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i Pedro Santo Rossi Dinâmica de grupo como instrumento didático Bragança Paulista 1999

Dinâmica de-grupo-como-instrumento-didático

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Pedro Santo Rossi

Dinâmica de grupo como instrumento didático

Bragança Paulista

1999

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Pedro Santo Rossi

Dinâmica de grupo como instrumento didático

Trabalho de conclusão de curso apresentado

como requisito parcial de aprovação no curso

de especialização em Didática do Ensino

Superior, na Universidade São Francisco.

Orientador: Prof. Dr. José Camilo

Bragança Paulista

1999

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Dedicatória

Quero dedicar este trabalho

ao aluno desconhecido.

Aquele que não reclama, não aparece,

não é o melhor, nem o pior.

Quando falta, não faz falta,

se desaparece, ninguém nota,

se evade, está dentro das previsões.

É apenas um número nas estatísticas,

ninguém o conhece como pessoa.

É o símbolo menos conhecido,

a face mais dolorida,

da nossa falha educação.

Ofereceria a mão, se soubesse.

Daria uma chance, se pudesse.

Pediria perdão, se merecesse.

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vi

Agradecimentos

Às instituições:

Queremos agradecer a gentileza das pessoas com quem tratamos os eventos, algumas esperançosas de um bom resultado, outras desconfiadas ao delegar a oportunidade; algumas interessadas nos resultados da pesquisa, outras que nem atentaram para tanto; algumas com espírito colaborador; outras vendo a oportunidade de “se verem livres” de algumas horas de trabalho. Aos que pagaram a realização dos eventos, aos que colaboraram com a reprodução do material, e também aos que nada pagaram e em nada colaboraram.

Aos participantes:

Queremos agradecer aos participantes que se ocuparam em analisar e atribuir notas de avaliação em cada item solicitado, enquanto outros apenas assinalaram alguns itens, ou todos os itens com mesmos valores.

Queremos agradecer aos que foram rigorosos e atribuíram valores abaixo da média, tanto quanto aos que foram generosos classificando tudo “bom e ótimo”.

Aos que tiveram o trabalho de acrescentar “informações adicionais” repletas de tanto carinho e elogios, cabe declarar nossa emoção e satisfação.

Aos professores:

Cabe agradecer aos mestres Dujards e Salim por acreditarem em nossas possibilidades e fazerem as recomendações, assim como ao Prof. Dr. Camilo, que no rigor de suas exigências na redação do trabalho nos fez desdobrar em pesquisas e estudos.

Aos colegas:

Não fossem os desafios propostos pelos colegas, as provocações sobre as possibilidades de aplicação, na prática, das proposições teóricas, não teríamos despendido tantos esforços.

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viii

Epígrafe

“Sem buscar uma interpretação do mundo

a partir do nosso lugar,

que modificaria, também,

a interpretação do nosso lugar,

não contribuiremos validamente

ao conhecimento do mundo.”

Prof. Milton Santos

USP

ix

x

Resumo

Esta é uma pesquisa-ação, desenvolvida com 421 participantes, em 12 grupos, em 8

eventos, (em uma universidade, duas faculdades, uma escola de primeiro grau, uma escola de

segundo grau, uma escola profissionalizante, uma delegacia de ensino). No momento em que

as escolas passam a ser avaliadas e classificadas a partir de “respostas” fornecidas pelos

alunos(provão e ENEM), pretendíamos verificar a possibilidade de conseguir satisfação dos

participantes (alunos), mesmo em condições adversas, quando a maioria dos professores

reclama da falta de condições ideais para realização do trabalho. Não houve preparação dos

participantes para os eventos, mas a preparação (teoria e prática) do instrutor (professor) para

superação das dificuldades previsíveis. Dizemos adversas as condições encontradas ao acaso,

nem sempre as desejáveis, enquanto condições ideais seriam aquelas desenvolvidas a partir de

um planejamento idealizado. O instrumento de trabalho escolhido para tais eventos foi um

texto de dinâmica de grupo como ferramenta para acionar a discussão de um tema proposto

pela instituição. Como suporte teórico, servimo-nos da visão humanista, notadamente a

Abordagem Centrada na Pessoa. No início de cada atividade, os participantes foram

instruídos para observar e avaliar 28 itens, conforme “ficha de avaliação”. A tabulação dos

resultados confirma a possibilidade de superação de adversidades mediante habilidades na

utilização da técnica de dinâmica de grupo, dominadas as bases teóricas clássicas de

funcionamento de grupos. Conseguimos confirmar a nossa tese; provamos que condições

adversas podem ser superadas com a habilidades do instrutor (ou do professor), vez que

conseguimos uma boa média na avaliação geral (100% entre “bom” e “ótimo”). Nos

comentários e análises procuramos fazer uma leitura fenomenológica do que entendemos estar

implícito nos resultados da avaliação, buscando estabelecer relações de significado.

xi

Sumário

PEDRO SANTO ROSSI ..................................................................................................................... I

DINÂMICA DE GRUPO COMO INSTRUMENTO DIDÁTICO ................................................................. I

BRAGANÇA PAULISTA .................................................................................................................... I

1999PEDRO SANTO ROSSI .............................................................................................................. I

DINÂMICA DE GRUPO COMO INSTRUMENTO DIDÁTICO ................................................................ II

BRAGANÇA PAULISTA ................................................................................................................... II

1999 ............................................................................................................................................. II

PREFÁCIO ..................................................................................................................................... 1

A PESQUISA .................................................................................................................................. 3

JUSTIFICATIVA DA PESQUISA ........................................................................................................................5

DESAFIOS ..................................................................................................................................... 6

Desafio pedagógico ...........................................................................................................................6

Desafio metodológico .......................................................................................................................7

Desafio ético......................................................................................................................................8

MÉTODO DA PESQUISA...............................................................................................................................8

REVISÃO TEÓRICA SOBRE DINÂMICA DE GRUPO .......................................................................... 10

ALGUMAS TEORIAS FUNDAMENTAIS .......................................................................................................... 12

Kurt Lewin ...................................................................................................................................... 13

Jean Piaget ..................................................................................................................................... 14

Jacob Levy Moreno ......................................................................................................................... 15

Carl Rogers ..................................................................................................................................... 17

Enrique Pichon-Rivière ................................................................................................................... 19

ALGUNS RECORTES SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES ......................................................... 22

RESULTADO DA PESQUISA .......................................................................................................... 26

TEMAS PROPOSTOS PARA OS EVENTOS ....................................................................................................... 26

CONDIÇÕES IDEAIS E CONDIÇÕES DESFAVORÁVEIS ........................................................................................ 26

Grupos pequenos x grupos grandes ............................................................................................... 27

Tempo programado x tempo disponibilizado ................................................................................ 28

xii

Motivação x desinteresse ............................................................................................................... 28

Ambiente adequado x ambiente impróprio ................................................................................... 29

Tema eleito x tema imposto........................................................................................................... 29

Participação voluntária x participação obrigatória ....................................................................... 29

Materiais e Equipamentos ............................................................................................................. 30

O TEXTO ............................................................................................................................................... 30

A resposta certa ............................................................................................................................. 31

Outros quesitos apresentados ....................................................................................................... 33

A PRESSÃO ............................................................................................................................................ 33

RESUMO DO TRABALHO COM OS TEMAS PROPOSTOS .................................................................................... 35

Disciplina em sala de aula .............................................................................................................. 35

Dinâmica de grupo como ferramenta de ensino em sala de aula e treinamentos ........................ 35

Dinâmica de grupo, na escola e na empresa ................................................................................. 36

Dinâmica de grupo, ferramenta no processo de seleção de pessoal ............................................. 36

A informação específica na administração do estresse profissional ............................................. 36

Administração de informações na instituição escolar. .................................................................. 37

A AVALIAÇÃO ......................................................................................................................................... 37

Distribuição da ficha de avaliação ................................................................................................. 37

Os critérios para avaliação ............................................................................................................ 38

Análise dos resultados da avaliação .............................................................................................. 38

Sedução e marketing...................................................................................................................... 45

CONCLUSÃO ............................................................................................................................... 46

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................................... 50

ANEXOS ..................................................................................................................................... 52

ANEXO 1 - PÚBLICO ENVOLVIDO NA PESQUISA ............................................................................................ 52

ANEXO 2 - FOLHA DE AVALIAÇÃO DO EVENTO ............................................................................................. 53

ANEXO 3 - FOLHA DE TEXTO DA DINÂMICA DE GRUPO................................................................................... 55

ANEXO 4 - TABULAÇÃO GERAL DA PESQUISA ............................................................................................... 56

xiii

1

Prefácio

No momento em que a escola se vê sob a pressão dos processos avaliativos externos,

governos federal e estaduais, seja o “provão”, seja o ENEM, é necessário pensar mais

profundamente, nos processos de ensino e aprendizagem, a satisfação do aluno. Começa ficar

mais distante a liberdade de cátedra onde o professor desenvolvia seus programas “intocáveis”,

independentemente aos resultados alcançados pelos alunos; ser estudante era mais um “ritual de

passagem” do que uma conquista de sabedoria. Hoje, o trabalho docente, por conseqüência a

instituição, dependem dos resultados das provas aplicadas no corpo discente e há casos de

instituições com médias prejudicadas por interesse dos alunos descontentes. Acreditamos que,

além dos objetivos já propostos para a educação, se faz premente o desenvolvimento de

treinamento para conseguir satisfação,.

... a situação mais comum nos cursos universitários é a aula expositiva, tanto em situações de aulas teóricas, como até mesmo, muitas vezes, em aulas práticas e de laboratório. Esta precisa ser repensada: quando usá-la? Para que usá-la? Como substituí-la por outras técnicas mais eficientes para a aprendizagem? Principalmente, como introduzir técnicas que favoreçam a participação dos alunos. ...

1

Educação é um serviço prestado para a comunidade. Essa comunidade, função dos meios

de comunicação, desenvolve (mesmo fora da escola) uma consciência de cidadania, de direitos,

tornando-se mais exigente a cada nova geração. Enquanto consumidor, o cidadão desenvolve um

juízo de valores, quantificando qualidades e satisfações; o mesmo processo pode ser verificado

quanto aos serviços fornecidos pela escola. Entendemos que os professores precisam

acompanhar o desenvolvimento dos anseios da comunidade, buscando aperfeiçoar seu trabalho,

podendo, inclusive, utilizar os mesmos recursos utilizados por qualquer empresa prestadora de

serviços. Para que o aluno participe, aproveite e aprecie, não basta mais falar do assunto, nem

falar para os alunos, mas falar com os alunos. Conforme Amatuzzi: “O desafio imediato do

profissional é ouvir a vida tal como ela se manifesta ali em sua frente e para ele.” 2

Observação: Optamos por referenciar no rodapé da página, Autor (ano, página). Maiores informações nas Referências

Bibliográfica, no final do trabalho. (Não cabe aqui discutir divergências entre ABNT, ISO, APA, etc.)

1 Masetto (1998, p.327)

2 Amatuzzi (1989, p.184)

2

Este trabalho realizado em 12 eventos, em instituições diversas, poderá constatar,

matematicamente, a influência das habilidades do instrutor nos resultados finais, compensando

adversidades institucionais ou incidentais.

3

A pesquisa

A maior parte da literatura pedagógica, notadamente em didática e práticas de ensino,

reclama da falta de “condições ideais” para realização do trabalho em sala de aula. Congressos,

seminários, encontros e toda sorte de eventos onde se reúnem educadores, tais como o IX

ENDIPE 3, a maioria insiste em repetir recordações históricas e lamentações cotidianas, contra

tudo e contra todos. São trabalhos históricos, sociológicos, psicológicos, antropológicos, etc.,

sempre relatando dificuldades no desenvolvimento da educação. Grande parte dos professores,

em aula, reproduz e propaga as mesmas cantilenas, sem maiores contribuições pessoais. Nas

palavras da Professora Denise Leite da UFRGS:

Nesta “sociedade dos companheiros intelectuais/professores”, desde final dos anos 80 se discute a pós-modernidade; se discute, e publica muito, sobre neoliberalismo, seus ameaçadores tentáculos se espalhando sobre a educação produzindo toda sorte de desgraças imagináveis.

4

Dificuldades existem, não se pode negar. A utopia não é nada condenável quando

colocada como “ponto de fuga” de um projeto; mas o que fazer com o “aqui e agora”?. A mesma

professora, logo adiante, assim se expressa:

É no processo educativo, no ensinar e no aprender, que se busca a utopia. Não a utopia do discurso, mas da dialética do possível. O que qualifica esta ação é o próprio processo que a sustenta. Na busca e no processo se experimentam rupturas.

5

Falando do professor como um intelectual, alerta Milton Santos (1998a

, p.16), “Sem

buscar uma interpretação do mundo a partir do nosso lugar, que modificaria, também, a

interpretação do nosso lugar, não contribuiremos validamente ao conhecimento do mundo.”

