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Ψ Fundamentos Teóricos em Psicologia II – Comportamentalismo Aula 5 Discriminação e controle de estímulos 1 Prof. Dr. Caio Maximino

Discriminação e controle de estímulos 1

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Fundamentos Teóricos em Psicologia II – Comportamentalismo

Aula 5

Discriminação e controle de estímulos 1

Prof. Dr. Caio Maximino

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Objetivos da aula● Discutir o conceito de estímulo discriminativo e suas relações com

o controle de estímulos

● Situar os conceitos de comportamento voluntário e involuntário dentro do paradigma de controle de estímulos

● Definir e exemplificar repertório discriminativo

● Analisar o fenômeno da atenção sob a ótica do controle de estímulos

● Analisar os efeitos da variação na relação temporal entre estímulos discriminativos, respostas, e consequências na formação da contingência tríplice

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Estímulos discriminativosSDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

● No capítulo anterior, Skinner descreveu o reforço com base nas dimensões das respostas, mas o reforço diferencial também pode ocorrer com base nas dimensões do estímulo em cuja presença as respostas ocorrem

Relaçõestemporais

SD – R – S+/-

Na presença do estímulo...

… emitir uma resposta...

… produz uma consequência

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Exemplos

● “Podemos demonstrar como isso acontece no nosso experimento com o pombo, através de reforço (S+) do movimento de pescoço quando surge um sinal luminoso (SD) e do não-reforço (~S), para extinção, quando a luz se apaga (S∆). Com a repetição alternada dessas condições o movimento (R) ocorre apenas quando a luz está acesa.” (CCH, p. 118)

● Sob instrução médica (SD), aplicar insulina duas vezes ao dias (R) diminui os sintomas de hiperglicemia (S+)

● Ler (R) livros (SD) é reforçado socialmente (S+)

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Sinalização de apresentação de estímulos vs. sinalização das

consequências● “Assim, podemos observar uma conexão de estímulo e

resposta que é grosseiramente comparável a um reflexo condicionado ou incondicionado: o aparecimento da luz será imediatamente seguido do movimento da cabeça para cima” (CCH, pp. 118-119)

● A diferença fundamental é que aqui o comportamento é emitido, e não eliciadoi. Quando um estímulo é a causa fundamental de uma resposta,

dizemos que o estímulo elicia a resposta ou que a resposta é eliciada; mas,

ii.quando uma resposta ocorre em presença de um estímulo, porque o estímulo sinaliza alguma consequência do responder, dizemos que o estímulo ocasiona a resposta e que a resposta é emitida (Catania, 1999)

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Contingências de três termos● “O operante deve operar sobre a natureza para produzir seu

reforço. Embora a resposta seja livre para ocorrer em um grande número de situações estimuladoras, ela será eficaz para produzir o reforço apenas em uma pequena parcela delas. A situação favorável geralmente é marcada de algum modo e o organismo (...) passa a responder sempre que estiver presente um estímulo que esteve presente em uma situação prévia de reforço, e a não responder, se este não for o caso. O estímulo precedente não elicia a resposta, ele meramente estabelece a ocasião em que a resposta será reforçada (…). Portanto, três termos devem ser considerados: um estímulo discriminativo prévio (SD), a resposta (RO) e o estímulo reforçador (SP). A relação entre eles pode ser formulada como segue: apenas em presença de SD é que uma R° é seguida de S1.” (Skinner, 1938, p. 178)

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Exemplos (CCH)● “a estimulação visual de um objeto é a ocasião na qual certas respostas como andar, alcançar, e outras, levam a

consequências táteis particulares” (p. 119)

● “Um sorriso é a ocasião na qual a aproximação social será recebida com aprovação. Franzir o sobrolho é a ocasião na qual a mesma aproximação não será bem recebida” (p. 120)

● “Uma cadeira é a ocasião na qual a resposta 'cadeira' provavelmente será reforçada; um gato é a ocasião na qual a resposta 'gato' terá probabilidade de ser reforçada e assim por diante” (p. 120)

● “Ao memorizar a tabuada de multiplicação, por exemplo, o estímulo '9 x 9' é a ocasião na qual a resposta '81' será apropriadamente reforçada, seja pelo instrutor ou pelo término bem-sucedido de um cálculo” (p. 121)

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Definições (Catania, 1999)● Operante discriminado: Classe de respostas definidas em

termos dos estímulos na presença dos quais ele ocorre, assim como de seus efeitos sobre o ambiente

● Estímulo discriminativo: Qualquer estímulo com uma função discriminativa, correlacionado com o reforço

