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Arcadismo

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ARCADISMO (NEOCLASSICISMO) NO BRASIL

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De 1768 (publicação das Obras poéticas, de Cláudio Manuel da Costa) a 1836 (início do Romantismo)

Características (europeias):• Utilização de personagens mitológicas;• Idealização da vida campestre (bucolismo);• Eu lírico caracterizado como um pastor e a mulher amada como uma pastora

(pastoralismo ou fingimento poético);• Ambiente tranquilo, idealização da natureza, cenário perfeito e aprazível (locus

amoenus);• Visão da cidade como local de sofrimento e corrupção (fugere urbem);• Elogio ao equilíbrio (aurea mediocritas - expressão de Horácio);• Desprezo aos prazeres do luxo e da riqueza (estoicismo);• Cortar o inútil (inutilia truncat)• Aproveitamento do momento presente, da vida (carpe diem). Vivência plena do

amor durante a juventude, porque na velhice tudo tende a se acabar.

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Particularidades temáticas:

• Inserção de temas e motivos não existentes no modelo europeu, como a paisagem tropical, elementos da flora e da fauna do Brasil e alguns aspectos peculiares da colônia, como a mineração, por exemplo;

• Episódios da história do país, nas poesias heróicas;• O índio como tema literário.

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POESIA LÍRICACláudio Manuel da Costa

Estudou Direito em Coimbra . Foi uma das vítimas da Inconfidência Mineira. Preso em maio de 1789, em julho foi encontrado enforcado em seu cárcere.

Há a hipótese de ter sido assassinado.Como poeta de transição sua poesia ainda está ligada ao cultismo barroco,

em vários aspectos. Mesmo assim, era respeitado, admirado e tido como mestre por outros poetas árcades, como Tomás Antônio Gonzaga e

Alvarenga Peixoto.

Obras poéticas - poesias líricas Vila Rica - poema épico

pseudônimo - Glauceste Satúrniomusa - Nise

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VII

Onde estou? Este sítio desconheço: Quem fez tão diferente aquele prado? Tudo outra natureza tem tomado E em contemplá-lo, tímido, esmoreço.

Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço De estar a ela um dia reclinado; Ali em vale um monte está mudado: Quanto pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescentes, Que faziam perpétua a primavera: Nem troncos vejo agora decadentes.

Eu me engano: a região esta não era; Mas que venho a estranhar, se estão presentes Meus males, com que tudo degenera!

LXXII

Já rompe, Nise, a matutina Aurora O negro manto, com que a noite escura, Sufocando do Sol a face pura, Tinha escondido a face brilhadora.

Que alegre, que suave, que sonora Aquela fontezinha aqui murmura! E nestes campos cheios de verdura Que avultado o prazer tanto melhora!

Só minha alma em fatal melancolia, Por te não poder ver, Nise adorada, Não sabe inda que coisa é alegria;

E a suavidade do prazer trocada,Tanto mais aborrece a luz do dia,Quanto a sombra da noite mais lhe agrada.

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Tomás Antônio GonzagaDuas tendências são perceptíveis nas liras de Gonzaga, assim como é possível observar na obra do português Bocage, da mesma época:• O equilíbrio e o contentamento do Arcadismo, além da utilização das

paisagens neoclássicas: o pastor, a pastora, o campo, a serenidade do local etc.;

• O pré-Romantismo representado no emocionalismo, na manifestação pungente da crise amorosa e, logo após, na prisão, que reproduzem a crise existencial do poeta.

A todo momento, a emoção rompe a estilização arcádica, surgindo, assim, uma poesia de alta qualidade e competência.

