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A trajetória da psicopedagogia

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Page 1: A trajetória da psicopedagogia

A Trajetória da Psicopedagogia, suas contribuições e limites

Maria Carvalho

A história da psicopedagogia tem início na Europa, em 1946, sendo fundados os primeiros

centros psicopedagógicos por J Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica.

Unindo conhecimentos da área de Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, esses centros tentavam

readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados na escola ou no lar e atender

crianças com dificuldades de aprendizagem apesar de serem inteligentes (MERY apud BOSSA,

2000, p. 39).

Na literatura francesa – podemos observar como essa influencia as idéias sobre psicopedagogia

na Argentina (a qual, por sua vez, influencia a práxis brasileira) – encontra-se, entre outros, os

trabalhos de Janine Mery, a psicopedagoga francesa que apresenta algumas considerações sobre

o termo psicopedagogia e sobre a origem dessas idéias na Europa, e os trabalhos de George

Mauco, fundador do primeiro centro médico psicopedagógico na França,..., onde se percebeu as

primeiras tentativas de articulação entre Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, na

solução dos problemas de comportamento e de aprendizagem (BOSSA, 2000, apud SIMAIA p.

37)

A história da psicopedagogia no Brasil tem um caminho percorrido pela Associação Brasileira

de Psicopedagogia e foi marcado por pontos polêmicos, entre eles, alguns questionamentos

sobre o verdadeiro papel desta ciência, ou seja, a consistência, fortalecimento e autonomia da

Psicopedagogia. De 1995 - 1996, foram elaborados vários documentos explicitando seu campo

de atuação, sua área científica, sua contribuição e seus critérios de formação acadêmica.

A profissão do psicopedagogo não está regulamentada, mas o projeto se encontra na Comissão

de Constituição, Justiça e Redação, na Câmara dos Deputados Federais, para ser aprovada.

Enquanto isso, a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter regular e oficial em

cursos de pós-graduação oferecidos por instituições devidamente autorizadas ou credenciadas.

No que tange ao limite na prática institucional preventiva, por exemplo, um dos aspectos que

merece destaque tem sido a dificuldade dos psicopedagogos em propor procedimentos de

avaliação e de intervenção.

Esta questão também é uma das preocupações de Bossa (2000) ao enfatizar que uma das

dificuldades práticas com que se deparam os psicopedagogos brasileiros, reside nos

procedimentos diagnósticos para a intervenção. Segundo a autora, a indefinição quanto ao

instrumental utilizado no trabalho psicopedagógico merece ser pensada, de forma que novas

perspectivas possam daí surgir e atender as reivindicações inerentes à atividade

psicopedagógica. Ela também acrescenta que vários autores já se debruçaram sobre esta

questão, entretanto enfatiza que ainda há muito por se fazer (Rubinstein e colaboradores (2004)

e Masini (2006).

A Psicopedagogia se apresenta com um caráter multidisciplinar devido à complexidade dos

problemas de aprendizagem -, que busca conhecimento em diversas outras áreas de

conhecimento, além da psicologia e da pedagogia. É necessário ter noções de linguística, para

explicar como se dá o desenvolvimento da linguagem humana e sobre os processos de aquisição

da linguagem oral e escrita. Requer também, conhecimentos sobre o desenvolvimento

neurológico, sobre suas disfunções que acabam dificultando a aprendizagem; de conhecimentos

filosóficos e sociológicos, que nos oferece o entendimento sobre a visão do homem, seus

relacionamentos a cada momento histórico e sua correspondente concepção de aprendizagem.

Portanto, o psicopedagogo deverá ter um embasamento teórico para o desenvolvimento de sua

função

Assim sendo, a psicopedagogia se propõe a integrar, de modo coerente, conhecimentos e

princípios de distintas ciências humanas, objetivando adquirir uma ampla compreensão sobre os

variados processos inerentes ao aprender.

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O profissional que atua como psicopedagogo tem um amplo conjunto de tarefas e funções que

prestam assessoramento psicopedagógico às escolas, apesar de sua diversidade, pode ser

organizado em torno de quatro eixos. Na concepção de Coll (1989b, apud FERREIRA), o

primeiro relativo à natureza dos objetivos da intervenção, cujos pólos caracterizam

respectivamente as tarefas que se centram, prioritariamente no sujeito e aquelas que têm como

finalidade incidir no contexto educacional. Assim, as tarefas incluídas são tanto as que têm

como objetivo prioritário o atendimento a um aluno, quanto as que aparecem vinculadas a

aspectos curriculares e organizacionais.