● Discriminação: qualquer diferença no responder que resulta de consequências diferenciais do responder na presença de estímulos diferentes

● Controle de estímulos: Controle discriminativo do comportamento (incluindo o controle em uma discriminação respondente)

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Controle de estímulos e variáveis internas

● “Controle de estímulos significa que um estímulo exerce controle sobre o comportamento - que o comportamento muda em sua presença. Seria incorreto dizer que o estímulo exerce controle sobre o rato ou a pessoa, pois nesse caso o rato ou a pessoa teriam de se empenhar em alguma ação mental fantasmagórica, como atentar, para passar do estímulo ao comportamento. A idéia presente no conceito de controle de estímulo é a de que o estímulo afeta o comportamento diretamente.” (Baum, 2006)

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Controle de estímulos e comportamento voluntário

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

● “não se pode distinguir entre comportamento voluntário e comportamento involuntário apenas levantando o problema de quem está no controle.” (CCH, p. 123)

● Essa distinção corresponde à distinção entre estímulos eliciadores e estímulos discriminativos, mas não é trivial: uma vez estabelecido historicamente*, o SD causa o comportamento de forma tão “inexorável” quanto um CS

* “Toda discriminação resulta de uma história. Se não foi aprendida, resulta de uma história evolutiva (...) Se a discriminação é aprendida, ela provém de uma história de reforço.” (Baum, 2006)

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Controle de estímulos e comportamento voluntário

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Controle de estímulos e comportamento voluntário

● “Quando um estímulo discriminativo tem um efeito sobre a probabilidade de uma resposta, vemos que o ambiente presente é realmente importante, mas não é fácil provar a inevitabilidade do controle sem uma descrição adequada da história de reforço e privação” (CCH, p. 124)

● Isso equivale a dizer somente que o estímulo discriminativo é correlacionado com a consequência

● “Essa é toda a explicação: a discriminação provém da história. Nada de mental – normalmente nada nem mesmo privado – entra na explicação” (Baum, 2004)

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Controle de estímulos e comportamento voluntário

● Involuntário vs. Voluntário = Respondente vs. Operante: “No reflexo, condicionado ou incondicionado, há uma causa antecedente conspícua. Algo dispara a resposta. Mas o comportamento que tem sido reforçado positivamente ocorre em ocasiões que, embora predisponham, nunca são impelentes” (Sobre o Behaviorismo, p. 4)

● Por vezes, o controle de estímulos dá a aparência de eliciação, mas aqui Skinner ressalta a diferença entre operações apresentação de estímulos (respondente) e operações de sinalização de consequências (operante)

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Repertórios discriminativos● “Vimos que qualquer unidade de comportamento operante é

até certo ponto artificial. O comportamento é atividade contínua, coerente, de um organismo integral. Não obstante possa ser analisado em partes para propósitos teóricos ou práticos, precisamos reconhecer sua natureza contínua com vistas a resolver certos problemas comuns” (CCH, p. 128)

● Tanto o estímulo quanto a resposta variam em dimensões: “O comportamento é adquirido em ocasiões específicas quando respostas específicas a situações específicas são reforçadas, mas o organismo, quase inevitavelmente, adquire um repertório coerente que pode ser descrito sem referências às origens 'ponto a ponto' dos dois campos” (id. ibid.)

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Exemplo 1: Desenhar copiando● “Ao desenhar copiando outro desenho (…) nosso comportamento é o

produto de um conjunto de contingências” (CCH, p. 130) → Uma parte da figura (uma linha, uma curva, &c) é a ocasião (SD) na qual certos movimentos com lápis e papel produzem uma linha semelhante

● Representar um objeto através de desenho é similar

● Desenhar copiando é um repertório discriminativo; um conjunto amplo de respostas bastante diferentes pode ser ocasionada pelo mesmo campo de estímulos (≠s em como a criança, o desenhista profissional, e o engenheiro fazendo esquemas “representam” o mesmo campo)

● A explicação está em uma história de reforçamento diferente em cada um desses casos

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Exemplo 2: Cantar ou tocar de ouvido

● Tocar um instrumento ou cantar uma canção também depende de repertórios dispostos por contingências tríplices: o tom é o SD sob o qual a vocalização complexa será reforçada por gerar um tom parecido

● “Não se pode ser um bom imitador por um 'ato de vontade'. A diferença está nas histórias de reforço. Se o repertório com o qual alguém reproduz uma melodia nunca foi estabelecido, não será colocado em ação pelas circunstâncias apropriadas.” (CCH, p. 132)