Vale dizer, fazer uma redução fenomenológica, ler o que não está escrito, ouvir o que não foi

falado, entender a intenção, o oculto (possivelmente onde está a verdade). A preocupação geral,

no entanto, está em atribuir “causas externas” aos problemas, sem buscar as soluções possíveis

3 IX Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino, realizado de 4 a 8/5/98 em Águas de Lindóia - SP

4 Leite (1998, p. 305)

5 Leite (1998, p. 310)

4

na disponibilidade do grupo, “a partir do nosso lugar”. A redução fenomenológica permite uma

leitura do que está implícito no conteúdo expresso, uma leitura do vivido, uma análise do

intencional, descrevendo o significado de determinadas experiências, estabelecendo relações de

significado. Que nos dizeres do professor Mauro Amatuzzi:

Quando a análise privilegia o intencional ou o vivido, isto é, os significados sentidos para os quais os signos apontam como símbolos mais ou menos bem-sucedidos (e com os quis podemos entrar em contato pela mediação do expresso), podemos dizer que estamos diante de uma análise fenomenológica. 6

O professor Lourenço Filho na apresentação de sua tradução do livro “A arte de ensinar”

de Gilbert Highet (195.., p.12), já preconizava “O ensino, ou a educação, exige do mestre uma

concepção da natureza ideal do homem, mas também a de suas capacidades e possibilidades

naturais.” Trabalhar com o que se tem, ao invés de esperar as condições ideais, nos parece a

missão de quem pretenda se ocupar de qualquer atividade na educação, e isso implica no uso de

técnicas e inteligência. Naquele mesmo prefácio (p.14), para justificar o empenho técnico na

educação, cita Dalla Nora: “Hoje em dia, nem o solo se cultiva só com boa vontade e só com

fidelidade à tradição: para fazê-lo produzir da melhor maneira examinamos a terra em sua

composição química, nas constantes meteorológicas que rodeiam, no teor variável da umidade.”

Nos últimos cinqüenta anos os alunos passaram da “pena e tinteiro” para a Internet, mas

o discurso em muitas salas de aula continua o mesmo. Debalde todas as conquistas do saber, as

disponibilidades de informação, as atitudes, frente ao ensino/aprendizagem, continuam presas

aos procedimentos usuais do início do século, senão contra, com muito pouca vontade de

acompanhar os modernos recursos de comunicação aplicando-os na prática de ensino. Ainda há

professores (na universidade) que exigem trabalhos manuscritos, não aceitam trabalhos "de

computador". E para não pensar que isso só acontece no Brasil, cabe lembrar Rogers que a

escola: “de modo geral, é a instituição mais tradicional, rígida e burocrática de nossa época, e a

mais resistente às mudanças” 7 E ainda conforme Rogers:

Por que a aula expositiva é considerada o principal recurso de ensino? Para mim isto constitui um verdadeiro mistério. As aulas expositivas tinham sentido antes

6 Amatuzzi (1996, p.6)

7 in Justo (1988, p.71)

5

da publicação dos livros, mas a razão atual de sua continuidade quase nunca é explicitada.

8

Justificativa da pesquisa

Pretendíamos verificar, após a Especialização em Didática do Ensino Superior, a

possibilidade de conseguir satisfação (do aluno) mesmo em condições desfavoráveis para prática

do ensino. Pretendíamos verificar aquela possibilidade a partir do uso de instrumentos didáticos

que superassem as dificuldades em sala de aula, tal como já fazíamos em treinamentos

empresariais. O instrumento escolhido para a pesquisa foi a “Dinâmica de Grupo”. Não entramos

na discussão das teorias de ensino e aprendizagem, simplesmente assumimos como ensino: a

função da relação professor-aluno; embora não consigamos fugir de nossa linha básica de

atitudes da abordagem centrada no aluno (empatia, congruência, aceitação), conforme obras de

Carl Rogers.

8 Rogers (1983, p.92)

6

Desafios

Sem poder dizer melhor, cabe apenas reproduzir o texto da professora Marli André, do

seu trabalho apresentado no IX Endipe, Desafios da pesquisa sobre a prática pedagógica:

A realização desse trabalho possibilitou-nos fazer uma série de reflexões e levantar algumas hipóteses para serem mais profundamente exploradas. Os elementos de que dispomos não nos permitem, no entanto, definir com alguma segurança a direção dessas hipóteses, por isso optamos por usar o termo desafios.”

9

Desafio pedagógico

Nossa intenção ao realizar eventos era mostrar, num curto espaço de tempo, como se

tornava viável enfrentar problemas através da articulação ferramental, e para isso se requeria a

habilidade (prática) e o conhecimento (teoria) diversos, num âmbito multidisciplinar envolvendo

didática, psicologia, comunicação, arte, etc.

Sabíamos que encontraríamos resistências e era dentro desse contexto que pretendíamos

desenvolver um trabalho que pudesse, ao menos, ser satisfatório, senão bom. Nossa preocupação

era explorar, a partir do programa básico, situações similares ao problema proposto para o

evento. Essa busca de uma redução fenomenológica do conteúdo expresso, poderia proporcionar

uma análise do vivido, a compreensão do intencional. Tendo clareza sobre aquilo que

buscávamos e lavando em conta as condições concretas do grupo de participantes (à medida do

percebido), procuraríamos mostrar como funcionam grupos e como atingir os objetivos

propostos, mediante o instrumental "dinâmica de grupo".

Já há um consenso muito grande na literatura pedagógica com base em estudos e pesquisas sobre a importância de articular teoria e prática na formação docente. As dúvidas e questões surgem quando se busca concretizar essa meta, ou seja, decidir o como fazer isso.

10

Desafio epistemológico

9 André (1998, p.258)

10 André (1998, p.262)

7

Muitos trabalhos são extremamente bem conduzidos, atingindo resultados importantes em termos de ação, de modificação de situação, mas falta-lhes fôlego teórico.

11

Era bem esse nosso receio, o de fazer uma performance (e sabíamos que poderíamos faze-

la bem) sem deixar devidamente colocado um referencial teórico que sustentasse tal

empreendimento, que pudesse ser apreendido e reproduzido. Veio à memória Santo Agostinho,

dizendo que se tiver que dizer algo, faça; se for bom trará o bem, se for medíocre não fará mal a

ninguém, e se for muito ruim, alguém se levantará contra e mostrará algo melhor. 12

Isso nos

levou ao atrevimento de oferecer recortes teóricos tão diversos quanto escassos, que podem ser

uma provocação para um estudo mais completo. Não quisemos impingir a visão humanista, o

enfoque centrado na pessoa, a busca da pessoa plena, baseada em Rogers, nem dizer ser esta a

única forma correta de se fazer bem uma coisa tão corriqueira, a relação professor-aluno, pois

não estava em disputa a linha teórica para a ação. Mas há de se destacar que nossas atitudes no

decorrer da ação não conseguem ser muito diferentes daqueles pressupostos.

Desafio metodológico

O primeiro problema era sermos sujeito e objeto da própria pesquisa, quando muito já se

discutiu sobre o viés desse procedimento, mas por escassez de recursos não conseguiríamos

outro meio de realizar tal trabalho, com o recomendam as técnicas de pesquisa - distanciamento

do objeto. Um viés bem possível já começa na elaboração da folha de avaliação, no

desenvolvimento de cada item, e continua na realização do trabalho, onde cada fala pode estar

direcionando os participantes para a avaliação. Termina com a leitura da própria realização,

dificultando a imparcialidade e até a clareza para as análises. Restam os registros disponíveis

para quem os queira utilizar.

A tendência empírica só é fenomenológica enquanto o objeto da pesquisa é vivido. Mas a relação com esse vivido é quase do tipo sujeito-objeto. A tendência dialética é mais radicalmente fenomenológica. Ela acrescenta: 1) uma presença maior da subjetividade do pesquisador; 2) o contexto dialógico no qual se desenrola toda pesquisa; e, 3) uma abertura para níveis mais abrangentes ou coletivos de significados, e para a consideração dos significados históricos, isto é, que se ligam ao momento situado que se está estudando.

13

11 André (1998, p.263)

12 (citado de memória, pois não conseguimos reencontrar a fonte exata)

13 Amatuzzi (1996, p.10)

8

Desafio ético

Para justificar o evento, conseguir a permissão da “autoridade competente” para trabalhar

com um grupo, era necessário negociar alguns interesses “do poder”. Declarar a pesquisa pela

pesquisa poderia inviabilizar o evento, enquanto agir como “consultoria” ou “educação

continuada” permitia abertura para o evento, pois estava "na moda" falar de "educação

continuada", a melhoria da qualidade dos professores. Em todos os eventos foi apresentada a

folha de avaliação como parte de uma pesquisa (onde o objeto pesquisado era o instrutor), mas

sempre houve um cuidado em não declarar a instituição ou os participantes como “objeto de

estudo”. Detalhes percebidos durante os eventos ficam complicados nos cuidados para

elaboração do relatório e das análises, conforme a professora Marli:

Dependendo da situação e do grau de envolvimento dos participantes na pesquisa, é desejável que eles sejam incluídos na discussão dos critérios e na decisão dos dados que devem ou não ser tornados públicos. À vezes isso é possível, outras não.

14

Método da pesquisa

Desenvolvemos uma pesquisa-ação, uma avaliação de nossa própria performance

enquanto instrutor de um exercício de dinâmica de grupo em condições adversas. Contatamos

instituições diferentes onde pudéssemos realizar o evento. Nos contatos com as instituições, não

fizemos maiores recomendações, pois queríamos perceber a forma como seriam organizados tais

eventos, desde a comunicação aos participantes até o local disponibilizado. Oferecíamos, na

qualidade de consultor, de especialista em didática ou de psicólogo, a possibilidade de tratar de

um assunto do interesse da instituição.(ver item 2.5- Resumo do trabalho com os temas

propostos)

Como material de trabalho tivemos uma folha de avaliação (anexo 2) e um texto de

dinâmica de grupo (anexo 3).

Sempre iniciamos os eventos com a distribuição da “folha de avaliação” para que fossem

observados tais quesitos. Isso transformava os participantes em avaliadores (e não objeto de

pesquisa), descartando assim a possibilidade de maiores cobranças quanto ao desempenho de

14 André (1998, p.266)

9

cada participante. Em seguida, aplicamos a dinâmica de grupo a partir da distribuição do texto,

com uma atividade individual, depois com pequenos grupos (6 a 8 pessoas) e finalmente com o

grupo total. A partir dos comentários das situações e questões propiciadas pela dinâmica, se

introduziam comentários do assunto proposto para o evento. Como fechamento fazíamos uma

relação entre as situações “vivenciadas” na dinâmica, com a dinâmica possível do assunto

proposto.

10

Revisão teórica sobre dinâmica de grupo

Embora esta pesquisa fosse uma avaliação sobre nossas possibilidades de conseguir

satisfação dos alunos, mesmo em condições desfavoráveis, fomos levados a fazer um recorte

rápido da literatura, algumas do início de nossas atividades pedagógicas, algumas do curso de

psicologia, outras do curso de especialização em Didática do Ensino Superior.

O primeiro contato que tivemos com “Dinâmica de grupo”, ainda na década de 60, foi

através da obra de Lauro de Oliveira Lima, "Treinamento em Dinâmica de Grupo - No lar, na

empresa, na escola". Ali começamos a ver aplicadas as teorias de Piaget, Freud e Lewin, no

intuito de conseguir satisfação dos participantes em qualquer trabalho ou simples encontro de um

grupo, fosse na escola (cursinho) ou na empresa. Já na apresentação do livro, o autor dizia “Que

este trabalho ajude a todos cuja função é lidar com pessoas no intuito de fazê-las se amarem,

crescer e produzir.”

Quando o autor citava Alceu de Amoroso Lima que “desafiava a modéstia dos ensaístas

para que não retardassem, por espírito perfeccionista, sua contribuição ao momento histórico

levando suas idéias ao debate mesmo antes de se tornarem ‘verdades’ categóricas, conselho

tanto mais pertinente quanto mais acelerado é o processo civilizatório ...”(p.9); nos encorajava a

tentar alternativas de melhoria da qualidade das nossas aulas, mesmo só tendo iniciado o curso

de pedagogia e quase nada saber das teorias didáticas. Na verdade, nossas buscas residiam na

insatisfação com as aulas que costumávamos ter. Nas empresas, presumia a possibilidade de

prestar serviços sem a subordinação ao estilo militar (bem próprio da época).

Cada cidadão deve aprender a deliberar e tomar decisões, inclusive capacitar-se à escolha livre de seus líderes, fato que sequer se pode imaginar numa organização militar. Enquanto a disciplina castrense se baseia na chefia rígida e regimental, a atividade civil procura basear-se em liderança, fenômeno que não permite fixação de condução do grupo em um único e determinado elemento. 15

Não conseguíamos entender como desejos tão fortes, tão profundos, de conseguir

conhecimentos, de atingir certos graus de sabedoria, de crescer como pessoa e como cidadão

através do estudo, tivessem que pagar tão alto preço em sofrimento e insatisfação. Parecia que os

15 Lima (1969, p.163)

11

evadidos da escola eram os mais coerentes, e que nós, os remanescentes, éramos os covardes que

não tinham coragem de manifestar atos de vontade própria. Se aprendizado era um ganho, por

que sofrer tanto com um presente? Não sabíamos conceituar, mas percebíamos que havia algo

errado na relação professor-aluno.

A obra de Lauro de Oliveira Lima gerou a crença na possibilidade de fazer uma escola

mais alegre, uma empresa mais feliz. Diferente da tradição autoritária, a nova escola e a nova

empresa, assim como o novo lar, partiriam para a utilização do que cada indivíduo tem de

melhor para contribuir para o grupo, e a liderança não seria mais a detentora da palmatória ou do

chicote, nem do chinelo, mas da habilidade de fazer com que o grupo produzisse numa direção

objetivada. Muitas empresas mudaram, muitos lares mudaram, enquanto muitas escolas

continuaram na mesma, apesar do autor clamar que “ Pedagogo é um homem mais preocupado

com o fazer que com o teorizar, função que cabe mais aos filósofos.”

Dinâmica de grupo - do ponto de vista didático - é o treinamento que visa à superação destes percalços ontogenéticos e filogenéticos, mesmo enfrentando os tabus e arcaísmos que impediram a maturação cooperativa do ser humano. 16

Na década de 70 (regime militar), a dinâmica de grupo começa a ocupar espaço dentro

das escolas, mas de uma forma contraditória. De um lado, professores que aplicavam “exercícios

de dinâmica de grupo” simplesmente para se desocuparem do preparo das aulas, de outro,

perigosamente, criavam-se verdadeiros psicodramas à busca de catarses individuais e grupais.

