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C M Y K C M Y K A-22 A-22 Editora: Ana Paula Macedo [email protected] 3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155 Na maioria das vezes, além do idioma, as pessoas querem atividades culturais, como dança, música ou arte” Maura Leão, diretora de agência de viagens Saber viver C omo manter-se ativo quando os fi- lhos já estão criados e a estabilidade financeira foi alcançada? Boa parte dos cerca de 31 milhões de brasilei- ros com mais de 50 anos deve ter se per- guntado isso pelo menos uma vez. Uma boa opção para quem quer manter a vita- lidade e o entusiasmo nessa fase da vida — e ainda encontrar aventura, aprender outra língua, conhecer pessoas e ganhar bagagem cultural — é o intercâmbio, ati- vidade antes restrita ao público adoles- cente, mas que ganha cada vez mais adep- tos entre o público de meia-idade. De acordo com Maura Leão, diretora de uma agência de viagens, o número de pessoas dessa faixa etária interessadas por esse tipo de programa vem aumentando. “Só nos últimos meses, notamos um au- mento de 20% na procura”, diz. Segundo especialistas, o movimento é fruto do en- velhecimento geral da população brasilei- ra, que cada vez mais se mantém ativa de- pois dos 50, época em que, normalmente, já se alcançou o auge da carreira e a apo- sentadoria não é algo tão distante. O pesquisador do Centro de Excelên- cia em Turismo da Universidade de Bra- sília (UnB) Domingos Spevia lembra que o Brasil está envelhecendo e que lidar com um número cada vez maior de pes- soas que já passaram da meia-idade é um desafio. “Não somos mais um país de jo- vens e o setor de turismo está descobrin- do isso, preparando-se para atender esse público, que é muito mais exigente.” Maura concorda. Segundo ela, quando os clientes são adultos, a questão finan- ceira também é tratada de maneira dife- rente. “Eles não dependem de dinheiro dos pais, como os adolescentes. Assim, eles próprios decidem o destino, nego- ciam preços e fecham o pacote.” “Por que não?” A ativista cultural Ana Sueli Lopes foi uma das que aceitou o desafio de partici- par de um intercâmbio aos 50 anos. Com os três filhos já criados, ela embarcou, em julho deste ano, em um programa que incluía aulas de espanhol durante três semanas na cidade de Salamanca, na Espanha. Ela era a única participante com mais de 25 anos em uma turma que reunia dezenas de intercambistas do mundo todo. Além de aprender a língua, conheceu a cultura e a arquitetura do país, de forte influência árabe. “Tudo chega na hora certa, e a minha hora de fazer intercâmbio só chegou aos 50. Quando surgiu a possibilidade eu pensei: Por que não?”, conta. Ana Sueli diz que as pessoas se sur- preendiam inicialmente quando desco- briam que ela era uma das alunas. “Todos foram muito legais comigo, mas muita gente achou ousado fazer isso na minha idade.” A diferença de anos, porém, não foi problema e deu a Ana a oportunidade de não só aprender, mas também de en- sinar. “A experiência de vida que se tem a essa altura da vida me deu condições de mostrar muito mais a cultura brasileira para as pessoas com quem eu convivi”, afirma. A viagem foi tão boa que Sueli pretende voltar. “Quando tiver a oportu- nidade novamente, com certeza embar- co para outro país, só não sei ainda qual”, garante. Sonho antigo Um dos principais diferenciais em pro- gramas de intercâmbio voltados para o pú- blico adulto é que o foco não está apenas no aprendizado de uma língua estrangeira. “Na maioria das vezes, além do idioma, as pessoas querem atividades culturais, como dança, música ou arte”, explica Maura. É possível, por exemplo, ir para a Argentina aprender espanhol e incluir, no mesmo pa- cote, aulas de tango. Ou viajar a Paris e fre- quentar um curso de história da arte. Muitas vezes, o intercâmbio é um so- nho antigo que só pode ser realizado quando a pessoa pode parar de se preo- cupar com o sustento da família e tem tempo para pensar nela mesma. “Muitos dos nossos clientes já mandaram os fi- lhos para um intercâmbio, mas nunca ti- veram a possibilidade de ir. Agora, po- dem realizar esse desejo”, conta Maura. Os destinos desse público específico nem sempre são os tradicionais. Há mui- ta procura por lugares exóticos, pouco explorados pelos brasileiros. De acordo com Renato Maia, diretor do Centro de Medicina do Idoso do Hos- pital Universitário de Brasília, a principal vantagem de um programa de intercâm- bio para quem já passou dos 50 anos é a possibilidade de se manter ativo. “É uma ótima maneira de se integrar socialmen- te e acabar com a sensação de monoto- nia, tão comum nessa fase”, esclarece. Se- gundo o médico, os benefícios do inter- câmbio se prolongam por um tempo muito além do da viagem. “Esse tipo de atividade provoca um bem-estar dura- douro, que vai se refletir na vida que o paciente levará quando voltar.” De malas prontas É cada vez maior o número de pessoas com mais de 50 anos que ingressam em um programa de intercâmbio para morar durante algumas semanas em outro país 22 CORREIO BRAZILIENSE Brasília, terça-feira, 11 de agosto de 2009 Fotos: Arquivo Pessoal Arquivo Pessoal Além de aprender a língua espanhola, Ana aproveitou para ter contato com a arquitetura local A ativista cultural com alguns dos colegas de viagem: a única com mais de 25 anos no grupo Monique Renne/CB/D.A Press Com os três filhos já criados, Ana Sueli participou de um intercâmbio na Espanha

