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Sociedade Colonial Açúcareira Agricultura voltada para o comércio externo, na grande propriedade e no trabalho escravo, a sociedade colonial é agrária, escravista, patriarcal e sem mecanismos de mobilidade social. Em quase toda colônia, é em torno da grande propriedade rural que se desenvolve a vida econômica e social. Os povoados e as vilas têm papel secundário, limitado a funções administrativas e religiosas. Assentada na propriedade monocultora e na escravidão, a sociedade colonial é patriarcal. O poder concentrado em grandes proprietários estimula o clientelismo: os agregados homens livres que gravitam em torno do engenho e as populações das vilas dependem política e economicamente dos senhores, inclusive de seus favores pessoais. No nordeste açucareiro a sociedade é basicamente agrária. Na zona canavieira, esta classe se reduzia à presença do feitor e de algum caixeiro viajante. Nos engenhos ficava nítida a separação entre os senhores e os escravos. A sede das grandes fazendas, ou do engenho, é o maior símbolo do poderio absoluto dos senhores de terras. A família da casa-grande é numerosa: são muitos filhos, tanto legítimos como ilegítimos, parentes, agregados, escravos e libertos. Todos respeitam a autoridade doméstica e pública do senhor, ao mesmo tempo pai, patriarca e chefe político. Essa é a estrutura familiar das regiões da monocultura tropical, escravista e exportadora. Com ela convive a chamada família nuclear, bem menor, formada quase sempre pelo casal e por poucos filhos, quando não apenas por um dos pais e as crianças. Típica das regiões de produção pouco importante para o mercado externo, essa organização familiar predomina em São Paulo e áreas adjacentes à mineração. A sociedade colonial apresenta outra característica, importante desde o início, mas que se intensifica com o tempo: a miscigenação. Misturando raças e culturas na convivência forçada pelo trabalho escravo dos índios e dos negros africanos, a sociedade colonial adquire um perfil mestiço. Essa miscigenação condiciona as relações sociais e culturais entre colonizadores e colonizados, gerando um modelo de sociedade original na colônia, heterogêneo e multirracial, aparentemente harmônico, sem segregação interna. Na verdade, porém, ela não disfarça as desigualdades estruturais entre brancos e negros, escravos e livres, livres ricos e livres pobres, que não acabam nem mesmo com a abolição da escravatura, no final do século XIX. A sociedade da região açucareira dos séculos XVI e XVII era composta, basicamente, por dois grupos. O dos proprietários de escravos e de terras compreendia os senhores de engenho e os plantadores independentes de cana. Existia uma faixa intermediária: pessoas que serviam aos interesses dos senhores como os trabalhadores assalariados (feitores, mestres-de-açúcar, artesãos) e os agregados (moradores do engenho que prestavam serviços em troca de proteção e auxílio). O outro grupo era formado pelos escravos, numericamente muito maior, porém quase sem direito algum. Ao lado desses colonos e colonizados situavam-se os colonizadores: religiosos, funcionários e comerciantes. As famílias viviam isoladas na zona rural; eram raros os contatos sociais. Eram características da família patriarcal: - poder absoluto do pai de família; - submissão da mulher; - casamentos sem escolha e sem amor, muitas vezes entre membros da mesma família (a escolha era feita pelos pais dos noivos); - número elevado de filhos - o primogênito era o único herdeiro da propriedade; - religiosidade marcante - em quase toda família havia um padre; em toda casa-grande havia uma capela; - imposição paterna de uma profissão para os filhos; - educação somente para os homens (as mulheres recebiam apenas as primeiras noções de escrita e aritmética e educação para o lar).

001 sociedade colonial do brasil adaptado

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Sociedade Colonial Açúcareira

Agricultura voltada para o comércio externo, na grande propriedade e no trabalho escravo, a sociedade

colonial é agrária, escravista, patriarcal e sem mecanismos de mobilidade social.

Em quase toda colônia, é em torno da grande propriedade rural que se desenvolve a vida econômica e

social. Os povoados e as vilas têm papel secundário, limitado a funções administrativas e religiosas.