Usada de diversas formas inadequadas, prejuízos de todos os lados, a dinâmica de grupo acabou

por ser reduzida a uma didática instrumental, conjunto de conhecimentos técnicos sobre o “como

fazer”, o que nem poderia ser, da má forma como era utilizada. Sua aplicação produtiva exigiria

habilidades de comunicação com o grupo (Rogers), entendimento do processo grupal (Lewin),

estrutura e gênese (Piaget), teoria de papéis (Moreno), movimentos sociais (Marx), história,

sociologia, psicologia, etc. Era muito para a maioria dos professores que começavam gostar dos

livros de instrução programada (Skinner).

Passo seguinte, começa nos meios acadêmicos um movimento de crítica ao tecnicismo,

ao instrumentalismo, como afirma Vera Candau em 1983, no primeiro seminário Didática em

16 Lima ( 1970, p.31)

12

Questão, na PUC/RJ: “Este é, a meu ver, o desafio do momento: superação de uma Didática

exclusivamente instrumental e a construção de uma Didática fundamental” 17

Sem ser “um artifício universal para ensinar tudo a todos” (Comenius), a técnica, o

instrumento, a ferramenta, ou seja lá como se queira denominar a dinâmica de grupo, é um

recurso auxiliar ao professor (na escola) ou instrutor (na empresa), para levar os participantes a

um processo de aprendizagem, de conscientização, de cooperação e crescimento, utilizando os

movimentos de qualquer grupo operacional, senão “naturais”, pelo menos naturalizados pelos

comportamentos sociais vigentes. Ao participante se viabiliza o processo da fala, pois é na fala

que a pessoa se realiza. Se bem utilizada, a dinâmica enquanto recurso pode proporcionar mais

satisfação aos participantes e melhores resultados para a instituição que as verborrágicas aulas

tradicionais, assim como sermões e instruções das mais diversas autoridades. Com utilização

inadequada, é um erro como qualquer outro.

A literatura recente, anais de congressos e revistas de educação, embora reclamando

maior participação dos alunos, maior integração ensino-aprendizagem, não contempla qualquer

referência à "dinâmica de grupo", o que nos obriga a permanecer nos clássicos.

Algumas teorias fundamentais

Entendemos que qualquer atividade profissional, principalmente quando o objeto do

trabalho são pessoas, deva partir de fundamentos teóricos básicos para um mínimo de

entendimento e suficiente funcionamento responsável. Sabemos da possibilidade de encontros

felizes mesmo sem qualquer ciência, mas isso faz parte da arte e do talento que apenas

tangenciam o presente trabalho. Nosso intuito, aqui, é repassar algumas teorias (ou conceitos) à

busca de entendimento ou explicação para comportamentos grupais; se está resumido demais, ou

por demais simplório, é porque não pretendíamos nos estender nos planos teóricos mas apenas

demonstrar uma prática possível. As fontes, para maiores entendimentos, estão devidamente

relacionados nas referências bibliográficas.

17 Candau ( 1989, p.13)

13

Kurt Lewin

Kurt Lewin desenvolveu a teoria de campo, na busca de elementos que pudessem

facilitar o entendimento das relações grupais:

No espaço de vida de uma pessoa, é preciso distinguir não só as regiões em que tem toda a liberdade de ação e outras em que não tem nenhuma, como também regiões de tipo intermediário: determinada atividade pode não ser totalmente proibida, e apesar disso, a pessoa pode sentir-se limitada e impedida no interior dessa região.

18

As pessoas apresentam diversas camadas de personalidade, da mais íntima (camada

central) até as mais extrovertidas ou sociais (camadas externas). O resultado das ações externas

no indivíduo (invasão) depende da permeabilidade de cada camada que age como se fosse um

filtro em defesa da individualidade. Um assunto ligado à afetividade pode abrir caminho até à

camada central de um indivíduo, enquanto o estudo de um acontecimento político apenas resvala

na camada mais externa. Noutro indivíduo, os procedimentos podem ser exatamente opostos. Há

quem se encanta com confidências emotivas, outros que só se prestam a discussões intelectuais;

e nesse leque, um sem número de características individuais. Conforme Kurt Lewin, a

acessibilidade é diferente em cada indivíduo, o que nos faz pensar na impossibilidade de tratar

um grupo como se todos pudessem entender e agir da mesma forma.

Imagine uma pessoa, dentro do quarto da casa (as portas e janelas da casa, o muro ao

redor da casa, o portão, a rua de acesso). Dependendo da “permeabilidade”, ou seja, da

possibilidade de transpor essas barreiras, vai ser mais fácil ou mais difícil chegar à pessoa, isto é,

o acesso é definido ou delimitado pelas camadas que envolvem (ou protegem) o indivíduo.

Dessa teoria nos servimos para entender a impossibilidade de tratar todos participantes de

um grupo como um objeto homogêneo, mas considerar a “permeabilidade” diferente de cada

participante, entender que cada membro de um grupo é diferente nas possibilidades de

enfrentamento de um novo problema, que cada um pode ter uma forma diferente de encarar

situações. Da mesma forma que qualquer grupo é diferente de outro e merece cuidados especiais,

tratamentos diferenciados. Um mesmo grupo pode apresentar características diversas em

momentos diferentes, pois seus participantes podem ter modificado acessos e permeabilidades

em função de entrosamento ou divergências, ou ainda, de novas expectativas. Somem-se as

18 Lewin (sd, p.27)

14

variáveis individuais e multipliquem-se as possibilidades de interação membro a membro e

teremos uma infinidade de possibilidades dentro de um mesmo grupo.

Levantamos a necessidade de agir com sensibilidade no trato de alguns assuntos que

possam ser considerados “intromissão em intimidades” ou “invasão de privacidade”. Lembramos

a possibilidade de esclarecer alguns pontos a serem tratados de forma “profissional” ou por

necessidade “institucional”, para que não se misturem valores de foro pessoal com regras ou

costumes grupais.

Jean Piaget

Utilizamos a noção de gênese, para explicar a dinâmica de um grupo em estruturação:

“não há gênese sem estrutura, nem estrutura sem gênese”. Outro conceito tomado de Piaget é a

“reciprocidade” como condição de passagem da heteronomia (poder exercido por outro) para

autonomia (poder exercido pelo indivíduo). A idéia básica de Piaget consiste em considerar a

compreensão da formação dos mecanismos mentais da criança, condição indispensável para

todos aqueles que estão interessados em compreender sua natureza e funcionamento adulto.

Partes dos estudos de Piaget sobre crianças são tomadas para entendimento de “gênese e

estrutura” de grupos:

De modo geral, o equilíbrio das estruturas cognitivas deve ser concebido como compensação das perturbações exteriores por meio das atividades do sujeito, que serão as respostas a essas perturbações.

19

... a noção de equilíbrio parece ter um papel especial que permite a síntese entre a gênese e estrutura, e isto, precisamente, porque a noção de equilíbrio engloba as de compensação e afetividade.

20

Dessa teoria utilizamos a perspectiva de construção do conhecimento (gênese) a partir de

uma estrutura já existente em cada participante do grupo. Isso implica no conhecimento da

estrutura de cada participante. A satisfação de um grupo reside na sensação do equilíbrio, onde o

indivíduo obtém compensação de seus esforços e retorno de suas afetividades de uma forma

estrutural dinâmica.

Consideremos uma estrutura geométrica, uma linha reta, um segmento de reta limitado

por dois pontos. É a estrutura existente em função de dois pontos. Consideremos a gênese de um

19 Piaget (1982, p.104)

20 Piaget (1982, p.140)

15

plano: plano é uma estrutura determinada por três pontos. Portanto, a partir de uma estrutura

simples (a linha), com a gênese de um ponto fora da reta (estrutura já existente), há a gênese de

uma nova figura, um triângulo, ou um plano. Não é possível criar (gênese) um plano, sem se

passar pela estrutura de uma reta, pois para se estabelecer um plano, ao criar um ponto e depois

outro ponto, já se estabeleceu uma reta, antes de se estabelecer o terceiro ponto para determinar o

plano.

Os mecanismos de pensamento podem ser entendidos a partir dessas figuras geométricas.

Uma informação, um dado, tem o valor de um ponto. A idéia a respeito dessa informação

somente será possível com a ligação a um outro dado já existente. (ligação de dois pontos). Um

conceito ou opinião a respeito dessa ligação só é possível a partir de um terceiro ponto, o juízo

de valores a ser utilizado (que já é resultado de gêneses e estruturas anteriores). Qualquer

estrutura, por mais complexa que seja, sempre se constitui de estruturas menores, mais simples.

Trazendo essa visão de gênese e estrutura para a história de cada indivíduo, podemos

dizer que não existe história sem a colocação dos fatos sob um determinado juízo de valores.

Nada existe sem sua correlação com algo existente. O fato novo é um acréscimo à história do

indivíduo. A “arrumação” ou “arquivamento” ou “gerenciamento” dessa nova informação vai

depender das estruturas anteriormente formadas. A forma como for assimilada esta nova

informação, dentro da estrutura existente, pode criar uma nova gênese. O equilíbrio consiste no

desenvolvimento de atitudes compensatórias às agressões externas, como forma de sobrevivência

ou simples adaptação ao meio. Estruturas muito sólidas podem levar ao dogmatismo, aos

preconceitos, enquanto gêneses muito pródigas, propensão para evoluções, podem revelar

excesso de crítica, criticismo.

Um grupo é imaturo quando depende das ordens de um líder (heteronomia) e atinge

maturidade quando cada elemento participa das decisões (autonomia), onde se espera que se

processem cooperação, associação, reversibilidade, etc. Usa-se a idéia de um grupo se comportar

e evoluir como uma criança, sobretudo, porque o último estágio de maturação da criança é o

estágio grupal.

Jacob Levy Moreno

Em "Psicodrama", Moreno elabora o conceito de “desempenho de papéis”, não só para

descobrir como as pessoas concebem os papéis sociais importantes e como atuam em função

16

deles, mas também para ajudá-las a alcançar um desempenho ajustado ao seu contexto sócio-

cultural, por via da catarse.21

O papel é uma cristalização final de todas as situações numa área especial de operações por que o indivíduo passou (por exemplo, o comedor, o pai, o piloto de avião).

22

Dessa teoria, utilizamos o entendimento do papel que cada participante assume no

momento do grupo e da atuação dele em função dos papéis atuados externamente ao grupo.

Procuramos chamar a atenção dos participantes para o entendimento dos papéis exercidos nos

ambientes de vida, as diferenças entre papéis profissionais, papéis sociais, papéis familiares e

individualidade. Lembramos que “atuar e atuação” lembra ator, lembra representação.

O indivíduo não existe sem o grupo, pois mesmo só, carrega consigo os valores

desenvolvidos junto dos grupos onde atua ou atuou. Mesmo quando o indivíduo atua para si

mesmo, está se submetendo ao juízo que ele faz da atuação de alguém (como se fosse outro).

- Eu sou para mim, o que penso de mim (autoconceito), para os outros sou o que os outros

pensam de mim (hetero-conceito). Atuo para mim conforme meus “scripts” e sou levado a atuar

para os outros conforme os “scripts” que os outros esperam de mim.

Quando o professor trata alguém como aluno, está utilizando um “script”, um papel, que

pode não estar adequado ao papel que a pessoa (tratada como aluno) está esperando naquele

momento. Pode haver um problema de comunicação, um viés no entendimento da comunicação,

quando o “professor”, que está no papel de professor, utilizar um “script” de “colega”, de

“político”, de “pai”, etc.

Todo trabalho de grupo exige o estabelecimento de papéis, “scripts” bem definidos, seja

do líder, dos participantes, dos coordenadores. A falta de entendimento de papéis pode

transtornar relacionamentos mais corriqueiros, tais como o “marido” chegar em casa e tratar a

“esposa” como o “chefe” trata a “secretária”, ou quando o “chefe” chega à empresa e trata a

“secretária” como “esposa”.

O perigo do trabalho de dinâmica de grupo com profundidade na exploração do

desempenho de papéis, está na possibilidade de transformar o trabalho de grupo em um

21 (Efeito salutar provocado pela conscientização de uma lembrança fortemente emocional e/ou traumatizante, até então reprimida).

22 Moreno (sd, p.206)

17

psicodrama, atividade terapêutica reservada a profissionais devidamente habilitados em

psicologia. O entendimento dos papéis, para um trabalho de grupo não implica necessariamente

em resgatar arraigados valores individuais desnudando o participante diante do grupo.

Carl Rogers

Rogers, procura entender todo processo de aprendizagem e de saúde mental a partir das

questões do próprio sujeito, da forma como ele vê e sente o mundo em que vive. É a

“Abordagem Centrada na Pessoa”, tendo como pressuposto básico que a pessoa tem uma

tendência natural para o crescimento e para o equilíbrio. Declara que ninguém mais que o

próprio sujeito está mais habilitado para saber dele próprio e de suas necessidades. Cabe ao

professor, como numa relação terapêutica, facilitar o propósito de desenvolvimento em que a

pessoa está imbuída. Cabe clarificar os caminhos, mas as escolha e o ritmo de crescimento são

determinados pela própria pessoa. Denuncia o despropósito de ensinar (da forma tradicional)

pois pouco vai colaborar para a realidade de cada indivíduo. Chega mesmo a negar a

possibilidade de se ensinar qualquer coisa, cabendo ao professor (ele prefere chamar de

facilitador) a arte e a habilidade de despertar a vontade de aprender mediante o entendimento do

significado real das experimentações pessoais.

