UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO MESTRADO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
CULTURA, IDENTIDADE E MEMÓRIA: UMA LEITURA INFORMACIONAL DOS MUSEUS HISTÓRICOS
EM AMBIENTES COMUNITÁRIOS
Orientanda
VANIA CARVALHO RÕLA SANTOS
ORIENTADORA Profª. Drª. Regina Maria Marteleto
Belo Horizonte – MG 2005
Santos, Vânia Carvalho Rôla. S237c Cultura, identidade e memória [manuscrito] : uma leitura informacional dos museus históricos em ambientes comunitários / Vânia Carvalho Rôla Santos . – 2005. 161 f. : il. Orientador: Regina Maria Marteleto. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de Ciência da Informação. Referências bibliográficas: 9 f. 1. Ciência da informação - Teses 2. Cultura - Teses 3. Museus históricos – Minas Gerais – Teses 4. Museologia - Teses I. Título II. Marteleto, Regina Maria III. Universidade Federal de Minas Gerais. Escola de Ciência da Informação. CDU: 02:069
Catalográfica: Biblioteca Etelvina Lima, Escola de Ciência da Informação da UFMG
VANIA CARVALHO RÕLA SANTOS
CULTURA, IDENTIDADE E MEMÓRIA: UMA LEITURA INFORMACIONAL DOS MUSEUS HISTÓRICOS
EM AMBIENTES COMUNITÁRIOS
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciência da Informação. Área de concentração: Produção, Organização e Utilização da Informação Orientadora: Prof.ª Dr.ª Regina Maria Marteleto
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte 2005
VANIA CARVALHO RÔLA SANTOS
CULTURA, IDENTIDADE E MEMÓRIA:
UMA LEITURA INFORMACIONAL DOS MUSEUS HISTÓRICOS EM
AMBIENTES COMUNITÁRIOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação da Escola da Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre. Linha de Pesquisa: Informação, Cultura e Sociedade.
I
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________ Profª. Drª. Regina Maria Marteleto, orientadora. Doutora em Comunicação e Cultura – UFRJ ____________________________________________ Profº. Dr. José Newton Coelho Meneses Doutor em História Social – UFF ____________________________________________ Profª. Drª. Alcenir Soares dos Reis Doutora em Educação - UFMG ____________________________________________ Profª. Drª. Ana Maria Rezende Cabral Doutora em Comunicação – USP
Belo Horizonte, 12 de junho de 2005.
AGRADECIMENTOS
À Professora Regina Marteleto, por me propiciar a oportunidade de realizar este
trabalho, pela indicação de rumos e pelo constante incentivo.
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Às Professoras Ana Cabral, Maria Eugenia Andrade, Alcenir Soares e
Johanna Smit , pelo apoio e preciosas dicas.
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A Professora Hebe Rôla, pela disponibilidade de fazer a revisão do meu texto, pois
embora sendo minha sogra, sei o quanto a agenda dela é apertada.
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Aos colegas do Programa de Pós Graduação da Escola da Ciência da Informação,
em especial Elaine, Julianne, Luís Carlos, Mara e Ruben.
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Aos funcionários da Escola de Ciência da Informação, que sempre atenderam com
carinho e atenção a todas as minhas solicitações.
“Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor. Mas lutamos para que o melhor fosse feito. Não somos o que deveríamos ser, não somos o que iremos ser, mas graças a Deus não somos o que éramos”.
Martin Luther King
RESUMO
A partir dos conceitos de Cultura, Identidade e Memória procuramos proceder a
leitura informacional dos museus históricos especificamente aqueles em contextos
comunitários, como as cidades coloniais de Minas Gerais, possuidores de forte
carga cultural que os liga à gente da terra, às suas tradições, seu modo de ser.
Apreendendo como a instituição museológica persiste em desconhecer a sua
“oferta” (objeto museológico) e a sua “demanda” (sujeito). Ao reconhecermos como
espaço informacional e comunicacional, através da pesquisa realizada junto ao
público visitante do Museu do Ouro, em especial com os moradores do município de
Sabará, em Minas Gerais, e dirigentes da área de museus do IPHAN, autarquia a
qual o museu está vinculado, percebemos como o distanciamento da prática
informacional ainda persiste, embora o discurso teórico seja ao contrário.
Palavras-chave: Ciência da Informação / Cultura / Identidade / Memória / Museu / Museologia / Museu do Ouro. SANTOS, Vania Carvalho Rôla. Cultura, Identidade e Memória: Uma leitura informacional dos museus históricos em ambientes comunitários/Vania Carvalho Rôla Santos. 2005. 161 fls. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação). Belo Horizonte: UFMG/ECI. Orientador: Regina Maria Marteleto.
ABSTRACT
From the concepts of Culture, Identity and Memory, we search for proceed the
informational reading of the historical museums, specifically those in communitarian
contexts, as the colonial cities of Minas Gerais, possessors of strong cultural load
that link them to the people of the land, to its traditions, its way of being. Seizing as
the museological institution, it persists in being unaware of its "offers" (museological
object) and its "demand" (subject). When recognizing as informational and
communicational space, through the research carried together to the visiting public of
the Museu do Ouro, in special with the inhabitants of the city of Sabará, in Minas
Gerais, and controllers of the area of museums of the IPHAN, autarchy to which the
museum is tied, we perceive that the aloofness from the informational practical still
persists, even that the theoretical speech is in contrast.
Keywords: Information Science/Culture/ Identity/Memory/Museum/Museology/
Museu do Ouro
SANTOS, Vania Carvalho Rôla. Cultura, Identidade e Memória: Uma leitura informacional dos museus históricos em ambientes comunitários/Vania Carvalho Rôla Santos. 2005. 161 fls. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação). Belo Horizonte: UFMG/ECI. Orientador: Regina Maria Marteleto.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Processo de comunicação – Diagrama de Jakobson............................. 78 Figura 2 – Fatores da comunicação determinam funções da linguagem................ 78 Figura 3 – Processo de comunicação em museus – Modelo conducionista............ 79 Figura 4 – Processo de comunicação em museus – Modelo Interacionista 1º Nível.................................................................................................................... 81 Figura 5 – Processo de comunicação em museus – Modelo interacionista 2º nível..................................................................................................................... 82
Figura 6 – Localização do município de Sabará na Grande BH.............................. 90 Figura 7 – Localização do município de Sabará em relação as principais rodovias nacionais.............................................................................. 93 Figura 8 – O município de Sabará e os seus distritos............................................. 94
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Museologia Tradicional x Nova Museologia......................................... 31
Quadro 2 – Extratos Informacionais........................................................................ 102
Quadro 3 – Questão aplicada aos dirigentes do IPHAN na área museológica....... 106
Quadro 4 – Questionário aplicado aos visitantes do Museu do Ouro, moradores
do município de Sabará – MG................................................................................ 110
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Relação População x % de alfabetizados.............................................. 95
Tabela 2 – Índice de desenvolvimento humano – IDH............................................. 95
Tabela 3 – Renda per capita.................................................................................... 95
Tabela 4 – Domicílios permanentes atendidos pelos serviços de saneamento, água,
e coleta de lixo...................................................................... .................................. 95
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
COFEM – Conselho Federal de Museologia
CPDOC/FGV – Centro de Pesquisa de Documentação Contemporânea/Fundação
Getúlio Vargas
COREM – Conselho Regional de Museologia
CSBM – Companhia Siderúrgica Belgo Mineira
13ªSR/IPHAN – MG – 13ª Superintendência Regional do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, em Minas Gerais.
DEMU/IPHAN/BSB – Departamento de Museus e Centros Culturais do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Brasília
GRANDE BH – Grande Belo Horizonte
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICOM – Conselho Internacional de Museus
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
MINC – Ministério da Cultura
MINOM – Movimento Internacional da Nova Museologia
PNM – Política Nacional de Museus
PNUD – Programa das Nações Unidas de Desenvolvimento
PRONAC – Programa Nacional de Cultura
SPHAN – Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
SPHAN/PROMEMÓRIA – Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e
Fundação Nacional Promemória
UNIRIO – Universidade do Rio de Janeiro (federal)
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO....................................................................................................... 15
1ª PARTE: MUSEU OBJETO DE ESTUDO
1.CULTURA, MUSEU E MUSEOLOGIA................................................................ 24
1.1 Conceito de Cultura na Museologia ............................................................ 28
1.2 A Museologia e os museus: mudança de conceitos ................................... 30
2.IDENTIDADE, MUSEU E PÚBLICO................................................................... 36
2.1 A identidade e a necessidade do público..................................................... 36
2.2 O papel do museu na construção de uma identidade................................... 38
3.MEMÓRIA, MUSEU E HISTÓRIA....................................................................... 40
3.1 O desenvolvimento da memória.................................................................... 42
3.2 O objeto museológico como materialização da memória ............................. 43
3.3 Museu Histórico em contexto comunitário..................................................... 46
2ª PARTE: MUSEU INFORMAÇÃO COMO OBJETO
4.A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E O CONCEITO DE INFORMAÇÃO................. 51
4.1 Conceito de Informação ................................................................................ 52
5.A MUSEOLOGIA E SUA RELAÇÃO COM A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO........ 57
6.A INFORMAÇÃO E A COMUNICAÇÃO MUSEOLÓGICA................................... 62
6.1 Na informação museológica os paradigmas da Ciência da Informação........ 64
6.2 A estrutura informacional dos objetos no contexto museológico .................. 66
6.2.1 Um Eficiente Sistema de Documentação Museológica ....................... 72
6.2.2 A necessidade do especialista em informação museológica ............. 74
6.2.3 Técnicas de armazenamento e recuperação da informação ............. 75
6.3 O processo da comunicação museológica................................................... 76
6.3.1 Conducionista ou Condutivista.......................................................... 79
6.3.2 Interacionista....................................................................................... 81
6.4 A exposição museológica como discurso ..................................................... 83
6.5 A comunicação museológica no século XXI................................................... 85
6.5.1 Linguagem Museal................................................................................ 85
6.5.2 Tecnologia............................................................................................. 87
6.5.3 Processos museológicos...................................................................... 88
3ª PARTE: MUSEU UMA LEITURA INFORMACIONAL
7, MUSEU COMO PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO..............…………....…... 90
8.TERRITÓRIO MUSEU COMO ESPAÇO AUTÊNTICO.……….......................... 93
8.1 A unidade museológica pesquisada: Museu do Ouro................................... 97
8.2 Da produção da informação museológica à transmissão do
conhecimento ............................................................................................... 98
9.ESTRATÉGIAS MUSEOLÓGICAS PARA O SÉCULO XXI............................... 101
9.1 Leitura Informacional do Museu do Ouro: dirigentes do IPHAN..................104
9.2 Leitura Informacional do Museu do Ouro: visitante do Museu do Ouro.......108
9.3 Política Nacional de Museus........................................................................118
CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................120
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS.......................................................................126
ANEXOS................................................................................................................135
INTRODUÇÃO
Ao elaborarmos esta introdução pudemos perceber que o objeto de pesquisa
está muito além dos tempos da graduação em Museologia. Na verdade, o desejo de
realizar este estudo está no fato de ter tido o privilégio de nascer e crescer,
literalmente, dentro de um “centro de cálculo” (LATOUR, 2000), ou seja, o Instituto
de Biologia do Exército, criado pelo Decreto nº1915 de 09 de dezembro de 1894,
onde meu pai trabalhou por mais de 30 (trinta) anos, um instituto que desenvolve
pesquisa na área da saúde, no bairro de Benfica, Rio de Janeiro; e, assim, podemos
afirmar que desde a minha concepção estive ligada a espaços como laboratórios,
museus, bibliotecas e arquivos.
O fascínio por estes espaços sempre foi muito grande, e com certeza o
ingresso no curso de Museologia na UNIRIO1, uma forma de nos aprofundar no
conhecimento e dinâmica dos museus, de viver em tempos e espaços dos mais
diferentes momentos da humanidade, podendo conhecer um pouco de cada ponto
do planeta, sendo o objeto museológico entendido como a materialização e a
comprovação da história em cada tempo, cada lugar. Com certeza, pelo fato de ter
vivido num laboratório de pesquisa, sempre vimos os espaços museológicos muito
além da questão estética, do simples diletantismo, sempre acreditando neles como
um espaço informacional, gerador da produção do conhecimento, e que, por
conseguinte, deve ser sociabilizado pelo saber e pelo fazer.
Entretanto, o desejo de prosseguirmos os estudos tiveram que ser
interrompidos, pela necessidade do ingresso no mercado de trabalho, tão comum
nas décadas de 70 e 80, até porque a formação nessa época era voltada para o
aspecto aplicativo, e não acadêmico, mas com certeza esse desejo continuou
latente e agora quase dois anos após o ingresso no Programa de Pós-graduação da
Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais estamos
realizando a primeira etapa de uma conquista, o MESTRADO.
Quando apresentamos o projeto de pesquisa para o processo de seleção, era
um projeto de caráter aplicativo, em que se envolviam os acervos arquivísticos,
bibliográficos e museológicos sob a guarda dos Museus e Casas Históricas do
1Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro.
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, autarquia vinculada
ao Ministério da Cultura, órgão de preservação do patrimônio cultural mais antigo da
América Latina, criado através da Lei nº378, de 13 de janeiro de 1937 (MEC, 1976),
durante o governo de Getúlio Vargas, um período autoritário da História do Brasil,
que durou de 1937 a 1945, denominado ESTADO NOVO.
O projeto de criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional –
SPHAN, de autoria do modernista Mário de Andrade, a pedido do então Ministro da
Educação e Saúde, Gustavo Capanema, recebeu modificações significativas
trazidas por Rodrigo Melo Franco de Andrade, que esteve à frente daquele serviço,
durante 30 anos. A política que norteou o SPHAN, nesse período, perpassava as
noções de “tradição” e “civilização”, com ênfase no passado nacional.
“Os bens culturais classificados como patrimônio deveriam fazer a mediação entre os heróis nacionais, os personagens históricos, os brasileiros de ontem e os de hoje. Essa apropriação do passado era concebida como um instrumento para educar a população a respeito da unidade e permanência da nação.” (CPDOC – FGV, 2005)
O objeto de pesquisa do nosso projeto é um reflexo da nossa experiência
profissional de 22 (vinte e dois) anos, em unidades museológicas do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional: Museu do Folclore (RJ), Museu Casa de
Benjamin Constant (RJ) e Museu Villa-Lobos (RJ); Museu da Inconfidência (MG),
Casa Setecentista (MG) e, atualmente, 13ªSuperintendência Regional do IPHAN, em
Minas Gerais, sede em Belo Horizonte.
Nessa Superintendência temos desenvolvido atividades na área de
processamento técnico e conservação dos acervos arquivísticos, bibliográficos e
museológicos dos Museus e Casas Históricas a ela vinculados, bem como a análise
de ações das áreas de Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia, no Programa
Nacional de Incentivo à Cultura – PRONAC do Ministério da Cultura.
Coube à orientadora desta dissertação, a professora Regina MARTELETO2,
pela sua experiência, sabedoria, e paciência transformar o projeto aplicativo em
projeto acadêmico, na área de Museologia, estabelecendo, a interface com a
2MARTELETO, Regina Maria. Professora Doutora da Escola de Ciência da Informação – UFMG.
Ciência da Informação, enfocando a informação museológica e a produção do
conhecimento de que os museus podem e devem ser geradores, entendendo-os
como espaços informacionais que podem atender as necessidades das
comunidades em que estão inseridos.
Com certeza, nestes anos de experiência passamos a sentir cada vez mais a
necessidade de agregar, à nossa prática de trabalho, conceitos teóricos e a
comprovação científica do que temos vivenciado na nossa atividade; principalmente
sob um aspecto muito pouco discutido na área museológica, a informação e a
produção do conhecimento nos museus históricos de expressão local, mas que
simultaneamente atingem um significado nacional.
O pressuposto que se levanta neste trabalho é de que esses museus
históricos traduzem aspectos dos ciclos sócio cultural e político econômico do
passado, assim como da atualidade do país, mas também trazem em si uma carga
que os liga à gente da terra, às suas tradições, seu modo de ser. No que referem ao
processo informacional, às técnicas e procedimentos da Museologia eles se
apresentam de forma ineficaz na produção do conhecimento, e de pouco ou nenhum
impacto social sobre a sociedade, e acreditamos que na interface com a Ciência da
Informação ambos possam vir a enriquecer, a aprofundar a discussão da informação
x comunicação na área museológica, ainda tão incipiente.
O objetivo geral de nossa pesquisa é:
• Analisar museus localizados em “nação passiva”, ou seja, “localmente
enraizada e orgânica”, como conceituada pelo geógrafo Milton
SANTOS (2003) e como essas nações, que estão em muitos aspectos
excluídas do discurso da sociedade da informação, principalmente no
aspecto político e econômico, possam usufruir das práticas
informacionais geradoras efetivas da transferência da informação,
nestes espaços culturais.
O desdobramento deste objetivo pode gerar os seguintes objetivos
específicos:
• Analisar o discurso institucional do museu em relação ao seu papel
junto à comunidade, bem como a exigência da sociedade atual quanto
aos serviços museológicos.
• Analisar o discurso do visitante e morador do município em relação ao
papel do museu na comunidade, e se esta está satisfeita com os
serviços de informação, através da exposição, se eles geram
conhecimento.
• Observar, no contexto atual da museologia, como interagem os
conceitos da Museologia e da Ciência da Informação no que diz
respeito aos processos informacionais, dentro dos paradigmas físico,
cognitivo e social.
Podemos observar que nos últimos tempos, o bem cultural se transformou em
produto cultural passível de ser consumido em megaexposições, e eventos dos mais
diversos tipos que os museus dos grandes centros comportam, mas que estão longe
de serem vivenciados por cidades de pequeno porte, em que a identidade cultural é
a vivência da cultura cotidiana.
A Museologia tem desenvolvido conceitos teóricos, que ainda não são
viabilizados, nas práticas museológicas. Em parte os impasses acontecem devido às
mudanças constantes das políticas culturais no Brasil. E assim, o que pretendemos
com esse estudo é investigar os museus históricos em ambientes comunitários e o
seu papel social, a partir da necessidade de informação nesses espaços culturais,
que têm a exposição de longa duração, as exposições de curta duração e as
atividades educativas como produtoras do conhecimento.
A nossa proposta, quanto à questão da informação, parte do entendimento de
que os museus são espaços informacionais e que o apoio teórico e aplicativo da
Ciência da Informação poderá ampliar o horizonte da pesquisa nas questões
conceituais da informação e sua transmissão, e conseqüente produção de sentido
que ela tem desenvolvido cada vez mais em estudos referentes à relação do sujeito
x informação; e, de que o papel dos Museus é conhecer, estudar, investigar seu
acervo para que este seja fonte de informação, atualização e questionamento.
A partir desta percepção, passamos a sentir cada vez mais a necessidade de
agregarmos à nossa prática de trabalho uma renovação, na verdade, uma
“oxigenação” na nossa formação acadêmica, e acreditamos que a escolha da
Ciência da Informação vem de encontro à necessidade de pensar o Museu e a
Sociedade da Informação, como afirma WERSIG (1997) que salienta a importância
do museu como meio de comunicação devido a sua constituição local, material, no
espaço e no tempo.
A presente dissertação inicia-se com a PRIMEIRA PARTE: MUSEU OBJETO
DE ESTUDO, dividida em três capítulos, com a explanação do Museu como objeto
de estudo, apresentando alguns conceitos do espaço museológico e suas práticas: a
cultura, a identidade, a memória, a museologia, e o diálogo do museu com o público,
através da exposição. Este é o ponto de partida da reflexão e análise sobre o
processo e a prática informacional nos museus, tendo como entendimento que
esses são instituições culturais inseridas em determinados contextos históricos e
sociais, com uma prática específica.
Os conceitos de cultura, identidade e memória serão trabalhados a partir da
área do conhecimento das Ciências Sociais: Antropologia, Sociologia, História, pois
é nestas áreas que a Museologia busca fundamentar seu referencial teórico. O
conceito de cultura para o museólogo é o fazer e o viver cotidiano; cultura é o
trabalho do homem em todas as suas manifestações e aspectos, e a relação do
homem com seu meio, com os outros seres, incluindo-se os outros homens. Cultura
é a projeção em que o homem se realiza; ou melhor, a atividade em que ele se
realiza. Cultura é percepção, experiência, expressão; cultura é a vida vivida.
No contexto museológico, a reflexão sobre identidade é um problema crucial.
Os museus não devem existir em função dos objetos que contêm, e sim em virtude
dos conceitos ou idéias que esses objetos ajudam a transmitir. Os componentes do
conceito de IDENTIDADE neste trabalho referem-se às noções de museus, de
Museologia e às suas responsabilidades com a sociedade, tendo, como enfoque,
museus históricos inseridos em localidades com forte identidade cultural.
Quanto à MEMÓRIA podemos dizer que não é história, e sim o que
registramos em nosso corpo, a construção do que lembramos. É, por excelência,
seletiva, pois guardamos tudo aquilo que, por um motivo ou por outro, tem ou teve
algum significado em nossas vidas. Memória é tudo aquilo de que uma pessoa se
lembra, como também sua capacidade de lembrar, é o processo de aprender,
armazenar e recordar uma informação. É também silenciar e esquecer.
A substância do trabalho do museólogo passa pela produção da informação,
da cultura e da história, por isso a nossa preocupação com o testemunho, o
documento dos “objetos” museológicos. Tal substância implica a preservação
destes pelo seu significado, com isso os museus se tornam “lugares de memória”,
assim denominados pelo historiador Pierre NORA (1993). Realmente, a
preservação do bem cultural proporciona a construção de uma “memória” que
permite o reconhecimento de características próprias, ou seja, reafirma a identidade.
Uma não está dissociada da outra já que a sua junção é que promove o
fortalecimento de uma consciência histórica; é a memória que promove o diálogo e a
tradição, como uma transferência de conhecimento, e assim percebemos que o
museólogo é um trabalhador social, e não pode recusar a dimensão e o risco político
inerente à sua atuação profissional.
O suporte teórico para a discussão deste tema são advindos de autores das
áreas da Antropologia, como CANCLINI, Política Cultural, TEIXEIRA COELHO,
História, LE GOFF e NORA, Sociologia, HALBWACHS e Museologia, VARINE-
BOHAN, SOLA, DESVALLÉES, HORTA, CHAGAS.
Hoje, o senso comum questiona, a cada dia, a ação dos museus como
espaço de comunicação e informação, e vê que permanência deles depende da sua
renovação e conseqüente inserção social. O deixar de ser estático e encontrar um
caminho dinâmico; mas não somente o dinâmico usual nos grandes museus, no
caminho dos megaeventos, exposições, desfiles, lançamentos de publicações
dispendiosas, instalações de restaurantes, cafeterias luxuosas, em que a mesma
elite intelectual continua a usufruir destes espaços por puro desfrute do seu
diletantismo.
Na atual Museologia, os museus não se sustentam simplesmente pela
contemplação, mas pela possibilidade da manipulação e até da interatividade pelo
visitante, que passa de expectador a ator. O museu, na atualidade, conduz à
ampliação do conteúdo e a uma finalidade que amplia o aspecto social. O museu se
torna o mediador que se põe entre o sujeito e a informação. Neste conteúdo,
teremos como suporte teórico os autores da museologia VARINE-BOHAN,
DESVALLÉES, VAN MENSCH e HOMULUS.
Na SEGUNDA PARTE: MUSEU INFORMAÇÃO COMO OBJETO, dividida em
três capítulos, passamos a refletir sobre a Ciência da Informação e o conceito da
informação, a Museologia e a relação com a ciência da informação, e a análise da
informação e comunicação museológica produzindo conhecimento, enfocando a
documentação e exposição.
O conceito de informação é abordado como um processo de produção de
sentido, que envolve intenção, comunicação, contexto e concepção do mundo, e o
museu como instituição que tem a intenção de transmitir uma mensagem que reflete
seu sistema de valores e códigos com o objetivo de produzir um efeito modificador
no receptor.
De fato, os museus são instituições de conservação, mas não é somente esta
a sua função, assim como na ciência da informação, a museologia tem a
possibilidade de percorrer os mesmos caminhos na produção da informação e
conseqüente produção do conhecimento.
Assim pretendemos fazer uma leitura informacional dos museus históricos,
que se coaduna com uma proposta da Nova Museologia, e com certeza com o
entendimento da instituição museu como um espaço informacional. Buscaremos
entender as pluralidades e convergências das duas áreas de conhecimento citadas:
a Museologia e a Ciência da Informação.
Nesta pesquisa estaremos principalmente trabalhando a leitura informacional
dos museus históricos de forma transdisciplinar com a Ciência da Informação, no
nível da comunicação da informação, através das suas exposições, entendendo
estas últimas como o modo de o museu “conversar” com o público, tendo o foco
direcionado para a questão de museus em contextos comunitários, em que o seu
papel social pode realmente ser desenvolvido e fortalecido, a partir da produção do
conhecimento, através do entendimento da necessidade da informação que as
comunidades, em questão, possam apresentar, como também entendê-las como
movimentos sociais e como fontes das manifestações populares.
Com esta finalidade, encontramos suporte teórico em autores da Ciência da
Informação, tais como: CAPURRO, SARACEVIC, WERSIG e SHERA, em autores
da Museologia como MENSCH, MARAOEVIC, FERREZ, CASTRO e ROCHA, e na
História, como LE GOFF.
Finalizamos as reflexões com a TERCEIRA PARTE: MUSEU UMA LEITURA
INFORMACIONAL, dividida em três capítulos: o museu como produção de
conhecimento, o território museu como espaço autêntico e as estratégias
museológicas para século XXI, a análise de dados do Museu do Ouro.
O ambiente empírico da pesquisa considera o Museu um espaço autêntico de
serviço público de direito, e de caráter informacional, através de um processo
comunicacional e pedagógico, pois somente assim as estratégias governamentais
poderão atingir seus objetivos no nível da ação cultural, diferente da animação
cultural.
O museu histórico em contexto comunitário é o foco da pesquisa, passando
pelo perfil do seu sujeito e as necessidades de informação deste para que a
produção de conhecimento ocorra. Os museus em cidades coloniais de pequeno
porte, no interior do estado de Minas Gerais, são intérpretes da verdade de uma
região e trazem em si uma carga cultural que os liga à gente da terra, às suas
tradições, ao seu modo de ser.
O suporte teórico deste capítulo para análise das políticas culturais, e a
museografia está em antropólogos como CANCLINI, NOGUEIRA, ORTIZ,
museólogos como VARINE-BOHAN, DESVALLÉES, VAN MENSCH, HOMULUS E
CHAGAS, teóricos da comunicação SFEZ, MARTIN-BARBERO, bem nos teóricos
de política cultural como TEIXEIRA COELHO.
Nas considerações finais afirmamos que pretendemos ser este trabalho uma
contribuição para o estudo dos museus históricos em contextos comunitários e para
a ocorrência do processo da informação na produção do conhecimento ao para o
sujeito focado na comunidade em que está inserido, tendo uma leitura informacional
dos espaços informacionais (que são os museus), na busca da interface com a
Ciência da Informação, na linha de pesquisa da Informação, Cultura e Sociedade, e,
nos baseando no princípio da interdisciplinaridade, na INFORMAÇÃO como objeto
de trabalho, característica inerente tanto à Ciência da Informação quanto à
Museologia.
1ªPARTE – MUSEU: OBJETO DE ESTUDO
“Os museus devem ser processos e estar a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento. Comprometidos com a gestão democrática e participativa, eles devem ser também unidades de investigação e interpretação, de mapeamento, documentação e preservação da cultura, de comunicação e exposição dos testemunhos do homem e da natureza, com o objetivo de propiciar a ampliação do campo das possibilidades de construção identitária e a percepção crítica acerca da realidade cultural brasileira”.
Política Nacional de Museus – MINC, 2003.
1. CULTURA, MUSEU E MUSEOLOGIA
“Mas é que o verdadeiro museu não ensina a repetir o passado, porém a tirar dele tudo o quanto ele nos dá dinamicamente para avançar em cultura dentro de nós, e em transformação dentro do progresso social”. ANDRADE (apud LOURENÇO, 2002)
Apesar de muitos dos profissionais da Museologia contemporânea tentarem,
através da atuação e militância, aplicar o binômio de integração:
comunidade/museu, uma visão tradicional, pela via do senso comum, ainda
sobrevive, contrapondo-se às mudanças de percepção do mundo e, nesta visão, em
que o social ainda não é privilegiado, questões como o bem cultural e a cidadania
ainda são entendidos de forma elitista e excludente, e percebemos a atualidade do
pensamento de Mário de Andrade.
E observamos, desta forma, uma abordagem reducionista que fixa o objeto de
estudo da área no aspecto institucional, fazendo compreender a Museologia como o
estudo dos museus, e os museus, lugares abertos à visitação pública, destinados à
guarda e à conservação dos artefatos culturais.
A originalidade do nosso estudo provém do fato de que as pesquisas a ele
relacionadas têm um caráter incipiente no Brasil, os estudos específicos sobre
museus históricos, de caráter local, seu público e suas necessidades de informação,
ainda se encontram numa fase embrionária, sendo pouca ou praticamente
inexistente a preocupação com o público de museu no nosso país.
Com isso, o museu passa a ter uma oferta (exposições, programas
educativos, etc.) que pouco ou nada atende à demanda (necessidade do público de
informação no museu), e assim o museu tende a permanecer fechado na sua “torre
de marfim”, com o pessoal especializado atendendo apenas seus pares. Isto
implicaria em, pelo menos, o museu desenvolver o eixo da pesquisa acadêmica,
mas os museus brasileiros não têm isto claro, e quanto ao eixo educacional, este
ainda carrega resíduos positivistas.
A “torre de marfim” é percebida com toda clareza pela museóloga e teórica da
ciência da informação Ana Lúcia Siaines de CASTRO (1995) quando se propôs a
refletir sobre o museu, sob o horizonte dos conceitos de: “SAGRADO”
“A ordem sacralizante da conjuntura museológica, reverenciadora, velada, sedutora enquanto expressão simbólica de poder, funciona como espelho narciso de uma camada social, por sua inalcançabilidade acatada como determinação legitimadora, inquestionável. Este universo do fascínio no qual se manifesta a sacralização museológica encerra enquanto questão sua decorrência: a incomunicabilidade.” (CASTRO, 1995)
e de “SEGREDO”, conceitos estes que segundo a teórica se caracterizam como os
pilares básicos da perenidade do museu.
