade, gênero e
renda.................................................................................................
54 Quadro 9 Afirmativas da escala de Lea, Webley e Walker (1995)................... 57 Quadro 10 Dimensões e afirmações do construto de Moura (2005).................. 58 Quadro 11 Produtos e fontes de crédito da baixa renda – Setor Formal,
Semiformal e Informal.......................................................................
63 Quadro 12 Construto de Materialismo de Richins e Dawson (1992)
– Centralidade...................................................................................
77 Quadro 13 Construto de Materialismo de Richins e Dawson (1992)
– Felicidade.......................................................................................
77 Quadro 14 Construto de Materialismo de Richins e Dawson (1992)
– Sucesso.........................................................................................
78 Quadro 15 Construto de consumo excessivo de Wu (2006). ............................ 78 Quadro 16 Construto de propensão ao endividamento de Moura (2005).......... 80
xi
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Inadimplência no Brasil..................................................................... 50 Tabela 2 Cidades e habitantes da microrregião de Itajaí................................. 73 Tabela 3 Cidades e habitantes da microrregião de Florianópolis.................... 74 Tabela 4 Cidades e número de alunos matriculados nos cursos de
graduação..........................................................................................
74 Tabela 5 Amostragem da pesquisa em campi e municípios............................ 75 Tabela 6 Amostra da pesquisa planejada e realizada...................................... 82 Tabela 7 Alunos, cursos e campus universitário.............................................. 83 Tabela 8 Variáveis sociodemográficas dos pesquisados................................. 83 Tabela 9 Gênero e situação civil dos entrevistados......................................... 84 Tabela 10 Classificação econômica da amostra................................................ 85 Tabela 11 Diferenças entre os valores do Critério Brasil e IBGE....................... 86 Tabela 12 Variáveis econômicas e endividamento dos pesquisados................ 87 Tabela 13 Comparação dos dados sociodemográficos e endividamento
financeiro...........................................................................................
89 Tabela 14 Níveis de endividamento dos estudantes........................................ 90 Tabela 15 Comparação entre ato de poupar e endividamento.......................... 91 Tabela 16 Níveis de gastos e consumo............................................................. 91 Tabela 17 Índices de confiabilidade dos construtos........................................... 92 Tabela 18 Purificação do construto de materialismo.......................................... 93 Tabela 19 Questões utilizadas para mensurar o materialismo.......................... 93 Tabela 20 Purificação do construto de propensão ao endividamento................ 94 Tabela 21 Questões utilizadas para mensurar a propensão ao
endividamento...................................................................................
95 Tabela 22 Médias e desvios padrão do construto de materialismo................... 96 Tabela 23 Médias gerais do construto de materialismo com afirmativas
reversas.............................................................................................
97 Tabela 24 Variáveis sociodemográficas e materialismo.................................... 98 Tabela 25 Correlações de Spearman entre gênero e materialismo................... 100 Tabela 26 Correlações entre idade, classes econômicas e materialismo.......... 100 Tabela 27 Médias de materialismo com níveis de gastos, consumo e
economia...........................................................................................
101 Tabela 28 Médias e desvios padrão do construto de consumo excessivo
dos entrevistados...............................................................................
102 Tabela 29 Médias gerais do construto de consumo excessivo com afirmativas
reversas.............................................................................................
105 Tabela 30 Variáveis sociodemográficas e consumo excessivo......................... 106 Tabela 31 Correlação de Spearman entre consumo excessivo e gênero.......... 107 Tabela 32 Correlações de Pearson entre idade, classes econômicas e
consumo excessivo...........................................................................
108 Tabela 33 Médias e desvios padrão do construto de propensão ao
endividamento. .................................................................................
109 Tabela 34 Médias das alternativas reversas...................................................... 110 Tabela 35 Variáveis sociodemográficas e propensão ao endividamento.......... 111 Tabela 36 Correlações entre idade, classes econômicas e propensão ao
endividamento. .................................................................................
112 Tabela 37 Correlação de Spearman entre propensão ao endividamento e
xii
gênero................................................................................................ 112 Tabela 38 Fatores extraídos das análise fatorial do construto de consumo
excessivo...........................................................................................
114 Tabela 39 Análise fatorial do construto de consumo excessivo......................... 115 Tabela 40 Variáveis e alfa de Cronbach para cada fator................................... 116 Tabela 41 Resultados descritivos dos grupos extraídos da análise fatorial....... 116 Tabela 42 Classes econômicas da análise cluster............................................. 118 Tabela 43 Classes da análise cluster – materialismo........................................ 119 Tabela 44 Classes da análise cluster – consumo excessivo............................. 120 Tabela 45 Classes da análise cluster – propensão ao endividamento.............. 121 Tabela 46 Regressão logística: análise do modelo............................................ 124 Tabela 47 Resultados dos construtos na equação logística.............................. 124 Tabela 48 Classificação em devedores e não devedores.................................. 126 Tabela 49 Características sociodemográficas dos pesquisados de baixa
renda..................................................................................................
131 Tabela 50 Materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento
da BR.................................................................................................
132 Tabela 51 Endividados e não endividados da baixa renda................................ 134 Tabela 52 Níveis de gastos dos jovens de baixa renda..................................... 135 Tabela 53 Tipos de gastos dos jovens de baixa renda...................................... 136
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SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS .................................................................................................. v!RESUMO ................................................................................................................... vii!ABSTRACT .............................................................................................................. viii!LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. ix!LISTA DE QUADROS ................................................................................................. x!LISTA DE TABELAS ................................................................................................. xi!1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 15!1.1 PROBLEMA DE ESTUDO .................................................................................. 18!1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO ............................................................................. 20!1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 20!1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................................... 21!1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA TEÓRICO-EMPÍRICA ................................... 21!1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................ 23!2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 24!2.1 MATERIALISMO ................................................................................................ 24!2.1.1 Teorias e definições ...................................................................................... 24!2.1.2 Visões do materialismo ................................................................................ 26!2.1.3 Os construtos de materialismo de Belk e Richins e Dawson ................... 27!2.1.4 As construções científicas de materialismo .............................................. 30!2.2 CONSUMO EXCESSIVO ................................................................................... 38!2.2.1 ! Teorias e definições de consumo excessivo ............................................. 38!2.2.2! O construto de consumo excessivo de Wu (2006) .................................... 39!2.2.3 Diferenças entre consumo compulsivo, impulsivo e excessivo .............. 42!2.3 ENDIVIDAMENTO DO CONSUMIDOR ............................................................. 46!2.3.1 Atitude de endividamento do consumidor .................................................. 46!2.3.2 Propensão ao endividamento ....................................................................... 51!2.3.3 Dívidas dos jovens no contexto brasileiro .................................................. 55!2.3.4 Modelo de propensão ao endividamento de Moura (2005) ........................ 56!2.4 O CONSUMIDOR DE BAIXA RENDA NO BRASIL ............................................ 59!2.4.1 Mobilidade social e a classe de baixa renda .............................................. 59!2.4.2 Os produtos e as fontes de crédito da baixa renda ................................... 61!2.4.3 O endividamento do consumidor de baixa renda ...................................... 67!3 METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................................... 70!3.1 ABORDAGENS E ESTRATÉGIAS DE PESQUISA ............................................ 70!3.2 UNIVERSO E AMOSTRA ................................................................................... 72!3.4 TÉCNICA E INSTRUMENTO DE COLETA DOS DADOS .................................. 75!3.5 VARIÁVEIS DE ANÁLISE ................................................................................... 77!3.6 TRATAMENTOS ESTATÍSTICOS ...................................................................... 80!4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 82!4.1 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA .................................................................. 82!4.2 PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DOS DADOS ESTATÍSTICOS .................. 91!4.3 MATERIALISMO ................................................................................................. 95!4.4 CONSUMO EXCESSIVO .................................................................................. 102!4.5 PROPENSÃO AO ENDIVIDAMENTO .............................................................. 109!4.6 ANÁLISE FATORIAL DOS CONSTRUTOS DO ESTUDO ............................... 113!4.7 ANÁLISE CLUSTER ......................................................................................... 117!4.7.1 Análise Cluster: materialismo ..................................................................... 118!
14
4.7.2 Análise Cluster: consumo excessivo ......................................................... 120!4.7.3 Análise Cluster: propensão ao endividamento ......................................... 121!4.7.4 Análise Cluster: diferentes atitudes de consumo entre as classes econômicas ............................................................................................................ 122!4.8 REGRESSÃO LOGÍSTICA ............................................................................... 123 4.9 ANÁLISE FATORIAL CONFIRMATÓRIA ......................................................... 126 4.10 COMPORTAMENTO DOS ESTUDANTES DE BAIXA RENDA ..................... 130!5 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES ................................................. 140!5.1 CONCLUSÕES ................................................................................................. 140!5.2 LIMITAÇÕES E SUGESTÕES .......................................................................... 142!5.3 CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO ...................................................................... 144!APÊNDICES ........................................................................................................... 157!ANEXOS ................................................................................................................. 162!
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1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, pode-se observar um aumento dos trabalhos
acadêmicos que envolvem o comportamento do consumidor junto às questões que
se referem ao consumo excessivo e endividamento financeiro. Esses traços de
consumo, que foram demarcados pelo sistema capitalista de produção, foram
relatados por autores que estiveram dispostos a compreender as principais
modificações sociais e de produção organizacional, conforme mostraram as
pesquisas de Quadros (1991), Zerrenner (2007) e Lamounier e Souza (2010).
O Brasil, desde a década de 90, experimenta uma mobilidade social e uma
estabilidade na economia. Conforme citam Lamounier e Souza (2010) e Prahalad
(2010), mesmo com a recente crise mundial de 2008 e 2009, ocorreram
modificações no que se refere ao consumo e à estratificação social.
Tal desenvolvimento acontecido no Brasil é retratado por Lamounier e Souza
(2010, p. 2), o qual pode ser justificado pelas seguintes razões: a) rápida e
extraordinária prosperidade da economia mundial, que “antecedeu a crise de 2008-
2009, e contribuiu para reduzir a desigualdade de renda”; b) aumento expressivo do
emprego e renda mensal da população, fornecendo maior potencial de consumo da
sociedade; c) baixa inflação e liberdade de crédito de agências financiadoras e d)
estabilização da economia nacional, a partir de 1994, bem como os devidos
aumentos do salário mínimo acima da inflação.
O aquecimento na economia nacional e os valores materialistas dos
indivíduos, fazem os consumidores fortalecerem seus desejos de consumo, assim
como as facilidades oferecidas por agências financiadoras, proporcionam o acesso
de compra a bens e serviços que nunca haviam consumido.
Entre os diversos temas que envolvem o comportamento de compra,
destacam-se o materialismo, consumo excessivo e o endividamento financeiro.
Richins e Dawson (1992, p. 304) definem o materialismo como a situação em que
“[...] as posses materiais servem como um papel importante para estabelecer e
manter estados afetivos positivos” e o “grau de apego ao objeto associado ao seu
estado de bem-estar” na vida do indivíduo.
Conforme Wu (2006, p.25), consumo excessivo é “[...] um tipo de
comportamento de compra que permitirá aos consumidores repetidamente gastar
mais do que deveriam, com base em suas condições financeiras.” Já em relação ao
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endividamento, os autores Borzekowski, Kiser e Ahmed (2007) apontam como um
saldo devedor de um consumidor, resultante de uma ou mais dívidas, além da falta
de comprometimento de assumir os débitos financeiros.
Estes três construtos fazem parte dos cenários de crescimento dos países
emergentes, como por exemplo, o Brasil, a China e a Rússia. Barreto e Bochi
(2002), Barros, Foguel e Ulyssea (2007), bem como Lamounier e Souza (2010)
destacam que as facilidades do acesso ao crédito e as atitudes de consumo
excessivo da população destes países, atualmente, resultam no endividamento
pessoal, do qual muitos dos consumidores passam a comprometer uma parcela
significativa de suas rendas para a compra de bens e serviços.
Logo, na medida em que as atitudes positivas ao materialismo e ao consumo
excessivo envolvem o endividamento, é importante considerar, de acordo com
Zerrenner (2007), que estes indivíduos inadimplentes possuem dificuldade para
quitar suas dívidas e até mesmo baixa ou nenhuma habilidade de gerir seus
rendimentos, resultando em problemas de ordem psicológica. Nesse sentido,
Yamauchi e Templer (1982) abordam que esta dificuldade leva o endividado a
incidentes, como: separação, desemprego, problemas relacionados à saúde e
demais ordens psicológicas, que afetam a vida e as relações sociais das pessoas.
Especificamente no Brasil, de acordo com a Pesquisa de Endividamento e
Inadimplência do Consumidor – PEIC, realizada pela Confederação Nacional do
Comércio – CNC (2011), por mais que haja uma perspectiva para o aquecimento do
mercado de trabalho, ainda ocorrem altos índices do endividamento dos
consumidores no Brasil. Os jovens, atualmente, são os mais afetados. Os dados
dessa pesquisa apontaram uma juventude despreparada para a gestão financeira,
pois somente no mês de janeiro de 2011, o endividamento desses consumidores
chegou a 59,4% da população. Estes números são ainda mais alarmantes quando
expostos os tipos de dívidas desses consumidores. Dívidas contraídas pelo uso do
cartão de crédito é o líder do ranking, representando 72,3% da população
pesquisada no Brasil. Os outros tipos de dívidas somam 27,7% e incluem: o cheque
especial, o crédito consignado, os carnês e os financiamentos.
Dentre as causas da inadimplência da juventude brasileira, é possível apontar
um índice de 38% relacionados ao desemprego, 14% ao descontrole ou má gestão
dos seus gastos, 11% para atuação como fiador ou avalista e 9% na diminuição do
rendimento mensal do consumidor. Outros fatores somam 28% e incluem doenças e
17
atrasos nos salários (CNC, 2011). Todos esses índices representam o
endividamento, resultantes das atitudes positivas ao materialismo e do consumo
excessivo. Assim descreve Rook (1987), pois afirma que esses consumidores
possuem grande propensão a adquirir dívidas, pois gastam mais do que podem
pagar.
O endividamento também ocorre em outros países. Watson (1998) examinou
299 estudantes da Nova Zelândia e verificou que as pessoas com altos níveis de
materialismo possuem atitudes positivas em relação aos problemas financeiros e ao
endividamento pessoal. Em outro estudo, o qual envolveu 322 pessoas nos Estados
Unidos da América, Watson (2003) chegou à conclusão de que, além do
endividamento causado pelas atitudes positivas ao materialismo, tais indivíduos
eram mais propensos à solicitação de empréstimo de dinheiro em organizações
bancárias.
Embora o retrato do endividamento pessoal seja discutido em diversos
países, Lamounier e Souza (2010) e Prahalad (2010) relatam que no Brasil, o
julgamento por otimismo exagerado se constitui na principal causa da inadimplência
da classe de baixa renda no país, que engloba os indivíduos da classe C, cuja renda
familiar mensal situa-se entre R$ 2.726,00 e R$ 5.450,00; e da classe D, entre R$
1.091,00 e R$ 2.725,00 mensais. Demais fatores determinantes do endividamento
dessas pessoas da classe de baixa renda, envolvem a ocupação informal e o fluxo
de renda instável familiar. Lamounier e Souza (2010), em um estudo aplicado nas
capitais brasileiras, descrevem que 57% dos entrevistados foram levados a cortar os
seus gastos para preencher as dificuldades financeiras, outros 44% tiveram
dificuldades de pagar as compras a crédito e 32% das famílias contraíram novas
dívidas para financiar suas despesas.
De acordo com pesquisas aplicadas nessa classe, Moura (2005), Neri (2008)
e Lamounier e Souza (2010) abordam que a baixa renda ainda possui dificuldade na
gestão dos seus rendimentos em virtude de gastos em excesso. A ocupação
informal e a instabilidade de renda representam um perigo para essa classe, uma
vez que os indivíduos de baixa renda vivem em um círculo vicioso de contrair novas
dívidas para saldar as antigas. Tal fato é confirmado pelos resultados da pesquisa
de endividamento da CNC (2011) ao revelar que 8% das famílias de baixa renda
gastaram mais do que receberam, enquanto o nível de endividamento das demais
classes econômicas representou apenas 3%.
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1.1 PROBLEMA DE ESTUDO
O endividamento do consumidor pode ser caracterizado por diversos fatores e
associados aos vários comportamentos dos indivíduos, tais como: as atitudes
positivas ao materialismo (BELK, 1984, 1985; KILBOURNE; GRUNHAGEN; FOLEY,
2005; RICHINS; DAWSON, 1990, 1992; WATSON, 1998, 2003), consumo excessivo
(RIGDWAY; KUKAR-KINNEY; MONROE, 2006, 2008; WU, 2006) e o valor
emocional dado à posse do dinheiro. (DITTAMAR, 1996; FURNHAM; ARGYLE,
1998; SCHWARTZ, 1992).
Para o materialismo, Belk (1984, 1985), Schaefer, Hermans e Parker (2004) e
Kilbourne, Grunhagen e Foley (2005) apontam que o construto possui fortes indícios
de existência em períodos anteriores à Revolução Industrial. No entanto, apenas nos
últimos cem anos foram estabelecidas condições teóricas das atitudes materialistas
dos indivíduos. Embora essas atitudes tenham sido visualizadas nos últimos cem
anos, as condições teóricas recentes são estabelecidas por estudos que aplicaram
metodologias de mensuração do materialismo em cenários diferentes.
Belk (1984) apresentou um construto com 24 itens de mensuração,
distribuídos em três dimensões: possessividade em relação às posses de bens;
inveja de pessoas que possuem determinados objetos; falta de generosidade, que
caracteriza indivíduos com dificuldades de dividir seus bens. Apesar do construto
apresentar validade no seu estudo, o autor relatou que essas três medidas de
materialismo não eram perfeitas e mereciam novas aplicações com os
consumidores.
Na década de 90, Richins e Dawson (1990) iniciaram uma nova discussão.
Os autores propuseram outro construto capaz de mensurar o materialismo, baseado
em outras três dimensões diferentes, sendo: centralidade, que caracteriza indivíduos
racionais nas relações de compra; felicidade, como resultado de compra de objetos;
sucesso, no momento em que os objetos materiais indicam sinais de ascensão
social e profissional, por meio da compra de bens e serviços. O questionário possuiu
validade científica, já que passou por uma nova avaliação pelos mesmos autores
dois anos após a primeira verificação. Richins e Dawson (1992) relatam que as
futuras aplicações empíricas deverão incluir seus antecedentes e as principais
consequências destas atitudes do comportamento do consumidor.
19
Watson (1998, 2003) se dispõe a discutir as consequências nas atitudes
positivas ao materialismo de Richins e Dawson (1992). Nas pesquisas, o autor relata
que os jovens possuem maior propensão ao endividamento quando avaliada a
postura materialista. O estudioso comenta que novos pesquisadores devem estar
dispostos a compreender as relações entre o materialismo e o endividamento, uma
vez que o número de publicações que integra os dois temas ainda é relativamente
baixo.
Fournier e Richins (1991) apontaram que a sociedade vive em um latente
comportamento materialista, o que contribui para o endividamento dos
consumidores, na aquisição, como busca de felicidade e sucesso pessoal ou
familiar. Richins e Rudmin (1994); Kilbourne, Grunhagen e Foley (2005) e
Rindfleisch, Burroughs e Wong (1997) também indicam que lacunas devem ser
preenchidas, pois muitos estudos do materialismo acontecem apenas com
indivíduos norte-americanos e demais países sofrem carência das representações
teóricas do construto.
Por mais que aconteçam associações aos temas, materialismo e consumo
excessivo possuem definições e construtos diferentes entre si. Wu (2006, p.25)
relata que “[...] um importante fator que impede o progresso de pesquisa na área de
consumo excessivo, é a falta de uma definição clara do tema.” À medida que
apresenta a validação do construto, o autor aborda que “[...] é necessário medir o
consumo excessivo em diferentes origens étnicas e culturais. Portanto, seria
interessante estudar as diferenças entre os grupos.”
As estatísticas norte-americanas apontam que, no ano de 2006, o consumo
chegou a 8,7 bilhões de dólares. Embora o Brasil não atinja um total tão expressivo,
a estabilidade econômica e a mobilidade social vêm pressionando o consumo,
principalmente nas famílias de baixa renda. A classificação do PIB, realizada pelo
Fundo Monetário Internacional (2009), revela que o Brasil situava-se na 18a posição
no ano de 2007 e, dois anos depois, passou para o sétimo lugar entre as 183
nações analisadas.
Esses dados são reflexos do consumo familiar e do desenvolvimento social,
pois representou um aumento de 7,5 por cento do consumo de 2010 em relação ao
ano anterior (IBGE, 2011). Essas modificações na economia têm causado mudanças
nas estratificações sociais e um aumento da classe de baixa renda no país. Nesse
sentido, Lamounier e Souza (2010, p.1) comentam que o crescimento e
20
fortalecimento da classe de baixa renda: “[...] é um dos fenômenos sociais e
econômicos mais importantes da história recente.”
O poder de compra da classe econômica de baixa renda passou de uma fatia
que anteriormente não era foco dos empresários a consumidores dispostos a
adquirir bens de consumo que antes eram inimagináveis à classe, a qual
representava, em 2008, 52% de toda a população brasileira. (LAMOUNIER; SOUZA,
2010). Por resultado deste consumo, o endividamento da classe não está distante
da realidade. Somente no mês de dezembro de 2010, cerca de 60,6% das famílias
de baixa renda estavam endividadas, das quais 25,5% possuíam contas em atraso e
9,1% não teriam condições de pagá-las. (CNC, 2011).
Considerando a realidade apresentada e tendo em vista que no Brasil os
estudos sobre o consumo e o endividamento das classes de baixa renda ainda são
poucos, esta pesquisa focaliza as principais atitudes envolvidas no comportamento
do consumidor e a propensão à dívida dos jovens universitários, com foco de análise
principal nos indivíduos de baixa renda, que já começam a frequentar a universidade
na busca de ascensão social, conforme esclarecem Lamounier e Souza (2010).
Diante desses fatores, este trabalho se propõe a verificar qual a relação entre materialismo, consumo excessivo e endividamento do consumidor jovem universitário na compra de bens e serviços?
Para responder a essa questão de pesquisa, foram definidos os seguintes
objetivos:
1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO
Os objetivos desta pesquisa serão relatados neste tópico, no qual parte-se do
objetivo geral e, a seguir, apresentam-se os objetivos específicos.
1.2.1 Objetivo Geral
Explicar a relação entre materialismo, consumo excessivo e a propensão ao
endividamento do jovem universitário.
21
1.2.2 Objetivos Específicos
a) Identificar os níveis do materialismo e de consumo dos jovens universitários.
b) Verificar a propensão das dívidas em relação aos diferentes tipos de produtos
financeiros que representam este endividamento.
c) Identificar o grau de associação entre as variáveis que compõem os
construtos de materialismo, consumo excessivo e propensão ao
endividamento.
d) Verificar o grau de associação entre essas variáveis e as características
sociodemográficas dos entrevistados.
1.3 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA TEÓRICO-EMPÍRICA
Ao discutir os construtos de materialismo, consumo excessivo e
endividamento do consumidor jovem, este estudo aborda temas atuais, que
constituem interesses de discussões acadêmicas e das práticas organizacionais,
além de fornecer subsídios para elaboração de políticas públicas e empresariais de
concessão de crédito para as diferentes classes econômicas.
Com os resultados desta pesquisa empírica é possível avançar a
compreensão da relação entre materialismo, consumo excessivo e endividamento
do público universitário, visto que estes consumidores possuem uma representação
fundamental na posição do consumo nos dias atuais e maiores índices do
endividamento financeiro. (LAMOUNIER; SOUZA, 2010; WATSON, 1998, 2003).
Em análise dos estudos científicos, pesquisas foram encontradas e firmaram
relação entre o materialismo e o endividamento do consumidor, como, por exemplo,
as aplicações de Watson (1998, 2003). A pesquisa de Wu (2006) também encontrou
ligação entre o consumo excessivo e o débito financeiro. Entretanto, nenhum estudo
integrando estes três construtos foi encontrado. Assim, este trabalho passará a
verificar a relação entre as atitudes positivas ao materialismo e o consumo
excessivo, que podem resultar na propensão ao endividamento financeiro,
contribuindo para o avanço do conhecimento sobre o comportamento do
consumidor.
Para o desenvolvimento científico, é importante preencher as lacunas
teóricas, uma vez que diversos autores passaram a indicar que muitos estudos, os
22
quais envolvem o construto de materialismo e de consumo excessivo, acontecem
apenas com indivíduos norte-americanos, além do baixo número de pesquisas
aplicadas ao consumidor jovem. (RICHINS; DAWSON, 1992; WATSON, 1998; WU,
2006). Nessa mesma condição, esta pesquisa possui relevância aplicada à classe
de baixa renda brasileira, por conta de seu aumento, que aconteceu a partir da
década de 90. No ano de 2011, cerca 105,4 milhões de pessoas, equivalente a
50,5% da população nacional, fazem parte desta camada social. (IBGE, 2011).
A aplicação desta pesquisa com os jovens da classe de baixa renda
possibilita conhecer o futuro do mercado interno, uma vez que a classe deixou a
pobreza para trás e passou a participar, ativamente, da economia nacional. Embora
essas modificações sociais possam trazer benefícios para a economia do Brasil, é
importante verificar, a partir dos resultados desta pesquisa, as consequências
causadas pelo consumo desenfreado destes jovens que, por diversas vezes, são
enquadrados no endividamento financeiro.
As atitudes positivas ao materialismo afetam o modo como as pessoas usam
o seu dinheiro e, por consequência, alguns indivíduos são mais propensos ao
endividamento financeiro. Nessa mesma relação, o débito do consumidor pode ser
resposta do consumo excessivo na compra de bens e serviços.
Esses resultados poderão ser discutidos e utilizados por duas vertentes
importantes para a economia nacional: empresariais e governamentais. Os
resultados deste estudo deverão trazer melhores compreensões para as agências e
instituições financeiras, uma vez que os produtos de crédito que facilitam a utilização
do dinheiro podem trazer por consequência o endividamento dos jovens da classe
de baixa renda.
É importante ressaltar que o avanço das famílias da pobreza para a classe
média não decorre de nenhum programa social governamental, uma vez que a vida
desses indivíduos melhorou em virtude do aumento dos empregos no setor privado
nacional. Apesar disso, este estudo deve fornecer subsídios para a manutenção
desta classe, além do olhar de cuidado sobre o consumo e o endividamento como
forma de contribuir para o crescimento econômico do país.
23
1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO
No primeiro capítulo deste trabalho são abordados os problemas de estudo,
os objetivos gerais e específicos e as justificativas e relevâncias teórico-empíricas.
Em seguida, são apresentadas as principais teorias acerca dos temas que
enquadram os construtos, as quais envolvem a construção deste estudo:
materialismo, consumo excessivo, propensão ao endividamento e a classe de baixa
renda do Brasil.
Após a revisão da literatura, apresentam-se o método e a estratégia que
foram aplicados para o levantamento e a análise dos dados. Assim, relacionam-se
as abordagens e as estratégias, o universo e a amostra, o instrumento para coleta e
as variáveis de análise. Por fim, no capítulo quatro são apresentados os resultados
das aplicações estatísticas e, no quinto, as conclusões obtidas nesse estudo.
24
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Com o intuito de abordar as principais teorias que envolvem este estudo, o
referencial teórico deste trabalho está centrado nos seguintes temas: materialismo,
consumo excessivo, endividamento do consumidor e a classe de baixa renda
brasileira.
2.1 MATERIALISMO
Para clareza na definição teórica do construto de materialismo, este item será
abordado em quatro situações que integram o tema: teorias e definições; visões do
materialismo; construtos de mensuração de Belk (1985) e Richins e Dawson (1992)
e, finalmente, os estudos científicos que envolveram o construto. 2.1.1 Teorias e definições
Nas obras de Belk (1984, 1985) e Burroughs e Rindfleisch (2002), os autores
afirmavam que os padrões de busca da felicidade no consumo, nos estudos do
comportamento do consumidor, surgiram pela primeira vez no Ocidente. Porém, por
mais que não hajam dados concretos sobre local e data, Richins e Dawson (1992)
descreveram que o materialismo havia surgido na vida pós-industrial.
Nessa relação, Schaefer, Hermans e Parker (2004), bem como Kilbourne,
Grunhagen e Foley (2005) contribuem ao afirmar que somente com a Reforma
Protestante é que foram estabelecidas as condições teóricas do construto de
materialismo. Richins e Rudmin (1994), Kilbourne, Grunhagen e Foley (2005)
indicam que os conhecimentos científicos acerca do tema surgiram nos últimos cem
anos. No entanto, foram somente nas últimas décadas que a Psicologia se propôs a
estudar esses assuntos que envolvem o comportamento do consumidor.
Richins e Dawson (1992), que integram os autores precursores do
desenvolvimento teórico de materialismo, abordam a América em alto nível de
consumo, na qual os consumidores são vistos como grupos diferenciados, mas
guiados igualmente pelo mesmo desejo de consumo de bens. Nesta discussão, é
necessário o esclarecimento de que o materialismo ou o comportamento de
consumo excessivo não é exclusividade norte-americano, já que Richins e Dawson
25
(1992), Richins, McKeage e Najjar (1992) e Watson (2003) comparam o nível do
materialismo em diversas localidades da América e da Europa, comprovando esta
afirmação.
Em outra obra que ilustrou a comparação entre o Japão e os Estados Unidos
da América, Belk (1985) concluiu que anúncios publicitários com apelos materialistas
foram encontrados no Oriente em igual proporção aos países do Ocidente. Justifica
o autor que “[...] assim como nos Estados Unidos da América, o aumento real dos
rendimentos e uma abundância de bens de consumo tornou o materialismo possível
naquele país.” (BELK, 1985, p. 265). Neste mesmo grau, Parker, Haytko e Hermans
(2002) avaliaram o materialismo chinês versus o norte-americano em uma amostra
de estudantes universitários e, nos resultados das pesquisas, é possível
compreender que os indivíduos norte-americanos, assim como os chineses,
admiram pessoas que possuem objetos muito caros e gostariam de obter bens para
impressionar os outros.
Diante desta realidade, Belk (1984, 1985), Burroughs e Rindfleisch (2002) e
Parker, Haytko e Hermans (2002) consideram que o materialismo não é
restritamente dos povos ocidentais e, além das diferenças culturais e históricas na
tendência para o materialismo, existem também diferenças individuais nas
manifestações deste construto do comportamento do consumidor.
Burroughs e Rindfleisch (2002), assim como Watson (2003), concluíram com
pesquisas que os indivíduos compram e usam o seu dinheiro para satisfazer às
necessidades da sobrevivência humana e para estabelecer a importância social de
poder do indivíduo. Utilizam o dinheiro para a compra de posse e bens,
compensando, assim, as deficiências individuais, como a autoestima. Em relação às
posses, Wallendorf e Arnould (1998, p. 533) citam que “[...] a posse e o afeto a
objetos servem muitas vezes de símbolos para os indivíduos, proporcionam-lhes
confiança e permitem-lhes exprimir a sua forma de ser para com terceiros.” E,
referente aos objetos, Belk e Costa (1998, p.223) abordam que “[...] significam status
social, mas também expressam formas de comportamento, as crenças, dos
sentimentos de saudade ou laços interpessoais dos indivíduos.”
Brewer e Porter (1993, p.1) confirmam as discussões dos autores Belk (1985)
e Burroughs e Rindfleisch (2002), pois relatam que “[...] nossas vidas, estão hoje
dominadas por objetos materiais que se proliferam ao nosso redor, incluindo as
perspectivas e os problemas para se pagar.” Já Belk e Costa (1998, p.220) abordam
26
que o consumo “[...] permite dar significado à nossa vida, quando uma série de
parâmetros de orientação e de união para a integração social se esvanece no atual
processo de globalização.”
Demais contribuições de Belk (1985) e Burroughs e Rindfleisch (2002)
afirmam que tal estudo perante o comportamento do consumidor é uma ideologia do
desenvolvimento do indivíduo moderno na busca de um bem-estar psicológico
através da compra e do consumo, no qual o estilo de vida materialista parece ser
uma parte integral da vida moderna para os países desenvolvidos.
Diante do exposto, complementa-se que o construto de materialismo, durante
as três últimas décadas, tem despertado muito interesse de diversas áreas de
conhecimento, como Marketing, Ciência Política, Economia e Comportamento do
Consumidor na Psicologia Social. (BELK, 1985; GER; BELK, 1996; INGLEHART,
1990; MUNCY; EASTMAN, 1998).
2.1.2 Visões do materialismo
Como retratado no item anterior, o materialismo, que teve o seu início nos
países ocidentais após a Revolução Industrial, em retratos atuais é definido como
“[...] a importância atribuída à posse e à aquisição de bens materiais no alcance de
objetivos de vida ou estados desejados” (RICHINS; DAWSON, 1992, p.304) ou,
ainda, de acordo com Belk (1984, p.291): “[...] o interesse de um indivíduo em ter e
gastar.”
Diante de diversas teorias do construto de materialismo, são relevantes
algumas contribuições, como a definição de Rassuli e Hollander (1986, p.10), que
retratam o tema como “interesse em ganhar e gastar.” Burroughs e Rindfleisch
(2002, p.349) destacam ser a “[...] crença do indivíduo que seu bem-estar depende
da posse de objetos.” Ferreira (1986, p.1103), por sua vez, ressalta que é a “[...] vida
voltada unicamente para os gozos dos bens materiais.” Já Belk (1985, p. 308) diz
ser “[...] um conjunto de crenças sobre a importância das possessões na vida de
uma pessoa.” E, por fim, Ward e Wackman (1971, p.422), que apontam o
materialismo como: “[...] uma orientação, que vê os bens materiais e o dinheiro tão
importante para a felicidade pessoal e progresso social."
Apesar de diversos autores definirem a teoria do materialismo, os principais
referenciais estão cercados por Belk (1984, p. 291), que aborda materialismo como:
27
[...] a importância que um consumidor atribui às posses. Nos níveis mais altos de materialismo, tais bens passam a assumir um lugar central na vida de uma pessoa e acredita-se proporcionar as maiores fontes de satisfação e insatisfação na vida.
Os valores materialistas descrevem como as pessoas pensam e como se
pode enxergar a sociedade como um todo no qual os bens de consumo assumem
um lugar central na vida e na identidade do indivíduo. (RICHINS, 1994a). A atitude
materialista também pode ser associada ao maior esforço para adquirir os bens que
as indústrias oferecem aos consumidores. Essa afirmação foi debatida por uma
variedade de teóricos, como, por exemplo, Belk (1984, 1985) e Kasser e Ryan
(1993). Richins (1994b) refere-se à atitude materialista como um valor que
representa a perspectiva do indivíduo sobre a possessão de bens e o papel que
estes tais bens desempenham em sua vida. Aqueles objetos que os indivíduos
consideram mais importantes na sua vida podem ser caracterizados como os seus
valores pessoais.
Nessa razão, Richins e Dawson (1992), Richins (1994b), Burroughs,
Rindfleisch (2002) e Wong (1997) relatam que os consumidores materialistas,
independente do seu nível econômico, valorizam o poder da conquista e o
consideram um importante instrumento que norteia suas ações, atitudes, juízos e as
comparações entre objetos específicos, assim como o julgamento que uma pessoa
faz sobre o significado de uma posse. Essa posse é feita em termos de valores
pessoais, de modo que os bens que uma pessoa preza vão refletir-se nestes
valores.
Por fim, em comum afirmação, Belk (1985) e Richins e Dawson (1992)
sugerem que as pessoas que priorizam a aquisição de bens materiais podem ser
nomeadas materialistas, enquanto os indivíduos que não sentem esta necessidade
de ter e adquirir cada vez mais são consideradas não materialistas.
2.1.3 Os construtos de materialismo de Belk e Richins e Dawson
Dos dois principais construtos que mensuram os níveis de materialismo dos
indivíduos, o primeiro foi desenvolvido por Belk (1984, 1985) e relata o tema como
um traço de personalidade associado à possessividade, à falta de generosidade e à
inveja. No estudo, o autor comenta que é capaz de mensurar as características dos
28
consumidores, baseado na importância que os consumidores atribuem às suas
posses.
Belk (1985, p.292) identifica a possessividade como a “[...] inclinação e a
tendência para manter o controle ou a propriedade de uma posse” além da “[...]
relação com os objetos após a aquisição.” Os indivíduos são “[...] inclinados para
guardar e conservar bens ao invés de descartá-las.” A falta de generosidade é
compreendida como “[...] uma falta de vontade de dar posses ou compartilhar
possessões com outras pessoas” ou, ainda, é envolvida “pela preocupação egoísta”
do consumidor. Por último, a inveja, que é traduzida por duas vertentes, uma
positiva, na qual é associada à motivação de adquirir bens ou objetos desejados e
outra negativa, dentro das possibilidades destrutivas, interligadas a assassinatos,
roubo, adultério e outros.
Este construto de materialismo de Belk (1985) possuiu a validação em dois
estudos diferentes que, somados, representavam 437 consumidores norte-
americanos. Vale apontar que o construto de 1985 baseava-se no de 1984, porém o
sofreu reestruturação na adição de novas variáveis.
