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MúSICA?múSiCa mineira

John: Gosto do fato de aqui con-viverem estilos muito diversos. As coisas folclóricas, o pop, o Clube da Esquina, o metal, o indie rock... Tudo tem bastante representativi-dade. Não somos mineiros de levan-tar a bandeira da “mineiridade”...  A banda é daqui, adoramos morar em Belo Horizonte, a maior parte dos integrantes também, mas o que car-regamos de mineiros em nosso som é algo que tem a ver com o que não se pode fugir, é um pouco do sotaque, talvez a maneira de lidar com a car-reira. o fato é que pessoas de outros estados costumam perceber melhor o que há de mineiro na gente.

Compus a música “Simplici-dade” em Portugal, não aqui! Ela vem da percepção que as cidades peque-nas são cheias de gente simpática.

Portugal é um lugar bipolar, gente muito simpática ao lado de gente permanentemente irritada. Mas a proporção de simpatia aumenta nas cidades pequenas. E isso se aplica a qualquer lugar do mundo, eu acho. o engraçado é que sempre consi-derei Portugal como uma espécie de “hiper-Minas Gerais”. Quando estive lá pela primeira vez, pensei: então é daqui que Minas vem...

digo: É impossível definir a música do estado de Minas Gerais, mas não há melhor música em nenhum outro lugar. Temos, por exemplo, o Clube da Esquina, Lô Borges, Milton Nas-cimento, que formaram a música de Minas de uma forma maravilhosa, e não há como definir o som deles em um estilo musical. Não é rock, não é mpb, não é bossa nova. É simples-mente música de Minas.

Convidamos cinco músicos mineiros de diversos estilos para falar sobre música e Minas, e a música em Minas. Um artista independente, um músico que acabou de lançar o seu disco, uma banda que vive a viajar pelo Brasil, um c antor de barzinho que pretende alçar vôos mais altos com um novo projeto e o guitarrista do Pato Fu. O que eles têm a dizer?

por Juliana Baeta

ritmor e v i s t a p r o s a . w o r d p r e s s s . c o m

Vamos falar de

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Conversa boa de M

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Fabão: o nosso estado é rico em diversidade musical e tem excelentes artistas com destaque nacional e até mundial. Em relação aos eventos, pela grande quantidade de municípios, há muitas casas de shows e even-tos, e público que curte muito música ao vivo. Porém, grande parte dos realizadores de eventos dá espaço só para o estilo musi-cal que está na “crista da onda” e, assim vem sendo desde 2008 com o “sertanejo universitário”. Mesmo assim, ainda sobra um espaço pra outros estilos, que é bastante cobiçado por artistas de outros estados.

aLex: Inegavelmente temos artistas espetaculares, tanto de uma geração anterior, quanto quem está fazendo música agora. E, como quem está na sua aldeia te influencia muito, a nossa cultura musical tende a ser muito bacana. o que eu acho que pode ser meio empo-brecedor é o que acontece no país inteiro, talvez no mundo: as apostas são feitas em cima de determinado gênero/segmento e o que se mostra para o povo é SÓ aquilo. Então, em BH, vejo uma

monopolização dos espaços por parte de determinados segmen-tos, o que pode ser nocivo para o desenvolvimento de uma cena musical mais plural e complexa. Isso, em longo prazo pode ser um desastre para a cultura musi-cal de um lugar.

Luan: o estado tem evoluído bastante em relação à cultura. Quando você toca, ou pro-duz curtas, ou faz parte de um grupo de dança, ou trabalha com arte em qualquer esfera, você tem a oportunidade de ver que vivemos em uma região privilegiada. os mineiros têm produzido muito e muita coisa boa. Não é atoa que tem sido uma boa ideia organizar fes-tivais que possam reunir e es-coar toda essa produção. A in-ternet é a plataforma que mais propôs mudanças no mercado cultural. É uma coisa sem pre-cedentes históricos, um artista poder publicar trabalhos sem fronteira e sem custo. No en-tanto, isso também aumentou a concorrência e dificulta o crescimento exponencial de um artista como acontecia há tempos atrás.

Digo Ribeiro é compositor e cantor e acredita que não há uma definição exata para a sua música. Ele vai do blues ao baião, da bossa nova à moda de viola, e bebe de toda a fonte. Experi-mental talvez, com um resultado final rock and roll. “Pode mos dizer que eu faço rock, mas me inspiro em Bezerra da Silva, Zé Geraldo, Milton Nascimento, e em outros estilos musicais, e por último eu recorro ao rock, pois sei que minha levada vai acabar sendo o rock por natureza”, diz. Dica de Digo: “em Mi-nas Gerais, hoje em dia, temos o Graveola e o Lixo Poli fônico, música de alta qualidade”. Também é possível conhecer músi-ca de qualidade aqui: myspace.com/digoribeiro

digo ribeiro

múSiCa mineira

digo: Em minha opinião, o lugar da música independente no Brasil é Belo Horizonte, pois é um ambiente muito receptivo para os músicos. Tem um Festi-val em BH, organizado pela Malu Aires, solista do Sagrado Coração da Terra, que é o BH Indie, magní fico, são 42 dias de festival com bandas do país inteiro. Por outro lado, ainda falta em Mi-nas espaços para se apresentar as músicas autorais. o que mais ve-mos em barzinhos e shows são os co vers, músicas do Djavan, Janis Joplin, The Doors. Falta coisa nova. Em BH temos dois lugares que abrem espaço para as músicas autorais, que são a obra e o Matriz. Mas eu, como músico indepen-dente, consigo sobreviver tocando em apenas duas casas de show?