”A informação contida no objeto não chega ao usuário de museu por estar envolvida no segredo, no silêncio da exposição, no sigilo da reserva técnica, no ocultamento documentário.”(CASTRO, 1995)
Sendo assim, queremos apresentar na primeira parte desta dissertação o
museu como objeto de estudo, e para isso se faz necessário apresentar a definição
de Museus. Neste caso, utilizamos a usada pelo ICOM 3, em seu estatuto:
“(...) uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento, aberta ao público, e que adquire, conserva, pesquisa, comunica e expõe, com a finalidade de estudo, educação e lazer, os testemunhos materiais do homem e de seu meio ambiente”.
Hoje, o senso comum questiona, a cada dia, a ação dos museus como
espaço de comunicação e informação, a sua permanência depende da sua
renovação e conseqüente inserção social, o deixar de ser estático e encontrar um
caminho dinâmico; mas não somente o dinâmico usual nos grandes museus, no
caminho dos megaeventos, exposições, desfiles, lançamentos de publicações
dispendiosas e outros.
3Estatutos do Conselho Internacional de Museus, 1995.
No nosso entendimento, os museus além da sua tipologia: histórico, artístico
e ou científico devem ser reconhecidos pelo espaço físico-geográfico em que estão
inseridos, para que sejam tratados em suas especificidades. A partir da nossa
experiência de vinte anos de atividades com o patrimônio cultural do Estado de
Minas, defendemos um museu em ambiente comunitário que possa ser
compreendido na sua potencialidade de serviços, diferentes, como um museu de
centros urbanos, tais como: Rio de Janeiro ou de São Paulo. Acreditamos que os
museus devam ser compreendidos pelo seu contexto social, político e econômico,
assim, dando maior espaço à democratização do patrimônio cultural, a partir da
sociedade.
E, nesta dissertação trabalhamos com o conceito de museu histórico
apresentado pela socióloga (FONSECA, 2001).
“Entendemos por museus históricos aqueles museus que referem um recorte temporal, periodicidade, sendo que a temporalidade é referida nos acervos museológicos por meio de uma organização específica de objetos e documentos que funcionam como testemunhos, ou por meio de registros iconográficos, sonoros ou audiovisuais”.
O recorte do presente trabalho pauta-se pelo Museu do Ouro, estudado sob
dois aspectos: informação x comunicação.
Criado em 1945, teve como compromisso primeiro a preservação de acervo
nacional, de caráter regional, e se refere a um recorte temporal, periodicidade, neste
caso uma história local, mas com articulação com a história nacional com o objetivo
de promover a construção da identidade cultural do país.
A opção em proceder ao estudo dos museus históricos em Minas Gerais
impôs-se porque acreditamos, e pensamos em discorrer, apoiada em teóricos das
áreas de museologia, história, antropologia e ciência da informação, que estando
fora dos grandes centros urbanos e inseridos em regiões que guardam uma
identidade cultural bem peculiar do interior do país, se possa fazer uma nova
interpretação museológica tendo a ciência da informação como suporte teórico e
aplicativo para essa discussão. Os espaços geográficos, físicos e históricos deverão
ser contextualizados para podermos ter uma melhor compreensão da necessidade e
da prática informacional.
A Museologia brasileira tem uma formação embasada nos teóricos da
Museologia originários da Europa e Canadá, bem como nos profissionais da
América Latina o que caracteriza uma forte preocupação com a função social dos
museus, e esta preocupação também encontramos na fala do teórico da Ciência da
Informação, WERSIG (1997).
“Os museus são meios de comunicação dotados de vital importância para a pós-modernidade e devem se adaptar ao futuro da sociedade da informação mudando radicalmente seu modo organizacional, como: um produtor de cultura, uma instituição inserida na sociedade, e um componente na estrutura de transmissão de conhecimento”.
Entendemos que os museus históricos em Minas Gerais, por estarem
inseridos em municípios de pequeno porte, possuem um diferencial na produção da
informação e transferência do conhecimento em relação aos grandes museus dos
centros urbanos, pois se ligam à identidade cultural destes locais; e embora sofram
toda influência externa da mídia impressa e/ou televisiva, com certeza, guardam as
tradições locais, tornando-as um forte componente na preservação desta vida
cultural, como afirma o museólogo francês, com larga experiência em trabalhos na
comunidade do seu país, VARINE – BOHAN (1987), “(...) não a vida cultural
reconhecida das sociedades pós-industriais de classes sociais que detêm o saber, o
poder e o ter”.
Podemos perceber que o museu, enquanto instituição pública está com
certeza longe de cumprir seu papel social junto à sociedade, pois a “oferta e a
demanda da informação”, assim analisadas por BARRETO (2004) estão em situação
proporcionalmente inversa, sendo mais clara, a oferta, ou seja, os serviços do
museu são de baixa qualidade, e a demanda, está entendida como a necessidade
do público do museu, que numa sociedade atual tende a crescer num ritmo
acelerado e frenético, o que significa que a “oferta” não atende à “demanda”, e
assim se torna impossível estabelecer qualquer relação de diálogo entre a instituição
Museu e a Sociedade, pois com certeza esta instituição ainda se encontra fechada
ao diálogo.
Inicialmente trabalharemos com os conceitos que são fundamentais para o
entendimento da função do Museu na sociedade, que são CULTURA, IDENTIDADE
E MEMÓRIA, em se tratando de museus históricos em contextos comunitários, o
discurso que permeia seu diálogo com a comunidade é produzido e comunicado por
meio das suas exposições, como se pode observar no entendimento de SHANKS &
TILLEY (apud MENEZES, 1987).
“A exposição museológica pressupõe, forçosamente, uma concepção de sociedade, de cultura, de dinâmica cultural, de tempo, de espaço, de agentes sociais [...].”
O nosso ponto de partida da reflexão sobre o processo e a prática
informacional nos museus será o entendimento de que esses são instituições
culturais inseridas em determinados contextos históricos e sociais, tendo uma
prática específica da área, entendendo que a idéia de cultura encerra em si a
questão da proteção que é inerente à noção de patrimônio. Os conceitos de cultura,
identidade e memória serão trabalhados a partir da Antropologia, com o apoio da
História e da Museologia.
1.1 Conceito de Cultura na Museologia
A sociedade atual possui duas características bem marcantes, voltadas ao
desperdício e ao consumo, comportamento que pode levar à destruição do indivíduo
bem como das comunidades de modo geral, e essa conscientização pode ser
desenvolvida pelo conceito de cultura, já que etimologicamente a palavra significa
cultivar, cuidar, proteger, velar por. O cultivo da terra não significa a sua exploração
até a exaustão, mas, sim, a preocupação com as suas condições no futuro.
O conceito de cultura para o museólogo é o fazer e o viver cotidiano; cultura é
o trabalho do homem em todas as suas manifestações e aspectos, e a relação do
homem com seu meio, com os outros seres, incluindo-se os outros homens, assim
percebe-se a produção histórica, no conceito de cultura que CUCHE (2002)
apresenta,
“Se a cultura não é um dado, uma herança que se transmite imutável de geração em geração, é porque ela é uma produção histórica, isto é, uma construção que se inscreve na história e mais precisamente na história das relações dos grupos sociais entre si.”
Cultura é a projeção em que o homem se realiza; ou melhor, a atividade em
que ele se realiza. Cultura é percepção, experiência, expressão; cultura é o mundo
vivido e presenciado pelas ações e representação dos sujeitos em sociedade.
A partir desta conceituação encontramos um desdobramento na fala de
(COELHO, 1999), que define Cultura como:
“Estado mental ou espiritual desenvolvido; no processo que conduz a esse estado, de que são parte as práticas culturais e nos instrumentos desse processo, como cada uma das artes e outros veículos que expressam ou conformam um estado de espírito ou comportamento coletivo”.
Nesta linha de pensamento também encontramos a definição de cultura do
antropólogo Victor HELL (1989), e podemos perceber como estabelece uma relação
com os contextos comunitários, e que talvez possa ser o caminho para os museus
históricos nestes espaços geográficos e sociais.
“... a cultura permanece viva graças a homens até muito simples, sem pretensões culturais, sem conhecimentos especializados, mas que trazem em si princípios e valores essenciais, que estão prontos a defender, arriscando suas próprias vidas. Nenhum banco de dados, nenhum sistema de informática, pode ditar a escolha e o comportamento adotados por eles como que por instinto, porque compartilham do consenso do invisível que, além das coisas sensíveis, constitui a vida secreta de uma cultura”.
O museu tem, como objeto de trabalho, a cultura que representa o passado, e
aí ele possui um caráter preservacionista, mas isto não significa que a preocupação
seja somente o passado, mas sim que na projeção futura, através do patrimônio
cultural produzido, ocorra a valorização e evidenciamento da cultura, em último
caso, o fortalecimento da consciência do sujeito. Em outro momento, o museu
também tem como objeto de trabalho a cultura em produção, aquela que está em
processo de formação, e assim o presente está se relacionando com o passado, e
ainda podemos entender que o museu gera cultura, e tem a pretensão de interferir
na formação da sociedade do futuro. Assim, podemos observar que a museologia
entende a cultura como a relação do homem e a realidade, entre o homem e o
objeto, e desta maneira quer atuar sobre esta relação e sua transformação.
1.2 A Museologia e os museus: mudança de conceitos
Na definição de Teixeira COELHO (1999) “o museu se apresenta como
instituição nominalmente pública, ou seja, representativa de um segmento do
público, e que tem um papel “mais a definir do que conservar um patrimônio
nacional”, o que significa que há um processo de seleção de acordo com o interesse
político e econômico. Prossegue, dizendo que, “mais a hierarquizar as
manifestações simbólicas dos diversos grupos sociais do que unificá-las, mais a
harmonizar as rupturas entre o passado e o presente do que evidenciá-las”.
Entretanto, percebemos que a posição do pesquisador de política cultural é
pessimista quanto ao desempenho do museu na sociedade atual, embora possamos
concordar, que ainda a maior parte dos museus se encontram neste estágio; pois a
falta de profissionais qualificados nestas instituições faz com que não se perceba, ou
mais precisamente, não se trate o “objeto”, como documento, carregado de
informação semântica e estética que deve ser o intermediário do sujeito.
Este pressuposto com que procuramos trabalhar no entendimento de que
Ciência da Informação receba uma contribuição com esta realidade material no
espaço e tempo, como afirma WERSIG (1997) em contraste com a forte tendência
da área, na perspectiva somente da informação virtual. A Museologia também será
retro- alimentada pelas discussões teóricas da Ciência da Informação dentro da
perspectiva da Nova Museologia, que surge da Declaração de Quebec, Canadá , em
1984
“A museologia deve procurar, num mundo contemporâneo que tenta integrar todos os meios de desenvolvimento, estender suas atribuições e funções tradicionais de identificação, de conservação e de educação, a práticas mais vastas que estes objetivos, para melhor inserir sua ação naquelas ligadas ao meio humano e físico.”
Esta declaração evolui, e um novo movimento museológico surge, fazendo
legitimar estas novas formas de ação museológica, trata-se do Movimento
Internacional da Nova Museologia que se formaliza em 1985, em Lisboa – Portugal,
durante o II Encontro Internacional – Nova Museologia/Museus Locais, sobre a
denominação de Movimento Internacional para uma Nova Museologia, atualmente já
reconhecida como MINOM que atua como uma instituição afiliada ao Conselho
Internacional de Museus – ICOM.
O MINOM apresenta um novo paradigma para a Museologia. A Nova
Museologia se apresenta com um caráter social, enquanto a Museologia Tradicional
é focada nas coleções. O essencial para a Nova Museologia será o aprofundamento
nas questões de interdisciplinaridade e a perspectiva de uma reflexão crítica sobre a
área. Neste momento, a investigação e a interpretação passam a assumir um papel
fundamental no contexto museológico, e o objetivo da museologia deve se transferir
para o desenvolvimento comunitário, e não somente da questão preservacionista de
bens materiais. Espera-se que a museologia passe a se manifestar nasociedade de
forma global, e que suas preocupações englobem questões sociais, culturais e
econômicas. Abaixo reproduzimos o quadro representante da dicotomia entre a
Museologia Tradicional x A Nova Museologia.
QUADRO 1 Paradigmas da Museologia
Museologia Tradicional
(Coleções) Nova Museologia (Caráter Social)
Edifícios Território Coleções Patrimônio Público Determinado Comunidade Participativa Função Educadora Ato pedagógico para o Ecodesenvolvimento.
Fonte: MINOM O espaço institucionalizado, ou seja, museu/cenário ganha reconhecimento
não de quem cria, implanta ou instala um museu, como um “sistema simbólico”
BOURDIEU (1989), e sim o reconhecimento da comunidade, origem e alvo do
museu. É tempo de fazer-se museu com a comunidade e não para a comunidade, e
assim estabelecer a função social do museu, o museu-templo que persiste o
“sagrado” deve passar a museu-forum, assim denominado por CAMERON (1992).
Ao tomarmos o museu-forum como espaço institucionalizado a ser almejado,
o lugar do sujeito no campo da museologia somente seria percebido através da
abordagem “sense making” da teórica da comunicação Brenda DERVIN e para isto
se faz necessário o tratamento deste, respeitando os seguintes atributos,
(FERREIRA, 1997):
• Individualidade - Sujeito tratado como indivíduo e não como conjunto
de atributos demográficos
• Situacionalidade - Cada sujeito se movimenta através de uma única
realidade de tempo e espaço.
• Utilidade da informação – Diferentes sujeitos se apropriam da
informação de maneira própria, e informação é o que auxilia o sujeito
a compreender sua situação Padrões – Analisando as características
individuais de cada usuário, e se intenta chegar aos processos
cognitivos comuns à maioria.
Dentre as inúmeras definições de museologia adotamos no presente texto a
definição da museóloga brasileira Waldisa Russio Camargo Guarnieri (1989).
“A museologia é, em meu conceito, “a ciência do fato museal ou museológico. O fato museológico e a relação profunda entre o homem, sujeito que conhece, e o objeto, parte de uma realidade da qual o homem também participa, e sobre a qual tem poder de agir”. O fato museológico realiza-se no cenário institucionalizado do museu. (Nem é preciso dizer que o fato é, sempre, considerado inserido em um processo).”
Ao definir o homem como sujeito que conhece, a museóloga estaria
afirmando que o sujeito, segundo BOURDIEU (1989), deveria ter um forte capital
cultural? Entretanto, ela acrescenta que “o sujeito que conhece é sempre o
modificador de seu mundo, o criador de artefatos, de relações, de valores, de
símbolos, de significados. É, sobretudo o construtor de sua História que, e ao
construí-la, se faz e se re-faz, enquanto projeto inacabado”.
Neste sentido o sujeito no campo da museologia se coaduna com o sujeito da
ciência da informação em perspectiva sócio-histórico-antropológica, como afirma
MARTELETO4:
“Sujeito filosófico (que representa), Sujeito social (que atua), Sujeito pedagógico (que aprende, ensina), Sujeito histórico (que transforma), Sujeito político (que opta), Sujeito econômico (que produz, consome)”. (MARTELETO, 2003)
Assim, entendemos que o lugar do sujeito no campo da museologia só pode
acontecer através de uma relação aberta, dinâmica, dialética, para que ele se
reconheça nos e através dos objetos que criou e nas e através das coisas da
natureza, às quais ele deu valor pela atribuição de significados.
Nesta constante renovação do sujeito/objeto em ação recíproca, em umas
relações dinâmicas, “catalisadas” pelo espaço institucionalizado, museu/cenário,
igualmente sempre renovado, revivificado, revitaliza-se o fato museológico, que
permite o reconhecimento, a preservação e a comunicação; com isto estamos
querendo dizer da permanência e da reconstrução da identidade dos povos, grupos
ou nações.
Na construção teórica de RÚSSIO (1989), podemos perceber a influência de
DURKHEIM (1975); pois para ela o “fato museológico” é a relação do homem/sujeito
com as coisas/objeto e para o sociólogo, a recomendação era de que os “fatos
sociais” fossem eles mesmos considerados como coisas.
Na Europa, já podemos reconhecer uma preocupação com a “demanda da
informação”, ou como a Museologia define o público de museu, e apresentamos um
exemplo de estudo do usuário, nesta abordagem, realizado pelo Museu da Reina
Sofia – Madri, Espanha, apresentado pelo antropólogo José NASCIMENTO JR.
(2003), segundo uma tipologia de usuários de museus:
4MARTELETO, Regina. Sujeito e Informação. Escola de Ciência da Informação, UFMG. 1º semestre 2003. Notas de aula.
1. Os especialistas – muito pouco, participam das atividades
educativas e não necessitam de mediadores entre eles e a
exposição.
2. Os assíduos – usuários cotidianos do museu e seus serviços, bom
nível de conhecimento e procurando expandi-los.
3. Os esporádicos – os turistas, os cativos – escolares em geral e
crianças, que vão aos museus conduzidos por adultos.
4. Os coletivos – estão entre os esporádicos e os cativos, não iriam
sozinhos.
5. Os que vão – público potencial dos museus.
No Brasil esta prática ainda não é realizada, tem-se apenas a preocupação
com a quantidade de visitantes, e com a arrecadação.
A partir da década de 80, do século passado, os museus brasileiros passam a
contar com uma gama diversificada de profissionais, incluindo-se educadores na
elaboração e desenvolvimento de trabalhos pedagógicos, que apesar de tudo não
atendem satisfatoriamente o sujeito. Assim, sistematicamente, atividades
educativas-culturais se tornam uma realidade nestes espaços culturais, e na prática
cotidiana vislumbra-se para estes profissionais a necessidade da manutenção e
ampliação destas atividades, alicerçadas em um atendimento diferenciado de acordo
com a demanda de público, como: estudantes do ensino fundamental e médio,
universitários, professores, portadores de necessidades especiais, terceira idade,
membros de associações de bairros, e outros.
No último ano, temos percebido um maior interesse no estudo do usuário do
museu, e de fato um estudo bastante apurado está sendo realizado neste sentido
pela educadora e pesquisadora Luciana SEPÚLVEDA5 em relação aos Museus e
Centros de Ciência, e nos últimos anos dissertações e teses realizadas na Ciência
da Informação das Universidades Federal do Rio de Janeiro, e da Universidade de
São Paulo estão atentas a essa questão, mas continuam centradas nos museus do
5SEPÚLVEDA, Luciana. Educadora e pesquisadora especialista em educação e comunicação em museus e em avaliação e estudos de público. Doutora em museologia pelo Muséum National d’Histoire Naturelle de Paris.
eixo Rio – São Paulo, e com certeza esse trabalho se apresenta pioneiro no enfoque
dos museus mineiros, e em contextos comunitários.
O museu é um processo permanente de contextualização; a informação deve
ser apresentada como uma entre outras leituras dos fatos. Assim percebemos que a
sociedade contemporânea deve cobrar dos museus a tarefa de ampliar e renovar os
serviços pedagógicos, oferecendo um conjunto de ações que abarque todos os
públicos.
“O objeto de estudo da museologia é a relação entre o homem (sujeito que conhece) e o objeto (bem cultural) no espaço institucionalizado (cenário)”. (GUARNIERI, 1989)
A Museologia está evoluindo porque o museu também se encontra numa fase
de transição e existe a cada dia um interesse maior nas questões relacionadas ao
patrimônio natural e cultural, e neste podemos, com certeza, incluir os museus, seus
acervos e a ampliação da sua função cultural para a efetiva função social.
Na atual Museologia, os museus não se sustentam simplesmente pela
contemplação, mas pela possibilidade da manipulação e até da interatividade com o
visitante, que passa de expectador a ator. O museu, na atualidade, conduz a
ampliação do conteúdo e a uma finalidade mais social, o museu é o mediador entre
o sujeito e a sociedade.
2. IDENTIDADE, MUSEU E PÚBLICO
Usamos com muita freqüência a expressão IDENTIDADE, e ela nos parece
familiar, convivemos marcadamente com ela que o resultado é semelhante àquelas
coisas, às quais já nos habituamos, mas efetivamente não as conhecemos. E no
museu como a questão da identidade se apresenta? O museólogo Tonislaw Sola
afirma que
“O aspecto dominante da missão do museu é a defesa da identidade, da continuidade de identidade. Se o museu apenas cuida do passado sem ligá-lo ao presente, o nome pejorativo de necrotério cabe-lhe bem”. (SOLA, 1986)
No contexto museológico, a reflexão sobre identidade é um problema crucial,
os museus existem em função dos objetos que contêm, e estes podem se
transformar em idéias e conceitos. Dependendo da forma que estas idéias,
conceitos e sentidos são usados, o museu pode se confirmar em “segredo e
sagrado”, e seu papel é de “templo”; também pode correr o risco de ser
transformado em “fórum”, quando o objeto perde seu valor documental e se
transforma num ícone cultural, e é usado para o reforço de identidade.
Os componentes do conceito de identidade neste trabalho referem-se às
noções de museus, de Museologia e às suas responsabilidades com a sociedade,
tendo, como enfoque, museus históricos, inseridos em localidades com forte
identidade cultural, assim entendido por MAGALHÃES (1983) “O fenômeno da perda
da identidade pode variar de intensidade com que se manifesta, mas sua
disseminação é universal”.
2.1 A identidade e a necessidade do público
Quando falamos de identidade, com certeza, temos que reconhecer o sujeito
como elemento fundamental, aquele que reforça e/ou submete a cultura e a
natureza.
A identidade é um assunto complexo, “e pode ser facilmente um nome
verdadeiro para o objeto museológico”, assim afirma SOLA (1990), considerando
que os museus não devam existir em função dos objetos que eles contêm, mas em
virtude dos conceitos ou idéias que esses objetos ajudam a transmitir, como “dados
de um conjunto de informação museológica, de uma mensagem”, assim entendido
por SETZER (2001).
Sobreviver às mudanças, numa sociedade da informação, com certeza,
resulta numa crise total de identidade, totalidade, na verdade, significa que a crise
não exclui nada, não havendo qualquer área de teoria ou prática que não seja
constantemente sacudida sob a pressão de mudanças fundamentais. As
comunidades sentem necessidade de organizar elementos que ajudem a construir
uma identidade, podendo estar ligada ou não a um território.
Entendemos que o museu em contexto comunitário tem uma relevância. A
proximidade da instituição, o corpo a corpo, pode ser um fator favorável na atividade
museológica, se finalmente o museu considerar a possibilidade de aproximação, o
diálogo, se ele quiser deixar de ser “segredo” e “sagrado”.
O museu entendido como a relação do homem/objeto possui uma dinâmica
que permite, através do reconhecimento, a preservação e a comunicação, e assim
com o vínculo com o passado se forma a identidade, e a sua permanência, bem
como a sua reconstrução, e a sua transformação. A necessidade do público na
afirmação da sua identidade ocorre com a preservação do patrimônio cultural, mas
ele não pode ser estático, pois a musealização do objeto pode gerar um
distanciamento, se não houver o entendimento que este é representativo da história
que expressam os estilos de vida, as relações sociais, os modos de produção, as
artes, ciências e técnicas.
Consideramos que, o lugar do sujeito, no campo da museologia, na era da
informação, estará cada vez mais condicionado às necessidades sociais para a
realização da função social dos museus, que já pode ser observada na proposta da
socióloga portuguesa, Margarida Lima de FARIA (2001), nas suas considerações
sobre a função social dos museus:
1. Necessidade/função identidade As comunidades sentem necessidade de organizar elementos que ajudem a construir uma identidade local, podendo estar ligada ou não a um território.
2. Necessidade/função de sociabilidade Os museus como espaços públicos podem constituir-se como espaço de reativação dessas sociabilidades perdidas, tornando-se espaços de encontro e convívio.
3. Necessidade/função de participação cívica Os museus são dos cidadãos; passa a existir uma maior necessidade de comunicação intercultural, trata-se da existência de uma verdadeira “sociodiversidade”. 4. Necessidade/função de solidariedade Os indivíduos só são solidários quando entendem os “outros”. A informação sobre as diferentes culturas pode fazer do museu um espaço de inclusão. 5.Necessidade/função de inclusão multicultural Contribuição na construção de parcerias entre grupos de cidadãos das mais diversas origens
6.Necessidade/função de informação Informação é um instrumento fundamental para o exercício da cidadania. Os museus que têm a função social como prioridade preocupam-se em expor temas e não apenas coleções. 7.Necessidade/função de aquisição e transmissão de conhecimentos de modo crítico e de acordo com múltiplas leituras.
2.2 O papel do museu na construção de uma identidade
“Assim, por imperfeitos que sejam bibliotecas, arquivos, museus, escavações arqueológicas, pedaços de papel e fragmentos de cerâmica constituem tudo o que podemos consultar para tentar reconstruir os mundos que perdemos. A perda de uma biblioteca ou
de um museu pode significar a perda de contato com um traço vital da humanidade”. (DARNTON, 2003)
O papel do museu é a defesa da identidade, não só da identidade cultural,
mas também a identidade da natureza considerando a definição de museu do
ICOM6, e assim tentando definir a relação entre identidade e Museologia, não a
restringindo a ligação do passado ao presente; considero que a identidade é a “via
vital”, assim definida por SOLA (1990), das coisas e dos humanos; daquele que
construiu o ambiente inteiro e o trouxe até aqui através do tempo, podemos afirmar
que a proteção da identidade é uma questão ética fundamental.
Assim é fundamental lembrar o conceito de identidade e suas características.
A identidade supõe a alteridade (condição de ser o outro) em duplo sentido. A
relação com o outro no interior de um mesmo conjunto ao grupo, consideramos
como referência para a avaliação das características, através das quais, em um
contexto de diversidade, as igualdades ou as analogias se afirmam, e a relação com
o outro no exterior do conjunto ou do grupo cuja alteridade se afirma enquanto
diversidade, desigualdade, heterogeneidade.
Em sentido intrínseco, a identidade supõe referências ao uso, como
parâmetros para melhor conhecer o igual ou o semelhante. É preciso pensar os
pontos de convergência desta identidade, que se reconhece em relação a seu
semelhante, seja ao nível do indivíduo, seja ao nível do grupo.
A identidade tem um caráter orgânico ou sistemático, mas também uma
consciência coletiva que se exerce ao longo da vida, ao mesmo tempo em que se
renova sempre CAPRA (1996), afirma a percepção do mundo vivo como uma rede
de relações, numa escala de grupos ou sociedades.
Acreditamos que o sujeito sempre responde à informação apresentada nos
museus, seja ela positiva ou negativa. A informação recebida tem o poder de afetar
as mútuas relações porque vai sempre modificar a identidade pessoal, considerando
que o “sujeito que conhece é sempre modificador do mundo” (RUSSIO, 1990).
6Conselho Internacional de Museus.
3. MEMÓRIA, MUSEU E HISTÓRIA
“... operação coletiva dos acontecimentos e das interpretações do passado que se quer salvaguardar, se integrar [...] em tentativas mais ou menos conscientes de definir e de reforçar sentimentos de pertencimento e fronteiras sociais entre coletividades de tamanhos diferentes: partidos, sindicatos, igrejas, aldeias, regiões, clãs, famílias, nações etc.” ( POLLACK, 1989)
Ao longo da história da humanidade, o conceito de memória e como esta
funciona têm sido um estudo importante para a filosofia e a ciência. Tal conceito vai
se modificando de acordo com a necessidade das suas funções, utilizações e
importância social, e desta forma a memória foi e continua sendo explicada de
acordo com a época; com certeza é construída com os conhecimentos que o ser
humano detém, no seu espaço e tempo histórico.
O poeta Cícero explica a memória fazendo uma analogia com as marcas
deixadas na cera pelos homens. Atualmente muitos utilizam a metáfora do
computador para explicar como a memória dos homens funciona. Na mitologia
grega, a memória era uma deusa, Mnemosine, mãe das Musas, e protetoras das
artes e da história, e que, unida a Zeus, gerou as novas musas, divindades
responsáveis pela inspiração poética. E é do seu nome que se origina a palavra
Museu.
A memória era considerada um dom que deveria ser exercitado, mas, na
verdade, memória é tudo aquilo de que uma pessoa se lembra, como também sua
capacidade de lembrar; é o processo de aprender, armazenar e recordar uma
informação. A memória não é uma “faculdade passiva” , como afirma Teixeira
COELHO (1999). É uma forma de organização, o que conduz também ao papel da
Ciência da Informação, que a partir de fragmentos se organiza em um todo.
Ainda na antiguidade, os romanos consideravam a memória indispensável à
arte da retórica, ou seja, o uso da linguagem seria um reforço ao convencimento, e a
emoção dos seus ouvintes já estaria trabalhando a memória oral. Na Idade Média, é
a memória ligada à questão litúrgica, e à comemoração dos acontecimentos e
milagres, e o tempo é marcado por datas precisas de louvores aos santos e
mártires.
Isto muda com a invenção da imprensa, pois a sociedade que se baseava na
transmissão oral dos saberes relacionados ao trabalho e à vida em grupo, se
transforma a partir do surgimento de novas ocupações do trabalho e da vida
cotidiana, e com isto ocorre uma demanda dos registros, nunca antes vista, e esta
proliferação da informação continua em ritmo alucinante, fazendo que mecanismos
cada vez mais sofisticados surjam para a guarda e a disseminação de memória, em
textos, imagens, e, no caso dos museus, em objetos.
A memória nos dias atuais tem ganhado outras conceituações, bem como seu
funcionamento tem aportes teóricos nas ciências físicas e biológicas, além das
ciências sociais. Entende-se que para haver memória deve ter passado, e que este
com certeza passa por um processo de retenção, esquecimento e seleção.
Encontramos na ciência social a relação da memória individual ao meio
social, o que é fundamental para o desenvolvimento do trabalho, pois são os relatos
individuais é que farão surgir à memória local, em que está inserido o museu a ser
pesquisado.
A memória não é história, é sim o que registramos em nosso corpo, a
construção do que lembramos. É seletiva por excelência, pois guardamos tudo
aquilo que, por um motivo ou por outro, tem ou teve algum significado em nossas
vidas. A substância do trabalho do museólogo passa pela produção da informação,
da cultura e da história, por isso a nossa preocupação com o testemunho, o
documento dos “objetos” museológicos. Tal substância implica a preservação
destes pelo seu significado, com isso os museus se tornam “lugares de memória”,
assim denominado por Pierre NORA (1993).
Realmente, a preservação do bem cultural proporciona a construção de uma
“memória” que permite o reconhecimento de características próprias, ou seja,
reafirma a identidade. Uma não está dissociada da outra já que a sua junção é que
promove o fortalecimento de uma consciência histórica; é a memória que promove o
diálogo e a tradição como uma transferência de conhecimento, e assim percebemos
que o museólogo é um trabalhador social, e não pode recusar a dimensão e o risco
político inerente à sua atuação profissional.
