48
A Construção da Avenida Presidente Vargas (O Antes, o Durante e o Depois) Quem hoje passa pela movimentada Avenida Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, não faz ideia dos transtornos ocorridos por ocasião da construção da vasta avenida . A abertura da avenida era parte de um amplo Plano de Obras levado a efeito na gestão do Prefeito Henrique Dodsworth, encomendado ao engenheiro Édison Passos, Secretário de Viação, com o objetivo de desafogar o trânsito da cidade.

Av. Presidente Vargas - O antes, o durante e o depois

Embed Size (px)

Citation preview

A Construção da Avenida Presidente Vargas

(O Antes , o Durante e o Depois )

Quem hoje passa pela movimentada Avenida Pres idente Vargas, no Rio de Janeiro , não faz ideia dos transtornos ocorridos por ocasião da construção da vasta avenida .

A abertura da avenida era parte de um amplo Plano de Obras levado a efe ito na gestão do Prefeito Henrique Dodsworth, encomendado ao engenheiro Édison Passos, Secretário de Viação, com o objet ivo de desafogar o trânsito da c idade.

• Grandes foram as dif iculdades enfrentadas para a sua real ização: a oposição dos proprietár ios dos imóveis que estavam em seu traçado; a extinção de logradouros públ icos como o Largo do Capim; o Largo de São Domingos; a famosa Praça Onze, da qual hoje existe um simples arremedo; uma grande parte da Praça da República que foi , também, e l iminada para a passagem do le ito da nova avenida; a destruição de importantes edif icações como o Paço Municipal , sede da Prefeitura, assim como a comoção provocada no espír ito re l igioso e tradicional ista de muitos pela demolição de diversos templos, dentre os quais as igre jas de São Pedro, do Bom Jesus do Calvário, de Nossa Senhora da Conceição e a Capela de São Domingos. Cogitou-se , até mesmo, de pôr abaixo a Igre ja da Candelária , a qual só foi preservada ao se decidir que e la permanecer ia dentro da própria avenida.

Construída entre os anos de 1732 e 1740, a Igre ja de São Pedro dos Clérigos era ornamentada com obras do Mestre Valentim e t inha um est i lo único na c idade: o corpo era em rotunda, com quatro arcos, e o zimbório (espécie de domo) copiava os templos romanos. Foi fe ita uma tentativa de removê- la para outro lugar. No entanto, bastou os operár ios inic iarem as escavações dos al icerces da igre ja para que o templo s implesmente desabasse .“Foi assim, de fato, pela s imples e obstinada preocupação de

pôr-se o e ixo da nova Avenida Presidente Vargas em rigoroso al inhamento com a Avenida do Mangue, que se obteve do Presidente da República cancelar a inscrição daqueles monumentos nos Livros do Tombo, despojando-nos, fe ita abstração dos outros, da jo ia s ingular da arquitetura sacra, que era a Igre ja de São Pedro”, assim descreve o historiador Gastão Cruls em seu l ivro “Aparências do Rio de Janeiro”.Observação: Avenida do Mangue era a antiga designação do trecho da atual Avenida Pres idente Vargas desde a Praça Onze até a Avenida Francisco Bicalho.

Foram demolidos os quarteirões que formavam o lado par da Rua General Câmara e o ímpar da Rua de São Pedro, fundindo as duas em uma só via. Da mesma maneira, também as ruas Visconde de Itaúna e Senador Eusébio, ao longo do Canal do Mangue, também se fundiram numa só para a construção da avenida. A Rua General Câmara era tradicionalmente conhecida como Rua do Sabão e a designação devia-se à local ização em um de seus trechos do armazém de sabão aonde a população do Rio colonial ia se abastecer desse produto, no tempo em que o monopól io de fabr icá-lo e vendê- lo pertencia, sempre, a um amigo do Rei português ou a um de seus ministros . Esse nome serviu para designá-la até 1870, quando a Câmara Municipal mudou o seu nome para General Câmara, em homenagem ao vencedor do combate do Serro Corá que, com a morte de Lopez, pôs f im à Guerra do Paraguai .

Quando foi aberta outra em continuação, a lém do Campo de Santana, foi denominada pelo povo de Rua do Sabão da Cidade Nova, também rebatizada de Visconde de Itaúna após o seu prolongamento até a Ponte dos Marinheiros .

• A centenária Rua de São Pedro se desenvolveu a part ir da igre ja nela construída pela Irmandade dos Clérigos de São Pedro ou de São Pedro dos Clérigos, r ica e bela como poucas havia no país . A rua se estendia desde a altura da Candelária até o Campo de Santana (Praça da República) .

•  Tal qual a Rua do Sabão, ao ser aberta outra além do Campo, como continuação dela, o povo que tanto a quer ia, a denominou Rua de São Pedro da Cidade Nova. Anos mais tarde, ao ser prolongada até a altura da atual Ponte dos Marinheiros , teve o nome alterado para Senador Eusébio.

•  A Avenida Pres idente Vargas foi , enfim, inaugurada no dia 7 de setembro de 1944 quando, pela pr imeira vez, nela se real izou o desfi le mil itar comemorativo da Independência do Brasi l e que contou com a presença, entre outras autor idades, do próprio homenageado na designação da avenida, o Presidente Vargas .