POESIA LÍRICA

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POESIA LÍRICATomás Antônio Gonzaga

As Liras de Tomás Antônio Gonzaga, popularmente conhecidas como Marília de Dirceu, constituem a obra poética de maior relevância do século XVIII do Brasil e do Neoclassicismo em língua portuguesa. Essa obra é dedicada ao drama amoroso vivido por Gonzaga e Maria Dorotéia.1ª parte: reúne os poemas anteriores à prisão de Gonzaga. Nela é mais evidente as composições convencionais: Dirceu contempla a beleza da pastora Marília. Em algumas liras, o poeta não consegue disfarçar suas confissões amorosas. Mostra-se ansioso por amar uma moça muito mais jovem, por querer demonstrar que merece o coração da amada. Também faz projetos para o futuro ao lado da moça.2ª parte: escrita na prisão da ilha das Cobras. Traduzem a solidão de Dirceu, saudoso de Marília. Esta é considerada a parte de maior qualidade, pois, apesar das convenções ainda presentes, já não consegue sustentar o equilíbrio neoclássico. Há certo pessimismo confessional que já prenunciam o emocionalismo romântico, utilizando Marília como pretexto para falar de seu sofrimento, de si mesmo. 3ª parte: possivelmente escrita depois da prisão, a terceira parte fala de traições, desenganos, amores, que inclusive não são mais dedicados somente a Marília, que já não aparece com tanta frequência. Essa parte parece evidenciar uma tentativa (ou não) de superação por parte de Dirceu. Alguns críticos contestam a autenticidade dessa última parte.

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PARTE I PARTE II

Lira I

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, d’ expressões grosseiro, Dos frios gelos, e dos sóis queimado. Tenho próprio casal, e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!

Lira XIV[...]

Que havemos de esperar, Marília bela? Que vão passando os florescentes dias? As glórias, que vêm tarde, já vêm frias; E pode enfim mudar-se a nossa estrela. Ah! Não, minha Marília, Aproveite-se o tempo, antes que faça O estrago de roubar ao corpo as forças

E ao semblante a graça.Lira III

Sucede, Marília bela, À medonha noite o dia; A estação chuvosa e fria À quente seca estação. Muda-se a sorte dos tempos; Só a minha sorte não?

Os troncos nas Primaveras Brotam em flores viçosos, Nos Invernos escabrosos Largam as folhas no chão. Muda-se a sorte dos troncos; Só a minha sorte não?

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POESIA SATÍRICA

Tomás Antônio GonzagaAs Cartas Chilenas

• Poemas satíricos que circularam em Vila Rica pouco antes da Inconfidência Mineira; São 13 cartas (poemas epistolares) escritas em versos decassílabos brancos;

• Linguagem satírica e agressiva; Critilo (Gonzaga), habitante de Santiago do Chile (Vila Rica), narra os desmandos e

arbitrariedades do governador chileno, um político sem moral, despótico e narcisista, o Fanfarrão Minésio (Luís da Cunha Meneses, governador de Minas Gerais até pouco antes da Inconfidência); 

• As cartas são endereçadas a Doroteu (Claudio Manuel da Costa), residente em Madri;  Sua verdadeira autoria foi discutida por muito tempo, mas após anos de estudos concluiu-

se que a autoria era de Tomás Antônio Gonzaga.

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POESIA SATÍRICA

fragmentos de As Cartas Chilenas:" Abre os olhos, boceja, estende os braços

E limpa das pestanas carregadaso pegajoso humor, o sono ajunta.

Critilo, o teu Critilo é quem te chama;Ergue a cabeça da engomada fronha,Acorda, se ouvir queres causas raras."

" Agora, Doroteu, ninguém passeia,todos em casa estão, e todos buscam

divertir a tristeza que nos peitosinfunde a tarde, mais que a noite feia."

" Pretende, Doroteu, o nosso chefeerguer uma cadeia majestosa

que possa escurecer a velha famada torre da Babel e mais dos grandes,

custosos edifícios que fizeram,para sepulcros seus, os reis do Egito. "

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POESIA SATÍRICAfragmentos de As Cartas Chilenas:

Pretende, Doroteu, o nosso chefeMostrar um grande zelo nas cobranças

Do imenso cabedal que todo o povo,Aos cofres do monarca, está devendo.