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Exemplo 3: Imitação

● “Tanto quanto sabemos, o comportamento imitativo não surge por ação de nenhum mecanismo reflexo inerente. Tal mecanismo implicaria que o estímulo gerado por um dado padrão de comportamento em outro organismo eliciasse em um outro organismo uma série de respostas com o mesmo padrão” (CCH, p. 132)

● “A estimulação visual fornecida por alguém agitando a mão é a ocasião na qual agitar a mão provavelmente receberá reforço. O estímulo auditivo 'pa-pa' é a ocasião na qual a resposta verbal complicada que produz um padrão auditivo parecido é reforçada pelo pai satisfeito.” (id ibid)

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Estímulos contínuos● A maior parte dos estímulos discriminativos varia em mais de

uma dimensão, e essas dimensões são contínuas– Ex: Um estímulo luminoso pode variar em luminância e cor

● Se uma resposta é reforçada em durante um SD, e alguma propriedade do SD é variada, o responder pode depender de quanto o estímulo mudou; nesse caso, os efeitos do reforço podem se estender para outros estímulos semelhantes (generalização)

● Para avaliar um gradiente de generalização, treinamos um operante discriminado e então, em extinção, apresentamos estímulos que variam na mesma dimensão do SD e avaliamos o responder

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Gradientes de generalização● Um grupo de pombos foi treinado

em VI na presença constante do tom

● Nem a frequência do tom nem sua presença ou ausência

● Outro grupo de pombos, o tom estava presente em correlação com a resposta

● A frequência original produziu a maior frequência de Rs; quanto mais próxima a frequência de teste da frequência original, maior a taxa de R a essa nova frequência

Jenkins e Harrison, 1960

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Gradientes de pós-discriminação● Aqui, um grupo de pombos teve seu

responder observado após o treino de discriminação com somente SD

● Em outro grupo, as bicadas ao disco foram reforçadas sob SD e extintas sob outro comprimento de onda (S∆)

● O pico do gradiente foi deslocado em direção oposta ao S∆

● Spence (1937): O reforço na presença de SD cria um gradiente de resposta “excitatório” centrado no SD, enquanto a extinção na presença de S∆ produz um gradiente “inibitório”

● Pode refletir propriedades fisiológicas

Hanson, 1959

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Gradientes de inibição

● Um grupo de pombos foi treinado a bicar um disco com uma linha vertical com SD, para outro grupo a linha vertical era um S∆

● No primeiro grupo, o responder em teste de generalização diminuiu com os maiores desvios na vertical; no segundo grupo, o responder aumentou com os maiores desvios da vertical

Honig et al., 1963

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

Gradientes e atenção● Gradientes são medidas do responder durante diferentes

estímulos como uma função de sua localização ao longo de um contínuo

● “Qualquer que seja o gradiente, podemos sempre formular questões sobre as dimensões de estímulo a que de fato um organismo presta atenção.” (Catania, 1999)

● “O controle exercido por um estímulo discriminativo é tratado tradicionalmente no tópico atenção. Este conceito inverte a direção da ação ao sugerir que não é o estímulo que controla o comportamento do observador, mas é o observador que atenta para o estímulo e assim o controla. Não obstante, às vezes reconhecemos que o objeto 'chama ou mantém a atenção' do observador.” (CCH, p. 135)

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Exemplos cotidianos

● “Uma orientação dos olhos não é o único resultado possível. O comportamento de procurar enxergar no escuro ou em um espesso nevoeiro é um exemplo de olhar com orientação para o campo visual inteiro. O comportamento de examinar o campo - ou responder a cada parte do campo de acordo com algum padrão exploratório - é o comportamento que é mais frequentemente reforçado pela descoberta de objetos importantes; por consequência, torna-se mais provável.” (CCH, p. 136)

● O controle de estímulos pode explicar vigilância (“atentar para”) e atenção seletiva

SDs e S∆s

Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

Relaçõestemporais

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Propriedades temporais da contingência tríplice

● “Quando propriedades temporais são somadas à tríplice contingência do operante discriminativo, contudo, alguns efeitos especiais se seguem.” (CCH, p. 139)

● Respostas podem ser reforçadas somente quando emitidas o mais rápido possível (p. ex., atender o telefone)

● Respostas podem ser reforçadas somente quando retardadas (p. ex., efeito líquido reduzido se alguém responde prontamente) → “Expectativa” ou “antecipação”

● Algumas dessas propriedades serão relevantes para a análise das emoções e do autocontrole nos capítulos futuros

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Voluntário einvoluntário

Repertóriodiscriminativo

Atenção

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