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Artigo: ASPECTOS ADMINISTRATIVOS DA SEGURANÇA PÚBLICA Autor: Ricardo de Oliveira Dias. Bacharel em Administração e Master Bussines Administration MBA em Gestão de Projetos. As Polícias e a Constituição Federal O artigo 144 do Capítulo III da Constituição Federal de 1988 CF/88 prescreve que "a segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio." De forma geral, o exercício da segurança pública conforme determina a nossa Constituição Federal, é efetuado pelo conjunto de órgãos que compõe o sistema de segurança pública no Brasil (Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis e Militares dos estados e do Distrito Federal, Bombeiros Militares e Guardas Municipais, quando constituídas, para a proteção dos bens, serviços e instalações do município). Cada órgão do referido sistema tem sua função estabelecida na forma da Lei, contextualizada nos incisos e parágrafos do artigo 144 da nossa Carta Magna. Porém, o referido diploma legal afirma que cabe apenas as Polícias Militares, atuarem como polícia ostensiva e na preservação da ordem pública. Em complemento a essa afirmação jurídica, a conjuntura nacional atual torna imperativo a necessidade constante e evolutiva de uma segurança pública eficiente, que priorize a prevenção ao crime e o exercício dos direitos humanos. Contudo, ao observarmos a escalada do crime e a exigência da sociedade por uma segurança pública cada vez mais atuante, percebemos que o exercício da atividade de polícia tem se tornado cada vez mais necessário. Na linha de frente da atividade policial e com a sua atuação acentuada por sua característica ostensiva, estão as polícias militares brasileiras. Entretanto, o contexto histórico dessas centenárias corporações reflete o mau uso dos seus recursos institucionais, que foram empregados na

Aspectos Administrativos da Segurança Pública

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Artigo: ASPECTOS ADMINISTRATIVOS DA SEGURANÇA PÚBLICA

Autor: Ricardo de Oliveira Dias. Bacharel em Administração e Master Bussines

Administration – MBA em Gestão de Projetos.

As Polícias e a Constituição Federal

O artigo 144 do Capítulo III da Constituição Federal de 1988 – CF/88

prescreve que "a segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de

todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das

pessoas e do patrimônio."

De forma geral, o exercício da segurança pública conforme

determina a nossa Constituição Federal, é efetuado pelo conjunto de órgãos que

compõe o sistema de segurança pública no Brasil (Polícia Federal, Polícia

Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Civis e Militares dos estados

e do Distrito Federal, Bombeiros Militares e Guardas Municipais, quando

constituídas, para a proteção dos bens, serviços e instalações do município).

Cada órgão do referido sistema tem sua função estabelecida na

forma da Lei, contextualizada nos incisos e parágrafos do artigo 144 da nossa Carta

Magna. Porém, o referido diploma legal afirma que cabe apenas as Polícias

Militares, atuarem como polícia ostensiva e na preservação da ordem pública.

Em complemento a essa afirmação jurídica, a conjuntura nacional

atual torna imperativo a necessidade constante e evolutiva de uma segurança

pública eficiente, que priorize a prevenção ao crime e o exercício dos direitos

humanos.

Contudo, ao observarmos a escalada do crime e a exigência da

sociedade por uma segurança pública cada vez mais atuante, percebemos que o

exercício da atividade de polícia tem se tornado cada vez mais necessário.

Na linha de frente da atividade policial e com a sua atuação

acentuada por sua característica ostensiva, estão as polícias militares brasileiras.

Entretanto, o contexto histórico dessas centenárias corporações

reflete o mau uso dos seus recursos institucionais, que foram empregados na

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maioria das vezes como mecanismo estatal de "persuasão" e controle e como

máquina para a construção de um ambiente favorável a determinadas classes,

mantedoras do poder no país. Porém, o cenário mudou.

A abertura democrática trouxe ao poder uma nova sociedade,

repleta de anseios e exigente em relação aos seus direitos, subjulgados por décadas

de ditadura.

Como enfatiza a nossa Constituição de 1988, a democracia

brasileira tem como principal preceito a garantia dos direitos individuais, dentre eles,

o de ser assistido por uma segurança pública efetiva e de qualidade.