O segundo construto de mensuração do materialismo, que surgiu apenas na
próxima década, foi desenvolvido por Richins e Dawson (1992) com a função de
compreender e avaliar os níveis de materialismo dos consumidores. Este mensura o
materialismo a partir de escala de valores e atitudes, a qual é baseada em três
dimensões: Centralidade, Felicidade e Sucesso.
A primeira dimensão, denominada Centralidade, é interpretada como uma
indicação das posses e aquisições na vida das pessoas ou, como afirmam Richins e
Dawson (1992, p.217), o momento em que as posses de bens materiais ocupam
uma posição central na vida de um indivíduo. A segunda, Felicidade, é entendida
como “[...] as posses e as aquisições são tão importantes para os materialistas, que
eles veem estas como essenciais para a sua satisfação e o seu bem-estar.” A
felicidade ainda é reconhecida como o grau de esperança que o indivíduo tem de
que suas posses irão trazer-lhe felicidade e bem-estar pessoal, “[...] felicidade
através da aquisição, em vez de outros meios (tais como relacionamentos pessoais,
experiências ou realizações).” (RISCHINS; DAWSON, 1992, p.304).
A última dimensão do materialismo no construto de Richins e Dawson (1992,
p.304), o Sucesso, pode ser definida como uma indicação que favorece a tendência
de um indivíduo a julgar aos outros e a si mesmo em função da quantidade e da
29
qualidade de suas posses, ou seja, “[...] os materialistas enxergam o sucesso como
uma medida em que pode possuir produtos” ou até mesmo o julgamento do sucesso
pessoal e dos outros indivíduos a partir das posses e bens acumulados.
O Quadro 1 mostra as afirmações de cada dimensão de mensuração do
materialismo de Richins e Dawson (1992, p.217):
Quadro 1 – Construto de materialismo de Richins e Dawson (1992)
Itens Dimensões Afirmações
Q1
Centralidade
Geralmente, compro apenas aquilo de que preciso. Q2 Tento manter a minha vida simples, no que diz respeito aos meus
bens materiais. Q3 As coisas que possuo não são muito importantes para mim. Q4 Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias. Q5 Comprar coisas dá-me imenso prazer. Q6 Gosto de muito luxo na minha vida. Q7 Dou menos importância às coisas materiais que a maioria das
pessoas que conheço. Q8
Felicidade
Tenho todas as coisas de que preciso para ser feliz. Q9 A minha vida seria melhor se possuísse coisas que não tenho.
Q10 Não seria mais feliz se tivesse coisas mais bonitas. Q11 Seria mais feliz se tivesse dinheiro para comprar mais coisas. Q12 Às vezes, entristece-me um pouco que não possa comprar todas
as coisas que quero. Q13
Sucesso
Admiro pessoas que possuem carros, casas e roupas caras. Q14 Alguns dos feitos mais importantes na vida incluem adquirir bens
materiais. Q15 Não dou muita importância à quantidade de objetos materiais que
as pessoas têm como sinal de sucesso. Q16 As coisas que tenho dizem muito sobre o sucesso que tenho tido
na vida. Q17 Gosto de ter coisas para impressionar as pessoas. Q18 Não dou muita atenção aos objetos materiais que os outros
possuem. Fonte: Richins e Dawson (1992, p. 217). Nota: (1) O construto original pode ser visualizado no Anexo 2. (2) Tradução do autor.
Este construto de Richins e Dawson (1992) foi validado em uma pesquisa que
envolviam três estudos diferentes os quais somados representavam 690
consumidores norte-americanos. As afirmações propostas pelos autores, assim
como a escolha dessa medição para este estudo serão discutidos no capítulo 3
deste trabalho.
Finalmente, é possível compreender que Belk (1984, 1985) interpreta o
materialismo como um traço de personalidade, já Richins e Dawson (1992)
30
caracterizam o construto como um valor cultural, utilizando-se a escala de valores e
atitudes pessoais. Apesar dos principais trabalhos publicados em torno de
materialismo utilizarem um dos dois construtos descritos anteriormente, como os
estudos de Ellis (1992), Micken (1995), Ger e Belk (1996), Wong (1997) e Watson
(1998, 2003), outros autores se dispuseram a desenvolver novos parâmetros para a
mensuração, como pode ser observado na linha cronológica a seguir.
O primeiro exercício partiu de Dickins e Ferguson (1957) no momento em que
os autores desenvolveram e aplicaram o seu construto em crianças com o objetivo
de avaliar os desejos dos trabalhos que gostariam de realizar quando adultos.
Justice e Birkman (1972) se propuseram a estudar os traços de personalidade em
um conjunto de questões de percepção social e autoimagem.
Burdsal (1975) propôs avaliar o grau de materialismo e a importância das
suas posses em um construto que mensurava o grau de apego dos consumidores
aos seus bens. Jackson, Ahmed e Heapy (1976) buscavam variáveis das
personalidades dos consumidores para mensurar os níveis de materialismo dos
indivíduos.
Este estudo será guiado pela segunda mensuração, o construto de Richins e
Dawson (1992). Optou-se por tal construto pelas considerações de Micken (1995),
que se propôs a verificar a aplicabilidade dos construtos de Belk (1985) e Richins e
Dawson (1992). A autora afirma que “[...] os construtos de Richins e Dawson
possuem uma orientação de valor que é mais precisa” (MICKEN, 1995, p.399), já
que o coeficiente alfa compreendeu 0,75 para o construto que mensurou a
centralidade, 0,83 para felicidade e 0,78 para sucesso. Já o outro, desenvolvido por
Belk (1985), relatou coeficientes de 0,66 para a menor amostra e 0,73 para a maior
amostra, respectivamente.
31
2.1.4 As construções científicas de materialismo
Como pode ser observado no item anterior, diversos autores estiveram
dispostos a desenvolver construtos capazes de medir e mensurar os níveis de
materialismo dos consumidores. Porém, com o objetivo de esgotar os trabalhos que
envolveram o materialismo o Quadro 2 identifica e resume as principais pesquisas
que aplicaram e se utilizaram dos construtos, sendo:
32
Tema / Autores
Estudo / Título Construto Amostra Contexto do Estudo / Pesquisa
Contribuição / Estatística aplicada
Teste de Confiabilidade Alfa de Cronbach
Materialismo
Belk (1985)
Three Scales to
Measure Constructs Related to
Materialism: Reliability,
Validity, and Relationships to
Measures of Happiness.
Belk (1985) com 24
itens para medir materialismo.
Possessividade - 9 itens.
Inveja-8 itens. Falta de
generosidade-7 itens.
Escala Likert 5
pontos.
EUA
Amostra 1 = 338 Amostra 2= 99
Estudantes de negócios, secretários de escritório de seguros, estudantes
de ensino religioso, membros da
fraternidade e trabalhadores de
maquinários.
Desenvolver
construto de medição do materialismo entre
os consumidores, baseado em inveja,
falta de generosidade e possessividade, em um total de 24 itens
de mensuração.
Reestruturação do construto de
materialismo de Belk (1984). Adição de novas variáveis
(subescalas). A análise comprovou que as
três dimensões são capazes de medir os níveis de materialismo
do consumidor.
Estatística Descritiva Análise Fatorial.
Coeficientes de 0,66
para a menor amostra e 0,73 para a maior
amostra.
Materialismo
Ellis (1992)
A Factor Analysis
Investigation of Belk`s Structure
of the Materialism.
Belk (1985)
Escala Likert 5
pontos.
EUA
Amostra = 148
Consumidores metropolitanos.
Verificação de
confiabilidade do construto de Belk
(1985).
O estudo comprova que não existe validade para a medição
do materialismo.
Estatística Descritiva Coeficiente de Correlação de
Pearson.
Não possuiu validade no
construto.
Materialismo
Richins e Dawson (1990)
Measuring
Material Values: A Preliminary
Report of Scale Development.
Adaptação de Belk
(1985)
Escala Likert 5 pontos.
EUA
Amostra 1 = 448
estudantes Amostra 2 = 191
estudantes Amostra 3 = 194
estudantes
Início da construção
do construto baseado em centralidade,
felicidade e sucesso para verificar os
níveis de materialismo dos consumidores.
5 novas variávies foram
adicionadas ao construto já existente.
Estatística Descritiva
Análise Fatorial (exploratória e confirmatória).
Coeficiente de 0,76
Não houve validade das
novas variáveis ao construto já existente.
continua
Quadro 2 – Síntese de construções teóricas de materialismo
33
Tema / Autores
Estudo / Título Construto Amostra Contexto do Estudo / Pesquisa
Contribuição / Estatística aplicada
Teste de Confiabilidade Alfa de Cronbach
Materialismo
Richins e Dawson (1992)
A Consumer
Values Orientation for
Materialism and Its
Measurement: Scale
Development and Validation
Richins e Dawson
(1992) Continuidade no
construto desenvolvido por Richins e Dawson
(1990). Escala Likert 5
pontos
EUA
Aplicado 03
Universidades dos Estados Unidos.
Amostras variando de 144 à 250 pessoas.
Aprimoramento do construto capaz de medir os níveis de
materialismo entre os consumidores, baseados na centralidade,
felicidade e sucesso.
Mede três aspectos correlacionados do
materialismo: centralidade, aquisição, o papel de aquisição
no exercício de felicidade. O construto possui validade.
Estatística Descritiva Análise fatorial (exploratória e
confirmatória).
Centralidade 0,71 a 0,75
Felicidade 0,73 a 0,83
Sucesso
0,74 a 0,78
Materialismo
Micken (1995)
A New Appraisal of the Belk Materialism
Scale
Ger e Belk (1993)
Dar continuidade na validade do
construto de Ger e Belk (1993)
EUA
Amostra =278
Norte-americanos do Meio Oeste
Possui o objetivo de averiguar o construto desenvolvido por Ger e Belk (1993, 1996)
junto à confiabilidade numa amostra de
adultos.
A autora discute a validade do construto proposto por Ger e Belk (1993). No estudo, não
houve confiabilidade.
Estatística Descritiva Análise Fatorial
Correlação de Pearson
Possessividade 0,38
Falta de Generosidade
0,64
Inveja 0,50
Materialismo
Ger e Belk
(1996)
Cross-Cultural Differences in Materialism.
Belk (1985) com a adição de novas
variáveis.
12 países diferentes.
amostra=1.729 Estudantes de Administração
Propõe uma nova
medição baseada em Belk (1985) nas
perspectivas de Não Generosidade,
Possessividade, Inveja, com a adição
de preservação.
Autores propõe uma nova medida, baseada em Belk (1985), com a adição de
Preservação, numa amostragem de 12 países
diferentes, para comparação com os Estados Unidos.
Estatística Descritiva
Análise Fatorial
Total da amostra
0,61
0,46 Tailândia 0,79 França
continua
34
Tema / Autores
Estudo / Título Construto Amostra Contexto do Estudo / Pesquisa
Contribuição / Estatística Aplicada
Teste de Confiabilidade Alfa de Cronbach
Materialismo
Wong (1997)
Suppose you own the world
and no one knows:
conspicuos consumption,
materialism and self.
Ger e Belk (1996) e Richins e Dawson
(1992)
EUA
Amostra=200
Estudantes de
Marketing
Objetivo de investigar
a relação entre o materialismo e o
consumo conspícuo.
Os níveis de individualismo têm uma relação direta e positiva para o materialismo e com o
consumo conspícuo, tal como definido na literatura existente
(Belk, 1985; Richins & Dawson, 1992).
Estatística Descritiva
Análise Fatorial e Regressão
Richins e Dawson Sucesso - 0,82
Centralidade – 0,76 Felicidade – 0,77
Ger e Belk Não generosidade – 0,74
Possessividade – 0,55 Inveja – 0,27
Preservação – 0,74
Materialismo
Richins (2004)
The material values scale: measurement properties and development of
a short form.
Richins e Dawson (1992) com o
objetivo de rever o construto já
desenvolvido e propor um novo
construto reduzido.
EUA
Revisão – 15 conjuntos de amostras retiradas de outros estudos, de 144 a 639 estudantes.
Nova Medição – amostra=402 estudantes
Rever o construto já desenvolvido por
Richins e Dawson(1992) e
propor uma redução de itens do construto original (18), para 15,
9, 6 e 3 itens.
Estudo 1 - A análise dos estudos publicados indicam que a MVS possui um grau
adequado de coerência interna Estudo 2 - versão de nove itens possui propriedades aceitáveis, quando utilizado para medir o
materialismo.
Estatística Descritiva Análise Fatorial
Construto de 18 itens 0,77 sucesso
0,78 para centralidade 0,7780 para felicidade
Escalas de (média)
15 itens – 0,87 9 itens – 0,84 6 itens – 0,81 3 itens 0,64
Materialismo / Endividamento
Watson (1998)
Materialism and Debit: A Study of Curret Attittudes and Behaviour
Richins e Dawson (1992)
299 Estudantes da Nova Zelândia
Examinar as relações
dos valores materialistas e as atitudes de dívida junto ao nível de
endividamento do consumidor.
Novo modelo para aplicação baseado no endividamento
junto ao construto de materialismo.
Estatística Descritiva Regressão não linear
Materialismo de Richins e Dawson (1992) – 0,83
Tedência para Gastos Heslin e Frey (1996) -
0,90
Atitude para o débito de Davies e Lea (1995) –
0,65
continua
35
Tema / Autores
Estudo / Título Construto Amostra Contexto do Estudo / Pesquisa
Contribuição / Estatística aplicada
Teste de Confiabilidade Alfa de Cronbach
Materialismo / Endividamento
Watson (2003)
The relationship of materialism to
spending tendencies,
saving, and debt
Richins e Dawson
(1992)
EUA
amostra =322
Investigar as pessoas com diferentes níveis de materialismo na sua propensão para gastar e / ou poupar
dinheiro.
Novo modelo para aplicação baseado no endividamento
junto ao constructo de materialismo
Modelo de Richins e Dawson (1992) original, com 18 itens de
avaliação.
Estatística Descritiva Análise Fatorial
Regressão não linear
0,92 para o construto
que mensura a tendência ao
endividamento.
0,83 para o construto que mensura o materialismo.
36
Outra vertente importante deste estudo pode ser encontrada no Quadro 3, no
momento em que são retratadas as evidências empíricas encontradas nas relações
entre o materialismo e a idade, o gênero e a renda, uma vez que estas situações
serão verificadas de acordo com os objetivos específicos apresentados
anteriormente.
Quadro 3 – Síntese das relações entre o materialismo e idade, gênero e renda
Autores
Construto
Amostra
Relações do materialismo com:
Idade Gênero Renda
Belk
(1985)
Belk (1985)
24 itens
Estados Unidos
da América n1 = 338 n2= 99
Existem relações entre
as atitudes materialistas e a idade
dos consumidores. Atitudes diminuem após a meia idade.
(casados com filhos).
Não houve
relação entre atitudes
positivas ao materialismo e
gênero dos entrevistados.
Não houve
relação entre atitudes
positivas ao materialismo e
renda dos entrevistados.
Richins e Dawson (1992)
Richins e Dawson
(1992) 18 itens
Três partes
diferentes dos Estados Unidos
n1 = 144 n2=250 n3= 235 n4 = 205
Existem relações entre
as atitudes materialistas e a idade
dos consumidores. Diminui após a meia
idade. (casados com filhos)
Não houve
relação entre atitudes
positivas ao materialismo e
gênero dos entrevistados.
Não houve
relação entre atitudes
positivas ao materialismo e
renda dos entrevistados.
Micken (1995)
Ger e Belk
(1993) Richins e Dawson (1992)
12 países diferentes. n=1.729
Estudantes de Administração
Existem relações entre
as atitudes materialistas e a idade
dos consumidores.
Diferenças entre
homens e mulheres
apenas no traço de Inveja e falta
de generosidade do construto.
Renda foi
correlacionada apenas para a
Inveja do construto de mensuração.
Watson (1998)
Richins e Dawson
(1992) 18 itens
Estudantes da Nova Zelândia
n=299
Existem relações entre
as atitudes materialistas e a idade
dos consumidores. Jovens entre 20 a 24
possuem atitudes positivas ao
materialismo.
Não houve
relação entre atitudes
positivas ao materialismo e
gênero dos entrevistados.
Não houve
relação entre atitudes
positivas ao materialismo e
renda dos entrevistados.
Watson (2003)
Richins e Dawson
(1992) 18 itens
Norte-
americados do Estado da
Pensilvânia n=322
Não existem relações
entre as atitudes materialistas e a idade. Porém amostra jovem
possuiu níveis elevados de
materialismo.
Não houve
relação entre atitudes
positivas ao materialismo e
gênero dos entrevistados.
Não houve
relação entre atitudes
positivas ao materialismo e
renda dos entrevistados.
37
Como é possível identificar no Quadro 3, as relações do materialismo com
idade, renda e gênero possuem dualidades nos resultados. Autores como Belk
(1985), Richins e Dawson (1992), Micken (1995) e Watson (1998, 2003)
encontraram índices positivos entre o materialismo e a idade dos pesquisados nos
respectivos estudos.
Belk (1985) aplicou o seu construto com três diferentes grupos de indivíduos,
sendo: geração nova, caracterizada por consumidores com idade acima de 13 anos;
geração média ou intermediária, que representava as pessoas casadas e com filhos;
geração velha, entendida por avós. Nesse sentido, Belk (1985) conclui que as
atitudes positivas ao materialismo tendem a diminuir de acordo com a idade ou
geração dos consumidores. Os indivíduos da nova geração tendem a ser mais
materialistas, o que pode diminuir conforme o envelhecimento das pessoas. Esta
relação entre o materialismo e jovens consumidores também é confirmada por
Richins e Dawson (1992), Micken (1995) e Watson (1998, 2003).
Na seguinte variável das pesquisas, o gênero dos entrevistados, exposto no
Quadro 3, autores como Belk (1985), Richins e Dawson (1992) e Watson (1998,
2003) não encontraram nenhuma relação entre as atitudes positivas ao materialismo
e o gênero dos entrevistados. Apenas as pesquisas aplicadas por Micken (1995)
encontraram diferenças entre homens e mulheres, nas dimensões de inveja e falta
de generosidade.
A terceira verificação teórica são atitudes positivas ao materialismo e à renda.
Nessa variável, de acordo com o Quadro 3, os autores Belk (1985) e Watson (1998)
não estiveram dispostos a verificar essa associação. Entretanto, Richins e Dawson
(1992) e Watson (2003) não encontraram nenhuma relação entre o materialismo e a
renda dos entrevistados, já que os indivíduos considerados materialistas estavam
alocados em todas as classes econômicas. A única construção que concluiu
positivamente foi de Micken (1995) no momento em que os resultados apontam que
famílias com rendas inferiores a US$25,00 por dia possuem relação com a dimensão
Inveja.
38
2.2 CONSUMO EXCESSIVO
Nesse momento, são apresentados os estudos e teorias de consumo
excessivo ou consumismo junto ao construto de Wu (2006). Embora este trabalho
trate da compra em excesso, devem-se esclarecer as diferenças entre os tipos de
comportamento de consumo – compulsivo e impulsivo.
2.2.1 Teorias e definições de consumo excessivo
Ridgway, Kukar-Kinney e Monroe (2006, 2008) definiram a compra excessiva
de duas formas distintas. A primeira é relacionada ao ato de compra excessiva, ou
seja, o indivíduo que compra frequente e excessivamente, porém não possui
nenhum quadro de transtorno patológico. Entretanto, na segunda situação do
consumo excessivo, localizam os fatores e distúrbios de transtorno obsessivo e
traços de compras por impulso. Nesta segunda versão, os autores consideram a
compra compulsiva e impulsiva que, neste estudo, serão discutidos posteriormente.
Por outro lado, Wu (2006) relatou que o consumo excessivo pode ser definido
como indivíduos que compram em excesso os quais, por diversas vezes, gastam
repetidamente mais do que deveriam com base nas suas condições financeiras.
Nesse mesmo sentido, Rindgway, Kukar-Kinney e Monroe (2006) descreveram que
a compra excessiva é caracterizada pela tendência dos consumidores a se
preocuparem abusivamente com compra e, consequentemente, a comprar mais e
com maior frequência que os outros indivíduos. Dittmar e Drury (2000) e Wu (2006)
apontaram que essas pessoas que consomem em excesso podem ser
caracterizadas como viciadas em compra e, por vezes, são resultado dos desejos de
bem-estar e ou falhas do autocontrole pessoal. Hirschmann (1992) também
concorda com essa proposição. Para o autor, as compras excessivas são resultados
das falhas no autocontrole, já que a compra pode ser induzida por hábitos que estão
em função de processos mentais inconscientes.
Ridgway, Kukar-Kinney e Monroe (2006) ainda identificam os consumidores
excessivos como compradores repetitivos e, geralmente, possuem maior
preocupação com compra do que com outros sentimentos da vida humana. Nesse
mesmo sentido, os autores ainda reforçam que estas pessoas utilizam o
consumismo para aliviar os sentimentos negativos com o objetivo de proporcionar
39
momentos de bem-estar e felicidade. A baixa autoestima do indivíduo também foi
relacionada por Faber e O`Guinn (1992) quando afirmaram que estes consumidores
possuem traços amplamente ligados ao materialismo e à solidão e que, futuramente,
podem tornar-se compradores impulsivos e compulsivos.
Por fim, Roberts e Jones (2001) retratam que estes consumidores são
relacionados ao endividamento e à falta de controle das suas finanças, ou seja,
essas pessoas consumistas possuem maior probabilidade de serem mal pagadores,
além de estarem ligadas à devolução dos bens às lojas, já que não possuem
organização financeira.
2.2.2 O construto de consumo excessivo de Wu (2006)
Por mais que existam esforços na construção científica para o campo do
comportamento do consumidor, Wu (2006) iniciou a sua obra afirmando que a falta
de uma definição clara sobre consumo excessivo impede o progresso dos estudos.
Estas preocupações acerca das teorias que envolvem o construto são respostas aos
atuais gastos, aumento das dívidas e os graves problemas financeiros em que vivem
atualmente os consumidores. Estes fatores não são restritos aos norte-americanos,
pois também indivíduos de países da Europa já vivenciam a dificuldade em controlar
os seus gastos, resultando em níveis elevados das dívidas financeiras pessoais.
Nesse contexto, Wu (2006, p.25) aborda que o consumo excessivo pode ser
visto como “[...] um tipo de comportamento de compra que permitirá os
consumidores gastar repetidamente mais do que deveriam, com base em suas
condições financeiras.” O modelo desenvolvido para a mensuração da compra
excessiva de Wu (2006) é baseado em cinco dimensões diferentes, conforme o
Quadro 4.
40
Quadro 4 – Dimensões do construto de consumo excessivo
Fonte: Wu (2006, tradução do autor).
Da união de todos essas dimensões, Wu (2006) desenvolveu um construto de
mensuração de consumo excessivo do consumidor. Este construto foi aplicado em
duas diferentes amostras: estudantes do Instituto de Tecnologia da Geórgia e uma
amostra aleatória de adultos dos Estados Unidos da América. Para a primeira
pesquisa, cerca de 416 alunos do Instituto foram submetidos ao questionário, pois,
como justifica o autor, jovens tendem a possuir maior propensão ao consumo
excessivo. Entretanto, na segunda aplicação, 404 adultos foram pesquisados. Para
os dois estudos, o autor utilizou quatro variáveis – idade, renda individual, etnia e
gênero.
Wu (2006) retrata que, para os resultados da aplicação com os estudantes,
alfas de Cronbach foram calculados para os cinco fatores de compra excessiva,
sendo todos maiores que 0,70, de acordo com o padrão proposto por Nunally e
Bernstein (1994). Os índices e resultados da pesquisa aplicada por Wu (2006)
podem ser visualizados no Quadro 5, conforme:
Dimensões Representações
Atração por produtos como sinal de status
Utilização da compra excessiva como representação de status social. Estes indivíduos utilizam o ato de compra para ascensão social ou indicação de poder perante os outros indivíduos.
Prazer em comprar
O ato de compra para representar diversão e alegria. O consumo excesso representa o aumento da estima do indivíduo.
Compra inconsequente
Aquisição de objetos sem pensar nas consequências que poderão ocorrer nas suas bases financeiras. A imprudência e a falta de preocupação, retratam essas pessoas, uma vez que, por diversos momentos, não possuem dinheiro suficiente para pagar todas as suas compras.
Compra por emoção /
excitação
Compras excessivas nos momentos de prazer e bem-estar.
Falta de autocontrole
financeiro
Incapacidade e falta de preocupação no acompanhamento das despesas pessoais.
41
Quadro 5 – Resultados do construto aplicado aos estudantes e adultos
Amostra Itens ! CR
Estudantes
Atração por produtos como sinal de status 0,86 0,86
Prazer em comprar 0,92 0,92
Compra inconsequente 0,87 0,88
Compra por emoção / excitação 0,93 0,93
Falta de autocontrole financeiro 0,74 0,75
Adultos
Atração por produtos como sinal de status 0,86 0,87
Prazer em comprar 0,92 0,91
Compra inconsequente 0,84 0,84
Compra por emoção / excitação 0,94 0,94
Falta de autocontrole financeiro 0,83 0,84
Fonte: Wu (2006). Nota: (1) Análise: Estatística Descritiva, Análise Fatorial, Correlação de Pearson. (2) Tradução do autor.
Como pode ser observado no Quadro 5 para a amostra de adultos, Wu (2006)
relata que Alfas de Cronbach foram calculados para os cinco fatores de compra
excessiva e todos novamente são maiores do que 0,70.
Os resultados da pesquisa aplicada por Wu (2006) indicam que jovens
estudantes com renda inferior a US$10.000,00 por mês, do gênero feminino,
representaram os maiores índices de consumo excessivo. No segundo estudo
amostra de adultos, homens com renda mensal inferior a US$30,000,00, menos de
30 anos e brancos, possuem maior representatividade do consumo excessivo, de
acordo com o construto proposto pelo autor.
Após a validação, Wu (2006) relata que o construto proposto, baseado em
cinco dimensões inter-relacionadas, possui consistência, validade e com índices
satisfatórios para a aplicação de pesquisas empíricas no comportamento do
consumidor. Além de este instrumento individual possuir validação satisfatória, Wu
(2006) ainda descreve que este construto, baseado em quinze afirmativas, possui
boa confiabilidade e aplicabilidade.
Finalmente, é importante ressaltar que Wu (2006, p.53) conduziu este
construto sem as condições de consumo compulsivo e consumo impulsivo, quando
relata “[...] além disso, com base nos resultados da análise discriminante, eu tenho
demonstrado que a compra excessiva de fato é diferente da compulsiva e
impulsiva.” Essas diferenças são reunidas e apresentadas no item a seguir.
42
2.2.3 Diferenças entre consumo compulsivo, impulsivo e excessivo
Goldenson (1984, p.506) justifica a compulsividade como “[...] um transtorno
de ansiedade em que as obsessões ou compulsões são fontes significativas de
estresse, e pode interferir na capacidade de funcionamento do indivíduo”. Essas
pessoas são caracterizadas por “[..] desejos incontroláveis de obter, usar ou
experimentar uma sensação, substância ou atividade, que leva o individuo a engajar
repetidas vezes o seu comportamento.” (FABER; O`GUINN, 1988, p.153).
Os autores Faber e O`Guinn (1988) relacionam os indivíduos compulsivos por
compras repetitivas ou crônicas, enquadradas nas representações da baixa
autoestima do consumidor e ligadas aos fatores patológicos da saúde. A pesquisa
aplicada com 50 compradores compulsivos, que tratavam de sua doença em
terapeutas, em sessões de entrevistas individuais, indicam que a compulsão está
relacionada à baixa autoestima, à inveja e ao apego aos objetos pessoais.
Nesse sentido, Hoyer e MacInnis (2001) indicam que esses compradores
compulsivos tendem a adquirir bens e serviços dos quais, frequentemente, não
necessitam, além de serem mais propensos ao endividamento, pois, muitas vezes,
compram objetos que não podem pagar.
Outras variáveis foram relacionadas como fatores preponderantes ao
comportamento de compra compulsiva - a baixa autoestima, a solidão e os aspectos
demográficos. A primeira variável foi apresentada pelos estudos desenvolvidos por
Black e Uhde (1994), Black, Monahan e Gabel (1997), Christenson e colaboradores
(1992), Faber e O'Guinn (1992), Nathan (1988) e Scherhorn, Reisch e Raab (1990),
que encontraram forte relação entre os consumidores compulsivos e a baixa
autoestima dos pesquisados.
A solidão foi analisada por Schlosser, Black e Repertinger (1994) e Black e
Uhde (1994), na qual encontraram forte relação entre os consumidores e o
isolamento social, assim como os dados das pesquisas aplicadas pelos autores
Faber e O'Guinn, (1988, 1992) e Schlosser, Black e Repertinger (1994), que
alcançaram o mesmo resultado.
Os índices sociodemográficos foram estudados por Faber e O'Guinn (1988,
1992), Scherhorn, Reisch e Raab (1990), Christenson e colaboradores (1992) e
McElroy e colaboradores (1994). Os resultados listam que as mulheres e os jovens
possuem a maior probabilidade de compra compulsiva que homens e adultos.
43
Entretanto, a impulsividade é definida por Faber e O'Guinn (1988) como a
falta de prioridades nos gastos, o que resulta em despesas excessivas, dívida
desnecessária e aquisição de bens que, por muitas vezes, não possui função na
vida do indivíduo. Outras definições de compra por impulso são propostas por Rook
e Hoch (1985), Rook (1987), Rook e Gardner (1993), que a retratam como
aquisições não planejadas as quais surgem da rápida tomada de decisão por parte
do indivíduo e, em boa parte dos casos, estão ligadas à relação de posse imediata
do bem ou serviço. Por vezes, os consumidores passam a dar pouca atenção às
possíveis consequências negativas que podem trazer estes atos.
O estudo aplicado por Prasad (1975) com uma amostragem de consumidores
varejistas concluiu que 39% dos indivíduos estavam ligados à compra não planejada
e 62% finalizavam a compra com ao menos um objeto em liquidação - ou algo que
não estava planejado. Gardner e Rook (1988) reforçam o conceito da impulsividade
do individuo. Os autores relatam que a impulsividade é relacionada à alternância de
humor, que inicia em euforia, e após a compra os indivíduos enfrentam depressão e
frustrações emocionais.
Em diversas vezes, a impulsividade e a compulsividade estão relacionadas,
porém são grandes as diferenças entre as duas construções. Assim como afirmam
Kwak e colaboradores (2006, p.211), “[...] os dois fatores resultam em compras não
planejadas, desnecessárias, e principalmente excessivas”, além do ligamento às
consequências prejudiciais ao indivíduo, como, por exemplo, o sentimento de culpa,
o endividamento e a separação social e familiar.
A compra excessiva pode ser confundida, equivocadamente, com o consumo
compulsivo e/ou consumo impulsivo. Embora se pareçam por serem conceitos
entrelaçados entre si, não possuem o mesmo significado e representação teórica.
Edwards (1993) relatou uma linha com níveis de intensidade, diferenciando os níveis
excessivos e compulsivos. Esta linha, conforme Figura 1, retrata o comportamento
de compra como um continuum, que inicia no nível normal de compra e,
gradativamente, atinge o nível mais alto de compra compulsiva. Vale apontar que a
compra impulsiva não pertence a esta linha de consumo, apenas consumo
excessivo e compulsivo.
44
Figura 1 – Níveis de compra excessiva à compra compulsiva
Fonte: Edwards (1993, p.73).
Na Figura 1, é possível verificar que os consumidores excessivos se
enquadram até os três primeiros níveis de consumo – normal, recreacional e
intermediário - já os consumidores considerados patológicos ou compulsivos, estão
entre os dois últimos níveis – compulsivo clássico e gastadores viciados.
(EDWARDS, 1993).
Edwards (1993) aplicou esta escala em dois estudos diferentes, sendo:
consumidores compulsivos que frequentavam terapeutas; outros consumidores,
considerados não compulsivos. Diferenças foram encontradas. A autora revela que o
primeiro grupo de consumidores se enquadravam até os três primeiros níveis da
escala e podem ser considerados como “[...] compradores excessivos que é
assumido para fazer compras e gastar, principalmente fora da necessidade.”
(EDWARDS, 1993, p. 82). Entretanto, os indivíduos compulsivos, são considerados
como “[...] viciados, ou indivíduos que compram compulsivamente para aliviar a
ansiedade, cujo comportamento de compra tem criado graves disfunções na sua
vida cotidiana” (EDWARDS, 1993, p. 82), enquadrados nos dois últimos fatores da
Figura 1 - compulsivo clássico e gastadores viciados.
Com este cenário, é importante esclarecer as principais diferenças entre
compulsão, impulsão e compra excessiva. O Quadro 6 destaca as principais
características de cada construto.
45
Quadro 6 – Quadro comparativo entre compra excessiva, compulsiva e impulsiva
Compra Excessiva Compra Compulsiva Compra Impulsiva
Comportamento de compra excessivo se relaciona a consumidores que compram com frequência e excessivamente, porém não possuem um diagnóstico de transtorno patológico. (RIDGWAY, KUKAR-KINNEY; MONROE, 2006).
Consumidores podem ser instalados como uma vontade de compra, porém indivíduos compulsivos estão no extremo continuum desta vontade. (FABER; O'GUINN, 1988).
“Uma tendência dos consumidores para comprar espontaneamente, irrefletidamente, de imediato e cineticamente.” (ROOK; FISHER, 1995, p.306).
Compradores excessivos podem não ter continuamente uma experiência incontrolável do desejo de comprar. (HASSAY; SMITH, 1996).
Baseado em dois critérios, o primeiro é a repetição de compra; o segundo, o comportamento deve ser uma problemática para o indivíduo. (FABER; O'GUINN, 1988).
A grande maioria dos consumidores, por vezes, realiza compra por impulso, porém existem indivíduos que possuem a tendência de compra impulsiva e que podem desenvolver padrões regulares de impulsividade. (HAUSMAN, 2000).
Os indivíduos que compram excessivamente nem sempre trazem danos a si próprios, excluindo as dificuldades financeiras, através dos gastos excessivos. (FABER; O'GUINN, 1988).
“Compra crônica, repetitiva que se torna uma resposta a eventos de sentimentos negativos. Torna-se muito difícil de parar e finalmente, resulta em consequências danosas.” (FABER; O'GUINN, 1988, p.155).
“Seu pensamento é suscetível, de forma irrefletida, impulsionada pela atração emocional e absorvido pela promessa de gratificação imediata.” (HOCH; LOEWENSTEIN, 2001, p.201).
Compradores em excesso tendem a comprar repetidamente, porém podem estar preocupados com a realização de suas compras. (RIDGWAY, KUKAR-KINNEY; MONROE, 2006).
Poderoso desejo cria tensões e ansiedades que são aliviados apenas através da compra. (FABER; O'GUINN 1992).
Fatores como posição econômica, visibilidade social e preenchimentos de vazios emocionais caracterizam os compradores impulsivos. (HAUSMAN, 2000).
“Um tipo de comportamento de compra que permitirá aos consumidores repetidamente gastar mais do que deveriam com base em suas condições financeiras.” (WU, 2006, p.25).
As consequências dos consumidores compulsivos: ansiedades, dívidas, perda de controle emocional e baixa autoestima. (FABER; O'GUINN, 1992).
A compra impulsiva pode ser derivada de uma perda ocasional ou falta do controle dos impulsos. (FABER; O'GUINN, 1992).
Compras excessivas ajudam a aliviar os sentimentos negativos vivenciados pelo indivíduo, porém não se utiliza somente desta forma para proporcionar o bem- estar na sua vida. (RIDGWAY, KUKAR-KINNEY; MONROE, 2006).
Os indivíduos são presos num círculo vicioso, no qual possuem grandes dificuldades de parar de comprar. (FABER; O'GUINN, 1988).
“Quando ocorrer a ausência ocasional do controle dos impulsos, esta acumula até um certo ponto em que a compra impulsiva pode evoluir para a compra compulsiva. (WU, 2006, p.29).
46
Ao comprar um mesmo produto, os consumidores podem portar-se de
diferentes formas. As diferenças entre as três relações de compra acontecem
quando a aquisição se torna algo central na vida do ser humano. A impulsividade
está envolvida no desejo de aliviar suas tensões e ansiedades através da compra.
Por outro lado, para o consumidor compulsivo, os desejos e satisfações de compra
são extremamente passageiras, o que leva a comprar insaciavelmente, ocasionado
problemas sociais e de ordem financeira. (KWAT et al., 2006).
2.3 ENDIVIDAMENTO DO CONSUMIDOR
Para retratar as principais construções teóricas que envolveram o
endividamento do consumidor, este item está centrado em quatro blocos: atitude de
endividamento do consumidor; propensão ao endividamento; dívidas dos jovens no
contexto brasileiro e, finalmente, o construto de propensão ao endividamento de
Moura (2005).