Assentada na propriedade monocultora e na escravidão, a sociedade colonial é patriarcal.

O poder concentrado em grandes proprietários estimula o clientelismo: os agregados – homens livres que

gravitam em torno do engenho – e as populações das vilas dependem política e economicamente dos

senhores, inclusive de seus favores pessoais.

No nordeste açucareiro a sociedade é basicamente agrária. Na zona canavieira, esta classe se reduzia à

presença do feitor e de algum caixeiro viajante. Nos engenhos ficava nítida a separação entre os senhores

e os escravos.

A sede das grandes fazendas, ou do engenho, é o maior símbolo do poderio absoluto dos senhores de

terras. A família da casa-grande é numerosa: são muitos filhos, tanto legítimos como ilegítimos, parentes,

agregados, escravos e libertos. Todos respeitam a autoridade doméstica e pública do senhor, ao mesmo

tempo pai, patriarca e chefe político. Essa é a estrutura familiar das regiões da monocultura tropical,

escravista e exportadora. Com ela convive a chamada família nuclear, bem menor, formada quase sempre

pelo casal e por poucos filhos, quando não apenas por um dos pais e as crianças. Típica das regiões de

produção pouco importante para o mercado externo, essa organização familiar predomina em São Paulo e

áreas adjacentes à mineração.

A sociedade colonial apresenta outra característica, importante desde o início, mas que se intensifica com

o tempo: a miscigenação. Misturando raças e culturas na convivência forçada pelo trabalho escravo dos

índios e dos negros africanos, a sociedade colonial adquire um perfil mestiço.

Essa miscigenação condiciona as relações sociais e culturais entre colonizadores e colonizados, gerando

um modelo de sociedade original na colônia, heterogêneo e multirracial, aparentemente harmônico, sem

segregação interna. Na verdade, porém, ela não disfarça as desigualdades estruturais entre brancos e

negros, escravos e livres, livres ricos e livres pobres, que não acabam nem mesmo com a abolição da

escravatura, no final do século XIX.

A sociedade da região açucareira dos séculos XVI e XVII era composta, basicamente, por dois grupos. O

dos proprietários de escravos e de terras compreendia os senhores de engenho e os plantadores

independentes de cana.

Existia uma faixa intermediária: pessoas que serviam aos interesses dos senhores como os trabalhadores

assalariados (feitores, mestres-de-açúcar, artesãos) e os agregados (moradores do engenho que prestavam

serviços em troca de proteção e auxílio).

O outro grupo era formado pelos escravos, numericamente muito maior, porém quase sem direito algum.

Ao lado desses colonos e colonizados situavam-se os colonizadores: religiosos, funcionários e

comerciantes. As famílias viviam isoladas na zona rural; eram raros os contatos sociais. Eram

características da família patriarcal:

- poder absoluto do pai de família;

- submissão da mulher;

- casamentos sem escolha e sem amor, muitas vezes entre membros da mesma família (a escolha era feita pelos

pais dos noivos);

- número elevado de filhos - o primogênito era o único herdeiro da propriedade;

- religiosidade marcante - em quase toda família havia um padre; em toda casa-grande havia uma capela;

- imposição paterna de uma profissão para os filhos;

- educação somente para os homens (as mulheres recebiam apenas as primeiras noções de escrita e aritmética e

educação para o lar).

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Os senhores de engenho possuíam autoridade absoluta. A maior parte dos poderes se concentrava nas

mãos do senhor de engenho. Com autoridade absoluta, submetia todos ao seu poder: mulher, filhos,

agregados e qualquer um que habitasse seus domínios. Cabia-lhe dar proteção à família, recebendo, em

troca, lealdade e deferência.

Essa família podia incluir parentes distantes, de status social inferior, filhos adotivos e filhos ilegítimos

reconhecidos. Seu poder extrapolava os limites de suas terras, expandindo-se pelas vilas, dominando as

Câmaras Municipais e a vida colonial. A casa grande foi o símbolo desse tipo de organização familiar

implantado na sociedade colonial. Para o núcleo doméstico convergia a vida econômica, social e política

da época.

Abaixo dos senhores de engenho situavam-se os agricultores que possuíam a terra em que trabalhavam,

adquirida por concessão ou compra. Em termos sociais podiam ser identificados como senhores de

engenho em potencial, possuindo terra, escravos, bois e outros bens, menos o engenho. Compartilhavam

com eles as mesmas origens sociais e as mesmas aspirações.

O fato de serem proprietários independentes permitia-lhes considerável flexibilidade nas negociações da

moagem da cana com os senhores de engenho. Eram uma espécie de elite entre os agricultores, apesar de

haver entre eles um grupo que tinha condições e recursos bem mais modestos.

Os senhores de engenho consideravam os agricultores seus subalternos, que lhes deviam não só cana - de

- açúcar, mas também respeito e lealdade. As esposas dos senhores de engenho seguiam o exemplo,

tratando como criadas as esposas dos agricultores. Com o tempo, esse grupo de plantadores

independentes de cana foi desaparecendo, devido à dependência em relação aos senhores de engenho e às

dívidas acumuladas. Essa situação provocou a concentração da propriedade e a diminuição do número de

agricultores.

Existiam também os lavradores, que não possuíam terras, somente escravos. Recorriam a alguma forma

de arrendamento de terras dos engenhos para plantar a cana. Esse contrato impunha-lhes um pesado ônus,

pois em cada safra cabia-lhes, apenas, uma pequena parcela do açúcar produzido. Esses homens

tornaram-se fundamentais à produção do açúcar. O senhor de engenho deixava em suas mãos toda a

responsabilidade pelo cultivo da cana, assumindo somente a parte do beneficiamento do açúcar, muito

mais lucrativa. Nesta época, o termo "lavrador de cana" designava qualquer pessoa que praticasse a

agricultura, podendo ser usado tanto para o mais humilde dos lavradores como para um grande senhor de

engenho.

No século XVI o açúcar tornou-se o principal produto de exportação brasileiro. Apesar da atividade

mineradora do século XVIII e da concorrência do açúcar produzido nas Antilhas, essa posição manteve-

se até o inicio do século XIX. Em todo esse tempo, segundo Schwartz, "houve tanto bons quanto maus

períodos e, embora o Brasil nunca recuperasse sua posição relativa como fornecedor de açúcar no

mercado internacional, a indústria açucareira e a classe dos senhores de engenho permaneceram

dominantes em regiões como Bahia e Pernambuco”.

População

Em 1770 a Coroa portuguesa estima que a população da colônia seja de 1,5 milhão a 2,5 milhões de pessoas.

Destas, 20,5% estão concentradas em Minas Gerais, 18,5% na Bahia, 15,4% em Pernambuco, 13,8% no Rio de

Janeiro, 7,5% em São Paulo e 24,3% espalham-se pelas outras capitanias.

Sociedade Colonial Mineradora

O ciclo do ouro e do diamante foi responsável por profundas mudanças na vida colonial. Em cem anos a

população cresceu de 300 mil para, aproximadamente, 3 milhões de pessoas, incluindo aí, um

deslocamento de 800 mil portugueses para o Brasil.

Paralelamente foi intensific,ado o comércio interno de escravos, chegando do Nordeste cerca de 600 mil

negros. Tais deslocamentos representam a transferência do eixo social e econômico do litoral para o

interior da colônia, o que acarretou na própria mudança da capital de Salvador para o Rio de Janeiro,

cidade de mais fácil acesso à região mineradora.

A vida urbana mais intensa viabilizou também, melhores oportunidades no mercado interno e uma

sociedade mais flexível, principalmente se contrastada com o imobilismo da sociedade açucareira.

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Embora mantivesse a base escravista, a sociedade mineradora diferenciava-se da açucareira, por seu

comportamento urbano, menos aristocrático e intelectualmente mais evoluído. Era comum no século

XVIII, ser grande minerador e latifundiário ao mesmo tempo.

Portanto, a camada socialmente dominante era mais heterogênea, representada pelos grandes proprietários

de escravos, grandes comerciantes e burocratas. A novidade foi o surgimento de um grupo intermediário

formado por pequenos comerciantes, intelectuais, artesãos e artistas que viviam nas cidades.

Desta estrutura social diferenciada faziam parte os setores mais ricos da população - chamados "grandes"

da sociedade - mineradores, fazendeiros, comerciantes e altos funcionários, encarregados da

administração das Minas e indicados diretamente pela Metrópole.

Compunham o contingente médio, em atividades profissionais diversas, os donos de vendas, mascates,

artesãos (como alfaiates, carpinteiros, sapateiros) e tropeiros. E ainda pequenos roceiros que, em terrenos

reduzidos, entregavam-se à agricultura de subsistência. Plantavam roças de milho, feijão, mandioca,

algumas hortaliças e árvores frutíferas.

Também faziam parte deste grupo os faiscadores - indivíduos nômades que mineravam por conta própria.

Deslocavam-se conforme o esgotamento dos veios de ouro. No final do século XVIII, esta camada social

foi acrescida de elementos ligados aos núcleos de criação de gado leiteiro, dando início à produção do

queijo de Minas.

Incluíam-se também nessa camada intermediária os padres seculares. Na Colônia, poucos membros do

clero ocupavam altos cargos como, por exemplo, o de bispo. Este morava na única cidade da capitania:

Mariana.

Por outro lado, crescia na capitania real o número de indivíduos sujeitos às ocupações incertas. Vivendo

na pobreza, na promiscuidade e muitas vezes no crime, não tinham posição definida na sociedade

mineradora. Esta camada causava constante inquietação aos governantes. Ela era geralmente composta

por homens livres: alguns brancos, mestiços ou escravos que haviam conseguido alforria.

O Estado, percebendo a necessidade de agir junto a essa população incapaz de prover seu próprio

sustento, associou a repressão à "utilidade". O encargo que eventualmente representava transformava-se,

através do castigo, em trabalhos diversos e, consequentemente, em "utilidade".

Esta população, entendida como de "vadios", recrutada à força ou em troca de alimento, foi utilizada em

tarefas que não podiam ser executadas pelos escravos, necessários ao trabalho da empresa mineradora.

Era frequente a ocupação destes que eram vistos como desclassificados sociais na construção de obras

públicas como presídios, Casa da Câmara, entre outras.

Também compuseram corpos de guarda e de polícia privada dos "Grandes" da sociedade mineradora, ou

ainda empregavam-se como capitães-do-mato. Em outras situações, como na disputa pela posse da

Colônia do Sacramento, participaram dos grupos militares que guardavam as fronteiras do Sul.

Para o cotidiano de trabalho dos escravos, a mineração foi um retrocesso, pois apesar de alguns terem

conseguido a liberdade, a grande maioria passou a viver em condições bem piores do que no período

anterior, escavando em verdadeiros buracos onde até a respiração era dificultada. Trabalhavam também

na água ou atolados no barro no interior das minas.

Essas condições desumanas resultam na organização de novos quilombos, como do rio das Mortes, em

Minas Gerais, e o de Carlota, no Mato Grosso.

Com o crescimento do número de pequenos e médios proprietários a mineração gerou uma menor

concentração de renda, ocorrendo inicialmente um processo inflacionário, seguido pelo desenvolvimento

de uma sólida agricultura de subsistência, que juntamente com a pecuária, consolidam-se como atividades

subsidiárias e periféricas.

Os escravos, ali como de resto em toda a Colônia, representavam a força de trabalho sobre a qual

repousava a vida econômica da real capitania das Minas Gerais. Vivendo mal alimentados, sujeitos a

castigos e atos violentos, constituíam a parcela mais numerosa da população daquela região.

Isto gerava uma constante preocupação para as autoridades já que, apesar da repressão cruel, não eram

raras as tentativas de levantes escravos e a formação de quilombos, como o do Ambrósio e o Quilombo

Grande. A destruição de ambos, em 1746 e 1759 respectivamente, não impediu que ocorressem outras

fugas e a formação de novos quilombos.

Adaptado do Blog Ofício da História – Professor Josias