Em Goiás, o cenário atual determina uma necessidade constante de

ações de repressão ao crime, sem, no entanto, deixar de lado a urgência na

elaboração de uma política estratégica de prevenção.

Enxergando esse cenário, a Polícia Militar de Goiás tem buscado o

constante aperfeiçoamento técnico de seus operadores, investindo seus esforços na

construção de uma corporação policial militar moderna, equipada e preparada para

atender as demandas da sociedade goiana.

Entendendo ser esse o principal objetivo da PM Goiana, foi realizada

pesquisa, na forma de projeto acadêmico, com o intuito de identificar os gargalos na

eficiência da instituição que, quando eliminados, podem colaborar para a

implementação de maior eficiência nos seus processos, proporcionando uma

segurança pública com qualidade cada vez maior.

Aspectos Gerenciais das Polícias Militares

É obrigatório ao administrador saber que as organizações são

formadas por pessoas e para as pessoas e que modelos gerenciais são mutáveis e

temporais, devendo acompanhar a evolução das necessidades humanas e da

organização. E, principalmente, o administrador/gestor não deve se esquecer de que

os colaboradores são o principal recurso necessário ao sucesso da organização.

Observando essa premissa, foi possível nortear a pesquisa a

identificar aspectos gerenciais específicos que permitissem relacionar o

desempenho da corporação à motivação dos seus operadores.

Na trilha do caminho científico percorrido para a obtenção das

informações necessárias para o desenvolvimento do referido trabalho, deparamos

com uma série de ramificações que nos levou a identificar características

motivacionais bastante diversificadas.

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Por fim, buscou-se identificar aspectos comuns que tivessem algum

efeito na prestação do serviço de segurança pública por parte da Polícia Militar de

Goiás, foco da pesquisa.

Assim, o escopo da pesquisa foi transformado, e os esforços foram

convergidos para identificar e formular um problema que interligasse o

comportamento organizacional da PM de Goiás com a eficiência de seus processos

(operados por pessoas), afetando a qualidade de seu produto final.

A pesquisa, "A Eficiência do Modelo Burocrático Militar na

Prestação do Serviço de Segurança Pública pela Polícia Militar de Goiás".

2011. 118 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Administração) –

Sistema de Ensino Presencial Conectado, Universidade Norte do Paraná, visou

abordar a viabilidade do modelo burocrático militar para a eficiência do serviço de

segurança pública prestado pela Polícia Militar de Goiás, como base para as

transformações necessárias à implantação de novos modelos de segurança pública

que atendam a demanda da comunidade goiana.

No trabalho foram relacionados diversos autores cujas teorias

corroboram para sustentar os resultados obtidos, inferindo na necessidade de iniciar

as mudanças de dentro para fora, mostrando que o modelo de burocrático militar

atualmente em uso na PMGO, pode estar ultrapassado para ser praticado por

instituições de segurança pública ostensiva.

Os resultados foram obtidos através da análise bibliográfica,

documental, observação participativa, pesquisa de campo e análise comparativa das

teorias em relação aos aspectos institucionais da Polícia Militar de Goiás.

Através da pesquisa foi possível concluir que o modelo burocrático

militar da PMGO apresenta aspectos que contribuem para a ineficiência dos

processos institucionais e torna deficiente o relacionamento entre a corporação e a

comunidade, podendo implicar em baixa qualidade dos serviços de segurança

pública prestado pela corporação goiana.

Disfunções da Burocracia

A ineficiência é entendida pela maioria das pessoas como a principal

característica apresentada pelas repartições públicas que, com o passar dos anos,

cristalizaram a idéia de que burocracia é sinônimo das disfunções apresentadas no

serviço público.

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Entretanto, ao formular seus estudos referente a burocracia, Max

Weber, sociólogo alemão, considerado o pai da burocracia, idealizou um modelo

burocrático com base no emprego racional dos meios para se atingir os fins.

Esse modelo, conhecido como modelo ideal de burocracia de

Weber, formulado na década de 40, logo passou a ser utilizados pelas corporações

mundo afora, tanto públicas como privadas.

Ocorre que o modelo de Weber se apresentava bastante

mecanicista e desconsiderava a organização informal, não levando em conta a

variabilidade humana, comum aos diversos tipos de pessoas.