O segundo eixo afeta as modalidades de intervenção, que podem ser consideradas como

corretivas, ou preventivas e enriquecedoras. Qualquer intervenção realizada na escola pode ser

caracterizada, em um determinado momento, embora, em um momento posterior, sua

consideração se modifique.

Outro eixo também diferencia modelos de intervenção, embora tenha como objetivo final o

aluno, pode ter diferenças consideráveis: enquanto alguns psicopedagogos trabalham

diretamente com o aluno, orientam-no e, inclusive, manejam tratamentos educacionais

individualizados, outros combinam momentos de intervenção direta com intervenções indiretas,

(por exemplo, no caso de uma avaliação psicopedagógica), centradas nos agentes educacionais

que interagem com ele (no próprio processo de avaliação psicopedagógica, na tomada de

decisões sobre o plano de trabalho mais adequado para esse aluno). São freqüentes as consultas

formuladas por um professor ao psicopedagogo em relação a um aluno que não vai manter

nenhum contato direto com esse profissional.

O último eixo, Coll (1989) indica o lugar preferencial de intervenção, que entendemos como a

diversidade de níveis e contextos, inclusive quando circunscrita ao marco educacional escolar.

Este eixo inclui tanto as tarefas localizadas no nível de sala de aula, em algum subsistema

dentro da escola, na instituição em seu conjunto, ano, série, assim como aquelas que se dirigem

ao sistema familiar, à zona de influência, etc.

O fato que se deve considerar é que as tarefas que aparecem englobadas nos eixos precedentes

são objeto da intervenção psicopedagógica, não significa que todos os psicopedagogos as

executem em seu conjunto e, obviamente, não significa que as realizem da mesma forma.

Um dos aspectos importantes sobre a profissão do psicopedagogo é a formação continuada, não

basta fazer um curso de pós-graduação é necessário sempre estar atualizado realizado cursos nas

mais diversas áreas como na linguística, neurociência, psicologia entre outras.

O psicopedagogo, um profissional entre a saúde e a educação, os limites da atuação devem ser

sempre rigorosamente observados. No que tange à área da saúde, não podemos exercer o que for

de competência profissional nem de médicos nem de psicólogos. "Passar o CID", por exemplo,

não é de nossa competência como psicopedagogos, pois está inserido na classificação das

doenças na área médica. Também não é da nossa competência aplicar testes psicológicos

(avaliação de inteligência, de personalidade e outros).

Penso ser imperativo buscarmos sempre uma supervisão junto a psicopedagogos quanto aos

tipos de avaliação do processo de aprendizagem e das dificuldades de aprendizagem que

competem ao psicopedagogo. Vale lembrar que na área da Psicopedagogia a relevância do

trabalho realizado dependerá da consciência profissional de cada um que nela atua.

A dificuldade escolar pode gerar um círculo vicioso do fracasso, ou seja, quanto mais a criança

se sente inferiorizada, mais ela estará suscetível ao insucesso, e menos poderá obter aprovação a

partir de seu desempenho (Linhares &Colls, 1993, apud OKANO, et al, 2004).

O manejo das dificuldades de aprendizagem no ambiente escolar não se constitui em tarefa

fácil, e muitas vezes, a alternativa dada envolve a colocação das crianças em programas

especiais de ensino como o proposto para as salas de reforço ou de recuperação paralela,

destinadas a alunos com dificuldades não superadas no cotidiano escolar. Os programas de

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reforço, em nosso meio, a princípio se apresentam como uma proposta que visa contribuir para

o bom desenvolvimento escolar, contudo carecem de estudos sistemáticos que demonstrem a

sua eficácia no que diz respeito aos aspectos psicológicos de crianças com dificuldade de

aprendizagem.

Diversos estudos têm relatado que as crianças com dificuldades de aprendizagem têm

autopercepção mais negativa sobre o seu próprio comportamento quando comparadas a crianças

que têm rendimento satisfatório e quando comparadas àquelas que têm baixo rendimento, mas

não são identificadas como tendo dificuldade de aprendizagem (Beltempo&Achile, 1990;

Clever, Bear&Juvonen, 1992; Leondari, 1993; Jackson &Bracken, 1998).

Lidar com o insucesso escolar, com o baixo rendimento, com as múltiplas implicações para a

auto-avaliação da criança, para a família, professores e comunidade constitui-se em tarefa

complexa e desafiadora para a qual não se tem ainda uma resposta acabada e pronta, o que

aponta para a necessidade de buscar alternativas que possam minimizar tal situação (OKANO et

al, 2004).