Por aprendizagem significativa entendo uma aprendizagem que é mais do que uma acumulação de fatos. É uma aprendizagem que provoca uma modificação, quer seja no comportamento do indivíduo, na orientação da ação futura que escolhe ou nas suas atitudes e na sua personalidade. É uma aprendizagem penetrante, que não se limita a um aumento de conhecimentos, mas penetra profundamente todas as parcelas da sua existência.

23

Dessa teoria, buscamos o entendimento da necessidade de atuação real para

aprendizagem, no desenvolvimento de atitudes, na formação da personalidade. Entendemos que

o mais importante, a partir da teoria de Rogers, é o respeito pelo outro, a importância da

individualidade de cada participante, revolucionando toda cultura tradicional de imposição de

conhecimento. Rogers, em "Tornar-se pessoa", fala da aprendizagem significativa a partir da

experiência pessoal de cada participante do grupo, onde o professor deixa de ser o condutor do

ensino para agir como facilitador da aprendizagem.

23 Rogers (1991, p.258)

18

Nas minhas relações com as pessoas descobri que não ajuda, a longo prazo, agir como se eu fosse alguma coisa que não sou.

24

Descobri que sou mais eficaz quando posso ouvir a mim mesmo aceitando-me, e quando posso ser eu mesmo.

25

Verifiquei que me enriquece abrir canais através dos quais os outros possam comunicar os seus sentimentos, a sua particular percepção do mundo.

26

Nem a Bíblia, nem os profetas - nem Freud, nem a investigação - nem as revelações de Deus ou dos homens - podem ganhar precedência relativamente à minha própria experiência direta.

27

O mais importante de nossas convicções sobre os ensinamentos de Rogers, e que

procuramos transmitir para os grupos, é o sentido da “congruência”. Ser o que se é de verdade,

ser verdadeiro no relacionamento. A mensagem de quem é congruente pode ter muito mais efeito

na credibilidade dos seus interlocutores e render mais na comunicação de qualquer idéia.

Os professores precisam ser firmes, rigorosos na disciplina e severos na avaliação, se desejarem que ocorra a aprendizagem, mas comprovou-se que o professor que compreende com empatia o significado que a escola tem para o estudante, que o respeita como pessoa e que é autêntico nos relacionamentos promove um clima de aprendizagem efetivamente superior quanto aos efeitos, em relação ao professor que age de acordo com o “senso comum”.

28

A partir das teorias de Rogers, procuramos encorajar as pessoas a agirem com

sentimentos, com o coração, com a boa vontade, mesmo que, de imediato, venham a contrariar o

senso comum de agir com autoridade delegada. O outro deixa de ser objeto de estudo, ou de

trabalho, para fazer parte de um projeto de vida onde o professor, ou facilitador, passa a ser

objeto da própria pesquisa, do próprio trabalho, juntamente com o grupo todo. O

desenvolvimento está na relação de ajuda a que se propõem professor e aluno, estando os dois no

mesmo processo de desenvolvimento. Professores e alunos são dois diferentes que estão

caminhando juntos.

Por que a aula expositiva é considerada o principal recurso de ensino? Para mim isto constitui um verdadeiro mistério. As aulas expositivas tinham sentido antes

24 Rogers (1991, p.28)

25 Rogers (1991, p.29)

26 Rogers (1991, p.31)

27 Rogers (1991, p.35)

28 Rogers (1989, p.271)

19

da publicação dos livros, mas a razão atual de sua continuidade quase nunca é explicitada.

29

Enrique Pichon-Rivière

A partir de uma dificuldade político-administrativa, Pichon que era diretor de um

hospital psiquiátrico se viu destituído de toda sua equipe de enfermagem. Sem outra alternativa

melhor, resolveu treinar seus pacientes menos comprometidos para auxiliar nos serviços básicos

de atendimento aos doentes. Para sua surpresa, presenciou a formação de uma excelente equipe

de trabalho. Daí passou a estudar e entender melhor a operacionalidade de um grupo.

A técnica destes grupos está centrada na tarefa, onde a teoria e a prática se resolvem em uma práxis permanente e concreta no “aqui e agora” de cada campo assinalado.

30

A indagação analítica desse mundo interno levou-me a ampliar o conceito de “relação do objeto”, formulando a noção de vínculo, que defino como uma estrutura complexa que inclui um sujeito, um objeto, e sua mútua inter-relação com processos de comunicação e aprendizagem.

31

“Relação de objeto”32

é um termo utilizado pela psicanálise para designar o modo de

relação do sujeito com seu mundo. Formas de ver, devido a forma como foi apreendida,

geralmente fantasiosas que o sujeito desenvolve com um objeto qualquer. O mesmo objeto (um

sapato, por exemplo) pode representar coisas muito distintas para duas pessoas com relação até

bem próxima. Para o vendedor de sapato representa um percentual de comissão, para a garota

que está comprando pode representar a realização do “sonho de cinderela”. Um relatório pode

ser: para o diretor a constatação da realização de um objetivo; para o professor, um mecanismo

de tortura persecutória.

Cada indivíduo do grupo vai entender qualquer atitude ou ação conforme o vínculo que

tenha desenvolvido. Um objeto ou uma informação nunca recebe a mesma leitura de todos os

participantes, nem a mesma consideração, nem a mesma reação. Pichon aponta para uma

29 Rogers (1983, p.92)

30 Pichon (1994, p. 98)

31 Pichon (1994, p. X)

32 Vocabulário de psicanálise - Laplance e Pontalis.

20

“epistemologia convergente, segundo a qual as ciências do homem concernem a um objeto

único: ‘o homem-em-situação’ suscetível de uma abordagem pluridimensional.” .33

Em "Teoria do vínculo", Pichon afirma que o “caráter ou personalidade resulta do

estabelecimento de uma relação particular com um objeto animado ou inanimado, ou com um

grupo, de uma maneira particular e com uma fórmula particular.” 34

Assim, sem entrar muito em discussão do grupo operativo de Pichon, tentamos mostrar a

dificuldade de conseguir um entendimento e um procedimento uniforme num trabalho de grupo,

quando cada indivíduo tem uma relação específica (um vínculo), com qualquer fato, objeto ou

informação. Da mesma forma como alertamos na teoria de papéis de Moreno, e o mesmo poderia

ser dito quanto ao perigo de psicologizar demais em qualquer teoria, o trabalho com grupos

operativos, considerando a teoria do vínculo, carece de cuidados especiais por entrar muito nos

conceitos de psicanálise. Os cuidados, no entanto, para ambos os casos, não impedem que o

instrutor faça uso de conhecimentos teóricos que facilitem o entendimento das ações do grupo, e

das ações que se façam possíveis de sugestão.

33 Pichon (1994, p. XII)

34 Pichon (1995, p. 50)

21

22

Alguns recortes sobre a formação de professores

É incrível como os nossos olhos só podem ver aquilo que o nosso ponto de vista nos permite ver.

35

Não cabe aqui discutir a formação dos professores que vivem reclamando das condições

ideais para o trabalho. Expor opiniões somente pessoais poderia prejudicar o trabalho acadêmico,

pelo que optamos por transcrever algumas opiniões colhidas na pesquisa bibliográfica.

Donald Shön, professor do Massachusetts Institute of Tecnology, pesquisador de

desenvolvimento profissional de professores, escreveu:

...além dos conhecimentos e da técnica, os bons profissionais utilizam um conjunto de processos que não dependem da lógica mas são manifestações de talento, sagacidade, intuição, sensibilidade artística.

36

Selma Garrido Pimenta, professora da USP, disse:

Os profissionais da educação, em contato com os saberes sobre educação e sobre a pedagogia, podem encontrar instrumentos para se interrogarem e alimentarem suas práticas, confrontando-os, É aí que se produzem saberes pedagógicos, na ação.

37

Selma Garrido Pimenta, na apresentação dos anais do IX Endipe, falou:

Apostar na formação do professor como intelectual, capaz de decidir os rumos e o fazer do ensinar na sociedade complexa dos anos atuais e vindouros requer sólida formação teórico-prática, para a qual a produção da Didática e das Práticas de Ensino certamente é fundamental. ..., buscamos reiterar a posição de que a prática docente e pedagógica é síntese de múltiplas determinações e critério de verdade. Ou seja, a construção de teorias, quaisquer teorias, se dá a partir da prática e para ela se volta. A prática é anterior à teoria. Tomá-la como objeto de estudo significa um esforço de analisar, compreender e interpretar as teorias que nela estão sendo praticadas, na relação direta com os significados e os resultados do que se pratica.

38

35 Garcia (1998, p. 285)

36 in Alarcão (1996, p. 17)

37 Pimenta (1996, p. 82)

38 Pimenta (1998, p. 8)

23

Antonio Flávio Barbosa Moreira, professor da UFRJ, escreveu:

Reafirmo que tensões deverão continuar a percorrer as análises e as práticas. Talvez elas sejam mesmo inerentes ao multiculturalismo, à teoria crítica, a uma educação que se pretenda capaz de acelerar transformações sociais. Talvez precisemos aprender a conviver melhor com a incerteza e a insegurança.

39

Marcos Tarcísio Masetto, professor da USP, escreveu:

...seu papel[do professor] não é mais de apenas ‘passar informações’. Os alunos muitas vezes já as têm ou poderão buscá-las com certa facilidade. Mas, como usar estas informações, como manipulá-las, trabalhá-las, organizá-las, selecioná-las? Como transformá-las em conhecimentos? Estas são as novas preocupações

40

Ivan Amorosino do Amaral, professor da UNICAMP, apontou:

A diferença é que o especialista lida principalmente com o processo de concepção da mudança, enquanto o professor precisa compreendê-la, aceitá-la e encontrar formas de inseri-la na dinâmica cotidiana de sua sala de aula, cada vez mais contaminada por fatores adversos a qualquer transformação significativa. Exatamente neste distanciamento de papéis entre as partes envolvidas, nesta que é mais uma manifestação da dicotomia teoria-prática, é que reside a maior dificuldade dos desafios que se apresentam.

41

José Carlos Libâneo, professor de didática da Universidade Católica de Goiás, entende

que:

Há uma exigência visível de mudança na identidade profissional e nas formas de trabalho dos professores. O tipo de trabalho convencional do professor está mudando em decorrência das transformações no mundo do trabalho, na tecnologia, nos meios de comunicação e informação, nos paradigmas do conhecimento, nas formas de exercício da cidadania, nos objetivos de formação geral que hoje incluem com mais força a sensibilidade, a criatividade, a solidariedade social, a qualidade de vida, o reconhecimento da diversidade cultural e das diferenças, a preservação do meio ambiente. Isso afeta os saberes pedagógicos e didáticos, os modos de formação, os métodos de ensino, as técnicas.

42

A formação de professores precisa incluir no currículo a alfabetização tecnológica e o conhecimento e utilização dos meios de comunicação. É preciso preparar professores e alunos não só para utilizarem esses equipamentos, de modo que usufruam de suas possibilidades mas principalmente, que aprendam

39 Moreira (1998, p. 35)

40 Masetto (1998, p. 319)

41 Amaral (1998, p. 67)

42 Libâneo (1998, p. 53)

24

a fazer intervir o conhecimento, a cultura elaborada, para atribuir significado à informação vinda das mídias. Parece fundamental que tomemos consciência de que, quanto mais se desenvolve a informação e a comunicação, mais competência cognitiva se requer. ... A par disso, os professores precisar aprimorar as técnicas de comunicação docente: formas mais eficientes de expor e explicar conceitos e de organizar a informação, de mostrar objetos ou demonstrar processos, postura corporal, controle de voz, uso de meios de comunicação na sala de aula.

43

Júlio Emílio D. Pereira, professor da UFMG, reclama:

A recorrência de alguns temas, neste debate, nos dá a impressão de estarmos discutindo os mesmos problemas durante anos e mesmo décadas atrás sem, no entanto, conseguir solucioná-los.

44

43 Libâneo (1998, p. 62)

44 Pereira (1998, p. 355)

25

26

Resultado da pesquisa

Temas propostos para os eventos

Evento Tema Participantes

1

Disciplina em sala de aula, uma questão de

satisfação.

Professores de 1o. grau .

2 Dinâmica de grupo como ferramenta de ensino

em sala de aula

Estudantes de licenciatura

em geografia.

3 Dinâmica de grupo na escola e na empresa. Estudantes de pedagogia.

4

Disciplina em sala de aula, uma questão de

satisfação.

Professores de 2o. grau

5 Dinâmica de grupo, prática de ensino em sala de

aula e campo de treinamento.

Estudantes de licenciatura

em educação física

6 Dinâmica de grupo, ferramenta no processo de

seleção de pessoal.

Estudantes de psicologia

7

A informação específica na administração do

estresse profissional

Estudantes de atendimento em saúde.

8 Administração de informações na instituição

escolar.

Coordenadores e diretores de escola.

Nossa estratégia em chegar ao tema proposto através de um assunto completamente

diferente, uma atividade lúdica, advém da tentativa de chegar ao cognitivo via uma situação

emocionalmente alterada. Cria-se um clima favorável a qualquer nova informação através dos

constrangimentos e sérias dificuldades por falta de informações específicas. Desmontam-se

preconceitos quando se demonstra a possibilidade de tantos erros com o uso do “bom senso” (no

sentido cartesiano). O processo se dá com a participação de todos em ação, em realização, em

crescimento.

Condições ideais e condições desfavoráveis

Entendemos como condições desfavoráveis, tudo aquilo que foge ao nosso controle no

planejamento do evento, aquilo que é diferente das condições idealizadas como perfeitas para

27

nossa atuação. Em termos de atuação (como ator) a condição desfavorável é enfrentar uma

platéia desconhecida, ao invés de uma performance íntima ao um grupo de fãs.