Nisso, por ser operado por pessoas, o modelo ideal de burocracia de

Weber, passou a apresentar uma série de fugas ou distorções em relação a sua

característica racional.

Essas distorções são identificadas pelo autor estruturalista Robert K.

Merton (sociólogo), como consequências imprevistas da burocracia, surgindo assim

o conceito de disfunções da burocracia.

Disfunções da burocracia são desvios no modelo ideal de burocracia

em que, dependendo do grau em que se apresentam, conduzem a organização a

ineficiência.

Na Polícia Militar de Goiás também é possível observar a ocorrência

das diversas distorções mencionadas por Merton como disfunções da Burocracia

que são comumente enfatizadas pelo atual modelo de burocrático militar da PM

Goiana.

Problema Proposto

As polícias militares brasileiras, por adotarem um modelo de gestão

oriundo do Exército Brasileiro, apresentam características típicas, observadas em

todas as instituições militares de segurança pública no país, inferindo a existência de

semelhanças institucionais que favorecem a utilização de estudos efetuados nas

polícias militares de outros estados para a elaboração de trabalhos referentes a

PMGO.

A partir da observação dessas características e do comportamento

organizacional causado pelo atual modelo burocrático militar da PMGO, levantou-se

o seguinte questionamento:

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O atual modelo burocrático militar em uso na PMGO ainda é

viável para subsidiar a eficiência da corporação, na prestação do serviço de

segurança pública?

O que chama a atenção é saber se o atual modelo militar continua

sendo eficiente para o desenvolvimento das atividades de segurança pública

exercida pela Policia Militar de Goiás.

O tema tem sido debatido por outras corporações policiais militares e

aplicado aos seus respectivos cenários. Porém, aparentando efeito das próprias

disfunções burocráticas apresentadas nessas corporações, ocorre uma resistência à

qualquer tentativa de mudança, bem como uma conformidade indiscutível em

relação a subordinação das polícias fardadas ao modelo do Exército Brasileiro.

Objetivos

A pesquisa teve como objetivo principal verificar a atual viabilidade

do modelo burocrático militar em uso na Polícia Militar de Goiás, para o exercício da

atividade de segurança pública.

Como objetivos específicos, foram relacionados:

- Verificar a ocorrência das disfunções burocráticas no atual modelo gerencial da

PMGO.

- Analisar a influência do modelo burocrático militar da PMGO na motivação

produtiva do policial militar e na qualidade do serviço;

- Verificar quais são as características do modelo militar que interferem no

comportamento organizacional;

Dos Dados

A observação das disfunções constatadas permitiu confrontar as

características do modelo organizacional da PMGO com o comportamento

organizacional indesejado e que interfere na satisfação motivacional produtiva dos

membros da organização, bem como na eficiência dos processos.

Os aspectos relacionados na pesquisa podem interferir

negativamente no comportamento organizacional da PMGO, levando os seus

operadores a interpretarem as características organizacionais de forma distorcida e

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considerar esses aspectos como os únicos válidos no ambiente militar da

corporação.

Os aspectos relacionados a satisfação motivacional produtiva são

suficientemente subjetivos para podermos deduzir que qualquer pesquisa para

medição da satisfação do público interno ou outro mecanismo, possa subsidiar

mudanças na estrutura da organização.

Tal medição carece de participação imprescindível de empresas

especializadas que possam reproduzir um cenário real da atual condição do efetivo

da corporação.

Na sequencia ao trabalho de pesquisa e já identificados os fatores

críticos ao problema proposto, foram analisados as principais disfunções detectadas

e expostos, conforme o embasamento teórico utilizado na pesquisa, os efeitos

causados ao comportamento organizacional e a funcionalidade da instituição, com

foco na sua eficiência.

Para isso, a análise primária foi focada nas duas principais

disfunções percebidas na PMGO, e que levam ao aparecimento das demais

disfunções descritas por Merton.

As disfunções que foram enfatizadas são:

A internalização das regras e o apego aos regulamentos;

A valorização excessiva a hierarquia, através do "hierarquismo" e da exibição

de sinas de autoridade.

É possível observar no quadro abaixo que, dentro dos aspectos

pesquisados através da observação do comportamento dos policiais militares, a

duas disfunções epigrafadas acima levam, na maioria das vezes, a apresentação de

outras distorções relacionadas a elas, a saber:

Quadro 1 - Distorções relacionadas ao comportamento organizacional da PMGO.