Envia bons soldados às comarcas,E manda-lhe que cobrem, ou que metam,

A quantos não pagarem, nas cadeias.Não quero, Doroteu, lembrar-me agora

Das leis do nosso augusto; estou cansadoDe confrontar os fatos deste chefeCom as disposições do são direito;Por isso pintarei, prezado amigo,

Somente a confusão e a grã desordemEm que, a todos, nos pôs tão nova ideia.

Entraram, nas comarcas, os soldados,E entraram a gemer os tristes povos.Uns tiram os brinquinhos das orelhasDas filhas e mulheres; outros vendemAs escravas, já velhas, que os criaram,Por menos duas partes do seu preço.Aquele que não tem cativo, ou jóia,Satisfaz com papéis, e o soldadinhoEstas dívidas cobra, mais violento

Do que cobra a justiça uma parcelaQue tem executivo aparelhado,

Por sábia ordenação do nosso reino.Por mais que o devedor exclama e gritaQue os créditos são falsos, ou que foram

Há muitos anos pagos, o ministroDa severa cobrança a nada atende;

Despeza estes embargos, bem que o tristeProteste de os provar incontinenti.

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POESIA ÉPICA

Basílio da GamaPoeta luso-brasileiro, filho de pai português e mãe brasileira.

Entrou em 1757 para a Companhia de Jesus. Dois anos depois, a ordem foi expulsa do Brasil e o poeta foi para Portugal e depois para Roma, onde foi admitido na Arcádia Romana. De volta a Lisboa, por suspeita de jansenismo, foi condenando ao degredo em Angola; salvou-o um epitalâmio que dedicou à filha do marquês de Pombal, que o indultou e protegeu.

Em 1769, publica o poema épico O Uraguai, que tem por assunto a guerra movida por Portugal aos índios das missões do Rio Grande do Sul (Sete Povos das Missões).

Pseudônimo - Termindo Sipílio

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POESIA ÉPICA

Basílio da Gama

O Uraguai é considerado um poema épico de 1769 que tinha o objetivo de exaltar a política do Marquês de Pombal contra os jesuítas. Utilizando a Guerra contra os Guaranis como tema histórico, Basílio da Gama coloca a culpa do massacre indígena nos jesuítas.

Os personagens criados por Basílio da Gama são Tanajura (feiticeira índia), Cacambo (chefe da tribo), Lindóia (mulher de Cacambo), Caitutu (guerreiro índio e irmão de Lindóia), Balda (padre jesuíta que administra a aldeia), Cepé (índio guerreiro) e General Gomes Freire de Andrade (chefe das tropas de Portugal). 

Escrito em decassílabos brancos, O Uraguai não apresenta divisões entre as estrofes; o que indica as quebras são o epílogo, a narrativa, a dedicatória, a invocação e a proposição.

A base para a criação do enredo é a mitologia dos índios.

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O URAGUAIA morte de Lindóia (Canto IV)

Este lugar delicioso, e triste,Cansada de viver, tinha escolhidoPara morrer a mísera Lindóia.Lá reclinada, como que dormia,Na branda relva, e nas mimosas flores,Tinha a face na mão, e a mão no troncoDe um fúnebre cipreste, que espalhavaMelancólica sombra. Mais de pertoDescobrem que se enrola no seu corpoVerde serpente, e lhe passeia, e cingePescoço e braços, e lhe lambe o seio.Fogem de a ver assim sobressaltados,E param cheios de temor ao longe;E nem se atrevem a chamá-la, e tememQue desperte assustada, e irrite o monstro,E fuja, e apresse no fugir a morte.Porém o destro Caitutu, que tremeDo perigo da irmã, sem mais demoraDobrou as pontas do arco, e quis três vezesSoltar o tiro, e vacilou três vezesEntre a ira e o temor. Enfim sacodeO arco, e faz voar a aguda seta,Que toca o peito de Lindóia, e fereA serpente na testa, e a boca, e os dentesDeixou cravados no vizinho tronco.