Entendemos que condições ideais para o trabalho, no seu todo, sejam utópicas e que o

professor (ou instrutor) deve ter habilidade e flexibilidade suficientes para minimizar os

problemas e "dar conta do recado". No entanto, por consideração aos parâmetros mais comuns

nos relatos de trabalhos pedagógicos, destacamos alguns itens a serem considerados em linhas

gerais:

Condições ideais Condições desfavoráveis

Grupos pequenos (de12 a 18 pessoas) Grupos grandes (classes com 50, 100 alunos)

Tempo suficiente para desenvolvimento Tempo limitado, escasso

Alunos motivados para aprendizagem Alunos desinteressados

Ambiente próprio, funcional, adequado Ambiente impróprio, incômodo, inadequado

Tema eleito pelo grupo de aprendizagem Tema imposto pelo programa de ensino

Participação voluntária Participação obrigatória

Disponibilidade de equipamentos auxiliares Falta ou deficiência de equipamentos

Grupos pequenos x grupos grandes

Tivemos grupos de todo tamanho, de 12 a 102 participantes, e, para nossa surpresa, as

avaliações não apresentaram diferenças representativas. É de se discutir a real diferença, em

termos de dificuldades, que faz a quantidade de pessoas a serem trabalhadas. Entendemos que a

ausência de diferença significativa entre grupos de contingentes tão diferentes esteja em função

da habilidade do instrutor em dominar os dois tipos de situação; é, em última análise, a

capacitação para o enfrentamento disso que poderia ser uma condição adversa para a atividade

do professor. Ressalte-se aqui a experiência do instrutor por ter trabalhado tanto em classes de

"cursinho" com até 300 pessoas (salas-auditório), quanto com pequenos grupos de executivos (5

a 10 pessoas).

Este item já denota a diferença que faz a habilidade do professor em conduzir tanto

grupos pequenos quanto grandes, como pode ser verificado no resultado das notas atribuídas ao

instrutor.

28

Tempo programado x tempo disponibilizado

A atividade foi idealizada para 3 horas e meia de duração (equivalente a 4 horas-aula).

Nesta pesquisa enfrentamos problemas de tempo disponível, desde 80 minutos (duas aulas de

40), até próximo a 3 horas. Em nenhum evento pudemos começar exatamente na hora, em alguns

tivemos participantes chegando com a atividade já começada, ou tendo que sair mais cedo. Num

evento tivemos que “improvisar” 45

uma pequena dinâmica, enquanto mais participantes

continuavam chegando.

A administração desse problema refletiu, de forma geral, na avaliação do item D2 (80,9),

prejudicando também a possibilidade de maior interação com o grupo, item D5 (86,0) e maior

trabalho entre os participantes, item D6 (84,6).

O instrutor, devidamente acostumado com esse tipo de situação, aprende que ao planejar

qualquer evento deve estar preparado para abranger o essencial do tema em 70 a 80 % do tempo

programado, assim como estar preparado com mais 20 a 30 % em peças ou recursos acessórios,

no caso de ter que administrar tempo ainda disponível ao final do tema principal.

Essas habilidades proporcionaram avaliações, senão ótimas, pelo menos boas mesmo em

turmas com razoável prejuízo nas condições de tempo.

Motivação x desinteresse

A motivação dos participantes, na quase totalidade, teve que ser despertada na

apresentação do instrutor, já dentro da atividade, pois os comunicados, convites ou convocações

não fizeram esse papel (tanto que os menores escores de avaliação ocorreram no item

convocação). Alguns foram conquistados logo de início e outros só despertaram no meio das

atividades quando se sentiram evolvidos pelo processo. Houve um número muito pequeno de

avaliações que demonstraram total rejeição ao evento.

Não há, na escola de forma geral, qualquer preocupação de "vender" bem uma atividade,

pois o costume é convocar os subalternos e submetê-los aos interesses exclusivo do poder

dirigente. Qualquer estranho, ao defrontar com uma platéia coagida, sofrerá com a situação a que

foi levado se não tiver devido preparo para tais situações.

45 Na realidade, não foi improviso, pois estava preparada para utilizar se fosse necessária. É um recurso estratégico.

29

Ambiente adequado x ambiente impróprio

Tivemos eventos nos mais diversos ambientes:

- poltronas almofadadas, cadeiras para alunos de primário, cadeiras de madeira ou

plástico e carteiras universitárias;

- classes comuns, salas auditório, salas vazias, salas depósito, salas superlotadas (110

pessoas em classe de 50);

- ambiente totalmente silencioso, sala com eco, sala ao lado da quadra esportiva com

atividade física.

O item "adequação do ambiente", avaliado pelos participantes, foi bastante abaixo da

média. No entanto, não chegou a prejudicar a avaliação da satisfação com o contexto geral (há de

se considerar que estavam acostumados a esses incômodos). Mais uma vez coube ao instrutor o

devido preparo para superação das condições adversas.

Tema eleito x tema imposto

Em nenhum evento houve consulta prévia quanto ao tema, sempre foi colocado por

acordos entre o instrutor e o “poder concedente”. Somente um evento contou com participantes

voluntários, convidados com antecedência e expondo o tema a ser trabalhado. Os resultados da

avaliação não demonstraram diferenças significativas.

Em todos os eventos se procurou mostrar a utilidade do ferramental utilizado "a dinâmica

de grupo", como instrumento viabilizador na condução da discussão para o enfoque necessário.

Procurou-se mostrar, que o evento com uma dinâmica desarma os espíritos mais aguerridos para

a participação na discussão, enquanto uma focalização direta do problema provocaria por

antecipação as opiniões preconcebidas, atrapalhando o desenvolvimento do tema. Desta forma se

conseguiu abordar os temas propostos sem nenhuma contrariedade.

Participação voluntária x participação obrigatória

Apenas um evento teve origem numa circular onde era oferecido o programa. Nos

demais, os participantes foram pegos de surpresa ou convocados sem maiores explicações.

Embora o item "convocação ou convite" tenha sido o de menor agrado dos participantes, não

houve diferença significativa quanto ao nível de satisfação final.

30

Materiais e Equipamentos

Não exigimos nem sentimos falta de equipamentos, vez que nos garantimos em levar

pronto o material necessário (folhas de avaliação e folhas de texto). Do local utilizamos o que

estava disponível (lousa ou flip-chart).

O texto

Esse material é uma adaptação do original de Alex Pound, instrutor de pilotos da Força

Aérea Americana. No exercício original, os participantes são informados que caíram num

deserto e devem classificar por ordem de importância os quinze itens que sobraram do desastre.

Nesta adaptação46

, os participantes são levados a ler o texto e resolver o problema, sem qualquer

outra explicação; qualquer pergunta é respondida com a frase: Leia o texto, tudo está no texto!

Esta pressão (até grosseria) é proposital para proporcionar referencial sobre as dificuldades na

interpretação do texto, promover a discussão sobre os conhecimentos de cada classe, ou grupo,

quando se exige entendimento através de uma comunicação escrita. Depois da leitura e opção

individual de cada um, o grupo é dividido em sub-grupos (4 a 8 pessoas) onde se discutem as

opções pessoais e o consenso de uma resposta certa para a questão. O tempo para a discussão nos

subgrupos é administrado pelo instrutor conforme a percepção do movimento criado. Depois se

comparam os resultados de cada subgrupo.

Em grupos de alunos, isso leva a falar sobre leituras de texto, dificuldades na elaboração

do discurso, etc.; em grupos de professores, se fala da dificuldade dos alunos no entendimento

das leituras e deles próprios, referindo a instruções que recebem das coordenações e diretorias,

os quesitos dos programas, etc. Em todos os grupos se levantam as dificuldades que se

apresentam para escrever qualquer mensagem. Ai se discutem teorias da comunicação.

No texto, a chave da questão inicial é o conhecimento de geografia e da velocidade de um

avião para saber onde poderiam estar 30 minutos após decolar de Dakar. Em todos os grupos,

poucos participantes sabem onde fica Dakar; alguns lembram de deserto, função dos noticiários

do “Rally Paris-Dakar” (isto leva à discussão da importância da televisão, no processo de

informação e formação do conhecimento). Alguns depreendem a situação pelo quesito: um livro

46 ver anexo 3 - A importância de uma informação

31

de ‘Animais comestíveis do deserto’. O local seria algum lugar no deserto da Saara,

provavelmente na Mauritânia.

A identificação ou localização de um problema, é discutido como ponto básico para

qualquer enfoque que se queira dar a uma discussão (qualquer questão); isso permite abordar o

tema proposto para o evento.

De imediato se traz à discussão o valor de cada informação específica, para cada assunto

específico. No texto, uma informação básica (conforme Alex Pound), é que, atualmente, em

qualquer deserto do planeta, o resgate acontece em menos de 48 horas. Isso determina as ações a

serem tomadas, tais como não sair do lugar, pois a equipe de resgate já se tem uma indicação da

região possível do desastre.

A resposta certa

A melhor alternativa, naquela situação, seria a decisão de não sair do lugar, sabendo que

poderia ser resgatado, até em poucas horas, e a escolha dos seguintes itens:

1. Sobretudo de lã - para proteção do corpo contra insolação. A temperatura do corpo é

de 36 graus, a temperatura externa é de 50 a 60 graus. O sobretudo é uma barreira. Nesse item,

poucos se lembram dos filmes de deserto, das vestimentas usadas por beduínos, tuaregues, etc.;

até mesmo das roupas dos cowboys dos deserto do Arizona, do Colorado, do México, etc. Aqui

se permite falar sobre hábitos de vestimentas, das necessidades do corpo, etc.

2. Protegido da insolação, cabe hidratar o corpo tomando a água disponível. A maioria

sempre pensa em reservar a água para molhar a boca, beber aos poucos, o que está errado. Aqui

se permite falar sobre a importância e das funções da água no metabolismo humano.

3. Por incrível que pareça, se acha utilidade para o pára-quedas - fazer uma barraca que

vai diminuir de 30% a 40% o impacto da insolação, além de servir como sinalizador para a busca

aérea, pela sua visibilidade (vermelho e branco) e tamanho.

4. Para utilizar o pára-quedas, ovalado e cheio de cordões, é necessário o canivete.

5. Finalmente, sob a barraca e, somente com uma mão ao sol, se sinaliza com espelho

refletindo a luz do sol. Esse reflexo corresponde a uma luz de 15.000 watts, podendo ser visível

até a100 km.

32

Em doze anos de utilização47

desse material, nenhuma pessoa ou mesmo um grupo,

conseguiu encontrar esta solução para o problema apresentado. Isso reforça a utilidade da

ferramenta para levantar possibilidades de discussão sobre qualquer problema, pois mostra a

falta de preparo específico da maioria da pessoas, seja do aspecto cognitivo quanto do fator

emocional. Assim fica mais fácil entrar no problema proposto para o evento, recorrendo aos itens

da dinâmica quando necessário. O clima de “ignorância” está criado; as pessoas ficam mais

receptivas quando perdem a maioria das defesas baseadas em “pré conceitos”. Administrando a

“ignorância”, fica mais fácil recriar um clima de construção de novo conhecimento.

Poder-se-ia pensar nos prejuízos causados pela situação frustrante a que o grupo foi

submetido, mas é aí exatamente que se encaixa a valoração de qualquer treinamento:

- Vocês não conseguiram acertar a melhor opção para sobreviver a uma situação

como foi colocada. Não se incomodem com isso, ninguém tinha a obrigação de saber, porque

nunca foram treinados para tal finalidade, nunca tiveram tais informações específicas. Agora

que vamos entrar num processo de treinamento específico, falar de ... (o assunto que for

abordado), todos estão cientes da necessidade de atentar para cada detalhe, pois disso vai

depender a sobrevivência de cada um neste emprego (ou nesta atividade).

Recorrendo à imagem do “construtivismo”, da construção do próprio conhecimento,

utiliza-se a figura de uma casa típica do universo infantil. Quando a criança entra na escola, ela

já está com uma casa começada, não vai começar uma construção, mas uma ampliação, uma

reforma. É necessário levar em conta o que o aprendiz já tem construído, para não quebrar o que

foi elaborado com muito carinho ou esforço. Leva-se o grupo a pensar numa reforma em sua

própria casa, com materiais entulhados dentro de casa, pelos corredores, pelos cantos, e mais,

alguns materiais ou equipamentos que ficam pelo meio do caminho durante muito tempo sem se

saber quando aquilo virá a ser útil. É fato que algumas daquelas coisas acabam sem nenhuma

utilidade.

A partir dessa colocação, podem ser abordados os itens dos problemas a serem

enfrentados pelo grupo ali reunido. Conforme o tempo disponível e o assunto proposto para

desenvolvimento no evento, são discutidos os outros quesitos do texto, mostrando sempre o

quanto se muda de opinião mediante uma informação específica.

47 Em dinâmicas de seleção de pessoal e de treinamento.

33

Outros quesitos apresentados

um estojo de primeiros socorros – composto de material para assepsia, destinado a evitar infecção,

pouca utilidade tem no deserto que é praticamente “pasteurizado” com 60 a 70 graus durante o dia e

menos 10 graus à noite. Nesse clima há muito pouca possibilidade de contaminação por bactéria; um

ferimento, um corte, pode secar sem se preocupar com infecção.

um litro de vodka – não se pode consumir destilados sem o devido acompanhamento de muita água.