2.3.1 Atitude de endividamento do consumidor
Para compreender o que representa o saldo devedor dos indivíduos é
necessário esclarecer a representatividade do crédito e as facilidades bancárias
proporcionadas às pessoas, uma vez que são envolvidas no endividamento do
consumidor com a perspectiva brasileira e mundial.
Crédito, de acordo com Lobo (1997, p.59), “[...] deriva das palavras latinas
credere, confiança e creditum uma coisa confiada de boa fé.” Significa uma soma
em “[...] dinheiro disponibilizada por uma pessoa, uma entidade financeira ou um
banco, por um determinado período” (LOBO, 1997, p. 59), ou seja, o beneficiário
deverá “[...] pagar uma forma de remuneração, designada por juros, como
contrapartida da disponibilização do dinheiro.” (LOBO, 1997, p. 59). Esta atividade
implica, geralmente, prestação de uma garantia ao banco pela quantia entregue ao
consumidor.
Acerca do crédito, que representa uma quantia disponibilizada ao consumidor,
Harvey (1992, p. 99), aborda o dinheiro como a “[...] representação suprema do
poder social na sociedade capitalista, e se torna objeto de luxúria, de ambição e de
desejo”, ou seja, confere o privilégio de exercer poder sobre outros, “[...] comprar
47
seu tempo de trabalho ou os serviços que oferecem, e até criar relações
sistemáticas de domínio exploradas apenas com o controle sobre o poder do
dinheiro.” (HARVEY, 1992, p. 99).
Nessa descrição, Green (1997) aponta que todos os consumidores possuem
diversas facilidades para efetuar o pagamento de suas compras, embora não
tenham nenhum dinheiro no ato, diversos produtos bancários vêm a possibilitar tal
transação, já que uma variedade de mecanismos passam a suprir este papel, com o
apoio de crédito, além da utilização facilitada de cheques, cartões de crédito e
débito.
Bertola, Disney e Grant (2006, p.1) apontam que os mercados de crédito têm
sido discutidos nos trabalhos científicos, bem como em diversos debates políticos e
em livros didáticos norte-americanos, pois as “[...] famílias são tipicamente vistas
como fornecedores de fundos nos mercados financeiros” e “[...] endividamento e o
pagamento estão longe de ser livre de problemas.” (BERTOLA; DISNEY; GRANT,
2006, p. 1). Por mais ágeis, as oportunidades de empréstimo não são relacionadas
ao poder de melhorar o bem-estar econômico das famílias, pois, geralmente,
implicam endividamento do consumidor.
Zerrenner (2007) compreende o endividamento como um saldo devedor de
um consumidor, resultante de uma ou mais dívidas. Também pode ser retratado
como a falta de comprometimento de assumir os compromissos financeiros, que é
reflexo desta atual sociedade de consumo.
Nas construções científicas, o endividamento financeiro familiar passou a ser
explorado por diversas áreas de interesse, como o Marketing, a Sociologia, que está
voltada às percepções da sociologia econômica ou aos reflexos do desenvolvimento
capitalista (MERCADANTE, 1997; SOUZA, 2003; STEINER, 2006), e a Psicologia
no desenvolvimento dos fatores comportamentais que possam resultar em
endividamento do consumidor, dentro da grande área da Psicologia Econômica.
(LIVINGSTONE; LUNT, 1992; LEA; WEBLEY; WALKER, 1995; WALKER, 1996;
WEBLEY; LEVINE; LEWIS, 1993).
Como descrito anteriormente, os endividados são caracterizados como
indivíduos inadimplentes, com dificuldade para quitar as suas dívidas e, até mesmo,
baixa ou nenhuma habilidade de gerir seus rendimentos. Estas atitudes resultam em
problemas de ordem psicológica, o que leva ao endividado a incidentes como:
separação, desemprego, problemas relacionados à saúde e demais ordens que
48
podem afetar a vida do consumidor, como descrevem os autores Yamauchi e
Templer (1982) e Borzekowski, Kiser e Ahmed (2007).
Uma pesquisa relevante para este estudo do endividamento do consumidor é
realizada por Katona (1975). O autor se dispõe a buscar os principais motivos do
endividamento do consumidor. O estudo foi aplicado com indivíduos norte-
americanos. A pesquisa revelou que são três os principais motivos do endividamento
de uma pessoa física. O primeiro esteve envolvido com os consumidores de baixa
renda, pois possuem dificuldades de manter as suas necessidades básicas e, no
momento que são envolvidos a preencher seus desejos, tornam-se endividados. O
segundo fator compreendeu os consumidores de alta renda. Por maior que seja a
renda deste grupo, quando combinada a um forte desejo de consumo, torna os
consumidores deste grupo endividados. A última verificação da pesquisa abordou os
indivíduos que possuem dificuldades em economizar ou em poupar as suas
finanças. Entram neste quadro os indivíduos caracterizados como consumidores
com atitudes positivas ao materialismo, consumo excessivo, compulsivo e impulsivo.
Nessa mesma abordagem, Livingstone e Lunt (1992) analisaram fatores
sociodemográficos junto à propensão ao endividamento do consumidor com o
objetivo de verificar quais variáveis – o gênero, a raça, o nível de educação e a
renda familiar – possuíam maior relação com o débito dos pesquisados. Os
resultados apontaram que nenhum desses fatores possuiu relação com as atitudes
voltadas ao débito pessoal. Entretanto, as pesquisas desenvolvidas por Kösters,
Stephan e Stefan (2004) revelaram que o desemprego é a principal causa do
endividamento financeiro do consumidor. A Figura 2 aponta as principais causas do
débito financeiro.
49
Figura 2 – Causas do endividamento
Fonte: Kösters, Stephan e Stefan (2004, p.90).
Conforme a Figura 2, é possível compreender que o desemprego pode ser a
principal causa do endividamento dos consumidores, já que esta variável, no ano de
2004, representou cerca de 38% na Alemanha, 42% na França, 19% na Bélgica,
26% na Áustria e 50% nos Estados Unidos. Além disso, vale destacar que a má
gestão orçamentária possui uma forte relação com o endividamento, pois na
Alemanha, Áustria e Estados Unidos foi destacada com 20%, 26% e 37%,
respectivamente.
Números recordes na execução de dívida dos norte-americanos foram
expostos nas pesquisas de Weller (2007, p.583), pois o autor aponta que o “[...] total
de endividamento das famílias cresceu quatro vezes mais rápido entre março de
2001 a 2006 do que a década de 1990.” A pesquisa relata ainda que dentre esses
índices que geram diversos problemas, resultantes deste endividamento, as famílias,
de forma geral, enfrentam dificuldades, como, por exemplo, a baixa oferta do
emprego e os baixos salários. Além disso, o autor descreve que nos Estados Unidos
“[...] os custos de habitação, educação superior, saúde e transporte cresceram
acentuadamente na última década.” (WELLER, 2007, p. 583).
Na representação nacional do Brasil, de acordo com o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - DIEESE (2010), a
instabilidade no emprego retrata altos índices de endividamento do consumidor.
50
Salvador possui a maior relação trabalhador versus desemprego, o que representa
16,6% de indivíduos, Recife 16,2%, Distrito Federal 13,6%, São Paulo 11,9% e
Fortaleza 9,4% de desemprego. Entretanto, Porto Alegre e Belo Horizonte possuem
índices médios de 8,5% de consumidores desempregados. Nesse mesmo sentido, a
pesquisa do IBGE (2011) relatou que, somente no mês de dezembro de 2010,
existiam cerca de 1,6 milhões de pessoas desempregadas no país. IPEA (2011)
indica que 54,15% das famílias brasileiras estão endividadas, com valores que
ultrapassam R$5.000,00 mensais.
Consumidores que possuem alguma relação com o débito, de acordo com a
pesquisa realizada por CNC – Confederação Nacional do Comércio - PEIC (2011),
chegaram a 1.836 milhões somente no mês de janeiro de 2011. Ainda, segundo o
Instituto, diversos fatores apontam este aumento: i) instabilidade no emprego e baixa
renda mensal; ii) confiança do consumidor relacionada ao clima otimista do
mercado; iii) crédito, pois de acordo com o instituto, o consumidor nunca obteve tão
significativas reduções nas taxas de juros, o que favoreceu a sua utilização. Este
cenário ainda pode ser explicitado com a pesquisa realizada nas principais capitais
do país, pelo SPC – Serviço de Proteção ao Crédito (2007), conforme os índices da
Tabela 1.
Tabela 1 – Inadimplência no Brasil
Causas Ano 1997 (%) Ano 2002 (%) Ano 2007 (%)
1 – Causas da Inadimplência Desemprego pessoal 37 % 47% 53% Desemprego familiar 2% 3% 3% Doença na família 3% 6% 4% Descontrole no gasto 22% 15% 10% Queda na renda 16% 2% 4% Avalista, empréstimo de nome - 14% 14% Outros 20% 13% 12% 2 – Sexo Masculino 72% 57% 62% Feminino 28% 43% 38% 3 – Idade Menos de 20 anos 4% 2% 3% De 21 a 30 anos 42% 40% 25% De 31 a 40 anos 32% 40% 34% De 41 a 50 anos 17% 13% 26% De 51 a 60 anos 4% 4% 10% Mais de 60 anos 1% 1% 1%
Fonte: SPC (2007).
51
De acordo com a Tabela 1, pode-se observar um expressivo endividamento
dos jovens consumidores brasileiros. Apesar de o cenário indicar uma leve queda no
débito destes indivíduos, os índices ainda são altos. Estes dados são primordiais
para esta pesquisa, pois, como observado na Figura 2 e na Tabela 1, o desemprego
pode ser avaliado como uma das principais causas do endividamento pessoal.
Novos dados estratificados no contexto do jovem brasileiro serão abordados nos
próximos itens.
2.3.2 Propensão ao endividamento
O Quadro 7 transcreve as principais construções teóricas que desenvolveram
e aplicaram construtos que foram capazes de medir a propensão ao endividamento
do consumidor.
52
Quadro 7 – Síntese de construções de propensão ao endividamento
Tema / Autor Estudo / Título Construto Amostra / Estatística Aplicada
Alfa de Cronbach
Endividamento
Lea, Webley e Levine (1993)
The economic psychology of
consumer debt.
Desenvolvimento de um construto
com 12 itens. 5 itens reversos Escala Likert 7
pontos.
Amostra = 420 clientes de uma empresa
de serviços públicos.
Estatística Descritiva Análise Fatorial.
0,70
Endividamento
Lea, Webley e Walker (1995)
Psychological factors in
consumer debt: money
management, socialization, and
credit use.
17 itens Likert - 7 pontos para respostas.
Amostra=464 clientes de uma empresa
de serviços públicos. Estatística Descritiva
Análise Fatorial.
0,83
Endividamento
Davies e Lea (1995)
Student attitudes to student debt.
14 itens escala do tipo
Likert - 7 pontos para respostas.
amostra=140 Estudantes de
graduação.
Estatística Descritiva Análise Fatorial.
0,79
Endividamento
Walker (1996)
Financial management,
coping and debt in households under
financial strain.
10 itens da oconstruto de Lea, Webley e
Levine (1993).
amostra=100 Mães do sul da Inglaterra.
Estatística Descritiva Análise Fatorial
Regressão não linear.
0,71
Materialismo / Endividamento Watson (1998)
Materialism and debt: a study of current attitudes and behaviors.
14 itens do construto de Davies e Lea
(1995).
amostra =299 Estudantes da Nova
Zelândia. Estatística Descritiva Regressão não linear.
0,65
Endividamento Webley e
Nythos (2001)
Life-cicle and dispositional routes into problem debt.
21 itens de um construto de
Atitude à Poupança.
amostra =4.147 Consumidores holandeses.
Estatística Descritiva Regressão não linear.
N/A
Materialismo / Endividamento
Watson (2003)
The relationship of materialism to
spending tendencies, saving,
and debt.
Modelo de Richins e Dawson
(1992) original, com 18 itens.
amostra =322 EUA.
Estatística Descritiva Análise Fatorial
Regressão não linear
N/A
Materialismo / Endividamento Moura (2005)
Impacto dos diferentes níveis de
materialismo na atitude ao
endividamento e o nível de dívida
para o financiamento do
consumo nas famílias de baixa
renda do município de São Paulo.
Adaptação do construto de Lea, Webley e Walker
(1995).
Amostra = 450
Famílias de baixa renda da cidade de São Paulo.
Estatística Descritiva
Análise Fatorial Regressão não linear
Correlação de Pearson.
0,84
53
No sentido de verificar todos os trabalhos e construtos aplicados para
identificar as propensões de endividamento do consumidor, o Quadro 8 retrata as
principais relações que aconteceram entre o débito do consumidor e as variáveis
sociodemográficas utilizadas nos estudos.
54
Quadro 8 – Síntese das relações entre endividamento e idade, gênero e renda
Autor
Construto
Amostra
Relações do endividamento com:
Idade Gênero Renda
Lea, Webley
e Levine (1993)
Desenvolvimento de um construto com 12
itens. Escala Likert 7 pontos
Amostra= 420 clientes (não-devedores, devedores
moderados e devedores graves).
Existe relação entre as atitudes positivas ao endividamento e a
idade dos consumidores. Jovens possuem maior
propensão à dívida.
Aplicação estatística não foi correlacionada.
Existe relação entre as atitudes positivas ao
endividamento e a renda dos indivíduos.
Pessoas com rendimentos mais baixos possuem
maior propensão à dívida.
Lea, Webley
e Walker (1995)
17 itens com escala do tipo Likert 7 pontos
para resposta
Amostra=464 clientes (não -
devedores, devedores
moderados e devedores graves).
Existe relação entre as atitudes positivas ao endividamento e a
idade dos consumidores. Jovens casais com filhos.
Existe relação entre as atitudes positivas ao endividamento e o
gênero dos indivíduos. Mulheres tendem a ser
mais propensas que os homens.
Existe relação entre as atitudes positivas ao
endividamento e a renda dos indivíduos.
Pessoas com rendimentos mais baixos possuem
maior propensão à dívida.
Davies e Lea
(1995)
14 itens específicos para estudantes
com escala do tipo Likert 7 pontos para
resposta
Amostra=140
Estudantes de graduac !ão de uma
universidade inglesa
Existe relação entre as atitudes positivas ao endividamento e a
idade dos consumidores. Jovens universitários com mais
tempo de estudo são mais propensos à aquisição de dívidas
Existe relação entre as atitudes positivas ao endividamento e o
gênero dos indivíduos. Mulheres tendem a ser
mais propensas que os homens.
Aplicação estatística não foi correlacionada.
Webley e Nythos (2001)
21 itens de um
construto de Atitude à Poupança
Amostra=4.147
Consumidores holandeses
Aplicação estatística não foi correlacionada.
Aplicação estatística não foi correlacionada.
Existe relação entre as atitudes positivas ao
endividamento e a renda dos indivíduos.
Rendimento familiar elevado diminui
propensão às dívidas.
55
Logo, conforme o Quadro 8, os estudos desenvolvidos por Lea, Webley e
Levine (1993), Lea, Webley e Walker (1995) e Davies e Lea (1995) apontam que os
jovens possuem maior propensão ao endividamento. Os estudos desenvolvidos por
Webley e Nythos (2001) não mostram nenhuma relação entre idade e
endividamento.
Os resultados das pesquisas de Lea, Webley e Walker (1995) e Davies e Lea
(1995) descrevem que as mulheres tendem a ser mais propensas ao endividamento
que os indivíduos de gênero masculino. Esta mesma relação não foi encontrada nos
estudos de Lea, Webley e Levine (1993) e Webley e Nythos (2001). Entretanto, nas
relações entre o endividamento e a renda dos entrevistados, Lea, Webley e Levine
(1993), Lea, Webley e Walker (1995) e Webley e Nythos (2001) apontam que as
pessoas com rendimentos mais baixos possuem maior propensão à dívida, ou seja,
rendimentos familiares mais elevados podem diminuir as propensões dos indivíduos.
2.3.3 Dívidas dos jovens no contexto brasileiro
Como visto anteriormente, as dívidas acumuladas pelos consumidores são
resultado de diversos fatores, porém como este contexto já foi esclarecido, este
subitem abordará o endividamento dos jovens e estudantes brasileiros, uma vez que
a pesquisa empírica deste estudo se dispõe a compreender e quantificar esse perfil
e seus débitos de consumo.
Os jovens passam a contrair dívidas e, assim, o comprometimento de uma
boa parcela de suas rendas faz com que assumam comportamentos inadimplentes,
pois não cumprem os seus débitos financeiros. As representações do endividamento
podem ser consideradas por dois fatores: o primeiro envolvido com situações que
levam as pessoas a contrair empréstimos e utilizar-se dos produtos bancários de
forma mais intensa; o outro representa os fatores que provocam as dificuldades no
pagamento de seus créditos, assim concordam os autores Lea, Webley e Walker
(1995) e Walker (1996).
Os índices do cenário nacional, aplicados pelo IPEA (2011), indicam uma
juventude despreparada para a gestão financeira, uma vez que somente no mês de
janeiro de 2011 o endividamento dos consumidores chegou a 59,4% do total da
pesquisa aplicada. Estes números são ainda mais alarmantes quando são expostos
os tipos de dívidas dos consumidores. O cartão de crédito é o líder do ranking, com
56
72,3% da população pesquisada no Brasil. Os outros tipos de dívidas, como, por
exemplo, o cheque especial, crédito consignado, carnês e financiamentos, somam
27,7% do total.
Adolescentes, com idades entre 12 e 17 anos já ocupam 12% do total de
consumo em cartões de crédito, pois de acordo com a pesquisa realizada pela
Associação Brasileira de Empresas de Cartão de Crédito e Serviços – ABESC
(2011), estes números tornam-se preocupantes para a economia nacional. Jovens
com idade entre 18 e 24 anos somam 14% dos nomes incluídos na lista de maus
pagadores na utilização do cartão de crédito.
Nesse mesmo sentido, ACSP (2010) aponta que, no ano de 2009, jovens com
idade até 20 anos representavam cerca de 4% do total da população em débito no
Brasil. Entretanto, no ano de 2010, estes dados dobraram, totalizando índices que
chegaram ao marco de 8% da população. Os resultados das pesquisas ainda
apontam que jovens com idade inferior a 20 anos representam cerca de 8% dos
endividados no Brasil. De 21 a 30 anos de idade, 28% da população em débito, 31
a 40 anos, cerca de 38% e, por fim, idades superiores há 41 anos somam 26%,
respectivamente. Diante das principais causas desta inadimplência dos jovens, é
possível apontar o índice de 38% relacionado ao desemprego, 14% descontrole ou
má gestão dos seus gastos, 11% para fiador ou avalista, 9% diminuição no
rendimento mensal do consumidor. Outros fatores somam 28%, como, por exemplo,
doenças e atrasos no salário.
2.3.4 Modelo de propensão ao endividamento de Moura (2005)
De acordo com os Quadros 8 e 9, é possível constatar que diversos
construtos foram realizados para a mensuração da propensão ao endividamento do
consumidor. Apesar de a literatura apresentar alguns modelos anteriores aos da
década de 90, Lea Webley e Levine (1993) foram os precursores do tema. Os
autores aplicaram o seu estudo nos Estados Unidos com amostragem válida de 420
clientes de uma empresa de serviços públicos. No estudo seguinte, com 464
pesquisados, Lea, Webley e Walker (1995) identificaram falhas no construto, o que
mereceu novos estudos para a validação. Os autores Davies e Lea (1995) e Walker
(1996) se propuseram a replicá-lo em estudos que envolveram 140 alunos de
57
graduação e 100 mães do sul da Inglaterra, respectivamente. Os autores sugeriram
que novas mudanças fossem realizadas para a validação do construto.
Em outros dois estudos que envolveram o endividamento do consumidor,
Watson (1998, 2003) utilizou das modificações realizadas por Davies e Lea (1995)
para verificar as propensões às dívidas dos jovens universitários. Entretanto, no
Brasil, Moura (2005), em um estudo aplicado no município de São Paulo, baseado
no construto de Lea, Webley e Walker (1995), adequou o construto para o contexto
nacional e construiu dimensões capazes de mensurar a propensão ao
endividamento. A afirmações desenvolvidas por Lea, Webley e Walker (1995) são
baseadas nos itens descritos no Quadro 9.
Quadro 9 – Afirmativas da escala de Lea, Webley e Walker (1995)
Afirmativas
Fazer um empréstimo é bom porque permite que aproveitemos a vida.
É uma boa ideia ter o que se quer agora e pagá-lo somente depois.
Usar o crédito é errado.
É melhor ficar com fome do que comprar comida “fiado”.
Eu planejo as grandes compras com antecedência.
Ficar devendo não é nunca uma coisa boa.
O crédito é uma parte essencial do estilo de vida atual.
É melhor ficar devendo do que deixar as crianças sem presente de Natal.
É importante viver dentro dos seus próprios rendimentos.
Mesmo com uma baixa renda, deve-se poupar um pouco regularmente.
Quando se pega dinheiro emprestado, deve-se pagar o mais rápido possível.
Muitas pessoas contraem muitas dívidas.
É muito fácil para as pessoas adquirirem cartões de crédito.
Eu não gosto de pedir dinheiro emprestado.
Pedir dinheiro emprestado é muitas vezes uma coisa boa.
Eu corro riscos com meu dinheiro.
Não tem importância pegar dinheiro emprestado para comprar roupas para as crianças.
Fonte: Lea, Webley e Walker (1995, p.211). Nota: (1) Escala de 7 pontos (2) O construto original pode ser visualizada no anexo 4. (3) Tradução do autor.
Conforme as afirmativas relacionadas no Quadro 9, é possível observar que,
assim como Lea, Webley e Walker (1995), Moura (2005) utilizou-se das mesmas
58
dimensões para mensurar as atitudes do endividamento no Brasil, sendo elas:
impacto moral na sociedade, preferência no tempo e grau de autocontrole.
A primeira, de acordo com Moura (2005, p.69), impacto moral na sociedade,
reflete a “[...] reação e julgamento da sociedade sobre a dívida e, principalmente,
sobre os devedores, compõem uma maior ou menor aceitação e tolerância social ao
endividamento.” A segunda, preferência no tempo, é descrita como “[...] as opções
dos indivíduos entre valor e tempo, entre consumir hoje e consumir no futuro, entre
paciência e urgência”, ou seja, a paciência de guardar dinheiro para que no futuro
possa adquirir o bem à vista. Por fim, o grau de autocontrole é esclarecido como a
“[...] gestão financeira do próprio dinheiro compreende a habilidade de gerir os
recursos, tomar decisões financeiras, manter o orçamento (individual ou familiar) sob
controle”, ou seja, os níveis de utilização do dinheiro sob controle de gestão.
Baseado nestes itens, Moura (2005) desenvolve um construto que serve para
a verificação de propensão ao endividamento que, verificada e validada no Brasil,
segue as afirmativas do Quadro 10.
Quadro 10 – Dimensões e afirmações do construto de Moura (2005)
Fonte: Moura (2005, p.75).
A partir do desenvolvimento deste construto, Moura (2005) aplica o modelo
em 389 questionários Likert 7 pontos, respondidos e completados no município de
Fatores Afirmações
Impacto moral na sociedade
(Julgamento da sociedade sobre os devedores, aceitação e tolerância social)
Q1 Não é certo gastar mais do que ganho. Q2 Acho normal as pessoas ficarem
endividadas para pagar suas coisas. Q3 Ficariam desapontadas comigo se
soubessem que tenho dívida.
Preferência no tempo
(A disposição em poupar dinheiro e comprar no futuro)
Q4 É melhor primeiro juntar dinheiro e só depois gastar.
Q5 Prefiro comprar parcelado a esperar ter dinheiro para comprar à vista.
Q6 Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro.
Grau de Autocontrole
(Habilidade de gerir os próprios recursos
financeiros)
Q7 Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco.
Q8 É importante saber controlar os gastos de minha casa.
Q9 Não tem problema ter dívida se eu sei que posso pagar.
59
São Paulo, entregues em 9 distritos diferentes da cidade. Vale ressaltar que este
construto foi aplicado em uma população de baixa renda que, no mês de julho de
2005, representava cerca de quatro salários mínimos brasileiros, o que correspondia
a R$1.200,00.
Moura (2005, p. 121) afirma que “[...] soube-se, por meio do relato dos
entrevistadores, que não houve pelos entrevistados demonstrações de dificuldade
de entendimento do conteúdo dos itens.” O construto proposto pela autora possui
validade nomológica quando refere que “[...] investiga se as relações teóricas entre
dimensões são, de fato, averiguadas empiricamente, como por exemplo, se as
variáveis correlacionam na direção esperada pela argumentação teórica.” (MOURA,
2005, p. 121). Este trabalho utilizará a escala de Moura (2005), dada a validação e
aplicação representativa no Brasil.
2.4 O CONSUMIDOR DE BAIXA RENDA NO BRASIL
Este item é composto de três partes. Inicialmente, serão discutidas as
movimentações sociais e as mobilidades das classes no Brasil. Em seguida, são
apresentados os produtos e as fontes de crédito utilizados pelos consumidores de
baixa renda e, posteriormente, são expostos os dados que identificam o
endividamento das classes C, D e E.
É importante ressaltar, neste momento, que o desenvolvimento do estudo
possui o objetivo de contemplar todas as classes sociais na busca das medidas de
materialismo, consumo excessivo e endividamento. Porém, diante do atual cenário
de ascensão da classe de baixa renda no Brasil, optou-se por empregar um maior
foco a essa classe econômica. Análises serão apresentadas separadamente no
capítulo 4 deste trabalho.
2.4.1 Mobilidade social e a classe de baixa renda
Nos últimos anos, antropólogos, sociólogos e economistas buscaram
compreender e retratar a mobilidade social que ocorre nos países em
desenvolvimento e, principalmente, dados referentes aos fatores que envolvem a
renda populacional e a emergência da classe média baixa no Brasil, conforme
afirmam Lamounier e Souza (2010) e Prahalad (2010).
60
Países, que anteriormente eram desconsiderados por não serem
economicamente participativos nas ações capitais, hoje estão ativos na economia
mundial, ao lado dos países considerados desenvolvidos. Por mais que em diversos
momentos a economia mundial tenha sido marcada por instabilidades e
inseguranças, Hoffman (2006), Neri (2006), Lamounier e Souza (2010) destacam
que alguns países prosperaram, elevando, assim, o nível de renda de sua população
e, por consequência, a sua economia.
Quando discute sobre classe social, Matoso (2004, p.127) relata a “[...]
reorganização total da sociedade que se sucedeu após a Revolução Industrial.”
Essa mudança foi causada pelo capitalismo industrial, o qual ocasionou “[...] duas
consequências: a criação de novas classes e a tendência das posições de classe
serem alocadas em razão da habilidade e não do nascimento.” No contexto
brasileiro, Zambelli (1997, p.3) relata que a mudança social “[...] mostra-se
extremamente fértil nas décadas de 50 e 60, mais especificamente até o golpe de
1964 e a instauração da ditadura militar.”
Diversos países da América Latina também foram marcados por um surto
industrializante, cujos efeitos foram a “[...] abertura de possibilidades desocupação
nas grandes indústrias, maciços contingentes de migrantes às cidades, mudança do
padrão de vida, consumo e “modernização” nacional.” (ZAMBELLI, 1997, p.4).
As mobilidades sociais, de acordo com Jannuzzi (2000) e Ramos (2006), são
abordadas de duas formas e retratam toda e qualquer alteração de posição social,
de uma para a outra, ascendente ou decrescente. Essas formas são compreendidas
como: i) mobilidade intergeracional, que representa uma transição da posição social
entre determinadas gerações, ou seja, os indivíduos de uma mesma família e seus
bens, o que antes era do provedor familiar passa às mãos de seus filhos; ii)
mobilidade intrageracional, que envolve a ascendência ou decrescência da posição
social da mesma pessoa, relacionada à maior posição ou cargo que possa
representar maior rentabilidade econômica de uma pessoa ou grupos com
características em comum ao longo do seu ciclo de vida.
Essas duas formas de avaliações da mobilidade social caracterizam-se pelas
possibilidades de transição durante a vida produtiva de um indivíduo (ou uma
sociedade), tanto durante o ciclo de vida como os movimentos econômicos
realizados dentro das mesmas famílias. (PASTORE; SILVA, 2000). Entretanto, para
o fortalecimento da classe de baixa renda brasileira, os autores Lamounier e Souza
61
(2010) e Prahalad (2010) consideram que surgiram na primeira metade do século
XX, na qual se pode apontar uma forte transição de uma sociedade rural e agrária
para uma civilização industrial e moderna.
Por mais que existem dados os quais abordem que o Brasil é representado
por desigualdade econômica, Lamounier e Souza (2010, p.1) comentam que o
crescimento das classes sociais não é somente realidade brasileira, mas também de
países emergentes de todo o mundo, “[...] é um dos fenômenos sociais e
econômicos mais importantes da história recente”, trazendo a oportunidade de
crescimento social aos indivíduos. Sobre os fatores que influenciaram este processo,
os autores destacam a “[...] prosperidade da economia mundial nos vinte anos que
antecederam a crise de 2008-2009, a qual contribuiu para reduzir a desigualdade de
renda” em países em desenvolvimento, como a China, a Índia e o Brasil, os quais
representam cerca de 400 milhões de indivíduos pertencentes à classe C e projeta-
se para o ano de 2030 2 bilhões de pessoas.
Com o aumento de emprego e, por consequência, o aumento da renda, a
baixa inflação e toda a facilidade bancária, vários brasileiros puderam aumentar o
seu poder de compra. Esses índices são encontrados nos dados de IPEA (2011). Os
resultados das pesquisas apontam um forte crescimento entre os anos de 2004 e
2010. A criação de empregos registrados em carteira possuía a média de 1,3
milhões no ano de 2004. Já para os dados de 2010, a marca de novos empregados
chegou a 2,136 milhões.
Entretanto, todas essas movimentações econômicas têm causado novas
preocupações, pois o aumento do consumo e outros fatores expostos anteriormente
têm gerado o endividamento da classe. As afirmações de Barreto e Bochi (2002),
Lamounier e Souza (2010), Prahalad (2010) e Neri (2008) comprovam este cenário
que será discutido no próximo item deste estudo.
2.4.2 Os produtos e as fontes de crédito da baixa renda
Moura (2005), que desenvolveu o seu estudo sobre o comportamento de
compra e endividamento da classe economicamente baixa no contexto de São
Paulo, aponta diversas fontes de crédito concebidas aos consumidores. No Quadro
11, pode-se observar as fontes bancárias, agências financeiras e lojas varejistas que
62
atualmente estão interessadas em atender a este público. Dentre os tipos de
consumo de crédito, a autora aponta: a) crédito formal, fornecido por agências
bancárias, financeiras e organizações governamentais; b) crédito semiformal, ligado
às empresas ou aos empregadores, aos agiotas, aos grupos de empregados e às
lojas de médio e pequeno portes; c) crédito informal, associado às lojas de pequeno
porte, aos familiares e aos amigos. Estes retratos são explicitados a seguir.
63
Quadro 11 – Produtos e fontes de crédito da baixa renda – Setor Formal, Semiformal e Informal Setor Formal de Consumo de Crédito
Crédito Dinheiro Tipo Descrição Provedor Exigências
Empréstimo ou crédito pessoal automático ( linha de crédito pré-aprovada).
Empréstimo sem vínculo com determinada aquisição. O débito mensal das parcelas de pagamento é feito diretamente na conta corrente.
Bancos
Conta em banco, CPF1, RG 2, comprovante de
residência, comprovante de renda mínima, referências 3 e nome limpo4.
Empréstimo ou crédito pessoal.
Empréstimo no qual a concessão de crédito não está vinculada a um bem ou serviço.
Financeira
CPF, RG, comprovante de residência,
comprovante de renda mínima e nome limpo. Algumas financeiras estão revendo a
solicitação de renda mínima.
Empréstimo consignado 5
Empréstimo concedido aos empregados de empresas públicas e privadas, aposentados,
pensionistas do INSS e representantes sindicais. O pagamento é automaticamente feito ao banco
com desconto em folha de pagamento.
Bancos e financeiras
CPF, RG, comprovante de renda e comprovante de residência.
Crédito direto ao
consumidor (CDC) ou empréstimo com
finalidade específica.
Financiamento específico para a compra de determinados bens que quase sempre são a
garantia da operação.
Bancos e financeiras
Conta em banco (talão de cheque), CPF, RG, comprovante de residência, comprovante de
renda mínima e nome limpo.
Adiantamento de dinheiro
dos cartões de crédito.
Saque de dinheiro no caixa automático com o uso
do cartão de crédito.
Bancos, lojas e
financeiras
Não há exigências, basta ser proprietário de
um cartão de crédito.
Empréstimo de instituição
de microfinanças.
Empréstimos prioritariamente para a atividade
produtiva (microcrédito) 6.
Bancos públicos, ONGs 7, OSCIPs 8, iniciativas do governo e SCMs 9
As exigências variam, mas além dos dados
pessoais, há uma avaliação, às vezes profunda, do negócio e necessidade de fiador.
64
Setor Formal de Consumo de Crédito
Crédito Parcelado Tipo Descrição Provedor Exigências
Crediário ou carnê da loja
Parcelamento da compra de,
principalmente, bens duráveis.
Lojas comerciais varejistas
CPF, RG, comprovante de residência,
comprovante de renda (ou carnês quitados) e nome limpo.
Cartão de loja ou Private Label
Forma de crédito parcelado, utilizada
principalmente para pagamento de compras realizadas nas lojas da rede emissora do
cartão.
Lojas comerciais varejistas
CPF, RG, comprovante de residência, comprovante de renda mínima e nome
limpo.
Cartão de crédito
Forma de crédito parcelado, utilizada
principalmente para pagamento de bens, produtos ou serviços nas lojas
credenciadas.
Bancos e financeiras
Conta em banco (apenas para os bancos),
comprovante de renda mínima (varia conforme a instituição) e nome limpo.
Cheque pré-datado
Forma de crédito parcelado utilizada para pagamento de bens, produtos ou serviços.
Bancos
Conta em banco, CPF, RG, comprovante
de residência, comprovante de renda mínima, referências e nome limpo.
Cheque especial
Crédito vinculado à conta bancária onde um limite de recursos é oferecido ao indivíduo
conforme o histórico dos saldos médios apresentados.
Bancos
Conta em banco, CPF, RG, comprovante
de residência, comprovante de renda mínima (variável conforme instituição),
referências e nome limpo.
continua
65
Setor Semiformal de Consumo de Crédito Crédito Dinheiro
Tipo Descrição Provedor Exigências
Empréstimo de empregador
Adiantamento de uma parte do salário (ou de quantias maiores, embora menos comum) ao
trabalhador feito pelo empregador e descontado em folha.
Empresa ou empregador
Não há exigências ou necessidade de garantias.
Empréstimo de agiota
Empréstimo concedido geralmente cobrando
altas taxas de juros e com níveis de formalidade variável. Muitas vezes, em caso de não- pagamento, tomam-se os bens do
indivíduo.
Agiota
Podem exigir CPF, RG, comprovante de residência, comprovante de renda (ou
contracheque, carnês de crediário quitado) e nome limpo. Muitos têm menos
exigências formais.
Empréstimo de caixinha
de empresa
Fundo criado, com graus de formalidade
variados, pelos empregados de uma mesma empresa para futuros empréstimos. O lucro é
distribuído entre os associados.
Grupo de empregados
Sem garantia, pois a participação e o controle estão vinculados ao recebimento
dos salários.
Crédito Parcelado
Crédito de fornecedor
Forma de crédito concedida, geralmente, pelo fornecedor aos microempreendedores, sem cobrança de juros e extensão de prazo
de pagamento até 45 dias.
Fornecedor
Praticamente não há exigências formais. O
crédito é dado mediante relacionamento entre comprador e fornecedor.
Crediário "na lojinha"
Parcelamento da compra em valores
menores do que os crediários das grandes lojas.
Loja de médio e pequeno porte
Comprovante de residência e declaração
verbal de renda para consumidores frequentadores da loja.
continua
66
Fonte: Moura (2005, p. 52). Notas: (1) CPF: Cadastro de Pessoa Física. (2) RG: Carteira de Identidade. (3) Referências: fonte, familiar ou comercial, para esclarecimentos dos dados informados (4) Nome limpo: não ter o nome apontado nos serviços de proteção ao crédito, como Serasa, SPC, Telecheque ou Usecheque. (5) Na época da pesquisa de Brusky e Fortuna (2002), esta modalidade de crédito não tinha a relevância que tem hoje. Por isso, a informação sobre
frequência não está apurada. (6) Microcrédito: é a concessão de empréstimos de baixo valor a pequenos empreendedores informais e microempresas sem acesso ao sistema
financeiro tradicional. É um crédito destinado à produção (capital de giro e investimento) e é concedido com o uso de metodologia específica. (7) ONG: Organização Não Governamental (8) OSCIP: Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, instituição sem fins lucrativos, licenciadas e monitoradas pelo Ministério da Justiça. (9) SCM: Sociedade de Crédito ao Microempreendedor, instituição regulamentadas, com fins lucrativos e especializadas em microfinanças.
Setor Informal de Consumo de Crédito
Crédito Dinheiro
Tipo Descrição Provedor Exigências
Empréstimos de familiares e amigos.
Empréstimos principalmente de pequenas
quantias e curtos prazos.
Familiares e amigos
Nenhuma exigência formal.
Crédito Parcelado
Fiado ("pendura")
Pagamento de um bem, geralmente de valor pequeno (até R$ 100) e de primeira
necessidade, com prazos de 15 a 30 dias.
Lojas de pequeno porte
Nenhuma exigência formal.
Crédito dos outros
Uso do crédito de terceiros - cartão, crediário
ou cheque - para realização de compras.
Familiares e amigos
Nenhuma exigência formal, mas a cessão do nome só se dá na existência de uma relação
de confiança entre as partes.
67
2.4.3 O endividamento do consumidor de baixa renda
Prahalad (2010) destaca que a classe de baixa renda brasileira consome e
adquire produtos e serviços dentro das suas expectativas de necessidades básicas
e, principalmente, a saciedade dos seus principais desejos. Como nunca antes, a
consolidação da classe trouxe aos indivíduos a oportunidade de consumo de
produtos e serviços que antes era restrito à primeira camada da população nacional.
Casa própria quitada, carro zero na garagem, eletrônicos sofisticados já fazem parte
do dia a dia dessas pessoas.
Prova do crescimento de consumo registrado no Brasil, é discutida por Data
Popular (2010), pois aponta que, no ano de 2002, as classes A e B somadas
consumiam cerca de 51% e a baixa renda consumia 43% de toda a economia
nacional, o que representava R$ 976 bilhões em compras. Entretanto, na
comparação do ano de 2010, o cenário reverteu. Neste mesmo estudo, a classe de
baixa renda lidera todo o consumo nacional, representando cerca de 59%, em
seguida, a classe B com 24% e classe A com cerca de 16%. Este total representa
cerca de R$1,38 trilhões de consumo somente no ano de 2010, no Brasil.
Apesar deste aquecimento na economia em relação ao consumo da classe de
baixa renda, diversos dados apontam o endividamento como o principal resultado da
compra excessiva destes indivíduos. Lamounier e Souza (2010, p.38) abrem um
capítulo de sua obra somente para a discussão desta propensão ao endividamento
da classe média. Os autores relatam que diversos produtos compõem a vida da
classe, sendo “[...] televisão em cores (100%), geladeira (100%), rádio (98%),
videocassete ou DVD (98%), máquina de lavar roupa (90%), freezer (75%) e
aspirador de pó (54%)” produtos disseminados entre estes consumidores. Além do
acesso ao crédito bancário, que possibilitou o consumo de bens que anteriormente
eram inacessíveis às classes economicamente mais baixas.
Acerca disso, o estudo do Instituto Boston Consulting Group – BCG, por
Barreto e Bochi (2002), complementa: mesmo que a classe de baixa renda possua
um rendimento abaixo do esperado e do desejado, os indivíduos utilizam
intensamente de diversos produtos financeiros, os quais representam uma
familiaridade com a gestão dos seus próprios recursos (entende-se aqui por
familiaridade o conhecimento, e não total gestão de suas economias). Os dados
apresentados por este estudo indicam que: 47% dos domicílios possuem pelo
68
menos um morador com conta corrente bancária; 19% utilizam cartão de débito;
16% têm cheque especial; 33% possuem limites de crédito pré-aprovados; 16%
trabalham com cartão de crédito e, por fim, 38% utilizam cartão de loja. Por mais que
ainda exista a cultura de poupança entre esta classe, o endividamento representa
cerca de 30% de todo o consumo, geralmente pelo consumo de bens duráveis.
Prova disto pode ser encontrada nas informações de Data Popular (2010), um
instituto voltado aos estudos da baixa renda. As pesquisas aplicadas retratam que
57,8% dos entrevistados possuem poupança; conta corrente 60,2%; planos de
saúde 63,6%; cartão de crédito 61% e débito 60,2%. Por outro lado, a pesquisa
realizada por CNC (2011) revela que, somente no ano de 2010, 24,7% das famílias
brasileiras estavam com contas em atraso e 59,2% inadimplentes ou endividadas.
Estas dívidas são representadas da seguinte forma: 71,5% em cartão de crédito;
24,6% em carnês e, por fim, 10,7% endividadas com crédito pessoal. Além destes
índices, é importante retratar que 49% das famílias endividadas possuem débitos
que variam entre 11% e 50% da renda mensal e 24% com dívidas que ultrapassam
os 50% da renda familiar.
Todos esses cenários de endividamento da classe de baixa renda são
justificados pela ausência da percepção do risco na tomada de decisão de compra e
a visão de futuro concentrada no curto prazo dos rendimentos familiares. Como
resultado disso, os indivíduos desta classe possuem decisões equivocadas, sem
preocupação com o que pode ocasionar tal consumo, como relatam Barreto e Bochi
(2002) e Lamounier e Souza (2010).
Nesse mesmo sentido, CNC (2011) aborda que no mês de dezembro de 2010
cerca de 60,6% das famílias de baixa renda estavam endividadas, das quais 25,5%
possuíam contas em atraso e 9,1% não teriam condições de pagá-las. Já para os
tipos de dívidas dos consumidores, o estudo aponta que o uso inadequado do cartão
de crédito é o principal índice de endividamento, representando cerca de 71,5% dos
endividamentos. Outros fatores são relatados, como o cheque especial 6,7%, crédito
consignado 3,7%, crédito pessoal 9,6%, financiamento de casa 2,9% e
financiamento de carro 7,8%, respectivamente.
A relevância do foco desse estudo na classe média baixa nacional se dá pela
representação na economia do Brasil. As classes C, D e E representam cerca de
52% de toda a população, nas quais, somente no ano de 2010, cerca de 60,6% das
69
famílias estavam endividadas, 25,5% teriam contas em atraso e 9,1% não as
pagariam. (BARRETO; BOCHI, 2002; DATA POPULAR, 2010; NERI, 2008).
70
3 METODOLOGIA DE PESQUISA
Após a apresentação da revisão de literatura deste estudo, a metodologia de
pesquisa é disposta e dividida em cinco blocos: abordagens e estratégias de
pesquisa; universo e amostra; instrumento para coleta de dados; variáveis de
análise e os tratamentos estatísticos que foram aplicados para a obtenção dos
resultados.
3.1 ABORDAGENS E ESTRATÉGIAS DE PESQUISA
Como o objetivo desta pesquisa é analisar três construtos do comportamento
do consumidor: materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento,
foram aplicadas pesquisas exploratórias e descritivas de abordagem quali-
quantitativa. A primeira abordagem Malhotra (2001, p.155) defende como “[...]
pesquisa não-estruturada, exploratória, baseada em pequenas amostras, que
proporcionam insights e compreensão do contexto do problema.” Esta abordagem
ocorreu, pois nenhum estudo que integrou essas três dimensões foi encontrado.
Nesse sentido, ainda é possível esclarecer a importância da pesquisa qualitativa
neste trabalho. De acordo com Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (1999, p. 149), a
aplicação refere-se a [...] diferentes aspectos da conduta de indivíduos, como por exemplo, frustração e agressividade; dois eventos sociais, como exclusão social e criminalidade; e assim por diante. A relação esperada é deduzida de uma teoria e o pesquisador procura criar ou encontrar situações nas quais essa relação possa ser observada.
Entretanto, na segunda abordagem, enquadrada na visão positivista das
ciências sociais, a pesquisa quantitativa pode ser caracterizada por Malhotra (2001,
p.155), como aquela que “[...] procura quantificar os dados e aplicar de alguma
forma a análise estatística.” Justifica o autor que, na maioria das vezes, essa
abordagem deve suceder à pesquisa qualitativa, pois ajuda a contextualizar e
compreender os fenômenos sociais. Neste estudo quali-quantitativo, foram aplicados
os fundamentos tanto da visão positivista quanto da fenomenológica.
Para melhor compreensão dos temas que foram retratados na pesquisa
survey, realizaram-se duas sessões de grupos focais com jovens universitários, a
71
fim de conhecer características dos seus comportamentos relacionados ao
materialismo, consumo excessivo e endividamento.
Grupos focais podem ser discriminados, de acordo com Aaker, Kumar e Day
(2001, p.211), como a aplicação de entrevistas em pequenos grupos respondentes
que tem como função “[...] descobrir possíveis ideias ou soluções para um problema,
por meio da discussão do tema.” Ainda, Oliveira e Freitas (2006) apontam que serve
para obter o entendimento dos participantes sobre o tópico de interesse da
pesquisa, não importando se é utilizado sozinho ou em conjunto com outros
métodos, nem mesmo se busca questões ou respostas.
Os resultados das sessões de grupos focais foram utilizados para a
montagem do questionário, aplicado no segundo momento desta pesquisa. As duas
reuniões foram realizadas no mês de junho de 2011, com jovens entre 18 e 30 anos,
de ambos os sexos, e alunos de diversos cursos de graduação de Blumenau. Na
primeira sessão, participaram seis indivíduos do gênero feminino e cinco do
masculino, com duração de 93 minutos. Na segunda aplicação, participaram cinco
estudantes do gênero feminino e seis jovens do gênero masculino, com duração de
91 minutos. Para as duas sessões, foram utilizados gravadores de áudio e imagem,
além da aplicação em salas espelhadas, denominadas one-way mirror.
A escolha aleatória dos participantes, nessa primeira etapa de pesquisa,
aconteceu por cinco critérios estabelecidos pelo pesquisador, como: a disposição e
concordância em participar das reuniões; acessibilidade ao alunos; estudantes dos
últimos períodos das graduações e, finalmente, não ter contato pessoal e/ou
nenhuma relação de afeto com o indivíduo. No somatório, participaram 22
estudantes de Blumenau, ativos e matriculados nos cursos de Administração,
Ciências Sociais, Medicina, Publicidade e Propaganda, Serviço Social. Assim, os
resultados desses encontros serviram de base para a elaboração das questões a
serem incorporadas às variáveis de análise de Richins e Dawson (1992), Wu (2006)
e Moura (2005), as quais se encontram detalhadas no item 3.5.
Posterior a aplicação dos grupos focais, foi realizado um levantamento survey
com questionário, que é compreendido por Babbie (1999) como uma forma de
geração de dados cujo objetivo é a exploração, a descrição e a explicação, em um
método lógico, determinista e empiricamente verificável. Assim, o instrumento de
coleta de dados quantitativo seguiu o método de questionário estruturado, com
72
perguntas abertas e fechadas, o que permitiu respostas mais precisas com base em
escalas e medidas numéricas.
3.2 UNIVERSO E AMOSTRA
Essa pesquisa aconteceu em duas mesorregiões diferentes, sendo a
mesorregião do Vale do Itajaí que, por total, soma cerca de 183.388 habitantes, e
mesorregião da grande Florianópolis que, de acordo com os dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2010), possui 870.802 habitantes.
A Figura 3 destaca a mesorregião do Vale do Itajaí que, de acordo com o
IBGE (2010), possui 53 municípios em sua constituição. Dentro desta mesorregião
existem 4 microrregiões: Blumenau, Itajaí, Ituporanga e Rio do Sul. O foco dessa
pesquisa aconteceu na microrregião de Itajaí que, atualmente, possui 570.947
habitantes.
Figura 3 – Mesorregião do Vale do Itajaí
Fonte: IBGE (2010).
Vale ressaltar que a microrregião de Itajaí se dá pela união de 12 municípios:
Balneário Camboriú, Balneário Piçarras, Barra Velha, Bombinhas, Camboriú, Ilhota,
Itajaí, Itapema, Navegantes, Penha, Porto Belo e São João de Itaperiú. Dentro
deste cenário, a Tabela 2 apresenta a relação de cidade e número de habitantes da
microrregião de Itajaí.
73
Tabela 2 – Cidades e habitantes da microrregião de Itajaí
Cidade Número de Habitantes Balneário Camboriú 108.089 Balneário Piçarras 17.078
Barra Velha 22.386 Bombinhas 14.293 Camboriú 62.361
Ilhota 12.355 Itajaí 183.373
Itapema 45.797 Navegantes 60.556
Penha 25.141 Porto Belo 16.083
São João de Itaperiú 3.435 Total de Municípios 12 Total de habitantes 570.947
Fonte: IBGE (2010).
Já a segunda microrregião utilizada para pesquisa deste estudo pertence a
mesorregião da grande Florianópolis que, conforme os dados de Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística – IBGE (2010), possui 3 microrregiões: Florianópolis,
Tabuleiro e Tijucas. A amostra desta pesquisa pertence a microrregião de
Florianópolis, conforme Figura 4.
Figura 4 – Microrregião de Florianópolis
Fonte: IBGE (2010).
A microrregião de Florianópolis é formada por 9 municípios: Antônio Carlos,
Biguaçu, Florianópolis, Governador Celso Ramos, Palhoça, Paulo Lopes, Santo
74
Amaro da Imperatriz, São José e São Pedro de Alcântara. A Tabela 3 apresenta a
relação de cidade e número de habitantes dessa microrregião.
Tabela 3 – Cidades e habitantes da microrregião de Florianópolis
Cidade Número de Habitantes Antônio Carlos 7.458
Biguaçu 58.206 Florianópolis 421.240
Governador Celso Ramos 12.999 Palhoça 137.334
Paulo Lopes 6.692 Santo Amaro da Imperatriz 19.823
São José 209.804 São Pedro de Alcântara 4.704 Total de Municípios 12 Total de habitantes 870.802
Fonte: IBGE (2010).
Para a seleção da amostragem, este estudo optou pelo método não
probabilístico que, de acordo com Hair Júnior e colaboradores (2005, p. 200), é
compreendida como “[...] a seleção de elementos para a amostra não é
necessariamente feita com o objetivo de ser estatisticamente representativa da
população.” Ainda, a amostragem por conveniência, segundo Malhotra (2001,
p.331), é baseada na “[...] procura de obter uma amostra de elementos
convenientes. A seleção das unidades amostrais é deixada a cargo do
entrevistador.” Assim, o universo deste estudo foi alocado nos jovens universitários,
ativos e matriculados em uma universidade particular de Santa Catarina, de ambos
os gêneros e idade igual ou superior a 18 anos.
A universidade, atualmente, possui um total de 20.681 alunos regulares,
matriculados nos cursos de graduação, em 06 campi por diferentes unidades e
cidades, conforme visualização da Tabela 4:
Tabela 4 – Cidades e número de alunos matriculados nos cursos de graduação
Unidades Número de Graduações Número Total de Matriculados
Balneário Camboriú 12 Cursos 5.157 Biguaçu 04 Cursos 1.270
Florianópolis 07 Cursos 761 Itajaí 34 Cursos 12.129
São José 04 Cursos 855 Tijucas 02 Cursos 509
06 campi 63 Cursos de Graduação 20.681 alunos
75
Nessa somatória geral de alunos, utilizou-se o cálculo de erro amostral
tolerável para a pesquisa. Da fórmula de Barbetta (2003) tem-se:
no = 1 / Eo!, onde o Eo retrata o erro amostral da pesquisa.
Que para o universo deste trabalho, utilizando o erro amostral de 5%, sendo
0,05, tem-se:
no = 1 / Eo!
no = 1 / 0,05! no = 400
Assim que identificado o número de participantes do levantamento survey, os
quais somados representaram 400 pesquisados, foi aplicado o cálculo da
amostragem proporcional ou quotas, de acordo com a Tabela 5:
Tabela 5 – Amostragem da pesquisa em campi e municípios
Cidade Alunos % do Total Amostragem Alunos Total de pesquisados
Balneário Camboriú 5.157 24,9
400
99,7 100 Biguaçu 1.270 6,1 24,6 25
Florianópolis 761 3,7 14,7 15 Itajaí 12.129 58,6 234,6 235
São José 855 4,1 16,5 17 Tijucas 509 2,5 9,8 10
06 campi 20.681 100% 400 402 pesquisados
Por fim, a amostragem final da pesquisa resultou em: 100 alunos do campus
de Balneário Camboriú, 25 de Biguaçu, 15 de Florianópolis, 235 de Itajaí, 17 de São
José e 10 estudantes do campus universitário de Tijucas. Este total de 402 alunos
de graduação foi submetido ao questionário do levantamento survey, conforme
descrito no item 3.4.
3.4 TÉCNICA E INSTRUMENTO DE COLETA DOS DADOS
Para mensurar os três construtos do comportamento do consumidor –
materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento – optou-se pelo
levantamento survey com a utilização de questionário impresso. Esta aplicação
76
presencial e autopreenchível partiu dos seguintes blocos: i) construto de Richins e
Dawson (1992), Moura (2005) e Wu (2006); ii) dados do endividamento na utilização
dos produtos bancários; iii) informações sociodemográficas dos pesquisados.
As escalas que mediram os construtos neste estudo são baseadas na medida
métrica, ou seja, escalas intervalares com 7 itens no padrão Likert, partindo de
discordo totalmente até concordo totalmente. Demais dados foram avaliados por
questões dicotômicas, nominais, numerais e textuais, baseadas na seguinte ordem
do questionário: i) construto de materialismo; ii) construto de consumo excessivo; iii)
construto de propensão ao endividamento; dados de utilização de produtos
financeiros; iv) dados pessoais.
Este levantamento totalizou 143 questionamentos, divididos em quatro
grandes blocos. Vale ressaltar, neste momento, que as afirmativas as quais
envolveram os construtos de materialismo, consumo excessivo e propensão ao
endividamento foram misturadas, o que permite extrair dos pesquisados uma
resposta sem uma avaliação mais criteriosa.
O questionário aplicado com estes jovens foi pré-testado em duas diferentes
situações. Inicialmente, no primeiro modelo desenvolvido para o estudo, foi aplicado
em 10 por cento da amostra calculada para esta pesquisa, resultando em 40
entrevistados. As aplicações apontaram algumas dificuldades de compreensão no
preenchimento, em dado momento do questionário, especificamente no Bloco D –
Dados Pessoais. Identificada a dificuldade na compreensão, o questionário passou
por uma remodelação e novamente foi aplicado com 10 por cento da amostra da
pesquisa. Finalmente, o questionário pré-teste, aplicado no mês de julho de 2011,
obteve êxito na compreensão dos alunos, o que forneceu garantia da sua aplicação
futura no levantamento survey. O questionário final pode ser visualizado no
Apêndice 1.
Os construtos que serviram de análise no questionário são debatidos no item
3.5, sendo: Construto de Materialismo – EMRD de Richins e Dawson (1992);
Construto de Consumo Excessivo de Wu (2006); Construto de Propensão ao
Endividamento de Moura (2005).
77
3.5 VARIÁVEIS DE ANÁLISE
O nível de materialismo dos jovens universitários foi medido pelo construto
proposto por Richins e Dawson (1992), que é composto por três diferentes
dimensões: centralidade, felicidade e sucesso. O primeiro é descrito como uma
indicação da posição das posses e aquisições na vida das pessoas e é baseado nas
seguintes afirmações constantes no Quadro 12.
Quadro 12 – Construto de Materialismo de Richins e Dawson (1992) – Centralidade
Fonte: Richins e Dawson (1992, p. 217). Nota: (1) Afirmativas que contrariam as demais. (2) Tradução do autor.
A segunda dimensão de Richins e Dawson (1992) avalia a felicidade no
consumo, ou seja, o momento em que as posses irão trazer-lhe felicidade e bem-
estar pessoal. Esta dimensão é baseada no Quadro 13.
Quadro 13 – Construto de Materialismo de Richins e Dawson (1992) – Felicidade
Fonte: Richins e Dawson (1992, p. 217). Nota: (1) Afirmativas que contrariam as demais. (2) Tradução do autor.
Por fim, no construto de materialismo proposto por Richins e Dawson (1992),
o sucesso no consumo analisa a tendência de um indivíduo em julgar aos outros e a
si mesmo em função da quantidade e qualidade de suas posses, enxergando o
sucesso a partir das suas posses e bens acumulados. Esta dimensão é apresentada
no Quadro 14.
Item Afirmações Q1 Geralmente, compro apenas aquilo de que preciso1. Q2 Tento manter a minha vida simples, no que diz respeito aos meus bens materiais1. Q3 As coisas que possuo não são muito importantes para mim1. Q4 Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias. Q5 Comprar coisas dá-me imenso prazer. Q6 Gosto de muito luxo na minha vida.
Q7 Dou menos importância às coisas materiais que a maioria das pessoas que conheço1.
Item Afirmações Q8 Tenho todas as coisas de que preciso para ser feliz 1. Q9 A minha vida seria melhor se possuísse coisas que não tenho.
Q10 Não seria mais feliz se tivesse coisas mais bonitas1. Q11 Seria mais feliz se tivesse dinheiro para comprar mais coisas. Q12 Às vezes, entristece-me um pouco que não possa comprar todas as coisas que
quero.
78
Quadro 14 – Construto de Materialismo de Richins e Dawson (1992) – Sucesso
Fonte: Richins e Dawson (1992, p. 217). Nota: (1) Afirmativas que contrariam as demais. (2) Tradução do autor.
A escolha deste construto de medição dos níveis de materialismo dos jovens
universitários se dá pela validade proposta pelos autores. No momento em que
aplicaram em três diferentes estudos, numa amostragem total de 609 consumidores
norte-americanos, os autores relatam que possui uma boa validação, já que os
valores podem e devem ser medidos para a avaliação final dos níveis de
materialismo dos consumidores.
Outra mensuração que aconteceu neste estudo foi o construto de consumo
excessivo, desenvolvido por Wu (2006), pois possui o objetivo de verificar os níveis
de consumo excessivo dentro do comportamento do consumidor, baseado em cinco
diferentes dimensões:
Quadro 15 – Construto de consumo excessivo de Wu (2006)
Dimensões Afirmações
Atração por produtos como sinal de status
Q1 Eu gosto de muito luxo na minha vida, embora eu possa não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas contas.
Q2 Eu compro os objetos materiais, como sinal de sucesso, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.
Q3 Eu tenho muito prazer em comprar coisas agradáveis, embora eu tenha dificuldade financeira.
Prazer em comprar
Q4 Comprar é uma forma de me sentir melhor, mesmo que depois eu possa enfrentar dificuldades financeiras.
Q5 Quando estou com um baixo emocional, eu gasto mais do que eu deveria com base na minha condição financeira.
Q6 Para mim, fazer compras é uma maneira de aliviar o estresse, embora eu talvez tenha que enfrentar dificuldades financeiras.
Compra inconsequente
Q7 Muitas vezes eu compro algo que realmente quero, sem pensar muito, embora eu não devesse comprá-lo, com base nas minhas condições financeiras.
Q8 É típico que eu passe por imprudente por não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.
Q9 Durante as compras, muitas vezes eu gasto mais do que eu deveria (com base nas minhas condições financeiras) sem que eu perceba isso.
Item Afirmações Q13 Admiro pessoas que possuem carros, casas e roupas caras. Q14 Alguns dos feitos mais importantes na vida incluem adquirir bens materiais. Q15 Não dou muita importância à quantidade de objetos materiais que as pessoas têm
como sinal de sucesso1. Q16 As coisas que tenho dizem muito sobre o sucesso que tenho tido na vida. Q17 Gosto de ter coisas para impressionar as pessoas. Q18 Não dou muita atenção aos objetos materiais que os outros possuem1.
79
Compra por emoção / excitação
Q10 Eu gasto muito quando estou de bom humor, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.
Q11 Quando eu estou bem emocionalmente, eu compro um monte de coisas, embora eu não tenha dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.
Q12 Eu gosto de fazer compras quando estou de bom humor, embora compre coisas que eu não deveria, se pensar na minha situação financeira.
Autocontrole
financeiro
Q13 Eu acompanho bem as minhas despesas, para fins de orçamento1.
Q14 Eu realmente posso impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu pensar na minha situação financeira1.
Q15 Eu examino e avalio o meu comportamento de compra, com a finalidade de cuidar do meu orçamento1.
Fonte: Wu (2006). Nota: (1) Afirmativas que contrariam as demais. (2) A escala original pode ser vista no Anexo 3. (3) Tradução do autor.
Vale ressaltar que esse construto de mensuração do comportamento de
compra excessiva, desenvolvido por Wu (2006), contempla afirmativas de
materialismo. Porém, como um dos objetivos deste estudo está em identificar as
relações entre materialismo e consumo excessivo, a adaptação manterá as
afirmações materialistas aplicados pelo autor, permanecendo, assim, o construto
original traduzido para o idioma português.
Outra consideração relevante para esse construto acontece pela aplicação
das dimensões. Embora este trabalho trate de consumo excessivo, é provável que
na amostra final de consumidores ocorra a inclusão de indivíduos que envolvam o
consumo impulsivo e compulsivo. Entretanto, esta pesquisa tratará apenas do
primeiro comportamento de compra – consumo excessivo.
O terceiro e último construto que respondeu aos objetivos deste estudo é
referente ao endividamento do consumidor. Moura (2005), baseada em Lea, Webley
e Walker (1995), desenvolveu o construto apoiada nas atitudes do endividamento,
com exclusividade em aplicação para o contexto de baixa renda brasileira. Este
construto é baseado em 9 afirmações:
80
Quadro 16 – Construto de propensão ao endividamento de Moura (2005)
Fonte: Moura (2005, p.75) Nota: (1) Afirmativas que contrariam as demais.
A utilização deste construto é justificado pela validade e confiabilidade de
suas afirmações. Essa mensuração desenvolvida por Moura (2005), baseada em
Lea, Webley e Walker (1995), compreende três principais dimensões: Impacto moral
na sociedade, que representa os valores e crenças encontrados na sociedade que
têm influência na atitude do consumidor em relação ao endividamento. A segunda
dimensão, Preferência no tempo, que inclui a relação de valor e tempo, ou seja,
adiar ou não os planos de consumo e, por fim, Grau de Autocontrole, que retrata a
capacidade de gerir os próprios recursos financeiros.
3.6 TRATAMENTOS ESTATÍSTICOS
Para a análise dos dados descritivos e multivariados deste levantamento
survey foram utilizados os softwares: Statistica 8.0, Statistical Package for the Social
Sciences – SPSS 17.0 e Microsoft Excel 2007.
As análises descritivas das amostras e dos construtos estudados foram
demonstrados por meio das médias, desvios padrão, tabelas comparativas, testes t,
correlações entre os construtos e histogramas. Já os dados multivariados foram
dispostos por: análises fatoriais, regressão logística, análise cluster e análise fatorial
confirmatória.
A Análise Fatorial, como descreve Hair Júnior e colaboradores (2005), é
compreendida como um modelo de mensurações das relações entre os indicadores
Dimensões Afirmações Impacto moral na
sociedade
Q1 Não é certo gastar mais do que ganho1. Q2 Acho normal as pessoas ficarem endividadas para pagar suas
coisas. Q3 As pessoas ficariam desapontadas comigo se soubessem que
tenho dívida1.
Preferência no tempo
Q4 É melhor primeiro juntar dinheiro e só depois gastar1. Q5 Prefiro comprar parcelado a esperar ter dinheiro para comprar à
vista. Q6 Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro.
Grau de Autocontrole
Q7 Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco1.
Q8 É importante saber controlar os gastos de minha casa1. Q9 Não tem problema ter dívida se eu sei que posso pagar.
81
e os fatores por meio das cargas fatoriais. Quando essas cargas fatoriais não
ultrapassam 0,5 indicam que a análise é insatisfatória para a explicação da
correlação de cada variável com as demais utilizadas no estudo.
A análise Cluster ou agrupamento visou a identificar as classes que se
enquadravam com os três construtos desta pesquisa. Esse agrupamento, como
sugere Hair Júnior e colaboradores (2005), destina-se a segmentar ou agrupar
indivíduos de uma amostra, com o objetivo de formar conjuntos mutuamente
excludentes que apresentem similaridade ou igualdade. Ainda cabe destacar que
essa aplicação estatística multivariada permite que se classifiquem objetos de uma
seleção, onde cada objetivo é semelhante, com base em algum critério
predeterminado pelo pesquisador.
A Regressão Logística, para Hair Júnior e colaboradores (2005, p. 129), tem o
princípio de encontrar o melhor relacionamento entre as variáveis de resposta e um
conjunto de variáveis exploratórias, ou seja, “[...] uma forma especializada de
regressão que é formulada para prever e explicar uma variável categórica binária
(dois grupos), e não uma medida dependente métrica.”
Por fim, a Análise Fatorial Confirmatória, de acordo com Hair Júnior e
colaboradores (2005), busca descrever relacionamentos existentes entre as
variáveis e construtos utilizados em pesquisas. Nesse estudo, optou-se por aplicar
tal metodologia com o intuito de verificar estatisticamente, as possíveis relações
entre as estruturas analisadas: materialismo influencia a compra excessiva, que por
sua vez, influencia a propensão ao endividamento.
Demais dados referentes aos tratamentos estatísticos aplicados com os
dados extraídos da pesquisa são descritos no capítulo 4 e em cada item da análise.
82
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
As discussões deste estudo são apresentadas em nove itens, distribuídos em
quatro partes. Primeiramente são apontadas as características da amostra e os
procedimentos realizados para a análise dos dados estatísticos. Em seguida, são
descritos os resultados dos três construtos: materialismo, consumo excessivo e
propensão ao endividamento. Diante dos dados descritivos, aplicaram-se três
métodos da estatística multivariada: análise fatorial, análise cluster, regressão
logística e análise fatorial confirmatória. Por fim, optou-se por ampliar as discussões
do comportamento dos estudantes de baixa renda.
Vale ressaltar que a contribuição do estudo acontece pela integração dos três
construtos, pois até a data de aplicação do questionário e a finalização do trabalho,
nenhuma construção foi encontrada.
4.1 CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA
Este estudo, que se propôs a aplicar os construtos de materialismo, consumo
excessivo e propensão ao endividamento, foi realizado com 415 estudantes. Vale
destacar que a amostra prevista no capítulo anterior registrou 402 alunos a serem
pesquisados. No entanto, para a melhor compreensão das três atitudes de consumo,
foram utilizados outros 13 alunos que foram questionados, sem nenhum questionário
descartado da aplicação. A Tabela 6 descreve os valores.
Tabela 6 – Amostra da pesquisa planejada e realizada Campus Universitário Amostra Planejada Amostra Realizada
Frequência % Frequência % Balneário Camboriú 100 24,9 103 24,8
Biguaçu 25 6,2 28 6,7 Florianópolis 15 3,7 15 3,6
Itajaí 235 58,5 235 56,6 São José 17 4,2 17 4,1 Tijucas 10 2,5 17 4,1
Total 402 pesquisados 100 415 pesquisados 100
A partir da apresentação do número de indivíduos que participaram do
levantamento quantitativo – entre amostra planejada e realizada – a Tabela 7
83
identifica o número de alunos e porcentagem de participação para cada campus
universitário pesquisado.
Tabela 7 – Alunos, cursos e campus universitário Campus Universitário Número de pesquisados % de participação
Balneário Camboriú
58
24,8 34 11
Total 103 pesquisados Biguaçu 19
6,7 9 Total 28 pesquisados
Florianópolis 15 3,6 Total 15 pesquisados
Itajaí
63 56,6 50
28 20 17 57
Total 235 pesquisados São José 9
4,1 8 Total 17 pesquisados
Tijucas 9 4,1 8
Total 17 pesquisados Total Geral 415 estudantes 100%
Como é possível identificar na Tabela 7, os campi de Itajaí (56,6%) e
Balneário Camboriú (24,8%) possuíram a maior representação na amostra deste
estudo. Os demais, somados, representaram 18,56% da pesquisa e são:
Florianópolis Ilha (3,6%), Biguaçu (6,7%), São José (4,1%) e Tijucas (4,1%),
respectivamente. Já a Tabela 8 destaca as variáveis sociodemográficas e o perfil
dos estudantes que foram entrevistados, divididos em: idade, gênero, estado civil,
ocupação profissional e moradia.
Tabela 8 – Variáveis sociodemográficas dos pesquisados Variáveis Alternativas Frequência Percentual (%)
Idade Até 20 completos 210 50,60 21 a 30 anos completos 205 49,40
Total 415 100 Gênero Masculino 132 31,81
Feminino 283 68,19 Total 415 100
Estado Civil Solteiro (a) / Separado (a) Viúvo (a) 345 83,13 Casado (a) / Mora Junto (a) 70 16,87
84
Total 415 100 Ocupação
Profissional Não Trabalha / Desempregado (a) 130 31,33 Conta Própria / Autônomo (a) 25 6,02 Empresário (a) 17 4,10 Estagiário (a) 81 19,52 Empregado (a) Assalariado (a) 153 36,87 Funcionário (a) Público (a) 9 2,17
Total 415 100 Moradia Moro Sozinho (a) 61 14,70
Moro com Familiares, Companheiros (a) e/ou Amigos.
354 85,30
Total 415 100
A amostra de estudantes pesquisados possuía a idade média 23,13 anos
completos, distribuídos igualmente entre as faixas etárias até 20 anos (50,60%) e
entre 21 e 30 anos (49,40%), com predominância feminina (68,19%), solteiros,
separados e viúvos (83,13%) que trabalhavam (68,67%) e moravam com seus
familiares, companheiros ou amigos (85,30%).
A Tabela 9, sumariza o gênero dos entrevistados e suas respectivas
situações civis. Mulheres solteiras, separadas ou viúvas representaram 82,33%,
enquanto homens nas mesmas situações, totalizaram 84,85% da amostra.
Tabela 9 – Gênero e situação civil dos entrevistados Gênero Situação Civil Frequência Percentual
Feminino Solteiras, separadas ou viúvas 233 82,33 Casadas ou que moram junto 50 17,67
Total 283 100 Masculino Solteiros, separados ou viúvos 112 84,85 Casados ou que moram junto 20 15,15
Total 132 100
Questionados quanto ao tipo de emprego, os entrevistados do gênero
feminino que trabalhavam somaram 60,20% e masculino 86,14%. O total de
desempregados durante a realização da pesquisa foi de 53,66%. A Figura 5
(histograma) identifica o gênero dos entrevistados com suas respectivas ocupações
profissionais.
85
Figura 5 – Gênero e ocupação profissional dos entrevistados
Os dados relativos à renda, às classificações econômicas e às ajudas
financeiras dos indivíduos foram analisados separadamente, uma vez que esse
estudo possui foco em consumo e propensão ao endividamento e essas variáveis
são importantes indicadores de análise de consumo excessivo e endividamento dos
entrevistados. Tais informações são retratadas na Tabela 10.
Tabela 10 – Classificação econômica da amostra Variáveis Alternativas Frequência Percentual (%)
Renda Mensal Bruta Familiar
(Classificação econômica
IBGE)
Classe A 31 7,48 Classe B 67 16,14 Classe C 143 34,46 Classe D 119 28,67 Classe E 55 13,25
Total 415 100 Posse de bens e
escolaridade do chefe da família.
(Classificação econômica
Critério Brasil)
Classe A1 4 0,96 Classe A2 51 12,29 Classe B1 119 28,67 Classe B2 142 34,22 Classe C1 76 18,31 Classe C2 16 3,86 Classe D 7 1,69 Classe E 0 0
Total 415 100 Ajuda Financeira Não recebe ajuda financeira 181 43,61
Ajuda Governamental (bolsa família e bolsas de estudo)
50 12,05
39,80% 44,18%
11,39%
1,40% 2,10% 1,13%
Não tr
abalh
a
Empreg
ada A
ssala
riada
Estagiá
ria
Funcio
nária
Púb
lica
Conta
Própr
ia | A
utôno
ma
Empres
ária
Feminino
13,86%
45,50%
18,30%
1,39%
9,15% 11,80%
Não tr
abalh
a
Empreg
aoa A
ssala
riado
Estagiá
rio
Funcio
nário
Púb
lico
Conta
Própr
ia | A
utôno
mo
Empres
ário
Masculino
86
Ajuda dos Pais 168 40,48 Ajuda de Amigos 0 0
Ajuda de Parentes 6 1,45 Ajuda de Avós 10 2,41
Total 415 100
Foram utilizadas as duas classificações econômicas mais usadas em
pesquisas quantitativas: a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE,
que considera apenas a renda familiar em salários mínimos e o Critério Brasil (CB).
Esse último método, desenvolvido foi pela Associação Brasileira de Empresas de
Pesquisa - ABEP, abandona os valores de rendas mensais, difíceis de serem
revelados. A mensuração das classes econômicas dos indivíduos acontece por
pontos adquiridos em escalas. Tais pontos são obtidos pela posse de bens duráveis,
como carros, televisores, rádios, máquinas de lavar, além do número de
empregadas domésticas mensalistas, número de banheiros da residência e
escolaridade do chefe da família. Dessa forma, de acordo com a Tabela 10, é
possível verificar que ocorreram diferenças entre as duas classificações econômicas
utilizadas e os percentuais dos entrevistados. Essas diferenças são apresentadas de
na Tabela 11.
Tabela 11 – Diferenças entre os valores do Critério Brasil e IBGE
Diante da disparidade das informações, optou-se por admitir como
classificação o Critério Brasil, pois se acredita que diversos pesquisados optaram
por omitir as informações relativas à renda familiar do IBGE e a metodologia
escolhida impede essa omissão. Dessa forma, considerando-se as classes
econômicas do CB, os pesquisados se distribuíram em: classe A (13,25%), classe B
(62,89%), classe C (22,17%) e D (1,69%). Nenhum participante da pesquisa se
enquadrou na classe E.