Disfunções apresentadas na

pesquisa Distorções relacionadas

Internalização das Regras e o apego aos

regulamentos.

- De meios para se buscar a eficiência, as

regras e regulamentos se tornam o fim.

Ocorre o deslocamento de objetivos.

a) As normas apresentadas exigem a informalidade das comunicações, e por consequência, o excesso de formalismo e papelório.

b) O apego exagerado as normas torna o funcionário um mero executor, que

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Ocorre também o aparecimento dos

seguintes comportamentos indesejáveis:

“incapacidade treinada[1]” (conceito de

Veblen), “deformação profissional[2]” (de

Warnotte) e “psicose ocupacional[3]”

(segundo Dewey).

passa a apresentar resistência a mudanças.

c) A coerção e a devoção a normas e regulamentos opressores e limitadores, transformam essas regras em coisas absolutas, provocando a limitação da liberdade e espontaneidade. O policial militar trabalha em função dos regulamentos e rotinas e não em função dos objetivos organizacionais, estabelecendo uma superconformidade e se comportando de forma a fazer estritamente o que impõe as normas da organização, perdendo a flexibilidade, a iniciativa e a criatividade, apresentando um desempenho mínimo exigido. Combinado ao jargão: “na PM nada se cria, tudo se copia”, o PM torna-se incapaz de criar ou inovar.

“Hierarquismo”, exibição de sinas de

autoridade e categorização.

a) Quem decide é sempre aquele que ocupa o posto hierárquico mais alto, mesmo que nada saiba a respeito do problema a ser resolvido (ou não possua habilidade para tal) (Chiavenato, 2003, p.70)

b) Ênfase a Hierarquia de Autoridade; c) Utilização intensiva de símbolos e

sinais de status. d) Demonstração constante do status

relativo a posição hierárquica. e) Deslocamento de Objetivos.

a) Categorização como base do processo decisório. A rígida hierarquia de autoridade leva a PM a centralizar suas decisões nos postos mais altos da corporação, independentemente se a pessoa que ocupa o cargo tem o conhecimento necessário para decidir sobre o assunto. Quanto mais se categoriza o processo decisório, menor é a procura por soluções alternativas.

b) Como se refere Maximiano (2000), o culto ao chefe, torna-se objetivo importante. O “hierarquismo” na PMGO combina a valorização excessiva da hierarquia com a internalização e apego aos regulamentos. É ocorrência frequente gastar uma enorme parcela de tempo e energia com preparação para solenidades, empregando por um largo espaço de tempo, uma parcela bastante relevante dos recursos em prol dos cuidados com a unidade para prepará-la para alguma solenidade. Isso é comumente observado na Academia de Polícia Militar. Gasta-se muito tempo e emprega-se muito efetivo em solenidades para

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proporcionar privilégio e prestígio aos comandantes em detrimento do emprego da tropa no cumprimento do dever constitucional da PMGO.

c) Até o final da década de 1990, existia diferenciação entre refeitórios (refeitório dos cabos e soldados, refeitório dos oficiais, refeitório dos subtenentes e sargento), não sendo permitido aos soldados utilizar o refeitório dos subtenentes e sargentos nem o de oficiais.

d) Subaproveitamento dos talentos da corporação por força de uma condição hierárquica que não permite que a base participe do planejamento estratégico da corporação (cultura organizacional da corporação).

No geral, o modelo militar estudado, apresentou todas as disfunções

da burocracia previstas por Merton em sua teoria, reforçando a tese de que o atual

modelo de gestão militar utilizado pela PMGO promove a idéia de ineficiência,

prejudicando a prestação de serviços a comunidade goiana.

Pelas características mencionadas anteriormente, foi possível incluir

dados referentes ao conhecimento científico produzido em outras PMs do Brasil,

permitindo uma inferência na apresentação das características verificadas nas

coirmãs com a estrutura organizacional da PMGO, corroborando com os resultados

desta pesquisa.

Da Análise

As disfunções são excessos provocados pela distorção do modelo

burocrático, através do exagero no grau de burocratização da organização, levando

a autocracia, a rigidez e ao mecanicismo. Ocorre pela não observação das

consequências imprevistas da burocracia.