3.1 O desenvolvimento da memória
“Qualquer recordação, ainda que seja pessoal, existe em relação a um conjunto de noções que nos dominam mais que outras, com pessoas, grupos, lugares, datas, palavras e formas de linguagem, incluindo com razões e idéias, é dizer, com a vida material e moral das sociedades que fazemos parte.” (HALBWACHS, 1994)
A partir desta afirmação do sociólogo francês Maurice HALBWACHS (1994),
podemos considerar que a memória é uma articulação social, a partir da qual se
estabelecem as questões do espaço, tempo e linguagem, o que, com certeza
implicará na rememorização individual e/ou coletiva. Qualquer indivíduo carrega
lembranças e este interage com a sociedade, assim, a memória individual sempre
remete a um grupo e a instituições. O desenvolvimento da memória tem sempre o
“outro” com um papel fundamental, sendo que nas relações é que se constroem as
lembranças, e mesmo que este não esteja presente, ela se alimenta o tempo todo
de várias memórias que ocorrem nos diversos grupos.
Os espaços têm uma relação importante para o desenvolvimento da memória;
tanto a individual quanto a coletiva têm nos lugares uma referência importante na
sua construção, mesmo que esta não seja uma condição para a sua preservação.
Os lugares sofrem mudanças, mas não deixam de ser referência na memória
individual ou coletiva, e ela é importante já que funciona e garante o pertencimento a
um grupo social, que ao compartilhar essas lembranças garante o sentimento de
identidade do ser individual, que por sua vez sedimenta o campo histórico, do real e
também do campo simbólico.
Esta se modifica de acordo com a nossa posição e com as relações que
estabelecemos no decorrer da nossa existência, e assim há sempre uma
retroalimentação da memória coletiva e histórica fazendo dela um crescimento
constante.
A memória tem o caráter social e um dos seus elementos mais importantes é
a linguagem, sendo através desta que os membros de um grupo fazem as trocas,
lembrando e narrando, e assim produzirão a redução, a unificação e aproximação no
mesmo espaço histórico e cultural.
A memória também pode ser desenvolvida para decidir sobre o que deve ser
lembrado, bem como o que deve ser esquecido, e isto integra o mecanismo de
controle de um grupo, classes e indivíduos e pode ser observado nos programas
curriculares, na escolha de datas que devem ser comemoradas, de fatos históricos
que deverão ser rememorados.
A memória individual e coletiva estabelece algumas relações com a memória
histórica, que é definida em livros didáticos, e que por muito tempo foi determinada
por grandes movimentos, e sempre a história do dominador sobre o dominado. No
século passado, a história dá uma guinada, e passa a dar ênfase aos grupos
minoritários, à vida cotidiana, à história das mentalidades, e assim a memória
coletiva passa a ser um foco importante de estudo.
As memórias individual, coletiva e histórica se relacionam o tempo todo. As
duas primeiras estão sempre em embate para serem reconhecidas como memória
histórica, todas, com certeza, são importantes para o sujeito, para o grupo. Embora
a individual e a coletiva tenham na oralidade o seu transporte, enquanto que a
histórica tem a precisão do registro, o objeto/documento, que é fundamental na sua
preservação e disseminação.
3.2 O objeto museológico como materialização da memória
Entendendo que a memória seja um marco social, e que este possa ser
caracterizado pelo espaço, tempo e linguagem, fica clara a sua importância nas
atividades museológicas, mais especificamente na questão da comunicação e
representação museológica, em que se caracteriza a exposição.
O objeto museológico como materialização da memória permite a ilusão de
não mudar através do tempo, mantendo intacto, sem passar pelo envelhecimento
inerente à natureza humana, já que a conservação deste, o faz atravessar o espaço
e tempo, e a sua linguagem pode fazer dele um objeto simbólico de uma
temporalidade.
O museu é memória. Esta com certeza é a afirmação mais comum e imediata,
pois os políticos, gestores e boa parte dos cidadãos valorizam a função dos museus
como elementos que garantem a possibilidade de promover, bem como a de
recuperar a memória. Entretanto, os estudos historiográficos locais, regionais e
nacionais fazem referência à memória, através dos seguintes adjetivos: memória
histórica, memória coletiva, memória da humanidade.
Segundo NORA (1986) a memória nacional pode ser dividida em:
• Memória Real – memórias do Estado, de caráter religioso, político, simbólico,
historiográfico, genealógico.
Ex: As grandes crônicas da França
• Memória Oficial, Protetora e Mecenas – expressão pura da memória –
Estado, monumental e espetacular dupla vocação política x artística.
Ex: Museu do Louvre
• Memória Nação – monumento capital da memória propriamente nacional, a
nação toma consciência dela mesma como Nação. Memória nacional nas
dimensões jurídica, histórica, econômica e geográfica.
Ex: “Lugares de memória” (museus, sociedades, escolas, arquivos,
bibliotecas).
• Memória – cidadão
Memória de massa, democratizadora.
• Memória – patrimônio
Bem comum e uma herança coletiva, todos os objetos testemunhos do
passado nacional; a transformação patrimonial de memória se exprime também no
retorno aos episódios mais dolorosos, à consciência coletiva.
Podemos entender a memória coletiva como algo relacionado com a
experiência de grupos sociais, tais como família, nação, através do seu passado; e a
memória histórica pode ser entendida como uma tradição erudita e científica, ela é
analítica e precisa, mas não se pode esquecer que o pesquisador nunca é
totalmente isento já que se trata de um ser social. A memória nacional e a memória
coletiva são assim definidas por ORTIZ (1986).
“(...) a memória nacional se situa em outro nível, ela se vincula à história e pertence ao domínio da ideologia.” “Memória nacional prolongamento da memória coletiva popular.”
“A memória coletiva é da ordem da vivência, a memória nacional se refere a uma História que transcende os sujeitos e não se concretiza imediatamente no seu cotidiano.”
O objeto museológico é uma possibilidade para o exercício da reflexão
histórica, nós o entendemos como um processo cognitivo que pode ser um elemento
agregador da comunidade, já que a sociedade atual não preserva a memória, diante
de um mercado que valoriza o imediato e o efêmero. E como afirma o historiador
MENESES (1997) “a simples durabilidade do artefato, (...), já o torna apto a
expressar o passado de forma profunda e sensorialmente convincente”.
Como o objeto museológico pode ser um suporte da informação? Ele
realmente carrega em si uma gama de informações de caráter histórico? Com
certeza, quando trabalhamos a questão informacional, a primeira propriedade do
objeto é a de natureza físico-química, ou seja, sua forma, peso, cor, material, etc.
Estas primeiras informações podem gerar outras tantas informações, no que
diz respeito ao saber-fazer, que envolve técnicas de trabalho e suas condições, que
permitirão o entendimento da organização social, econômica e simbólica em que ele
foi produzido. É preciso acrescentar que estas informações necessitam de um
aporte teórico externo ao objeto e que fazem um trânsito de mão dupla, para uma
compreensão holística do referido objeto.
O objeto museológico assim como nós possui uma história, uma biografia, é
passível de transformações no decorrer da sua existência. Acreditamos que o
museu seja uma instituição de memória e a recuperação da informação, deve ser
encarada como uma tarefa educativa e cívica, voltada para o futuro, e que o objeto
tem a função de significar o tempo, BAUDRILLARD apud MENESES (1997).
Embora possamos perceber que os museus ainda tendem a tratar o seu
acervo para a produção de discurso, e só desta maneira é compreendida a memória,
pensamos que este deveria receber um tratamento informacional para se tornar uma
fonte de produção do conhecimento, através do entendimento da sociedade que o
produziu.
3.3 Museu Histórico em contexto comunitário
O museu histórico normalmente apresenta-se nas suas exposições, discursos
ou narrativas, de modo a expressar uma leitura informacional e comunicacional do
seu acervo, e entendemos que nele se exige a colaboração ativa do sujeito como
vetor essencial ao desenvolvimento da história. O objetivo principal de tais ações
dele deve ser a interpretação feita pelo sujeito com o permanente desejo de
estabelecer uma relação com seu presente. O museu histórico é dividido conforme a
tipologia seguinte:
• Histórico local, da região ou do município.
• Histórico local, mais articulado com a história nacional.
• Histórico especializado, em torno da história de uma instituição.
• Histórico especializado, que se referem a uma personalidade, com o objetivo
de apresentar ao público sua biografia e/ou sua obra.
• Temas de caráter científico ou técnico, apresentados sob uma perspectiva
histórica, sem necessariamente uma referência à memória local.
O museu histórico que tem como elemento o acervo museológico recebe uma
atribuição que pode ser histórica, artística ou científica. As exposições museológicas
nos museus históricos tendem a ter um caráter evocativo e celebrativo de uma
memória, ocasionando graus diversos de arbitrariedade no seu discurso.
A teórica da museologia, a espanhola Aurora LEON (1986) define o museu
histórico
“pela exposição do material ideológico, narrativo e discursivo dos feitos e mudanças sociais que tenham afetado a história das civilizações.”
Enquanto que para a socióloga Cecília Londres FONSECA (2001), museus
históricos
“são aqueles museus que referem um recorte temporal, periodicidade, sendo que a temporalidade é referida nos acervos museológicos por meio de uma organização específica de objetos e documentos que funcionam como testemunhos, ou por meio de registros iconográficos, sonoros ou audiovisuais.”
O conceito de LEON (1986) é tradicional e mais restrito ainda, ligado à
concepção dos museus no século XIX, que tinham como meta a evocação
nostálgica de um passado histórico, enquanto FONSECA (2001) procura ampliá-lo
considerando a obra humana como expressão de um meio histórico.
Para o historiador José Newton MENESES (2004)
“o museu histórico é um espaço de intermediação institucionalizada entre o indivíduo e objetos materiais”, e complementa esta idéia dizendo que, “o museu histórico, dessa forma, é uma instituição que objetiva a problematização da história e não apenas a exposição de objetos históricos”.
Quando apresentamos as definições destes teóricos, podemos observar a
evolução conceitual nos últimos vinte anos, sobre o papel do museu, e hoje ele se
apresenta como um espaço de conhecimento e compreensão de toda a gama de
atividades da vida indivídual ou coletiva do sujeito, nos aspectos sócio – cultural,
político – econômico, mas para isso, fica claro que a exposição museológica deve
ter uma pesquisa histórica, museológica de peso, bem como a integração com a
questão pedagógica e de comunicação. A proposta da Nova Museologia, que surge
em 1985, apresentada no capítulo 1 deste trabalho, hoje se faz mais presente e
urgente para a democratização da informação e produção de conhecimento no
espaço museológico.
Consideramos que o museu histórico em contexto comunitário possa usufruir
de maneira que, potencialize a compreensão do museu como o território das
discussões e interpretações do saber e do fazer, que o espaço museológico vá além
de um espaço de espetáculo que evoca, celebra e encultura (Teatro da Memória),
conjugando a ação de espaço de trabalho sobre a memória, em que ela seja tratada
como objeto de conhecimento (Laboratório da História), MENESES (1994).
Entendemos que a proximidade física possa ser salutar tanto para a
instituição quanto para a comunidade e que novos ventos soprem a favor da
dismitificação de conceitos cristalizados pelo sujeito, de que museu é local de
guarda de acervos importantes, exóticos e fragmentos sem significados. Meneses
(1994) finaliza o texto Do Teatro da memória ao laboratório da História: a exposição
museológica e o conhecimento histórico, com o seguinte:
“Por isso tudo, talvez o museu histórico já esteja maduro para fazer aquilo que só o museu pode fazer bem, com competência e por vocação (ainda não atualizada): explorar, não sínteses históricas sensoriais, mas a transformação dos objetos em documentos históricos. Em vez de teatro, laboratório, com tudo aquilo de criador que essa idéia contém.”
O espaço museológico de um museu histórico, em contexto, tem a ganhar na
troca permanente de um ambiente de produção do conhecimento, em que as
“práticas, técnicas, crenças, ritos estão tão presentes na vida da sociedade”
(MENESES, 2004). A busca de possibilidades diversas com o acervo pode despertar
a sensibilidade do pertencimento da comunidade, e a consciência da preservação
fará com que a instituição museológica encontre um parceiro que o revigore na sua
gestão, ainda tão cristalizadora que o impede de ser uma estrutura mediática e
pedagógica.
“Isso indica que os museus devido ao meio de constituição: local, materialista, no espaço e tempo são um modo de comunicação muito importante, os recordando as pessoas a importância da realidade no significado do objeto, o tempo e o espaço, em contraste com as novas dimensões virtuais.” (WERSIG, 1997)
O museu histórico deve provocar a interpretação, e quando está inserido num
contexto comunitário, como no caso do Museu do Ouro, numa cidade colonial do
interior do Brasil esta interpretação deveria ir mais além, pela proximidade de sua
comunidade, bem como da sua vivência ainda tão presente no seu cotidiano, e
assim fazemos uso do pensamento de COLUCCIO (apud CANCLINI, 2000).
“É a alma do país. Quando penso em uma salvação possível, vejo que só poderia vir de lá. No interior estão mais seguros a permanência dos valores culturais, o respeito à tradição, e sobretudo, o fato de que as comunidades fazem algo transcendente por eles respeitando sua identidade.”
Os significados dos objetos museológicos perpassam pela memória social,
fornecendo informações através da sua comunicação com o visitante, que deve ser
percebida na estruturação, funcionamento e nas mudanças de uma determinada
sociedade.
2ªPARTE – MUSEU: INFORMAÇÃO COMO OBJETO
“O que faz de um objeto documento não é, pois, uma carga latente, definida, de informação que ele encerre, pronta para ser extraída, como o sumo de um limão. (...). É, pois, a questão de conhecimento que cria o sistema documental”. MENEZES, 1994
4. A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E O CONCEITO DE INFORMAÇÃO
As ciências humanas e sociais consideram a escrita como condição básica e
necessária para o surgimento e desenvolvimento do pensamento lógico e racional;
também consideramos que a Ciência da Informação tem seus primórdios
relacionados com o registro físico do conhecimento, e percebemos, que ela, como a
escrita, tem sua importância na evolução da humanidade que passou a registrar,
estocar e recuperar o conhecimento.
No século XV com a invenção da imprensa, a acumulação da informação se
amplia, mas somente no século XVIII, com a Revolução Industrial, é que ela passa a
ser procurada e necessária quanto à sua qualificação, interpretação e utilização. O
desenvolvimento tecnológico faz com que a circulação da informação tenda a
crescer vertiginosamente.
No século XX, o bibliotecário belga Paul Otlet nascido em meados do séc.XIX
seria considerado um dos fundadores da Ciência da Informação e da
Documentação; na verdade este é um termo cunhado por ele, e que foi utilizado pela
primeira vez para intitular um organismo internacional, Instituto Internacional de
Documentação, nome que substituiu em 1931, o Instituto Internacional de
Bibliografia. Com a produção do livro Traité de Documentation, em 1934, Otlet
amplia a noção de documentação, além do livro, o que de certa forma antecipa a
questão dos novos suportes de informação como portadores de memória.
A Ciência da Informação toma um maior impulso na década de 60 a partir do
desenvolvimento tecnológico, e o conseqüente tratamento da informação passa a
ser visto com um olhar diferenciado pela comunidade científica. No período
compreendido entre 61 e 62, surge a primeira formulação do conceito da Ciência da
Informação, isto como resultado das conferências do Instituto Tecnológico da
Geórgia, nos Estados Unidos, mas conhecido como “Georgia Tech”.
“Ciência da Informação é a ciência que investiga as propriedades e comportamento da informação, as forças que regem o fluxo da informação e os meios de processamento da informação para uma acessibilidade e usabilidade ótimas. Os processos incluem a origem, disseminação, coleta, organização, recuperação, interpretação e uso da informação. O campo deriva de ou relaciona-se com a matemática, a lógica, a lingüística, a psicologia, a tecnologia da
computação, a pesquisa operacional, as artes gráficas, as comunicações, a biblioteconomia, a administração e alguns outros campos.” (SHERA & CLEVELAND, 1977)
Um dos autores da área em questão, SARACEVIC (1996) apresenta o
seguinte conceito, em que ressalta suas características tanto cientítifca, como
aplicativas.
“Ciência da Informação é um campo dedicado às questões científicas e à prática profissional voltadas para os problemas da efetiva comunicação do conhecimento e de seus registros entre os seres humanos, no contexto social institucional ou individual do uso e das necessidades de informação. No tratamento destas questões são consideradas de particular interesse as vantagens das modernas tecnologia informacionais.”
Nos conceitos acima apresentados fica clara a natureza interdisciplinar da
Ciência da Informação, o que vai proporcionar o surgimento de diferentes correntes
e as discussões sobre o seu objeto de estudo, a informação.
4.1 Conceito de Informação
A palavra INFORMAÇÃO se torna popular no século XV após a invenção da
imprensa, e a raiz do termo vem de “formatio” e “forma”, o que transmite a idéia de
moldar algo ou dar forma a algo indeterminado. No pós-guerra se desenvolve o
conceito de informação e este se baseava na metodologia das ciências físicas, já
que seu objetivo era contemplar um conceito matemático que poderia ser medido e
expresso em unidades físicas, próprio da engenharia. É um conceito do teórico
matemático Claude SHANNON, que propôs uma teoria sintática, colocando de lado
a questão semântica que é inerente à informação.
“O que acrescenta algo a uma representação [...] Recebemos informação quando o que conhecemos se modifica. Informação é aquilo que logicamente justifica alteração ou reforço de uma representação ou estado de coisas. As representações podem ser explicitadas como num mapa ou proposição, ou implícitas como no
estado de atividade orientada para um objetivo do recepetor.” SHANNON & WEAVER, 1949)
Entretanto, a física dos meados do século XX chegou ao ponto de mostrar
que o conhecimento não é absoluto, e assim a informação se mostra como
imperfeita que é uma condição humana, e como afirma BRONOWSKI (1992), é o
postulado da física quântica.
A informação como algo subjetivo começa a ser considerada, a partir dos
anos 70 e princípios dos anos 80. Assim os processos de transferência da
informação passam a ser um fenômeno social, e fatores de caráter subjetivo, tais
como as crenças, valores, linguagens, intuição, imaginação, etc., difíceis de serem
medidas pelo método científico quantitativo.
As duas principais correntes consideram a informação, por um lado, como
algo externo, objetivo e tangível. Por outro lado a consideram subjetiva, cognitiva e
situacional e, com certeza, uma não anula a outra, antes, pelo contrário, se
completam e ampliam os horizontes no entendimento da questão informacional.
Buckland (1991) promovendo, uma interface da informação objetiva com
subjetiva, ele a identifica da seguinte forma:
• Como coisa – aquilo que é visto como informativo: objetos,
documentos, textos, dados ou eventos. A sua principal característica é
a sua tangibilidade, sua materialidade.
• Como conhecimento – o que é percebido pela informação enquanto
processo, o conhecimento comunicado. Sua principal característica é a
intangibilidade.
• Como processo – o ato de informar ou a comunicação do
conhecimento ou notícias sobre um fato ou ocorrência.
Atualmente, as teorias parecem abrir as questões semântica e pragmática
dos processos de informação, e novas interpretações apontam dois conceitos
distintos de informação, a incerteza e a entropia, pois que, na verdade, a
interpretação tradicional estaria mais centrada na incerteza, transmissão de sinal
(receptor) associada a seleção de uma mensagem do conjunto de possíveis
mensagens (emissor).
“A informação comporta um elemento de sentido. É um significado transmitido a um ser consciente por meio de uma mensagem inscrita em um suporte espaço – temporal: impresso, sinal elétrico, onda sonora, etc.” (LE COADIC, 1994)
O conceito de informação é abordado como um processo de produção de
sentido, que envolve intenção, comunicação, contexto e concepção do mundo.
Considerando o museu como instituição que tem a intenção de transmitir uma
mensagem que reflete seu sistema de valores e códigos com o objetivo de produzir
um efeito modificador no receptor, apresentamos dois conceitos de informação que
na verdade conversam entre si, na Ciência da Informação.
“Informação (humana e social) é o conjunto estruturado de representações codificadas (símbolos, significantes) socialmente contextualizadas e passíveis de serem registradas num suporte material (papel, filme, disco magnético, óptico, etc) e/ou comunicadas em tempos e espaços diferentes”.(SILVA, 1998)
A informação existe em qualquer sistema que tenha organização, e esta pode
ser estrutural e cinética. A estrutural é a física, um livro, um objeto, um documento,
um átomo. A cinética é transmitida, processada, ao se ler um livro, na observação de
um objeto. Esta é uma visão considerada mais global para o entendimento da
informação, em que se mesclam questões de dados, conhecimento, forças e
influências, como afirma MOLINA (1994).
O enfoque no estudo da informação passa a ser do ponto de vista cognitivo;
há uma ligação forte entre a informação e a comunicação (emissor e receptor); o
processo de informação passa a ser percebido simbolicamente e mediado por um
sistema de categorias ou conceitos.
O sistema de comunicação tem o papel fundamental de dar um significado à
informação que se torna uma etapa do processo da comunicação que é composto
de dois sistemas, o emissor, propósito, linguagem e meio, e o receptor,
predisposição, e conhecimento. A informação se altera quando ocorre o recebimento
da mensagem, pois através da sua absorção pela mente, ela deve produzir o
conhecimento.
O conceito de informação ainda é complexo e muito difícil, podendo ser um
processo de comunicação. Como aquele que comunica, e as formas de
comunicação são as mais diversas com o desenvolvimento das tecnologias, e se
pode conduzir a informação como processo, ato de informar. Informação como
conhecimento é o processo informativo, a redução da incerteza, e a informação
como coisa é a expressa em objetos, documentos, dados que podem gerar
conhecimento e comunicação; Marteleto (1994), formulou o seguinte conceito:
“A informação é ela também uma prática, num contexto sócio-cultural de produção de discursos, representações e valores que informam cada existência, fornecendo a cada sujeito um modelo de competência (cognitiva, discursiva, comunicacional) para dirigir suas vidas, para se relacionar com os outros, com a sociedade.” (MARTELETO, 1994)
Antes o estudo das necessidades e o uso da informação centrado no
intermediário e na instituição eram transferidos para um enfoque ainda mais
subjetivo, o USUÁRIO. Uma das teorias mais significativas da informação é a teoria
do sense making da teórica da comunicação, a americana Brenda DERVIN (apud
MOLINA,1994), que
“define essa atividade tanto como um comportamento interno (i.é., cognitivo), como externo (i.é., atitudes, reações face ao meio social) que permite ao indivíduo construir e projetar seus movimentos, suas ações através do tempo e espaço. A busca e uso de informação, portanto, é central para tal atividade.” (DERVIN, 1983)
Esta teoria não tem o objetivo dar um conceito para informação, mas sim um
novo modelo de busca da informação; para a autora da teoria, a informação não é
objetiva e externa, mas ela é construída pelo seu usuário, e a informação também se
modifica à medida que o mundo se modifica, e nos modifica de forma individual.
5. A MUSEOLOGIA E SUA RELAÇÃO COM A CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO
Nas áreas de conhecimento do Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – CNPq tanto a Museologia quanto a Ciência da Informação
estão inseridas na área da Ciência Social Aplicada, isto em parte já determina a
relação entre as duas disciplinas. E, pensar a Museologia e sua relação com a
Ciência da Informação é entender que ambas possam traçar os mesmos caminhos
na produção da informação e conseqüente produção do conhecimento. A graduação
de Museologia da UNIRIO já estabeleceu esta relação entre a Museologia e a
Ciência da Informação, como podemos observar na sua grade curricular.
• Introdução à Ciência da Informação (obrigatória)
• Representação e Análise da Informação (obrigatória)
• Tecnologias da Informação em Centros Documentais e Culturais I, II, III
e IV (optativas)
• Produção de Base de Dados e Recuperação da Informação (optativa)
Estes dados são esclarecedores e determinantes para que afirmemos que a
Museologia e a Ciência da Informação na sociedade atual devem estabelecer laços
mais profundos e profícuos para ambas, e com esta conceituação pretendemos
fazer uma nova leitura dos museus, que se coaduna com uma proposta dos teóricos
da NOVA MUSEOLOGIA. Estes conceitos como já discorremos na primeira parte
desta dissertação, vão provocar mudanças de paradigmas do entendimento da
instituição museu.
Buscamos entender a pluralidade e convergência das duas áreas de
conhecimento, a Museologia e a Ciência da Informação nos museus, enquanto
espaços plurais e privilegiados de preservação e demonstração de objetos, que
podem ir além nas suas atividades, estabelecendo as seguintes expectativas,
defendidas por NOGUEIRA (2003): “mostrar para conhecer, conhecer para
entender, entender para gostar e gostar para preservar.”
Fizemos uso da relação que SMIT (1999) apresenta sobre as atividades dos
arquivos, bibliotecas e museus, que com a realização do INTEGRAR – 1º Congresso
Internacional de Arquivos, Bibliotecas, Centros de Documentação e Museus,
realizado em São Paulo, no ano de 2002, se apresenta como um marco para a
discussão das áreas envolvidas.
Segundo SMIT (1999) a informação e sua utilização estão distribuídas em três
grandes grupos de atividades:
• Gestão da Memória
Selecionar, Coletar e Avaliar os documentos/objetos e o armazenamento da
informação.
• Produção da Informação Documentária
Representação da informação armazenada e conseqüente produção da informação
documentária (base de dados, catálogos, resumos, guias, etc.)
• Mediação da Informação
Comunicação de informações objetivando uma transferência efetiva da informação
em função das necessidades de informação dos usuários.
O nosso enfoque é a leitura informacional dos museus históricos em
contextos comunitários no nível da MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO, entendida como
a comunicação museológica, através da sua exposição, enquanto modo de o museu
“conversar” com o seu público. Entretanto, não descartamos os outros grupos de
atividades, devido ao entendimento de que eles se relacionam e se complementam
a todo o tempo, na tentativa de abranger a questão informacional de uma maneira
holística.
“As categorias do pensamento humano nunca são fixadas de forma definitiva; elas se fazem, desfazem e refazem incessantemente: mudam com o lugar e com o tempo”. (DURKHEIM apud BURKE, 2003).
O nosso diferencial é o foco da questão informacional e a produção de
conhecimento nos museus históricos em ambientes comunitários, onde a sua função
social pode e deve ser potencializada pela vantagem da proximidade com o sujeito.
Transformar estes espaços informacionais em espaços de troca dinâmica, de
saberes e fazeres em que estes realmente possam ser desenvolvidos e fortalecidos,
a partir do entendimento, da necessidade, da informação e sua produção de
conhecimento junto às comunidades em questão; este talvez possa ser um caminho
de fortalecimento institucional a partir do seu reconhecimento pela sua inserção
social, entendendo o museu como território de discussão dos movimentos sociais e
manifestações populares.
Um dos teóricos da museologia o iugoslavo MARAOEVIC (1995) formaliza o
conceito de informação associado ao museu. O autor considera que, “a museologia
lida com o estudo sistemático dos processos de emissão de informação, contida na
estrutura material da museália”. O museólogo apresenta um modelo teórico para
configurar o objeto museal em três níveis. O primeiro nível é o “objeto como
documento” é o portador da informação através dos dados nele contidos. O
segundo nível é o “objeto como mensagem”, veículo do processo comunicativo
(sujeito x objeto). O terceiro nível é o “objeto como informação”, ou seja, significado
da mensagem para o receptor. Este modelo teórico detalhamos no próximo
capítulo.
Enquanto, o museólogo holandês MENSCH (1990) afirma que o objeto é um
“condutor de informações”, e para a Museologia, a informação não pode ser
separada de seu suporte físico e semântico. Na verdade o museólogo quer chamar
a atenção para o fato de que os museus são instituições de conservação e de que o
objeto museológico por si só não transmite uma informação; ele precisa ser
interpretado, representado.
No decorrer desta pesquisa, na leitura de teóricos da Museologia, História,
Ciência da Informação fica cada vez mais claro que a falha comunicacional dos
Museus está centrada no medo do enfrentamento com o objeto, como documento.
O museu, ao não se reconhecer como um espaço informacional, tem gerado a falta
da organização de um sistema de recuperação da informação, sua difusão, e
contínua avaliação e atualização.
Os problemas de classificação nos museus sempre foram graves, pois não
possuem a tradição das bibliotecas e arquivos. É nos séculos XVI, XVII e XVIII que
crescem os “gabinetes de curiosidades”, que como afirma BURKE (2003), seriam a
expansão da curiosidade, como uma tentativa de administrar uma “crise do
conhecimento” , relativa à ampliação do descobrimento dos vários tipos de objetos, e
á dificuldade crescente de categorizá-los.
A museóloga Ana Lúcia Siaines de CASTRO (1999), com propriedade,
discorre sobre a questão da conjuntura informacional do museu, e aborda a questão
nos seguintes tópicos: o universo do objeto museal como agente de informação e
construtor de significado, e o espaço museológico enquanto narrador autorizado e
referência cultural.
No capítulo 6 apresentamos a informação e comunicação museológica
produzindo sentido. A informação museológica tendo o objeto como documento
como mensagem, como informação, e nela a percepção dos paradigmas atuais da
Ciência da Informação, e os modelos de processo da comunicação no contexto da
exposição museológica.
O distanciamento da museologia brasileira quanto aos avanços
metodológicos e tecnológicos relacionados à informação e sua recuperação acarreta
a falta de um sistema de recuperação e difusão da informação, pois com certeza o
museu não se entende como um prestador de serviço para a sociedade, e isto
provoca a restrição e a imposição de um filtro institucional, o que demonstra como a
comunicação museológica se estrutura de forma a reforçar a sacralização, o que
representa um obstáculo e conseqüente distanciamento social.
Esta consideração encontra eco na fala da museóloga e cientista da
informação Helena FERREZ (1994), a respeito dos acervos museológicos, quando
cita ORNA & PETTITT.
“Na média dos museus, a documentação, por si, não é prioritária, provavelmente porque é invisível. A documentação é produto de várias pessoas: registradores, curadores, conservadores, etc. Por isso, ela varia de acordo com os interesses profissionais, assim como com os pontos de vista pessoais dos indivíduos envolvidos. O resultado é que a documentação dos acervos é, geralmente, muito desigual e raramente integrada num sistema completo”.
A nossa experiência com o problema da documentação museológica e a
implantação de sistemas de recuperação em 20 (vinte) anos de atividades, na área
nos museus do IPHAN, em Minas Gerais, comprovam esta terrível realidade. Esses
museus ainda se encontram com um atraso metodológico e tecnológico de pelo
menos 30 (trinta) anos, por total falta de investimento de recursos humanos e
financeiros.
Esta parece uma situação irreal, quando se entende o museu como uma
unidade de informação, mas como bem afirma FERREZ (1994), uma profissional
que na área de museus e se dedica a essa questão por anos a fio, no Brasil.