Critério Brasil (CB) % Critério IBGE % Diferenças entre CB e IBGE Classes Econômicas Classes Econômicas
A (A1 e A2 somadas) 13,25 A 7,48 5,77 B (B1 e B2 somadas) 62,89 B 16,14 46,75 C (C1 e C2 somadas) 22,17 C 34,46 -12,29
D 1,69 D 28,67 -26,98 E 0 E 13,25 -13,25
Total 100 100
87
Em outro momento do levantamento survey, os estudantes deveriam
responder se recebiam ou não ajudas financeiras. Os resultados indicaram que os
pais ainda beneficiavam financeiramente os estudantes, pois representaram 40,48%
do total. No entanto, o número que se refere a nenhum tipo de ajuda foi relevante,
pois 43,61% dos alunos não receberam apoio, o que representou individualidade na
gestão financeira da amostra. As demais ajudas indicaram 16,31% e se distribuíram
entre: governamental por bolsa família e bolsas de estudos (12,5%), ajudas de
amigos, parentes (3,86%).
Por se tratar de endividamento financeiro, este estudo buscou quantificar
dados econômicos dos pesquisados. A Tabela 12 resume os tipos de conta
bancárias mais utilizadas, o atraso no pagamento das dívidas, os produtos que
ocasionaram o endividamento do universitário e, finalmente, as justificativas que são
dadas por não pagar as dívidas na data do vencimento.
Tabela 12 – Variáveis econômicas e endividamento dos pesquisados Variáveis Alternativas Frequência Percentual (%)
Possui Conta Bancária Sim 347 83,61 Não 68 16,39
Total 415 100 Tipos de produtos bancários
(*) Múltipla escolha Conta Corrente 212 38,06
Conta Universitária 80 14,36 Conta Conjunta 32 5,75 Conta Poupança 180 32,32
Conta Salário 53 9,52 Total (*) 557 100
Dívidas Sim 203 48,92 Não 212 51,08
Total 415 100 Tipos de Produtos que representam as dívidas
(*) Múltipla escolha
Cartão de Crédito 128 36,36 Crédito Consignado 11 3,13
Financiamento de Carro 48 13,64 Cartão de Débito 10 2,84 Crédito Pessoal 34 9,66
Financiamento de Casa 12 3,41 Cheque 14 3,98
Carnês de Lojas 70 19,89 Crediários 25 7,10
Total (*) 352 100 Pagamentos em Atraso Sim 133 65,5
Não 70 34,5 Total 203 100
Justificativa pelo pagamento em atraso
Falta de planejamento 35 26,3% Desemprego ou queda na
renda 12 9,0%
Alta propensão ao consumo 19 14,3% Alta taxa de juros 11 8,3%
Ausência do desconto a vista 1 0,8%
88
Empréstimo do nome 4 3,0% Problemas de saúde 2 1,5%
Má gestão do dinheiro 43 32,3% Acesso ao crédito 6 4,5%
Total 133 100
Na Tabela 12, é possível identificar grande percentual de alunos que possuía
conta bancária, pois somou 86,61% da amostra. Entretanto, as contas mais
utilizadas pelos entrevistados foram: conta corrente (51,08%) e poupança (43,37).
Conjuntas e contas salário somaram 20,48% de uso dos pesquisados. Os
estudantes que possuíam algum tipo de endividamento somaram 48,92% da
amostra, número expressivo, pois representa cerca de 203 estudantes, contra 212
que não assumiram nenhum tipo de endividamento financeiro.
Dentre os alunos que indicaram possuir dívidas, o maior percentual aconteceu
pelo uso do cartão de crédito, pois somou 36,36%. Outros dois produtos financeiros
também indicaram escores representativos, como carnês de lojas (19,89%) e
financiamento de veículos (13,64%). A soma dos demais produtos representou
30,12% e se distribuiu entre: crédito pessoal (9,66%), crediários (7,1%), cheque
(3,98%), financiamento de casa (3,41%), crédito consignado (3,13%) e cartão de
débito (2,84%).
Embora a representação dos estudantes que possuíam algum tipo de débito
foi identificada, os alunos deveriam responder se havia atraso ou não do pagamento
dessas dívidas. Cerca de 65,5% estavam em atraso, justificados pela maioria por:
má gestão orçamentária (32,3%), falta de planejamento (26,3%) e alta propensão ao
consumo (14,3%). Demais justificativas marcaram 27,1%: desemprego ou queda na
renda (9,0%), alta taxa de juros (8,3%), facilidade no acesso ao crédito (4,5%),
empréstimo do nome (3,0%), problemas de saúde (1,5%) e ausência do desconto à
vista (0,8%).
Com a exposição do número de estudantes endividados e não endividados, é
importante ressaltar a Tabela 13, que compara as variáveis sociodemográficas e as
atitudes de endividamento financeiro dos pesquisados.
89
Tabela 13 – Comparação dos dados sociodemográficos e endividamento financeiro Variáveis Alternativas Endividados
(%) Não Endividados
(%) Idade Até 20 completos 55,71 44,29
21 a 30 anos completos 86,34 13,66 Gênero Masculino 50,76 49,24
Feminino 47,70 52,30 Estado Civil Solteiro (a) / Separado (a) Viúvo (a) 43,77 56,23
Casado (a) / Mora Junto (a) 74,29 25,71 Moradia Moro Sozinho (a) 42,62 57,38
Moro com Familiares e/ou Amigos. 50,0 50,0 Classes
Econômicas A1 e A2 somadas 23,61 76,39 B1 e B2 somadas 49,43 50,57 C1 e C2 somadas 57,61 42,39 D 57,14 42,87
Na comparação exposta na Tabela 13, é possível identificar que os indivíduos
com até 20 anos completos (55,71%) estavam menos endividados que os
pesquisados com idade entre 21 e 30 anos (86,34%), pois existiu a diferença
superior a 30 pontos percentuais entre os grupos. No entanto, os escores da
comparação entre o gênero e o débito financeiro marcaram diferenças tênues,
homens (50,76%) demonstraram contrair mais dívidas do que as mulheres (47,70%).
Para os pesquisados que eram solteiros, separados ou viúvos, cerca de
43,77% indicaram possuir dívidas, já os indivíduos casados ou que moravam juntos,
cerca de 74,29%, estavam em débito financeiro. Estudantes que moravam sozinhos,
representaram 42,62% dos grupos de endividados, contra 57,38% que assinalaram
não ter nenhum tipo de débito. Para os dados dos alunos que moravam com os
familiares ou amigos, metade dos entrevistados, ou seja, 50% indivíduos indicaram a
inadimplência financeira.
Como esperado, as classes econômicas de menor renda demonstraram
possuir mais dívidas do que as demais. Dos entrevistados da classe A, apenas
23,61% afirmaram possuir algum tipo de débito. Já a classe B, cerca de 49,43%,
indicou dívidas. Entretanto, nas classes C e D – que representam a baixa renda
brasileira – os dados indicam a dificuldade em gerir suas rendas. Na classe C, cerca
de 57,61% estavam endividados, o que se repetiu para a D, pois 57,14% dos
estudantes pesquisados possuíam algum tipo de dívida financeira.
Dentre os estudantes que estavam em débito financeiro (n=203), o
levantamento quantitativo questionou o nível dessas dívidas. Para isso, os
estudantes deveriam mensurar o seu débito entre: 1 e 2 – pouco endividado; 3 a 5 –
90
mais ou menos endividado; 6 e 7 – muito endividado. Os resultados encontrados são
descritos na Tabela 14.
Tabela 14 – Níveis de endividamento dos estudantes
Escala entre 1 e 7
Frequência
Total (%)
Gênero (%) Idade (%) Homens Mulheres Até 20
anos Entre 21
e 30 1 Pouco
endividado 36 17,73 75,0 25,0 35,6 64,4
2 3 Mais ou
menos endividado
65
32,02
67,1
32,9
70,8
29,2 4
5 6 Muito
endividado 102 50,25 71,6 28,4 86,3 13,7
7 Total geral 203 100
Embora se tenha dificuldade de mensurar os valores das dívidas em números
por se tratar de um tema que pode causar constrangimento aos pesquisados, na
Tabela 14 é possível identificar um escore representativo de estudantes com altos
níveis de débito. Os pesquisados “muito endividados” representaram 50,25% da
amostra, porém ao segmentá-los por gênero, os homens somaram 71,6% e, com
base nas idades, os mais jovens com até 20 anos completos atingiram 86,3% do
total. Se forem considerados os indivíduos “mais ou menos endividados” no total de
estudantes, o percentual atinge 32,02%.
Esses índices de endividamento podem ser explicados por duas causas
questionadas neste estudo: o ato de poupar dinheiro e os níveis de gastos versus
rendimento. Na primeira variável, os estudantes deveriam responder o quanto
conseguem guardar de sua renda com base em uma escala de 1 a 7 na qual as
notas 1 e 2 significavam “nunca consigo guardar o meu dinheiro”; 3, 4 e 5
correspondiam a “algumas vezes consigo guardar o meu dinheiro” e 6 e 7, “sempre
consigo guardar o meu dinheiro”. A Tabela 15 aponta os resultados.
Tabela 15 – Comparação entre o ato de poupar e endividamento Escala entre
1 e 7 Endividados Não Endividados
Frequência (%) Frequência (%) 1 Nunca consigo
guardar 142 70,0 10 4,7
2 3 Algumas vezes
consigo guardar 54 26,6 89 42,0
4 5 6 Sempre consigo
guardar 7 3,4 113 53,3
7 Total geral 203 100 212 100
91
Percebe-se, na Tabela 15, os estudantes que nunca conseguiram poupar são
os mais endividados, representando 70,0% do total do segmento. A segunda
questão envolveu o mesmo procedimento anterior, entretanto a avaliação aconteceu
pela relação entre despesas e rendimento. Os resultados são descritos na Tabela
16.
Tabela 16– Níveis de gastos e consumo Escala entre
1 e 7 Endividados (%) Não Endividados
Frequência (%) Frequência (%) 1 Gasto menos que
ganho 30 14,8 102 48,1
2 3 Gasto igual ao que
ganho
76
37,4
92
43,4 4 5 6 Gasto mais que
ganho 97 47,8 19 9,0
7 Total geral 203 100 212 100
Constatam-se, com os dados da Tabela 16, as diferenças entre as atitudes de
consumo dos jovens universitários. As alternativas se comportaram de maneiras
diferentes entre os dois grupos, ou seja, endividados tendem a gastar mais do que
recebem, pois resultou em 47,8% dos pesquisados. Como esperado, as pessoas
que não estavam em débito financeiro teriam maior facilidade na gestão financeira
de seus recursos, uma vez que as opções gasto menos do que ganho (48,1%) e
gasto igual ao que ganho (43,4%) totalizaram 91,5% dos respondentes.
Todos esses dados expostos fornecem subsídios para as análises
estatísticas, pois se percebe que um número expressivo de estudantes – na amostra
pesquisada – possui dívidas em diversos produtos bancários e financeiros,
causadas pelas atitudes positivas ao materialismo e ao consumo excessivo. Outras
discussões são feitas nos próximos itens desse capítulo.
4.2 PROCEDIMENTO PARA ANÁLISE DOS DADOS ESTATÍSTICOS
Para verificar a confiabilidade e a consistência interna dos construtos de
materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento dos jovens
universitários utilizou-se a análise do alfa de Cronbach. O alfa de Cronbach, também
conhecido como indicador de fidedignidade dos dados, analisa o grau de
92
convergência das informações, ou seja, verifica o grau de concordância dos
respondentes em relação a um construto teórico aplicado. Índices superiores a 0,6
são considerados aceitáveis para validação da convergência interna da dimensão.
(CRONBACH, 1951).
Nos casos em que o alfa de Cronbach não alcançou o valor de 0,6, gerou-se
a análise fatorial dos itens pertencentes ao mesmo construto teórico, a fim de
verificar a correlação do item com o construto ao qual pertence. (HAIR JÚNIOR et
al., 2005). Variáveis com baixa carga fatorial em relação às demais foram retiradas
com o objetivo de aumentar a confiabilidade do construto.
Dessa forma, antes de iniciar a análise de dados estatísticos, verificou-se a
confiabilidade dos construtos, divididos em fatores, os quais representam o
agrupamento de questões relacionadas ao mesmo tema. Os índices de
confiabilidade são apresentados na Tabela 17.
Tabela 17– Índices de confiabilidade dos construtos
Construtos e dimensões Materialismo Consumo Excessivo
Propensão ao Endividamento
Materialismo D1 – Centralidade 0,562 - - D2 – Felicidade 0,652 - - D3 – Sucesso 0,519 - -
Consumo Excessivo
D1 - Atração por Status - 0,778 - D2 – Prazer em Comprar - 0,879 - D3 – Compra Inconsequente
- 0,797 -
D4 – Compra por Emoção - 0,874 - D5 - Autocontrole Financeiro
- 0,759 -
Propensão ao Endividamento
D1 - Impacto Moral na sociedade
- - 0,114
D2 - Preferência no tempo - - 0,589 D3 - Grau de autocontrole - - 0,320
Índice geral 0,739 0,903 0,149
Conforme identificado na Tabela 17, as dimensões dos construtos teóricos de
materialismo de Richins e Dawson (1992), bem como da propensão ao
endividamento de Moura (2005) apresentaram quase todos os fatores com índice de
confiabilidade abaixo de 0,6 (destaques em cinza). O único construto que resultou
em índices aplicáveis foi o consumo excessivo (0,903), do autor Wu (2006).
Assim, para os baixos alfas encontrados nos dois construtos citados, uma
análise baseada na carga fatorial foi considerada para purificação dos fatores. A
exclusão de variáveis com baixas cargas fatoriais em relação às demais constantes
93
do mesmo fator pode elevar o índice de confiabilidade e melhorar o nível da análise.
Dessa forma, as cargas fatoriais das afirmativas e dimensões do construto de
materialismo seguem apresentadas na Tabela 18.
Tabela 18 – Purificação do construto de materialismo Dimensões e afirmações
Cargas Fatoriais
D1 - Centralidade D2 - Felicidade D3 - Sucesso
Centralidade Q1 ,697 - - Q2 ,637 - - Q3 -,030 - - Q4 ,596 - - Q5 ,617 - - Q6 ,678 - - Q7 ,354 - -
Felicidade
Q8 - ,507 - Q9 - ,725 -
Q10 - ,364 - Q11 - ,816 - Q12 - ,767 -
Sucesso
Q13 - - ,765 Q14 - - ,751 Q15 - - ,042 Q16 - - ,614 Q17 - - ,687 Q18 - - ,059
Alfa de Cronbach 0,664 0,682 0,661
Verifica-se na Tabela 18 que as dimensões Centralidade, Felicidade e
Sucesso apresentaram questões que estavam com cargas fatoriais baixas
(destaques em cinza) se comparadas as demais questões do mesmo fator, o que
representa uma baixa correlação com o fator ao qual pertencem. Mesmo com a
exclusão dessas questões o alfa de Cronbach destes não ultrapassou a 0,7, mas
apresentou melhorias expressivas com alfas superiores a 0,6, que é considerado
aceitável. (HAIR JÚNIOR et al., 2005). De uma forma geral, o materialismo
apresentou índice de confiabilidade satisfatório para as análises (0,782).
Aplicada a purificação dos dados com a utilização da análise fatorial, o
construto de materialismo, neste estudo, será representado pelas questões que
constam na Tabela 19.
Tabela 19 – Questões utilizadas para mensurar o materialismo Dimensões Afirmações
Centralidade
Q1 Geralmente, compro apenas aquilo de que preciso. Q2 Tento manter a minha vida simples, no que diz respeito aos meus bens
materiais.
94
Q4 Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias. Q5 Comprar coisas dá-me imenso prazer. Q6 Gosto de muito luxo na minha vida.
Felicidade
Q8 Tenho todas as coisas de que preciso para ser feliz. Q9 A minha vida seria melhor se possuísse coisas que não tenho.
Q11 Seria mais feliz se tivesse dinheiro para comprar mais coisas. Q12 Às vezes, entristece-me um pouco que não possa comprar todas as coisas
que quero.
Sucesso Q13 Admiro pessoas que possuem carros, casas e roupas caras. Q14 Alguns dos feitos mais importantes na vida incluem adquirir bens materiais. Q16 As coisas que tenho dizem muito sobre o sucesso que tenho tido na vida. Q17 Gosto de ter coisas para impressionar as pessoas.
Alfa de Cronbach 0,782
Para o construto de consumo excessivo, assim como exposto na Tabela 17, é
possível identificar que as cargas fatoriais foram satisfatórias e os alfas de Cronbach
altos, variando entre 0,759 e 0,879. Por esse motivo, não foi necessária a exclusão
de variáveis. Os mesmos procedimentos estatísticos aplicados ao construto de
materialismo foram realizados com as variáveis e dimensões da propensão ao
endividamento, pois não alcançaram os índices considerados por Cronbach (1951),
Malhotra (2001) e Hair Júnior e colaboradores (2005). Os resultados são
apresentados na Tabela 20.
Tabela 20 – Purificação do construto de propensão ao endividamento
Dimensões e afirmações Cargas Fatoriais
Impacto Moral na Sociedade
Preferência do Tempo
Grau de Autocontrole
Impacto Moral na Sociedade
Q1 ,680 - - Q2 ,536 - - Q3 ,595 - -
Preferência do Tempo Q4 - ,417 - Q5 - ,864 - Q6 - ,876 -
Grau de Autocontrole Q7 - - ,804 Q8 - - -,814 Q9 - - ,330
Alfa de Cronbach 0,123 0,757 0,134/ 1,000
A análise da dimensão Impacto Moral na Sociedade não apresentou escores
abaixo de 0,5, porém obteve alfa de Cronbach de 0,123. Assim, essa dimensão não
apresentou a confiabilidade desejada para se prosseguir as análises. Da mesma
forma, a dimensão Grau de Autocontrole apresentou baixo alfa de Cronbach e duas
questões comprometiam o fator, dessa maneira, optou-se por excluí-las das análises
(destaques em cinza). A representação da propensão ao endividamento será
95
realizada pelas questões: Q1, Q5, Q6 e Q7. A Tabela 21 sumariza essas
informações.
Tabela 21 – Questões utilizadas para mensurar a propensão ao endividamento Dimensões Afirmações
Impacto Moral Q1 Não é certo gastar mais do que ganho. Preferência do Tempo Q5 É melhor primeiro juntar dinheiro e só depois gastar.
Q6 Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro. Grau de Autocontrole Q7 Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou
banco. Alfa de Cronbach 0,623
De acordo com a apresentação da Tabela 21, é possível compreender que o
construto de propensão ao endividamento será representado por quatro variáveis
dispostas em três dimensões. A partir da purificação dos dados, encontrou-se o alfa
de 0,623 que, de acordo com os autores Cronbach (1951) e Malhotra (2001), são
fiéis para os estudos quantitativos.
Diante das variáveis que foram utilizadas para a mensuração das atitudes de
consumo, vale ressaltar que os três construtos deste estudo continham afirmações
reversas. Essa técnica permite identificar a veracidade das respostas dos indivíduos.
O construto de Materialismo continha três variáveis deste tipo (Q1, Q2 e Q8), assim
como o consumo excessivo (Q13, Q14 e Q15) e propensão ao endividamento (Q1 e
Q7). O procedimento recomendado é converter a escala ao tabular os dados:
quando os estudantes assinalaram no questionário o número 1, este foi alterado
para 7, o 2 para 6, o 3 para 5 e assim sucessivamente. São expostas outras
informações nos resultados de cada construto neste trabalho.
4.3 MATERIALISMO
O construto de Richins e Dawson (1992), baseado em três diferentes
dimensões – centralidade, felicidade e sucesso – foi reaplicado por esta pesquisa.
Conforme os dados discutidos no tópico anterior deste estudo, foi calculado o alpha
de Cronbach para validade de 18 itens e, com a exclusão das questões Q3, Q7,
Q10, Q15 e Q18, este alfa resultou em 0,739. Assim, as informações descritivas pelo
construto são dispostas na Tabela 22.
96
Tabela 22 – Médias e desvios padrão do construto de materialismo Dimensões Afirmações Média Desvio
Padrão
Centralidade Q1 Geralmente, compro apenas aquilo de que preciso. 3,822 1,6439
Q2 Tento manter a minha vida simples, no que diz respeito aos meus bens materiais.
3,689 1,6053
Q4 Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias.
2,986 1,8389
Q5 Comprar coisas dá-me imenso prazer. 4,133 1,8531
Q6 Gosto de muito luxo na minha vida. 3,316 1,7374
Felicidade Q8 Tenho todas as coisas de que preciso para ser feliz. 3,552 1,9001
Q9 A minha vida seria melhor se possuísse coisas que não tenho.
3,839 1,9623
Q11 Seria mais feliz se tivesse dinheiro para comprar mais coisas.
4,655 1,8322
Q12 Às vezes, entristece-me um pouco que não possa comprar todas as coisas que quero.
4,222 1,8777
Sucesso Q13 Admiro pessoas que possuem carros, casas e roupas caras.
2,981 1,8017
Q14 Alguns dos feitos mais importantes na vida incluem adquirir bens materiais.
2,949 1,6911
Q16 As coisas que tenho dizem muito sobre o sucesso que tenho tido na vida.
3,855 1,9295
Q17 Gosto de ter coisas para impressionar as pessoas. 2,790 1,7312
Como é possível identificar na Tabela 22, as afirmações Q1 (3,822),
“Geralmente, compro apenas aquilo de que preciso”, Q2 (3,689), “Tento manter a
minha vida simples, no que diz respeito aos meus bens materiais” e Q6 (3,316),
“Gosto de muito luxo na minha vida” , referentes à Centralidade, mantiveram sua
média entre 3 e 4 pontos, dentre a variação de 1 a 7. A afirmação Q5 (4,133),
“Comprar coisas dá-me imenso prazer”, manteve a sua média mais alta, enquanto a
Q4 (2,986), “Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias”, foi a
menor registrada em Centralidade. Ao identificar esses valores, é possível
considerar que os estudantes pesquisados são amplamente ligados aos objetos que
possuem ou que compraram e não utilizam o seu dinheiro para comprar produtos
que não possuem valor significativo para eles. A média geral de 3,589, obtida pela
dimensão Centralidade, mostra que os jovens não estão muito centrados e seguros
com os atos de compra e consumo.
Para as variáveis que foram propostas para medir a dimensão Felicidade, não
houve nenhuma média registrada abaixo de 3 pontos e os maiores escores
registrados foram nas afirmações: Q11 (4,655) “Seria mais feliz se tivesse dinheiro
para comprar mais coisas” e Q12 (4,222) “Às vezes, entristece-me um pouco que
97
não possa comprar todas as coisas que quero”. Esses índices indicam que o
acúmulo de bens e posses ligados à sensação de bem-estar possui representação
na amostra do estudo. Considera-se que os estudantes tratam o dinheiro como um
recurso para trazer bem-estar com o consumo. A média geral da dimensão foi
marcada por 4,067 pontos, na variação entre 1 e 7 da escala Likert utilizada.
Como mostra a Tabela 22, o Sucesso teve a maior média registrada pela Q16
(3,855), “As coisas que tenho dizem muito sobre o sucesso que tenho tido na vida”,
e as demais afirmações se mantiveram entre 2 e 3 ou 3 a 4 pontos. Os resultados
expostos na Tabela 20 retratam que jovens baseiam-se no sucesso pessoal e
profissional pelo número de objetos que conquistaram durante sua vida, registrado
pela Q16. Os valores que possam indicar vestígios de inveja, demarcados por Q13
(2,981), “Admiro pessoas que possuem carros, casas e roupas caras”, e Q17
(2,790), “Gosto de ter coisas para impressionar as pessoas”, possuíram escores
baixos. Em geral, a medida de Sucesso obteve a média de 3,144 pontos.
Como descrito na Tabela 22, os entrevistados possuíram índices
representativos de materialismo, uma vez que a menor média registrada foi de 2,981
na dimensão Sucesso e 4,655 dentro da dimensão Felicidade. Como o estudo
aplicado por Richins e Dawson (1992), a pesquisa utilizou a média para analisar as
atitudes materialistas dos pesquisados.
Vale destacar que as variáveis Q1, Q2 e Q8 eram reversas, ou seja, serviam
para testar a verdade das respostas da amostra. Para as próximas análises, esses
valores foram convertidos, pois com tal modificação apresentam-se os valores
corretos que indicam as atitudes materialistas dos indivíduos. A Tabela 23 aponta
esses índices.
Tabela 23– Médias gerais do construto de materialismo com afirmativas reversas Dimensões e variáveis Média Média
alterada
Centralidade Q1 Geralmente, compro apenas aquilo de que preciso. 3,822
Geralmente, não compro apenas aquilo de que preciso.
4,189
Q2 Tento manter a minha vida simples, no que diz respeito aos meus bens materiais.
3,689
Não mantenho a minha vida simples, no que diz respeito aos meus bens materiais.
4,311
Q4 Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias.
2,986 2,986
Q5 Comprar coisas dá-me imenso prazer. 4,133 4,133
98
Q6 Gosto de muito luxo na minha vida. 3,316 3,316
Média geral dimensão Centralidade 3,589 3,788
Felicidade Q8 Tenho todas as coisas de que preciso para ser feliz. 3,552
Não tenho todas as coisas de que preciso para ser feliz.
4,229
Q9 A minha vida seria melhor se possuísse coisas que não tenho.
3,839 3,839
Q11 Seria mais feliz se tivesse dinheiro para comprar mais coisas.
4,655 4,655
Q12 Às vezes, entristece-me um pouco que não possa comprar todas as coisas que quero.
4,222 4,222
Nova média geral dimensão Felicidade 4,067 4,344
Sucesso Nova média geral dimensão Sucesso 3,144 3,144
Nova média geral do construto de materialismo 3,602 3,759
Diante da reversão dos valores expostos na Tabela 23, nas variáveis Q1, Q2
e Q8 (destaques em cinza), é possível relatar alteração no índice geral de
materialismo dos indivíduos. A dimensão Centralidade obteve a média geral em
3,788 e Felicidade, 4,344. A dimensão Sucesso não continha nenhuma afirmação
reversa, ou seja, manteve-se a média de 3,144 pontos.
Todos esses dados reforçam os comentários anteriores. Diante do número
representativo das médias no construto de materialismo, os jovens pesquisados
indicaram consumir geralmente aquilo que não precisam (Q1), além de não
manterem suas vidas simples e não possuir todos os objetos que queriam para a
sua felicidade (Q2 e Q8). Dessa forma, a média final de materialismo foi de 3,759.
A partir dessas informações, assim como os autores Richins e Dawson
(1992), foram feitas relações entre o materialismo e as variáveis sociodemográficas
dos entrevistados: idade, gênero, estado civil, dívidas e classes econômicas. Para
tanto, foi aplicado o teste t para amostras independentes. A Tabela 24 sumariza
esses dados, que são discutidos a seguir.
Tabela 24 – Variáveis sociodemográficas e materialismo Variáveis Alternativas Média t
Idade Até 20 completos 3,714 1,435** 21 a 30 anos completos 3,515
Gênero Masculino 3,583 2,292** Feminino 3,607
Estado Civil Solteiro (a) / Separado (a) Viúvo (a) 3,613 4,023** Casado (a) / Mora Junto (a) 3,533
Endividados Sim 3,618 4,016**
99
Não 3,580 Classes Econômicas A1, A2, B1 e B2 somadas (alta renda) 3,610 2,504*
C1, C2 e D somadas (baixa renda) 3,565 Nota: * Significativo em p<0,05; ** Significativo em p<0,01
Em relação às atitudes positivas ao materialismo e à idade dos entrevistados,
os resultados deste estudo são iguais aos indicados por Richins e Dawson (1992),
Richins (1994), Watson (1998, 2003) e Wong (1997), pois tais autores entenderam
que existem grupos de idades mais materialistas que outros. Na Tabela 24 é
possível identificar que indivíduos mais jovens (3,714) possuem as maiores médias
no construto de materialismo em relação aos estudantes com idade entre 21 e 30
anos (3,515).
As diferenças entre as médias dos gêneros se comportaram com baixa
diferença entre os valores, pois homens (3,583) foram um pouco menos
materialistas que mulheres (3,607). Tal resultado corrobora os estudos de Belk
(1984, 1985), Richins e Dawson (1992) e Richins (2004) que encontraram os
mesmos resultados. Solteiros, separados ou estudantes que eram viúvos durante a
realização da pesquisa indicaram maior índice de materialismo (3,613) em
comparação com o grupo de casados ou que moravam juntos (3,533).
Optou-se por avaliar as atitude positivas ao materialismo dos grupos de
endividados. Apesar da baixa diferença entre os índices, os resultados corroboram
os encontrados por Watson (1998, 2003). Os estudantes que afirmaram possuir
débito (3,618) foram mais materialistas que o grupo de não endividados (3,580).
Para as classes econômicas, os dados se mantiveram estáveis, tanto para as altas
rendas (3,610), enquadradas em A1, A2, B1 e B2, quanto para a baixa renda
(3,565), que compreende os indivíduos de C1, C2 e D. Como esperado, as classes
mais elevadas teriam as maiores médias entre os grupos. Richins (2004) e Watson
(1998, 2003) descreveram que as classes inferiores, nos seus estudos, possuíram a
maior média de materialismo, o que contraria os resultados, uma vez que o maior
escore foi encontrado para os indivíduos de rendas mais altas.
Apesar dos itens anteriores descreverem as médias junto às variáveis
sociodemográficas dos entrevistados, foram relacionados tais dados às atitudes
positivas ao materialismo com o intuito de verificar possíveis correlações. Para isso,
dois índices foram gerados: Sperman e Pearson.
100
Para a correlação entre materialismo e gênero, utilizou-se o coeficiente de
Spearman para medir a intensidade entre as variáveis ordinais, como mostra a
Tabela 25. Hair Júnior e colaboradores (2005) determina que os valores devem
seguir: i) correlação leve, quase imperceptível (0,01 a 0,20); ii) correlação pequena,
mas definida (0,21 a 0,40); iii) correlação moderada (0,41 a 0,70); iv) alta correlação
(0,71 a 0,90); v) correlação muito forte (0,91 a 1,00).
Tabela 25 – Correlações de Spearman entre gênero e materialismo Construto e dimensões Correlações de Spearman com:
Gênero * Centralidade -0,049
Sig. (bicaudal) 0,322 Felicidade 0,026
Sig. (bicaudal) 0,603 Sucesso -0,017
Sig. (bicaudal) 0,733 Construto Geral Materialismo -0,013
Sig. (bicaudal) 0,794 Nota: * Significativo em p<0,01
Na Tabela 25, é possível compreender que o construto de materialismo não
obteve valor representativo, ou seja, nenhuma correlação foi estatisticamente
comprovada. Vale ressaltar que nas dimensões Centralidade e Sucesso, assim
como no construto geral de materialismo, os valores foram negativos. Esses índices
indicam que o gênero se comporta em sentido contrário ao das dimensões e do
construto. Tais dados também foram encontrados nos estudos de Belk (1984, 1985),
Richins e Dawson (1992), Richins (1994) e Watson (1998, 2003).
Para a idade e as classes econômicas dos entrevistados, utilizou-se a matriz
de Correlação de Pearson, que é definida por Hair Júnior e colaboradores (2005)
como a mensuração da associação linear entre duas variáveis. De acordo com
Pestana e Gageiro (2003), as correlações devem ser assim classificadas: valores
menores que 0,2 indicam correlação muito baixa; entre 0,2 e 0,39 baixa; entre 0,40 e
0,69 moderada; entre 0,7 e 0,9 alta e acima de 0,9 muito alta. A Tabela 26 resume
os valores.
101
Tabela 26 – Correlações entre idade, classes econômicas e materialismo
Construto e Dimensões Correlações de Pearson com: Idade Classes Econômicas
Centralidade 0,172* 0,129** Sig. (bicaudal) ,0000 0,009
Felicidade 0,051* 0,078** Sig. (bicaudal) 0,303 0,112
Sucesso 0,042* 0,063** Sig. (bicaudal) 0,396 0,199
Construto Geral Materialismo 0,102* 0,130** Sig. (bicaudal) 0,038 0,008
Nota: * Significativo em p<0,01; ** Significativo em p<0,05
Com os dados da Tabela 26, compreende-se que as correlações assumiram
valores baixos, tanto para idade (0,102) quanto para classes econômicas (0,130).
Esses índices também foram encontrados por Belk (1984, 1985), Dawson e
Bambossy (1990), Richins e Dawson (1992), Richins (1994), Micken (1995) e
Watson (1998, 2003). Isso demonstra que, tanto na idade quanto nas classes
econômicas, os valores não indicaram força e direção do relacionamento linear, ou
seja, não se pode afirmar relacionamento entre as variáveis de análise.
No estudo desenvolvido por Richins e Dawson (1992) observou-se que os
indivíduos com níveis altos de materialismo teriam dificuldade de poupar dinheiro e
seriam propensos a gastar mais do que suas rendas financeiras. Com base nas
afirmações dos autores, este estudo verificou as médias com as duas atitudes de
consumo. A Tabela 27 indica as informações.
Tabela 27 – Médias de materialismo com níveis de gastos, consumo e economia Escala entre 1 e 7 Média de Materialismo Escala entre 1 e 7 Média de Materialismo
1 Gasto menos que ganho
3,482 1 Nunca consigo guardar
3,789 2 2 3 Gasto igual ao
que ganho 3,647 3 Algumas vezes
consigo guardar 3,623
4 4 5 5 6 Gasto mais que
ganho 3,659 6 Sempre consigo
guardar 3,611
7 7
Os resultados encontrados na Tabela 27 sustentam os comentários dos
autores Richins e Dawson (1992). Aqueles estudantes que indicaram consumir mais
do que ganham obtiveram a maior média no construto de materialismo, 3,659, contra
“igual ao que ganho” (3,647) e “gasto menos que ganho” (3,482). Esse dado se
102
repete com a atitude de poupar o dinheiro, pois as pessoas com maior dificuldade
econômica atingiram a média de 3,789 mais alta no construto.
4.4 CONSUMO EXCESSIVO
A avaliação do consumismo dos participantes desta pesquisa aconteceu pela
reaplicação das afirmações traduzidas de Wu (2006). Tal mensuração parte de cinco
dimensões diferentes que, somadas, indicam o consumo excessivo: atração por
produtos como sinal de status; prazer em comprar; compra inconsequente; compra
por emoção / excitação e autocontrole financeiro.
Com essas cinco dimensões foi calculado o alpha de Cronbach para validade
do construto com 15 itens e resultou em 0,903. Esse mesmo indicador foi analisado
com as cinco dimensões separadas e todas obtiveram alfas consistentes para
continuar os estudos: Atração por produtos como sinal de status (0,778); Prazer em
comprar (0,879); Compra inconsequente (0,797); Compra por emoção / excitação
(0,874) e o Autocontrole financeiro (0,759).
Novamente, esses valores de confiabilidade, conforme Hair Júnior e
colaboradores (2005), possuem fidedignidade, pois índices iguais ou acima de 0,70
são aceitáveis para os estudos quantitativos. Diante disso, os resultados descritivos
do construto são expostos na Tabela 28.
Tabela 28 – Médias e desvios padrão do construto de consumo excessivo dos entrevistados Dimensões Afirmações Média Desvio
Padrão
Atração por produtos como sinal de status
Q1 Eu gosto de muito luxo na minha vida, embora eu possa não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas contas.
2,253 1,585
Q2 Eu compro os objetos materiais como sinal de sucesso, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.
1,884 1,355
Q3 Eu tenho muito prazer em comprar coisas agradáveis, embora eu tenha dificuldade financeira.
2,617 1,721
Média geral da dimensão atração por produtos 2,251
Prazer em comprar
Q4 Comprar é uma forma de me sentir melhor, mesmo que depois eu possa enfrentar dificuldades financeiras.
2,311 1,648
Q5 Quando estou com um baixo emocional, eu gasto mais do que eu deveria com base na minha condição financeira.
2,313 1,740
Q6 Para mim, fazer compras é uma maneira de aliviar o estresse, embora eu talvez tenha que enfrentar dificuldades financeiras.
2,202 1,623
103
Média geral da dimensão prazer em comprar 2,275
Compra inconsequente
Q7 Muitas das vezes eu compro algo que realmente quero sem pensar muito, embora eu não deveria comprá-lo com base nas minhas condições financeiras.
3,190 1,994
Q8 É típico que eu passe por imprudente por não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.
1,793 1,359
Q9 Durante as compras, muitas vezes eu gasto mais do que eu deveria (com base nas minhas condições financeiras) sem que eu perceba isso.
2,427 1,704
Média geral da dimensão compra inconsequente 2,470
Compra por emoção / excitação
Q10 Eu gasto muito quando estou de bom humor, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.
2,046 1,446
Q11 Quando eu estou bem emocionalmente, compro um monte de coisas, embora eu não tenha dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.