Um copo de vodka vai exigir, no mínimo, um litro de água para equilibrar o organismo.

um livro “Animais comestíveis do deserto” – sabendo que o resgate chegará em menos de 48 horas, a

instrução é que não se alimente, pois isso exigiria mais água para ajudar na digestão. Pode-se passar

uma semana sem comer, e bem menos tempo sem beber.

um mapa aéreo – são informações sobre freqüências de rádio-farol conforme a localidade, pouco

informam sobre as condições terrestres. Além do que não se deve sair do lugar.

um par de óculos escuros – a claridade do deserto pode ser tão intensa que o melhor é vedar os olhos

com panos, para evitar maiores dados aos olhos. Os óculos pouco refrescam.

um quilo de sal – é um item muito escolhido, mas totalmente proibido nessas circunstâncias com tal

provisão de água. É recomendado para sobrevivência em selva, quando se pode morrer de desidratação

dentro de um rio, onde a ingestão de água contaminada promove diarréia e vômitos, tornando

necessária a absorção de sal para retenção do líquido no corpo, ajudando na homeostase.

uma bússola – geralmente muito escolhida na intenção de sair do lugar, o que é totalmente errado.

uma capa plástica para chuva – seria útil para sobrevivência na selva, como forma de conseguir água

limpa por decantação do sereno; o que não é o caso no clima seco do deserto.

uma lanterna de 4 pilhas – praticamente sem nenhuma utilidade. Não há busca aérea durante a noite,

nem se deve sair a passeio em tais circunstâncias.

uma pistola 45 (carregada) – em situação com possibilidade de conflito, tal como essa, a primeira

atitude inteligente é desativar ou inutilizar qualquer arma que possa ser usada num descontrole

emocional.

A pressão

A pressão que se exerce no grupo, a exemplo do processo da dinâmica, é discutida em

cada situação conforme o tema colocado para estudo no evento. Discute-se o processo

analisando as necessidades, dificuldades ou propriedades de trabalhos sob pressão.

34

Independentemente do tema proposto para o evento e das características do grupo a

pressão é um assunto sempre presente em qualquer situação e disso se pode partir para a maioria

das discussões. A partir do exemplo do procedimento do instrutor, exigindo resultado imediato

em um situação difícil, podem ser levantados diversos fatores que envolvem a experiência

pessoal de cada participante e da vivência do grupo ali formado.

Como enfrentar a situação de pressão, em qualquer situação de vida, é um problema que

aflige a maioria das pessoas. A própria situação de grupo, de um instrutor estranho, de uma

maneira diferente de abordar problemas, que até podem ser íntimos ou exclusivos daquele grupo,

é, por si só, uma situação estressante.

Em todos os eventos realizados, nesta pesquisa e em situações anteriores, pudemos

perceber que “stress” é o assunto mais empolgante, o tema que prende mais a atenção de

qualquer público. Além do que, o “stress” pode ser associado a todas atividades de qualquer

pessoa.

35

Resumo do trabalho com os temas propostos

Disciplina em sala de aula

A partir da dinâmica “A importância de uma informação”, pudemos levantar questões de

insatisfação dos alunos, exatamente por deficiência na comunicação por parte da instituição ou

dos profissionais. Enfocamos a possibilidade de indisciplina como o expediente mais conhecido

para demonstrar insatisfação. Falando com professores, nos permitia chamar atenção para nossa

performance, nossa técnica de administrar situações criadas naqueles grupos, onde eles estavam

como alunos (mesmo em condições insatisfatórias). Com enfoque centrado no aluno, procuramos

despertar um olhar para o que pode verdadeiramente interessar aos alunos, focalizando seus

interesses, conquistando suas atenções. Procuramos levantar uma consideração ao aspecto

emocional e afetivo, tão ou mais importante para a relação professor-aluno que o aspecto

cognitivo. Num recorte fenomenológico, procuramos chamar a atenção dos professores para um

olhar além do conteúdo expresso, além das manifestações visíveis, um entendimento do vivido,

do percebido e a busca do entendimento do que está por traz da manifestação da indisciplina.

Dinâmica de grupo como ferramenta de ensino em sala de aula e

treinamentos

Falando para grupos de licenciatura, procuramos direcionar as atenções para a aplicação

da técnica instrumental da dinâmica de grupo, como recurso didático capaz de auxiliar o

professor no desenvolvimento de diversas matérias e no envolvimento dos participantes na

construção do próprio aprendizado. Utilizamos os quesitos do texto para demonstrar

possibilidades de interdisciplinaridade e transversalidade. Foram sugeridas adaptações do texto

para situações mais próximas dos programas de cada matéria, conforme objetivos curriculares.

Levantamos a necessidade de um olhar mais adequado para os comportamentos afetivos e

emocionais, sobre a extrema validade (senão a única) da vivência como fator de aprendizagem -

nada substitui a experiência.

36

Dinâmica de grupo, na escola e na empresa

Acreditando que a dinâmica de grupo como processo didático já fosse de pleno

conhecimento dos estudantes de pedagogia, procuramos utilizar o evento para mostrar as

possibilidades de utilização desse conhecimento (do pedagogo) no mercado de trabalho (fora da

escola), notadamente em treinamento. Cabia mostrar a necessidade de informações específicas

da área empresarial para evitar constrangimentos profissionais por parte do formado em

pedagogia e sem experiência em empresas (discrepância teoria/prática), vez que não há

congruência possível quando se atreve a ensinar o que não foi vivido. Considerando o domínio

da técnica como garantido pelo grupo (o que deixou algumas dúvidas) procuramos mostrar a

diferença entre os mundos acadêmico e mercadológico, as diferenças nas formas de perceber os

mundos de cada participante e a experiência anterior de cada um.

Dinâmica de grupo, ferramenta no processo de seleção de pessoal

No grupo de estudantes de psicologia, participando da aula de dinâmica de grupo,

levantamos as possibilidades (e as necessidades) de o psicólogo utilizar essa ferramenta nos

processos de seleção de pessoal. Embora a escola não oferecesse a especialização, ou mesmo

formação, em psicologia organizacional, alguns alunos já estão integrados no mercado de

trabalho empresarial. Considerando que os alunos já tivessem o conhecimento das técnicas de

dinâmica de grupo (um erro nosso), dirigimos o evento para situações de seleção de executivos.

Destacamos a possibilidade de observação prática dos procedimentos e até do caráter das pessoas

envolvidas na seleção, pois o envolvimento nas discussões desmonta ou evidencia as defesas,

quebra as molduras da polidez e leva os participantes a se mostrarem de verdade. Levantamos o

olhar fenomenológico do recorte dos significados dos comportamentos e do intencional por traz

de qualquer conteúdo. A oportunidade de trabalhar com vivências (tal como essa) proporcionaria

ambientes facilitadores para um melhor conhecimento das pessoas em seleção.

A informação específica na administração do estresse profissional

Os servidores da saúde, notadamente no nível desse grupo, auxiliares de atendimento em

enfermagem, convivem com situações deveras desgastantes, situações de vida e morte a cada

momento. Recebem cobrança tanto dos pacientes quanto dos companheiros e chefias de trabalho,

além dos problemas familiares causados por horários irregulares de trabalho (turnos e plantões).

A partir do exercício da dinâmica, pudemos levantar a importância da informação no combate ao

37

estresse profissional, a forma como gerenciar situações de conflito através de informações

específicas. Função do menor nível cognitivo do grupo, o trabalho foi bastante direcionado para

fatores emocionais. Embora em grupos muito grandes e ambientes totalmente inadequados,

tivemos muita participação. Pudemos identificar um alto grau de satisfação daqueles grupos

quando das considerações dos valores emocionais e afetivos nas relações de trabalho.

Administração de informações na instituição escolar.

Trabalhando com diretores e coordenadores, acostumados a eventos de educação

continuada, procuramos demonstrar habilidades no tratamento de informações, tais como as

encontradas em situações conflitivas do texto da dinâmica. A partir do próprio evento, onde os

participantes eram eles, levantamos similaridades com eventos realizados na instituição, onde

eles sãos os dirigentes dos trabalhos de grupos. Destacamos a necessidade de "vender" a idéia de

importância dos eventos nas instituições, fazendo com que todos queiram participar. Insistimos

na necessidade de desenvolvimento específico em artes de comunicação, o que seria redundante

não fosse a geral inabilidade dos professores no trato com seus pares, e até com seus alunos.

Tentamos desenvolver, ou reforçar, a idéia de professor como comunicador, facilitador,

dinamizador, etc. Mostramos que os alunos são muito bem servidos, fora da escola, por

excelentes comunicadores profissionais da mídia comercial, o que faz do professor "um

comunicador amador". Por ser o último dos eventos da série, já tínhamos tabulados os resultados

de eventos anteriores e pudemos destacar com mais segurança o significado do processo de

comunicação e convites para eventos ou atividades regulares na escola.

A avaliação

Em nenhum evento dissemos que tal avaliação fazia parte de uma pesquisa acadêmica,

mas apresentamos os itens como um rol de atividades a serem avaliadas como itens de objetivos

a serem alcançados pelo instrutor. (ver anexo 2)

Distribuição da ficha de avaliação

Desenvolvemos o procedimento de distribuir as fichas de avaliação logo no início da

atividade, por algumas razões:

38

a. Quebra qualquer expectativa de avaliação da aprendizagem, pois já se sabe que os

participantes é que estarão avaliando o evento;

b. Fornece uma série de itens a serem observados durante o evento, buscando focalizar a

atenção de cada participante;

c. Fornece uma idéia diferente da organização tradicional.

Os critérios para avaliação

Estabelecemos um crescente de qualificações: ruim, fraco, regular, bom e ótimo, numa

quantificação numérica de 1 a 9. Poderia ser de 0 a 10, ou 0 a 100; optamos pela numeração de 1

a 9, simplesmente, pela facilidade de computação (digitação).

Na tabulação, foram convertidos os valores (1 a 9) em percentuais (0 a 100).

Ruim Fraco Regular Bom Ótimo

1 2 3 4 5 6 7 8 9

0 12,5 25 37,5 50 62,5 75 87,5 100

Análise dos resultados da avaliação

1 2 3 4 5 6 7 8 M

A Organização 77 79 49 54 70 73 82 69 69,1

A1 A forma como foi feita a convocação (ou

convite)

77 78 37 45 64 74 81 70 65,8

A2 A idéia fornecida sobre o evento 72 78 49 44 76 76 86 69 68,8

A3 Local do evento 84 81 60 72 71 71 78 70 73,4

tabela 1 Organização

Este é o item de menor satisfação em todos os grupos pesquisados e permite generalizar o

procedimento como usual: Não é costume na instituição "escola" qualquer enfoque melhor que

"convocação", nem mesmo "convite", o que geralmente promove insatisfação.

39

Na análise do conteúdo expresso, as notas, o fator quantitativo é inegável, demonstra o

maior grau de insatisfação da maioria dos participantes em todos os eventos. Na análise do

vivido, o intencional, o significado dessa avaliação, o que os participantes estavam querendo

dizer com isso, podemos ouvir um clamor mais profundo:

- “por favor, nos tratem com maior respeito”;

- “queremos participar das decisões sobre nossas vidas”;

- “vocês não podem decidir sozinhos, sobre o que nos interessa”;

- “não somos massa de manobra”;

- “não gostamos da forma como fomos convocados”;

- “merecemos uma atenção melhor”; etc.

A escola, via de regra, não tem a preocupação em elaborar um convite nos moldes de um

folheto de propaganda, não entende como necessária a “venda da idéia” do evento. Os vícios de

poder constituído levam a “convocações” sem maiores preocupações. Não dizem o assunto, nem

o tipo de evento. Uma escola (via APM) estava pagando um profissional para ajudar os

professores na suas atividades (projeto de capacitação), e não “vendeu” esse benefício ao seu

público.

Em três dos quatro eventos com alunos universitários, não houve aviso prévio que teriam

uma aula diferente, com um “profissional convidado”, mesmo tendo sido, a atividade, tratada

com suficiente antecedência.

Houve uma escola onde os professores foram entrando na sala e sentando no “fundão”,

cochichando “sabe-se lá o quê”, pois não tinham a mínima idéia do que iriam participar. Não

sabiam se era uma reunião, uma aula, uma palestra, nada. O aviso no quadro mural da sala dos

professores era lacônico: Convocação: dia tal, tal hora, na sala de vídeo. O pior de tudo era outro

aviso ao lado, convocando todos os professores para uma reunião "obrigatória" no próximo

sábado (depois do feriado de quinta-feira, onde a sexta-feira era ponto facultativo). Imagine-se o

clima de insatisfação com a direção e por conseqüência a nossa presença.

Na escola de primeiro grau, não há acomodações para adultos, os professores são

obrigados a participar da reunião sentados em cadeiras minúsculas, logicamente incômodas para

mais que meia hora de uso. É a sala onde são realizadas, também, as reuniões com pais; e depois

40

se reclama da falta de freqüência e de participação da comunidade. A acústica da sala é péssima,

as palavras reverberam, quase produzem eco.

Numa instituição, para efeitos de economia, foram colocados mais de cem participantes

num espaço disponível para 30. Não havia como distribuir as folhas de texto e de avaliação

(utilizamos o “pega-e-passa”), no momento da dinâmica de pequenos grupos, não havia como

virar a cadeira para formar grupos. Houve mais uma atividade de cochichos aleatórios que a

formação de grupos circulares.

Poderiam não ser esses itens importantes para o desenvolvimento das atividades de uma

escola, mas basta ver que são os itens de pior avaliação em todos os eventos. Foi o grupo de

quesitos da avaliação que mais obteve “ruim e fraco”; só não foi pior porque recebeu notas altas

daqueles participantes que acharam tudo “bom e ótimo”.

Empresas que poderiam realizar reuniões em suas próprias instalações, e têm instalações

suficientes para isso, costumam levar seus executivos e até mesmos funcionários de menor

escalão, para centros empresariais ou hotéis, com fito exclusivo de valorizar a reunião,

demonstrar maior apreço aos participantes, sempre na busca de maior satisfação e produtividade.

Esse clima festivo e até mais imponente poderia ser providenciado por dirigentes escolares sem

maiores custos, em clubes, associações, e até em empresas que poderiam ceder seus centros de

treinamento a título de relações públicas com a comunidade. O participante melhor considerado

se verá na obrigação de maior retorno ao conteúdo da reunião.