“O Brasil não foge a esse quadro e esta talvez seja a razão pela qual tudo o que foi dito anteriormente, apesar de parecer óbvio, não é. A prática da maioria de nossos museus ainda está longe de assegurar que seus acervos e respectivas informações sejam bem documentados e facilmente recuperáveis”.
A atual formação do profissional passa cada vez mais longe desta disciplina,
havendo um foco maior na área museológica, para o Museu produto mercadológico,
e o afastamento da pesquisa, que se torna irrelevante, na ânsia de o museu se
tornar uma “celebridade instantânea”, através da tão famosa e debatida questão da
visibilidade exigida pelo poder econômico, em grandes eventos, mega exposições,
publicações de alto nível visual, mas de conteúdo superficial e/ou duvidoso.
6. A INFORMAÇÃO E A COMUNICAÇÃO MUSEOLÓGICA “Tomando como ponto de partida a fonte de informação museológica, o objeto museal, a informação museológica configura-se enquanto a partir da construção do objeto museal. Como construção simbólica, porém material, a informação não pode ser separada de seu suporte físico e semântico”.(CASTRO, 1995)
A informação museológica, com certeza, é um campo teórico de interesse da
Ciência da Informação. Neste capítulo pretendemos discorrer sobre o assunto,
enfocando o objeto museológico como agente de informação e condutor de
significado, tendo como seu principal vetor a exposição, espaço museológico
representante de um discurso autorizado e referência cultural.
A Ciência da Informação, ao ampliar os seus conceitos e suas análises, tende
a ampliar o universo do objeto de estudo, e assim, insere-se a questão da
informação museológica. Desta maneira, a museologia e suas práticas tendem a
convergir para os princípios da Ciência da Informação, sendo que esta,
teoricamente, procura, a cada dia, potencializar a compreensão das propriedades,
comportamento e circulação da informação. Segundo GONZALEZ DE GÓMEZ
(1994), a museologia comporia junto a Ciência da Informação “um conjunto de
formações de conhecimento”, entende-se que cada área buscaria focos temáticos
ou grandes tópicos e os resultados destes promoveriam a iluminação de suas
práticas e problemas, servindo de eixo para o trabalho museológico.
Como o conceito “OB + JETO” é tudo o que existe fora do homem, aqui visto
como um ser inacabado, em processo, a idéia de que o objeto museológico não é
um fim em si, mas o meio de dizer qualquer coisa, de significar, não é acabada,
como afirma o museólogo MAROECEVIC (1995), e o apresenta em três acepções:
Objeto como documento
O Objeto como documento se caracteriza pelo soma de dados nele contido, é
portador de informação. A partir da afirmação do museólogo Ivo MAROECEVIC
(1995), fica clara a necessidade da estrutura informativa do objeto quanto às
categorias de informação a serem identificadas nos próprios objetos ou em outras
fontes, segundo MENSCH (1990). Na atualidade a Museologia tem se detido nesta
metodologia, mas para isto é necessário o domínio dos conhecimentos teórico e
aplicativo, o que normalmente não é possível, já que os museus continuam sendo
implantados no país, sem os critérios dentro dos princípios museológicos.
Objeto como mensagem
Objeto como mensagem se torna um veículo do processo comunicacional,
promovendo a interação entre sujeito e objeto, e pode ser portador de diferentes
mensagens. Na segunda afirmação do museólogo MARAOEVIC (1995) vincula-se o
significado da mensagem ao receptor. Pensamos o museu enquanto agente
comunicador e emissor de informação, a partir do enfoque de alguns teóricos que
formulam o conceito de museu e o objeto da museologia neste sentido.
DESVALLÉES (1992) enfatiza, na sua concepção de museu, a comunicação com o
público.
Objeto como informação
O objeto como informação está vinculado ao significado da mensagem para o
receptor, à produção de conhecimento, conforme a terceira afirmação do museólogo
iugoslavo MARAOEVIC (1995), e aí se entende que o objeto ao perder sua
funcionalidade original se converte em signo comunicacional e informacional, e a ele
se inferem as leis e bases da Teoria da Comunicação, ou seja: a emissão de
mensagem por parte de um emissor e a recepção desta mensagem por parte de um
receptor, estruturados ambos no objeto, cujo canal, neste caso, é a exposição.
Na Ciência da Informação CAPURRO (2003) define três paradigmas: físico,
cognitivo e social, um paradigma não anula a existência do outro, eles estão
presentes e interagem continuamente. Podemos observar a correlação destes
paradigmas, interpretados pelos teóricos da museologia, tais como MENSCH e
MARAOCEVIC, e estes se inserem nas questões informacionais e comunicacionais
do museu.
6.1 Na informação museológica os paradigmas da Ciência da Informação
Um sistema de recuperação da informação possui uma complexidade na sua
arquitetura, os sistemas de documentação museológica têm a mesma equivalência,
e os seus profissionais necessitam superar vários desafios, tais como: a
complexidade na estrutura informativa dos objetos, no contexto museológico e a
equipe de especialistas necessária. O museu, como espaço comunicacional e
emissor de informação, deve se constituir como um fato científico, e fugir da
contemplação estática e da alienação conceitual, como afirma (CASTRO, 1999).
O museólogo tem o papel de intermediário entre o sujeito e o acervo para que
a informação produza sentido tendo como tarefas básicas: armazenar informações
sobre objetos, individualmente; completar estas informações através da literatura e
de outras fontes documentais existentes, e de registro fotográfico; e torná-las
acessíveis aos usuários (sujeitos), museólogos/curadores, pesquisadores internos e
externos, administradores e público em geral.
Infelizmente observamos que a questão administrativa quanto ao controle do
acervo ainda é o motivo principal para a valorização da documentação, e a
preocupação maior. O papel social do museu ainda não é devidamente importante
na questão do desenvolvimento da informação museológica, ou seja, do museu
como uma unidade de informação prestadora de serviços à comunidade. O objeto
ainda tem sido tratado como algo a compor um cenário, ele não é a principal razão
da existência do museu, ele não é o objeto de trabalho do museu, e assim persiste o
distanciamento em relação à questão social.
Depois de anos a fio, ainda se mantém um documentação museológica
pobremente processada e caótica nos museus brasileiros; entretanto nas exigências
para um maior controle do acervo, depois de perdas irreparáveis, e na necessidade
de profissionalizar a área com documentos legais quanto à questão de aquisição,
tais como: compra, doação, permuta, bem como do empréstimo do acervo, se
percebe-se a tendência de se modificar este quadro nos próximos anos, mas, com
certeza, é imprescindível a qualificação do corpo técnico para a realização desta
atividade.
“Há, entretanto, uma preocupação crescente com o caos documental. A existência de museus cheios de objetos pobremente documentados; as exigências administrativas de maior controle no que dizem respeito aos documentos legais de aquisição e empréstimo de acervo; o surgimento, em muitos museus, do departamento de registro e da figura do registrador; as recentes mudanças na orientação da Museologia/Museografia, tradicionalmente centradas nas propriedades físicas dos objetos, no sentido de preservar também as informações referentes ao contexto dos mesmos; e uma maior consciência do papel social dos museus, são alguns dos fatores que têm levado a se repensar o papel da documentação e dar-lhe a devida importância”. (ORNA E PETTITT apud FERREZ, 1994)
O processo de comunicação no contexto do museu deve ser indagado pela
efetiva troca que relaciona sujeito e objeto, e assim estabelecer a função social do
museu, como afirma CAMERON (1992), transformar o “museu-templo em museu-
forum”. No conceito de museu-forum, as chances de interação ativas entre sujeito,
objeto e museu possibilitam a comunicação e assim a informação produzirá sentido,
convertendo a História em instrumento reflexivo, a Arte em estímulo sensitivo e a
Ciência em inquietação dos sentidos. Nestes aspectos é que acontece a identidade
com caráter orgânico ou sistemático de permanência, de resistência e de
continuidade, impondo suas marcas, seus registros na memória coletiva. A memória
não somente como passado, mas registro do presente e possibilidade do futuro.
A documentação museológica nada mais é do que um sistema de
recuperação de informação, este definido pelo matemático americano Calvin
MOOERS apud SARACEVIC (1996). O termo comum na Ciência da Informação,
desde a década de 50, sendo esta capaz de transformar o acervo museológico em
fontes de informações, de pesquisa científica ou em instrumentos de transmissão de
conhecimento.
“Recuperação de informação é o nome do processo ou método onde um possível usuário de informação pode converter a sua necessidade de informação numa lista real de citações de documentos armazenados que contenham informações úteis a ele. . . recuperação de informação abarca os aspectos intelectuais da descrição da informação e a sua especificação para busca, assim como também quaisquer sistemas, técnicas ou máquinas que sejam empregadas para efetuar a operação“
Os objetos produzidos pelo homem e/ou aqueles retirados da natureza são
portadores de informações intrínsecas e extrínsecas, FERREZ (1994), ou diretas e
indiretas MENSCH (1990), e na Ciência da Informação: objetiva e subjetiva SETZER
(2001).
As informações intrínsecas são aquelas deduzidas do próprio objeto partir da
análise de suas propriedades físicas. As informações extrínsecas são obtidas de
outras fontes, que não o objeto. As informações diretas são aquelas lidas
diretamente no objeto. As informações indiretas as que se referem ao contexto
como fonte, e à documentação, como estrutura de registro destas informações.
6.2 A estrutura informacional dos objetos no contexto museológico
Comparando o material de trabalho de museus e de bibliotecas, constata-se
que de um livro ou de um artigo de periódico, enquanto objetos bibliográficos,
basicamente identificam-se suas informações intrínsecas, quais sejam, autor, titulo e
assunto. Ao contrário, no que tange aos objetos museológicos, dados referentes a
material, técnica, local, data de produção, dimensões, uso, função, significado,
estado de conservação, etc. são igualmente fundamentais. Os sistemas de
documentação museológica têm, portanto, que identificar e manipular um maior
número de categorias de informação.
Além disso, a entrada de dados no sistema não se esgota com o término do
processo de registro e catalogação do objeto recém-adquirido. Ao entrar para o
contexto museológico, como já vimos, o objeto continua a ter sua vida documentada.
Ele muda de lugar, participa de exposições, é restaurado, é referenciado em novas
obras bibliográficas, etc., exigindo que o sistema seja permanentemente atualizado
ou até mesmo retificado, na medida em que novos dados se tornam disponíveis.
O historiador Ulpiano Bezerra MENESES (1994) considera que o
objeto/documento não carrega em si a informação, não tem identidade própria, ele
depende de uma metodologia científica para proceder este resgate; considera que o
conhecimento é que cria o sistema documental, é o profissional da área que fará o
objeto/ documento falar, ou seja, é retórica, mas faz-se necessária a pesquisa.
No museu ao perder seu sentido usual e apreender um caráter simbólico,
acaba sendo natural o culto subjetivo e aurificante do objeto, como afirma CASTRO
(1999) a museóloga e cientista da informação que trabalha a questão da informação
museológica com todo rigor, a partir da Ciência da Informação. De modo geral, o
museu trata o objeto como se ele falasse por si só, como se ele carregasse todo seu
significado, não o compreendendo como documento que o conduz a uma inserção.
A análise informacional da documentação museológica ainda se limita às suas
características físicas, procedências, dimensões, técnica e autoria.
Consideramos que a informação museológica necessita urgentemente da
normatização sistemática e análise metodológica para cumprir seu papel de
intermediária do sujeito. O procedimento rasteiro quanto ao seu trato provoca a
imprecisão e a falta de consistência, acarretando a desordem e a imagem de entulho
que normalmente as pessoas têm do museu.
A função básica de preservar, lato senso, engloba as de coletar, adquirir,
armazenar, conservar e restaurar aquelas evidências, bem como a de documentá-
las. A função de comunicar abrange as exposições, as atividades educativas, as
publicações e outras formas de disseminar informação, enquanto que a de pesquisar
está presente, em maior ou menor grau, em todas essas atividades.
Como podemos perceber o museu constitui um espaço privilegiado para a
produção e reprodução do conhecimento, como denomina BARRETO, (1994) de
“estoques de informação”, tendo a cultura material como instrumento de trabalho.
Com isto precisamos conhecê-lo em seus bastidores, para procedermos à
construção de sua identidade sócio-cultural, sempre levando em consideração uma
postura ética no seu trato.
A partir do enfoque das funções do museu fica claro que estes são
instituições estreitamente ligadas à informação de que são portadores os objetos e
as espécimes de suas coleções. Estes, como veículos de informação, têm na
conservação e na documentação, as bases para se transformar em fontes para a
pesquisa científica e para a comunicação que, por sua vez, geram e disseminam
novas informações.
Neste aspecto podemos ver claramente como a Museologia traz em si as três
características gerais que constituem a razão da existência e da evolução da Ciência
da Informação, apresentadas por (SARACEVIC, 1996): interdisciplinaridade,
tecnologia da informação e participação ativa e deliberada na evolução da sociedade
da informação.
Os objetos de museu se tornam documentos, a partir da concepção do teórico
belga Paul Otlet, que no início do século XX englobou a biblioteconomia,
arquivologia e museologia como grandes áreas documentais, e estas apresentam
informações intrínsecas e extrínsecas a serem identificadas, por isto o.conceito de
documento que adotamos – “aquilo que ensina” (doccere) – surge a partir da relação
que se pode manter com o documento/testemunho.
O status de documento alcançado por objetos comuns e anônimos, frutos do
trabalho humano e fragmentos materiais do passado que são produtos e
reproduções de determinadas sociedades ou grupos sociais é que neles são
encontradas marcas específicas da memória, fontes reveladoras da vida de seus
produtores e/ou usuários originais, mas para isso é necessário trazê-los para o
campo do conhecimento histórico e investi-los de significado, a fim de possibilitar a
divulgação e comunicação no campo da informação.
Tendo como pressuposto que objeto é documento e por isso é suporte de
informação, verificamos que o museu tem um grande desafio na preservação do
objeto e na possibilidade de informação que nele está contida, e que o qualifica
como documento; portando para nós profissionais de museus a preservação não se
caracteriza como um fim, e sim como um meio de se estabelecer o processo de
comunicação, como afirma o museólogo e filósofo CHAGAS (1996):
“é pela comunicação homem/bem cultural preservado que a condição de documento emerge (...). Em contrapartida, o processo de investigação amplia as possibilidades de comunicação do bem cultural e dá sentido à preservação (...). A pesquisa é a garantia da possibilidade de uma visão crítica sobre a área da documentação, envolvendo a relação homem – documento – espaço, o patrimônio cultural, a memória, a preservação e a comunicação.”
Neste momento podemos dizer que é imprescindível aos museus a criação de
métodos e mecanismos que permitam o levantamento e o acesso às informações
das quais objetos/documentos são suportes, com isso estabelecendo a
intermediação institucionalizada entre o indivíduo e o acervo preservado.
Processar informações a partir dos dados existentes é da área comum dos
profissionais da chamada Ciência da Informação, e nestes dados, com certeza estão
inseridos os arquivos, bibliotecas, centros de documentação e museus todos
responsáveis pela recuperação da informação, seja ela em favor da divulgação
científica, cultural e social, bem como do testemunho jurídico e histórico. O objeto
museológico carrega dois tipos básicos de informação: semântica e estética.
Os sistemas de documentação museológica ou, como a ciência da
informação denomina “sistema de recuperação da informação”, em linhas gerais se
definem em:
Objetivos
• conservar os itens da coleção
• maximizar o acesso aos itens
• maximizar o uso da informação contido nos itens
Função
• estabelecer contato efetivo entre as fontes de informação (itens) e os
usuários, isto é, fazer com que estes, através da informação relevante,
transformem suas estruturas cognitivas ou os conjuntos de conhecimento
acumulado.
Componentes
• entradas: seleção, aquisição
• organização e controle: registro número de identificação/marcação
armazenagem/localização, classificação/catalogação e indexação
• saídas: recuperação e disseminação
Cabe ao museólogo trabalhar no sistema, armazenando as informações
individuais sobre os objetos, ampliando os conteúdos documentais textuais e
iconográficos e disponibilizar a base de dados para consultas internas e externas. O
museólogo exerce o papel de intermediário entre o homem/sujeito e o objeto/bem
cultural, tornando-se o agente capaz de explorar as potencialidades e estabelecer as
necessidades do acervo, o domínio sobre a informação seja ela manual ou
informatizada gera as seguintes tarefas no seu cotidiano:
• Armazenar informações sobre os objetos, individualmente.
• Completar estas informações através da literatura e de outras fontes
documentais existentes, e de registro fotográfico.
• Tornar acessível ao homem/sujeito: museólogos/curadores,
pesquisadores internos e externos, administradores e públicos em
geral.
A nosso ver, entretanto, além da complexidade natural de todo e qualquer
sistema de informação, os sistemas de documentação museológica apresentam aos
museus brasileiros e respectivas equipes, geralmente diminutas, alguns desafios,
como se verá a seguir.
Teórico da museologia, o holandês Peter van MENSCH é o pioneiro a tratar
de forma sistemática a questão da estrutura informativa do objeto museológico com
sua proposta para a documentação museológica:
A informação museológica em três etapas a serem processadas, assim
definidas por MENSCH (1987) líder do Movimento Internacional da Nova Museologia
é o que passamos a descrever.
1ª ETAPA: Propriedades físicas dos objetos (descrição física) a) Composição material b) Construção técnica c) Morfologia, subdividida em:
• Forma espacial, dimensões • Estrutura da superfície
• Cor • Padrões de cor, imagens • Texto, se existente
2ª ETAPA: Função e significado (interpretação) a) Significado principal
• significado da função • significado expressivo (valor emocional)
b) Significado secundário
• significado simbólico • significado metafísico
3ª ETAPA: História a) Gênese
• processo de criação no qual idéia e matéria-prima se transformem num objeto
b) Uso • uso inicial, geralmente de acordo com as intenções do criador/fabricante
• reutilização
c) deterioração, ou marcas do tempo
• fatores endógenos
• fatores exógenos
d) conservação, restauração
No ano de 1987, ao reinterpretar a proposta acima, as museólogas
brasileiras Helena FERREZ e a Maria Helena BIANCHINI, publicaram o Thesaurus
para Acervos Museológicos, pelo SPHAN/PROMEMÓRIA, o que, com certeza, é um
marco para área museológica na questão da recuperação da informação. Além
disso, passa a recuperar o objeto pela sua função, com a clara intenção de valorizar
os temas a serem pesquisados, em detrimento da catalogação tradicional, que
priorizava o conceito de coleção.
6.2.1 Um Eficiente Sistema de Documentação Museológica
Analisadas a complexidade e a riqueza informativa dos objetos museológicos
e os desafios que impõem às equipes encarregadas de sua documentação,
gostaríamos de destacar alguns pré-requisitos indispensáveis ao seu bom
desempenho.
Em primeiro lugar, a noção clara de que documentação, mais do que um
conjunto de informações sobre cada item da coleção é um sistema composto de
partes inter-relacionadas que formam um todo coerente, unitário, que intermedia
fontes de informação e usuários e se estrutura em função do objetivo de atender as
necessidades de informação de sua clientela; em segundo lugar, enquanto sistema
de recuperação de informação, demanda a seguinte série de requisitos:
Clareza e exatidão dos dados
As informações sobre os objetos devem ser claras e exatas, bem como as
mais completas possíveis.
Definição dos campos de informação que irão compor a base de dados do sistema
O sistema não só deve abrigar um número ilimitado de campos de
informação, mas também precisa defini-los de acordo com a estrutura informativa
dos objetos e com as necessidades de informação de seus usuários.
Normas e procedimentos
Regras e rotinas bem definidas são a garantia do fácil acesso e manutenção
do sistema e devem estar consolidadas em manuais de serviço.
Controle de terminologia
O controle da terminologia, na medida em que assegura sua consistência,
impede que informações relevantes sejam perdidas porque vários termos foram
usados para designar uma mesma coisa. Ela se dá através de vocabulários
controlados que variam desde simples listas autorizadas de termos até instrumentos
mais sofisticados como o “thesaurus".
Catálogos
O catálogo geral dos museus, como instrumento de pesquisa, assim como
outros, contendo as fichas catalográficas de cada um dos itens da coleção,
ordenados, normalmente, pelo seu número de identificação, embora armazene os
dados sobre eles existentes, é de pouco valor para a recuperação da informação, na
medida em que só pode ser "acessado" quando se conhece o número do item.
Deve, portanto, estar associado a outros catálogos que possibilitem o rápido acesso
às informações contidas nos outros campos (de autor, de doador, de material, de
técnica, de local de produção, etc.). Devemos lembrar ainda que a maior parte dos
museus brasileiros não possuem acesso à informática.
Numeração dos objetos
O número é a ponte entre o objeto e a sua documentação. A numeração,
portanto, deve ser o mais simples possível e sua legibilidade nos objetos deve ser
checada periodicamente.
Segurança da documentação
Na manutenção do sistema deve estar prevista a segurança da
documentação. A destruição das informações, sobretudo as de natureza extrínseca,
quaisquer que sejam as causas, pode significar a perda definitiva e irreparável da
história dos objetos.
6.2.2 A necessidade do especialista em informação museológica
A identificação das informações intrínsecas dos objetos museológicos requer
o trabalho de especialistas. Ao contrário, mais uma vez, dos documentos
bibliográficos e de alguns iconográficos, a maioria dos demais objetos criados pelo
homem não detém em si, de modo geral, nenhuma informação legível. Não
possuem, por exemplo, uma folha de rosto ou uma legenda para orientar os
museólogos.
Por conseguinte, a descrição física deles impõe conhecimento a priori e a
pesquisa em fontes bibliográficas e documentais com as quais a equipe deve estar
familiarizada, até mesmo para decodificar marcas e algumas assinaturas pouco
legíveis em certos objetos, que funcionam apenas como pistas.
Podemos acrescentar a estas dificuldades a grande variedade de tipos de
acervo existentes nos museus de história, em cujos universos são encontrados
desde botões, alfinetes, paramentos religiosos, chapéus, armas, carruagens,
pinturas, formas de queijo, etc.
É preciso, ainda, identificar as informações extrínsecas que, muitas vezes,
são mais importantes que as intrínsecas, na medida em que contextualizam os
objetos e reconstituem sua história e, por conseguinte, são a razão de sua presença
no museu.
Ora, se a documentação não der conta dessas informações, os museus,
correm o risco de ser repositórios de objetos sem passado, que só poderão ser
analisados e interpretados por suas propriedades físicas, limitando o trabalho da
Museologia, ou da Museografia.
O levantamento das informações extrínsecas, portanto, demanda dos
museólogos, além de conhecimentos a priori e muita pesquisa, um sistema de
documentação capaz de garantir que certos dados sejam obtidos antes mesmo da
entrada do objeto no museu, ou tão logo seja adquirido, se não se quer correr o risco
de perdê-lo para sempre. São, sobretudo, aquelas informações associadas aos
proprietários dos objetos, ao uso que dos mesmos fizeram ou aos lugares ou
eventos de que participaram.
6.2.3 Técnicas de armazenamento e recuperação da informação
Finalmente, um sistema eficiente de documentação impõe, cada vez mais, a
presença de uma equipe conhecedora dos problemas de informação, sobretudo no
que diz respeito à sua armazenagem e recuperação, sejam estas de forma manual
ou automatizada. E, talvez mais do que isso, consciente da necessidade de se
alcançar um sistema transparente, isto é, um sistema em que qualquer membro da
equipe do museu e demais usuários (pesquisadores e público em geral) possam
facilmente "acessar" para obter as informações que desejam, sem precisar passar
pelos meandros de sistemas criados para uso exclusivo de um pequeno grupo e até
mesmo de uma única pessoa. Deve-se ter claro, enfim, que a documentação não é
um objetivo em si mesma, mas um instrumento essencial para todas as atividades
do museu, inclusive as administrativas.
A informação museológica entendida como produção de conhecimento e
redução de incerteza deve ser realizada de forma a estabelecer critérios bem
definidos e racionais, para que a mesma resulte em “estoques de informação”, como
denomina BARRETO (1994), e por este complementado “um instrumento
modificador da consciência do homem e seu grupo”.
Entretanto, para que isto ocorra é necessário que ocorra o processo de
transferência da informação, porque por si só toda a informação selecionada,
armazenada e organizada é estática e não produz conhecimento, assim tomamos as
palavras de BARRETO (1994)
“as estruturas significantes armazenadas em bases de dados, bibliotecas, arquivos ou museus possuem a competência para produzir conhecimento, mas que só se efetiva a partir de uma ação de comunicação mutuamente consentida entre a fonte (os estoques) e o receptor.”
A comunicação museológica nos últimos tempos tem tido um tratamento
diferenciado no espaço do museu e sabemos que esta pressupõe a mediação do
objeto museológico que ao perder seu caráter funcional se transforma em signo
comunicacional e informacional.
6.3 O processo da comunicação museológica
A comunicação museológica se realiza de várias formas e aqui consideramos
dois eixos de extrema importância para a museologia: a documentação museológica
e a exposição. A documentação de acervos museológicos é o conjunto de
informações sobre cada um dos seus itens e, por conseguinte, a representação
destes por meio da palavra e da imagem. Quanto à exposição, esta mídia
museológica é responsável pela interface entre o museu e a sociedade, além da
grande possibilidade da efetivação do compromisso social dessa instituição. Um
museu só contempla o seu papel preservacionista na medida em que comunica,
expondo o patrimônio cultural e/ou natural, do qual é responsável, à sociedade.
No caso dos museus a comunicação se processa tendo como base a
memória, em que ocorre a retro alimentação. Quando o sujeito tenta memorizar e
relembrar, é acionado um processo de comunicação que se caracteriza pela
transmissão e recuperação da informação, mas, para que isto aconteça, é
necessário que exista uma linguagem, que não seja necessariamente a linguagem
verbal, sendo através dela que o pensamento se organiza. Esta linguagem se faz
pela percepção dos sentidos. O objeto museológico se caracteriza como suporte da
memória e deve ser ampliado o seu uso no contexto do museu. São símbolos e
signos carregados de vários significados, tais como: uma ação, um processo, uma
crença, uma idéia são representação de contextos da evolução e criação.
No entanto, se o museu é um espaço informacional, e tem como um
importante objetivo, a comunicação entre o sujeito e a sociedade, qual a linguagem
específica para que realmente este processo ocorra? Quais os códigos que são
utilizados e como serão decodificados? Percebemos que se não houver uma
estrutura lógica e coerente estaremos longe de estabelecer um diálogo em qualquer
atividade a que o museu se propuser, além da questão museográfica7; os objetos
museológicos são repletos de significados, mas só quando forem expostos e
explorados é que ocorrerá o processo da comunicação.
7Exposição museológica em todos os seus aspectos, como: layout, iluminação, segurança, etc.
Os museus, quanto ao estudo da cultura material e sua interpretação, têm tido
várias abordagens no decorrer dos tempos, e estas convivem, de acordo com o
enfoque dado pela instituição museológica. Estes enfoques podem ser
caracterizados da seguinte maneira: Enfoque histórico ou Enfoque histórico – artístico e Enfoque sociológico e histórico cultural ou sócio histórico.
O enfoque histórico ou histórico-artístico é o mais tradicional, mas ainda
persiste na maioria dos museus brasileiros, quanto ao enfoque sociológico e
histórico cultural, ou sócio histórico, uma tendência na área museológica, devido ao
desenvolvimento das teorias da psicologia, sociologia, história e comunicação, na
abordagem da cultura.
A Semiótica, como campo específico de estudos dos sistemas de sinais não
lingüísticos, sua natureza, estrutura e função, com certeza é um instrumento útil na
análise de um sistema de comunicação. Considerando os museus meios de
comunicação de massa, percebemos que os princípios e recursos da análise
semiótica passam a ter uma importância fundamental para a teoria museológica e
sua aplicação.
No museu os signos utilizados pela linguagem museológica são o seu acervo
coletado, preservado ao longo do tempo que detém o significado para a cultura em
geral, e que ao ser apresentado ao público deve transmitir uma informação que
produza conhecimento. A comunicação é fator vital para o museu e somente ao
desenvolver esta função é que a interatividade com o sujeito e a sociedade
acontecerá, e assim ele se tornará um espaço informacional.
O objeto museológico pode estar inserido em contextos dos mais variados,
pela sua existência no espaço e tempo. O que podemos ver numa exposição é um
determinado momento da sua trajetória histórica, e este momento pode ser:
histórico, funcional, material, semântico, e outros.
O objeto, ao perder sua funcionalidade original, se converte em signo
comunicacional e informacional, e como já foi dito para ele convergem as leis e
bases da Teoria da Comunicação, ou seja: emissão de mensagem por parte de um
emissor e a recepção desta mensagem por parte de um receptor, estruturados
ambos no objeto cujo canal, neste caso, é a exposição.
Neste trabalho daremos dando enfoque aos processos de comunicação no
contexto do museu, que são modelos ainda presentes nas exposições dos museus
de todo o mundo, especialmente no Brasil: CONDUCIONISTA OU CONDUTIVISTA e INTERACIONISTA (1º nível e 2º nível).
A museóloga e teórica da educação HORTA (1989) discute sobre os modelos
dominantes de processos de comunicação no contexto do museu, ainda presentes
nas exposições dos museus de todo o mundo, especialmente no Brasil. Ela toma
como base o diagrama do lingüista russo Roman JAKOBSON (1963), que apresenta
os seguintes fatores constitutivos de todo processo comunicativo (Figura 01)
Código
Remetente Mensagem Destinatário
Contato
Contexto FIGURA1: Processo de comunicação – Diagrama de Jakobson Fonte: HORTA, Maria de Lourdes. O processo de comunicação em museus. In: Cadernos Museológicos. Nº1. Coletânea de Textos Técnicos. Rio de Janeiro. Secretaria da Presidência da República/IBPC, 1989.
E a cada um destes elementos corresponde uma determinada função,
respectivamente (Figura 02)
Metalingüística
Emotiva poética conativa
fática
referencial FIGURA 2: Fatores da comunicação determinam funções da linguagem Fonte: JAKOBSON, Roman. Lingüística. Poética. Cinema. Coleção Debates, 22. Ed.Perspectiva, 1970.
6.3.1 Conducionista ou Condutivista
O primeiro conceito de comunicação em museus, “a mensagem comunicada
por um indivíduo ou grupo social para outro indivíduo ou grupo é codificada,
segundo os códigos individuais ou grupais, em um objeto, idéia ou processo e
mediada através da forma e da estrutura desses signos”, é traduzido pela
museóloga e educadora Maria de Lourdes HORTA (1989) que apresenta o seguinte
diagrama (Figura 03)
EMISSOR MEIO MENSAGEM MEIO RECEPTOR Sociedade Forma Objetos Forma Sociedade Comunidade Estrutura Idéias Estrutura Comunidade Indivíduo Processos Indivíduo FIGURA 3: Processo de comunicação em museus – modelo conducionista Fonte: HORTA, Maria de Lourdes. O processo de comunicação em museus. In: Cadernos Museológicos. Nº1. Coletânea de Textos Técnicos. Rio de Janeiro. Secretaria da Presidência da República/IBPC, 1989.