1,841 1,309
Q12 Eu gosto de fazer compras quando estou de bom humor, embora compre coisas que eu não deveria, se pensar na minha situação financeira
2,111 1,496
Média geral da dimensão compra por emoção 1,999
Autocontrole financeiro
Q13 Eu acompanho bem as minhas despesas, para fins de orçamento.
2,961 1,787
Q14 Eu realmente posso impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu pensar na minha situação financeira.
2,781 1,765
Q15 Eu examino e avalio o meu comportamento de compra, com a finalidade de cuidar do meu orçamento.
2,894 1,787
Média geral da dimensão autocontrole financeiro 2,878
Na primeira dimensão do construto, compreendida pela representação da
compra por status ou ascensão social, a maior média foi registrada pela Q3 (2,617),
“Eu tenho muito prazer em comprar coisas agradáveis, embora eu tenha dificuldade
financeira”. A média geral da dimensão atingiu o escore de 2,251, o que indicou
valores baixos de consumismo dos entrevistados, ou seja, o consumo pode não
representar status e produtos não indicam posição social para os estudantes. Esse
mesmo resultado pode ser encontrado na segunda dimensão, que mediu o prazer
em comprar, pois as questões Q4 (2,311), “Comprar é uma forma de me sentir
melhor, mesmo que depois eu possa enfrentar dificuldades financeiras”, Q5 (2,313),
“Quando estou com um baixo emocional, gasto mais do que eu deveria com base na
minha condição financeira”, e Q6 (2,202), “Para mim, fazer compras é uma maneira
de aliviar o estresse, embora eu talvez tenha que enfrentar dificuldades financeiras”,
mantiveram médias moderadas no construto. A média geral da dimensão “prazer em
comprar” marcou 2,275.
104
A terceira dimensão, que visou a mensurar o nível dos consumidores em
adquirir objetos sem pensar nas suas situações financeiras – compra inconsequente
– obteve a média de 2,470. Na dimensão anterior, pôde-se compreender que os
estudantes da pesquisa, por vezes, compravam objetos para suprir carências
afetivas e baixa autoestima.
Assim, na compra inconsequente, a maior média foi registrada pela Q7
(3,190), “Muitas das vezes eu compro algo que realmente quero sem pensar muito,
embora eu não deveria comprá-lo com base nas minhas condições financeiras”, e
indica a inconsequência e a falta do planejamento de compras. Já as afirmações Q8
(1,793) “É típico para mim, passar por imprudente, por não ter dinheiro suficiente
para pagar todas as minhas compras” e Q9 (2,427) “Durante as compras, muitas
vezes eu gasto mais do que eu deveria (com base nas minhas condições
financeiras) sem que eu perceba isso”, obtiveram baixos escores no construto.
Na Tabela 28, pôde-se compreender que a compra por emoção ou excitação
do consumidor obteve as menores médias de todo o construto (1,999). Esse
resultado confirma os indícios citados anteriormente de que, apesar do alto nível de
endividados da amostra (233), o estado emocional das pessoas não possui
influência no comportamento de compra, pois as afirmações Q10 (2,046), “Eu gasto
muito quando estou de bom humor, embora as compras possam me colocar em
dificuldades financeiras”, Q11 (1,841), “Quando eu estou bem emocionalmente
compro um monte de coisas, embora eu não tenha dinheiro suficiente para pagar
todas as minhas compras”, e Q12 (2,111), “Eu gosto de fazer compras quando estou
de bom humor, embora compre coisas que não deveria, se pensar na minha
situação financeira”, mantiveram baixas médias na dimensão.
Embora este estudo tenha utilizado outras afirmações para mensurar o
controle financeiro dos estudantes, optou-se por manter a dimensão Autocontrole do
construto de Wu (2006), já que ela é plenamente compatível com os objetivos deste
trabalho. Dessa maneira, obtiveram-se duas oportunidades que podiam medir a
capacidade de controlar os gastos dos pesquisados. As médias dessa dimensão,
conforme a Tabela 28, marcaram baixos escores, o que indicou a falta de controle e
gestão financeira dos estudantes, registradas por Q13 (2,961), “Eu acompanho bem
as minhas despesas, para fins de orçamento”, Q14 (2,781), “Eu realmente posso
impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu pensar na minha situação
105
financeira”, e Q15 (2,894), “Eu examino e avalio o meu comportamento de compra,
com a finalidade de cuidar do meu orçamento”.
Os estudantes representaram índices medianos de consumo, pois a maior
média foi registrada pela dimensão compra inconsequente, na variável Q7 (3,190).
Isso indica que, por muitas vezes, os estudantes passam a não controlar os seus
impulsos de compra, levando-os ao endividamento. No entanto, o menor escore foi
encontrado na mesma dimensão. A questão Q8 registrou a média de 1,793 e
discutiu a imprudência de compra.
O construto de Wu (2006) obteve bom desempenho nas dimensões e
variáveis de análise, consideradas pelo alfa de Cronbach e pela capacidade de
captar a variabilidade (desvio padrão) entre os entrevistados. Como a pesquisa
aplicada pelo autor, este estudo utilizou-se das médias para conferir os papéis de
compra dos universitários pesquisados. Os índices constituídos pelas cinco
dimensões de Wu (2006) indicaram que – para a amostra estudada – estudantes
possuem moderada consciência de compra.
Como o construto de materialismo dos autores Richins e Dawson (1992), o
consumo excessivo de Wu (2006) também conteve as alternativas reversas com o
intuito de verificar a veracidade dos estudantes em responder o questionário (Q13,
Q14 e Q15). A Tabela 29 resume as médias gerais dos construtos e suas devidas
modificações nos valores das variáveis (destaques em cinza).
Tabela 29 – Médias gerais do construto de consumo excessivo com afirmações reversas Dimensões e afirmações Média Média alterada
D1 Atração por produtos como sinal de status 2,251 - D2 Prazer em comprar 2,275 - D3 Compra inconsequente 2,470 - D4 Compra por emoção / excitação 1,999 - D5 Autocontrole financeiro 2,878 5,130
Q13 Eu acompanho bem as minhas despesas, para fins de orçamento.
2,961
Eu não acompanho bem as minhas despesas, para fins de orçamento.
5,0433
Q14 Eu realmente posso impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu pensar na minha situação financeira.
2,781
Eu realmente não posso impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu pensar na minha situação financeira.
5,2212
Q15 Eu examino e avalio o meu comportamento de compra, com a finalidade de cuidar do meu orçamento.
2,894
Eu não examino e avalio o meu comportamento de compra, com a finalidade de cuidar do meu orçamento.
5,1138
Média geral do construto de consumo excessivo 2,375 2,825
106
Como exposto na Tabela 29, as afirmações Q13, Q14 e Q15 (destaques em
cinza) sofreram modificações nos valores. Entretanto, nas dimensões D1, D2, D3 e
D4 não existiam as afirmações reversas. Houve o aumento da média do construto
de consumo excessivo, pois finalizou em 2,825. Esses índices reforçam os
comentários anteriores, pois os jovens estudantes indicaram a dificuldade de
controle e gestão financeira dos rendimentos financeiros. As próximas análises
aconteceram pela média alterada da dimensão D5, pois com essa modificação são
demonstrados os valores que indicam o consumo excessivo dos indivíduos.
A partir das médias expostas foram realizadas análises cruzadas entre o
consumismo e as variáveis sociodemográficas dos entrevistados: idade, gênero,
estado civil, dívidas e classes econômicas. Para tanto, foi aplicado o teste t para
amostras independentes. A Tabela 30 identifica os valores e são discutidos a seguir.
Tabela 30 – Variáveis sociodemográficas e o construto de consumo excessivo Variáveis Alternativas Média t
Idade Até 20 completos 2,4552 1,8797** 21 a 30 anos completos 2,3658
Gênero Masculino 2,4338 3,2463** Feminino 2,3482
Estado Civil Solteiro (a) / Separado (a) Viúvo (a) 2,4397 1,5944* Casado (a) / Mora Junto (a) 2,2264
Dívidas Sim 2,4495 1,9317* Não 2,2559
Classes Econômicas A1, A2, B1 e B2 somadas (alta renda) 2,4543 1,0132* C1, C2 e D somadas (baixa renda) 2,4868
Nota: * Significativo em p<0,05; ** Significativo em p<0,01
Na Tabela 30 não ocorreram diferenças significativas entre o gênero dos
entrevistados e as médias do construto, pois as médias das acadêmicas (2,348) e os
homens (2,4338) não ultrapassaram 0,2 pontos de diferença. Wu (2006) não
realizou comparações entre o gênero e seu construto de consumo excessivo. No
entanto, Dittmar e Drury (2005) e Ridgway e colaboradores (2006, 2008)
descreveram que as maiores médias de consumo excessivo, na amostra pesquisada
pelos autores, foi masculino, o que corrobora os resultados deste estudo.
Faber e O`Guinn (1989), Black (1996), Dittmar e Drury (2005), Wu (2006) e
Ridgway (2006, 2008) encontraram relação entre o consumo excessivo e as baixas
107
idades dos pesquisados. Esta pesquisa aplicada chegou aos mesmos resultados,
pois indivíduos com até 20 anos obtiveram a média de 2,455 e os estudantes com
idade entre 21 e 30 anos, 2,365. O estado civil dos entrevistados marcaram
diferenças significativas no cruzamento dos dados. Estudantes solteiros, separados
ou viúvos (2,439) assumiram consumir mais do que os alunos casados (2,226).
A literatura abordada por Wu (2006) indica que o endividamento pode ser a
causa do consumo excessivo. Nesta pesquisa, os alunos que estavam em débito
financeiro (2,449) se demonstraram mais consumistas do que aqueles que não
possuíam dívidas (2,255). No entanto, as classes econômicas A e B (alta renda)
indicaram o menor escore no construto (2,454) e C e D (baixa renda) a maior média
(2,486). Os resultados encontrados neste trabalho seguem os mesmos achados por
Faber e O`Guinn (1989), Black (1996), Ridgway (2006, 2008), pois descreveram as
classes inferiores com os maiores índices de consumo.
Embora os itens anteriores comparassem as médias do consumo excessivo e
as variáveis sociodemográficas dos estudantes, buscou-se verificar as correlações
entre esses dados. Tais índices foram gerados a partir da matriz de Correlação
Spearman para o gênero e Pearson para idade e classes econômicas.
Novamente, seguiram-se as instruções de Hair Júnior e colaboradores (2005),
pois determinam que os valores devem seguir: i) correlação leve, quase
imperceptível (0,01 a 0,20); ii) correlação pequena, mas definida (0,21 a 0,40); iii)
correlação moderada (0,41 a 0,70); iv) alta correlação (0,71 a 0,90); v) correlação
muito forte (0,91 a 1,00). A Tabela 31 evidencia os valores da matriz.
Tabela 31 – Correlação de Spearman entre consumo excessivo e gênero. Construto e dimensões Correlações de Spearman com:
Gênero * Atração por Produtos como Sinal de Status 0,026
Sig. (bicaudal) -0,591 Prazer em Comprar -0,001
Sig. (bicaudal) 0,977 Compra Inconsequente 0,064
Sig. (bicaudal) 0,194 Compra por Emoção / Excitação 0,081
Sig. (bicaudal) 0,097 Autocontrole Financeiro -0,046
Sig. (bicaudal) 0,348 Construto Geral Consumo Excessivo 0,025
Sig. (bicaudal) 0,605 Nota: * Significativo em p<0,01
108
Todos os resultados da Tabela 31 apontaram que nenhuma correlação pode
ser realizada – dados os valores baixos ou negativos de Spearman – entre a variável
do estudo e as dimensões do construto, ou seja, não se pode afirmar que existe
associação entre o gênero e o consumismo. Embora o resultado tenha gerado isso,
nenhum estudo foi encontrado que tenha aplicado os mesmos tratamentos
descritivos.
A aplicação da Correlação de Pearson para consumo excessivo versus idade
e classes sociais foi realizada. Para isso, observaram-se os índices seguidos por
Pestana e Gageiro (2003) para os quais as correlações devem seguir: valores
menores que 0,2 indicam correlação muito baixa; entre 0,2 e 0,39 baixa; entre 0,40 e
0,69 moderada; entre 0,7 e 0,9 alta e acima de 0,9 muito alta.
Tabela 32 – Correlações de Pearson entre idade, classes econômicas e consumo excessivo
Construto e Dimensões
Correlações de Pearson com:
Idade Classes Econômicas 2
Atração por Produtos como Sinal de Status 0,089* 0,013*
Sig. (bicaudal) 0,070 0,796
Prazer em Comprar 0,016* -0,081*
Sig. (bicaudal) 0,744 0,100
Compra Inconsequente 0,000* -0,002*
Sig. (bicaudal) 0,998 0,967
Compra por Emoção / Excitação -0,003* -0,027*
Sig. (bicaudal) 0,957 0,581
Autocontrole Financeiro -0,046* 0,006*
Sig. (bicaudal) 0,346 0,904
Construto Geral Consumo Excessivo 0,013* -0,025*
Sig. (bicaudal) 0,793 0,607
Nota: * Significativo em p<0,01
Para as correlações geradas com o construto e a idade dos pesquisados não
houve nenhuma dimensão que possa ser considerada nesta pesquisa, pois todos os
dados se mantiveram abaixo do esperado, assim como os resultados do construto
geral, que marcou o valor de -0,025. Os estudos relacionados na fundamentação
teórica deste trabalho, assim como as análises com os outros autores não
mostraram a relação entre o construto e a idade dos consumidores. Tais
considerações podem ser enquadradas, também, para a correlação entre consumo
109
excessivo e classes econômicas, uma vez que nenhum estudo aplicou a correlação
entre essas variáveis.
4.5 PROPENSÃO AO ENDIVIDAMENTO
A mensuração da propensão ao endividamento dos estudantes pesquisados
foi realizada com o questionário desenvolvido por Moura (2005), adaptado do
construto de Lea Webley e Walker (1995). Esse primeiro instrumento de pesquisa foi
realizado com 17 afirmações, aplicado a uma amostra de clientes norte-americanos.
Já a pesquisa de Moura (2005) foi feita com famílias do município de São Paulo, no
Brasil.
Como descrito no item 4.2 deste estudo, a mensuração da propensão ao
endividamento da amostra pesquisada foi realizada com as variáveis Q1, Q5, Q6 e
Q7, distribuídas nas três dimensões do instrumento. A Tabela 33 aponta as médias
e os desvios padrão encontrados nesse construto.
Tabela 33 – Médias e desvios padrão do construto de propensão ao endividamento Dimensões Afirmações Média Desvio
Padrão Impacto Moral Q1 Não é certo gastar mais do que ganho. 1,399 1,008 Preferência do Tempo
Q5 Prefiro comprar parcelado a esperar ter dinheiro para comprar à vista.
3,212 1,089
Q6 Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro.
2,397 1,848
Grau de Autocontrole Q7 Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco.
2,341 1,912
Na Tabela 31 a afirmação Q1 (1,399), “Não é certo gastar mais do que
ganho”, indica o julgamento que a sociedade faz dos devedores e obteve a menor
média do construto. Esse índice pode explicar a indiferença que a amostra mostrou,
diante da maior ou menor aceitação e tolerância social dos endividados, ou seja, a
imagem social não interfere na vida dessas pessoas.
A segunda dimensão, composta pelas variáveis Q5 (3,212), “Prefiro comprar
parcelado a esperar ter dinheiro para comprar à vista”, e Q6 (2,397), “Prefiro pagar
parcelado mesmo que no total seja mais caro”, refere-se às opções dos indivíduos
entre valor e tempo, consumir hoje ou consumir no futuro, ou seja, a paciência em
adiar o consumo e juntar o dinheiro para adquirir o bem à vista, reduzindo os juros
dos bens.
110
Para a amostra deste trabalho, com um número significativo de estudantes
endividados, parte dos pesquisados prefere aguardar o tempo para consumir a
comprar à vista e passar por problemas financeiros. A habilidade de tomar decisões
financeiras e manter o orçamento sob controle, indicada pela Q7 (2,341), “Eu sei
exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco”, manteve baixa
média no construto. Esse índice pode indicar a dificuldade dos estudantes em gerir
os seus recursos.
Vale destacar que as afirmações Q1, “Não é certo gastar mais do que ganho”,
e Q7, “Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco”, eram
reversas, ou seja, serviam para apontar a veracidade de respostas. Para as
próximas análises estatísticas esses valores foram revertidos (destaques em cinza).
A Tabela 34 evidencia essas alterações.
Tabela 34 – Médias das alternativas reversas Dimensões Afirmações Média Média alterada
Impacto Moral Q1 Não é certo gastar mais do que ganho. 1,399
É certo gastar mais do que ganho. 6,611
Preferência do Tempo
Q5 Prefiro comprar parcelado a esperar ter dinheiro para comprar à vista.
3,212
Q6 Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro.
2,397
Grau de Autocontrole
Q7 Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco.
2,341
Não sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco.
5,667
Média geral do construto de propensão ao endividamento 2,3375 4,465
Na Tabela 34 é possível relatar média elevada (4,465) na escala que variava
entre 1 e 7 pontos da propensão ao endividamento. Os estudantes pesquisados
indicaram não possuir habilidade na gestão das suas dívidas (Q7 – 5,667), bem
como baixa ou nenhuma preocupação com a relação entre salário e gastos (Q1 –
6,611), ou seja, o quanto recebem e o quanto consomem. As próximas análises
serão avaliadas pelas médias descritas na Tabela 34, pois somente dessa forma é
que se pode mensurar a propensão ao endividamento dos indivíduos.
Foram realizadas análises cruzadas entre o construto e as variáveis
sociodemográficas dos entrevistados: idade, gênero, estado civil, dívidas e classes
econômicas. Para isso, a Tabela 35 resume os valores encontrados pelos testes t
para amostras independentes.
111
Tabela 35 – Variáveis sociodemográficas e propensão ao endividamento Variáveis Alternativas Média T
Idade Até 20 completos 4,458 1,171**
21 a 30 anos completos 4,475
Gênero Masculino 4,466 1,728**
Feminino 4,463
Estado Civil Solteiro (a) / Separado (a) Viúvo (a) 4,789 2,579*
Casado (a) / Mora Junto (a) 4,400
Endividados Sim 4,875 2,331**
Não 4,143
Classes Econômicas A1, A2, B1 e B2 somadas (alta renda) 4,036 1,169*
C1, C2 e D somadas (baixa renda) 4,559
Nota: * Significativo em p<0,05; ** Significativo em p<0,01
Após os dados obtidos com as análises cruzadas, descritos na Tabela 35,
compreende-se que os estudantes com idade até 20 anos (4,458) eram menos
propensos ao endividamento financeiro do que os entrevistados com idade entre 21
e 30 anos completos (4,475). Índices semelhantes a esta pesquisa também foram
encontrados nos estudos de Lea, Webley e Levine (1993) e Davies e Lea (1995).
Lea Webley e Walker (1995) e Davies e Lea (1995) indicaram que homens
teriam maior controle financeiro e mulheres seriam mais propensas ao
endividamento. Nos resultados deste estudo nenhuma diferença pôde ser
comprovada entre o gênero, pois os valores entre homens (4,466) e mulheres
(4,463) obtiveram baixas diferenças entre as médias da propensão ao
endividamento. No entanto, as situações civis da amostra identificaram desigualdade
entre as médias. Solteiros, separados ou viúvos (4,789) foram mais propensos às
dívidas do que casados (4,400).
Os alunos que estavam endividados durante a realização da pesquisa (4,875)
obtiveram a maior média quandos comparado com os não endividados (4,143). Nas
classes econômicas, Lea, Webley e Levine (1993), Lea Webley e Walker (1995)
chegaram a conclusão que pessoas com rendimentos mais baixos possuem maior
propensão à dívida. Este estudo sustentou tais afirmações, pois as classes A e B
(4,036) obtiveram médias inferiores às das classes C e D (4,559).
112
Embora comparadas as médias do construto de propensão ao endividamento
e as variáveis sociodemográficas dos pesquisados, verificaram-se possíveis
correlações entre os valores. Tais índices foram gerados a partir da matriz de
Correlação de Pearson para as classes econômicas e idade. O gênero dos
entrevistados foi analisado pela Correlação de Spearman. A Tabela 36 resume as
possíveis correlações entre propensão ao endividamento versus idade e classes
econômicas da amostra pesquisada.
Tabela 36 – Correlações entre idade, classes econômicas e propensão ao endividamento Construto e Dimensões Correlações de Pearson com:
* Idade * Classes Econômicas
Propensão ao Endividamento -0,052 0,009 Sig. (bicaudal) 0,287 0,851
Nota: * Significativo em p<0,01
Idade e classes econômicas não puderam ser correlacionadas com o
construto de propensão ao endividamento, pois nenhum dos dois dados alcançaram
o critério de Pestana e Gageiro (2003), quando as correlações devem seguir os
critérios: valores menores que 0,2 indicam correlação muito baixa; entre 0,2 e 0,39
baixa; entre 0,40 e 0,69 moderada; entre 0,7 e 0,9 alta e acima de 0,9 muito alta.
Webley e Nythos (2001) também não encontraram correlação. Entretanto, Lea,
Webley e Levine (1993), Lea Webley e Walker (1995) e Davies e Lea (1995)
relataram que idade obteve correlação com as propensões às dívidas.
A Tabela 37 relata os valores da Correlação de Spearman aplicada entre o
construto e o gênero dos entrevistados.
Tabela 37 – Correlação de Spearman entre propensão ao endividamento e gênero
Nota: * Significativo em p<0,01
Hair Júnior e colaboradores (2005) indica que os valores devem seguir o
seguinte padrão: correlação leve com valores entre 0,01 e 0,20; correlação pequena
entre 0,21 e 0,40; correlação moderada com valores de 0,41 a 0,70; alta correlação
de 0,71 a 0,90; correlação muito forte, 0,91 a 1,00. Esse resultado contrariou os
Construto Correlação de Spearman com: * Gênero
Propensão ao Endividamento 0,002 Sig. (bicaudal) 0,962
113
dados de Lea, Webley e Walker (1995) e Davies e Lea (1995), pois os autores
encontraram tal relação. Entretanto, os estudos aplicados por Lea, Webley e Levine
(1993) e Webley e Nythos (2001) – como esta pesquisa – não encontraram
correlação estatística.
4.6 ANÁLISE FATORIAL DOS CONSTRUTOS DO ESTUDO
Embora se tenha discutido a purificação e aplicada a análise fatorial no item
4.2 deste capítulo, foram realizados novos procedimentos estatísticos com os
construtos de materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento.
Hair Júnior e colaboradores (2005) defendem que a aplicação da análise
fatorial serve como um modelo de mensuração das relações entre os indicadores e
os fatores do construto. Além disso, a proposição do tratamento estatístico deve
reduzir o tamanho original, ou seja, deverá fornecer base para criação de um novo
conjunto de variáveis que possa incorporar o caráter e a natureza do original em um
número menor de questões.
Nesta pesquisa, optou-se somente pela aplicação estatística no consumo
excessivo de Wu (2006), pois, como afirma o autor, o instrumento deve ser reduzido
com o intuito de ter-se um construto que possa medir o consumismo dos indivíduos
de acordo com cada realidade a ser aplicada. Materialismo não terá aplicação da
análise fatorial por dois motivos principais: i) Richins (2004) indicou que as
afirmações mensuram as atitudes a partir da totalidade das variáveis e mesmo que
se tenha três dimensões de análise a sua reaplicação deve eliminar esse dado e
manter as questões na sua amplitude de avaliação; ii) no estudo aplicado Richins
(2004), que utilizou o construto de Richins e Dawson (1992), já se efetuou o trabalho
de redução das afirmações em 12, 9, 6 e 3 variáveis, como descrito na
fundamentação deste estudo.
Na propensão ao endividamento essas justificativas se repetem. O
questionário original de Lea, Webley e Walker (1995), adaptado por Moura (2005),
possui apenas três fatores, com três variáveis cada. Hair Júnior e colaboradores
(2005) defendem que os fatores extraídos pela análise fatorial devem conter, no
mínimo, três afirmações, caso contrário, não se justifica a aplicação desse método
estatístico. O teste realizado, com a rotação varimax normalizada, extração dos
fatores com autovalores maiores que um e comunalidades maiores que 0,50,
114
apresentou somente 2 variáveis em cada dimensão, indicando a não realização do
tratamento multivariado.
No entanto, como nenhum estudo que utilizou o construto de Wu (2006) foi
encontrado e pelas justificativas dadas pelo autor, optou-se por aplicar a análise
fatorial no instrumento. Dois testes foram realizados para verificar a possibilidade da
sua aplicação: Teste Kaiser – Meyer-Olklin (KMO) e Bartlett (BTS). O primeiro
(KMO) apresentou o valor de 0,902. Hair Júnior e colaboradores (2005) defendem
que os valores devem ultrapassar 0,70 como um índice mínimo aceitável. Já! o teste
BTS apresentou 3602,6 e p=0,000. Ambos demonstraram validade para a
continuidade da aplicação.
Para isso, utilizou-se a análise fatorial exploratória através de componentes
principais e com rotação varimax normalizada. Este trabalho seguiu dois critérios:
extração dos fatores com autovalores maiores que um e comunalidades maiores que
0,50. Nenhuma variável foi retirada na aplicação, pois todas seguiram as
comunalidades maiores que as estabelecidas pelo critério do trabalho. A Tabela 38
resume a variância explicada pelos fatores com autovalores maiores que um.
Tabela 38 – Fatores extraídos das análise fatorial do construto de consumo excessivo Fatores Autovalores Variância Explicada
Percentual Explicada 1 6,928995 46,19330 46,19330 2 1,783596 11,89064 58,08394 3 1,130404 7,53063 65,61997
Na Tabela 38 pode-se visualizar que os fatores com autovalores superiores a
um, em conjunto, explicam 65,61% de toda a variância da análise. Observa-se,
ainda, que somente o fator 1 explica 46,19% da variância total. Vale destacar que a
variância é a medida da capacidade que um fator tem de representar a variação total
das variáveis originais.
Dessa forma, a Tabela 39 apresenta a matriz rotada da análise fatorial, na
qual todas as afirmativas foram superiores aos critérios estabelecidos pelos autores
Hair Júnior e colaboradores (2005), pois ultrapassaram comunalidades maiores que
0,50.
115
Tabela 39 – Análise fatorial do construto de consumo excessivo Variáveis Fator 1 Fator 2 Fator 3
Q1 Eu gosto de muito luxo na minha vida, embora eu possa não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas contas.
0,689175 - -
Q2 Eu compro os objetos materiais como sinal de sucesso, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.
0,75693 - -
Q3 Eu tenho muito prazer em comprar coisas agradáveis, embora eu tenha dificuldade financeira.
0,777964 - -
Q4 Comprar é uma forma de me sentir melhor, mesmo que depois eu possa enfrentar dificuldades financeiras.
0,770091 - -
Q5 Quando estou com um baixo emocional, eu gasto mais do que eu deveria com base na minha condição financeira.
0,680569 - -
Q6 Para mim, fazer compras é uma maneira de aliviar o estresse, embora eu talvez tenha que enfrentar dificuldades financeiras.
0,630532 - -
Q7 Muitas das vezes eu compro algo que realmente quero sem pensar muito, embora eu não deveria comprá-lo com base nas minhas condições financeiras.
0,676796 - -
Q8 É típico que eu passe por imprudente por não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.
0,663641 - -
Q9 Durante as compras, muitas vezes eu gasto mais do que eu deveria (com base nas minhas condições financeiras) sem que eu perceba isso.
0,682463 - -
Q10 Eu gasto muito quando estou de bom humor, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.
-
- 0,796984
Q11 Quando eu estou bem emocionalmente, eu compro um monte de coisas, embora eu não tenha dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.
- - 0,829492
Q12 Eu gosto de fazer compras quando estou de bom humor, embora compre coisas que eu não deveria, se pensar na minha situação financeira.
- - 0,837094
Q13 Eu acompanho bem as minhas despesas, para fins de orçamento.
- 0,792679 -
Q14 Eu realmente posso impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu pensar na minha situação financeira.
- 0,794215 -
Q15 Eu examino e avalio o meu comportamento de compra com a finalidade de cuidar do meu orçamento.
- 0,833455 -
A partir da matriz rodada e das significâncias das variáveis dentro dos fatores
do construto foram nomeados os conjuntos. O primeiro, denominado consumismo, é
representado por 9 questões e engloba as variáveis Q1, Q2, Q3, Q4, Q5, Q6, Q7,
Q8 e Q9. Esse fator indica o ato de comprar excessivamente, indiscriminadamente,
sem noção de que pode ser prejudicial à vida ou ao seu futuro financeiro. Além
116
disso, esses indivíduos priorizam a conquista dos objetos pessoais, pois podem, de
alguma forma, trazer diversão e entretenimento à vida.
Já o segundo fator, formado por 3 afirmações, compreende as variáveis: Q13,
14 e 15 e é nomeado controle financeiro. Nesse conjunto se enquadram os
indivíduos que possuem autocontrole de suas finanças, além da facilidade em
compreender o papel que o dinheiro tem nas suas vidas, realizando compras
planejadas e equilibradas.
Por fim, o terceiro fator é formado por outras 3 questões: Q10, 11 e 12 e
nomeado de compra emocional, compreendido como aqueles indivíduos que
buscam o bem-estar na vida a partir da compra excessiva de bens e serviços. A
partir da extração e exposição dos fatores adquiridos pela análise fatorial, a Tabela
40 apresenta os grupos de variáveis e suas respectivas confiabilidades de estudo.
Tabela 40 – Variáveis e alfa de Cronbach para cada fator Fatores Variáveis Alfa de Cronbach
1 Q1, Q2, Q3, Q4, Q5, Q6, Q7, Q8 e Q9 0,909 2 Q13, 14 e 15 0,874 3 Q10, 11 e 12 0,759
Na Tabela 40 foram calculados os alfas de Cronbach para cada fator e
percebeu-se que todos possuíram boa confiabilidade e ultrapassaram os níveis
aceitáveis: 0,70, como considerados por Hair Júnior e colaboradores (2005), e 0,60,
indicados por Malhotra (2001). Diante disso, a Tabela 41 apresenta os dados
descritivos dos três fatores extraídos da análise.
Tabela 41 – Resultados descritivos dos grupos extraídos da análise fatorial Fatores Mínimo Máximo Média Desvio Padrão
1 Consumismo 1 7 2,3321 1,2523 2 Controle Financeiro 1 7 4,0007 1,2699 3 Compra Emocional 1 7 2,8785 1,4612
A Tabela 41 retrata as médias e o desvio padrão encontrados nos três fatores
da análise. A partir dos dados, é possível evidenciar que os estudantes possuem
fracos a moderados indícios de compra por emoção, ou seja, o consumismo desses
indivíduos não é feito para preencher a baixa autoestima por atos sem razão ou
gastos desequilibrados. Por outro lado, e que justifica a afirmação anterior, essas
117
pessoas ainda possuem dificuldade na gestão dos seus rendimentos, além de existir
a falta do autocontrole de suas finanças, dada a alta média do fator 2 desta análise
(4,0007).
4.7 ANÁLISE CLUSTER
A análise Cluster ou análise de conglomerados, de acordo com Hair Júnior e
colaboradores (2005), consiste em uma técnica analítica capaz de agrupar objetos
ou indivíduos – de acordo com as suas características em comum – formando
grupos homogêneos entre si. Essa técnica multivariada da análise estatística é
relevante em virtude da sua capacidade de classificar objetos com o intuito de
reduzir números de itens desorganizados para categorias compreensíveis e
gerenciáveis.
Sua aplicação visa a agrupar uma amostra de indivíduos ou objetos em um
número reduzido de grupos mútuos excludentes, com base nas suas similaridades.
Os dados ou indivíduos tendem a ser semelhantes entre si, embora diferenciados
em relação aos demais objetos dos outros grupos, ou seja, devem representar tanto
homogeneidade interna como uma forte heterogeneidade externa. Caso a
conglomeração seja bem sucedida, os objetos dentro dos gráficos estarão bem
próximos entre si e os demais grupos estarão afastados. (HAIR JÚNIOR et al.,
2005).
Malhotra (2001) relata que esse método não faz distinção entre as variáveis
dependentes ou independentes, pois o seu objetivo central é caracterizar, por função
da conglomeração, uma amostra composta de um grande número de variáveis
semelhantes.
São vários os métodos da análise de conglomerados, embora Hair Júnior e
colaboradores (2005) destaquem dois dos principais tipos: o de hierarquização e os
não hierárquicos. Este último também é nomeado de k-médias ou k-means
clustering. Neste estudo, optou-se por aplicar o método não hierárquico, pois se
mediram as atitudes de consumo a partir das médias das afirmações nos construtos
de materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento.
A escolha por esse método se dá pelas contribuições de Hair Júnior e
colaboradores (2005), pois justificam que tal análise acontece quando já existe,
118
anterior a rotação dos dados, os grupos formados. Neste estudo, optou-se por
aplicar com as classes econômicas dos pesquisados.
O método escolhido consiste em um procedimento no qual os números de
cluster são previamente determinados; calculam-se os pontos que identificam os
centros desses conglomerados baseados pelas médias dos dados e construtos e,
por fim, dividem-se os casos pelos grupos preestabelecidos. Vale ressaltar que no
procedimento: a) cada grupo conterá ao menos um elemento; b) cada elemento
pertence a um só grupo. (HAIR JÚNIOR et al., 2005).
Após a verificação da confiabilidade dos dados da pesquisa, buscou-se
analisar se dentro dos construtos existiam comportamentos diferenciados quanto às
classes econômicas. A Tabela 42 explica a formação dos grupos.
Tabela 42 – Classes econômicas da análise cluster Critério Brasil Amostra (%) Grupos % total
A (A1 e A2 somadas) 13,25 Classe A 13,25 B (B1 e B2 somadas) 62,89 Classe B 62,89 C (C1 e C2 somadas) 22,17 Baixa Renda (C1, C2 e D) 23,86
D 1,69 Total 100 3 Classes (A, B e BR) 100
Como é possível analisar na Tabela 42, as classes econômicas foram
agrupadas para a melhor compreensão entre os perfis dos entrevistados. Como as
diferenças entre as pontuações do Critério Brasil são relativamente baixas, para não
criar exagerados perfis de análise, adotou-se esse critério de agrupamento.
Indivíduos que pertenciam as classes C1, C2 e D foram agrupados e nomeados
Baixa Renda. Os próximos subitens descrevem os grupos e os conglomerados de
cada construto do estudo.
4.7.1 Análise Cluster: materialismo
Para o construto de materialismo, a análise de Cluster apontou dois grupos
com comportamentos distintos, os quais englobam as classes econômicas expostas
na Tabela 42, abordada no item anterior. A distribuição das classes foram geradas
conforme descreve a Tabela 43.
119
Tabela 43 – Classes da análise cluster – materialismo Grupos Participantes (%) Resultados Médias no
construto Classe A Classe B Baixa Renda
Grupo 1
38%
51%
52% Baixa Centralidade 2,104 Média Felicidade 3,253 Baixo Sucesso 2,381
Grupo 2
62%
49%
48%
Média Centralidade 3,069 Alta Felicidade 5,159 Médio Sucesso 4,167
Total 100% 100% 100%
Com a análise de agrupamentos do construto de materialismo, verificou-se
que os estudantes da classe A (62%) se agruparam, predominantemente, no Grupo
2. No entanto, os estudantes das classes B (51%) e Baixa Renda (52%)
apresentaram comportamentos similares nos dois grupos, porém com
predominância para o Grupo 1 (destaques em cinza).
Com os dados da Tabela 43 compreende-se que o Grupo 1 é representado
por estudantes da classe B e Baixa Renda. Esses indivíduos podem ser
caracterizados pela realização de compras de produtos desnecessários na tentativa
de manter a vida em um estilo mais sofisticado, embora os bens materiais não
possuam importância significativa para os respondentes.
É importante ressaltar as baixas médias das dimensões Centralidade (2,104)
e Sucesso (2,381) expostas na Tabela 43. Esses dados podem indicar que, para o
Grupo 1, os objetos pessoais não ocupam uma posição central na vida desses
indivíduos, ou seja, esses estudantes não possuem apego aos bens materiais
adquiridos.
A dimensão Sucesso também se manteve baixa no Grupo 1 (2,381). Por
esses resultados, pode-se compreender que os pesquisados não enxergam o
consumo como sinal de sucesso pessoal ou profissional. No entanto, a Felicidade
(3,253) foi superior às duas outras dimensões, ou seja, o Grupo 1 acredita que o
consumo é essencial para a sua satisfação pessoal e bem-estar.
O Grupo 2 foi representado em sua maioria pela classe A (62%). Evidenciou-
se com os resultados estatísticos da Tabela 43 que os gastos com produtos,
sensação de luxo, sofisticação do estilo de vida e grau de importância dada às
compras estão na normalidade, não apresentando características de ostentação de
riqueza, indicados pelas médias de Centralidade (3,069) e Sucesso (4,167).
Entretanto, na dimensão Felicidade (5,159), a classe A declara que não possui todas
120
as coisas de que precisa para ser feliz e tem a sensação de que a vida seria melhor
se tivesse coisas que ainda não possui.
