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1 Título A PRESENÇA DO NEGRO EM BELO CAMPO Na atual área territorial de Belo Campo, nota-se, com facilidade, acentuada presença do negro na região do Mato Cipó, ao passo que na região da Caatinga sua presença é pequena, e a maioria, constituída de brancos. Este tema não é assunto para este nosso trabalho , mas para um trabalho muito profundo a fim de verificar a origem da raça negra e a dos brancos e sua miscigenação ocorrida ao longo destes dois últimos séculos na região de Belo Campo. Este tipo de pesquisa deixa-se aos acadêmicos em História que poderão elaborar riquíssimos trabalhos a esse respeito. Contudo, desejamos fazer rápido esboço sobre a presença da raça negra em terra belo-campense e de alguma maneira levantar a questão que, pelos indícios, a Família Gonçalves da Costa era constituída de negros ou de mulatos. É notória a presença do negro escravo em terras da região do 'Sertão da Ressaca' e mais especificamente na grande Fazenda Vereda que, grosso modo, compreende quase toda a região do Mato Cipó de Belo Campo. Os negros escravos serviam os senhores das terras e suas famílias fazendo todo o tipo de serviço. A venda e compra de escravos na época era livre, e o seu preço variava de acordo com sua idade e saúde física. fonte: www.robertolettiere.com.br Escritor Roberto Lettière

A Presença do Negro em Belo Campo

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Page 1: A Presença do Negro em Belo Campo

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Título

A PRESENÇA DO NEGRO EM BELO CAMPO

Na atual área territorial de Belo Campo, nota-se, com facilidade, acentuada presença do negro na

região do Mato Cipó, ao passo que na região da Caatinga sua presença é pequena, e a maioria, constituída

de brancos.

Este tema não é assunto para este nosso trabalho, mas para um trabalho muito profundo a fim de

verificar a origem da raça negra e a dos brancos e sua miscigenação ocorrida ao longo destes dois últimos

séculos na região de Belo Campo. Este tipo de pesquisa deixa-se aos acadêmicos em História que poderão

elaborar riquíssimos trabalhos a esse respeito.

Contudo, desejamos fazer rápido esboço sobre a presença da raça negra em terra belo-campense e de

alguma maneira levantar a questão que, pelos indícios, a Família Gonçalves da Costa era constituída de

negros ou de mulatos.

É notória a presença do negro escravo em terras da região do 'Sertão da Ressaca' e mais

especificamente na grande Fazenda Vereda que, grosso modo, compreende quase toda a região do Mato

Cipó de Belo Campo. Os negros escravos serviam os senhores das terras e suas famílias fazendo todo o tipo

de serviço. A venda e compra de escravos na época era livre, e o seu preço variava de acordo com sua idade

e saúde física.

Comumente veem-se nos antigos testamentos e inventários a passagem de um escravo para outro

dono como uma mercadoria ou um bem da família. Muitos alcançavam a alforria por estarem velhos, outros

ainda por ter prestado bons serviços aos seus donos e, ainda, muitas escravas tinham sua liberdade por

serem mães de filhos de seus senhores.

Na medida em que os negros escravos eram alforriados e, não tendo para onde ir, continuam a residir

na região e formavam novas famílias, aumentando o numero de descendentes de sua raça.

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Existe uma referência antiga que é a 'Carta Patente' do posto de Capitão do terço de Henrique Dias

concedida a João Gonçalves da Costa, citada por Maria Aparecida Silva de Sousa [Sertão da Ressaca], de que

João Gonçalves da Costa, o grande latifundiário do Sertão da Ressaca, era 'preto forro', a autora comenta

sobre essa assertiva e faz alguns questionamentos.