O primeiro nível de comunicação denominado de CONDUCIONISTA ou
CONDUTIVISTA entende o processo da comunicação como a transmissão da
mensagem pelo emissor, por um meio, para o receptor. A forma da mensagem não
pode ser distorcida, apesar disso, o conteúdo da mensagem continua vulnerável
devido à distorção por seus tradutores ou receptores que não dominam o código.
“Evidentemente, ela está sustentada em epistemologia condutista, segundo a qual a iniciativa da atividade comunicativa está toda colocada no lado do emissor, enquanto do lado do receptor a única possibilidade seria a de reagir aos estímulos que lhe envia o emissor.” (MARTIN BARBERO, 1995)
Neste nível ocorre uma relação direta do receptor com a mensagem
(sujeito/objeto museológico), mas a relação emissor/receptor (sujeito/sujeito) é
prejudicada por não acontecer a retroalimentação, o que anula a possibilidade de
ajuste, avaliação, ampliação. O emissor acaba por deter o domínio da situação e o
significado da mensagem, enquanto a situação do receptor é de um elemento
passivo.
Para SFEZ (1991), este nível de comunicação é denominado Comunicação
Representativa em que sujeito e objeto permanecem separados, a mensagem é
enviada por um sujeito/emissor a um sujeito/receptor por meio de um canal, o
movimento da mensagem é linear. A informação é a relação entre o que pode ser
dito e o que é dito, ela tende a ser medida quantitativamente.
“A representação é a única maneira de garantir a realidade do sujeito e a realidade da natureza. A representação assegura a sua coincidência.” (SFEZ, 1991)
Segundo MARTÍN-BARBERO (1995) este nível de comunicação é um modelo
mecânico em que não existem verdadeiros atores, nem verdadeiros intercâmbios,
ele afirma que neste modelo a comunicação se restringe ao envio de uma
informação com significado pronto, fechado de um ponto a outro. O teórico conclui
que neste modelo, a recepção, é somente um lugar de chegada e nunca de partida,
que somente o emissor é detentor da atividade comunicacional.
“O modelo condutista exigia, como condição de rigor e de verdade, a separação radical entre como se estuda o emissor, a mensagem e o receptor prevendo quais disciplinas estudariam cada uma dessas etapas.” (MARTÍN-BARBERO, 1995)
No enfoque CONDUCIONISTA OU CONDUTIVISTA a comunicação se
realiza com a transmissão da mensagem pelo emissor, por um determinado meio,
para o receptor. O emissor possui o domínio da situação e o receptor é o elemento
passivo. O emissor detém o domínio da situação e o significado da mensagem. A
avaliação museológica permite que o emissor ajuste a mensagem e/ou reduza os
ruídos de comunicação, permitindo uma melhor situação de recepção.
6.3.2 Interacionista
O modelo interacionista propõe o papel do emissor e do receptor no processo
de comunicação, ambos passam a interagir. Nos museus os objetos são portadores
de mensagens emitidas para o público através dos profissionais de museus.
A comunicação é a inserção de um sujeito complexo num meio ambiente
complexo. O sujeito faz parte do meio ambiente e o meio ambiente faz parte do
sujeito. A qualidade de atuação nos papéis de emissor e receptor no processo de
comunicação é revista. O emissor emite a mensagem ao receptor que a interpreta a
partir de sua síntese subjetiva, a partir da singularidade que cada um indivíduo
representa. Ambos estruturam e negociam o significado da mensagem, ambos
participam ativamente do processo com as suas recepções e pontos de vista.
Comunicação aqui é entendida como interação. A avaliação museológica estuda os
modos e resultados do encontro da emissão da mensagem. (Fig.04)
1º NÍVEL CÓDIGO (linguagem museológica)
EMISSOR MEIO MENSAGEM MEIO RECEPTOR Sociedade Objetos/signos Sociedade (contexto museológico) Comunidade Comunidade REFERENTES Indivíduo Objetos/artefatos Indivíduo Espécimens/processos Fenômenos/idéias FIGURA 4: Esquema do processo de comunicação em museus – Modelo Interacionista – 1º Nível Fonte: HORTA, Maria de Lourdes. O processo de comunicação em museus. In: Cadernos Museológicos. Nº1. Coletânea de Textos Técnicos. Rio de Janeiro. Secretaria da Presidência da República/IBPC, 1989.
A INTERACIONISTA OU EXPRESSIVA (SFEZ, 1991) pode acontecer em
dois níveis; no 1º nível, o código é a linguagem museológica, através das vitrines,
iluminação. Há maior interação do sujeito, mas prevalece a “teatralização da
memória” expressão usada por MENEZES (1994). É pouco provável que haja a
interpretação por parte do sujeito. A preocupação está na criação de cenários. No
2º nível, o código museológico é especializado, e o espaço das exposições
temáticas passa a ter uma preocupação de informar, através de uma crítica de
momentos históricos, conscientização ecológica, entre outros. Já não há aqui, envio,
por parte de um sujeito emissor, de uma mensagem calculável a um objeto
receptor.(Fig.05)
2º NÍVEL
CÓDIGO: museológico (especializado)
EMISSOR MEIO MENSAGEM MEIO RECEPTOR Expositores Exposições, Público (Museólogos, Publicações, Pesquisadores, Palestras, etc. Designers, etc). REFERENTES Objetos/fatos Espécimes, Idéias, Fenômenos, etc. FIGURA 5: Esquema do processo de comunicação em museus – Modelo interacionista – 2º nível Fonte: HORTA, Maria de Lourdes. O processo de comunicação em museus. In: Cadernos Museológicos. Nº1. Coletânea de Textos Técnicos. Rio de Janeiro. Secretaria da Presidência da República/IBPC, 1989.
Na Comunicação Interacionista existe a possibilidade de um 3º nível, através
da presença da equipe pedagógica do museu, na concepção dos projetos
museológicos e museográficos, e aí poderemos ter uma comunicação
INTERPRETATIVA, usando a denominação de SFEZ (1991)
“se a interpretação faz parte integrante da comunicação e se, por outro lado, referimos essa interpretação à função simbólica na medida em que ela lê e liga os signos entre si pela mediação de símbolos interpretantes, devemos reconhecer que ela se opõe à confusão tautística8.”
Com certeza algumas experiências neste sentido já aconteceram e continuam
acontecendo, o que não é comum devido, a falta de pessoal nos museus, o que não
é problema só do Brasil.
6.4 A exposição museológica como discurso
“Nada pode ser melhor do que um objeto para os estudos humanísticos... Sua existência implica um autor, um usuário, um vendedor e um comprador, e até muitos deles... toda uma sociedade pode estar encapsulada num simples artefato”. NYE (apud HORTA, 1989).
A exposição representante da etapa final de um processo informacional
,desenvolvida pelas atividades de classificação, representação e pesquisa científica
do acervo, é detentora de um potencial argumentativo, estas etapas são definidas
pela Nova Museologia e da Ciência da Informação numa abordagem interdisciplinar
ao valorizar o processo social do objeto/documento desde a sua produção, seleção,
incorporação, organização e transferência informacional.
A museóloga e cientista da informação, Luísa Maria Gomes de Mattos
ROCHA (1999) trabalha quatro aspectos da exposição museológica, considerando
esta como um produto do discurso museológico: interpretação, comunicação, verdade e autoria.
8 A tautologia é um dos vícios de linguagem. Consiste em repetir uma idéia, com palavras diferentes. Sfez usa o termo tautística equivalente a teologia totalitária, que pretende levar ao mundo, todos unidos, o saber, a igualdade (?), a felicidade, (...)
• A interpretação
O desvendar de sistemas de signos do universo da cultura e a construção de
uma versão ou interpretação do problema, tema ou representação. A exposição teria
como objetivo contar uma história que os profissionais de museu entendam e
interpretem para apresentar ao público, a partir da linguagem museográfica. O
estudo interpretativo implica num esforço na aceitação e estudo da diversidade
social e cultural para os museus, mas não podemos nos esquecer de que uma
relação de poder pode estar nesta prática cultural.
• A comunicação
Estabelece o poder do museu de transferir informação e produzir
conhecimento, e conseqüentemente, modelar e/ou modificar opiniões. O processo
de comunicação tem um caráter intencional e reflete a política cultural da instituição
museológica.
• A verdade
É somente uma conjectura possível dentro do atual estado do conhecimento,
e esta verdade só existe na mente do sujeito. O objeto museológico, com seu
caráter físico se torna uma representação de parte do “real”, do contexto histórico
que o originou. As atividades museológicas: seleção, classificação, conservação e
pesquisa necessitam de profissionais qualificados que cumprem o papel de mediar a
informação através da exposição. A verdade para Ciência da Informação nada mais
é do que confiança e credibilidade para que haja efetivamente a comunicação
(SARACEVIC, 1975).
• A autoria
No meio museológico, é assunto complexo já que tradicionalmente os
museólogos têm por formação acadêmica e profissional, o discurso objetivo e o
caráter da neutralidade. Por princípio o museu trabalha com o discurso social, uma
prática museográfica que espera atingir o cognitivo, a evocação de sentidos.
6.5 A comunicação museológica no século XXI
O teórico da museologia brasileira CHAGAS (1999) apresenta na atualidade
uma reflexão sobre a comunicação museológica dividida em três partes:
• Linguagem museal.
• Usos e aplicações da tecnologia museus e as novas tecnologias.
• Processo museológico em relação às linguagens e tecnologias.
6.5.1 Linguagem Museal
A linguagem museal é entendida como o uso, a seleção, a instituição e a
combinação de sinais que possibilitem a comunicação entre os seres humanos. As
idéias de instituição, preservação e seleção de sinais de comunicação podem ser
entendidas como noção de dicionário e as idéias de combinação, arranjo e
arrumação de sinais de comunicação com o campo das estruturas sintáticas.
“Tanto a língua natural quanto os demais sistemas sígnicos são manifestações da Linguagem (...)”. (D’AMARAL apud CHAGAS, 1999)
A supremacia da língua faz calar a linguagem e assim impedir o processo de
comunicação, assim, a vida e a condição humana são ameaçadas.
A “linguagem museal” = “comunicação museal”. Comunicação e linguagem
são processos. O museu é um campo de manifestação da linguagem ou processo
de comunicação, que necessita de certos recursos para ser vivenciado.
Linguagem/comunicação: museu um lugar e produto do homem – criado,
conservado e transformado por ele; o museu é a manifestação da linguagem.
A instituição museológica cumpre seu papel de espaço de preservação e
seleção de bens culturais (elementos sígnicos) constituem o dicionário (inventário,
livro de registro, reserva técnica), mas não a linguagem; assim como a combinação,
o arranjo e a arrumação dos elementos sígnicos constituem uma estrutura sintática
(museografia), mas não constituem a linguagem.
O termo museografia (desenho, grafia ou escrita do museu) é associado à
idéia de linguagem. Assim se percebe que não basta o objeto estar exposto para
estar em comunicação; não basta estar escrito, de acordo com esta ou aquela regra
de sintaxe, para ser linguagem. A linguagem = discurso organizado e em
movimento = comunicação. A comunicação/linguagem exige a instituição e o seu
conjunto de elementos sígnicos para serem arranjados, de tal maneira, que produza
determinado discurso.
Os elementos sígnicos são os objetos herdados, bem como os objetos
construídos com objetivo de comunicação dentro dos museus. Dentro desta
estrutura também está o espaço, a luz, a sombra, a cor, a ausência da cor, o peso, a
altura, o som, o silêncio, o cheiro, a imagem, a forma, as dimensões, a
transparência, a singularidade, a repetição, o arranjo, a monumentalidade, a língua
falada, a língua escrita, a música, a poesia, o cinema, etc.
“Parece ser cada vez mais evidente que os museus têm vindo a sofrer modificações que se manifestam em vários níveis. Para lá das funções tradicionais da recolha, conservação e exibição de objetos, os museus têm vindo a pretender servir como meios de comunicação, abertos às preocupações do mundo contemporâneo”. (MOUTINHO apud CHAGAS, 1999)
A “linguagem museal” é diversa e complexa e inúmeros elementos podem ser
empregados no processo de comunicação, e não é necessário que exista uma
hierarquia predefinida, e ela não se restringe aos objetos, mas antes se lança mão
deles e de outras linguagens, assim como de outros recursos (táteis, visuais,
olfativos, gustativos, auditivos, afetivos, cognitivos e intuitivos).
6.5.2 Tecnologia
Na tecnologia dos museus percebe-se que existem variáveis de avanço ou
atraso, isto depende dos recursos humanos e financeiros, do próprio museu (lugar
ou produto) é de um equipamento, de uma tecnologia museológica. Além disso, a
tecnologia não tem valor em si; o centro da questão está no uso, nas práticas sociais
a ela relacionadas. O museu, a partir da técnica e tecnologia, deriva de outro campo
de conhecimento e irá produzir novos conhecimentos, este campo é denominado
museologia, uma ferramenta, instrumento ou tecnologia que depende de um saber e
de um fazer, e assim o coloca em movimento, que redefina a sua direção e
manipulação.
Ao se denominar tecnologia/museu que ocupa espaço e o dramatiza,
manipulando o tempo passado, com os objetos museológicos repletos de “valores”
artísticos, históricos e científicos, tendo a intenção de se projetar no invisível, na
mente e nos corações das gerações futuras (no imaginário), viaja no passado e
remete ao futuro, serve a um poder instituído e assim constrói uma memória.
As técnicas arquitetônicas aplicadas aos museus para maior controle e
visibilidade dos acervos, do público freqüentador e dos próprios vigilantes, ou seja,
visibilidade e controle, e assim Chagas afirma:
“A prerrogativa de tocar, manipular e acariciar (com ou sem luvas) pertence a alguns técnicos que dominam técnicas, a alguns pesquisadores que dominam saberes e alguns chefes que mesmo ignorando saberes e técnicas exercem o poder”.
O caráter político e econômico de alguns argumentos técnicos, como a
questão da prática da fotografia no circuito de exposição, que ao alegar a
preocupação de conservação do acervo, trata do controle do direito de imagem e da
venda de reproduções autorizadas; e assim ele afirma que a obra perde sua força de
contestação e o público é impedido de se perceber criador.
No Brasil do século XIX e de mais da metade do século XX, o
museu/tecnologia esteve a serviço dos interesses das oligarquias, das elites
econômicas e dos grupos empenhados em manter privilégios sociais e padrões de
dominação política e cultural. Assim podemos ver como o museu/tecnologia foi
usado para disciplinar, comunicar códigos de comportamento e padrões de
civilização, definindo o que deve ser preservado e guardado na memória, dialogar
com o estrangeiro, identificar os cultos, valorizar os saberes monumentais e
extraordinários.
Na atualidade, as novas tecnologias trazem novos aportes e novas
possibilidades; mas o museólogo Mário Chagas considera que “o novo não está nas
coisas, mas no uso que fazemos delas, nas práticas sociais e culturais que
desenvolvemos”, e “o novo está no conteúdo, na crítica dos conteúdos e nas
práticas transformadoras”. É preciso conhecer as novas tecnologias, usá-las como
instrumento de resistência à dominação e exploração cultural e como uma
ferramenta que beneficie o desenvolvimento social dos grupos locais.
6.5.3 Processos museológicos
O processo de comunicação museal para se desenvolver precisa que o
indivíduo se descubra e se reconheça. A natureza do processo museológico é a
linguagem/comunicação, ou seja, a linguagem museal é a essência do processo
museológico.
O museu é visto como produto do homem e conseqüente manifestação da
linguagem, e assim a museologia como estudo dos museus, e o museu como
espaço/cenário propícios ao estudo da relação entre o homem/sujeito e o
objeto/bem cultural.
A “linguagem museal” é a essência do processo museológico. É preciso não
esquecer que o dicionário e as regras de sintaxe são a linguagem. A museologia é
uma relação específica entre o homem e a realidade, sendo esta mediada pelo
objeto/bem cultural, o que nos coloca no seio da linguagem.
3ª PARTE – MUSEU: LEITURA INFORMACIONAL
“Estou convicto de que, no século XXI, os museus não serão espaços anacrônicos e nostálgicos, receosos de se contaminarem com os vírus da sociedade de massas, mas antes, poderão constituir extraordinárias vias de conhecimento e exame dessa mesma sociedade. Serão, assim, bolsões para os ritmos personalizados de fruição e para a formação da consciência crítica, que não pode ser massificada.” MENEZES, 1994.
7. MUSEU COMO PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO
“As identidades e as redes de interesses forjadas pelos Inconfidentes entre si, bem como o modo como eles se apropriam das tradições culturais e políticas luso-brasileiras e da Revolução Americana, são indissociáveis das condições econômicas, sociais e políticas, específicas de Minas Gerais ao final do século XVIII, no quadro geral do Reformismo Ilustrado.” (VILLALTA, 2000)
O povoamento da região que se inicia pelos idos de 1675, a partir da bandeira
paulista de Fernão Dias Paes Leme, acompanhado do seu genro Manoel de Borba
Gato, que subiu o Rio das Velhas e desenvolveu o Arraial de Santo Antônio do Bom
Retiro de Roça Grande. Em 17 de Julho de 1711, o Arraial da Barra do Sabará foi
elevado à categoria de Villa Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará. Em
1714, a Vila sediava a Comarca do Rio das Velhas que ia até as margens do Rio
São Francisco, uma das quatro primeiras a serem criadas na Capitania das Gerais.
A partir de 1720, a sua área de jurisdição compreendia cerca de vinte municípios,
entre eles Belo Horizonte (FIG.06). No dia 6 de Março de 1838, a Lei Provincial nº 93
concedia a Sabará foros de cidade, com cerca de trezentos quilômetros quadrados
de área.
FIGURA 6: Localização do município de Sabará na Grande BH.
Fonte: www.sabaranet.com.br, acessado em 01 de maio de 2005.
O nome Sabarabuçu é de origem indígena, e como um de seus significados,
se aceita a tradução de "grande braço de pai", referindo-se ao Rio Sabará o "braço",
afluente do Rio das Velhas "o pai". Existe, também, a versão de que o nome Sabará
se origina da corruptela da expressão Itaberabussu, que quer dizer na linguagem
indígena "pedra grande reluzente", numa alusão à Serra da Piedade que domina
toda a região.
Sabará foi um dos núcleos de mineração da Província que mais ouro
encaminhou à Coroa Portuguesa. Tão intensa tornou-se a mineração nessas
paragens, que o Governo Português lá fez instalar a Casa da Intendência, atual
Museu do Ouro, para cobrança do "quinto". A escolha do imóvel para a implantação
desse museu também não foi aleatória, quanto ao espaço geográfico, bem como
quanto à função primeira deste, como afirma LE GOFF (1997): “importa não isolar os
documentos do conjunto de monumentos de que fazem parte”.
Assim se preserva a identidade cultural da cidade mineira de Sabará. Os
museus históricos, em contexto comunitário de Minas Gerais são o tema de estudo
deste projeto, o perfil do seu público e a necessidade de informação destes para que
a produção de conhecimento ocorra, tendo como contexto, o Museu do Ouro.
As cidades onde se localizam os museus históricos vinculados ao IPHAN
foram fundadas no período de 1698 a 1713, e são representativas da história do
Brasil, no período colonial: Ouro Preto, em 1698, Serro, em 1700, Caeté, em 1702,
São João Del Rei, em 1704, Sabará, em 1711, Diamantina, em 1713.
Os museus surgiram neste circuito, buscando cobrir todo este período: Museu
da Inconfidência, em 1938, Museu do Ouro, em 1945, Museu Regional de Caeté, em
1946, Museu Casa dos Otoni, em 1949, Museu do Diamante, em 1954, Museu
Regional de São João Del Rei, em 1963.
O município de Sabará, detentor de monumentos tombados, de caráter
nacional, já estabelece uma relação com a questão da preservação do seu
patrimônio cultural desde a década de 40 do século passado, e esta condição, em
muitas oportunidades lhes acarreta mais ônus do que bônus, pois a todo o momento
é cobrado pela mídia impressa e/ou televisiva quanto à sua responsabilidade de
investimentos de alta monta na preservação dos seus monumentos.
Tais órgãos da mídia esquecem que essas cidades vivem dilemas sociais
inerentes a qualquer cidade do interior do país, tais como: precariedade nos serviços
de saneamento básico, tratamento da água, coleta de lixo; elevado índice de
mortalidade infantil, violência, desemprego, educação de baixa qualidade, renda per
capita de menos de um salário mínimo, entre outros.
A leitura informacional que pretendemos elaborar dos museus históricos em
contextos comunitários está na perspectiva da Nova Museologia com a contribuição
da Ciência da Informação, acreditando que ambas possam se beneficiar com esta
interface. Esta interdisciplinaridade já encontramos efetivamente, como se pode
observar, na grade curricular do Curso de Graduação em Museologia da
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO.
Tais museus históricos pertencem a cidades do interior de Minas Gerais, que
embora tombadas como monumentos nacional e internacional, guardam o seu
caráter principal de cidades mineiras; eles são intérpretes da verdade de uma região
e trazem em si uma carga cultural que os liga à gente da terra, a suas tradições, a
seu modo de ser. Preocupamo-nos com o caráter social, com as noções de território,
patrimônio e a inserção de uma comunidade participativa e uma ação pedagógica
permanente para o ecodesenvolvimento do sujeito e da sociedade.
Queremos colaborar para o entendimento da função social do museu na
visão de como a comunidade circundante faz uso deste espaço. O diálogo da
Museologia com a Ciência da Informação podemos afirmar que, ainda se encontra
incipiente, mas devemos insistir em estreitar os laços entre elas, o que poderá gerar
conceitos teóricos profícuos para ambas, principalmente se o museu quiser se firmar
como um espaço da informação na sociedade, uma sociedade na qual a produção
industrial cedeu lugar para a produção de serviços.
8. TERRITÓRIO MUSEU UM ESPAÇO AUTÊNTICO
O município de Sabará está localizado na região metropolitana de Belo
Horizonte. Limita-se ao norte com Taquaraçu de Minas, a leste com o município de
Caeté, ao sul com Raposos e Nova Lima, e a oeste com os municípios de Santa
Luzia e Belo Horizonte. Possui área de 302 quilômetros quadrados, corresponde a
5,1% da região metropolitana de BH, tem 707 metros de altitude e
paisagem montanhosa (Fig. 07).
FIGURA 7: Localização do município de Sabará em relação as principais rodovias nacionais Fonte: www.sabaranet.com.br, acessado em 01 de maio de 2005.
A população está distribuída nas principais regiões do município:
Centro: Sede Administrativa Bairros: Pompéu, Arraial Velho, Roça Grande e outros.
General: General Carneiro, Marzagão e demais bairros próximos. Alvorada: inclui
Alvorada, Novo Alvorada, Nova Vista, Ana Lúcia e proximidades. Fátima: engloba
todo o bairro do mesmo nome. Nações: representa o bairro Nações Unidas. Ravena:
Inclui toda a região próxima ao distrito de Ravena, abrangendo a área dos Borges e
adjacências (FIG.08)
FIGURA 8: O município de Sabará e os seus distritos
Fonte: www.sabaranet.com.br, acessado em 01 de maio de 2005.
O município está localizado na bacia do Rio das Velhas e desenvolve-se ao
longo do Ribeirão Sabará e do próprio Rio das Velhas, possui um clima tropical com
verões quentes e chuvas nos meses de outubro a abril.
A temperatura média anual é de cerca de 21º c, e a vegetação predominante
é o cerrado. Possui área de preservação da natureza como o Parque Chácara do
Lessa e os Pontos Ecológicos:Parque Ecológico Quinta dos Cristais, Parque Infantil
Augusto de Lima Júnior, Reserva Ecológica da Cabeça de Boi, Mata do Inferno,
Reserva Ecológica do Segredo, Reserva Ecológica do Papa Farinha, Cachoeira da
Região do Arraial Velho e da Reserva da Cabeça de Boi, Área reflorestada pela
CSBM, Área florestal do Clube Alberto Scharlé, e Pompéu área florestal.
Sabará, o espaço autêntico do Museu do Ouro, deve ser compreendido e
observado como território museológico, e assim com este entendimento, buscamos
evidenciar características sócio-econômicas do município, o relacionando com os
grandes centros urbanos, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, segundo os
dados do IBGE e PNUD; relação da população x percentual de alfabetizados, índice
de desenvolvimento humano, renda per capita, e infra-estrutura (saneamento básico,
água corrente, coleta de lixo):
TABELA 1 Percentual de alfabetizados em Relação População
Município População Alfabetizados São Paulo 10.434.252 80%
Rio de Janeiro 5.857.904 82% Belo Horizonte 2.238.526 81%
Sabará 115.352 71%
Fonte: disponível em www.ibge.gov.br, acessado em 10.06.04.
TABELA 2 IDH – Índice de desenvolvimento humano
Município IDHM São Paulo 0,841
Rio de Janeiro 0,842 Belo Horizonte 0,839
Sabará 0,773
Fonte: disponível em www.pnud.org.br, acessado em 10 de junho de 2004.
TABELA 3 Renda Per capita
Município Renda per capita São Paulo 610,04
Rio de Janeiro 596,65 Belo Horizonte 557,44
Sabará 214,34
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil.
TABELA 4 Percentual de domicílios atendidos pelos serviços de
Município Saneamento Básico Água Coleta Lixo São Paulo 88% 99% 100%
Rio de Janeiro 78% 98% 99% Belo Horizonte 92% 99% 98%
Sabará 78% 94% 79%
Fonte: disponível em www.ibge.gov.br, acessado em 10.06.04.
Esses dados podem nos conduzir na elaboração do escopo da investigação a
partir da literatura referente à produção da informação nos museus históricos em
contextos comunitários, bem como no traçado do perfil e da necessidade do seu
público.
O estudo de museus com esta característica, ou seja, onde a comunidade é
muito mais próxima, é praticamente inexistente no país, bem como a forma do
processo de realização da informação e a produção do conhecimento neste contexto
histórico e geográfico, entendido como o território do museu.
No nosso entendimento, os museus, além da sua tipologia: histórico, artístico
e ou científico, devem ser reconhecidos pelo espaço físico-geográfico em que estão
inseridos, para que sejam tratados em suas especificidades como o novo conceito
de “território museu”, que toma como base os seguintes valores descritos por
MENESES (2004):
1. valor identitário, considerando o patrimônio como gerador
constante de construção de imagens, significados e identidades;
2. valor econômico, que coloca o reconhecimento do patrimônio
como gerador de oportunidades econômicas;
3. valor social, preconizando que os projetos interpretativos devem
gerar a melhoria da qualidade de vida da comunidade que
“administra” esse patrimônio.
O conceito de “território museu” se apresenta como um espaço vivo de
memória que precisa ser conhecida, e que gera a produção do conhecimento
acessível, e entendido por todos, e observado em constante movimento de
transformação. Este conceito para que seja viável a sua aplicação, necessita de
profissionais interdisciplinares que considerem o museu como um espaço não só
intelectual, mas que atenda a outros segmentos de mercados, tais como: cultura
letrada, cultura popular, religiosidade, lazer, etc.; os diferentes serviços e produtos
por ele gerados de forma democrática, tendo a população como seu agente
econômico. Também necessita eleger prioridades de investimento e interpretativas,
sendo necessária uma estrutura organizacional e planejamento prévio num campo
de discussão transdiciplinar.
Na atual Museologia, os museus não se sustentam simplesmente pela
contemplação, mas pela possibilidade da manipulação e até pela interatividade do
visitante, que passa de expectador a ator. O museu, na atualidade, conduz a
ampliação do conteúdo e a uma finalidade mais social, o museu é o mediador entre
o homem e o mundo.
8.1 A unidade museológica pesquisada: Museu do Ouro
O prédio do Museu do Ouro foi a antiga Casa da Intendência e Fundição da
Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará e foi construído, em 1730,
pelo mestre de campo, Faustino Rabelo Barbosa. A fundição foi extinta por D.Pedro
II, em 1830, e o casarão ficou abandonado até o final do século XIX. O Comendador
Francisco de Paula Rocha o arrematou em leilão e o transformou num colégio. Em
1938 o dirigente da Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, Dr.Luís Ensch doou o
imóvel ao IPHAN.
O imóvel passou por restauração, que conseguiu manter grande parte de
suas linhas originais, sendo o único exemplar no Brasil de uma Casa de Intendência.
O Museu do Ouro foi criado pelo Decreto – Lei nº. 7438, de 23 de abril de 1945,
(vide Anexo VI), e inaugurado a 16 de maio de 1946, assim no próximo ano o Museu
completará 60 (sessenta) anos de atividades. O município de Sabará dista da capital
Belo Horizonte, 25 (vinte e cinco) quilômetros, é denominado GRANDE BH.
Ao procedermos a análise dos museus históricos em contexto comunitário
procuramos exemplificar a questão com o estudo desta unidade museológica, em
atividade, desde 1945, no município de Sabará, em Minas Gerais. Ela é vinculada à
13ªSuperintendência Regional do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, sendo assim uma unidade do governo federal, que no exato momento se
encontra num grande projeto de revitalização da sua exposição de longa duração, já
que a mesma nunca foi modificada nos seus 60 (sessenta) anos de existência.
O museu que foi nosso campo de investigação foi criado em um contexto
comunitário, na década de 40 do século passado, tendo como base comum a
intenção científica, o que LATOUR (2000) considera “centros de cálculos”, ou seja,
instituições cujos conteúdos são transmitidos por sucessivas transformações, os
conhecimentos se acumulam e se concentram sendo organizados, compatibilizados
e condicionados, em busca de novas informações.
Numa época em que os museus tinham a coleção como foco, este teve o seu
foco no tema do “ouro” nas Minas Gerais do período colonial, e buscava resgatar,
preserva e difundir a história do município, representativo da história do Brasil neste
período. Por ocasião da sua criação, em 1945 o projeto museológico e museográfico
do Museu do Ouro foi considerado de vanguarda e com um requinte no trato, que foi
merecedor de respeito.
A intenção de contextualizar o objeto museológico através da apresentação
de instrumental de trabalho do ouro, desde a cata e cunhagem à manufatura, barras
de ouro, certificados, e o propósito de ele mesmo estar na antiga Casa da
Intendência, bem como a apresentação de maquetes dos processos de extração,
tributação e obtenção do ouro, bem como a amostragem de aspectos da história
social do século XVIII fizeram do museu à sua época um diferencial quanto aos
projetos: museológico (pesquisa/informação) e museográfico
(comunicação/conhecimento).
No momento, o museu passa por uma proposta de revitalização da sua
exposição que foi elaborada pela empresa museológica AT&T, da museóloga Célia
Corsino. Este trabalho está sendo realizado com recursos financeiros do IPHAN e da
empresa Anglo Gold, captados pela Associação de Amigos do Museu do Ouro; o
projeto deverá ser apresentado aos técnicos da 13ªSuperintendência
Regional/IPHAN – MG para aprovação e execução, e ainda não foi divulgado.
8.2 Da produção da informação museológica à transmissão do conhecimento
“Há algo de muito errado, senhor Adamson, na pilhagem das belezas e curiosidades do planeta se não fizermos dela o uso que em si justifica a depredação – promover o conhecimento útil, o saber humano”. (MORPHO EUGENIA, 1992)
Através deste recorte intensivo, a partir da escolha deste museu histórico,
situado em contexto comunitário, especificamente em Minas Gerais, buscamos
investigar a partir da literatura, os conceitos teóricos da Nova Museologia em
contraposição à Museologia Tradicional, sob a análise dos paradigmas que
CAPURRO (2003) vislumbra na Ciência da Informação:
1. PARADIGMA FÍSICO
Informação como coisa, BUCKLAND
2. PARADIGMA COGNITIVO
O sujeito cognoscente e suas necessidades, INGWERSEN
3. PARAGIMA SOCIAL
O estudo de campos cognitivos em relação direta com as “comunidades
discursivas”, HJ∅RLAND abandono da busca de uma linguagem ideal
para representar o conhecimento.
Naturalmente estes paradigmas se cruzam e entrecruzam constantemente,
pois o reconhecimento de um deles não anula o outro. Entretanto, procuramos
enfocar o PARADIGMA SOCIAL identificado pelo teórico da Ciência da Informação,
CAPURRO (2003), mas no decorrer do enfoque, podemos observar que os
paradigmas acima identificados ainda estão longe de serem vivenciados nos
museus brasileiros, e por isso estes persistem em serem “segredos” e “sagrados”
para a maior parte do seu público.
Ao unirmos todos estes elementos, consideramos que o museu tem dois
compromissos principais: ACERVO X SOCIEDADE. No que diz respeito ao primeiro
compromisso, voltamo-nos ao bom estado de conservação das coleções, assim
como ao conhecimento do citado acervo como valor em espécie e valor histórico-
cultural.
Quanto ao segundo compromisso nos referimos à conscientização da
sociedade a que esse acervo indiretamente pertence, como fruto de sua vivência,
pois o museu só se justifica pela presença do público. Da criança ao adulto, do
analfabeto ao mais letrado, todos devem e podem encontrar nele interesse para
aguçar sua inteligência e sensibilidade.
O objeto de pesquisa que pretendemos investigar nesta dissertação é o
processo da construção do discurso museográfico e suas estratégias relacionadas
com a informação e comunicação, dentro dos museus históricos em contextos
comunitários; especialmente o Museu do Ouro de Sabará, entendendo que a
comunidade possui uma forte identidade cultural, e, como este, pode produzir
conhecimento.
9. ESTRATÉGIAS MUSEOLÓGICAS PARA O SÉCULO XXI
“A ciência moderna produz conhecimentos e desconhecimentos. Se faz do cientista um ignorante especializado faz do cidadão comum um ignorante generalizado.” (SANTOS, 2003)
A Museologia e a Ciência da Informação estão classificadas dentro do ramo
de conhecimento das Ciências Sociais Aplicadas, e por isso podemos afirmar que
em ambas, tanto a pesquisa quantitativa como a pesquisa qualitativa têm seu lugar.
Entretanto, podemos perceber que, em muitos casos, a pesquisa quantitativa tem
sido a mais privilegiada, mas acreditamos que a linha de pesquisa Informação,
Cultura e Sociedade do Programa de Pós-graduação da Escola da Ciência da
Informação da Universidade Federal de Minas Gerais em ambas as pesquisas
(quantitativas e qualitativas) as maiores possibilidades no desenvolvimento da área,
e estas vêm a contribuir significativamente para o enriquecimento e amadurecimento
do campo teórico da Ciência da Informação, e assim esperamos que nossa pesquisa
seja mais uma colaboração neste sentido.
A Ciência da Informação tem um caráter poli - epistemológico, como afirma,
GONZÁLEZ DE GÓMEZ (2000), por ter como objeto de trabalho a INFORMAÇÃO,
sendo esta, referência para todos os modos de produção do saber o que gera os
mais variados efeitos de sentido, de acordo com o seu contexto, podendo ser um
fenômeno, um processo ou uma construção, também sendo classificada, em
“camadas” ou “extratos” de realização: Semântico – discursiva, Meta – informacional e Infra – estrutural.
Esta também é umas das características da Museologia, assim ambas
demonstram ampla versatilidade temática, e acredito que nela seja possível discutir
a construção teórica dos museus no desempenho de um papel informacional,
cultural e social no século XXI.
A metodologia aplicada nesta dissertação se fundamentou na proposta de
GONZALEZ DE GÓMEZ (2000) dos extratos informacionais, situando-se no primeiro
nível: SEMÂNTICO – DISCURSIVO. Associamos os processos semânticos e
comunicativos; os relacionando com a diversidade das ações sociais, inseridas nos
contextos culturais e históricos.
A produção de conhecimento deste nível exige deste estudo uma metodologia
descritiva e interpretativa própria do conhecimento da área das Ciências Sociais, tais
como: Antropologia, História, Sociologia e Comunicação. Este estudo que, histórica
e contextualmente abrange a visão de diferentes campos do conhecimento em torno
da questão da informação e comunicação com o enfoque nas exposições,
especificamente de museus fora dos grandes centros urbanos, e inseridos em
municípios de pequeno porte e com forte identidade cultural, já que estas, em
princípio são o principal canal de diálogo com o público, o que se aplica ao referido
Museu do Ouro.
QUADRO 2 EXTRATOS INFORMACIONAIS
EXTRATOS INFORMACIONAIS MODALIDADES FORMAS DE AÇÃO/
OPERAÇÃO CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO
Informação (semântica)
Modos intersubjetivos de significação; definição cultural e social de uma evidencia ou “testemunho” de informação, suas condições de geração, de transmissão, de recepção e de adesão.
Ações abertas e plurais/ polimórficas, conforme diferenciais semânticos / pragmáticos dos atores.
Conhecimento antropológico– Lingüístico (Regras/ usos/ práticas).
Metainformação
Modos organizacionais de regulamentação / estabilização de práticas discursivas e informacionais.
Estabilização organizacional de ações e discursos. Contratos institucionais/ organizacionais.
Conhecimento político, administrativo, organizacional (contratos).
Infra-estrutura de informação
Modos tecnológicos e materiais de armazenagem, processamento e de transmissão de dados- mensagem- informação.
Operações genéricas; interoperabilidade; transportabilidade e comutatividade digital das mensagens.
Conhecimento técnico e tecnológico (Modelos, interfaces).
Fonte: GONZÁLEZ DE GÓMEZ, Maria Nélida. Metodologia de pesquisa no campo da Ciência da Informação. In: DataGramaZero. Revista de Ciência da Informação. V.1, n6, RJ, dez/2000.Disponível em: < http://w.w.w.gzg.org.br/dez00/art.03.htm. Acessado em 26 mai 2004.
A metodologia de pesquisa aplicada desenvolveu a preocupação com a
sensibilidade e uso da informação, as contradições de acesso e as relações de
poder da informação, que nos ajudarão a trabalhar as condições de produção do
conhecimento e a contextualização desta produção.
Para Minayo (1994), a pesquisa qualitativa se preocupa.
“[...] com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.”
A pesquisa bibliográfica abarca o levantamento, na literatura, dos estudos
sobre o museu como espaço de memória, informação e comunicação, produtor de
conhecimento que estabeleça relação da museologia com a ciência da informação,
dos estudos sobre política cultural, ciências sociais, que estabelecem a função social
dos museus na atualidade.
Neste trabalho a pesquisa documental teve como objetivo apresentar a
unidade museológica pesquisada o Museu do Ouro e a compreensão da sua
vinculação com o IPHAN e o Ministério da Cultura, assim foram analisadas leis,
decretos, organogramas relacionados às questões informacionais e estruturais da
política cultural na área museológica.
A coleta de dados foi elaborada em duas modalidades:
a) Uma questão aplicada para os dirigentes do IPHAN da área de museus
para os abaixo relacionados. (QUADRO 3)
b) Um questionário para os visitantes moradores do município de Sabará,
onde se localiza o Museu do Ouro (QUADRO 4).
Para MINAYO (2004) são três os obstáculos para a análise dos dados
recolhidos no campo, são eles:
1. Perigo da compreensão espontânea como se o real se mostrasse
nitidamente ao observador;
2. O pesquisador sucumbe à magia dos métodos e das técnicas;
3. A dificuldade de se juntar as teorias e conceitos muito abstratos
com os dados recolhidos no campo.
E assim, a pesquisadora afirma que a análise dos dados deve atingir os
seguintes objetivos: a ultrapassagem da incerteza; o enriquecimento da leitura e a
integração das descobertas.
9.1 Leitura Informacional do Museu do Ouro: dirigentes do IPHAN
A questão aplicada a alguns dirigentes do IPHAN procurou atender a
hierarquia estabelecida dentro da autarquia quanto aos cargos de chefia da área
museológica.
A citação do teórico da ciência informação Gernot WERSIG (1997) teve como
objetivo de apresentar um conceito da área na questão museológica, e assim ao
contextualizar a Ciência da Informação e a Museologia o entrevistado procurar
responder sobre a questão informacional nos museus brasileiros em contextos
comunitários.
A questão para os dirigentes do IPHAN foi aplicada em 04(quatro)
profissionais que exercem, dentro da instituição, cargos de direção na área de
museus, abaixo relacionados; mas destes obtivemos 02(duas) respostas, o que
representa 50% de retorno.
1. Diretor do DEMU/IPHAN/BSB.
2. Superintendente da 13ªSR/IPHAN/MG.
3. Diretor do Museu da Inconfidência – IPHAN/MG.
4. Chefe da Unidade Museológica/Museu do Ouro – 13ªSR/IHAN/MG.
Dentre as dificuldades do trabalho de campo, no caso com os dirigentes do
IPHAN podemos ressaltar as seguintes:
a) A saída do Chefe da Unidade Museológica/Museu do Ouro, em Janeiro de
2005, cabendo a mim como Coordenadora Técnica dos Museus e Casas Históricas
vinculadas a 13ªSuperintendência Regional, assumir a direção da unidade
museológica. Consideramos que, o envolvimento direto com a pesquisa seria um
fator importante para não responder a questão formulada.
b) O desencontro com o Diretor de Museus e Centros Culturais do IPHAN
devido as seus compromissos profissionais, de ordem interna e externa à instituição.
Consideramos que as respostas dos dirigentes do IPHAN se completam ao
apresentarem o museu como espaço museológico em que dois tipos de informação
estão presentes: a semântica e a estética, e que possuem tratamentos diferenciados
ao passarem pelo processo da comunicação, mas que o tratamento científico com
certeza é de vital importância para ampliação dos serviços do espaço museológico.
O objeto museológico é compreendido como documento, mensagem e
informação pelo sujeito, ou seja, a informação física, cognitiva e social, assim
preconizada pela Ciência da Informação, de que o museu não se constitui apenas
um espaço de espetáculo, mas do objeto de conhecimento, e também levanta a
tendência atual de fazer do museu um produto mercadológico, quando ressalta o
papel do museu na sedução, antes da informação.
QUADRO 3 Questão aplicada aos dirigentes do IPHAN na área museológica
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – UFMG. ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO – ECI PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO – PPGCI
Esta questão faz parte de uma pesquisa que está sendo realizada com o objetivo de descrever o processo de informação e comunicação, e conseqüente produção de conhecimento que os museus históricos possam representar em contextos comunitários.
Agradecemos a colaboração!
_____________________________________________________________________________________________________
DATA: NOME: IDADE: FUNÇÃO NO IPHAN: TEMPO NA FUNÇÃO: FORMAÇÃO: _____________________________________________________________________________________________________
“ O museu apresenta-se na sociedade moderna como a instituição capaz de entender às demandas de necessidade informacionais, pois na medida em que sempre lida com questões voltadas para o indivíduo e para o papel da sociedade em seus aspectos comunicacionais, ou seja, produtor de comunicação significativa que se mantém real e não virtual; pauta-se pelo padrão de autenticidade e de originalidade; se fixa cada vez mais como local e não como nacional, discutindo e focando realidades próximas e seqüenciais, com controle de tempo e espaço social, construindo e narrando histórias identificadas com a unificação de valores éticos e a pluralidade de realidades político-culturais.” WERSIG, Gernot. In: Museums and Information society: between market culture and people’s assurance seeking, 1997
Considerando a citação do teórico da Ciência da Informação, Gernot Wersig, faça suas considerações sobre o papel dos museus históricos, em contextos comunitários, no Brasil:
Fonte: a autora
Resposta nº1: Diretor do Museu da Inconfidência
“O acervo de um museu histórico constitui suporte valioso para se chegar à compreensão do contexto social que o originou. O embate com ele traz a possibilidade de um encontro sensível com a realidade, sem a intermediação do discurso abstrato. A nossa imaginação passa a ter o controle do elemento concreto, o que elimina as meras suposições ou desgarradas fantasias. A contemplação direta de uma peça tem mais efeito do que qualquer aula de considerações teóricas, por melhor argumentada e documentada que seja. A informação e a comunicação se apresentam aí por assim dizer, unificadas. Não é por outra razão que sempre se está insistindo na importância do museu histórico como instrumento a ser usado didaticamente para a formação do indivíduo localizado no espaço e no tempo. Não se pode perder de vista que uma exposição dessa natureza apresenta um aspecto isolado e circunscrito do viver coletivo. Ele não tende para a difusão e a indeterminação, mas para o particular e o situado. É uma estrutura que se fecha sobre si, com princípio meio e fim. É uma condensação de significados de força comunicativa e visualidade. O diálogo que o visitante trava com os objetos que contempla representa um esforço de busca da verdade, de autenticidade.
Verdade e autenticidade de acontecimentos que o viver do homem produziu num determinado local e num determinado tempo. O que se vai descortinado aos olhos de quem observa é a realidade de um segmento social, de uma região, de um país, que se diferencia de tudo o mais, pelo seu caráter de singularidade. O homem individual e histórico, a força criadora e transformadora que, atuando no isolamento do seu cotidiano, acrescentou a contribuição da sua originalidade ao panorama mais largo dos feitos da humanidade como um todo.” Diretor do Museu da Inconfidência
O museu tem como papel fundamental trazer a compreensão do contexto
social através de algo concreto, o acervo, que, por sua vez, fornece à imaginação, e
aos conceitos teóricos históricos, realidade, trazendo respaldo à informação. A
interação entre visitante e obra apresenta uma busca por confirmação de algo
ocorrido em determinado tempo e espaço; por esse motivo, uma exposição constitui-
se de uma estrutura fechada, com começo, meio e fim, que traduz, por intermédio de
objetos concretos, a cultura e costumes de outrora. Resposta nº2: Superintendente da 13ªSuperintendência Regional do IPHAN/MG.
“O museu mantém o passado seqüenciado no presente, atendendo as demandas culturais sob a perspectiva de um olhar crítico, que se modifica com o passar dos anos, trazendo a cada momento, juízos, valores e técnicas que se alternam. Ao museu, cabe, pois seria quase que impossível, a substantivação do objeto amostra, mesmo que se crie uma realidade virtual de contexto, de sons, luzes e cheiros. E mesmo que se consiga traduzir voluntária ou involuntariamente obter a emoção, está será parcial. A exposição é uma informação, uma amostra, porém irredutível, daquilo que um dia foi vivo símbolo de interação entre a cultura material e imaterial de qualquer sociedade. O papel do museu: seduzir antes de informar...”
A exposição é uma amostra daquilo que, certa vez, foi vivo devido aos
costumes e cultura da época. No entanto, mesmo que se utilize toda tecnologia em
integração ao acervo, a emoção despertada no visitante será, sempre, parcial, pois
não experimentará o contato com a peça da mesma forma que quando ela se
encontrava em seu contexto histórico original. Para atender à demanda, o museu
deve estar sempre alterando seu modo de trazer a informação, e os valores que esta
traz consigo, de acordo com o presente. O papel do museu é: “seduzir antes de
informar...”.
Os dirigentes enfocam que a exposição não é determinante de uma verdade,
mas deve ser um processo interpretativo por parte do sujeito para que esta produza
uma modificação no seu conhecimento. A resposta dos dirigentes do IPHAN vai de
encontro ao entendimento de (WERSIG, 1997) sobre o papel do museu na
sociedade da informação; que ele ajude a sociedade a se entender na pós
modernidade carregada de contradição, paradoxo, antagonismo, insegurança e
incerteza, mas que se aceite como meio, como instituição que oferece serviços de
comunicação de um tipo e constituição específica, e deve se tornar parte integrante
da sociedade da informação. Para isso, se fazem necessários profissionais
preparados para enfrentar uma sociedade voltada para estruturas de mercado, da
comercialização, da privatização, do liberalismo.
9.2 Leitura Informacional do Museu do Ouro: visitante do Museu do Ouro
Os dados globais referem-se ao período de 16 de janeiro a 16 de fevereiro de
2005 durante a aplicação dos questionários, num universo de aproximadamente 400
(quatrocentos) visitantes. Os participantes desta pesquisa foram exclusivamente os
moradores do município de Sabará, como já foi colocado anteriormente neste
trabalho, pois este é o enfoque da dissertação, ou seja, a relação que se estabelece
a partir do Museu do Ouro com a comunidade em que está inserido, através da
informação da exposição, geradora ou não da produção de conhecimento.
A partir deste recorte foi feita uma amostragem e se pode observar que dos
400 (quatrocentos) visitantes do Museu no período de 30(trinta) dias, somente 20
(vinte) visitantes, 5% eram realmente moradores do município. Assim, duas
questões já podem ser levantadas:
• O baixo índice de visitação geral do Museu, num período de férias,
motivo este, que em princípio poderia representar um interesse maior,
em se tratando de um museu localizado numa cidade colonial, que faz
parte dos principais roteiros turísticos de Minas Gerais.
• O baixo índice de visitante morador da cidade.
Dentre as dificuldades do trabalho de campo, podemos ressaltar as seguintes:
a) No período previsto para a realização da aplicação do questionário, os
meses de novembro e dezembro foi, deflagrada greve no IPHAN e o Museu do Ouro
esteve fechado à visitação nestes meses. A aplicação do questionário só aconteceu
em janeiro e fevereiro.
b) O baixo índice de visitantes, principalmente moradores do município de
Sabará, localização do Museu do Ouro, a quem o questionário foi dirigido.
Outros questionários já foram aplicados no Museu do Ouro, mas com o
enfoque no turista. O questionário aplicado neste trabalho foi a primeira tentativa de
conhecer o público do museu residente no município de Sabará em Minas Gerais.
Apesar do baixo retorno dos questionários, aqueles que se dispuseram a preenchê-
los foram extremamente participativos e com espírito de colaboração, não havendo
nenhuma recusa.
Assim, a pesquisa ficou reduzida a uma amostragem de 20 (vinte)
questionários respondidos. A primeira parte do questionário preocupa-se em
estabelecer o perfil do visitante do Museu do Ouro morador do município de Sabará.
QUADRO 4 Questionário aplicado aos visitantes do Museu do Ouro, moradores do município de Sabará – MG.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – UFMG ESCOLA DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO – ECI PROGRAMA DE PÓS – GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO – PPGCI Este questionário faz parte de uma pesquisa que está sendo realizada com o objetivo de descrever o processo de informação e comunicação, e conseqüente produção de conhecimento que os museus históricos possam representar em contextos comunitários. Esperamos assim melhor conhecer o público destes museus, e conseqüentemente melhorar a qualidade das exposições, serviços e atividades propostas. Contamos com a sua colaboração no preenchimento deste questionário ao final da sua visita, o mesmo deverá ser entregue na recepção do museu. As informações coletadas são confidenciais e se destinam exclusivamente à pesquisa acima mencionada.
Agradecemos a colaboração! ___________________________________________________________________________________________________ Data da visita: Hora: DADOS PESSOAIS Sexo: ( ) feminino ( ) masculino Idade: Estado Civil: ( ) solteiro (a) ( ) casado (a) ( ) viúvo (a) ( ) separado (a) ( ) outro Escolaridade: ( ) sem instrução escolar ( ) ensino fundamental incompleto ( ) ensino fundamental completo ( ) ensino médio incompleto ( ) ensino médio completo ( ) ensino superior incompleto ( ) ensino superior completo ( ) pós – graduação, especifique............................... Renda Familiar mensal (inclua todos os moradores da sua casa) ( ) até 260 reais ( ) de 260 reais a 520 reais ( ) de 520 reais a 1000 reais ( ) de 1000 reais a 2000 reais ( ) de 2000 reais a 4000 reais ( ) de 4000 reais a 8000 reais ( ) acima de 8000 reais Residência Bairro: Cidade: Estado: País: ___________________________________________________________________________________________________ QUESTIONÁRIO 1. É a primeira vez que você visita o Museu do Ouro? ( ) sim ( ) não 2. Quando foi sua última visita ao Museu do Ouro? ( ) menos de seis meses ( ) entre seis a doze meses ( ) entre 1 a 2 anos ( ) entre 2 a 5 anos ( ) mais de 5 anos 3. Qual o motivo da visita ao Museu do Ouro? ( ) conhecer o museu ( ) pesquisar , qual tema.................... ( ) trazer os filhos ( ) acompanhar amigos, parentes, colegas de trabalho ( ) pelo preço do ingresso ( ) férias ( ) visita escolar ( ) outro .................. 4.Você acha que deveria visitar mais vezes o Museu do Ouro? ( ) sim ( ) não Por quê?......................................................................................................... 5.Quanto tempo durou a sua visita ao Museu do Ouro? ( ) 30 minutos ( ) entre 30 minutos a 1 hora ( ) entre 1 a 2 horas ( ) mais de 2 horas 6.A atual exposição do Museu do Ouro, quanto a informação e a produção de conhecimento, você considera? ( ) satisfatória ( ) insatisfatória ( ) indiferente 7.Você conhece os serviços que o Museu do Ouro oferece? ( ) exposição ( ) arquivo ( ) biblioteca ( ) cursos ( ) palestras ( ) concertos musicais ( ) outros............ 8.Você sabe que a exposição de longa duração do Museu do Ouro está sendo reformulada? ( ) sim ( ) não 9. Você gostaria de conhecer o projeto de reformulação da exposição de longa duração do Museu do Ouro? ( ) sim ( ) não Por quê?............................................................................................................... 10.Para você qual a função que o Museu do Ouro desempenha dentro da comunidade de Sabará? ( ) educação ( ) informação ( ) lazer ( ) conhecimento ( ) nenhuma ( ) outra ............................. 11.O que pode dificultar a sua visita ao Museu do Ouro? ( ) custo do ingresso ( ) falta de divulgação ( ) falta de motivação ( ) dias e horários de funcionamento ( ) outro fator .....................
Fonte: a autora
De acordo, com os dados coletados, podemos perceber que, mesmo sendo
uma amostragem, o perfil do público do Museu do Ouro apresenta-se como: solteiro,
e/ou casado, na faixa etária de 31 a 35 anos, com segundo grau completo, e uma
renda salarial de dois salários e meio.
SEXO
FEMININO 50%
MASCULINO 50%
ESTADO CIVIL
SOLTEIRO 60%
CASADO 30%
SEPARADO 5%
OUTROS 5%
IDADE
15 – 20 ANOS 20%
21 – 25 ANOS 20%
31 – 35 ANOS 30%
46 – 50 ANOS 10%
ACIMA 51 ANOS 20%
Nesta amostragem, o Museu do Ouro tem um público relativamente jovem
com grau de instrução mediana, e de baixa renda salarial, cerca de dois a três
salários mínimos, de acordo com os dados que levantamos no IBGE, PNUD e o IDH
sobre o município de Sabará.
ESCOLARIDADE
FUNDAMENTAL COMPLETO 15%
FUNDAMENTAL INCOMPLETO 5%
MÉDIO COMPLETO 45%
MÉDIO INCOMPLETO 10%
SUPERIOR COMPLETO 5%
SUPERIOR INCOMPLETO 15%
PÓS-GRADUAÇÃO 5%
RENDA FAMILIAR ATÉ 260 REAIS 5%
260 A 520 REAIS 15%
520 A 1000 REAIS 35%
1000 A 2000 REAIS 25%
2000 A 4000 REAIS 10%
4000 A 8000 REAIS 10%
Aqueles visitantes que declararam ter sido a sua primeira visita ao museu
representam uma faixa de 45% e afirmam que o motivo da visita foi conhecer o
museu.
Questão 1: É a primeira vez que você visita o Museu do Ouro?
SIM 45%
NÃO 55%
Os que declararam não ser a primeira visita representam 55%, mas que a
última visita foi há mais de cinco anos, e que foram ao museu basicamente para
acompanhar amigos, parentes, filhos em férias. O visitante (100%) declara que
depois de visitar o museu encontra motivos para retornar, mas há falta de
divulgação.
Questão 2: Quando foi sua última visita ao Museu do Ouro?
MENOS DE 6 MESES 15%
1 A 2 ANOS 15%
2 A 5 ANOS 25%
MAIS DE 5 ANOS 45%
Questão 3: Qual o motivo da visita ao Museu do Ouro?
CONHECER O MUSEU 45%
TRAZER OS FILHOS 10%
PESQUISA 5%
ACOMPANHAR AMIGOS, PARENTES 25%
FÉRIAS 15%
Entretanto, a média do tempo de visita não ultrapassa 30(trinta) minutos, e
como afirma BOURDIEU & DARBEL (1969)
“o tempo dedicado pelo visitante à contemplação das obras apresentadas, ou seja, o tempo de que tem necessidade para “esgotar” as significações que lhe são propostas, constitui, sem dúvida, um bom indicador de sua aptidão em decifrar e saborear tais significações”
Questão 4: Você acha que deveria visitar mais vezes o Museu do Ouro?
SIM 100%
NÃO -
Questão 5: Quanto tempo durou a sua visita ao Museu do Ouro?
30 MINUTOS 60%
30 MINUTOS a 1 HORA 20%
1 a 2 HORAS 20%
+ 2 HORAS -
A atual exposição foi considerada insatisfatória por 40%, satisfatória por 30%
e indiferente por 30% dos visitantes quanto à transmissão da informação e a
produção de conhecimento, e como afirma BOURDIEU & DARBEL (1969) a
importância da morfologia e da organização da exposição museológica que vai
determinar a verdadeira função do museu.
“Compreende-se que, através dos mais insignificantes detalhes de sua morfologia e de sua organização, os museus denunciem sua verdadeira função, que consiste em fortalecer o sentimento, em uns, da filiação, e, nos outros da exclusão. (BOURDIEU & DARBEL, 1969)
Questão 6: A atual exposição do Museu do Ouro, quanto à informação e a produção de conhecimento, você considera?
SATISFATÓRIA 30%
INSATISFATÓRIA 40%
INDIFERENTE 30%
Considerando que, dos serviços do museu, 85% dos visitantes conhece
apenas a exposição, desconhecendo praticamente a existência de uma biblioteca
especializada em mineralogia, história, história da arte de quase 3000 (três mil)
títulos, e do arquivo histórico dos séculos XVIII e XIX com 218 (duzentos e dezoito)
metros lineares com a documentação da comarca do Rio das Velhas, que abarca a
história política–econômica e sócio–cultural, bem como outros eventos promovidos e
realizados pelo museu, isto demonstra a falta de comunicação com a comunidade
em que a instituição museológica está inserida.
Questão 7: Você conhece os serviços que o Museu do Ouro oferece?
EXPOSIÇÃO 85%
ARQUIVO -
BIBLIOTECA 15%
PALESTRAS -
CONCERTOS MUSICAIS -
CURSOS -
OUTROS -
Assim CANCLINI (1987) pergunta “Por que estudar o público de museus?”, e
responde como o tema é fundamental nos dias de hoje.
“Para esclarecer a situação atual da arte, para desenhar políticas culturais e em relação com as polêmicas que se realizam em muitos países sobre a democratização e participação popular.”
O visitante do Museu do Ouro de modo geral desconhece a realização de um
projeto de revitalização da exposição de longa duração, 65% foi o resultado, mas
95% declararam que teria muito interesse em conhecer o projeto, o que caracteriza
que a comunidade tem interesse em participar das atividades do museu. Falta, com
certeza, um maior diálogo da instituição com o público.
Questão 8: Você sabe que a exposição de longa duração do Museu do Ouro está sendo reformulada?
SIM 35%
NÃO 65%
Questão 9: Você gostaria de conhecer o projeto de reformulação da exposição de longa duração do Museu do Ouro?
SIM 95%
NÃO 5%
Os entrevistados tiveram oportunidade de expressar qual a função do museu
junto à comunidade na qual se encontra inserido, e estes consideram que o museu
deveria oferecer; produção de conhecimento (85%), educação (40%), informação
(40%), e lazer (25%).
Questão 10: Para você qual a função que o Museu do Ouro desempenha dentro da comunidade de Sabará?
EDUCAÇÃO 40%
INFORMAÇÃO 40%
LAZER 5%
CONHECIMENTO 85%
Nesta questão, o visitante poderia marcar mais de uma opção, e nos causa
surpresa ao percebermos que o visitante optou pelo item lazer como a função
menos expressiva que o museu deva ter junto a comunidade, fica caracterizado que
o visitante morador de Sabará, considera o Museu do Ouro um espaço informacional
de credibilidade e que este tem um compromisso social extremamente relevante,
basta que a instituição saiba aproveitar e estabelecer esse vínculo com a
comunidade ampliando seu potencial de mediador da informação.
A dificuldade apontada pelos visitantes em visitar o museu é a falta de
divulgação do (70%); mais uma vez se percebe o distanciamento institucional da
comunidade em que o museu está inserido.
Questão 11: O que pode dificultar a sua visita ao Museu do Ouro?
CUSTO DO INGRESSO -
FALTA DE DIVULGAÇÃO 70%
FALTA DE MOTIVAÇÃO 30%
HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO -
OUTROS -
O resultado desta amostragem demonstra que o museu tem muito o que
fazer, se for capaz sair da proposta da museologia tradicional e caminhar para a
nova museologia, e passe a refletir sobre os conceitos de: território, patrimônio,
comunidade participativa, ato pedagógico para o eco desenvolvimento.