Não sabemos se as notas baixas atribuídas a esses itens foram decorrência da nossa fala

sobre a necessidade de fazer uma comunicação explicativa, para qualquer evento. Dissemos da

necessidade de “vender a idéia” da importância da participação no evento. Lembramos que o

maior anunciante da Rede Globo, é ela mesma; são as “chamadas” para os seus programas. Se a

avaliação foi prejudicada pelo juízo crítico desenvolvido no evento, já valeu o evento.

1 2 3 4 5 6 7 8 M

B Evento 88 91 75 77 82 83 88 85 83,6

B1 Os objetivos do evento foram

explicitados

80 88 68 73 79 83 88 82 80,1

B2 Os objetivos do evento foram atingidos 90 97 78 75 81 81 87 88 84,6

B3 A realidade teórico-prática do conteúdo 87 85 68 74 80 81 86 83 80,5

41

B4 Avaliação geral quanto ao evento 90 92 81 84 84 84 88 88 86,4

B5 Validade do evento para sua atividade 93 94 82 81 85 87 89 86 87,1

tabela 2 Evento

Esse grupo de itens referente ao evento, estiveram, quase todos, acima da média geral.

A nota menor (80,1) no item B1, talvez possa ser atribuída ainda à influência do item

anterior, à organização do evento. No início de cada evento, quando eram explicitados os

objetivos, os sentimentos dos participantes ainda estavam fora de sintonia com o instrutor, ainda

não estava estabelecida a empatia, não havia aceitação. É uma rejeição ao desconhecido, uma

desconfiança.

A nota do item B3 (80,5), assim como a B1 foi influenciada pela avaliação dos estudantes

de pedagogia (68) e (68), onde nossa intenção era mostrar a possibilidade de atuação do

pedagogo no mercado de trabalho fora do âmbito escolar, quando eles próprios se atribuíram a

menor nota quanto ao preparo para o evento C4 (58), conforme quadro seguinte.

1 2 3 4 5 6 7 8 M

C Grupo 83 88 79 76 78 79 81 80 80,5

C1 A participação do grupo durante o

evento

82 92 88 76 82 80 75 76 81,4

C2 O interesse do grupo nas atividades 88 96 86 78 85 81 80 82 84,5

C3 Aproveitamento do conteúdo 89 97 84 79 84 86 88 85 86,5

C4 Nível de preparo para esse evento 76 68 58 71 60 71 81 78 70,4

tabela 3 Grupo

Embora com a maioria das notas dentro da média geral, nos surpreendeu o baixo conceito

dos participantes (de forma geral) em relação aos seus companheiros, quando dos valores

atribuídos ao item C4. Nível de preparo (do grupo) para esse evento (70,4). Destaque-se a

contradição apresentada entre a menor nota - dos estudantes universitários de pedagogia (58),

42

esperadamente habituados a trabalhos de dinâmica de grupo, e a maior nota (81) dos estudantes

do sindicato que, teoricamente, seriam os de menor qualificação para o evento.

Numa leitura do significado dessas avaliações, podemos depreender climas

organizacionais deficientes, uma baixa auto-estima, grupos que menosprezam os seus próprios

integrantes. A rigor, qualquer grupo está preparado para um evento, tudo depende da habilidade

do facilitador (instrutor ou professor); no entanto, sabe-se lá porque, foram atribuídas notas

baixas ao próprio grupo, para seus companheiros. É como clamar: “participo de um grupo fraco;

não confio nas possibilidades de meu grupo; isso é mais que meu grupo pode merecer”.

Entendemos até que isso seja resultado de uma falta consciência grupal, em função da hierarquia,

do movimento em mão única, ou por intrigas internas anteriores ao evento.

1 2 3 4 5 6 7 8 M

D Instrutor 91 94 81 85 87 85 90 88 87,6

D1 A sua impressão inicial sobre o instrutor 74 86 75 75 75 80 87 78 78,8

D2 A ocupação do tempo durante o evento 88 83 76 79 77 71 85 88 80,9

D3 Capacidade didática do instrutor 96 94 84 92 95 91 93 92 92,1

D4 Domínio do assunto pelo instrutor 96 99 89 92 93 93 93 95 93,8

D5 Estabeleceu interação com o grupo 89 97 81 82 85 83 86 85 86,0

D6 Estabeleceu interação entre os participantes 89 94 75 81 88 81 85 84 84,6

D7 Levantou questões importantes para o grupo 92 96 78 85 88 88 91 86 88,0

D8 Manteve domínio sobre as atividades 95 97 84 89 88 88 91 90 90,3

D9 Manteve o interesse do grupo durante o

evento

94 92 85 86 88 86 91 90 89,0

D10 Avaliação geral quanto ao instrutor 95 99 88 91 94 90 96 92 93,1

tabela 4 Instrutor

Não fosse o conhecimento de nossas característica pessoais e profissionais, poderíamos

ser surpreendidos com a menor avaliação (78,8) no item D1. Mas isso é proposital para mostrar

a possibilidade de mudança de conceito através da “performance”, o que se torna claro quando

43

da avaliação do item D4 (93,8) a maior média entre todos os itens, seguida do item D10.

Avaliação geral quanto ao instrutor (93,1).

O crescimento da satisfação dos participantes quanto ao instrutor se deve ao propósito

deste em valorizar a vivência do grupo, procurando “gêneses” possíveis a partir das “estruturas”

existentes; procurando as “permeabilidades” nos campos das individualidades de cada

participantes; buscando conduzir os assuntos “voltados para a pessoa” e destacando os “papéis”

desempenhados pelos indivíduos.

Esse movimento é reconhecido na avaliação nos itens D3 e D4, didática e domínio do

assunto, o que comprova nossa hipótese em conseguir satisfação dos participantes a partir de

desenvolvimento de habilidades no trato com grupos.

Vale a pena acrescentar que a variedade no uso destas técnicas cria uma motivação especial para aprendizagem e para o envolvimento dos alunos. Esta alteração significativa em técnicas de aula supões conhecimento de um conjunto razoável de técnicas pelo professor, domínio de sua aplicação, adaptação de técnicas e até mesmo criação de novas. Além disso, supõe ainda que o emprego dessas técnicas seja planejado de acordo com os objetivos da aula e da unidade.

48

1 2 3 4 5 6 7 8 M

E Pessoal 88 92 79 79 82 83 90 87 85,0

E1 A sua expectativa em relação ao evento 81 89 71 71 76 77 88 83 79,5

E2 Índice de satisfação quanto a sua

participação

85 89 80 79 81 83 90 86 84,1

E3 Seu interesse pelo tema anunciado 89 93 86 80 81 87 91 87 86,8

E4 Sua satisfação com o evento 95 96 86 87 90 87 92 90 90,4

tabela 5 pessoal

Os resultados dos eventos podem ser resumidos pela comparação entre a expectativa

(79,5) e a satisfação (90,4), considerando ainda a própria participação (84,1). Demonstra um

crescimento percentual considerável, embora aponte a vontade de ter participado mais.

48 Masetto (1998, p. 327)

44

1 2 3 4 5 6 7 8 M

A Organização 77 79 49 54 70 73 82 69 69,1

B Evento 88 91 75 77 82 83 88 85 83,6

C Grupo 83 88 79 76 78 79 81 80 80,5

D Instrutor 91 94 81 85 87 85 90 88 87,6

E Pessoal 88 92 79 79 82 83 90 87 85,0

média geral 85 89 73 74 82 82 87 82 81,8

tabela 6 síntese

As menores médias aconteceram no grupo de estudantes de pedagogia (73), seguidas do grupo

de professores de segundo grau (74). Os estudantes foram surpreendidos, sem qualquer aviso prévio,

pela informação de que a aula seria dada por um convidado, abordando a possibilidade de desempenho

profissional em outra área. Veja a nota para a comunicação (37), a expectativa (71) a satisfação (86),

que foram compensadas pelo instrutor em domínio do assunto (89) e avaliação geral (88). Destaque-se

na avaliação desse evento, um grupo que atribuiu notas muito baixas em todos os itens,

coincidentemente iguais (provavelmente uma “panelinha”), rebaixando a média geral. O grupo de

professores de segundo grau (duas turmas) vivia um conflito com a direção, em função da convocação

para uma reunião extraordinária, num sábado (após um feriado na quinta-feira). Sem saber os objetivos

do nosso evento (e o que haveria “por traz disso”), tivemos as notas de convocação (45), idéia sobre o

evento (44), compensadas, na média, pela capacidade didática (92) e domínio do assunto (92) do

instrutor.

Na médias maiores (89), um grupo de 12 pessoas, e (87) um grupo de 207 pessoas, cabe

destacar tamanha diferença entre os grupos e um nível de satisfação tão próximo.

Finalmente, 100% de média geral entre “bom e ótimo”, é mais do que poderíamos

esperar, quando nosso intento era mostrar a possibilidade do satisfatório (regular), o que já seria

bem mais que a maioria das atividades desenvolvidas nas escolas.

Deixamos de tabular ou transcrever as “observações complementares” pela diversidade e

amplitude de seus conteúdos. No entanto, podemos registrar que ninguém se ocupou de escrever

algo que contrariasse os dados já expostos, pois todos que se deram ao trabalho de escrever

somente fizeram elogios e observações deveras gratificantes para os nossos esforços.

45

Sedução e marketing

Não pudemos isolar, nesta pesquisa, as variáveis que tão pouco são relevadas nas

pesquisas científicas sobre educação, mas que consideramos muito importantes e que

mereceriam maiores estudos: Sedução e Marketing.

Sem entrar no mérito do valor dessas variáveis, temos a destacar que quanto à sedução

não fizemos nenhum esforço pessoal, pelo menos conscientemente, beirando mesmo o risco de

uma aparência muito impessoal no processo, mas tivemos o cuidado de mostrar um trabalho

merecedor de ser “comprado e bem pago”. Oriundo da atividade empresarial e com interesse de

iniciar no campo da educação, nosso trabalho procurou ser uma propaganda de nossas

possibilidades, com interesse declarado em “vender esse tipo de serviço”, seja como psicólogo

organizacional, seja como consultor empresarial. Cabe destacar que nosso processo de venda

sempre foi baseado na expectativa de benefícios para o cliente. Se isso influenciou na avaliação é

porque conseguimos despertar interesses em satisfações futuras, ou fizemos valer o tempo

despendido no evento. Se a escola é uma prestadora de serviços, e alguém paga por isso (seja o

governo ou o aluno), há um ramo do conhecimento que deve ser utilizado: o marketing de

serviços, buscando a satisfação do cliente. Se, em última instância, a escola é apenas uma

vendedora de diplomas, ai é que deve mesmo utilizar o marketing de varejo.

46

Conclusão

Como fizemos no corpo do trabalho, utilizando o enfoque da professora Marli André, não

poderíamos deixar de concluir da mesma forma:

A realização desse trabalho possibilitou-nos fazer uma série de reflexões e levantar algumas hipóteses para serem mais profundamente exploradas. Os elementos de que dispomos não nos permitem, no entanto, definir com alguma segurança a direção dessas hipóteses, por isso optamos por usar o termo desafios.

49

Entendemos termos tido êxito em nosso desafio, na possibilidade de conseguir a satisfação

dos participantes de um evento, mesmo em condições adversas, mediante desenvolvimento de

habilidades no uso de instrumentos didáticos apropriados. Não se pode esquecer a atitude, a busca de

uma relação empática, congruente e disposta a aceitar o outro como ele é. Não se pode esquecer a

visão humanista, com o enfoque centrado na pessoa, e a perspectiva fenomenológica de buscar o

entendimento do vivido, do intencional. A análise das avaliações demonstrou que é possível ajudar

as pessoas no equacionamento de seus problemas mediante exercícios que desarmem os espíritos

mais preconceituosos, mostrando os processos como podem ser enfrentados problemas tão ou mais

significantes, sem fazer do evento (ou aula) um procedimento insatisfatório. Quisemos mostrar que o

tão mal falado “tecnicismo”, que o condenável “instrumentalismo”, se utilizados com o devido

domínio teórico podem ajudar a desenvolver consciência crítica, podem estimular o desenvolvimento

de cidadania sem os ranços do discurso tradicional.

O exercício de dinâmica de grupo que leva os participantes a pensar (cognitivo) em

problemas maiores e sentir (emocional) situações de conflito, onde se encontram soluções mediante

informações específicas, proporciona um enfrentamento mais tranqüilo de tentativas de solução, pelo

menos enfrentamentos mais ajustados de situações corriqueiras que parecem sem solução, isso sem o

rigor de um exercício psicoterápico para solução de conflitos individuais. Se bem que Rogers

estabeleça como relação terapêutica qualquer situação onde haja uma pessoa procurando ajudar

outra, dizendo:

“A relação terapêutica é apenas uma forma da relação interpessoal em geral, e as mesmas leis regem todas as relações deste tipo. ... é uma relação na qual pelo menos uma das partes procura promover na outra o crescimento, o desenvolvimento, a maturidade, um melhor funcionamento e uma maior

49 André (1998, p.258)

47

capacidade de enfrentar a vida. ... na qual um dos participantes procura promover na outra, ou em ambas, uma maior apreciação, uma maior expressão e uma utilização mais funcional dos recursos internos latentes do indivíduo. ”

50

A dinâmica de grupo permite situações de resgate de “estruturas” para produção de novas

“gêneses” (Piaget), quando se procura entender a forma como o grupo funciona, a composição

das idéias que permeiam o entendimento daquela situação, buscando criar novas situações num

processo que é mais uma "reforma" a partir do concreto existente do que uma "construção"

idealizada que não levaria em consideração a maturidade do grupo.