Sob os acordes plangentes de “Sons de Carr i lhões” , de autor ia de João Pernambuco, em exímia execução de Dilermando Reis , como que a lamentar o s i lêncio imposto aos s inos que dobravam em diversas igre jas demolidas para a abertura da ampla avenida, apresento algumas fotos retratando o seu espaço , antes , durante e após a construção.

O “ANTES “DA CONSTRUÇÃO

Campo de Santana

1927

Praça 11 de Junho – 1922 (Foto de Augusto Malta)

Praça 11 de Junho - 1930

Em 1910, o Canal do Mangue era atração turíst ica

O Canal do Mangue em 1919

A Antiga Estação da Central do Brasi l

A Antiga Estação da Central do Brasi l Com o Novo Prédio em Construção ao Fundo

Escola Rivadávia Correa, em 1904

Hospital São Francisco de Assis , Cuja Criação Remonta a 1876

Largo de São Domingos – A Igreja e o Largo se local izavam onde hoje é a Av. Presidente Vargas, em frente à Av. Passos. O largo fazia esquina com a Rua General Câmara

Igre ja de São Domingos s ituada no largo de mesmo nome

Igre ja de São Pedro dos Clér igos, demolida para a abertura da Av. Pres idente Vargas.

Igre ja de São Pedro dos Clérigos (Foto de Marc Ferrez)

A Praça da República, em 1905, Com a Escola Rivadávia Correa ao Fundo

(Este é o espaço hoje ocupado pelo Panteon do Duque de Caxias. Observe-se que as árvores da praça muito se aproximavam da escola )

O Paço Municipal , sede da Prefeitura, demolido para a abertura da Avenida Pres idente Vargas (foto de 1893-

1894)

Rua General Câmara, desaparecida com a abertura da Av. Presidente Vargas (Foto de Augusto Malta)

Largo do Capim – Situava-se entre as ruas Gen. Câmara, de São Pedro e dos Andradas. Em 1790, a municipal idade determinou que al i fosse estabelecido um local para a forragem dos animais de montaria, carruagens e veículos de carga, surgindo, assim, a denominação de Largo do Capim. Em 1925, o seu nome foi a lterado para Praça Lopes Trovão que perdurou até 1943, quando desapareceu com a abertura da Av. Presidente Vargas.

O “DURANTE” A CONSTRUÇÃO

Obras de abertura da Av. Presidente Vargas , vendo-se o extinto Largo de São Domingos e as suas árvores .

Obras de pavimentação da Av. Presidente Vargas, vendo-se , ao fundo, a Praça da República ainda no seu trajeto.

Rua Senador Eusébio, cruzamento com a Rua de Santana, com várias edif icações já demolidas (Ao fundo, vê-se o prédio da Central do Brasi l ainda sem o seu caracter íst ico re lógio) .

Rua Senador Eusébio em fase de demolição para a abertura da Av. Presidente Vargas (Ao fundo, vê-se

parte da Praça da República )1943

O ANTES DA CONSTRUÇÃO

Rua Senador Eusébio - 1943

Rua Senador Eusébio esquina com a Praça da República - 1943

Rua Visconde de Itaúna em fase de demolição para a abertura da Av. Presidente Vargas (Vê-se o prédio da Central do Brasi l ainda sem o re lógio e , ao fundo, parte da Praça da República ) - 1943

Praça 11 de Junho – O Processo de Demolição - 1943

Esquina da Av. Pres idente Vargas com a Praça da República (atente-se , à esquerda do prédio, a Casa de Deodoro até hoje

existente) - Foto de O Globo

Av. Pres idente Vargas – Foto panorâmica t irada a partir da

Igre ja da Candelár ia

Vista panorâmica da Av. Presidente Vargas . À esquerda, vê-se parte do edif íc io do atual Comando Mil itar do Leste (antigo Ministér io da Guerra) ; aEscola Rivadávia Correa; ao fundo, a Igre ja da Candelária e , à dire ita da foto, parte da Praça da República (Fotografia t irada, provavelmente, do edif íc io da Central do Brasi l ) - Ano 1944

O “DEPOIS” DA CONSTRUÇÃO

Vista Panorâmica da Av. Pres idente Vargas - 1949

Vista Panorâmica da Av. Presidente Vargas - 1951

Trevo das Forças Armadas no f inal da Av. Presidente VargasFinal da década de 1960

O centenário Canal do Mangue, na Av. Pres idente Vargas. Ao fundo, vê-se a Igre ja da Candelár ia – Foto de O Globo.

Vista Panorâmica Atual da Av. Pres idente Vargas Com Destaque Para a Praça Duque de Caxias .

Referências Bibliográficas:-Aparências do Rio de Janeiro, de Gastão Cruls- História das Ruas do Rio, de Brasi l Gerson- Memórias da Cidade do Rio de Janeiro, de Vivaldo Coaracy- Sites diversos disponíveis na Internet

- Fundo Musical: Sons de Carri lhões , Autoria de João Pernambuco Interpretação de Dilermando Reis

Autor: R.A. Macedo

Julho de 2012