“Os museus podem desempenhar papéis novos, estar verdadeiramente no centro das políticas de democratização da cultura, se tomarem seriamente a questão informacional e os interesses da população (...)” (CANCLINI, 1987)
Acreditamos que a Ciência da Informação possa contribuir para que a
Museologia entenda o museu como um espaço informacional e comunicacional que
venha a produzir conhecimento através da transferência da informação,
notadamente em museus em contextos comunitários, e como afirma MARTELETO &
TOMAÉL (2005)
”No ambiente mais recente das sociedades do conhecimento, da comunicação e da informação, ressalta-se o papel desses fenômenos enquanto valores culturais, políticos e econômicos e das redes, como territórios de apropriação dos conhecimentos e de produção do capital social para o desenvolvimento de comunidades locais e transnacionais.”
9.3 Política Nacional de Museus
No ano de 2003 foi apresentada uma Política Nacional de Museus, (anexo
VII), a partir de várias reuniões em que profissionais da área de museus discutiram a
questão e através das suas colaborações, foi apresentada uma proposta com o
seguinte objetivo:
“Promover a valorização, a preservação e a fruição do patrimônio cultural brasileiro, considerado como um dos dispositivos de inclusão social e cidadania, por meio do desenvolvimento e da revitalização das instituições museológicas existentes e pelo fomento à criação de novos processos de produção e institucionalização de memórias constitutivas da diversidade social, étnica e cultural do País.”
A Política Nacional de Museus desde então vem sendo discutida, avaliada, e
introduzida nos museus de todos os níveis: municipal, estadual e federal; mas com
certeza é um longo caminho a ser percorrido devido aos vários problemas a serem
resolvidos, desde os recursos humanos, aos recursos financeiros.
Na proposta da Política Nacional de Museus são apresentados 07 (sete) eixos
programáticos, abaixo determinados. (ANEXO VII)
• Gestão e configuração do campo museológico
• Democratização e acesso aos bens culturais
• Formação e capacitação de recursos humanos
• Informatização de museus
• Modernização de infra-estruturas museológicas
• Financiamento e fomento para museus e aquisição
• Gerenciamento de acervos culturais.
Os eixos programáticos ainda estão com um encaminhamento incipiente, mas
tendem a amadurecer e gerar frutos para os museus de modo geral, principalmente
para os museus fora dos grandes centros que passaram a ter um canal de
comunicação. Um Cadastro Nacional de Museus está sendo implantado visando
alimentar um banco de dados sobre os museus brasileiros, com isso a possibilidade
de produzir um diagnóstico da situação dos museus pode ampliar uma leitura
informacional. Além disso, o SISTEMA BRASILEIRO DE MUSEUS foi instituído pelo
Decreto nº5264, de 05 de novembro de 2004 com a finalidade de promover uma
maior interação entre os museus e profissionais da área, entre registro e
disseminação de conhecimento museológico, gestão integrada, e desenvolvimento
das ações das unidades museológicas que integrem o sistema.
Estes discursos informacionais, ao se tornarem em práticas informacionais,
podem colocar os museus brasileiros como uma instituição presente na sociedade
brasileira, um olhar antropológico voltado para a informação como vetor de
colocação do sujeito dentro da sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
GUARDAR
Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la. Em um cofre não se guarda coisa alguma. Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela, isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica, por isso se declara e declama um poema: Para guardá-lo: Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda: Guarde o que quer que guarda um poema: Por isso o lance do poema: Por guardar-se o que se quer guardar.
Antonio Cícero, 1994.
O presente trabalho nasceu do nosso incômodo gerado pela experiência de
termos vivido no interior de Minas, e hoje estarmos atuando diretamente com as
cidades coloniais, detentores de um acervo cultural extremamente importante para o
entendimento da cultura, identidade e memória nacional, e em convívio direto com
comunidades de municípios de pequeno porte, com problemas de ordem sócio-
econômica e que se diferenciam substancialmente das inseridas nos grandes
centros, tais como: Rio de Janeiro e São Paulo.
Essas unidades museológicas, localizadas em “territórios” com um potencial
sócio-cultural inesgotável não desenvolvem uma reflexão política que possa reinserir
os bens culturais como alternativa social para a comunidade circundante e são
mantidos “invisíveis”.
Procuramos apresentar conceitos de CULTURA, IDENTIDADE E MEMÓRIA
com enfoque nos museus históricos em contextos comunitários, e como a
informação nestes espaços culturais deve se constituir como uma geradora da
produção do conhecimento, a partir do entendimento de que a informação é o objeto
de trabalho da instituição museológica, considerando-se a informação em dois tipos:
a semântica e a estética, buscando na Ciência da Informação os conceitos
sedimentados na percepção da diversidade informacional que o objeto museológico
oferece, ou como SARACEVIC afirma: “uma complexidade organizada”.
Passamos pela discussão do MUSEU OBJETO DE ESTUDO, tentando
entender os conceitos de cultura, identidade e memória na relação com o espaço
museológico; MUSEU INFORMAÇÃO COMO OBJETO estabelecendo a relação
entre a Museologia e a Ciência da Informação, nesta questão da informação e
comunicação museológica, produzindo sentido, gerando conhecimento e MUSEU
UMA LEITURA INFORMACIONAL, o estudo do campo empírico e metodologia de
pesquisa aplicada ao Museu do Ouro, em Sabará, Minas Gerais.
Quanto às questões informacionais e comunicacionais, a proposta da Nova
Museologia se coaduna com os paradigmas da Ciência da Informação ao perceber o
objeto museológico como documento, mensagem e informação que carrega níveis
informacionais múltiplos, e que se comunica com o sujeito através da sua exposição.
Este meio de comunicação tem tido a tendência de oscilar entre o elitismo e o
populismo, ao analisarmos o discurso do visitante do Museu do Ouro percebemos o
distanciamento institucional da comunidade, e numa pequena oportunidade de se
fazer ouvir, ela contribui respondendo o questionário e aponta a falha no processo
da comunicação museu x sociedade.
Quanto ao discurso institucional, observamos uma reflexão clara por parte
dos dirigentes no entendimento das questões informacionais e comunicacionais do
museu, mas, como o Museu do Ouro padece do mal maior da maioria dos museus
brasileiros, potencial tem, mas pessoal qualificado não, e acabam por se tornar
apenas depositários de objetos.
A promoção social comunitária deve ser um processo com o objetivo de
investigação, conhecimento e sistematização da situação econômica, política e
social da comunidade. A busca da valorização das manifestações culturais é que
historicamente determina e caracteriza aquele território, no resgate da memória
através da preservação e difusão do seu patrimônio cultural, já que os museus
possuem a matéria prima do processo educativo que vem por motivar a promoção
social.
As dificuldades começam na formação profissional do museólogo, quando
este tem a possibilidade de trabalhar na área, sabendo que, na maioria das vezes, a
ausência desse tipo de profissional continua gritante nas instituições museológicas,
até pelo desconhecimento da sua existência no mercado de trabalho.
A formação do profissional de museologia também se modificou, mas
continua existindo somente duas universidades no Brasil que oferecem a graduação
em Museologia, a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, e a
Universidade Federal da Bahia – UFBA. E, em ambos os currículos observamos a
minimização das disciplinas da documentação museológica, fazendo dela uma
disciplina optativa, ou, quando disciplina obrigatória, com carga horária baixa,
embora se possa observar que na graduação de museologia da UNIRIO a interface
com a Ciência da Informação já se faz presente.
Consideramos que esta observação se desenvolveu durante o desenrolar
deste trabalho não sendo ele o foco da pesquisa, mas que com certeza abriu uma
possibilidade de desenvolver a questão dos cursos de graduação de museologia, na
área da Ciência da Informação numa tese de doutorado.
Se o objeto de trabalho do museu é o acervo, como se explica essa
deficiência, que, com certeza, afeta de maneira irreversível o desempenho do
museólogo. Os museus não podem continuar apenas como depósitos de objetos;
como a maioria ainda persiste em ser, o século XXI impele vertiginosamente que
estas instituições sejam produtoras de conhecimento; do contrário, estarão fadados
ao fenecimento.
As instituições museológicas em contextos comunitários devem ter um
compromisso muito maior com a comunidade em que estão inseridas pela sua forte
identidade cultural; o diálogo pode ser enriquecedor para os dirigentes de museus e
a comunidade, permitindo um fluxo contínuo de informação, e se tornando
verdadeiros meios de comunicação, que conseqüentemente poderão atingir um
número cada vez maior de pessoas.
As mudanças dos processos informacionais que atingem os aspectos
culturais, econômicos e tecnológicas fazem do museu, na atualidade, um meio de
comunicação de massa, e o não entendimento do objeto museológico como
documento, demonstra a falta de metodologia e pesquisa científica. Os sistemas de
recuperação da informação inexistentes, precários, falhos geradores do
desconhecimento da informação de que o museu é detentor, fazem dele um espaço
estagnado, sem dinâmica, persistindo o “segredo” e o “sagrado”.
Os museus são espaços de comunicação e informação, mas a questão
pedagógica deve ser aliada a estas, só assim o público poderá aprender a se
informar e a informar, onde buscar as informações que necessita, tendo a
capacidade de selecionar e criticar. A informação museológica, como a informação
em qualquer área do conhecimento humano, tem duas faces, caracterizadas por (LE
COADIC, 2003) como: face cognitiva e face social.
A face cognitiva são os processos intelectuais e técnicas, ou seja, trabalha
com os problemas teóricos e práticos da área; enquanto a face social é a aplicação
dos processos da face cognitiva de maneira a melhorá-los e ampliá-los, e assim
legitimá-los.
O museu tem que se entender como um espaço informacional e
comunicacional, fonte de pesquisa científica e estética, produtor de conhecimento, e
conseqüente mediador da informação, dentro do seu contexto cultural, e sua
pluralidade social. O museu histórico, em contexto comunitário, tem que se ver como
aquele que pode e deve usufruir desse espaço e potencializar toda a dimensão
expressa anteriormente.
Entretanto, para isso faz-se necessário que o museu estabeleça uma visão
clara a respeito de para onde se dirige e como chegar lá. Para isso acontecer, um
Plano Diretor é de vital importância, ele proporcionará ao museu idéias de finalidade,
de público, de direção, de avaliação, estratégia e plataforma financeira.
A metodologia e a prática museológica continuam em conflito até mesmo
numa instituição reconhecida de preservação do patrimônio cultural como o IPHAN,
que atua no país desde 1937, com quase 70 (setenta) anos de existência. Existe a
possibilidade da criação do Instituto Brasileiro de Museus, e assim, os museus, hoje
vinculados ao IPHAN, pode ser incorporados a este instituto, que talvez represente
um fortalecimento da área, para que o desenvolvimento e a prática informacional se
tornem mais presente nas suas discussões e ações.
Consideramos que a contribuição para a Ciência da Informação é a
possibilidade de estreitamento com a Museologia e a promoção do diálogo das duas
áreas, ainda tão incipiente. Abrir mais um espaço no desenvolvimento da pesquisa
científica da pós-graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, entendendo o
museu como espaço informacional e comunicacional é nossa intenção. Ao deslocar
o foco museal do objeto em si e abrir o leque de vários níveis de informação que o
formam e o inserem no processo cultural, o Museu será compreendido como
instituição comunicativa, fonte de pesquisa científica e estética, transmissora de
conhecimento e disseminadora da informação.
O museu, sobretudo, deve ser a atenção que recebe da sua comunidade,
atuando na valorização das vivências sociais, concentrando-se nas experiências
passadas, nas ações presentes e aspirações futuras do povo brasileiro. O Museu
como pilar cultural é um desafio, e através de conceitos da Ciência da Informação é
possível perceber a diversidade informacional do objeto/documento.
A prática museológica oscila entre os dois paradigmas: museologia tradicional
e a nova museologia. O primeiro é aquele que se preocupa basicamente com
questões administrativas e preservacionista do objeto; a outra forma de atuação está
mais voltada para as necessidades e anseios sociais, assim como trabalha com a
idéia de patrimônio entendido na sua globalidade e, as ações de preservação
documentação e pesquisa são feitas a partir dessa noção mais global do patrimônio.
É evidente que, no século XXI, torna-se cada vez mais impossível atuar nas
ciências sociais de “costas” voltadas para o homem e para o mundo que nos rodeia,
mundo este carregado de diferenças, dicotomias e pluralidade de culturas, e se não
pensarmos de maneira holística à sociedade estaremos fadados a sermos tragados
pela ”globalização perversa” (SANTOS,2003), em que o autor apresenta a violência
da informação, em que ela é manipulada e ideológica.
A trajetória do campo museológico pode ser contextualizada dentro da história
sócio-cultural e política-econômica pela qual a América Latina tem passado, com
diversos conflitos sociais, econômicos, políticos, ideológicos. Os museus brasileiros
dependentes das políticas culturais estabelecidas têm estado preocupados com os
problemas sociais gerados por uma sociedade globalizada, mas de cunho
eminentemente econômico, onde o homem/sujeito não encontra o seu lugar,
gerando um crescente fosso entre os países subdesenvolvidos x países, ou seja,
dominados x dominantes.
As discussões museológicas pelos profissionais da área apontam diversos
problemas existentes, tais como: nas áreas culturais, educativas, sociais e, até
mesmo, econômicas, sentindo-se comprometidos com estes problemas que afetam
a todos, em diversos níveis, procuram indicar alguns caminhos que possam servir de
alerta, pelo menos, no âmbito da Museologia.
Esperamos ter repensado na construção do museu além do olhar
institucional, mas perpassando principalmente pelo seu público, para quem o museu
deve estar a serviço, acreditamos que a Ciência da Informação a cada dia possa ter
um papel preponderante nas questões relacionadas aos museus, como afirma
WERSIG (1997) “os museus são meios de comunicação importante para a pós-
modernidade e devem se adaptar as características da sociedade da informação”.
Esperamos que o museu no século XXI passe a entender a palavra
GUARDAR como o poeta carioca Antonio Cícero, e se perceba como espaço
informacional e comunicacional, mas, para isso, faz-se necessário uma vontade
política arrojada, aliada a uma reflexão científica, com certeza um grande desafio
para a museologia brasileira.
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ANEXO I – ORGANOGRAMA MINISTÉRIO DA CULTURA
Fonte: www.cultura.gov.br, acessado em 12 de abril de 2005.
ANEXO II – ORGANOGRAMA DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL – IPHAN
Coordenação de RH
Coord. de Planejamento, Orç. e Finanças
Coord. de RecursosLogísticos
1ª SR AM/AC/RR/RO 8ª SR SE/AL
2ª SR PA/AP9ª SR SP/MS
3ª SR MA Museu Histórico Nacional
4ª SR CE/PI 10ª SR PR Paço Imperial
11ª SR SC Sítio Roberto Burle Marx5ª SR PE/FN/PB/RN
12ª SR RS Museu Imperial
Museu da República13ª SR MG
Museu Villa-Lobos6ª SR RJ/ES
Museus Raymundo Ottoni Castro Maya
Museu da Inconfidência14ª SR GO/TO/MT
7ª SR BA Museu Lasar Segall
15ª SR DF
( 1 )Programas Programas
Gerências
( 2 )
( 3 )
SubGerênciasde
( 2 )
Gerênciasde
Programas
Gerênciasde
Programasde
( 3 )
( 3 )
de Programas
Programas
Museu de Biologia Professor Mello Leitão
Centro Nacional de Cultura Popular
SubGerências
Museu Nacional de Belas Artes
SubGerências de
18ª Sub-Regional Cuibá/M T
17ª Sub-Regional Goiás/GO
Sub-Regional Vitória (6ª)
Sub-Regional Petrópolis (7ª)
Sub-Regional Paraty (8ª)
Sub-Reg. Porto Seguro (9ª)
Sub-Regional Teresina (1ª)
2ª Sub-Regional Natividade/TO
12ª Sub-Reg. M issões/RS
Sub-Reg. Guararapes (5ª)
15ª Sub-Reg. Tiradentes/M G
16ª Sub-Reg. Diamantina/M G
Sub-Regional Olinda (19ª)
Sub-Reg. João Pessoa (4ª)
Sub-Regional Natal (3ª)
10ª Sub-Regional M aceió /AL
11ª Sub-Reg. Campo Grande/M
13ª Sub-Reg. Ouro Preto /M G
14ª Sub-Regional Serro /M G
IPHAN
Departamento de Patrimônio Material
e Fiscalização
Departamento de Patrimônio Imaterial e
Documentação de Bens Culturais
Departamento dePlanejamento e Administração
Unidades Especiais:Museus e Centros
Culturais( 12 )
Procuradoria Federal
Departamento de Museus e
Centros Culturais
Auditoria Interna
SuperintendênciasRegionais
( 15 )
Assessoria de Promoçãodo Patrimônio Cultural
Gabinete
Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural
ANEXO III – LEI N º 378 DE 13 DE JANEIRO DE 1937 CRIA O SERVIÇO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL O Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil:
Faço saber que o Poder Legislativo decreta e eu sanciono a seguinte lei:
CAPÍTULO III
Seção III
Dos serviços à educação
Artigo 46.º- Fica criado o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, com a
finalidade de promover, em todo o país e de modo permanente, o tombamento, a
conservação, o enriquecimento e o conhecimento do patrimônio histórico e artístico
nacional.
§ 1º O serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional terá, além de outros
órgãos que se tornarem necessários ao seu funcionamento, o Conselho Consultivo.
§ 2º O Conselho Consultivo se constituirá de diretor do Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, dos diretores dos museus nacionais de coisas
históricas ou artísticas, e de mais dez membros, nomeados pelo Presidente da
República.
§ 3º O Museu Histórico Nacional, o Museu Nacional de Belas-Artes e outros
museus nacionais de coisas históricas ou artísticas, que forem criados, cooperarão
nas atividades do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, pela forma
que for estabelecida em regulamento
CAPÍTULO IX
Disposições transitórias
Artigo 119.º - Fica o Poder Executivo autorizado a despender, no exercício de
1937, por conta da dotação de Rs. 86.813:193$400, constante da parte III (Serviços
e encargos diversos), verba 23a., subconsignação n.º 2, do orçamento do Ministério
da Educação e saúde:
1) com as despesas de material necessário ao Instituto Nacional de Pedagogia, ao
Instituto Nacional de Cinema Educativo, ao Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional, ao Museu Nacional de Belas-Artes, ao Instituto Cairu e ao
Serviço de Radiofusão Educativa, respectivamente, as quantias de
R$.250:000$000, R$ 400:000$000, R$ 300:000$000, R$ 100:000$000, R$
50:000$000;
Artigo 130.º - Fica extinto o Conselho Nacional de Belas-Artes, cujas funções
passarão a ser exercidas pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
pelo Museu Nacional de Belas-Artes.
Artigo 143.º - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação.
Artigo 144.º - Revogam-se as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 13 de Janeiro de 1937; 116º da Independência e 49º da República.
Getúlio Vargas
Gustavo Capanema
Artur de Souza Costa.
ANEXO VIII
Exposição de motivos submetida pelo Ministro Gustavo Capanema ao Presidente
Gétulio Vargas em novembro de 1937.
SR. presidente:
A proteção do patrimônio histórico e artístico nacional é assunto que de longa data
vem preocupando os homens de cultura de nosso país
Nada, pelo menos nada de orgânico e sistemático se havia feito, porém, até 1936,
quando foi por V.Exa. criado o serviço do Patrimônio Histórico Nacional.
Trabalhava-se aqui e ali, com pequenos recursos para evitar um ou outro desastre
irreparável.
O grande acervo de preciosidades de valor histórico ou artístico ia-se perdendo,
dispersando, arruinando, alterando.
Proprietários sem escrúpulos ou ignorantes deixavam que bens os mais preciosos
se acabassem ou se evadissem, ante o descaso ou a inércia dos poderes públicos.
As vozes de um ou outro patriota ou esforço deste ou daquele homem público não
traziam o remédio necessário adequado.
A criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em abril de 1936,
foi o passo decisivo. Montou-se o aparelho de alcance nacional, destinado a
exercer ação enérgica e permanente, de modo direto ou indireto, para conservar e
enriquecer o nosso patrimônio histórico e artístico e ainda para torná-lo conhecido.
A princípio funcionou o serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em
bases provisórias.
A lei n.º 378, de 13 de janeiro de 1937, proposta pelo Poder Executivo, deu-lhe a
estrutura definitiva, que ora apresenta.
Em pouco mais de um ano e meio de funcionamento, a soma copiosa de trabalhos
realizados tem demonstrado a utilidade do empreendimento.
Desde logo, entretanto, se verificou que a ação do Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional não teria a necessária eficiência se não fossem fixados os
princípios fundamentais da proteção das coisas de valor histórico ou artístico,
princípios que não somente traçassem o plano de ação dos poderes públicos, mas
ainda assegurassem, mediante o estabelecimento de penalidades, a cooperação de
todos os proprietários.
Foi, assim, elaborado o necessário projeto de lei. Na sua feitura, aproveitou-se tudo
quanto de útil, entre nós, se projetara anteriormente. Foi consultada e atendida, no
que pareceu conveniente, a legislação estrangeira.
Vossa Excelência apresentou o projeto ao Poder Legislativo em 15 de outubro de
1936. Na Câmara dos Deputados não se lhe fez emenda. O Senado Federal
introduziu-lhe algumas pequenas modificações. A 1O do corrente mês de
novembro, quando se decretou a nova Constituição, estava o projeto em fase final
de elaboração, de novo na Câmara dos Deputados.
Retomando agora o projeto inicial, julguei de bom aviso nele incluir, com uma ou
duas exceções, as emendas do Senado Federal, e ainda uma ou outra nova
disposição com o que lhe melhorou o texto.
O projeto de decreto-lei, que ora tenho a honra de submeter à elevada
consideração de Vossa Excelência é, assim, o resultado de longo trabalho, em que
foram aproveitadas as lições e os alvitres dos estudiosos da matéria.
É ainda de notar que, nesse projeto, está regulada em toda a sua plenitude, a
disposição do art. 134 da Constituição.
Transformado em lei, é lícito esperar que de sua execução decorra para o nosso
patrimônio histórico e artístico a proteção vigilante, segura e esclarecida de que ele,
há tanto tempo, está carecendo.
Apresento a Vossa Excelência os meus protestos de respeitosa consideração.
Gustavo Capanema.
ANEXO IV – DECRETO-LEI Nº25 DE 30 DE NOVEMBRO DE 1937. ORGANIZA A PROTEÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL.
O Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil, usando da atribuição que lhe confere o art. 180 da Constituição, decreta:
CAPÍTULO I Do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
Artigo 1º - Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no País e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico.
§ 1º - Os bens a que se refere o presente artigo só serão considerados parte integrante do patrimônio histórico e artístico nacional depois de inscritos separada ou agrupadamente num dos quatro Livros do Tombo, de que trata o Art. 4º desta lei. § 2º - Equiparam-se aos bens a que se refere o presente artigo e são também sujeitos a tombamento os monumentos naturais, bem como os sítios e paisagens que importe conservar e proteger pela feição notável com que tenham sido dotados pela Natureza ou agenciados pela indústria humana.
Artigo 2º - A presente lei se aplica às coisas pertencentes às pessoas naturais, bem como às pessoas jurídicas de direito privado e de direito público interno.
Artigo 3º - Excluem-se do patrimônio histórico e artístico nacional as obras de origem estrangeira:
1º) que pertençam às representações diplomáticas ou consulares acreditadas no País; 2º) que adornem quaisquer veículos pertencentes a empresas estrangeiras, que façam carreira no País; 3º) que se incluam entre os bens referidos no art. 10 da Introdução ao Código Civil, e que continuam sujeitas à lei pessoal do proprietário; 4º) que pertençam a casas de comércio de objetos históricos ou artísticos; 5º) que sejam trazidas para exposições comemorativas, educativas ou comerciais; 6º) que sejam importadas por empresas estrangeiras expressamente para adorno dos respectivos estabelecimentos.
Parágrafo único: As obras mencionadas nas alíneas 4 e 5 terão guia de licença para livre trânsito, fornecida pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
CAPÍTULO II Do Tombamento
Artigo 4º - O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional possuirá quatro Livros do Tombo, nos quais serão inscritas as obras a que se refere o art. 1º desta lei, a saber:
1º) no Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, as coisas pertencentes às categorias de arte arqueológica, etnográfica, ameríndia e popular, e bem assim as mencionadas no § 2º do citado art. 1º; 2º) no Livro do Tombo Histórico, as coisas de interesse histórico e as obras de arte histórica; 3º) no Livro do Tombo das Belas-Artes, as coisas de arte erudita nacional ou estrangeira; 4º) no Livro do Tombo das Artes Aplicadas, as obras que se incluírem na categoria das artes aplicadas, nacionais ou estrangeiras.
§ 1º - Cada um dos Livros do Tombo poderá ter vários volumes. § 2º - Os bens, que se incluem nas categorias enumeradas nas alíneas 1, 2, 3 e 4 do presente artigo, serão definidos e especificados no regulamento que for expedido para execução da presente lei.
Artigo 5º - O tombamento dos bens pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios se fará de ofício por ordem do Diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, mas deverá ser notificado à entidade a quem pertencer, ou sob cuja guarda estiver a coisa tombada, a fim de produzir os necessários efeitos.
Artigo 6º - O tombamento de coisa pertencente à pessoa natural ou à pessoa jurídica de direito privado se fará voluntária ou compulsoriamente.
Artigo 7º - Proceder-se-á ao tombamento voluntário sempre que o proprietário o pedir e a coisa se revestir dos requisitos necessários para constituir parte integrante do patrimônio histórico e artístico nacional a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou sempre que o mesmo proprietário anuir, por escrito, à notificação, que se lhe fizer, para inscrição da coisa em qualquer dos Livros do Tombo.
Artigo 8º - Proceder-se-á ao tombamento compulsório quando o proprietário se recusar a anuir à inscrição da coisa.
Artigo 9º - O tombamento compulsório se fará de acordo com o seguinte processo:
1º) O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, por seu órgão competente, notificará o proprietário para anuir ao tombamento, dentro do prazo de quinze dias, a contar do recebimento da notificação, ou para, se o quiser impugnar, oferecer dentro do mesmo prazo as razões de sua impugnação; 2º) no caso de não haver impugnação dentro do prazo assinado, que é fatal, o diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mandará por simples despacho que proceda à inscrição da coisa no competente Livro do Tombo; 3º) se a impugnação for oferecida dentro do prazo assinado, far-se-á vista da mesma, dentro de outros quinze dias fatais, ao órgão de que houver emanado a iniciativa do tombamento, a fim de sustentá-la. Em seguida, independentemente de custas, será o processo remetido ao Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico Nacional, que proferirá decisão a respeito, dentro do prazo de sessenta dias, a contar do seu recebimento. Dessa decisão não caberá recurso.
Artigo 10º - O tombamento dos bens, a que se refere o art. 6º desta lei, será considerado provisório ou definitivo, conforme esteja o respectivo processo iniciado pela notificação ou concluído pela inscrição dos referidos bens no competente Livro do Tombo. Parágrafo único - Para todos os efeitos, salvo a disposição do art. 13 desta lei, o tombamento provisório se equipará ao definitivo.
CAPÍTULO III Dos efeitos do tombamento
Artigo 11 - As coisas tombadas, que pertençam à União, aos Estados ou aos Municípios, inalienáveis por natureza, só poderão ser transferidas de uma à outra das referidas entidades.
Parágrafo único. Feita a transferência, dela deve o adquirente dar imediato conhecimento ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Artigo 12 - A alienabilidade das obras históricas ou artísticas tombadas, de propriedade de pessoas naturais ou jurídicas de direito privado, sofrerá as restrições constantes da presente lei.
Artigo 13 - O tombamento definitivo dos bens de propriedade particular será, por iniciativa do órgão competente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, transcrito para os devidos efeitos em livro a cargo dos oficiais do registro de imóveis e averbado ao lado da transcrição do domínio.
§ 1º - No caso de transferência de propriedade dos bens de que trata este artigo, deverá o adquirente, dentro do prazo de trinta dias, sob pena de multa de dez por centro sobre o respectivo valor, fazê-la constar do registro, ainda que se trate de transmissão judicial ou causa mortis. § 2º - Na hipótese de deslocação de tais bens, deverá o proprietário, dentro do mesmo prazo e sob pena da mesma multa, inscrevê-los no registro do lugar para que tiveram sido deslocados. § 3º - A transferência deve ser comunicada pelo adquirente, e a deslocação pelo proprietário, ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, dentro do mesmo prazo e sob a mesma pena.
Artigo 14 - A coisa tombada não poderá sair do País, senão por curto prazo, sem transferência de domínio e para fim de intercâmbio cultural, a juízo do Conselho Consultivo do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Artigo 15 - Tentada, a não ser no caso previsto no artigo anterior, a exportação para fora do País, da coisa tombada, será esta seqüestrada pela União ou pelo Estado em que se encontrar.
§ 1º - Apurada a responsabilidade do proprietário, ser-lhe-á imposta a multa de cinqüenta por cento do valor da coisa, que permanecerá seqüestrada em garantia do pagamento, e até que este se faça. § 2º - No caso de reincidência, a multa será elevada ao dobro. § 3º - A pessoa que tentar a exportação de coisa tombada, além de incidir na multa a
que se referem os parágrafos anteriores, incorrerá nas penas cominadas no Código Penal para o crime de contrabando.
Artigo 16 - No caso de extravio ou furto de qualquer objeto tombado, o respectivo proprietário deverá dar conhecimento do fato ao Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, dentro do prazo de cinco dias, sob pena de multa de dez por cento sobre o valor da coisa.
Artigo 17 - As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum, ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de cinqüenta por cento do dano causado.
Parágrafo único: Tratando-se de bens pertencentes à União, aos Estados ou aos Municípios, a autoridade responsável pela infração do presente artigo incorrerá pessoalmente na multa.
Artigo 18 - Sem prévia autorização do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, não se poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o objeto, impondo-se neste caso multa de cinqüenta por cento do valor do mesmo objeto.
Artigo 19 - O proprietário de coisa tombada, que não dispuser de recursos para proceder às obras de conservação e reparação que a mesma requerer, levará ao conhecimento do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e necessidade das mencionadas obras, sob pena de multa correspondente ao dobro da importância em que for avaliado o dano sofrido pela mesma coisa.
§ 1º - Recebida a comunicação, e consideradas necessárias as obras, o diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional mandará executá-las, a expensas da União, devendo as mesmas ser iniciadas dentro do prazo de seis meses, ou providenciará para que seja feita a desapropriação da coisa. § 2º - À falta de qualquer das providências previstas no parágrafo anterior, poderá o proprietário requerer que seja cancelado o tombamento da coisa. § 3º - Uma vez que verifique haver urgência na realização de obras e conservação ou reparação em qualquer coisa tombada, poderá o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tomar a iniciativa de projetá-las e executá-las, a expensas da União, independentemente da comunicação a que alude este artigo, por parte do proprietário.
