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Dicas Ultrassonográficas 030 - Lama biliar PorCPU A lama biliar ou barro biliar, também denominada bile espessa, é um achado ultrassonográfico relativamente freqüente no interior da vesícula biliar. Sua composição inclui granulações de bilirrubinato de cálcio e cristais de colesterol. Ultrassonograficamente, a lama biliar aparece como ecos de baixa intensidade contrastando com a bile normal, anecóica. Como a lama biliar é mais espessa e densa que a bile normal, forma-se um nível líquido-líquido, sendo que a lama biliar situa-se mais posteriormente que a bile normal, com o paciente em decúbito dorsal. A vesícula biliar pode também ser totalmente preenchida por lama biliar, não se visualizando nenhuma quantidade de bile normal. Em alguns casos, a lama biliar pode simular massa tumoral vesicular quando ela aparece muito ecogênica e compacta, a chamada lama tumefeita ou tumefacta. Pode haver coexistência de lama biliar e cálculos. Naturalmente, os cálculos apresentam sombreamentos acústicos posteriormente. A distinção da lama biliar de pólipos e tumores vesiculares é fácil devido a mobilidade da lama biliar dentro da vesícula, com a mudança de decúbito. Se, em alguns casos, a distinção não for fácil, é importante utilizar o Doppler colorido para detecção de vasos intra-tumorais, se a dúvida for entre tumor e lama tumefeita. A presença de vascularização no interior da massa indica tumor e descarta lama biliar tumefeita.

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Page 1: Dicas ultrassonográficas

Dicas Ultrassonográficas

030 - Lama biliar

PorCPU

A lama biliar ou barro biliar, também denominada bile espessa, é um achado ultrassonográfico

relativamente freqüente no interior da vesícula biliar.

Sua composição inclui granulações de bilirrubinato de cálcio e cristais de colesterol.

Ultrassonograficamente, a lama biliar aparece como ecos de baixa intensidade contrastando

com a bile normal, anecóica. Como a lama biliar é mais espessa e densa que a bile normal,

forma-se um nível líquido-líquido, sendo que a lama biliar situa-se mais posteriormente que a

bile normal, com o paciente em decúbito dorsal.

A vesícula biliar pode também ser totalmente preenchida por lama biliar, não se visualizando

nenhuma quantidade de bile normal.

Em alguns casos, a lama biliar pode simular massa tumoral vesicular quando ela aparece muito

ecogênica e compacta, a chamada lama tumefeita ou tumefacta.

Pode haver coexistência de lama biliar e cálculos. Naturalmente, os cálculos apresentam

sombreamentos acústicos posteriormente.

A distinção da lama biliar de pólipos e tumores vesiculares é fácil devido a mobilidade da lama

biliar dentro da vesícula, com a mudança de decúbito.

Se, em alguns casos, a distinção não for fácil, é importante utilizar o Doppler colorido para

detecção de vasos intra-tumorais, se a dúvida for entre tumor e lama tumefeita. A presença de

vascularização no interior da massa indica tumor e descarta lama biliar tumefeita.

Page 2: Dicas ultrassonográficas

Porém, a ausência de vascularização não dá o diagnóstico de certeza de lama biliar tumefeita,

porque podem existir tumores hipovascularizados.

Ainda como diagnóstico diferencial, devemos lembrar a presença de sangue ou

púsintravesicular.

A importância clínica da lama biliar não foi ainda completamente esclarecida, mas em grande

número de pacientes, ela pode ser considerada um equilíbrio dinâmico entre a formação e a

eliminação de cristais. Apesar disso, em uma porcentagem menor de pacientes, ela constitui-

se no estágio inicial da formação de cálculos biliares.

Existem suspeitas de que os cristais biliares da lama biliar possam causar pancreatite.

Por este motivo, é importante a detecção de lama biliar em casos de pancreatite de origem

desconhecida.

ESTEATOSE HEPÁTICA | Gordura no fígado

Autor do texto: Pedro Pinheiro - 5 de março de 2012 | 00:43

A esteatose hepática é uma condição do figado causada pelo acúmulo de

gordura no mesmo. Neste texto textos vamos abordar as seguintes questões sobre

a esteatose hepática:

O que é esteatose hepática.

O que causa esteatose hepática.

Diferenças entre esteatose hepática e esteato-hepatite.

Quais os sintomas da esteatose hepática.

Quais os graus de esteatose hepática.

Qual o tratamento da esteatose hepática.

O que é esteatose hepática?