Aníbal Lopes Viana [Revista Histórica de Conquista], nascido no início do século XX, sobre esse assunto

escreve livremente e com muita naturalidade, como ele, tendo conhecido os descendentes mais diretos da

Família Gonçalves Costa tivesse a certeza que o patriarca dessa família fosse negro ou mulato e, assim, se

expressa:

'Dona Faustina Gonçalves da Costa era mulher de boa estatura, mulata, simpática, de corpo

esbelto'. Aníbal também escreveu: 'O Coronel de Milícias João Gonçalves da Costa, português de

nascimento, mulato, e seus filhos foram os primeiros povoadores [...]'. [grifos meus]

'[...] Os grandes líderes políticos do passado, José Fernandes de Oliveira Gugé, Pompílio Nunes

de Oliveira, José Maximiliano Fernandes de Oliveira, o poeta Manoel Fernandes de Oliveira

[Maneca Grosso], o grande filólogo conquistense José de Sá Nunes [já falecidos], o ilustre

Desembargador Wilde de Oliveira Lima, o jornalista e intelectual conquistense Bruno Bacelar de

Oliveira, o atual Prefeito engenheiro civil José Fernandes Pedral Sampaio, são, todos,

descendentes de Dona Faustina Gonçalves da Costa, que era mulher de cor, casada com um

branco europeu 'dos olhos de gato'.[grifos meus]

Aníbal Lopes Viana escreve ainda sobre outra descendente de João Gonçalves da Costa, mais

precisamente descendente de sua filha Faustina Gonçalves da Costa e, diretamente, de seu filho Capitão

Ajudante João de Oliveira Freitas que possivelmente não tinha problemas em casar-se com mulher negra ou,

ainda, por ser ele próprio, negro ou mulato.

'Divorciado, João de Oliveira, uniu-se com uma preta, escrava forra, de nome Maria Bernarda

com a qual teve filhos inclusive Eufrosina de Oliveira Freitas geralmente conhecida por 'Fulô da

Panela', por ter sido moradora do arraial do Panela [atual Campo Formoso] em cujo lugar era

Dona de uma casa comercial.'

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'Segundo narram seus contemporâneos Dona Eufrosina era mulata, de belos traços

fisionômicos, cabelos anelados, boa estatura. Herdou a audácia de seu bisavô Cel. João

Gonçalves da Costa'.[grifos meus]

Ao que parece, João Gonçalves da Costa [e demais familiares] não tinha restrições quanto a cor da

pele, porque seu filho ilegítimo, o Sargento-Mor Raymundo Gonçalves da Costa era filho de João com uma

mulher negra [ou mulata] e, esse mesmo filho, o Raymundo, teria se casado com uma negra importada de

Cabo Verde, África, de nome Carlota.

A relativa quantidade de negros escravos existentes nesse grande latifúndio e a baixíssima densidade

demográfica de brancos na região aproximou essas duas raças e delas surgiram os mestiços que muitos

senhores reconheceram como seus filhos naturais, inclusive com direito a uma parte de seus bens de raiz e

de semoventes o que dava algumas condições e possibilidade de casar-se com pessoas brancas. Havia

também alguns casos de brancos terem filhos com as indígenas, posto que isso fosse bem mais raro, que

dava ensejo a novo tipo de miscigenação.

Atualmente verifica-se na região do Mato Cipó expressiva quantidade de negros e mulatos com

sobrenomes de Gonçalves, de Costa, de Ferreira, de Campos, de Oliveira Freitas, de Oliveira e de Freitas e

demais sobrenomes cujas origens são dos primeiros exploradores e latifundiários da região.

Na região da Caatinga de Belo Campo a maioria de seus habitantes é composta por elementos da raça

branca e possuem o tipo e as características típicas do homem nordestino, inclusive o seu modo de se

expressar, é diferente do habitante do Mato Cipó. Até na alimentação diária as diferenças são bem distintas.

Com isso, distingue-se, facilmente, o habitante das regiões do Mato Cipó e da Caatinga de Belo

Campo, pela cor da pele, pelas características morfológicas, pelo modo de se expressar, o que vem

demonstrar que suas origens apresentam pontos nada comuns a esses habitantes que são, em suma, bem

diferentes.

Extraído do livro de Roberto Lettière: “BELO CAMPO – A TERRA E A GENTE” – 2008.

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