Açouta o campo co'a ligeira caudaO irado monstro, e em tortuosos girosSe enrosca no cipreste, e verte envoltoEm negro sangue o lívido veneno.Leva nos braços a infeliz LindóiaO desgraçado irmão, que ao despertá-laConhece, com que dor! no frio rostoOs sinais do veneno, e vê feridoPelo dente sutil o brando peito.Os olhos, em que Amor reinava, um dia,Cheios de morte; e muda aquela língua,Que ao surdo vento, e aos ecos tantas vezesContou a larga história de seus males.Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,E rompe em profundíssimos suspiros,Lendo na testa da fronteira grutaDe sua mão já trêmula gravadoO alheio crime, e a voluntária morte.E por todas as partes repetidoO suspirado nome de Cacambo.Inda conserva o pálido semblanteUm não sei quê de magoado, e triste,Que os corações mais duros enternece.Tanto era bela no seu rosto a morte!

Lindóia, 1882, de José Maria de

Medeiros

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POESIA ÉPICA• Santa Rita Durão

• Nasceu em Cata Preta, no ano de 1722, e faleceu na cidade de Lisboa, em 1784. Pertenceu à ordem dos agostinianos brasileiros. Foi considerado um rebelde em seu tempo e teve que se exilar na Europa no período pombalino, devido a suas divergências ao espírito jesuíta.• O poeta e orador é visto como um dos antecessores da corrente indianista nacional. • Caramuru, de 1781, é a mais importante obra de José de Santa Rita Durão, um poema épico cujo tema é o Descobrimento da Bahia. É o primeiro livro a apresentar como temática principal o indígena brasileiro.• O poema  é composto por dez cantos e divide-se em cinco partes: proposição, invocação, dedicação, narração e epílogo, seguindo claramente o modelo épico de Camões.

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POESIA ÉPICACaramuru

A trama se baseia em um evento verídico. O protagonista é Diogo Álvares Correia, um náufrago lusitano que se transformou em líder dos indígenas da tribo tupinambá, sediada na Bahia. Conta a história que ele ajudou a criar a cidade de Salvador. Esta obra confere tons de ficção à trajetória real de Diogo em nosso país, desde o instante em que sua embarcação afundou até a hora em que assume o posto de funcionário do governo de Portugal, logo depois de se deparar com os representantes da capitania baiana.

Tudo que se sabe ser verídico nesta história é a relação de Diogo, conhecido como Caramuru, com Catarina Paraguaçu, uma idealista que tinha o poder de antever os confrontos que se desenrolariam futuramente entre os colonizadores e os holandeses. Também é real a ida do casal ao continente europeu para que a índia passasse pela experiência do batismo e os dois pudessem contrair matrimônio. E, logo depois, eles voltam para o Brasil. Tudo mais é considerado lenda, sem qualquer base histórica institucional.

O autor segue o estilo do autor português Luís Vaz de Camões; ele se vale igualmente dos mitos gregos, das visões oníricas e das profecias. Além disso, registra dados muito importantes sobre os nativos de nosso país. O índio é enfocado sob o ângulo da conversão ao Cristianismo. Pelo menos na visão fictícia o protagonista é um devoto nato.

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CARAMURUTrecho do Canto VI, onde narra a morte de Moema

- Bárbaro (a bela diz) tigre e não homem...Porém o tigre, por cruel que brame,Acha forças no amor, que enfim o domem;Só a ti não domou, por mais que eu te ame.Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,Como não consumis aquele infame?Mas pagar tanto amor com tédio e asco...Ah! Que corisco és tu...raio...penhasco

Trecho do Canto I

De um varão em mil casos agitado, Que as praias discorrendo do Ocidente, Descobriu o Recôncavo afamado Da capital brasílica potente: Do Filho do Trovão denominado, Que o peito domar soube à fera gente; O valor cantarei na adversa sorte, Pois só conheço herói quem nela é forte.

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Moema, Victor Meirelles (1866). Masp