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DIREITO PENAL IProf. Dr. Urbano Félix Pugliese
O concurso de pessoas
Há vários “concursos” na dogmática penal: 1) Concurso de crimes: Quando há vários
crimes possíveis diante de um mesmo fato; 2) Concurso de normas: Quando há várias
normas, aparentemente, a ser aplicadas diante de um mesmo fato;
3) Concurso de penas: Quando há várias penas a ser aplicadas diante de um mesmo fato; e
4) Concurso de pessoas: Quando há mais de uma pessoa na feitura de uma infração penal.
Conceito de concurso de pessoas: Haverá concurso de pessoas quando, em uma
mesma infração penal (crime ou contravenção), houver duas ou mais pessoas;
Nomes a serem utilizados: Autores/coautores e partícipes (no Brasil não existe o “cúmplice”); e
Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.
Explicações iniciais: Nem sempre quando pessoas se juntam haverá concurso de
pessoas; Crimes unissubjetivos/eventual: São aqueles que podem
ser realizador por uma única pessoa (ex. Estupro, homicídio);
Crimes plurissubjetivos/necessário: São aqueles nos quais há de haver mais de uma pessoa para a sua feitura;
a) Convergente: As pessoas atuam com os mesmos objetivos porém com condutas típicas diferentes (Ex Bigamia);b) Divergente: As pessoas atuam com objetivos diferentes (Ex. Rixa); ec) Paralela: As pessoas atuam com os mesmos objetivos e podem atuar com condutas idênticas (ex. Associação criminosa).
Requisitos do concurso de pessoas: 1) Pluralidade de agentes e de condutas; 2) Relevância jurídica e causal das condutas
(em regra a participação se dá antes da execução do delito; ações neutras não serão punidas);
3) Vínculo subjetivo entre os agentes (Não existe participação dolosa em crime culposo nem participação culposa em crime doloso; desnecessária prévia combinação; pode haver participação sem o conhecimento do autor); e
4) Identidade da infração criminal (regra): Pode haver exceções à teoria monista.
Teorias a respeito dos crimes em relação ao concurso de pessoas: 1) Teoria
monística/monista/unitária/igualitária (concursus plurium ad idem delictum): Todos as pessoas respondem pelo mesmo delito (adotada pelo CP);
2) Teoria pluralista/da cumplicidade-delito/da autonomia da concorrência: Cada pessoa responde por um delito diferente (também é adotada pelo CP como exceção); e
3) Teoria dualística/dualista: Há um crime para os autores e um crime diferente para os partícipes.
Tabela elucidativa:Teoria Explicação
Monista*Todos os agentes
respondem pela mesma infração penal
Dualista Há infrações penais de autores e de partícipes
Pluralista*Cada agente responde
por uma infração diferente
As teorias do conceito de autoria: 1) Conceito unitário de autor: Todos são
autores; não há partícipes; 2) Conceito extensivo de autor: Autor é aquele
que causa o resultado (salvo se estiver correspondido em alguma das categorias de participação);
3) Conceito subjetivo de autor: O autor atua com animus actoris e o partícipe com animus socii; e
4) Conceito restritivo de autor: Nem toda pessoa que causa o crime é autor.
Conceito restrititvo de autor: Conceito restritivo de autor: Nem toda pessoa que
causa o crime é autor; Divide-se em: a) Teoria objetivo-formal: Autor realiza o tipo;
partícipe contribui sem realizar o verbo típico (CP); b) Teoria objetivo-material: O autor causa o
resultado (é mais importante para a o crime) e o partícipe condiciona o resultado (menos importante); e
c) Teoria do domínio do fato: Autor é aquele que possui o domínio final (domínio da ação/funcional/da vontade) do fato (Hans Welzel).
Teoria do domínio do fato: Criada por Hans Welzel; Aplicada no Brasil completando a teoria
objetivo-formal; O participe concorre para o crime sem ter o
domínio do fato; Só funciona nos crimes dolosos (nos culposos
não se fala em domínio do fato); e Teoria da cegueira deliberada (Willful/Wilful
Blindness): Quando o autor/partícipe constrói a cegueira a respeito dos fatos; há atos voltados para manutenção da ignorância.
Tabela elucidativa:Teoria Explicação
Unitária Todos são autores; não há partícipes
Restritiva* Há autores e partícipes
Extensivo Autor é quem causa o resultado
Subjetivo Autor é quem tem dolo de autor
Tabela elucidativa da Teoria Restritiva:
Teoria restritiva Explicação
Objetivo-formal* Autor é quem realiza o verbo típico
Objetivo-material Autor causa e partícipe condiciona o resultado
Domínio do fato Autor é quem domina o fato
Espécies de autoria:
1) Imediata: O próprio agente realiza o tipo penal (pode se dar através de alguns instrumento ou animal); e
2) Mediata: O agente utiliza outra pessoa não culpável para realizar o tipo penal diretamente (não há concurso de pessoas).
Situações de autoria mediata: a) Inimputabilidade do executor; b) Coação moral irresistível; c) Obediência hierárquica; d) Erro de proibição inevitável; e) Erro de tipo inevitável provocado por terceiro; f) Ação justificada do executor: O autor mediato
provoca uma situação em que o executor praticará um fato típico porém acobertado por uma causa de exclusão de ilicitude; e
g) Autoria de escritório/aparatos organizados de poder.
