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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS Profa. Dra. Cleide Magáli UNIDADE I- Processo histórico de construção dos direitos humanos no mundo e no Brasil. Bases conceituais: democracia; direitos humanos. AULA 5 INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Educação e direitos humanos Aula 5 Internacionalização dos direitos humanos

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

Profa. Dra. Cleide Magáli

UNIDADE I- Processo histórico de construção dos direitos humanos no mundo e no Brasil. Bases conceituais:

democracia; direitos humanos.

AULA 5 INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

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Direitos Humanos como sistema de segurança coletiva

• Luta interna pelo respeito dentro de cada Estado Nação.

• Após a Primeira Guerra Mundial: Apenas a proteção de alguns grupos teve uma dimensão internacional. proteção internacional das minorias, equipada como uma proteção de grupo, mas que beneficiou também o indivíduo (em momentos de conflito).

• Assim, até a Segunda Guerra Mundial (genocídio nazista), os direitos humanos eram assunto interno dos Estados. Em geral, supõe-se que até a Segunda Guerra Mundial não houvesse uma proteção sistemática dos direitos humanos pelo Direito Internacional Público. Desde os horrores da Segunda Guerra Mundial, a comunidade internacional traçou, em 1945, a meta de “preservar as gerações vindouras dos flagelos da guerra” , que deveria ser alcançada por meio de um sistema de segurança coletiva, através da ONU. Concluiu-se que todos os Estados-Membros deveriam cooperar estreitamente em todas as áreas da vida internacional

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Sistema de segurança coletiva pela ONU:

• A consolidação institucional do Sistema DH da ONU deu-se através

Conselho Econômico e Social (ECOSOC)

Comissão de Direitos Humanos (CDH)

• Comissão de Direitos Humanos (CDH) Tarefa de definições de padrões internacionais para DH

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Carta das Nações Unidas (26/06/1945)

• Direito Internacional Público: Essa abordagem está consubstanciada no art. 55 da Carta das Nações Unidas,

Com o fim de criar condições de estabilidade e bem-estar, necessárias às relações pacificas e amistosas entre as Nações, baseadas no respeito ao princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, as Nações Unidas favorecerão […] c) o respeito universal e efetivo dos direitos humanos e das liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.

No art. 13 da Carta das Nações Unidas, é também determinado que a Assembleia Geral da ONU deve contribuir para a efetivação dos direitos humanos. Em seu preâmbulo, os Estados-Membros comprometem-se com os direitos humanos. Com o estipulado na Carta da ONU, os direitos humanos foram, pela primeira vez, matéria do Direito Internacional Público

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Criticas à Carta

• Pouco refinamento nos aspectos culturais e ideológicos• Embora a Carta das Nações Unidas fale de “direitos humanos e liberdades

fundamentais”, ela não contém uma definição para esses termos. • Artigos vagos

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• A Comissão de Direitos Humanos em dois anos elaborou a Declaração Universal dos Direitos Humanos

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Declaração Universal de Direitos Humanos (10/12/1948)

• Nela a Assembleia Geral da ONU esclareceu o que a organização e seus Estados-membros compreendiam por direitos humanos e liberdades fundamentais.

• No seu preâmbulo, são reconhecidos a dignidade inerente e os direitos inalienáveis de todos os membros da sociedade como condição para liberdade, justiça e paz no mundo. Em seus 30 artigos, são listados direitos políticos e liberdades civis (art. 1–22), bem como direitos econômicos, sociais e culturais (art. 23– 27). À primeira categoria pertencem, entre outros, o direito à vida e à integridade física, a proibição da tortura, da escravatura e de discriminação (racial), o direito de propriedade, o direito à liberdade de pensamento, consciência e religião, o direito à liberdade de opinião e de expressão e à liberdade de reunião. A segunda categoria inclui, entre outros, o direito à segurança social, o direito ao trabalho, o direito à livre escolha da profissão e o direito à educação.

• Essa concepção de DH difere fundamentalmente da visão ocidental clássica, que compreende os DH no sentido da Revolução Francesa e suas reivindicações de igualdade, liberdade e fraternidade, sobretudo como direitos civis, para defender-se de intervenções do governo nos assuntos particulares das pessoas.

• A compreensão ocidental de direitos humanos remete-se à Convenção Europeia de Direitos Humanos, que foi criada praticamente na mesma época (1950). Ela limita-se aos clássicos direitos civis e liberdades civis.