4.7.2 Análise Cluster: consumo excessivo
No construto de consumo excessivo, verificou-se a existência de
comportamentos diferenciados em relação ao consumismo e às classes
econômicas. A análise de conglomerados apontou dois grupos, conforme descreve a
Tabela 44.
Tabela 44 – Classes da análise cluster – consumo excessivo Grupos Participantes (%) Resultados Médias no
construto Classe A Classe B Baixa Renda
Grupo 1
64%
28%
23%
Alta atração por status 4,798 Alto prazer em comprar 4,159
Alta compra inconsequente 4,289 Média compra por emoção 3,401 Médio controle financeiro 3,454
Grupo 2
36%
72%
77%
Baixa atração por status 1,642 Alto prazer em comprar 4,152
Alta compra inconsequente 4,175 Média compra por emoção 3,144 Baixo controle financeiro 2,601
Total 100% 100% 100%
Na Tabela 44, é possível descrever que os pesquisados da classe A (64%) se
agruparam, predominantemente, no Grupo 1 e os estudantes das classes B (72%) e
baixa renda (77%) se mantiveram no Grupo 2 (destaques em cinza). Os resultados
apontaram diferenças significativas entre os comportamentos dos dois grupos e o
construto de consumo excessivo.
No Grupo 1, enquadram-se os indivíduos da classe A e, para eles, o status
(4,798) possui significativa representação em suas vidas, ou seja, o consumo indica
ascensão social e poder mediante as outras classes. Para esse grupo, a aquisição
de bens e serviços traz diversão e alegria (4,159), embora consumam sem pensar
nas consequências futuras (4,159). Como esperado, esses indivíduos apresentam
maior controle financeiro (3,454) se comparados com as pessoas da menor renda.
Esse dado indica que, no grupo, há moderada preocupação com o controle
financeiro e a possibilidade de endividamento é relativamente baixa, em virtude de
suas altas rendas que, por vezes, impossibilita o débito financeiro dessa classe.
121
O Grupo 2 é representado, na sua maioria, pelas classes B (72%) e em
maior representatividade pela baixa renda (classes C e D) que somam 77%.
Diferente do comportamento da classe A, esses indivíduos não consomem produtos
ou serviços com o intuito da ascensão social (1,642), porém indicaram ter prazer em
consumir (4,152) e praticar atitudes inconsequentes de compra (4,175). Tais atitudes
podem ser respostas às dificuldades que os pesquisados têm com o controle
financeiro (2,601), ou seja, essas pessoas não possuem preocupação com a gestão
de seu dinheiro e a possibilidade de endividamento é muito maior nesse grupo.
4.7.3 Análise Cluster: propensão ao endividamento
Neste construto, verificou-se novamente diferenças significativas entre as três
classes econômicas quanto à distribuição dos dois grupos de comportamentos
distintos. A Tabela 45 identifica esses perfis.
Tabela 45 – Classes da análise cluster – propensão ao endividamento
Grupos Participantes (%) Resultados Médias no construto Classe A Classe B Baixa Renda
Grupo 1
65%
60%
45%
Alto Impacto moral na sociedade 4,139 Média-alta preferência ao tempo 3,916
Alto autocontrole financeiro 5,169
Grupo 2
35%
40%
55% Baixo impacto moral na sociedade 2,119
Baixa preferência ao tempo 1,983 Baixo autocontrole financeiro 1,664
Total 100% 100% 100%
Com os dados apresentados na Tabela 45, é possível visualizar que os
grupos foram formados por diferentes perfis. Os indivíduos da classe A (65%) e B
(60%) se agruparam, em sua maioria, no Grupo 1, já os alunos da baixa renda
(55%) se mantiveram no Grupo 2 (destaques em cinza). Os índices da análise
cluster aplicada ao construto de propensão ao endividamento respondem aos
questionamentos feitos neste estudo.
Para o Grupo 1, o endividamento pode indicar constrangimento e menor
aceitação desses indivíduos nos seus grupos de convívio, ou seja, o débito
financeiro pode indicar menor aceitação social em seus meios (4,139). A preferência
pelo tempo (3,916) indica a capacidade de gestão do dinheiro, pois representa a
atitude de poupar para consumir no futuro. Esse índice se manteve médio para as
classes com maior renda. Como esperado, esses indivíduos teriam chances
122
menores ao endividamento, pois possuem alta capacidade de controle dos seus
gastos (5,169).
No entanto, a maioria dos indivíduos da classe de menor renda indicou
médias baixas nas três dimensões do construto. Isso leva a compreender que tais
indivíduos são mais propensos ao endividamento financeiro, pois não indicaram ser
preocupados com a sua representação na sociedade (2,119) e não se importam em
poupar agora para consumir no futuro (1,983), ou seja, consomem produtos e
serviços mesmo sem condições financeiras. O autocontrole financeiro (1,664) obteve
a menor média do construto. Com esses valores, a baixa renda representou mais da
metade das pessoas que carecem da habilidade de gerir os seus recursos, de tomar
decisões financeiras e manter o seu orçamento controlado, ou seja, não possuem a
percepção de que não se deve gastar mais do que se ganha e preferem compras
parceladas mesmo que no total sejam mais caras.
Não se pode desconsiderar que 45% dos alunos entrevistados de baixa renda
fazem parte do Grupo 1 e apresentam média de conscientização sobre o
endividamento em suas vidas. Por outro lado, as classes A e B apresentam
respectivamente 35% e 40% de pessoas nas mesmas condições.
4.7.4 Análise Cluster: diferentes atitudes de consumo entre as classes
econômicas
Os dados encontrados nas Tabelas 41, 42 e 43 permitem considerar que a
classe A se destaca das classes B e baixa renda pela normalidade em relação aos
processos de compra e parcimônia na compra, distinguindo o que é necessário do
que é supérfluo, bem como garantindo uma leve sensação de prazer e luxo. No
entanto, a classe B se destaca pelo comportamento mais equilibrado quanto ao
consumo, demonstrando que as compras realizadas por esse grupo não são regidas
pelo status ou estado emocional e que as aquisições à vista são mais bem vistas
devido à economia de dinheiro.
A baixa renda, além de congregar comportamentos relacionados a compras à
vista semelhantes a classe B, apresenta elementos de consumo ou compra
excessiva semelhantes à classe A. Dessa forma, pode-se considerar que apesar da
baixa renda não apresentar controle financeiro, possui atitudes de compra motivadas
123
pela sensação de prazer e luxo, o que corrobora os estudos já aplicados com esses
indivíduos, como os de Neri (2008), Lamounier e Souza (2010), Prahalad (2010).
Embora ocorram pequenas diferenças entre os construtos que caracterizam
as classes econômicas, essas não são significativas ao ponto de, por meio delas,
gerar um modelo de discriminação de estudantes entre as três classes sociais.
Testes de análise discriminante foram feitos, porém nenhuma variável se comportou
significativamente diferente das demais de forma que fosse possível fazer distinção
de classes.
4.8 REGRESSÃO LOGÍSTICA
Regressão logística é enquadrada nas análise estatísticas multivariadas e é
apropriada para as situações em que as variáveis dependentes são categóricas e
assumem um entre dois resultados possíveis, ou seja, dados binários (para esse
estudo: endividados e não endividados). Esses dados devem gerar uma função
matemática, pois as respostas permitirão criar e estabelecer a probabilidade desses
dados binários pertencerem a um construto ou a outro. (HAIR JÚNIOR et al., 2005).
A aplicação do modelo é apropriada, pois, como aponta Hair Júnior e
colaboradores (2005), ao contrário da regressão múltipla, a logística investiga tanto
os dados métricos quanto as variáveis categóricas ou binárias, ou seja, seus
resultados explicam o comportamento de uma variável em função de outra. Nesse
sentido, Conrrar, Paulo e Dias Filho (2007, p. 284) indicam: A regressão logística se caracteriza como uma técnica estatística que nos permite estimar a probabilidade de ocorrência de determinado evento em face de um conjunto de variáveis explanatórias, além de auxiliar na classificação de objetos ou casos. É particularmente recomendada para as situações em que a variável dependente é de natureza dicotômica ou binária. Quanto às independentes, podem ser categóricas como métricas.
Dessa maneira, com a aplicação da regressão logística, buscou-se verificar
quais dos três construtos teriam um maior poder de explicação para o endividamento
dos respondentes: materialismo, consumo excessivo ou propensão ao
endividamento. Para tanto, utilizou-se do método Wald (indicação de quais variáveis
são estatisticamente significativas), com 5% de confiabilidade como critério de
entrada das análises e 10% de confiança de saída. As variáveis dicotômicas
(sim=endividados e não=sem dívidas) foram testadas sem transformação em
124
dummys, pois nas respostas já se assumiram os valores 1 para endividados e 0 para
não endividados.
O teste estatístico utilizado para essa análise logística foi o de Hosmer e
Lemeshow (1980), pois se utiliza da distribuição do X2 (qui-quadrado) para examinar
se existe bom ajuste dos dados que foram esperados e os dados observados. A
Tabela 46 destaca esses valores.
Tabela 46 – Regressão logística: análise do modelo X2 (qui-quadrado) DF Sig
6,180 7 0,519
Na Tabela 46, os indicadores do teste de Hosmer e Lemeshow (1980) são
extraídos a partir de um teste de qui-quadrado, ou seja, a finalidade da sua
aplicação é verificar se são encontradas diferenças significativas entre as
classificações do modelo e os índices observados. Caso existissem diferenças, a
aplicação da regressão não seria válida. (HOSMER; LEMESHOW, 1980). Para esta
pesquisa, o teste aponta que os valores preditos não são diferentes dos observados,
ou seja, tem-se a indicação de que o modelo pode ser utilizado para explicar a
probabilidade de um construto ou outro responder melhor aos indivíduos
endividados.
Nos dados da Tabela 47 observam-se os valores da regressão logística
aplicada com os construtos.
Tabela 47 – Resultados dos construtos na equação logística
Construtos Coeficientes e Testes
B1 S.E2 Wald3 df4 Sig5 Exp (B)6 Materialismo 0,270 0,111 5,887 1 0,015 1,319 Consumo Excessivo 0,205 0,104 3,851 1 0,05 1,227 Propensão ao Endividamento 0,139 0,107 1,706 1 0,192 1,149
constante -1,812 0,437 17,18 1 0 0,163 Notas: (1) Coeficientes das variáveis – indica o valor da ocorrência do evento.
(2) Erro padrão. (3) Teste Wald que indica quais variáveis são estatisticamente significativas. (4) Graus de liberdade para o teste aplicado. (5) Valor P: probabilidade de obter-se uma estatística tão ou mais crítica quanto a observada. (6) Razão de Chance: É a probabilidade de um evento ocorrer em um grupo e a probabilidade de ocorrer em outro grupo, ou seja, ocorrência dividida pela não ocorrência.
A partir dos dados da Tabela 47, obtiveram-se os valores da regressão. Os
dados indicados no coeficiente B (destaques em cinza) representam os valores da
125
ocorrência do evento, ou seja, quanto maior o número no construto, melhor
representação do endividamento. Neste estudo, assumiu-se: materialismo (0,270),
consumo excessivo (0,205) e propensão ao endividamento (0,139).
Hair Júnior e colaboradores (2005) indicam que o teste Wald serve para testar
a significância da equação estimada, ou seja, busca verificar se cada parâmetro
estimado é significativamente diferente de zero. Neste estudo, todos os construtos
foram válidos. Já os valores descritos na coluna Exp (B) identificam o aumento ou a
queda na probabilidade dos estudantes pesquisados serem ou não endividados em
função de cada construto. Nesta pesquisa, o maior valor encontrado foi materialismo
(1,319), seguido de consumo excessivo (1,227) e propensão ao endividamento
(1,149).
Percebe-se que o valor constante, descrito na Tabela 47, representou um
valor negativo. Esse dado significa que uma parte da classificação feita não depende
das variáveis independentes, ou seja, é uma particularidade não explicada pelas
variáveis, mas sim pelas próprias características da variável dependente. Dessa
forma, com os valores descritos na Tabela 47 (valor B), a regressão logística que
representa a relação dos construtos é:
DÍVIDA = -1,812 (constante) + 0,270 (Materialismo) + 0,205 (Consumo Excessivo) +
0,139 (Propensão ao Endividamento).
A equação da dívida demonstra que os construtos apresentam coeficientes
similares e não há predomínio de um ou outro que possa classificar os indivíduos em
devedores e não devedores, ou seja, o endividamento dos estudantes deste estudo
acontece, em sua maioria, pelas atitudes positivas ao materialismo (0,270), seguidas
do consumo excessivo (0,205) e por serem propensos ao endividamento, com o
valor de 0,139. A equação gerada permite um índice de acerto entre devedores e
não devedores de 55,9%, o qual é considerado baixo, levando-se em consideração
um erro preditivo de 44,1%, conforme Tabela 48.
126
Tabela 48 – Classificação em devedores e não devedores
Observado Previsto
Dívida Porcentagem Correta (%)
Não Sim
Dívida Não 130 81 61,6 Sim 102 102 50 Porcentagem geral 55,9
A análise da Tabela 48 evidencia que a fórmula da equação logística atende
melhor os casos de não devedores, já que dos 211 não devedores, 130 foram
classificados corretamente por meio da fórmula com um total de acerto de 60%. Já
para os devedores, há chances iguais para acerto ou erro de classificação por meio
da fórmula. Dessa maneira, pode-se compreender que o resultado da análise
desses construtos não é suficiente para classificar os respondentes em devedores e
não devedores, devido ao erro significativo de previsão.
4.9 ANÁLISE FATORIAL CONFIRMATÓRIA
A verificação da relação entre as escalas desse estudo foi feita por meio da
Análise Fatorial Confirmatória (AFC). O uso dessa técnica multivariada, de acordo
com Hair e colaboradores (2005), possui o intuito de verificar estatisticamente, os
possíveis relacionamentos entre os construtos. Assumiu-se para a estrutura
analisada que o materialismo influencia a compra excessiva, que por sua vez,
influencia a propensão ao endividamento, como representado na Figura 6.
Figura 6 – Caminho de influências
Vale mencionar que, embora nenhuma aplicação conjunta desses três
construtos tenha sido encontrada nos trabalhos estudados, essas influências
baseiam-se em Belk (1984, 1985), Richins e Dawson (1992), Wong (1997) e Watson
127
(1998, 2003) pois encontraram relação entre o materialismo e a propensão ao
endividamento.
Esses autores encontraram relação entre as atitudes positivas ao
materialismo e o ato de consumir excessivamente. O mesmo acontece com os
resultados encontrados de consumo excessivo, como Wu (2006), Ridgway et al.
(2006) e Faber e O’Guinn (1989), pois entenderam que tal comportamento leva ao
endividamento financeiro.
Com relação a AFC, Hair e colaboradores (2005) indicam que permite os
pesquisadores responderem questionamentos de uma forma sistemática e
abrangente pois, por meio da sua aplicação, é possível modelar ao mesmo tempo,
diversas dimensões e construtos, que podem ser dependentes ou independentes.
Os autores ainda justificam que sua aplicação representa a identificação de uma
série de relações hipotéticas de causa-efeito entre as variáveis estudadas, ou seja,
os relacionamentos dessa composição estatística, são descritas pela magnitude do
efeito – direta ou indiretamente – para as variáveis e dimensões de análise.
O uso dessa ferramenta estatística permite desenvolver um modelo de
pesquisa (ou caminho de influências) para obter e verificar os dados. Assim, foram
calculados os valores de influencia e relacionamento entre os construtos:
materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento. A Figura 7
identifica os dados da Análise Fatorial Confirmatória.
128
Figura 7 – Análise Fatorial Confirmatória: Materialismo, Consumo Excessivo e Propensão ao Endividamento
129
Vale apontar que, em cada situação da AFC, existem códigos para
representar ou identificar esquematicamente as relações entre as variáveis.
Esses códigos são demonstrados, na Figura 7, por formas geométricas, em
que: a) as setas indicam qual o tipo de relação entre as variáveis do estudo, ou seja,
se for unidirecional, ela indica uma relação única entre as variáveis. Caso
bidirecional, representa uma relação mútua e recíproca entre as dimensões do
estudo; b) as variáveis observadas (identificadas por círculos ou elipses) são
indicativos indiretos de variáveis latentes, ou seja, dos construtos ou fatores; c) as
variáveis latentes (identificadas por quadrados ou retângulos) não são diretamente
mensuráveis, podendo ser estimadas diretamente pelas variáveis observadas ou
construtos; d) os erros residuais na predição de um fator (identificados pelo círculo e
flecha), são considerados como ajustamentos dentro do modelo proposto.
De acordo com a Figura 7, é possível compreender que o construto de
Materialismo exerce influência de 61% sobre o construto de Consumo Excessivo, e
que o comportamento de compras é explicado por 37% pelas ações relacionadas à
Propensão ao Endividamento do consumidor. Isso indica, indivíduos que possuem
atitudes positivas ao materialismo, consomem excessivamente, entretanto, nem
sempre são enquadrados no endividamento financeiro. Esses dados extraídos da
análise, indicam que existe uma forte relação entre o Materialismo e o Consumo
Excessivo. Embora essas duas relações sejam significativas, a continuidade do
processo de consumo até o endividamento não possui significância, pois o construto
de Consumo Excessivo possui apenas 37% de influencia na Propensão ao
Endividamento Financeiro.
No construto de Materialismo, verifica-se que a dimensão Felicidade é o que
melhor representa a mensuração, uma vez que a aquisição de produtos desejados
leva a uma sensação de bem estar e melhoria do nível de vida dos consumidores.
Tal índice representa 64% dos dados, contra 58% para a dimensão Centralidade e
57% para a dimensão Sucesso.
As compras excessivas são melhores representadas pela dimensão Compra
Inconsequente (84%), em que o querer supera o poder, ou seja, o desejo de compra
de produtos excede a razão do poder comprar devido as condições financeiras.
Embora esse índice possuiu boa representação estatística, a dimensão Prazer em
Comprar também exerce bom índice no construto, pois indicou 83%. Entretanto, as
130
demais dimensões demonstraram baixos valores: Atração por Produtos como Sinal
de Status (63%); Compra por Emoção / Excitação (49%). Como esperado, a
dimensão que tratava de Autocontrole Financeiro obteve um baixo valor de
explicação do construto (32%), pois indicou a dificuldade dos consumidores
excessivos em poupar dinheiro.
O terceiro construto estudado – Propensão ao Endividamento – é melhor
representada pela dimensão Preferência no Tempo (79%), ou seja, não há
problemas em ter dívidas se houver condições de pagá-las. No entanto, o
Autocontrole Financeiro (77%) marcou alto índice no construto. Esse valor confirma
que os jovens com maior propensão ao endividamento possuem maior dificuldade
no controle de seus rendimentos. Vale destacar que no modelo não ocorreu
nenhuma relação bidirecional (relação mútua e recíproca entre as dimensões), ou
seja, as variáveis latentes não possuíram nenhuma covariância entre elas.
Por fim, diante dos dados, pode-se entender que o construto de materialismo
possui relação com o Consumo Excessivo, justificado pela representação de 61%.
Esse resultado não pode ser aplicado ao construto de Propensão ao Endividamento,
uma vez que a relação com o Consumo Excessivo representou apenas 37% na
pesquisa aplicada.
4.10 COMPORTAMENTO DOS ESTUDANTES DE BAIXA RENDA
Embora os resultados no início do capítulo 4 deste trabalho já relacionassem
as classes econômicas dos entrevistados e respondessem aos objetivos do estudo,
optou-se por ampliar as discussões que envolvem a baixa renda da pesquisa. Diante
disso, na amostra de 415 estudantes foram extraídos 99 alunos que informaram
pertencer às classes C1, C2 e D, para uma discussão desse segmento, os quais
foram nomeados como BR (Baixa Renda).
Nesta discussão, utilizaram-se os dados já apontados no capítulo 4 e outros
que foram incluídos no questionário, até o momento não relatados, como, por
exemplo: níveis de gastos e poupança; bens e serviços mais consumidos; gestão do
rendimento financeiro; produtos bancários mais utilizados pelos universitários; níveis
das dívidas (somente para os estudantes que afirmaram possuir débito); justificativa
dada ao endividamento financeiro. A Tabela 49 identifica o perfil desses jovens.
131
Tabela 49 – Características sociodemográficas dos pesquisados de baixa renda Variáveis Alternativas Frequência Percentual (%)
Idade Até 20 completos 45 45,45 21 a 30 anos completos 54 54,55
Total 99 100 Gênero Masculino 71 71,72
Feminino 28 28,28 Total 99 100
Estado Civil Solteiro (a) / Separado (a) Viúvo (a) 79 79,80 Casado (a) / Mora Junto (a) 20 20,20
Total 99 100 Ocupação
Profissional Não Trabalho / Desempregado (a) 28 28,28 Conta Própria / Autônomo (a) 6 6,06 Empresário (a) 2 2,02 Estagiário (a) 21 21,21 Empregado (a) Assalariado (a) 41 41,41 Funcionário (a) Público (a) 1 1,01
Total 99 100 Moradia Moro Sozinho (a) 24 24,24
Moro com Familiares, Companheiros (a) e/ou Amigos.
75 75,76
Total 99 100 Ajuda
Financeira Não recebe ajuda financeira 52 52,53 Ajuda governamental (bolsa família, bolsa para estudos)
23 23,23
Ajuda dos pais 14 14,14 Ajuda de amigos 5 5,05 Ajuda de parentes 2 2,02 Ajuda dos avós 3 3,03
Total 99 100
A amostra de estudantes da baixa renda possuía a idade média de 22,24
anos, distribuída entre as faixas etárias até 20 anos (45,54%) e de 21 a 30 anos
(54,55%), com predominância do gênero masculino (71,72%), solteiro, separado ou
viúvo (79,80%), que trabalhava (71,71%). Percebeu-se que a amostra selecionada
ainda depende da moradia de seus pais ou de outros indivíduos que possam ajudar
financeiramente as suas despesas, pois se gerou o índice de 75,76%.
Esse estudo ainda buscou identificar se estudantes de baixa renda
dependiam ou não financeiramente de outras pessoas. Cerca de 52,53% dos alunos
afirmaram não receber ajuda financeira. No entanto, a ajuda governamental foi um
importante fator desta pesquisa, pois identificou as pessoas que recebiam bolsas de
estudos, que atingiu 23,23%. As demais ajudas, somadas, representam 24,24% dos
alunos e são: ajuda dos pais, amigos, parentes.
Com base nos três métodos utilizados para avaliar as atitudes de consumo
dos estudantes, são expostos as médias e desvio padrão nos três construtos
utilizados neste estudo: materialismo, consumo excessivo e propensão ao
132
endividamento. Os construtos seguiram os mesmos critérios estabelecidos no tópico
4.3 deste capítulo. A Tabela 50 indica os valores e, posteriormente, são inseridos os
comentários das sessões focais para sustentar os resultados.
Tabela 50 – Materialismo, consumo excessivo e propensão ao endividamento da BR
Dimensões Afirmações Média Desvio Padrão
Materialismo
Centralidade (média 3,943)
Geralmente, compro apenas aquilo que preciso. 4,020 1,597 Tento manter a minha vida simples no que diz respeito aos meus bens materiais.
3,646 1,637
Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias.
4,939 2,009
Comprar coisas dá-me imenso prazer. 2,949 1,746 Gosto de muito luxo na minha vida. 4,162 1,952
Felicidade (média 3,778)
Tenho todas as coisas de que preciso para ser feliz. 3,222 1,706 A minha vida seria melhor se possuísse coisas que não tenho.
3,455 2,111
Seria mais feliz se tivesse dinheiro para comprar mais coisas.
3,869 2,013
Às vezes, entristece-me um pouco que não possa comprar todas as coisas que quero.
4,566 1,949
Sucesso (média 3,416)
Admiro pessoas que possuem carros, casas e roupas caras. 4,323 1,795 Alguns dos feitos mais importantes na vida incluem adquirir bens materiais.
2,889 1,795
As coisas que tenho dizem muito sobre o sucesso que tenho tido na vida.
2,859 1,629
Gosto de ter coisas para impressionar as pessoas. 3,596 1,873 Total Média Geral do Construto Materialismo 3,621 1,099
Consumo Excessivo Compra por
status (média 2,228)
Eu gosto de muito luxo na minha vida, embora possa não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas contas.
2,242 1,591
Eu compro os objetos materiais, como sinal de sucesso, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.
1,919 1,167
Eu tenho muito prazer em comprar coisas agradáveis, embora eu tenha dificuldade financeira.
2,525 1,593
Prazer em comprar
(média 2,131)
Comprar é uma forma de me sentir melhor, mesmo que depois eu possa enfrentar dificuldades financeiras.
2,182 1,424
Quando estou com um baixo emocional, gasto mais do que eu deveria com base na minha condição financeira.
2,030 1,548
Para mim, fazer compras é uma maneira de aliviar o estresse, embora eu talvez tenha que enfrentar dificuldades financeiras.
2,182 1,567
Compra inconsequente (média 2,448)
Muitas das vezes eu compro algo que realmente quero, sem pensar muito, embora eu não deveria comprá-lo, com base nas minhas condições financeiras.
3,182 1,854
É típico que eu passe por imprudente por não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.
1,667 1,195
Durante as compras, muitas vezes, eu gasto mais do que eu deveria (com base nas minhas condições financeiras) sem que eu perceba isso.
2,495 1,567
Compra por emoção
(média 1,976)
Eu gasto muito quando estou de bom humor, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.
2,051 1,380
Quando eu estou bem emocionalmente, compro um monte 1,859 1,254
133
de coisas, embora eu não tenha dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras. Eu gosto de fazer compras quando estou de bom humor, embora compre coisas que eu não deveria, se pensar na minha situação financeira.
2,020 1,253
Autocontrole financeiro
(média 2,926)
Eu acompanho bem as minhas despesas, para fins de orçamento.
3,091 1,773
Eu realmente posso impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu pensar na minha situação financeira.
2,798 1,738
Eu examino e avalio o meu comportamento de compra, com a finalidade de cuidar do meu orçamento.
2,889 1,743
Média Geral do Construto Consumo Excessivo 2,182 1,508 Propensão ao Endividamento Impacto Moral Não é certo gastar mais do que ganho. 1,263 0,803 Preferência do Tempo
Prefiro comprar parcelado a esperar ter dinheiro para comprar à vista.
2,677 2,411
Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro. 2,667 2,157 Autocontrole Financeiro
Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco.
2,253 1,945
Média Geral do Construto Propensão ao Endividamento 2,460 2,051
Com a Tabela 50, é possível compreender que os jovens de baixa renda
possuem valores medianos nas dimensões do construto de materialismo, pois
Centralidade (3,943), Felicidade (3,778) e Sucesso (3,416). Esses índices indicam
que o consumo passa a orientar boa parte das atitudes no cotidiano dessas
pessoas, ou seja, elas acreditam que a posse de bens pode trazer felicidade e bem-
estar, dados os valores altos nas afirmações “Gosto de gastar dinheiro em coisas
que não são necessárias” (4,939), “Às vezes, entristece-me um pouco que não
possa comprar todas as coisas que quero” (4,566) e “Admiro pessoas que possuem
carros, casas e roupas caras” (4,323).
O consumo excessivo se manteve estável, porém com baixas médias no
construto. As 15 variáveis de análise se demonstraram: Compra por status (2,228);
Prazer em comprar (2,131); Compra inconsequente (2,448); Compra por emoção
(1,976) e Autocontrole financeiro (2,926). Nenhum dos construtos ultrapassou 3
pontos na escala que variava entre 1 a 7 pontos. No entanto, uma afirmação pode
indicar que esses indivíduos consomem excessivamente, sem pensar nas suas
condições financeiras, pois “Muitas vezes eu compro algo que realmente quero, sem
pensar muito, embora eu não deveria comprá-lo, com base nas minhas condições
financeiras” e obteve a maior média do construto (3,182).
A propensão ao endividamento pode explicar os comportamentos de compra
do jovens universitários. Dentre o número total de indivíduos de baixa renda, 57,5%
134
no total da amostra afirmaram possuir débito financeiro. A Tabela 51 compara o
número de endividados e as variáveis sociodemográficas.
Tabela 51 – Endividados e não endividados da baixa renda Variáveis Alternativas Amostra Endividados
(%) Não Endividados
(%) Idade Até 20 completos 45 66,7 33,3
21 a 30 anos completos 54 53,7 46,3 Gênero Masculino 71 42,9 57,1
Feminino 28 70,4 29,6 Estado Civil Solteiro (a) / Separado (a)
Viúvo (a) 79 78,5 21,5
Casado (a) / Mora Junto (a) 20 85,0 15,0 Moradia Moro Sozinho (a) 24 91,7 8,3
Moro com Familiares e/ou Amigos.
75 57,3 42,7
Indivíduos com até 20 anos (66,7%) possuíam mais dívidas que estudantes
entre 21 e 30 anos de idade (53,7%). O gênero feminino (70,4%) assumiu maior
endividamento que o masculino (42,9%). Esse resultado demonstra que os homens
são mais conscientes nas atitudes de compra do que as mulheres. Dos estudantes
que estavam solteiros durante a aplicação da pesquisa, cerca de 78,5% possuíam
dívidas, contra 85,0% dos alunos casados ou que moravam juntos.
Além desses dados quantitativos do levantamento survey – como descrito no
capítulo 3 deste trabalho – sessões de grupos focais foram realizadas com
estudantes. Essas aplicações visavam a compreender o perfil de compra dos jovens,
além do auxílio na confecção do questionário survey. Como descrito anteriormente,
as duas reuniões aconteceram no mês de junho de 2011 com jovens entre 18 e 30
anos, de ambos os sexos, em um total de 22 participantes que se enquadravam nas
classes de baixa renda.
Esses índices encontrados no levantamento quantitativo são justificados em
comentários realizados nas sessões de grupos focais, pois quando questionados
sobre a economia financeira, salientaram:
[...] Ah, eu não consigo guardar dinheiro, é [...] não [...] sempre acontece alguma coisa, até o começo do mês vai, mas depois rola uma viagem, sei lá, alguma coisa acontece. Não vou deixar de fazer alguma coisa que eu quero porque eu não tenho dinheiro. Vai no caixa eletrônico [...] (risos) tem empréstimo na telinha.. quando abre a tua conta, de cara aparece, você tem x disponível, e eu sempre pego (risos). ( Mulher 23 anos).
135
[...] Eu vou na psicóloga, é bem difícil. Pra ter uma noção, esse ano eu comprei três notebooks e um Ipad. Besteira, besteira [...] sem falar em roupa. Nossa, isso mesmo [...] sou doente. Já tentei de tudo, mas que vejo alguém com alguma coisa legal [...] eu também quero. Se ela tem, também posso ter, financiamento, aí vou eu. (risos). Tem dia que a minha psicóloga quase me mata. Mas tenho desejo de comprar [...] se eu não posso, dou um jeitinho. (Mulher 26 anos).
É possível identificar as inconsequências das compras dos jovens
pesquisados. Esses dados qualitativos explicam os resultados dos questionários
aplicados. Importante relatar que, por vezes, esse perfil de compra é ligado ao
sucesso pessoal, assim como a descrição no construto de materialismo. Além disso,
a compra excessiva e a atitude positiva ao materialismo podem ser explicadas pela
representação de felicidade em comprar. Para isso, é relevante o comentário de
uma acadêmica de 19 anos:
[...] Pra mim, é balada. Se eu parasse de sair, iria reduzir um monte. Porque é roupa, bebida. Não fico em casa. Já devo pro meu namorado. Ele briga muito por tudo isso, mas sei lá [...] não sei.. gosto de gastar, me sinto feliz [...] quem não se sente feliz comprando, fala a verdade [...] fala a verdade. Eu tô pra conhecer alguém.
Para verificar as atitudes de compra e de economia financeira desses jovens,
dois outros questionamentos foram inseridos no levantamento survey: nível de
consumo do salário e os produtos mais consumidos no dia a dia desses estudantes.
O primeiro foi avaliado pela escala 1 a 7 pontos, na qual: 1 – Gasto menos do que
ganho; 3 – Gasto igual ao que ganho e 7 – Gasto mais do que ganho. Os resultados
encontrados são descritos na Tabela 52.
Tabela 52 – Níveis de gastos dos jovens de baixa renda Escala Likert – 1 a 7 Frequência Porcentagem
1 Gasto menos que ganho 16
16,1 2
3 Gasto igual ao que ganho
72
72,7 4
5 6 Gasto mais do que
ganho
11
11,1 7
Com os dados da Tabela 52, é possível relatar o baixo número de alunos que
gastam menos do que ganham. Esse resultado indica a baixa capacidade de gestão
136
e o ato de poupar dinheiro dos alunos, dados os valores: gasto menos do que ganho
(16,1%), gasto igual ao que ganho (72,7%) e gasto mais do que ganho (11,1%).
Essa relação pode ser respondida com os comentários dos grupos focais, pois
quando se falava sobre o endividamento, foram obtidos os seguintes comentários:
Acho que toda mulher tem sua dívida, não me preocupo muito não, deito e durmo. Acho que o dia que eu não dormir mais, vou me sentir endividada. (Mulher 22 anos). Eu sou endividado. Posso me definir? [...] Sempre vou comprar já sabendo que eu não posso pagar. Meu cartão de crédito (risos) vive estourado. Isso é ser uma pessoa endividada? (Homem 21 anos). No meu caso, minha faculdade é novecentos reais, então por isso que eu me amarrei. Mas também foi um pouco de irresponsabilidade minha, porque eu sabia que [...] eu sozinha não ia dar conta e que eu dependia do meu pai, então eu arrisquei [...] e isso eu não faria de novo, arriscar. Eu só faria se eu tivesse condições, por isso eu troquei de curso. (Mulher 21 anos).
Percebe-se baixa responsabilidade na gestão financeira dessas pessoas.
Poucos comentários puderam ser extraídos dos alunos que estão em dia com suas
despesas, uma vez que, nas sessões, um número elevado de alunos estava em
débito financeiro. Essa representação do comportamento de compra dos estudantes
pode ser reflexo da busca pela felicidade e o sucesso pelas compras, ou seja, o
dinheiro, para esses jovens, pode indicar a sensação de bem-estar emocional.
Com o intuito de identificar os produtos e serviços mais consumidos pelos
indivíduos da baixa renda, foram dispostos 16 variáveis, as quais os estudantes
deveriam assinalar na escala que variava entre 1 e 7. Tais valores são expostos na
Tabela 53.
Tabela 53 – Tipos de gastos dos jovens de baixa renda Produtos Média Desvio Padrão
Alimentos em Geral (Supermercados, Açougue). 4,250 1,704 Móveis em Geral (Cama, Estante, Colchão). 1,990 1,266 Utensílios Domésticos (Decoração, Acessórios de Cozinha). 2,120 1,327 Vestuário em Geral (Roupas, Acessórios). 4,540 1,662 Calçados em Geral. 4,070 1,649 Materiais de Construção. 1,600 1,285 Automóvel ou Moto. 2,270 1,749 Eletrodomésticos, Eletroeletrônicos. 2,390 1,511
137
Presentes. 3,370 1,620 CDs, DVDs (Discos, Música). 2,230 1,743 Celular ou Telefonia. 3,340 1,756 Medicamentos, Perfumaria, Cosméticos. 3,960 1,823 Lazer (Restaurantes, Cinemas, Teatros, Shows, Festas). 4,330 1,801 Pagamento de Contas (Quitação de Dívidas). 4,300 2,007 Médicos, Hospitais e Exames. 2,210 1,466 Escolas, Graduação, Cursos em Geral. 5,010 1,741
Como é de se esperar, os maiores gastos dos estudantes da classe
econômica de baixa renda foram com a educação, uma vez que indicaram gastar
mais com escolas, graduação e cursos em geral (5,010). Os gastos com vestuário
atingiram a média de 4,54, seguidos de lazer (4,330) e pagamento de dívida (4,300),
que ficaram acima de alimentação (4,250).
Nesta amostra de alunos, diversos foram os produtos financeiros que
representavam a dívida, assim como as justificativas de tal débito financeiro. O
cartão de crédito ainda era o produto mais utilizado por esses jovens de BR que,
nesta pesquisa, atingiu 41,4%. Os outros produtos, somados, marcaram 47,4%,
dentre: carnês de lojas, crédito consignado, financiamento de casa e carro, crédito
pessoal, cheque e crediários.