O termo hepático tem origem grega e significa fígado. Esteato é o termo que

indica relação com gordura. Portanto, esteatose hepática significa literalmente

fígado gorduroso ou fígado gordo.

Page 3: Dicas ultrassonográficas

Esteatose hepática

Nosso fígado possui normalmente pequenas quantidades de gordura, que compõe

cerca de 10% do seu peso. Quando o acúmulo de gordura excede esse valor,

estamos diante de um fígado que está acumulando gordura dentro do seu tecido.

A ilustração ao lado mostra as diferenças entre um fígado com pouco acúmulo de

gordura e um figadoesteatótico. Reparem no tamanho e na coloração amarelada

do fígado gorduroso.

Há algumas décadas acreditávamos que o acúmulo de gordura no fígado era

causado apenas pelo consumo exagerado de bebidas alcoólicas e que a presença

da esteatose era necessariamente algo danoso à saúde. Atualmente sabemos que

a esteatose hepática é muito comum e pode ser causada por diversas outras

condições que não a ingestão crônica de álcool (falaremos das causas mais

abaixo).

Uma esteatose hepática leve (esteatose hepática grau 1 ou 2) normalmente não

causa sintomas ou complicações. O acúmulo de gordura é pequeno e não leva à

inflamação do fígado.

Quanto maior e mais prolongado for o acúmulo de gordura no fígado, maiores são

os riscos de lesão hepática. Quando há gordura em excesso e por muito tempo, as

células do fígado podem sofrer danos, ficando inflamadas. Este quadro é chamado

de esteato-hepatite ou hepatite gordurosa. A esteato-hepatite é um quadro bem

mais preocupante que a esteatose, já que cerca de 20% dos pacientes evoluem

para cirrose hepática (leia: CAUSAS E SINTOMAS DA CIRROSE HEPÁTICA).

Portanto, a esteatose hepática é um estágio anterior ao desenvolvimento da

esteato-hepatite, que como o próprio nome diz, nada mais é que uma hepatite

causada por excesso de gordura (leia: AS DIFERENÇAS ENTRE AS

HEPATITES). Cabe aqui salientar que nem todo paciente com esteatose hepática

irá evoluir para esteato-hepatite. Na verdade, a maioria não o faz.

A principal causa de esteato-hepatite é o consumo de bebidas alcoólicas. Em

geral, dividimos os casos entre esteato-hepatite alcoólica e esteato-hepatite não

alcoólica. A hepatite alcoólica e os malefícios do álcool já foram abordados em

outros textos (leia: CAUSAS E SINTOMAS DA CIRROSE

HEPÁTICA e MALEFÍCIOS DO CONSUMO DE ÁLCOOL E ALCOOLISMO). Por

Page 4: Dicas ultrassonográficas

isso, neste artigo vamos nos ater apenas à esteato-hepatite não alcoólica.

Causas de esteatose hepática

Não se sabe exatamente por que alguns indivíduos desenvolvem esteatose

hepática, mas algumas doenças estão claramente ligadas a este fato. Podemos

citar:

- Obesidade (leia: OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA). Mais de 70% dos

pacientes com esteatose hepática são obesos. Quanto maior o sobrepeso, maior o

risco.

- Diabetes Mellitus (leia: DIAGNÓSTICO E SINTOMAS DO DIABETES

MELLITUS). Assim como a obesidade, o diabetes tipo 2 e a resistência à insulina

também estão intimamente relacionados ao acúmulo de gordura no fígado.

- Colesterol elevado (leia: COLESTEROL BOM (HDL) E COLESTEROL RUIM

(LDL)). Principalmente níveis altos de triglicerídeos.

- Drogas. Várias medicações podem favorecer a esteatose, entre as mais

conhecidas estão: corticoides, estrogênio, amiodarona, antirretrovirais, Diltiazen e

Tamoxifeno. O contato com alguns tipos de pesticidas também está relacionado ao

desenvolvimento de esteatose hepática.

- Desnutrição ou rápida perda de grande quantidade de peso.

- Cirurgias abdominais, principalmente "bypass gástrico", retirada de partes do

intestino e até cirurgia para remoção da vesícula (leia: PEDRA NA VESÍCULA E

COLECISTITE ).

- Gravidez.

Não é preciso ter alguma das condições citadas acima para ter esteatose hepática.

Pessoas magras, saudáveis e com baixa ingestão de álcool também podem tê-la,

apesar deste fato ser menos comum.

A esteatose hepática é mais comum no sexo feminino, provavelmente por ação do

estrogênio.