Na minha concepção, as dificuldades muitas vezes são de fatores externos (ambiental), ou seja,

esteriótipos criados pela família e também pela escola/professores. Como psicopedagogos

precisamos conhecer a causa das dificuldades para encontrar meios de ajudar o aluno e não para

excluí-lo. Acontece que quando o aluno nos é encaminhado por outro profissional e tomamos

conhecimento do diagnóstico, intrinsicamente a inclusão acontece. "Com este aluno, fulano já

fez de 'tudo' e não deu jeito"! "Ele não sabe nada" Pergunto: O que é tudo? Como esse tudo foi

realizado? Será que o aluno tem mesmo dificuldade de aprendizagem ou é dificuldade na

ensinagem?

Na concepção de Polity (2002), a pedagogia com enfoque construtivista com base no

Construcionismo social elenca três fatores básicos do processo educacional: a

interdiciplinaridade, interacionalidade e o pensamento complexo conduzindo o educando para a

prática da transformação social. A autora faz a relação entre as dificuldades do aluno a as

dificuldades do professor no processo ensino-aprendizagem, interrelacionando-os, até mesmo,

nos fracassos. Ela cria essa nova abordagem com a interdependência interativa entre a

subjetividade de ambos – professor/aluno. É a mescla entre ensino e aprendizagem como um

conjunto. Com essas perspectivas surge o conceito de dificuldade de ensinagem: a natureza

relacional do Ensino, mudando significado, domínios de convivências, através do emocional, o

professor constrói a sua subjetividade no ato de ensinar. Daí a dificuldade de ensinagem, ou

seja, "é o movimento de ensinar carregando de emoção: ansiedade por ter de cumprir uma

missão, medo e/ ou frustração por não entender o aluno, fantasias de incompetência...". A

dificuldade de ensinagem se refere a esta prática do professor, colocada em cheque, corresponde

às dificuldades de aprendizagem do educando.

Nas instituições o psicopedagogo cumpre a importante função de socializar os conhecimentos

disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de normas de conduta

inseridas num mais amplo projeto social, procurando afastar, contrabalançar a necessidade de

repressão. Agindo assim, a maioria das questões poderão ser tratadas de forma preventiva,

antes que se tornem verdadeiros problemas e/ou também interventiva, se a dificuldade de

aprendizagem já estiver evidente.

Peres e Oliveira (2007), fazem menção com respeito à importância da prevenção e da

intervenção psicopedagógica, mas enfatizam também que não podemos ignorar a fase que

precede a essas ações. A etapa de avaliar, por exemplo, a avaliação psicopedagógica, deverá

anteceder a toda e qualquer proposta de intervenção, seja ela clinica ou institucional. A análise

da adequação dos materiais didáticos, da proposta pedagógica, da metodologia, da avaliação,

associadas a entrevistas com professores, tem se constituído em importante instrumento de

avaliação.

REFERÊNCIAS

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BELTEMPO, J. & ACHILE, P. A.The efect of special class placement on the self-concept of

children with learning disabilities.Child Study Journal, 20, 81-103, 1990.

CLEVER, A.; BEAR, G. & JUVONEN, J. Discrepancies between competence and importance

in self-perceptions of children in integrated classes.The JournalofSpecialEducation, 26, 125–

138, 1992.

FERREIRA, R. T. da S. Importância do psicopedagogo no ensino fundamental. Blogspot, 2008.

JACKSON, L. D. & BRACKEN, B. A. Relationship between students' social status and global

and domain – Specific Self – Concepts.Journal of School Pshichology, 36, 233-246, 1998.

LEONDARI, A. Comparability of self - concept among normal achievers, low achievers and

children with learning difficulties.EducationalStudies, 19, 357–371, 1993.

MASINI, E. S. Formação profissional em psicopedagogia: embates e desafios. São Paulo:

ABPp, 23 (72), 248-259, 2006.

OKANO et al. Crianças com dificuldades escolares atendidas em programa de suporte

psicopedagógico na escola: avaliação do autoconceito. São Paulo: PRC, 2003.

PERES, M. R. & OLIVEIRA, M. H. M. A. Psicopedagogia - Limites e possibilidades a partir de

relatos de profissionais. São Paulo: PUC, 2007.

POLITY, E. Dificuldade de Ensinagem – 1ª Edição, SP, Vetor Editora, 2002.

RUBSTEIN, E.; CASTANHO, M. I. & NOFFS, N. A. Rumos da psicopedagogia brasileira. São

Paulo: ABPp, 21(66), 225-238, 2004.

BREVE HISTORICO SOBRE PSICOPEDAGOGIA

Psicopedagogia: A solução para os problemas de aprendizagem

Mara Rubia Rodrigues Martins

BREVE HISTÓRICO.

Segundo Bossa (2000), os primeiros esboços de Psicopedagogia aconteceram na França no

início do século XIX com contribuições da Medicina, Psicologia e Psicanálise, para ação

terapêutica em crianças que tinham lentidão ou dificuldades para aprender.