Quanto às justificativas do endividamento, os 99 estudantes da classe
econômica de baixa renda relataram acontecer pelas seguintes razões: 59,8% pela
falta de planejamento e 12,3% por má gestão dos rendimentos. Outros fatores
somam 27,9%, e são: desemprego ou queda na renda, problemas de saúde e
acesso ao crédito. Com os comentários do grupo focal, ressalta-se:
[...] O que acontece, eu vejo da seguinte forma, a gente tenta fugir do endividamento fazendo um maior ainda, que é empréstimo. Dessa forma, o governo, os bancos ficam amarrando as pessoas pra sempre estar se endividando, pedindo empréstimo, cada vez gerando mais juros, cada vez [...] um saindo ganhando e quem perde é a gente, é isso o que eu penso. (Homem 24 anos). [...] Sim, deixei de pagar a XXX (universidade), me sinto endividada, mas não me sinto preocupada, [...] não mesmo. (Mulher 26 anos). [...] Ah [...] eu costumo torrar todo o meu salário. [...] Aí recorro ao meu pai (risos) paitrocínio. (Homem 24 anos). [...] Eu não gosto de ficar devendo[...] a pessoa tem que se programar, eu queria trocar de moto, mas como eu já devo (risos)
138
tenho que esperar um pouquinho [...] Tem dia que eu penso, vai que eu morro, e não morro com a moto que eu queria.. amanhã vou lá comprar (risos). A gente tem que se apertar pra poder comprar o que a gente sonha. Se não for assim, na nossa idade [...] é bem difícil [...] ah [...] Claro que eu queria ter tudo o que eu sonho [...] mas é uma dívida a cada mês [...] faço tudo a prestação. (Homem 27 anos). De cinco mil pra cima, eu me preocupo. Tem vezes que eu [...] me esquento [...] tenho dívida de dois mil, é bem ruim, SPC, Serasa [...] to lá. Pode me procurar. (Homem 22 anos).
Os comentários extraídos dos grupos focais representam uma juventude
despreparada para a gestão do dinheiro. Essa informação também é relatada pelo
levantamento survey desta pesquisa, pois indicou 57,5% dos estudantes de baixa
renda em débito financeiro. A causa desse débito, reflexo do consumo excessivo e
das atitudes positivas ao materialismo, foi discutida por estudos aplicados no Brasil,
como os de Neri (2008), Lamounier e Souza (2010) e Prahalad (2010).
De fato, o crescimento da classe de baixa renda no Brasil possui uma
representação significativa na economia nacional. Mas destaca-se que esse
consumo e a baixa percepção do risco do endividamento pode causar diversos
problemas sociais e psicológicos nesses estudantes, como relatado na
fundamentação deste estudo. Embora haja perspectiva de crescimento da renda no
país, é importante que se dê um destaque maior a esses indivíduos, principalmente
aos resultados que apresentados nesta pesquisa.
Deve-se reconhecer que grande parte das pessoas que representam a baixa
renda são enquadradas em alguns pontos relevantes às discussões deste trabalho.
Lamounier e Souza (2010) apontam que esses indivíduos passaram a ter acesso ao
ensino superior, pois a educação é vista como um dos principais fatores de
ascensão social e sucesso para alcançar os objetivos da vida. Nesta pesquisa, um
número expressivo de alunos (23,23%) recebeu algum tipo de bolsa educacional.
Essas dificuldades encontradas na gestão dos rendimentos, discutidas nos
dados quantitativos e com os comentários das reuniões de grupos focais, podem
estabelecer sentido aos comentários encontrados na teoria da classe de baixa
renda. Lamounier e Souza (2010) citam que apesar do aumento de indivíduos
escolarizados, a baixa qualidade do ensino e a equidade na distribuição de
oportunidades educacionais podem resultar em diversos problemas, pois não existe
a educação financeira, resultando na baixa consciência de consumo para esses
indivíduos.
139
Outra dificuldade encontrada para a gestão financeira dessas pessoas pode
ser explicada por dois motivos: a ascensão recente ao consumo e a rápida
mobilidade da classe econômica. Citam Lamounier e Souza (2010) que ambas
aconteceram a partir de 2008 e contribuíram para que os indivíduos aumentassem o
seu poder de consumo. No entanto, a baixa consciência do valor do dinheiro e novos
hábitos de compra não permitiram que essas pessoas escapassem do
endividamento financeiro.
Mesmo que os estudantes tenham demonstrado ter seus maiores gastos com
estudos, é importante que se tenha educação financeira. Os níveis dos três
construtos desta pesquisa, aplicada à classe econômica de baixa renda, foram
relevantes. Por relatos das duas sessões de grupos focais, pode-se perceber que
não existe preocupação com o fator endividamento, o que pode trazer problemas
sociais para essas pessoas.
140
5 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E SUGESTÕES
Este capítulo é dividido em três partes. Na primeira, apresentam-se as
principais conclusões do estudo. Em seguida, levantam-se as limitações, sugerem-
se temas para novas pesquisas e finaliza-se com as contribuições teórico-empíricas
para o avanço do conhecimento sobre o comportamento de compra do consumidor.
5.1 CONCLUSÕES
Este estudo teve como principal objetivo analisar a relação entre
materialismo, consumo excessivo e a propensão ao endividamento do jovem
universitário. Dentre os objetivos específicos, definiu-se: identificar os níveis do
materialismo e de consumo da amostra; verificar a propensão às dívidas em relação
aos diferentes tipos de produtos financeiros que representam este endividamento;
identificar o grau de associação entre as variáveis que compõem os três construtos
analisados e verificar o grau de associação entre essas variáveis e as características
sociodemográficas dos pesquisados.
Para cumprir os objetivos estabelecidos foram realizadas duas estratégias de
pesquisa: uma quantitativa e outra qualitativa. A primeira abordagem foi aplicada a
415 estudantes do Estado de Santa Catarina. Os estudantes pesquisados estavam
ativos e matriculados em diversos cursos de uma universidade do estado de Santa
Catarina e os dados do levantamento (survey) foram obtidos por meio de
questionários impressos, autopreenchíveis e na presença do pesquisador para
eliminar possíveis dúvidas durante o preenchimento do instrumento. Os dados
qualitativos foram conseguidos com a aplicação de dois grupos focais, nos quais
participaram 22 estudantes. Os comentários extraídos permitiram conhecer
características específicas dos jovens universitários e seus comportamentos
relacionados aos três construtos utilizados neste estudo.
A amostra dos estudantes pesquisados no survey possuía a idade média de
23,13 anos, distribuída entre 18 e 30 anos, com predominância feminina e destaque
para solteiros, separados ou viúvos, empregados assalariados e que moravam com
os seus amigos e familiares. Com relação aos aspectos de renda, constatou-se que
existiu a predominância das classes B e C, com a maioria de indivíduos que são
economicamente independentes, ou seja, não recebem nenhuma ajuda financeira.
141
Diante dos questionários preenchidos e da caracterização da amostra, foram
aplicadas as duas técnicas estatísticas: descritiva, por meio das médias, desvio
padrão, teste t, correlações de Pearson e Spearman; multivariada, com a aplicação
de análises fatoriais, cluster e regressão logística. Todos os resultados, em síntese,
sugerem cinco principais conclusões.
Primeiramente, os construtos utilizados para mensurar as atitudes de
consumo se mantiveram em diferentes médias e resultados. O materialismo obteve
valores medianos, porém indivíduos com idade até 20 anos completos foram mais
materialistas do que estudantes com idade entre 21 e 30 anos. A predominância das
médias se deu com mulheres, solteiras, casadas ou viúvas, com débito financeiro e
das classes econômicas de alta renda. Como esperado, as pessoas com os maiores
escores do construto assumiram gastar mais do que ganham e nunca conseguem
guardar ou economizar os seus rendimentos financeiros.
O construto de consumo excessivo se manteve com médias baixas, no
entanto apontou que as pessoas pesquisadas possuem dificuldade de autocontrolar
os seus gastos. Para este construto optou-se por aplicar a análise fatorial, já que
possuía 15 variáveis, divididas em 5 dimensões, para medir o consumismo dos
indivíduos. Com os resultados da análise fatorial, o construto foi reduzido a três
dimensões, no qual todas possuíram validade e confiabilidade para novas
aplicações.
Já a propensão ao endividamento admitiu que homens, com idade entre 21 e
30 anos completos, solteiros, endividados e das classes de baixa renda são mais
propensos a adquirir dívidas financeiras.
A segunda e a terceira conclusões se dão pelos tratamentos estatísticos
multivariados que foram aplicados. A análise cluster, que visou a formar grupos
homogêneos entre si, identificou resultados importantes. Os indivíduos da classe
alta (A) se destacaram das classes B e baixa renda pela consciência do que é
necessário comprar e do que é supérfluo, porém garantindo a sensação de prazer e
luxo. Já a classe B se destacou pelo comportamento equilibrado de consumo, pois
as compras não são regidas pelo status ou estado emocional. A baixa renda, além
de congregar atitudes relacionadas a compras à vista semelhantes à classe B,
apresenta elementos de consumo ou compra excessiva semelhantes à classe A.
Esses resultados talvez expliquem o endividamento das pessoas de baixa renda.
142
Os resultados extraídos a partir da aplicação da regressão logística permitem
afirmar que, embora baixas diferenças entre os valores, os endividados são mais
bem representados, predominantemente, por atitudes positivas ao materialismo,
seguidas do consumo excessivo e por serem propensos ao endividamento.
A quarta conclusão inclui os comentários extraídos das reuniões dos grupos
focais. Para a participação, os estudantes tiveram que responder a um questionário
que visava a classificação econômica, no qual a predominância ocorreu nas classes
de baixa renda. Pôde-se perceber que os indivíduos possuem dificuldade na gestão
dos seus rendimentos, o que resulta no débito financeiro. A partir da transcrição dos
diálogos, nenhum acadêmico afirmou não possuir dívidas, além de assumir atitudes
de consumo excessivo.
Por fim, pode-se concluir que os resultados encontrados por esta pesquisa
confirmam os pressupostos descritos na revisão teórica do estudo. Os três
construtos analisados possuem impacto positivo na aquisição de dívidas, pois os
indivíduos que assumiram ter débito obtiveram os maiores escores em todos os
construtos. Espera-se que com este trabalho se amplie a compreensão da
existência de uma parte da população jovem com níveis altos de consumismo e com
propensão ao endividamento. Diante deste olhar crítico, novas atitudes poderão ser
tomadas com relação à concessão de crédito aos indivíduos, bem como
proporcionar a educação financeira. Essas duas atitudes podem fazer com que as
pessoas sejam menos vulneráveis ao consumo e ao endividamento financeiro.
5.2 LIMITAÇÕES E SUGESTÕES
Algumas limitações foram encontradas, principalmente no seu caráter inicial,
ou seja, os construtos de mensuração das atitudes de consumo. As variáveis de
materialismo de Richins e Dawson (1992), embora adaptadas de um contexto
sociocultural e econômico bastante distinto do Brasil, obtiveram confiabilidade neste
estudo. Isso se repetiu no construto de consumo excessivo de Wu (2006). No
entanto, a propensão ao endividamento (MOURA, 2005) não demonstrou bons
resultados psicométricos. Esse construto merece a adição de novas variáveis ou
reavaliação das dimensões, pois, como descrito nos resultados, a confiabilidade
estatística foi baixa e para utilizar o questionário já aplicado optou-se por aplicar
tratamentos que elevassem a confiança do construto.
143
Outra limitação encontrada por este trabalho aconteceu pela formação da
amostragem da pesquisa. Embora se tenha obtido um número expressivo de
entrevistados, é importante enfatizar que este estudo foi conduzido pela pesquisa
não probabilística, o que impede a generalização dos resultados encontrados.
O trabalho optou por utilizar os questionários impressos, autopreenchíveis e
presenciais, pois, dessa forma, acreditava-se que se teria facilidade de completar
rapidamente o número necessário para compor a amostragem. Entretanto, foram
encontradas algumas dificuldades, pois um índice expressivo de entrevistados se
negou a participar da amostra quantitativa por se tratar de um assunto pessoal que
poderia causar constrangimento.
Como sugestões para futuras pesquisas, indica-se a reaplicação dos
construtos aqui estudados em outras esferas e diferentes tipos de consumidores.
Este trabalho optou por estudantes entre 18 e 30 anos de idade, mas vale destacar
que essas atitudes de consumo não são exclusivas desse perfil, ou seja, novos
grupos devem ser avaliados, como, por exemplo: pessoas da terceira idade,
adolescentes ou até mesmo outras referências sociais, como diferentes classes
econômicas, etnias ou religiosidades.
Diante do perfil dos entrevistados, é importante considerar que entre os
jovens pesquisados vários procediam da uma região do estado com forte
predominância de indivíduos com descendência germânica. Essas pessoas, em sua
maioria, são caracterizadas por poupar dinheiro para consumir futuramente, ou seja,
representam um baixo número de endividados. Portanto, para futuros trabalhos que
aplicarem os construtos, sugere-se considerar a ascendência dos pesquisados, a fim
de identificar possíveis diferenças entre os comportamentos de compra.
Esta pesquisa optou por aplicar a pesquisa com os estudantes do Estado de
Santa Catarina, porém é importante que outras realidades e regiões sejam
pesquisadas, a fim de possibilitar comparação dos resultados. As atitudes de
consumo podem ser diferentes entre as demais cidades e estados do país. Outro
fator importante de avaliação se dá pelo caráter universitário. A amostra deste
trabalho era composta de alunos de uma instituição privada e, talvez, diferentes
atitudes sejam encontradas em estudantes de universidades públicas do país.
Como citado, vale destacar que este trabalho proporcionou algumas
discussões relevantes dos construtos teóricos utilizados, principalmente o consumo
excessivo de Wu (2006). As variáveis de análise obtiveram boa confiabilidade
144
estatística, ou seja, a tradução reversa utilizada foi compreendida pela amostra
deste estudo. Futuros trabalhos podem aproveitar a significância do construto, a fim
de mensurar o consumismo das pessoas em outros perfis populacionais.
5.3 CONTRIBUIÇÕES DO ESTUDO
Como contribuição, vale destacar os resultados que foram encontrados nas
atitudes de consumo dos jovens universitários da baixa renda. Os dados qualitativos
dos grupos focais proporcionaram profundidade nas análises desta classe e, com as
reuniões, pôde-se perceber que os estudantes possuem dificuldade na gestão
financeira. Os comentários extraídos dos encontros possibilitaram melhor
conhecimento das atitudes de consumo dos indivíduos que estão incluídos no futuro
mercado nacional. Embora a entrada de novos segmentos de pessoas de baixa
renda no mercado de consumo possam trazer benefícios sociais e econômicos ao
país, os comentários extraídos dos grupos focais sugerem que a juventude sofre
consequências causadas pelo consumo desenfreado e podem cair em
endividamento financeiro.
Os resultados do estudo sustentaram que a baixa renda é mais propensa ao
endividamento em comparação às demais classes sociais. Esse fato acontece pelas
facilidades que são proporcionadas pelas agências e instituições financeiras, pois os
produtos de crédito facilitam a utilização do dinheiro e, por consequência, podem ser
enquadrados no débito financeiro. É importante citar que as informações contidas
neste trabalho fornecem melhor compreensão da classe e, com os dados, pôde-se
compreender que o endividamento prejudica o crescimento econômico do país.
Por fim, a maior contribuição teórica deste trabalho se deu pela integração de
três construtos diferentes do comportamento do consumidor. Desde o início da
investigação pesquisas bibliométricas foram realizadas com o intuito de esgotar as
publicações científicas e, assim, construir um estudo mais completo. Dentre as 853
publicações estudadas pelo autor (artigos científicos, dissertações e teses) de esfera
nacional e internacional, nenhuma pesquisa integrando esses três comportamentos
foi encontrada. Dessa forma, o trabalho deu início às discussões das dimensões
apresentadas, pois identificou a relação entre as atitudes positivas ao materialismo e
o consumo excessivo, que podem resultar ou não na propensão ao endividamento
145
financeiro, contribuindo para o preenchimento das lacunas encontradas no
comportamento do consumidor.
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157
APÊNDICES
158
APÊNDICE 1 - Questionário Survey
1. Assinale o número que estiver mais de acordo com o seu grau de discordância ou concordância com as afirmativas abaixo, considerando que 1 significa DISCORDO MUITO e 7 CONCORDO MUITO.
2. Em relação aos seus gastos, assinale o número na escala que corresponde ao seu consumo, considerando que: 1 corresponde a Gasta MENOS que ganha e 7 Gasta MAIS que ganha. 3. Nos itens a seguir, assinale o número que representa os seus gastos, considerando que: 1 significa Gasto POUCO e 7 Gasto MUITO.
AFIRMATIVAS Discordo
Muito Concordo
Muito
1.1 Geralmente compro apenas aquilo que preciso. 1 2 3 4 5 6 7 1.2 Tento manter a minha vida simples, no que diz respeito aos meus bens
materiais. 1 2 3 4 5 6 7
1.3 As coisas que possuo não são muito importantes para mim. 1 2 3 4 5 6 7 1.4 Gosto de gastar dinheiro em coisas que não são necessárias. 1 2 3 4 5 6 7 1.5 Comprar objetos me dá um imenso prazer. 1 2 3 4 5 6 7 1.6 Gosto de muito luxo na minha vida. 1 2 3 4 5 6 7 1.7 Dou menos importância às coisas materiais que a maioria das pessoas que
conheço. 1 2 3 4 5 6 7
1.8 Tenho todas as coisas que preciso para ser feliz. 1 2 3 4 5 6 7 1.9 A minha vida seria melhor se possuísse coisas que eu não tenho. 1 2 3 4 5 6 7
1.10 Não seria mais feliz se tivesse coisas mais bonitas. 1 2 3 4 5 6 7 1.11 Seria mais feliz se tivesse dinheiro para comprar mais coisas. 1 2 3 4 5 6 7 1.12 As vezes, entristeço-me por não poder comprar todas as coisas que quero. 1 2 3 4 5 6 7 1.13 Admiro pessoas que possuem carros, casas e roupas caras. 1 2 3 4 5 6 7 1.14 Alguns dos feitos mais importantes na minha vida incluem os bens materiais. 1 2 3 4 5 6 7 1.15 Não dou muita importância à quantidade de objetos materiais que as pessoas
têm. 1 2 3 4 5 6 7
1.16 As coisas que tenho dizem muito sobre o sucesso que tenho tido na vida. 1 2 3 4 5 6 7 1.17 Gosto de ter coisas que impressionam as pessoas. 1 2 3 4 5 6 7 1.18 Não dou muita importância aos objetos materiais que os outros têm. 1 2 3 4 5 6 7
1 2 3 4 5 6 7
Gasto Menos do que Ganho Gasto Igual ao que Ganho Gasto Mais do que Ganho
PRODUTOS Gasto Pouco
Gasto Muito
3.1 Alimentos em Geral (Supermercados, Açougue). 1 2 3 4 5 6 7 3.2 Móveis em Geral (Cama, Estante, Colchão). 1 2 3 4 5 6 7 3.3 Utensílios Domésticos (Decoração, Acessórios de Cozinha). 1 2 3 4 5 6 7 3.4 Vestuário em Geral (Roupas, Acessórios). 1 2 3 4 5 6 7 3.5 Calçados em Geral. 1 2 3 4 5 6 7 3.6 Materiais de Construção. 1 2 3 4 5 6 7
Continua na próxima página.
BLOCO A – QUAL A SUA OPINIÃO A RESPEITO DAS AFIRMATIVAS ADIANTE?
PESQUISA SOBRE O COMPORTAMENTO DE COMPRA DO UNIVERSITÁRIO
BLOCO B – QUAL A SUA OPINIÃO A RESPEITO DAS ALTERNATIVAS ADIANTE?
Esta é uma pesquisa necessária à elaboração da minha dissertação do Curso de Mestrado Acadêmico em Administração que realizo na UNIVALI, com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre o comportamento de compra do estudante universitário. Sua participação é voluntária e você está recebendo esta pesquisa por atender aos requisitos definidos para o estudo. Sua colaboração é muito importante para o sucesso da pesquisa e consiste em responder ao questionário adiante. Não existem respostas certas ou erradas. O que importa é sua percepção a respeito de cada item da pesquisa. Asseguro que os dados serão analisados de forma agregada, sem identificação dos respondentes. Os itens relacionados ao seu perfil, constantes do final do questionário, serão utilizados, apenas, para análises de tendências de respostas. Essa tarefa será concluída por você em 15 minutos. Muito obrigado por sua participação. Thiago dos Santos.
159
4. Assinale o número que estiver mais de acordo com o seu grau de discordância ou concordância com as afirmativas abaixo, considerando que: 1 significa DISCORDO MUITO e 7 CONCORDO MUITO.
5. Com qual frequência você consegue poupar o seu dinheiro? Assinale o número que corresponde as suas atitudes, considerando que: 1 indica NUNCA Consigo e 7 SEMPRE Consigo.
6. Atualmente, você possui conta bancária? 6.1 [_____] SIM. Se assinalou SIM, continue na Questão 07.
6.2 [_____] NÃO. Se NÃO, pule para a Questão 08 na página seguinte.
7. Qual o tipo de conta você utiliza hoje? Assinale uma ou mais respostas. 7.1 [_____] Conta Corrente 7.2 [_____] Conta Universitária 7.3 [_____] Conta Conjunta. Com quem?__________________. 7.4 [_____] Conta Poupança 7.5 [_____] Conta Salário 7.6 [_____] Outra. Qual? ______________________________.
Gasto Pouco
Gasto Muito
3.7 Automóvel ou Moto. 1 2 3 4 5 6 7 3.8 Eletrodomésticos, Eletroeletrônicos. 1 2 3 4 5 6 7 3.9 Presentes. 1 2 3 4 5 6 7
3.10 CD`s, DVD`s (Discos, Música). 1 2 3 4 5 6 7 3.11 Celular ou Telefonia. 1 2 3 4 5 6 7 3.12 Medicamentos, Perfumaria, Cosméticos. 1 2 3 4 5 6 7 3.13 Lazer (Restaurantes, Cinemas, Teatros, Show`s, Festas). 1 2 3 4 5 6 7 3.14 Pagamento de Contas (Quitação de Dívidas). 1 2 3 4 5 6 7 3.15 Médicos, Hospitais e Exames. 1 2 3 4 5 6 7 3.16 Escolas, Graduação, Cursos em Geral. 1 2 3 4 5 6 7
AFIRMATIVAS Discordo
Muito
Concordo Muito
4.1 Eu gosto de muito luxo na minha vida, embora eu possa não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas contas.
1 2 3 4 5 6 7
4.2 Eu compro os objetos materiais, como sinal de sucesso, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.
1 2 3 4 5 6 7
4.3 Eu tenho muito prazer em comprar coisas agradáveis, embora eu tenha dificuldade financeira.
1 2 3 4 5 6 7
4.4 Comprar é uma forma de me sentir melhor, mesmo que depois eu possa enfrentar dificuldades financeiras.
1 2 3 4 5 6 7
4.5 Quando estou com um baixo emocional, eu gasto mais do que eu deveria com base na minha condição financeira.
1 2 3 4 5 6 7
4.6 Para mim, fazer compras é uma maneira de aliviar o estresse, embora eu talvez tenha que enfrentar dificuldades financeiras.
1 2 3 4 5 6 7
4.7 Muitas das vezes eu compro algo que realmente quero, sem pensar muito, embora eu não deveria comprá-los, com base nas minhas condições financeiras.
1
2
3
4
5
6
7
4.8 É típico para mim, passar por imprudente, por não ter dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.
1 2 3 4 5 6 7
4.9 Durante as compras, muitas vezes, gasto mais do que eu deveria (com base nas minhas condições financeiras) sem que eu perceba isso..
1 2 3 4 5 6 7
4.10 Eu gasto muito quando estou de bom humor, embora as compras possam me colocar em dificuldades financeiras.
1 2 3 4 5 6 7
4.11 Quando estou bem emocionalmente, eu compro um monte de coisas, embora não tenha dinheiro suficiente para pagar todas as minhas compras.
1 2 3 4 5 6 7
4.12 Eu gosto de fazer compras quando estou de bom humor, embora compro coisas que eu não deveria, se pensar na minha situação financeira.
1 2 3 4 5 6 7
4.13 Eu acompanho bem as minhas despesas, para fins de orçamento. 1 2 3 4 5 6 7 4.14 Eu realmente posso impedir-me de comprar coisas que eu não deveria, se eu
pensar na minha situação financeira. 1 2 3 4 5 6 7
4.15 Eu examino e avalio o meu comportamento de compra, com a finalidade de cuidar do meu orçamento.
1 2 3 4 5 6 7
1 2 3 4 5 6 7 NUNCA Consigo SEMPRE Consigo
BLOCO C – GESTÃO DO SEU RENDIMENTO
160
8. Com qual frequência você costuma utilizar estes produtos financeiros? Assinale o número que indica o seu nível de consumo, considerando: 1 indica NUNCA Utilizo e 7 Utilizo MUITO.
9. Assinale o número que estiver mais de acordo com o seu grau de discordância ou concordância com as afirmativas abaixo, considerando que: 1 significa DISCORDO MUITO e 7 CONCORDO MUITO.
10. Você atualmente possui dívidas? 10.1 [_____] SIM. Se assinalou SIM, responda as questões 11 à 14.
10.2 [_____] NÃO. Se NÃO, pule para o BLOCO D no verso desta página.
11. Quais os tipos de dívidas você possui? Assinale uma ou mais respostas que representam a sua dívida.
11.1 [_____] Cartão de Crédito 11.2 [_____] Crédito Consignado 11.3 [_____] Financiamento de Carro 11.4 [_____] Cartão de Débito 11.5 [_____] Crédito Pessoal 11.6 [_____] Financiamento de Casa 11.7 [_____] Cheque 11.8 [_____] Carnês de Lojas 11.9 [_____] Crediários 11.10 [_____] Outro. Qual? _______________.
12. Se você fosse quantificar sua dívida, qual seria o grau do seu endividamento. Assinale o número na escala abaixo:
13. O pagamento destas dívidas estão em atraso? 13.1 [_____] SIM. Se assinalou SIM, responda à questão 14.
13.2 [_____] NÃO. Se NÃO, pule para o BLOCO D no verso desta página.
14. Quais os motivos de não conseguir pagar as suas dívidas no vencimento? Assinale uma ou mais respostas que justifiquem o atraso. 14.1 [_____] Falta de Planejamento. 14.6 [_____] Empréstimo do Nome. 14.2 [_____] Desemprego ou Queda na Renda. 14.7 [_____] Problemas de Saúde. 14.3 [_____] Alta Propensão ao Consumo. 14.8 [_____] Má Gestão do meu Dinheiro. 14.4 [_____] Alta Taxa de Juros. 14.9 [_____] Acesso ao Crédito. 14.5 [_____] Ausência de Desconto a vista. 14.10 [_____] Outro. Qual? _______________________________.
PRODUTOS Nunca
Utilizo
Utilizo Muito
8.1 Cartão de Crédito 1 2 3 4 5 6 7 8.2 Crédito Consignado 1 2 3 4 5 6 7 8.3 Cartões de Crédito de Lojas (Hipercard) 1 2 3 4 5 6 7 8.4 Cartão de Débito 1 2 3 4 5 6 7 8.5 Crédito Pessoal 1 2 3 4 5 6 7 8.6 Carnês de Lojas 1 2 3 4 5 6 7 8.7 Cheque 1 2 3 4 5 6 7 8.8 Crediários 1 2 3 4 5 6 7 8.9 Outros. Qual? _________________________________________________. 1 2 3 4 5 6 7
AFIRMATIVAS Discordo
Muito Concordo
Muito 9.1 Não é certo gastar mais do que ganho. 1 2 3 4 5 6 7
9.2 Acho normal as pessoas ficarem endividadas para pagar suas coisas. 1 2 3 4 5 6 7
9.3 As pessoas ficariam desapontadas comigo se soubessem que tenho dívida. 1 2 3 4 5 6 7
9.4 É melhor primeiro juntar dinheiro e só depois gastar. 1 2 3 4 5 6 7
9.5 Prefiro comprar parcelado do que esperar ter dinheiro para comprar à vista. 1 2 3 4 5 6 7
9.6 Prefiro pagar parcelado mesmo que no total seja mais caro. 1 2 3 4 5 6 7
9.7 Eu sei exatamente quanto devo em lojas, cartão de crédito ou banco. 1 2 3 4 5 6 7
9.8 É importante saber controlar os gastos de minha casa. 1 2 3 4 5 6 7
9.9 Não tem problema ter dívida se eu sei que posso pagar. 1 2 3 4 5 6 7
1 2 3 4 5 6 7 Pouco Endividado
Muito Endividado
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Preencha os seus dados pessoais abaixo e assinale com “X” nas alternativas que dizem respeito a você.
15. Qual a sua IDADE? _____________ anos completos. 16. Gênero: 16.1 [_____] Masculino 16.2 [_____] Feminino 17. Estado Civil: 17.1 [_____] Solteiro (a) / Separado (a) / Desquitado (a) / Viúvo (a). 17.2 [_____] Casado (a) / Mora junto. 18. Cidade em que reside: _____________________________________________________________ Estado ___________________. 19. Curso de Graduação que está cursando: ___________________________________ Semestre: [___°] Turno: [____] Diurno [____] Noturno 20. Em qual Campus: 20.1 [_____] Balneário Camboriú 20.2 [_____] Biguaçu 20.3 [_____] Florianópolis (Unidade Ilha) 20.4 [_____] Itajaí 20.5 [_____] São José 20.6 [_____] Tijucas 21. Ocupação Profissional: 21.1 [_____] Não Trabalho. 21.5 [_____] Empregado(a) Assalariado(a). 21.2 [_____] Conta própria ou autônomo(a). 21.6 [_____] Funcionário(a) Público(a). 21.3 [_____] Empresário(a). 21.7 [_____] Outra função. Qual? ____________. 21.4 [_____] Estagiário(a). 22. Renda Mensal Bruta FAMILIAR Aproximada: 22.1 [_____] Até R$1.090,00 22.2 [_____] De R$1.091,00 até 2.725,00. 22.3 [_____] De R$ 2.726,00 a R$5.450,00. 22.4 [_____] De R$5.451,00 a R$13.625,00 22.5 [_____] Mais de R$13.626,00. 23. Mora sozinho (a): 23.1 [_____] Sim.
23.2 [_____] Não. Com quem mora? _________________________________________________.
24. Recebe ajuda financeira? 24.1 [_____] Não recebo ajuda financeira. 24.2 [_____] Ajuda Governamental (bolsas de estudos). Quantos reais? R$________________. 24.3 [_____] Dos meus pais. Quantos reais? R$______________________________________. 24.4 [_____] De amigos. Quantos reais? R$_________________________________________. 24.4 [_____] De parentes. Quantos reais? R$________________________________________. 24.5 [_____] Dos avós. Quantos reais? R$__________________________________________. 24.6 [_____] Outros. Quem?__________________________ Quantos reais? R$____________.
25. De acordo com as colunas, assinale com um X a quantidade de itens que possui na residência onde você VIVE ATUALMENTE.
26. No Quadro abaixo, marque com um X no grau de instrução do CHEFE DA SUA FAMILIA:
Quantidade de objetos -> 0 (não tem) 1 Unidade 2 Unidades 3 Unidades 4 ou + Unidades
Televisão em Cores 0 [ ] 1 [ ] 2 [ ] 3 [ ] 4 [ ]
Rádio 0 [ ] 1 [ ] 2 [ ] 3 [ ] 4 [ ]
Banheiro (incluindo lavabo) 0 [ ] 4 [ ] 5 [ ] 6 [ ] 7 [ ]
Automóvel 0 [ ] 4 [ ] 7 [ ] 9 [ ] 9 [ ]
Empregada Mensalista 0 [ ] 3 [ ] 4 [ ] 4 [ ] 4 [ ]
Máquina de Lavar Roupas 0 [ ] 2 [ ] 2 [ ] 2 [ ] 2 [ ]
Videocassete ou DVD 0 [ ] 2 [ ] 2 [ ] 2 [ ] 2 [ ]
Geladeira 0 [ ] 4 [ ] 4 [ ] 4 [ ] 4 [ ]
Freezer (ou geladeira duplex) 0 [ ] 2 [ ] 2 [ ] 2 [ ] 2 [ ]
Analfabeto / Até 3a Série Fundamental 0 [ ]
Até 4a Série Fundamental 1 [ ]
Fundamental Completo 2 [ ]
Médio Completo 4 [ ]
Superior Completo 8 [ ]
BLOCO D – DADOS PESSOAIS
OBRIGADO POR SUA PARTICIPAÇÃO | THIAGO DOS SANTOS | [email protected]
CONFIRA SE VOCÊ PREENCHEU TODAS AS QUESTÕES.
162
ANEXOS
163
ANEXO 1 - Construto original de Materialismo proposto por Belk (1985) Possessiveness subscale 1. Renting or leasing a car is more appealing to me than owning one*
2. I tend to hang on to things I should probably throw out
3. I get very upset if something is stolen from me, even if it has little monetary value
4. I don't get particularly upset when I lose things*
5. I am less likely than most people to lock things up*
6. I would rather buy something I need than borrow it from someone else
7. I worry about people taking my possessions
8. When I travel I like to take a lot of photographs
9. I never discard old pictures or snapshots
Nongenerosity subscale 1. I enjoy having guests stay in my home'
2. I enjoy sharing what I have*
3. I don't like to lend things, even to good friends
4. It makes sense to buy a lawnmower with a neighbor and share it"
5. I don't mind giving rides to those who don't have a car*
6. I don't like to have anyone in my home when I'm not there
7. I enjoy donating things to charities*
Envy subscale 1. I am bothered when I see people who buy anything they want
2. I don't know anyone whose spouse or steady date I would like to have as my own*
3. When friends do better than me in competition it usually makes me happy for
them*
4. People who are very wealthy often feel they are too good to talk to average people
5. There are certain people I would like to trade places with
6. When friends have things I cannot afford it bothers me
7. I don't seem to get what is coming to me
8. When Hollywood stars or prominent politicians have things stolen from them I
really feel sorry for them *
(*) Afirmativas contrárias.
164
ANEXO 2 - Construto original de Materialismo proposto por Richins e Dawson (1992) Centrality: 1. I usually buy only the things I need.*
2. I try to keep my life simple, as far as possessions are concerned.*
3. The things I own aren't all that important to me.*
4. I enjoy spending money on things that aren't practical.
5. Buying things gives me a lot of pleasure.
6. I like a lot of luxury in my life.
7. I put less emphasis on material things than most people I know.*
Happiness: 1. I have all the things I really need to enjoy life.*
2. My life would be better if I owned certain things I don't have.
3. I wouldn't be any happier if I owned nicer things.*
4. I'd be happier if I could afford to buy more things.
5. It sometimes bothers me quite a bit that I can't afford to buy all the things I'd like.
Success: 1. I admire people who own expensive homes,cars, and clothes.
2. Some of the most important achievements in life include acquiring material
possessions.
3. I don't place much emphasis on the amount of material objects people own as a
sign of success.*
4. The things I own say a lot about how well I'm doing in life.
5. I like to own things that impress people.
6. I don't pay much attention to the material objects other people own*
(*) Afirmativas contrárias.
165
ANEXO 3 - Construto original de Consumo Excessivo proposta por Wu (2006)
Materialism Value Factor (MVF) 1. I like a lot of luxury in my life, although I may not have enough money to pay for
all my purchases.
2. I buy material objects as a sign of success, although the purchases might put me
into financial difficulties.
3. I derive a lot of pleasure from buying nice things, although I may have to stretch
financially.
Negative Affect Factor (NAF) 1. Shopping is a way of making myself fell better, even if I might face financial
difficulties afterwards.
2. When I am on an emotional low, I spend more than I should based on financial
consideration.
3. To me, shopping is a way to relieve stress, although I might have to stretch
financially.
Habitual Behavior Factor (HBF) 1. I will often buy something I really want without much thinking, although I shouldn't
buy them based on financial consideration.
2. It is typical for me to spend imprudently, although I may not have enough money
to pay for all my purchases.
3. During shopping trips, I often spend more than I should (based on financial
consideration) before I realize it.
Positive Affect Factor (PAF) 1. I spend a lot when I am in a good mood, although the purchases might put me
into financial difficulties.
166
2. When I am on an emotional high, I buy a lot of things, although I may not have
enough money to pay for all my purchases.
3. I like to shop when I am in a good mood, even though I buy things that I shouldn't
based on financial consideration.
Self-Control Factor (SCF)
1. I keep good track of my expenses for budgeting purpose. *
2. I can effectively prevent myself from buying things I shouldn't buy based on
financial consideration. *
3. I scrutinize and evaluate my buying behavior for budgeting purpose. *
(*) Afirmativas contrárias.
167
ANEXO 4 - Construto original de Propensão ao Endividamento de Lea, Webley e Walker (1995)
1. Taking out a loan is a good thing because it allows you to enjoy life.
2. It is a good idea to have something now and pay for it later.
3. Using credit is basically wrong. *
4. I'd rather go hungry than buy food 'on tick'. *
5. I plan ahead for larger purchases. *
6. Being in debt is never a good thing. *
7. Credit is an essential part of today's lifestyle.
8. It is better to go into debt than to let children go without Christmas presents.
9. It is important to live within one's means. *
10. Even on a low income, one should save a little regularly. *
11. Borrowed money should be repaid as soon as possible. *
12. Most people run up too much debt. *
13. It is too easy for people to get credit cards. *
14. I do not like borrowing money. *
15. Borrowing money is sometimes a good thing.
16. I am rather adventurous with my money.
17. It is ok to borrow money to pay for children's clothes.
(*) Afirmativas contrárias.
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ANEXO 5 - Escala Likert 7 Pontos