O principal reflexo das disfunções observadas na PMGO, como a

internalização e o apego às normas e regulamentos, despersonalização dos

relacionamentos, valorização excessiva da hierarquia e exibição de sinais de

autoridade, é o aparecimento de outra distorção extremamente prejudicial para a

organização. Chiavenato (2003, p. 270) identifica essa distorção, ou disfunção da

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burocracia, como dificuldade no atendimento aos clientes e conflitos com o público,

explicando que:

O funcionário está voltado para dentro da organização, para suas normas e regulamentos internos, para suas rotinas e procedimentos, para seu superior hierárquico que avalia o seu desempenho. Essa atuação interiorizada para a organização o leva a criar conflitos com os clientes da organização.

O modelo militar da PMGO, na forma das disfunções relacionadas à

interiorização das normas e regras e do "hierarquismo", faz com que ocorram

deslocamentos de objetivos, onde a manutenção do militarismo torna-se a principal

prioridade da PM, em detrimento da prestação de serviços à sociedade (os meios se

tornam os fins em si mesmo).

Outra consequência grave das distorções observadas relaciona-se à

internalização constante e aplicação continua do regulamento repressor. Esses

procedimentos podem ocasionar os sintomas descritos por Maximiano (2000) como

comportamentos indesejáveis, tais como a resignação e a agressão (violência),

ocasionadas pela frustração em relação à impossibilidade de se expressar ou

conciliar as necessidades motivacionais e objetivos pessoais aos objetivos da

corporação.

Trata-se de características que podem contribuir para a destruição

da satisfação produtiva, interferindo efetivamente na eficiência dos processos e na

prestação de serviço a comunidade.

Dos Resultados

A apresentação do resultado integral da pesquisa está publicada na

monografia A Eficiência do Modelo Burocrático Militar na Prestação do Serviço

de Segurança Pública pela Polícia Militar do Estado de Goiás, (2011, 118 p.) que

incluem os aspectos observados como participante dos eventos, expondo os

motivos que levam a necessidade de repensar o atual modelo de produção da

Polícia Militar de Goiás.

Em suma, pode-se dizer que as exigências do público externo em

relação a um novo modelo de segurança pública mais eficiente tem sido o foco de

constantes discussões das autoridades, no que se refere aos rumos da segurança

pública em nosso Estado.

Atualmente, ocorre um processo de adequação dos órgãos de

segurança pública ao modelo de polícia comunitária[4] que visa a aproximação da

polícia militar com a comunidade.

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Esse é um passo fundamental para a implementação de políticas

que viabilizem a inserção das policias no conceito mundial de policiamento

humanizado.

Contudo, a implementação desse modelo esbarra na exigência de

uma polícia ostensiva eficiente, capaz de interagir pacificamente com a sociedade,

integrar os seus processos aos demais órgãos de segurança pública e proporcionar

um ambiente de trabalho que estimule o comprometimento de seus operadores.

Nisso, faz se necessário avaliar a viabilidade do atual modelo

burocrático militar, para que sejam direcionados esforços no sentido de proceder as

modificações necessárias a estruturação de um novo modelo de segurança pública.

Como resultado final, o trabalho demonstra que o atual modelo

burocrático em uso na PMGO, apesar dos seus avanços estruturais, necessita de

uma transformação cultural que possa romper os paradigmas impostos pelo modelo

militar e transformar a PMGO em uma organização mais eficiente e mais preparada

para atender as demandas sociais por segurança pública.

___________________________________________________________________ 1 Conceito de Veblen. "Diz respeito ao despreparo diante de situações novas a que pode estar submetido o funcionário, proporcionando um grave problema de adaptação". (LIMA, 200, p. 25). 2 Conceito de Warnotte. Excesso de formalismo ou tecnicismo, o burocrata virtuoso. 3 Conceito de Dewey. Submetidos as distorções burocráticas, os indivíduos vão adquirindo preferências e antipatias sendo que e as psicoses vão se desenvolvendo pelas exigências da organização. 4 Polícia Comunitária é uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a população e a polícia. Baseia-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e em geral a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na área. (TROJANOWICZ, 1994, SENASP, 2007, p. 39)

________________________________________________________________

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