Nomenclatura da autoria: Autoria de determinação: A pessoa
responderá por ter cometido o delito de determinar a violação;
Autoria colateral/paralela: Cada pessoa faz o seu comportamento e o resultado ocorre por causa de um só deles (Não há concurso de pessoas);
Autoria incerta: Quando não se sabe o causador da ofensa ao bem jurídico;
Autoria ignorada: Desconhece-se o autor do crime; [...]
Nomenclatura da autoria: Autoria acessória/secundária/colateral
complementar: Há duas condutas causadoras do resultado que isoladas não causariam;
Autoria de reserva: Quando uma pessoa espera a sua vez para atuar no delito;
Autoria sucessiva: Quando alguém ofende o mesmo bem jurídico já afetado antes por outra pessoa (não há concurso de pessoas);
Coautoria sucessiva: Quando alguém entra no iter criminis do crime alheio já perto da consumação (há dolo); [...]
Nomenclatura da autoria: Coautoria sucessiva: O resultado pode ser
alcançado com a conduta de um dos agentes, mas será extensivo ao outro;
Autoria por convicção: Ocorre o crime por conta de questões de consciência;
Autoria intelectual: Quando há um mandante (causa o agravamento da pena); e
Atuação em nome de outrem: Ocorre nas hipóteses e que o executor, que atua em nome de outrem, não reúne as qualidades específicas para realizar o tipo penal. Assim, não pode ser autor.
Participação: Conceito: O partícipe ajuda (instiga, induz ou
auxilia) o autor/coautor na infração penal; Não é o protagonista da ação criminosa; Não realiza os verbos típicos; Não domina os fato; A participação é punida por ser uma forma de
adequação típica de subordinação mediata/indireta;
Participação moral: Induz ou instiga; e Participação material: Auxilia.
Teorias da participação (acessoriedade): Teoria da acessoriedade mínima: Pune-se a
participação quando ao menos o fato for típico; Teoria da acessoriedade limitada/média: Pune-se a
participação quando ao menos o fato for típico e ilícito (adotada pelo CP);
Teoria da acessoriedade extremada/máxima: Pune-se a participação quando ao menos o fato for típico, ilícito e culpável; e
Teoria da hiperacessoriedade: Pune-se a participação quando ao menos o fato for típico, ilícito, culpável e punível.
Tabela elucidativa:Teoria Explicação
Mínima Basta ser típico
Limitada* Precisa ser típico e ilícito
MáximaPrecisa ser típico, ilícito e
culpável
HiperPrecisa ser típico, ilícito,
culpável e punível
Nomes da participação: Participação de menor importância: Quando
a participação não é crucial para o deslinde da ação criminosa (art. 29, § 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço); e
Participação criminal mediante ações neutras: Ações dentro do princípio da confiança e sem incrementar riscos proibidos (Teoria da imputação objetiva) não podem ser punidas; [...]
Nomes da participação: Participação por omissão: Quando a
participação se dá através de um ato omissivo; Participação em ação alheia: Participação sem
liame subjetivo; Participação de participação (participação em
cadeia/mediata): Quando há uma participação para alguém participar de uma infração penal;
Participação sucessiva: Participação sem vínculo subjetivo mas com soma de esforços; e
Participação alias facturus: Participação inócua ao delito.
Nomes da participação: Participação negativa: Quando há uma mera
conivência (a pessoa não está obrigada a evitar o resultado da infração penal);
Cooperação dolosamente distinta: Cada um responde pelo seu dolo;Art. 29, § 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
Comunicabilidade de elementares e circunstâncias:Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Elementares (circunstâncias sem quais o tipo
se descaracteriza) x circunstâncias (circum stare = estão ao redor do tipo sem o caracterizar – são acidentais ao delito); e
Elementares: Essentialia delicti (elementos constitutivos do delito: subjetivos, objetivos e normativos).
Comunicabilidade de elementares e circunstâncias:Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime. Elementares (circunstâncias sem quais o tipo
se descaracteriza) x circunstâncias (circum stare = estão ao redor do tipo sem o caracterizar – são acidentais ao delito); e
Elementares: Essentialia delicti (elementos constitutivos do delito: subjetivos, objetivos e normativos).
Comunicabilidade de elementares e circunstâncias: Elementares: a) Objetivas (Não se referem à pessoa):
Comunicam-se; b) Subjetivas (referem-se à pessoa):
Comunicam-se; Circunstâncias: a) Objetivas: Comunicam-se; e b) Subjetivas: Não se comunicam
Caso de inimpunibilidade:Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado;Curiosidades: Não há coautoria nos crimes omissivos próprios
(mas, há participação); Há coautoria e participação nos crimes omissivos impróprios;
Há possibilidade de coautoria nos crimes culposos (mas, não há participação); e
Há possibilidade de coautoria e participação nos crimes próprios.
Curiosidades: Há possibilidade de coautoria e participação nos
crimes de mão própria (STF); Há possibilidade de participação nos crimes de
mão própria mas não de coautoria (STJ) Agrava-se a pena do “Líder” no caso do
concurso de pessoas; e Súmula 704/STF: “Não viola as garantias do
juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados.”