A dinâmica de grupo permite trabalhos diferenciados em “permeabilidades” (Lewin),

quando se procura observar as possibilidades de integração de cada participante. Observa-se que

determinados assuntos são melhor recebidos ou aceitos por esse ou por aquele participante

conforme as características de cada um, exigindo enfoques específicos e ou complementares

sobre um mesmo assunto para que, de um jeito ou de outro, se possa chegar a um número maior

possível de pessoas. Basta olhar mais fundo, não só a manifestação expressada, mas também o

intencional por trás do expresso, ou o sentimento implícito no comportamento.

A dinâmica de grupo permite a clarificação de “papéis” (Moreno), através de movimentos

específicos onde os participantes podem ser levados a atuar desta ou daquela forma perante o

grupo antes mesmo de se permitir a discussão dos valores envolvidos. Apresenta muita utilidade

na busca do entendimento de procedimentos diferenciados por enfoques e valores diferentes de

cada participante do grupo, ou até mesmo quando se discute uma atividade externa ao grupo,

quando se discutem os papéis daquelas pessoas envolvidas no processo. Pode-se até não

concordar com os papéis e a forma de atuação de cada um, mas cabe ao “diretor” aceitar a

realidade interna de cada participante e sua visão do contexto.

A dinâmica de grupo exige “empatia, congruência e aceitação incondicional” (Rogers) do

instrutor (ou professor) (Rogers prefere: facilitador) pois o grupo tende a exigir muito mais da

figura da autoridade, pelo menos enquanto imaturo. Numa aula discursiva, sem a participação da

platéia, o orador pode falar o que quiser, vez que não se permitem interrupções, nem se espera

grandes absorções daquele conteúdo; num processo grupal, com a tônica da liberdade de

expressão, a primeira figura a ser contestada e exigida será a de quem mais se apresentar como

líder, tanto o instrutor quanto qualquer participante. Mais do que conhecimentos específicos, se

exige honestidade, inclusive sobre a ignorância e a inabilidade diante certas exigências do grupo.

50 Rogers (1991, p. 43)

48

Um encontro rogeriano é pautado pela liberdade de expressão, onde se proporciona um ambiente

propício para o aprendizado, vez que, na realidade, ninguém ensina ninguém, é a própria pessoa

que apreende quando as condições lhe são favoráveis e nada é mais significativo na

aprendizagem do que a própria prática. O exercício de dinâmica de grupo permite que o

participante vivencie uma experiência subjetiva, valendo mais como aprendizado do que muitos

sermões clássicos.

A dinâmica de grupo permite o estabelecimento de vínculos (Pichon), onde os

participantes deixam de ser uma platéia comportada e se tornam um grupo em ação, um grupo

operativo.

Torna-se claro, que as “habilidades” do instrutor (ou professor), para realizar uma

“performance” que faça do evento um encontro agradável e produtivo, não depende

exclusivamente da técnica, do ferramental, mas é preciso uma ação integradora de práticas e

teorias, além da atitude correta. Não basta bom domínio do texto e dos procedimentos da

dinâmica de grupo, mas todo entendimento possível de teorias (ou das teorias) sobre

funcionamento de grupos. Não bastam colocação de voz, domínio de palco e recursos de

encenação, se não houver um conhecimento sistematizado que atenda à cultura da platéia, que

promova algum beneficio para o grupo participante. Não basta o saber, é preciso fazer, e fazer

bem.

Entendemos que pudemos demonstrar as possibilidades de se conseguir satisfação dos

alunos com qualquer aula, ou dos participantes de qualquer evento, a partir do treinamento de

técnicas e de práticas, além das teorias, nos cursos de formação e especialização de professores.

Contrariando a maioria dos autores e congressistas consultados, ousamos dizer que, pelo menos

para a atuação em sala de aula, o treinamento de habilidades e o desenvolvimento de atitudes são

tão ou mais importantes que a pesquisa acadêmica de conteúdos cognitivos. A pesquisa se fará

necessária para o entendimento, o embasamento e o desenvolvimento da ação educativa,

principalmente quando o corpo discente está influenciado pelos meios de comunicação, pelos

valores estabelecidos pela mídia, com todos recursos tecnológicos, deixando para trás,

estacionados no tempo, a maioria dos procedimentos adotados pelos educadores que teimam em

negar as evidências da concorrência desmedida que enfrentam. Diante do profissionalismo dos

comunicadores de massa (radio, cinema, TV), os professores são meros amadores.

Acabou-se o tempo em que a fama de uma escola era construída unicamente pelos

comentários dos seus alunos e ex-alunos, além do poder de convencimento de seus professores

ou dirigentes. Uma pessoa não tem como fazer o mesmo curso em duas escolas diferentes para

49

poder comparar. As avaliações nacionais em curso, apesar de todas as críticas que possam

merecer, já começam a apontar excelências onde não se imaginava e deficiências em ambientes

considerados inatacáveis.

A satisfação, no entanto, não cabe só no propósito de conseguir colaboração dos alunos

no momento da avaliação, mas também como insumo de produção, pois alunos satisfeitos, com

os processos desenvolvidos pela escola, estarão, logicamente, mais interessados em realmente

aprender e atingir os objetivos estabelecidos – a meta primordial da educação.

50

Referências bibliográficas

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professores. Revista da Faculdade de Educação(USP). V.22, n.2, p. 11-42, jul./dez. 1996.

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Santos, Milton (1998 a). Ser intelectual na era da globalização. Anais do IX Endipe, v. 1. p. 15-20.

51

Águas de Lindóia, 4-8 maio 1998.

Santos, Milton (1998 b). Mestre Milton. Caros Amigos, São Paulo: Casa Amarela. no.17. p. 22-27.

52

Anexos

Anexo 1 - Público envolvido na pesquisa

Instituição Local Participantes Qte.

1

E.E.P.G. Dr. Francisco Monlevade Campo Limpo Pta. Professores de 1o grau 19

E.E.P.G. Dr. Francisco Monlevade Campo Limpo Pta. Professores de 1o grau 17

2 FESB Bragança Pta. Estudantes de Geografia 12

3 USF Bragança Pta. Estudantes de Pedagogia 46

4 E.E.S.G. “15 de Outubro” Campo Limpo Pta. Professores de 2o grau 16

E.E.S.G. “15 de Outubro” Campo Limpo Pta. Professores de 2o grau 13

5 FESB Bragança Pta. Estudantes de Ed. Física 28

6 Faculdades Padre Anchieta Jundiaí Estudantes de Psicologia 30

7 Sindicato dos Servidores da Saúde Jundiaí Estudantes de Atend. Enfermagem 64

Sindicato dos Servidores da Saúde Jundiaí Estudantes de Atend. Enfermagem 41

Sindicato dos Servidores da Saúde Jundiaí Estudantes de Atend. Enfermagem 102

8 2a Delegacia de Ensino Jundiaí Coordenadores e Diretores 33

Total de participantes

421

53

Anexo 2 - Folha de avaliação do evento

Evento: __________________________________

Participantes: ____________________________

Instrutor:________________________________

A Organização

A1 A forma como foi feita a convocação (ou convite) .. 1 2 3 4 5 6 7 8 9

A2 A idéia fornecida sobre o evento ........................... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

A3 O local do evento ................................................... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

B Evento

B1 Os objetivos do evento foram explicitados ............. 1 2 3 4 5 6 7 8 9

B2 Os objetivos do evento foram atingidos ................. 1 2 3 4 5 6 7 8 9

B3 A realidade teórico-prática do conteúdo................. 1 2 3 4 5 6 7 8 9

B4 Avaliação geral quanto ao evento .......................... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

B5 Validade do evento para sua atividade .................. 1 2 3 4 5 6 7 8 9

C Grupo

C1 A participação do grupo durante o evento ............. 1 2 3 4 5 6 7 8 9

C2 O interesse do grupo nas atividades ...................... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

C3 Aproveitamento do conteúdo ................................. 1 2 3 4 5 6 7 8 9

C4 Nível de preparo para esse evento ........................ 1 2 3 4 5 6 7 8 9

D Instrutor

Utilizar os seguintes critérios:

Ruim - fraco - regular - bom -

ótimo

1 2 3 4 5 6 7 8 9

54

D1 A sua impressão inicial sobre o instrutor ................ 1 2 3 4 5 6 7 8 9

D2 A administração do tempo durante o evento .......... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

D3 Capacidade didática do instrutor ........................... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

D4 Domínio do assunto pelo instrutor ......................... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

D5 Estabeleceu interação com o grupo ...................... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

D6 Estabeleceu interação entre os participantes ....... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

D7 Levantou questões importantes para o grupo ........ 1 2 3 4 5 6 7 8 9

D8 Manteve domínio sobre as atividades .................... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

D9 Manteve o interesse do grupo durante o evento .... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

D10 Avaliação final quanto ao instrutor ......................... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

E Pessoal

E1 A sua expectativa em relação ao evento ............... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

E2 Índice de satisfação quanto a sua participação...... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

E3 Seu interesse pelo tema anunciado ....................... 1 2 3 4 5 6 7 8 9

E4 Sua satisfação com o evento ................................. 1 2 3 4 5 6 7 8 9

Observações complementares:

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________________

____________________________________________________________________

55

Anexo 3 - Folha de texto da dinâmica de grupo

A importância de uma informação

Ler o texto com atenção e decidir com a rapidez que o momento exige: Você está num voo São Paulo-Roma. Trinta minutos após uma breve escala técnica em Dakar, o piloto consegue transmitir um alerta ao serviço de patrulha aérea: Estamos pegando fogo. O avião cai e toda tripulação morre. Você e seus companheiros estão salvos e ilesos. Agora você tem que escolher, entre os objetos resgatados do desastre, 5 itens essenciais para sua sobrevivência. (classificando de 1 a 5, por ordem importância)”

Opção

Pessoal

Opção do grupo

Opção técnica

Objeto

A Um canivete

B Um espelho de bolso

C Um estojo de primeiros socorros

D Um litro de água

E Um litro de vodka

F Um livro “Animais comestíveis do deserto”

G Um mapa aéreo

H Um par de óculos escuros

J Um pára-quedas vermelho e branco

K Um quilo de sal

L Um sobretudo de lã

M Uma bússola

N Uma capa plástica para chuva

P Uma lanterna de 4 pilhas

Q Uma pistola 45 (carregada)

Durante a discussão em grupo: 1. Procure liderar o grupo nas tomadas de decisão, não aceite imposições; 2. Não aceite opinião baseada no “achismo”, procure explicação científica; 3. Faça com que todos participem da discussão, o grupo é democrático. Análise final: 1. Você estava melhor ou pior, antes de reunir com o grupo? 2. Você levou o grupo a tomar atitudes corretas? 3. Como você produz melhor, sozinho ou em grupo?

56

Anexo 4 - Tabulação geral da pesquisa

Instituição 1 2 3 4 5 6 7 8 M

Quantidade de participantes 36 12 46 29 28 30 207 33 421

Turmas 2 1 1 2 1 1 3 1 12

A Organização 77 79 49 54 70 73 82 69 69,1

A1 A forma como foi feita a convocação (ou

convite)

77 78 37 45 64 74 81 70 65,8

A2 A idéia fornecida sobre o evento 72 78 49 44 76 76 86 69 68,8

A3 Local do evento 84 81 60 72 71 71 78 70 73,4

B Evento 88 91 75 77 82 83 88 85 83,6

B1 Os objetivos do evento foram explicitados 80 88 68 73 79 83 88 82 80,1

B2 Os objetivos do evento foram atingidos 90 97 78 75 81 81 87 88 84,6

B3 A realidade teórico-prática do conteúdo 87 85 68 74 80 81 86 83 80,5

B4 Avaliação geral quanto ao evento 90 92 81 84 84 84 88 88 86,4

B5 Validade do evento para sua atividade 93 94 82 81 85 87 89 86 87,1

C Grupo 83 88 79 76 78 79 81 80 80,5

C1 A participação do grupo durante o evento 82 92 88 76 82 80 75 76 81,4

C2 O interesse do grupo nas atividades 88 96 86 78 85 81 80 82 84,5

C3 Aproveitamento do conteúdo 89 97 84 79 84 86 88 85 86,5

C4 Nível de preparo para esse evento 76 68 58 71 60 71 81 78 70,4

D Instrutor 91 94 81 85 87 85 90 88 87,6

D1 A sua impressão inicial sobre o instrutor 74 86 75 75 75 80 87 78 78,8

D2 A ocupação do tempo durante o evento 88 83 76 79 77 71 85 88 80,9

D3 Capacidade didática do instrutor 96 94 84 92 95 91 93 92 92,1

D4 Domínio do assunto pelo instrutor 96 99 89 92 93 93 93 95 93,8

D5 Estabeleceu interação com o grupo 89 97 81 82 85 83 86 85 86,0

57

D6 Estabeleceu interação entre os participantes 89 94 75 81 88 81 85 84 84,6

D7 Levantou questões importantes para o grupo 92 96 78 85 88 88 91 86 88,0

D8 Manteve domínio sobre as atividades 95 97 84 89 88 88 91 90 90,3

D9 Manteve o interesse do grupo durante o evento 94 92 85 86 88 86 91 90 89,0

D10 Avaliação geral quanto ao instrutor 95 99 88 91 94 90 96 92 93,1

E Pessoal 88 92 79 79 82 83 90 87 85,0

E1 A sua expectativa em relação ao evento 81 89 71 71 76 77 88 83 79,5

E2 Índice de satisfação quanto a sua participação 85 89 80 79 81 83 90 86 84,1

E3 Seu interesse pelo tema anunciado 89 93 86 80 81 87 91 87 86,8

E4 Sua satisfação com o evento 95 96 86 87 90 87 92 90 90,4

média geral 85 89 73 74 82 82 87 82 81,8