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DO ESTADO E DAS ESCOLAS Fernando Adão da Fonseca

Do Estado e das Escolas - por Fernando Adão da Fonseca

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Do Estado e das Escolas… É fácil perceber que as escolas vêm o seu papel bastante valorizado e são condicionadas positivamente de forma a alterarem as suas práticas e procedimentos sempre que a liberdade de escolha é a base de um sistema educativo…

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DO ESTADO E DAS

ESCOLASFernando Adão da Fonseca

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Do Estado e das Escolas… É fácil perceber que as escolas vêm o seu papel bastante valorizado e são condicionadas positivamente de forma a alterarem as suas práticas e procedimentos sempre que a liberdade de escolha é a base de um sistema educativo…

DO ESTADO

E DAS ESCOLAS

Fernando Adão da Fonseca

É preciso não ter dúvidas em relação a esse pressuposto. As escolas, na linha da situação que actualmente existe, foram obrigadas a transformar-se em meras repartições burocráticas.

Não é obrigatório que fulanizemos a culpa relativamente a esta situação. Existe uma enorme panóplia de condicionantes que nos trouxeram até à situação em que nos encontramos e que, para além das vicissitudes políticas pelas quais passou Portugal e que conhecemos relativamente bem, a destruturação das famílias e a alteração dos hábitos comunitários, acabaram também por constranger comportamentos de vária ordem que na prática foram condicionando o papel e a importância da educação na formação das novas gerações de crianças e jovens.

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O que importa, sabendo nós que é do futuro que estamos a tratar, é conseguir alterar a situação e mostrar que existem caminhos alternativos que são congruentes e significantes para Portugal. Queremos alterar paradigmas e gerar consensos em torno do que é preciso fazer. Porque a crise que hoje atravessamos, será certamente a oportunidade de que necessitamos para empreender a mudança, alterar atitudes e comportamentos e readequar o nosso sistema educativo àquilo que são as necessidades reais de Portugal e dos Portugueses.

E a principal necessidade em termos educativos que o nosso País hoje apresenta é precisamente a da liberdade. Precisamos da liberdade de escolher a melhor escola para os nossos filhos; precisamos da liberdade para criar escolas que respondam com qualidade aos problemas com os quais nos deparamos; precisamos urgentemente da liberdade suficiente para gerir as escolas que temos e para, com isso, podermos rapidamente colocar Portugal na vanguarda do conhecimento, intervenção crítica e da produtividade. Mas sabemos bem que não existe liberdade sem competição e essa, no actual sistema, é quase um assunto tabu, sobre o qual quase parece pecado falar. A competição, entre as escolas, entre professores, entre alunos, é um motor de cidadania e é, simultaneamente, um elemento regulador do mercado e assim da própria capacidade da escola.

O carácter saudável que deve estar associado à competição, centrado na necessária intervenção do Estado enquanto elemento fiscalizador do sistema, propulsiona as escolas dotando-as da energia para evoluírem e para empreenderem esforços sérios no sentido de se adaptarem às necessidades dos seus alunos e das comunidades nas quais se inserem.

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Nunca ninguém bateu nenhum record numa corrida correndo sozinho! A gestão dos equilíbrios com os restantes participantes é elemento motivador que é essencial em qualquer processo evolutivo no qual o crescimento dinâmico seja importante.

Essas escolas activas e empreendedoras, que são também elas pólos de intervenção cívica e comunitária, suportam a cidadania e, por isso, são elas próprias pilares da liberdade e da democracia pelas quais pugnamos. Como é possível que uma criança que cresce e aprende numa escola em que todos, desde o director até ao mais humilde funcionário, se portam como simples funcionários adquira o espírito de inovação e de empreendedorismo que é tão importante no Mundo em que vivemos? Se todos e tudo são iguais, como infelizmente acontece em tantas escolas que conhecemos, de que vale a um professor ser activo, dinâmico e empreendedor se, no fim, até pode ser ostracizado pela forma excelente que caracteriza o seu comportamento?...

As escolas assim tratadas, estagnadas no tempo e verdadeiramente impedidas de se recriarem a partir do conjunto de valores que dão forma à sua comunidade, tendem a ser permeáveis aos interesses políticos que as tutelas e a mostrarem pouca liberdade para defender e fazer florescer ideias alternativas àquelas que são defendidas pelos órgãos da tutela. Esta situação conduz ao controle político e burocrático do ensino, afinal a situação em que agora nos encontramos, e facilita as concepções totalitárias da educação, tal como nos tem mostrado a História ao longo dos séculos.

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Por fim, esta perspectiva centralizadora da educação, conduz a uma situação profundamente injusta em que as escolas que pertencem ao Estado são tratadas como filhas e as outras, as que nascem e vivem da iniciativa privada, são tratadas como enteadas. Num cenário destes, como aquele que hoje caracteriza a educação em Portugal, o mérito e a excelência são tratados com meros pormenores, valorizando-se somente o detentor da propriedade, independentemente da qualidade do seu trabalho ou a excelência do serviço que essa mesma escola presta à sociedade.

Num paradigma de liberdade, as coisas funcionam com uma perspectiva inversa. É a qualidade do ensino e da prática pedagógico-educativa, associado aos resultados que o Estado tem como incumbência registar e informar, que determina o sucesso e o apoio que as escolas recebem e a forma como são tratadas. Fomenta-se assim a excelência e, no que à iniciativa diz respeito, põe-se um ponto final muito assertivo nas práticas totalitárias que há já tantos anos vêm caracterizando a educação em Portugal.

Mais grave ainda do que as situações que acabámos de referir, é que esta escola dependente do Estado, no qual é o Ministério da Educação que determina pormenorizadamente tudo aquilo que acontece dentro do recinto escolar a partir de uma qualquer directiva emanada a partir de uma secretaria em Lisboa e sem qualquer espécie de respeito pelas características da escola, dos seus alunos e das comunidades que a envolvem, se torna uma escola que desresponsabiliza os pais perante a educação dos seus filhos.

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Hoje em dia, quando falamos na liberdade de escolha, muitos são aqueles que vêm dizer que os pais não se interessam, não estão preparados e não querem intervir directamente na escolha da educação dos seus filhos. Devo sublinhar que, em nosso entender, isso é uma das grandes falácias que se criaram neste sistema e que subverte por completo a realidade em que vivemos. O que acontece, de facto, é que o próprio sistema impede a participação e afasta os pais e as comunidades da escola. Os muros dos estabelecimentos de ensino, não têm como única função delimitar a propriedade e proteger as crianças. Muito pelo contrário! Estão ali para afastar os pais da escola, retirando-lhes a responsabilidade pela determinação daquilo que há-de ser o percurso educativo e, mais tarde, o futuro profissional dos seus educandos.

Quando o Estado diz aos pais que é esta a única escola onde eles podem inscrever os seus filhos, e que do portão para dentro já não nada com eles aquilo que lá se passa, assumindo todas as escolhas (e as suas consequências) e retirando a esses pais a possibilidade de escolherem, está a desresponsabilizar as famílias e a passar-lhes um atestado de menoridade que é muitíssimo gravoso, a vários níveis, para a qualidade do nosso ensino.

Por outro lado, também desresponsabiliza a escola e os próprios professores perante aquilo que acontece fora do estabelecimento de ensino. O portão, simbolicamente representando o espaço de cisão, torna-se uma barreira efectiva entre a escola, os professores e a família. É este paradigma que temos de alterar porque dele depende a qualidade do ensino das nossas escolas. E desse, por seu turno, depende o futuro da próxima geração de Portugueses.

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