Uma coisa importante que deve ser observada é a técnica. Por exemplo, há algum Beatle

Luan Nobat lançou recentemente o CD “Disco Arranhado” através da Lei de Incentivo à Cultura, e ainda não encontrou definição para o seu som. “Talvez eu faça rock, talvez indie rock, talvez eu faça um indie rock - Clube da Esquina com pitadas de Garage, um leve flerte com a música eletrônica e algo de grunge, quem diria?”, diz. Talvez, a música de Nobat seja um pouco como arte, que requer interpre-tações individuais de quem escuta, e não uma definição pré-conce-bida do artista. Para descobrir do que se trata, é possível escutar e baixar as músicas do cantor em nobat.bandcamp.com

Luan nobaT

que é o melhor do mundo? Mel-hor vocalista, melhor baixista, melhor baterista ou melhor gui-tarrista? Não. Mas os Beatles são a melhor banda do mundo, porque eles têm um grande nível técnico de música, eles sabem o que estão fazendo, entendem de teoria. É muito bom você tocar em cima de um palco, ver o que o público está gostando, mas não podemos

esquecer a parte técnica. A maio-ria das pessoas que gosta de músi-ca não entende de teoria, gosta da música apenas pela sonoridade. Mas alguém que entende e escuta a sua música vai perceber se você sabe o que está fazendo ou não. Então, fica aqui este toque pros novos músicos: trabalhe a sua música com qualidade, com té-cnica, estude.

aLex: Bem, os ouvidos estão se acostumando à repetição e isso, em longo prazo, pode ser bem nocivo para aqueles que têm uma produção nova para mostrar. Normalmente, as pessoas saem de casa para ouvir a música que já conhecem ou para tomar um chope com música servindo de fundo. o que acho é que a inter-net ajuda quem está começando

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A banda Manitu é formada por Alexandre Maia (voca-lista), Daniel Couto (guitar-rista), Emerson Neiva (ba-terista) e Fabão (baixista) – que é quem responde essa entrevista. o som dos mi-neiros vai do pop ao reggae, criando uma sonoridade dançante. As referências da banda no estado são Skank, Jota Quest, 14 Bis, Sideral e Sepultura e, de modo geral, as influências são Bob Mar-

ley, Sublime, The Police, Gilberto Gil, Paralamas do Sucesso, dentre outros. A banda começou em 2001

e hoje já é conhecida na-cionalmente.

o site oficial dos meni-nos é manitu.art.br

maniTu

A banda de rock mineira dispensa apresentações. Desde 1992, o grupo está na estrada e, hoje, viaja pelo Brasil e pelo mundo para mostrar a música carregada com o sotaque de Minas Gerais. São eles: Fernanda Takai, John Ulhoa – o nosso entrevistado, Ricardo Koctus, Xande Tamietti e Lulu Camar-go. Podemos, inclusive, sintetizar um pouco da essência do estado na música “Simplicidade”, composta por John, que diz: “vai diminuindo a cidade, vai aumentando a simpatia, quanto menor a casinha, mais sincero o bom dia... quanto mais simplicidade, melhor o nascer do dia”. o site oficial da banda é patofu.com.br

PaTo Fu

ou quem não tem meios de di-vulgar seu trabalho na grande mídia. Tenho feito shows e tenho tido público para esses shows por causa da divulgação via internet, nas redes sociais e pelo e-mail. Não fosse isso, se-ria complicado viabilizar uma divulgação, principalmente por se tratar de um trabalho não conhecido, novo.

Luan: Falta um incentivo or-ganizado que permita ao artista dar um passo inicial em sua carreira. Se você não tem bons contatos, os editais de Leis de Incentivo à Cultura não são instrumentos eficazes, porque você vai sempre precisar de uma empresa e o seu trabalho vai disputar o patrocínio dessa empresa com o Skank e com o Milton Nascimento. Assim, a lógica de lei de incentivo, que é a grande salvação pros artistas in-dependentes do Brasil - que, tal qual o resto do mundo, vivem a era da dissolução da indústria fonográfica - não funciona. A lei é importante para um primeiro passo, um empurrão inicial para que o artista consiga andar com suas próprias pernas de-pois, mas a gente sabe que não é exatamente assim que funciona.

LugareS

Fabão: Adoramos a estrada e cada lugar tem sua marca, sua particularidade. Destaque para a receptividade do público do centro-oeste mineiro: Pará de Minas, Divinópolis, Itaúna, Bom Despacho e demais ci-dades da região. Aliás, o cari-nho do público mineiro com a banda é muito grande, e tenta-mos retribuir da melhor forma possível. Rodamos bastante por todo o estado, mas devido à agenda de compromissos, raramente temos tempo de co-nhecer bem as cidades. Quem me dera ter tempo para dar um pulo em cada cachoeira de Mi-nas Gerais.

John: Meu lugar favorito em Minas é Belo Horizonte. Disso, não tenho dúvida!

os parceiros musicais Samir Nassif e Alex Manzi – nosso entrevistado - se uniram em mais um projeto mu-sical: o Vermelho Vivo. A banda, que conta com a participação de outros músicos para compor o som, mas que tem como núcleo Samir (violão) e Alex (voz), possui composições da dupla e releituras de pop, rock, mpb e o que mais se apresentar. “Lançar mundos e possibilidades num uni-verso musical já cheio de mundos e possibilidades já é rico o suficiente para um trabalho se desenvolver e adquirir a espontaneidade que tanto

VermeLho ViVo

fascina”, diz Alex. Para saber o que significa isso tudo: reverbnation.com/vermelhovivo

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