Os estudos franceses influenciaram a iniciação psicopedagógica na Argentina e esta no Brasil.

Aproximadamente há 30 anos, surgiram os primeiros grupos de estudos sobre a aprendizagem e

o sistema educacional brasileiro.

Os cursos na área de Psicopedagogia começam a surgir nos anos 70, mas é na década de 90 que

se multiplicam.

Em 1996 foi aprovado em Assembléia Geral no III Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, o

Código de Ética que assinala dentre outras coisas, que a Psicopedagogia é um campo de atuação

em saúde e educação que lida com o processo de aprendizagem humana, é de natureza

interdisciplinar e o trabalho pode se dar na clínica ou instituição, de caráter preventivo e/ou

remediativo e cabe ao psicopedagogo por direito e não por obrigação, seguir esse código.

O QUE É PSICOPEDAGOGIA?

É a área do conhecimento que estuda a aprendizagem humana, objetivando facilitar o processo

de aprendizagem não apenas no ambiente escolar, mas em todos os âmbitos: cognitivo, afetivo,

social e durante toda vida.

A Psicopedagogia cuida do ser que aprende, pois deve evitar o fracasso e facilitar os processos

de aprendizagem.

Para Rubinstein (1996, p. 127), “a Psicopedagogia tem como meta compreender a complexidade

dos múltiplos fatores envolvidos nesse processo”.

Isso significa colher conhecimentos de várias áreas como a Psicologia, Pedagogia, Medicina,

Fonoaudiologia e outras. Portanto, tem enfoque transdisciplinar, ou seja, recebe influências de

vários ramos.

A transdisciplinaridade para Assmann (1998), não pretende desvalorizar o que cabe às

disciplinas específicas, mas melhorar e ampliar o conhecimento em todas.

Apenas uma área de conhecimento não seria capaz de abarcar a complexidade de um processo

de aprendizagem, pois cada indivíduo possui uma modalidade de aprendizagem, um jeito

particular de aprender, a Psicopedagogia aliada a outras áreas de conhecimento, está

comprometida em resolver os problemas e melhorar as condições de aprendizagem.

A Psicopedagogia não é a associação da Psicologia com a Pedagogia, pois ela se propõe a

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pesquisar e resolver os problemas de aprendizagem através de um intercâmbio dos

conhecimentos de outras áreas.

COMPETÊNCIAS DO PSICOPEDAGOGO

Cabe ao Psicopedagogo em primeiro lugar, estabelecer um vínculo positivo com o aprendiz, a

fim de proporcionar o resgate do prazer de aprender.

É um trabalho terapêutico centrado na aprendizagem, mas levando-se em consideração o

aprendente como um todo, seu meio e suas relações.

O Psicopedagogo elabora diagnósticos e realiza intervenções durante o trabalho com foco na

aprendizagem, porém sem perder de vista o ser humano com sua individualidade, capacidade e

ambiente no qual está inserido, ou seja, um olhar amplo, imparcial e sem preconceito, uma

escuta atenta que vai além das evidências, geralmente já observadas pela família e pela escola.

De acordo com Barone ( 1990, p.19 ), “a tarefa do Psicopedagogo é levar a criança a reintegrar-

se à vida escolar normal, segundo suas potencialidades e interesses”.

O Psicopedagogo não trabalha sozinho, atua em parceria com outros profissionais como:

Neurologista, Psiquiatras, Fonoaudiólogos, Psicólogos e outros.

Para Paín ( 1992, p.74 ), “o tratamento Psicopedagógico é o mais indicado no caso de tratar-se

um transtorno de aprendizagem”.

RECURSOS UTILIZADOS EM PSICOPEDAGOGIA

Não existem recursos específicos e limitados, mas são geralmente jogos, atividades de

expressão artística, linguagem oral e escrita, dramatização e todo tipo de recursos que facilitem

o desenvolvimento da capacidade de aprender com autonomia e prazer.

De acordo com Fernández ( 2001,p.163 ), devemos proporcionar “um espaço de confiança,

criatividade onde possamos dar um sentido criativo e lúdico ao nosso trabalho”.

Seu filho não vai bem na escola? Tem dificuldades em aprender? Problemas escolares? É

inquieto? Desobediente? Desinteressado? Desatento? Agressivo? A Orientadora solicita sua

presença constantemente na escola? A professora pede ajuda?

Quando esse pedido de ajuda está ligado à aprendizagem, procure um Psicopedagogo!

Mara Rúbia Rodrigues Martins - Pedagoga, especialista em Psicopedagogia, Professora de

Ensino Especial da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal.