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A Escola e a Abordagem Comparada. Novas realidades e novos olhares. Rui Canário 1)http://www.ipleiria.pt/portal/ipleiria?p_id=6859 Página 1 A Escola e a Abordagem Comparada. Novas realidades e novos olhares Rui Canário Devido ao acelerado processo de integração económica supranacional denotaram-se transformações a nível de políticas educacionais. Estas passam a focalizar-se na preparação dos jovens para o mercado de trabalho. Como exemplo disso temos o processo de Bolonha que pretende “promover a dimensão europeia do ensino superior, a mobilidade e a cooperação, em particular nos domínios da avaliação e da qualidade, e tornar assim o Espaço Europeu de Ensino Superior mais competitivo e coeso1 . Essa coesão verifica-se através do reconhecimento dos diplomas dos cursos a nível europeu, tornando mais fácil a entrada no mundo do trabalho de pessoas que procuram emprego em países que não o seu. Esta procura começa a ser estimulada aquando o aparecimento de programas como o ERASMUS que permite a mobilidade de jovens estudantes entre vários países. Este programa traduz novamente a ideia de coesão na Europa. Mediante esta globalização, os sistemas educativos concebidos estritamente a nível nacional passam a estar ultrapassados. Isto acontece porque a educação já não visa apenas uma coesão nacional, mas sim uma coesão a nível mundial, que está subordinada às políticas educativas de carácter económico inerente a um mercado global e único(pag 30). Nesta perspectiva, já não se tem em conta apenas os aspectos sociais, culturais, políticos, económicos de cada país na criação de políticas educativas mas, tem-se em conta principalmente esses mesmos aspectos dos países em geral da Europa, com o objectivo de consolidar um mercado mundial da educação. Outra transformação visível no campo da educação provocada pela globalização é a crescente colaboração de organismos supranacionais que contribuem para o desenvolvimento da educação “através de programas de cooperação técnica, de apoio à investigação e ao desenvolvimento” (pag 30). Alguns exemplos desses organismos são: o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a OCDE, a Unesco, Comissão Europeia. Actualmente é cada vez mais comum a utilização dos conceitos “educação/formação”, o que faz com que haja um esbatimento dos diversos tipos de fronteiras, ou seja, já não se separa a educação escolar e pós-escolar, a educação e o trabalho, a educação e o emprego e a educação e o lazer. É usual a empregação do

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1)http://www.ipleiria.pt/portal/ipleiria?p_id=6859 Página 1

A Escola e a Abordagem Comparada. Novas realidades e novos olhares

Rui Canário

Devido ao acelerado processo de integração económica supranacional

denotaram-se transformações a nível de políticas educacionais. Estas passam a

focalizar-se na preparação dos jovens para o mercado de trabalho. Como exemplo disso

temos o processo de Bolonha que pretende “promover a dimensão europeia do ensino

superior, a mobilidade e a cooperação, em particular nos domínios da avaliação e da

qualidade, e tornar assim o Espaço Europeu de Ensino Superior mais competitivo e

coeso”1. Essa coesão verifica-se através do reconhecimento dos diplomas dos cursos a

nível europeu, tornando mais fácil a entrada no mundo do trabalho de pessoas que

procuram emprego em países que não o seu. Esta procura começa a ser estimulada

aquando o aparecimento de programas como o ERASMUS que permite a mobilidade de

jovens estudantes entre vários países. Este programa traduz novamente a ideia de coesão

na Europa.

Mediante esta globalização, os sistemas educativos concebidos estritamente a

nível nacional passam a estar ultrapassados. Isto acontece porque a educação já não visa

apenas uma coesão nacional, mas sim uma coesão a nível mundial, que está subordinada

às políticas educativas de “carácter económico inerente a um mercado global e único”

(pag 30). Nesta perspectiva, já não se tem em conta apenas os aspectos sociais,

culturais, políticos, económicos de cada país na criação de políticas educativas mas,

tem-se em conta principalmente esses mesmos aspectos dos países em geral da Europa,

com o objectivo de consolidar um “mercado mundial da educação”.

Outra transformação visível no campo da educação provocada pela globalização

é a crescente colaboração de organismos supranacionais que contribuem para o

desenvolvimento da educação “através de programas de cooperação técnica, de apoio à

investigação e ao desenvolvimento” (pag 30). Alguns exemplos desses organismos são:

o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a OCDE, a Unesco, Comissão

Europeia.

Actualmente é cada vez mais comum a utilização dos conceitos

“educação/formação”, o que faz com que haja um esbatimento dos diversos tipos de

fronteiras, ou seja, já não se separa a educação escolar e pós-escolar, a educação e o

trabalho, a educação e o emprego e a educação e o lazer. É usual a empregação do

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termo “Aprendizagem ao longo da Vida” pois cada vez mais é necessário estar a par do

desenvolvimento global, quer a nível cultural, tecnológico, económico, político,

educacional. Quer isto dizer que a apreensão de conhecimentos não acontece apenas nas

instituições escolares, mas cada vez mais através de outras formações tanto profissionais

(participação em conferências, Centro de Competências, Novas Oportunidades) como

pessoais (através dos média, jornais, revistas, viagens).

Ainda neste contexto, existe uma forte necessidade de formação do indivíduo

devido “às exigências do mercado de trabalho e de gestão do emprego” (pag 32) o que

faz com que seja impossível separar a educação da situação profissional dando origem a

um novo paradigma educativo, onde o que importa mais são as competências e não a

cultura.

Mediante estas transformações no campo educacional, assiste-se a uma

modificação do papel do professor, este que também é vítima das tensões causadas pelas

constantes reformas das políticas educativas e do seu próprio estatuto. A identidade do

educador tende a desaparecer e a eficácia do seu trabalho e métodos a ser questionada.

Ao mesmo tempo que há um aumento da autonomia das escolas existe uma diminuição

da autonomia dos docentes e uma consequente precarização do trabalho dos mesmos. É

neste âmbito que Agnès van Zanten relacionou a “crise” “da profissão docente com a

crise de um modelo de regulação burocráticpo/profissional, concominante com a

emergência de lógicas de mercado”. Agnès van Zanten refere que o enquadramento

externo e interno aos estabelecimentos é contraditório à retórica largamente difundida

sobre a autonomia profissional, ou seja, a suposta autonomia que os professores deviam

usufruir, educando segundo o contexto da turma e as necessidades da mesma, é

substituída pelas experiências educativas provenientes de outros contextos e que, de

uma forma discreta, são implementadas nas escolas, com o objectivo de educar crianças

e jovens de acordo com as necessidades económicas e culturais de uma sociedade cada

vez mais globalizada.