Artigo 20 - As coisas tombadas ficam sujeitas à vigilância permanente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, que poderá inspecioná-las sempre que for julgado conveniente, não podendo os respectivos proprietários ou responsáveis criar obstáculos à inspeção, sob pena de multa de cem mil réis, elevada ao dobro em caso de reincidência.
Artigo 21 - Os atentados cometidos contra os bens de que trata o art. 1º desta lei são equiparados aos cometidos contra o patrimônio nacional.
CAPÍTULO IV Do direito de preferência
Artigo 22 - Em face da alienação, onerosa de bens tombados, pertencentes a pessoas naturais ou a pessoas jurídicas de direito privado, a União, os Estados e os Municípios terão, nesta ordem, o direito de preferência.
§ 1º - Tal alienação não será permitida sem que previamente sejam os bens oferecidos, pelo mesmo preço, à União, bem como ao Estado e ao Município em que se encontrarem. O proprietário deverá notificar os titulares do direito de preferência a usá-lo, dentro de trinta dias, sob pena de perdê-lo. § 2º - É nula a alienação realizada com violação do disposto no parágrafo anterior, ficando qualquer dos titulares do direito de preferência habilitado a seqüestrar a coisa e a impor a multa de vinte por cento do seu valor ao transmitente e ao adquirente, que serão por ela solidariamente responsáveis. A nulidade será pronunciada, na forma da lei, pelo juiz que conceder o sequestro, o qual só será levantado depois de paga a multa e se qualquer dos titulares do direito de preferência não tiver adquirido a coisa no prazo de trinta dias. § 3º - O direito de preferência não inibe o proprietário de gravar livremente a coisa tombada, de penhor, anticrese ou hipoteca. § 4º - Nenhuma venda judicial de bens tombados se poderá realizar sem que, previamente, os titulares do direito de preferência sejam disso notificados judicialmente, não podendo os editais de praça ser expedidos, sob pena de nulidade, antes de feita a notificação. § 5º - Aos titulares do direito de preferência assistirá o direito de remissão, se dela não lançarem mão, até a assinatura do auto de arrematação ou até a sentença de adjudicação, as pessoas que, na forma da lei, tiverem a faculdade de remir. § 6º - O direito de remissão por parte da União, bem como do Estado e do Município em que os bens se encontrarem, poderá ser exercido, dentro de cinco dias a partir da assinatura do auto de arrematação ou da sentença de adjudicação, não se podendo extrair a carta enquanto não se esgotar este prazo, salvo se o arrematante ou o adjudicante for qualquer dos titulares do direito de preferência.
CAPÍTULO V Disposições gerais
Artigo 23 - O Poder Executivo providenciará a realização de acordos entre a União e os Estados, para melhor coordenação e desenvolvimento das atividades relativas à proteção do patrimônio histórico e artístico nacional e para a uniformização da legislação estadual complementar sobre o mesmo assunto.
Artigo 24 - A União manterá, para conservação e exposição de obras históricas e artísticas de sua propriedade, além do Museu Histórico Nacional e do Museu Nacional de Belas Artes, tantos outros museus nacionais quantos se tornarem necessários, devendo outrossim providenciar no sentido a favorecer a instituição de museus estaduais e municipais, com finalidades similares.
Artigo 25 - O Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional procurará entendimentos com as autoridades eclesiásticas, instituições científicas, históricas ou artísticas e pessoas naturais e jurídicas, com o objetivo de obter a cooperação das mesmas em benefício do patrimônio histórico e artístico nacional.
Artigo 26 - Os negociantes de antigüidade, de obras de arte de qualquer natureza, de manuscritos e livros antigos ou raros são obrigados a um registro especial no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, cumprindo-lhes outrossim apresentar semestralmente ao mesmo relações completas das coisas históricas e artísticas que possuírem.
Artigo 27 - Sempre que os agentes de leilões tiverem de vender objetos de natureza idêntica à dos mencionados no artigo anterior, deverão apresentar a respectiva relação ao órgão competente do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, sob pena de incidirem na multa de cinqüenta por cento sobre o valor dos objetos vendidos.
Artigo 28 - Nenhum objeto de natureza idêntica à dos referidos no art. 26 desta lei poderá ser posto à venda pelos comerciantes ou agentes de leilões, sem que tenha sido previamente autenticado pelo Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ou por perito em que o mesmo se louvar, sob pena de multa de cinqüenta por cento sobre o valor atribuído ao objeto.
Parágrafo único: A autenticação do mencionado objeto será feita mediante o pagamento de uma taxa de peritagem de cinco por cento sobre o valor da coisa, se este for inferior ou equivalente a um conto de réis, e de mais cinco mil-réis por conto de réis ou fração que exceder.
Artigo 29 - O titular do direito de preferência goza de privilégio especial sobre o valor produzido em praça por bens tombados, quanto ao pagamento de multas impostas em virtude de infrações da presente lei.
Parágrafo único - Só terão prioridade sobre o privilégio a que se refere este artigo os créditos inscritos no registro competente antes do tombamento da coisa pelo Serviço Nacional do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Artigo 30 - Revogam-se as disposições em contrário. Rio de Janeiro, em 30 de novembro de 1937; 116º da Independência e 49º da República.
Getúlio Vargas Gustavo Capanema
ANEXO V – DECRETO-LEI Nº7483, DE 23 DE ABRIL DE 1945.
CRIA O MUSEU DO OURO
O Presidente da República, usando da atribuição que lhe confere o artigo 180 da Constituição, decreta:
Art. 1º. Fica criado o Museu do Ouro, com a finalidade de recolher, classificar, conservar e expor objetos de valor histórico e artístico relacionados com a indústria de mineração no País, atendendo aos aspectos principais da sua evolução, da sua técnica e da sua influência no desenvolvimento econômico e na formação social de Minas Gerais e de todo o Brasil.
Parágrafo único. O Museu do Ouro terá como sede a antiga Casa da Intendência do Ouro, em Sabará, Estado de Minas Gerais.
Art.2º. Fica criado no Quadro Permanente do Ministério da Educação e Saúde, um cargo de Diretor de Museu, padrão L, em comissão.
Art.3º. Este Decreto-lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.
Rio de Janeiro, 23 de abril de 1945; 124º da Independência e 57º da República.
ANEXO VI – CONSTITUIÇÃO 1988 DE 05 DE OUTUBRO DE 1988.
(artigos referentes ao patrimônio cultural brasileiro)
Promulgada por Assembléia Nacional Constituinte, sendo Presidente da República, José Sarney.
De uma maneira geral, a nova Constituição descentraliza o poder e devolve ao Legislativo a exclusividade de legislar, ao suprimir o mecanismo dos decretos-leis, embora mantenha a possibilidade do Presidente legislar mediante medidas excepcionais. Muitas normas jurídicas da lei ordinária, que figuravam antes somente no Código Penal, Código Civil e Consolidação das Leis do Trabalho, passaram a constar, agora, da Constituição, que em seu conjunto, é bastante explícita. No tocante à cultura e aos bens culturais, nunca antes um texto constitucional brasileiro lhes dedicou tanto espaço. Pela primeira vez surge a denominação patrimônio cultural e sua definição. Outra novidade é a distinção entre patrimônio cultural e natural, este último sob a denominação ambiental. O meio ambiente, aliás, passa a constar de capítulo especifico. A ação popular tem explicitado, no novo texto, seu papel na defesa do patrimônio cultural e do meio ambiente.
Artigo 5° - Todos são iguais Perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
LXXIII -- qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da suculência;
Artigo 23° - É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência; VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
Artigo 24° - Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IX - educação, cultura, ensino e desporto;
Artigo 30° - Compete aos Municípios:
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.
Artigo 170° - A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
VI - defesa do meio ambiente;
Artigo 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.
§ 1°. O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras e das de outros grupos participantes do processo cívilizatório nacional. § 2°. A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.
Artigo 216° - Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem:
I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.
§ 1°. O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. § 2°. Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. § 3°. A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais. § 4°. Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei. § 5°. Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos.
Os artigos 220 e 221, referentes à comunicação social, expressam princípios que interessam à questão cultural:
Artigo 220° - A manifestação do pensamento, a criação, a expressão, e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição.
Artigo 221° - A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I – preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas, II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
Artigo 225° - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
§ I°. Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V - controlar a produção, a comercialização e emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI - promover a educação ambiental em todos o níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
§ 2°. Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão publico competente, na forma da lei. § 3°. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente obrigação de reparar os danos causados. § 4°. A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal
Mato-grossense e a Zona Costeira são patrimônio Nacional e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a. preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. § 5°. São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais. § 6°. As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas.
ANEXO VII – POLÍTICA NACIONAL DE MUSEUS – MAIO DE 2003
BASES PARA A POLÍTICA NACIONAL DE MUSEUS APRESENTAÇÃO
Ao se propor a sistematização de uma política pública voltada para os museus brasileiros, a preocupação inicial do Ministério da Cultura foi estabelecer o debate necessário sobre a questão com os diversos segmentos culturais que tratam do assunto, buscando travar um diálogo com pessoas e entidades vinculadas à museologia, meio universitário, profissionais da área e secretarias estaduais e municipais de cultura.
Desta forma, a primeira apresentação pública do texto com os eixos programáticos sobre as bases para a Política Nacional de Museus ocorreu durante os dias 24 a 27 de março de 2003, quando foram realizadas reuniões junto à comunidade museológica para discussão do tema. Posteriormente, seguindo a linha participativa que adotamos, o texto foi distribuído e disseminado por meio eletrônico a diversas pessoas e entidades vinculadas à museologia para discussão, apreciação e sugestões.
A realização das reuniões e a distribuição do texto base teve como principais objetivos a divulgação das linhas programáticas da Política, o debate e o esclarecimento de dúvidas, recolhimento de sugestões e evidenciar a importância da participação de todos na construção de uma política integrada em nível nacional.
As reuniões mencionadas envolveram aproximadamente cem pessoas, entre as quais destacamos responsáveis e profissionais de entidades museológicas de diferentes tutelas, representantes do meio acadêmico, profissionais de departamentos ligados ao patrimônio cultural de governos estaduais e prefeituras, e órgãos do governo federal de vários ministérios que têm museus em sua estrutura ou que, de alguma forma, têm relação com o tema.
Os debates que as reuniões proporcionaram e as sugestões recebidas por meio eletrônico foram fundamentais para a consolidação dos eixos programáticos e finalização do texto base da Política. Ademais, se constituíram como um primeiro passo para a implementação de um projeto articulado que pretende contribuir para a revitalização das unidades museológicas no Brasil. Vale ressaltar que foram recebidas contribuições inclusive de entidades e personalidades da comunidade museológica de outros países.
A implementação dos sete eixos programáticos da Política está prevista para acontecer em quatro anos. As primeiras ações a serem realizadas serão a criação do Cadastro Nacional de Museus, previsto no eixo 1, e do Programa de Formação e Capacitação de Recursos Humanos em Museologia, previsto no eixo 3, lançados oficialmente junto com a Política Nacional de Museus.
O Cadastro Nacional de Museus visa a criação de uma base unificada com amplitude nacional, estabelecendo uma plataforma de informações e dados sobre os museus brasileiros. É o passo inicial para a implementação do Sistema Nacional de Museus, previsto na Política.
Da mesma forma, também será lançado o Selo Museus Brasileiros, que qualquer museu, independente se privado ou vinculado a qualquer esfera governamental, poderá utilizar, desde que cumpridos requisitos básicos em seus projetos institucionais, que demonstrem a atuação do museu.
O Programa Nacional de Capacitação em Museologia, por sua vez, prevê a criação de programa de capacitação e formação em museologia para técnicos do setor, com a ampliação de oferta de cursos de graduação, pós-graduação, oficinas e cursos de aperfeiçoamento nas diversas áreas de atuação dos museus. O Programa foi elaborado por um grupo de trabalho, criado em uma das reuniões mencionadas acima.
No texto consolidado que se segue, procedeu-se a uma revisão do texto inicial, incorporando as principais contribuições recebidas ou explicitando alguns pontos que necessitavam de maior clarificação. Deste amplo processo de consulta à comunidade museológica, resultaram as bases da Política Nacional de Museus, agora editadas, que visam fundamentar as ações a serem desenvolvidas em prol da revitalização dos museus brasileiros. O processo, até então, é apenas o início da implementação da Política, que ainda está em construção e pretende incorporar muitas outras contribuições.
INTRODUÇÃO
Numa sociedade complexa como a brasileira, rica em manifestações culturais diversificadas, o papel dos museus, no âmbito de políticas públicas de caráter mais amplo, é de fundamental importância para a valorização do patrimônio cultural como dispositivo estratégico de aprimoramento dos processos democráticos. A noção de patrimônio cultural, do ponto de vista museológico, implica a abertura para o trato com o tangível e o intangível, a dimensão cultural pressuposta na relação dos diferentes grupos sociais e étnicos com os diversos elementos da natureza, bem como no respeito às culturas indígenas e afro-descendentes.
Para cumprir esse papel, os museus devem ser processos e estar a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento. Comprometidos com a gestão democrática e participativa, eles devem ser também unidades de investigação e interpretação, de mapeamento, documentação e preservação cultural, de comunicação e exposição dos testemunhos do homem e da natureza, com os objetivos de propiciar a ampliação do campo das possibilidades de construção identitária e a percepção crítica acerca da realidade cultural brasileira.
Assim, no momento em que se renovam as perspectivas de construção de um novo Projeto de Nação mais inclusivo e com maiores estímulos à participação cidadã, torna-se premente a implantação de uma Política Nacional de Museus, que além de abrangente e integrada à política cultural, seja um estímulo ao desenvolvimento, à criatividade, à produção de saberes e fazeres e ao avanço técnico-científico do campo museológico. Essa política deve ter como premissa a democratização do acesso aos bens culturais produzidos, bem como a democratização dos dispositivos de estímulo e incentivo à dinâmica de produção de bens culturais representativos de diferentes grupos sociais e étnicos, de diferentes regiões e localidades existentes no país.
OBJETIVO GERAL
Promover a valorização, a preservação e a fruição do patrimônio cultural brasileiro, considerado como um dos dispositivos de inclusão social e cidadania, por meio do desenvolvimento e da revitalização das instituições museológicas existentes e pelo fomento à criação de novos processos de produção e institucionalização de memórias consitutuivas da diversidade sócio, étnico e cultural do país.
PRINCÍPIOS ORIENTADORES
1. Estabelecimento e consolidação de políticas públicas no campo do patrimônio cultural, da institucionalização da memória social e dos museus, visando à democratização das instituições e dos usos dos bens culturais nacionais, estaduais e municipais;
2. Valorização do patrimônio cultural sob a guarda dos museus, compreendendo-os como unidades de valor estratégico nos diferentes processos identitários, sejam eles de caráter nacional, regional ou local;
3. Desenvolvimento de processos educacionais para o respeito à diferença e à diversidade cultural do povo brasileiro frente aos procedimentos políticos de homogeneização decorrentes da globalização;
4. Reconhecimento e garantia dos direitos das comunidades organizadas de participar, em conjunto com os profissionais, técnicos e gestores do patrimônio cultural, dos processos de registro e proteção legal, e dos procedimentos técnicos e políticos de definição do patrimônio a ser preservado;
5. Estímulo e apoio à participação de museus comunitários, ecomuseus, museus locais, museus escolares e outros na Política Nacional de Museus e nas ações de preservação e gerenciamento do patrimônio cultural;
6. Incentivo a programas e ações que viabilizem a conservação, preservação e sustentabilidade do patrimônio cultural submetido a processo de musealização;
7. Respeito ao patrimônio cultural das comunidades indígenas e afro-descendentes, de acordo com as suas especificidades e diversidades.
A CONSTRUÇÃO DA REDE DE PARCERIAS
A elaboração e a implementação da Política Nacional de Museus, a ser coordenada pelo Ministério da Cultura, deverá contar com a participação de órgãos dos governos federal, estadual, municipal e do setor privado, ligados à cultura, à pesquisa e ao fomento, bem como entidades da sociedade civil organizada. A meta é a constituição de uma ampla e diversificada rede de parceiros que, somando esforços, contribuam para a valorização, a preservação e o gerenciamento do nosso patrimônio cultural, de modo a torná-lo cada vez mais representativo da diversidade étnica e cultural do Brasil.
A Política Nacional de Museus deverá contar com os recursos previstos no Fundo Nacional da Cultura (FNC), com as leis de incentivo fiscal e com os orçamentos próprios dos órgãos e entidades envolvidos, além de valorizar a integração de
instâncias governamentais e entidades da sociedade civil voltadas para o campo museal, constituindo uma rede de responsabilidades no tocante à preservação e ao gerenciamento de bens culturais.
EIXOS PROGRAMÁTICOS
1. GESTÃO E CONFIGURAÇÃO DO CAMPO MUSEOLÓGICO
1.1 Implementação do Sistema Nacional de Museus e incentivo à criação de sistemas estaduais e municipais de museus e outras instituições de memória;
1.2 Criação do Cadastro Nacional de Museus, visando a produção de conhecimentos sobre a realidade museológica do país;
1.3 Criação e aperfeiçoamento de legislação que oriente a atuação dos museus no país, sobretudo, no que diz respeito às políticas de aquisição e gerenciamento de acervos, ao uso do espaço público, ao uso e direito de imagem, à comercialização, gerenciamento e circulação de acervos e coleções de interesse público;
1.4 Integração de diferentes instâncias governamentais diretamente envolvidas com a gestão de patrimônios culturais submetidos a musealização;
1.5 Criação de pólos museais regionalizados e de equipes volantes com vários níveis de especificidade, de modo a desenvolver ações preventivas e a apontar soluções para problemas localizados;
1.6 Criação de medidas de cooperação técnica entre laboratórios de restauração e conservação de diversas tipologias de acervos;
1.7 Promoção à participação de comunidades indígenas e afro-descendentes no gerenciamento e promoção de seus patrimônios culturais;
1.8 Estabelecimento de planos de carreira, seguidos de concursos públicos específicos para atender aos diferentes níveis e instâncias governamentais e às diferentes especificidades das profissões museais.
2. DEMOCRATIZAÇÃO E ACESSO AOS BENS CULTURAIS
2.1 Apoio à criação de redes de informação entre os museus brasileiros e entre os profissionais desses museus, a fim de facilitar a pesquisa, o desenvolvimento profissional e democratizar o acesso ao conhecimento produzido;
2.2 Estímulo e apoio ao desenvolvimento de processos e metodologias de gestão participativa nos museus, a começar pela própria agenda de temas e conteúdos expositivos;
2.3 Criação de mecanismos que favoreçam a documentação, organização, conservação, restauração, informatização e disponibilização dos acervos museológicos;
2.4 Criação de programas que visem uma maior inserção do patrimônio cultural musealizado na vida social contemporânea, por meio de exposições, concursos, espetáculos, oficinas e outras ações de caráter educativo-cultural;
2.5 Apoio à realização de eventos multi-institucionais e à circulação de exposições museológicas;
2.6 Apoio à publicação da produção intelectual e científica e à difusão da produção editorial específica dos museus e da museologia;
2.7 Apoio às ações que tenham por objetivo a democratização do acesso aos museus e o desenvolvimento de políticas de comunicação com o público;
2.8 Criação de medidas de cooperação técnica e de socialização de experiências: a. realizadas em programas de comunicação com públicos gerais e específicos (curadorias participativas, exposições, visitas orientadas, elaboração de materiais didáticos, desenvolvimento de serviços educativos etc.); b. perpetradas nas áreas da gestão, da preservação e da documentação museográfica (inventários participativos, instalação e organização de reservas técnicas, gerenciamento e informatização de acervos, desenvolvimento de equipes e projetos, conservação preventiva etc.); c. desenvolvidas na área da investigação e da editoração (teoria museológica, estudos de coleções, estudos de público, história e trajetória de museus, estudos de espaços museológicos, programas editoriais etc.).
3. FORMAÇÃO E CAPACITAÇÃO DE RECURSOS HUMANOS
3.1 Criação e implementação de um programa de formação e capacitação de recursos humanos em museus e museologia, com a ampliação da oferta de cursos de graduação e pós-graduação (estrito e lato senso), além de cursos técnicos, cursos de extensão e oficinas nas diversas áreas de atuação dos museus;
3.2 Inclusão nos currículos escolares de ensinos fundamental e médio de conteúdos e disciplinas que tratem do uso educacional dos museus e dos patrimônios culturais;
3.3 Criação de políticas de formação em educação museal e patrimonial, reconhecendo que estas expressões configuram campos de atuação e não metodologias específicas;
3.4 Criação de pólos de capacitação e de equipes volantes, com condições de atuação nacional;
3.5 Desenvolvimento de programa de estágios em museus brasileiros e estrangeiros com reconhecida e comprovada capacidade e disponibilidade de atuação na área da formação profissional;
3.6 Apoio à realização de encontros, seminários, congressos e outros fóruns de discussão para divulgação da produção de conhecimento da área dos museus, da memória social, do patrimônio cultural e da museologia.
4. INFORMATIZAÇÃO DE MUSEUS
4.1 Criação de políticas de apoio à informatização dos museus brasileiros;
4.2 Apoio aos processos de desenvolvimento de sistemas informatizados de documentação e gestão de acervos;
4.3 Estímulo e apoio a projetos que visam disponibilizar informações sobre acervos, pesquisas e programações dos museus em mídias eletrônicas;
4.4 Apoio aos projetos institucionais de transferência de tecnologias para outras instituições de memória;
4.5 Estímulos aos projetos de informatização e tecnologia digital desenvolvidos em parceria com instituições de ensino.
5. MODERNIZAÇÃO DE INFRA-ESTRUTURAS MUSEOLÓGICAS
5.1 Apoio à realização de obras de manutenção, adaptação, saneamento, climatização, segurança, arranjos exteriores de lazer e de acessibilidade aos imóveis que abrigam acervos museológicos;
5.2 Apoio a projetos de modernização de exposições de longa duração e ao desenvolvimento de programas de exposições de curta duração e itinerantes;
5.3 Estímulo a projetos de pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias no campo da conservação, documentação e exposição;
5.4 Apoio aos projetos de modernização das instalações de reservas técnicas e de laboratório de restauração e conservação.
6. FINANCIMANETO E FOMENTO PARA MUSEUS
6.1 Criação de um Fundo de Amparo ao patrimônio cultural e aos museus brasileiros;
6.2 Criação de Programas de Qualificação de Museus junto ao CNPq, à CAPES e às Fundações de Amparo à Pesquisa e às instituições de ensino superior, levando em conta as especificidades da realidade museológica brasileira;
6.3 Criação de políticas de fomento e difusão da produção intelectual e científica dos museus nacionais, estaduais e municipais;
6.4 Estabelecimento de parcerias entre as diversas esferas do poder público e a iniciativa privada, de modo a promover a valorização e a sustentabilidade do patrimônio cultural musealizado;
6.5 Aperfeiçoamento da legislação de incentivo fiscal, visando à democratização e à distribuição mais harmônica dos recursos aplicados ao patrimônio cultural musealizado.
7. AQUISIÇÃO E GERENCAIMENTO DE ACERVOS CULTURAIS
7.1 Criação de um programa de políticas integradas de permuta, aquisição, documentação, pesquisa, preservação, conservação, restauração e difusão de acervos nos níveis municipal, estadual e nacional e de acervos de comunidades indígenas, afro-descendetes e das diversas etnias constitutivas da sociedade brasileira;
7.2 Apoio ao estabelecimento de políticas democráticas de aquisição de acervos que levem em consideração a diversidade étnica, cultural e social do povo brasileiro, bem como a necessidade de preservar acervos representativos da vida social e cultural brasileira no século XX;
7.3 Estabelecimento de critérios de apoio e financiamento às ações de conservação e restauração de bens culturais;
7.4 Apoio às instâncias nacionais e internacionais de fiscalização e controle do tráfico ilícito de bens culturais;
7.5 Apoio às ações e aos dispositivos legais de reconhecimento, salvaguarda e proteção legal dos bens culturais claramente vinculados à história e à memória social de caráter local ou nacional.
ANEXO VIII – DECRETO N º 5264 DE 05.11.2004. INSTITUI O SISTEMA BRASILEIRO DE MUSEUS E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso VI, alínea "a", da Constituição,
DECRETA:
Art. 1o Fica instituído o Sistema Brasileiro de Museus, com a finalidade de promover:
I - a interação entre os museus, instituições afins e profissionais ligados ao setor, visando ao constante aperfeiçoamento da utilização de recursos materiais e culturais;
II - a valorização, registro e disseminação de conhecimentos específicos no campo museológico;
III - a gestão integrada e o desenvolvimento das instituições, acervos e processos museológicos; e
IV - o desenvolvimento das ações voltadas para as áreas de aquisição de bens, capacitação de recursos humanos, documentação, pesquisa, conservação, restauração, comunicação e difusão entre os órgãos e entidades públicas, entidades privadas e unidades museológicas que integrem o Sistema.
Parágrafo único. Caberá ao Ministério da Cultura coordenar o Sistema Brasileiro de Museus, fixar diretrizes, estabelecer orientação normativa e supervisão técnica para o exercício de atividades sistematizadas no âmbito das matérias e objetivos do Sistema, preservada a autonomia administrativa, as dotações orçamentárias e a gestão de pessoal próprias dos órgãos e entidades que o integrem.
Art. 2o São características das instituições museológicas, dentre outras:
I - o trabalho permanente com patrimônio cultural;
II - a disponibilização de acervos e exposições ao público, propiciando a ampliação do campo de construção identitária, a percepção crítica da realidade cultural brasileira, o estímulo à produção do conhecimento e à produção de novas oportunidades de lazer;
III - o desenvolvimento de programas, projetos e ações que utilizem o patrimônio cultural como recurso educacional e de inclusão social; e
IV - a vocação para a comunicação, investigação, interpretação, documentação e preservação de testemunhos culturais e naturais.
Art. 3o As instituições museológicas dos órgãos vinculados ao Ministério da Cultura passam a integrar o Sistema Brasileiro de Museus.
Parágrafo único. Poderão fazer parte do Sistema Brasileiro de Museus, mediante a formalização de instrumento hábil a ser firmado com o Ministério da Cultura:
I - outras instituições museológicas vinculadas aos demais Poderes da União, bem como de âmbito estadual e municipal;
II - as instituições museológicas privadas, inclusive aquelas das quais o Poder Público participe;
III - as organizações sociais, os museus comunitários, os ecomuseus e os grupos étnicos e culturais que mantenham ou estejam desenvolvendo projetos museológicos;
IV - as escolas e as universidades oficialmente reconhecidas pelo Ministério da Educação, que mantenham cursos relativos ao campo museológico; e
V - outras entidades organizadas vinculadas ao setor museológico.
Art. 4° Constituem objetivos específicos do Sistema Brasileiro de Museus:
I - promover a articulação entre as instituições museológicas, respeitando sua autonomia jurídico-administrativa, cultural e técnico-científica;
II - estimular o desenvolvimento de programas, projetos e atividades museológicas que respeitem e valorizem o patrimônio cultural de comunidades populares e tradicionais, de acordo com as suas especificidades;
III - divulgar padrões e procedimentos técnico-científicos que orientem as atividades desenvolvidas nas instituições museológicas;
IV - estimular e apoiar os programas e projetos de incremento e qualificação profissional de equipes que atuem em instituições museológicas;
V - estimular a participação e o interesse dos diversos segmentos da sociedade no setor museológico;
VI - estimular o desenvolvimento de programas, projetos e atividades educativas e culturais nas instituições museológicas;
VII - incentivar e promover a criação e a articulação de redes e sistemas estaduais, municipais e internacionais de museus, bem como seu intercâmbio e integração ao Sistema Brasileiro de Museus;
VIII - contribuir para a implementação, manutenção e atualização de um Cadastro Nacional de Museus;
IX - propor a criação e aperfeiçoamento de instrumentos legais para o melhor desempenho e desenvolvimento das instituições museológicas no País;
X - propor medidas para a política de segurança e proteção de acervos, instalações e edificações;
XI - incentivar a formação, atualização e a valorização dos profissionais de instituições museológicas; e
XII - estimular práticas voltadas para permuta, aquisição, documentação, investigação, preservação, conservação, restauração e difusão de acervos museológicos.
Art. 5o O Sistema Brasileiro de Museus disporá de um Comitê Gestor, com a finalidade de propor diretrizes e ações, bem como apoiar e acompanhar o desenvolvimento do setor museológico brasileiro.
§ 1o O Comitê Gestor do Sistema Brasileiro de Museus será composto por representantes dos seguintes órgãos e entidades:
I - dois do Ministério da Cultura; II - um do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; III - um do Ministério da Educação; IV - um do Ministério da Defesa; V - um do Ministério da Ciência e Tecnologia; VI - um do Ministério do Turismo; VII - um dos sistemas estaduais de museus; VIII - um dos sistemas municipais de museus; IX - um de entidade representativa dos museus privados de âmbito nacional; X - um do Conselho Federal de Museologia; XI - um de entidade de âmbito nacional representativa dos ecomuseus e museus comunitários; XII - um do Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus; XIII - um da Associação Brasileira de Museologia, e XIV - dois de instituições universitárias relacionadas à área de Museologia.
§ 2o O Comitê Gestor do Sistema Brasileiro de Museus será coordenado pelo Ministro de Estado da Cultura, ou por representante por ele designado.
§ 3o Os representantes, titulares e suplentes, serão indicados pelos titulares dos Ministérios e entidades representados e serão designados pelo Ministro de Estado da Cultura.
§ 4o Poderão, ainda, ser convidados a participar das reuniões do Comitê Gestor especialistas, personalidades e representantes de órgãos e entidades dos setores público e privado, desde que os temas da pauta justifiquem o convite.
§ 5o Poderão ser constituídos, no âmbito do Comitê Gestor, grupos temáticos, de caráter permanente ou temporário, destinados ao estudo e elaboração de propostas sobre temas específicos.
Art. 6o A participação nas atividades do Comitê Gestor e dos grupos temáticos será considerada função relevante, não remunerada.
Art. 7o Ao Ministério da Cultura cabe prover o apoio administrativo e os meios necessários à execução dos trabalhos de secretaria do Comitê Gestor e dos grupos temáticos.
Art. 8o Para o cumprimento de suas funções, o Comitê Gestor contará com recursos orçamentários e financeiros consignados no orçamento do Ministério da Cultura.
Art. 9o Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 5 de novembro de 2004; 183o da Independência e 116o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA Gilberto Gil
Publicado no D.O.U. de 08.11.2004, Seção I, Pág. 5.