De Malas Prontas

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Correio Braziliense - Saber Viver - 11/08/2009

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C M Y K C M YK

A-22A-22

EEddiittoorraa:: Ana Paula Macedo [email protected]

3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155

Na maioria dasvezes, além doidioma, as pessoasquerem atividadesculturais, comodança, música ou arte”

Maura Leão, diretora de agência de viagens

Saber viver

Como manter-se ativo quando os fi-lhos já estão criados e a estabilidadefinanceira foi alcançada? Boa partedos cerca de 31 milhões de brasilei-

ros com mais de 50 anos deve ter se per-guntado isso pelo menos uma vez. Umaboa opção para quem quer manter a vita-lidade e o entusiasmo nessa fase da vida— e ainda encontrar aventura, aprenderoutra língua, conhecer pessoas e ganharbagagem cultural — é o intercâmbio, ati-vidade antes restrita ao público adoles-cente, mas que ganha cada vez mais adep-tos entre o público de meia-idade.

De acordo com Maura Leão, diretorade uma agência de viagens, o número depessoas dessa faixa etária interessadas poresse tipo de programa vem aumentando.“Só nos últimos meses, notamos um au-mento de 20% na procura”, diz. Segundoespecialistas, o movimento é fruto do en-velhecimento geral da população brasilei-ra, que cada vez mais se mantém ativa de-pois dos 50, época em que, normalmente,já se alcançou o auge da carreira e a apo-sentadoria não é algo tão distante.

O pesquisador do Centro de Excelên-cia em Turismo da Universidade de Bra-sília (UnB) Domingos Spevia lembra queo Brasil está envelhecendo e que lidarcom um número cada vez maior de pes-soas que já passaram da meia-idade é umdesafio. “Não somos mais um país de jo-vens e o setor de turismo está descobrin-do isso, preparando-se para atender essepúblico, que é muito mais exigente.”Maura concorda. Segundo ela, quandoos clientes são adultos, a questão finan-ceira também é tratada de maneira dife-rente. “Eles não dependem de dinheirodos pais, como os adolescentes. Assim,eles próprios decidem o destino, nego-ciam preços e fecham o pacote.”

“Por que não?”A ativista cultural Ana Sueli Lopes foi

uma das que aceitou o desafio de partici-par de um intercâmbio aos 50 anos. Comos três filhos já criados, ela embarcou,em julho deste ano, em um programaque incluía aulas de espanhol durantetrês semanas na cidade de Salamanca, naEspanha. Ela era a única participantecom mais de 25 anos em uma turma quereunia dezenas de intercambistas domundo todo. Além de aprender a língua,conheceu a cultura e a arquitetura dopaís, de forte influência árabe. “Tudochega na hora certa, e a minha hora defazer intercâmbio só chegou aos 50.

Quando surgiu a possibilidade eu pensei:Por que não?”, conta.

Ana Sueli diz que as pessoas se sur-preendiam inicialmente quando desco-briam que ela era uma das alunas. “Todosforam muito legais comigo, mas muitagente achou ousado fazer isso na minhaidade.” A diferença de anos, porém, nãofoi problema e deu a Ana a oportunidadede não só aprender, mas também de en-sinar. “A experiência de vida que se tem aessa altura da vida me deu condições demostrar muito mais a cultura brasileirapara as pessoas com quem eu convivi”,afirma. A viagem foi tão boa que Suelipretende voltar. “Quando tiver a oportu-nidade novamente, com certeza embar-co para outro país, só não sei ainda qual”,garante.

Sonho antigoUm dos principais diferenciais em pro-

gramas de intercâmbio voltados para o pú-blico adulto é que o foco não está apenasno aprendizado de uma língua estrangeira.“Na maioria das vezes, além do idioma, aspessoas querem atividades culturais, comodança, música ou arte”, explica Maura. Épossível, por exemplo, ir para a Argentinaaprender espanhol e incluir, no mesmo pa-cote, aulas de tango. Ou viajar a Paris e fre-quentar um curso de história da arte.

Muitas vezes, o intercâmbio é um so-nho antigo que só pode ser realizadoquando a pessoa pode parar de se preo-cupar com o sustento da família e temtempo para pensar nela mesma. “Muitosdos nossos clientes já mandaram os fi-lhos para um intercâmbio, mas nunca ti-veram a possibilidade de ir. Agora, po-dem realizar esse desejo”, conta Maura.Os destinos desse público específiconem sempre são os tradicionais. Há mui-ta procura por lugares exóticos, poucoexplorados pelos brasileiros.

De acordo com Renato Maia, diretordo Centro de Medicina do Idoso do Hos-pital Universitário de Brasília, a principalvantagem de um programa de intercâm-bio para quem já passou dos 50 anos é apossibilidade de se manter ativo. “É umaótima maneira de se integrar socialmen-te e acabar com a sensação de monoto-nia, tão comum nessa fase”, esclarece. Se-gundo o médico, os benefícios do inter-câmbio se prolongam por um tempomuito além do da viagem. “Esse tipo deatividade provoca um bem-estar dura-douro, que vai se refletir na vida que opaciente levará quando voltar.”

De malas prontasÉ cada vez maior o número de pessoas com mais de 50 anos que ingressam em um programa

de intercâmbio para morar durante algumas semanas em outro país

22 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, terça-feira, 11 de agosto de 2009

Fotos: Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

Além de aprender a língua espanhola,Ana aproveitou para ter contato coma arquitetura local

A ativista cultural com alguns doscolegas de viagem: a única com mais

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