Sintomas da esteatose hepática

A esteatose hepática não causa sintomas. Normalmente, o diagnóstico é feito

acidentalmente através de exames de imagem, como ultrassonografias ou

tomografias computadorizadas solicitadas por outros motivos.

Page 5: Dicas ultrassonográficas

Alguns pacientes com esteatose hepática queixa-se de fadiga e sensação de peso

no quadrante superior direito do abdômen. Não há evidências, entretanto, que

esses sintomas estejam relacionados ao acúmulo de gordura no fígado. Há

pacientes com grau avançados de esteatose que não apresentam sintoma algum.

O que diferencia o acúmulo de gordura benigno da esteatose hepática do acúmulo

de gordura prejudicial da esteato hepatite é a presença de inflamação no fígado.

Ambos os quadros não costumam causar sintomas. Clinicamente é impossível

distingui-los.

É importante destacar que através dos exames de imagem também nem sempre é

possível diferenciar casos de esteatose, principalmente em fase avançada, da

esteato-hepatite. A ultrassonografia, por exemplo, consegue-se ver bem a gordura,

mas não possui sensibilidade suficiente para se descartar ou confirmar a presença

de inflamação no fígado.

Os exames de imagem também não conseguem distinguir a esteato-hepatite das

outras causas de hepatite. Por isso, uma história clínica, exame físico e análises

laboratoriais são imprescindíveis para a avaliação do paciente. Uma boa avaliação

médica pode identificar a causa da lesão hepática.

As análises laboratoriais servem para avaliar o grau de lesão do fígado através das

chamadas enzimas hepáticas (TGO e TGP ou AST e ALT) e de outros marcadores

de doença do fígado, como a gama GT (leia: O QUE SIGNIFICA AST (TGO) E

ALT (TGP)?). Na esteatose hepática, as enzimas do fígado estão normais,

enquanto na esteato-hepatite há aumento das mesmas.

Para saber sobre os sintomas de outras doenças do fígado, leia: 12 SINTOMAS

DO FÍGADO.

Graus de esteatose hepática

Geralmente é possível quantificar a quantidade de gordura acumulada no fígado

através da ultrassonografia. Os laudos costumam indicar esteatose hepática grau

1 quando há pequeno acúmulo de gordura, esteatose hepática grau 2 quando há

acúmulo moderado e esteatose hepática grau 3 quando há grande acúmulo de

gordura no fígado.

Essa graduação não tem muito peso, uma vez que o mais importante é a presença

ou não de inflamação no fígado. O paciente pode ter esteatose grau 3 e não

apresentar inflamação hepática, mesmo após 20 anos de acúmulo de gordura, o

que o coloca sob baixo risco de evolução para cirrose.

Page 6: Dicas ultrassonográficas

Biópsia hepática

O único modo de se diagnosticar uma esteato-hepatite com certeza é através da

biópsia hepática. Este procedimento costuma ser indicado apenas nos pacientes

com sinais clínicos, radiológicos e/ou laboratoriais de lesão do fígado. O paciente

com um esteatose leve não precisa ser biopsiado.

Portanto, se você tem imagem ao ultrassom sugestiva de esteatose hepática, mas

não apresenta sintomas e não tem sinais de lesão hepática, é necessário apenas o

acompanhamento anual para se avaliar progressão da doença. Não há

necessidade de se repetir exames de imagem pois estes não são bons para

avaliar a progressão da esteatose.

Se há sinais de esteato-hepatite, com sintomas ou alterações nos exames

laboratoriais, deve-se pensar na hipótese da biópsia e o paciente deve ser

reavaliado a cada seis meses. Este paciente deve ser seguido por um

hepatologista.

Tratamento da esteatose hepática

Não existe tratamento específico para esteatose. O alvo deve ser o tratamento dos

fatores de risco citados acima. A fase de esteatose pode ser reversível apenas

com alterações dos hábitos de vida.

A perda de peso é, talvez, a mais importante medida. Todavia, deve-se limitar a

perda de peso ao máximo de 1,5 kg por semana para se evitar uma piora do

quadro. A prática regular de atividade física também ajuda muito, pois diminui o

colesterol e aumenta o efeito da insulina.

Em doentes com obesidade mórbida, a cirurgia bariátrica pode ser uma opção.

Deve-se controlar o colesterol, o diabetes, e se possível, trocar drogas que

possam estar colaborando para a esteatose.

Medicamentos como metformina (em pacientes não-diabéticos), vitamina E e C,

losartan e Orlistat (xenical) apresentam resultados controversos e ainda não há

uma indicação formal para o seu uso.