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Declaração Universal dos Direitos Humanos (cont.)• Vantagens: • considera todos os direitos humanos em sua unidade, pois os direitos humanos

econômicos, sociais e culturais não são de maneira alguma de segunda classe• documento foi aprovado por unanimidade pela Assembleia Geral (somente a

União Soviética e a Arábia Saudita se abstiveram)

• Desvantagens • não se refere à autodeterminação dos povos, pois esta é vista frequentemente

como requisito para a percepção dos direitos humanos em sua totalidade• é uma resolução da Assembleia Geral. Porém, esses documentos não são

fontes do Direito Internacional juridicamente vinculativas, mas declarações políticas

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A Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (1948)

• Paralelamente à elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a ONU também abordou a codificação de normas para o controle do genocídio, símbolo dos crimes do nacional-socialismo

• Limitou-se a situações extremas e tidas como excepcionais

• A convenção, no art. I, confirma que o genocídio é um crime internacional. O acordo visa, portanto, prevenir o crime e punir os agressores. Isso deveria realizar-se por meio de uma definição exata do crime no art. II, que afirma ser o genocídio um dos seguintes atos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, étnico ou religioso, tais como: a) assassinato de membros do grupo; b) atentado grave à integridade física e mental de membros do grupo; c) submissão deliberada do grupo a condições de existência que acarretarão a sua destruição física, total ou parcial; d) medidas destinadas a impedir os nascimentos no seio do grupo; e) transferência forçada das crianças do grupo para outro grupo.

• Essa definição é bastante ampla, mas tem pontos fracos

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Pontos fracos da Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (1948)

• A perseguição a grupos políticos não pode ser punida como genocídio.

• É também difícil demonstrar a intenção do autor.

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A Codificação dos Direitos Humanos

• A Comissão de Direitos Humanos (CDH) resolveu enfrentar o problema da diversidade jurídica dos direitos humanos políticos, civis, econômicos, sociais e culturais, elaborando duas convenções distintas, o Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (Pacto Civil), assim como o Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Pacto Social).

• Obs: O Brasil adotou ambos os pactos em 24/1/1992

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Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos (Pacto Civil)

Aprovado em assembleia geral em 1966

• Na elaboração do Pacto Civil, um ponto litigioso principal foi a maneira de controlar a realização s. Como se sabe, o direito internacional público constrói-se conhecidamente das suas disposições de acordos voluntários. Quando Estados fecham voluntariamente um acordo, é também de se esperar que se comprometam em cumpri-lo.

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Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Pacto Social)

• O Pacto Social foi elaborado paralelamente ao Pacto Civil, concomitantemente com a assembleia geral aprovada em 1966, e entrou em vigor em 1976. No início de 2009, pertenciam a esse acordo 160 países; a filiação é praticamente idêntica à do Pacto Civil (com a substancial exceção dos EUA). O Pacto é a codificação mais significativa dos direitos humanos da “segunda geração”. Juntamente com o direito ao trabalho, a condições justas de trabalho e à liberdade sindical, foram listados direitos sociais, como proteção da família, segurança social, saúde e moradia, bem como direitos culturais, como à educação.

• Obriga os países a uma implementação progressiva, de maneira que os direitos sejam estabelecidos “pouco a pouco”. Essa é também uma fraqueza como o mecanismo de execução. O Pacto Social dispõe, como o Pacto Civil, de um Comitê, que, todavia, segundo o art. 16, apenas analisa os relatórios dos Estados. Significativas são as “observações gerais”, que contribuíram essencialmente à interpretação das obrigações estatais em relação aos muitos direitos sociais negligenciados.

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A diferença crucial dos pactos está nas respectivas cláusulas gerais:• Art. 2° do Pacto Civil

(1) Os Estados-Partes do presente Pacto comprometem-se a respeitar e a garantir a todos os indivíduos que se encontrem em seu território e que estejam sujeito a sua jurisdição os direitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, religião, opinião política ou outra natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra condição.

(2) Na ausência de medidas legislativas ou de outra natureza destinadas a tornar efetivos os direitos reconhecidos no presente Pacto, os Estados do presente Pacto comprometem-se a tomar as providências necessárias com vistas em adotá-las, levando em consideração seus respectivos procedimentos constitucionais e as disposições do presente Pacto. [...]

• Art. 2° do Pacto Social

(l) Cada um dos Estados Signatários do presente Pacto se compromete a adotar medidas, tanto isoladamente quanto mediante a assistência e a cooperação internacional, especialmente econômicas e técnicas, até o máximo dos recursos de que disponha, para progressivamente obter, por todos os meios apropriados, inclusive a adoção de medidas legislativas em particular, a plena efetividade dos direitos aqui reconhecidos.

(2) Os Estados Signatários do presente Pacto se comprometem a garantir o exercício dos direitos que nele se enunciam sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra índole, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social.

(3) Os países em vias de desenvolvimento, tendo adequadamente em conta os direitos humanos e sua economia nacional, poderão determinar em que medida garantirão os direitos econômicos reconhecidos no presente Pacto a pessoas que não sejam nacionais.

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Outras codificações de direitos humanos no âmbito da ONU• A Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial foi

aprovada em 21/12/1965 • A ONU sempre deu grande importância à igualdade da mulher. Em 1946 criou uma comissão para

tratar a condição da mulher. Em 1952, foi elaborada uma convenção sobre os direitos políticos da mulher; em 1957, uma sobre a nacionalidade de mulheres casadas; em 1962, uma sobre a aprovação do casamento. Houve diversas conferências mundiais sobre os direitos da mulher; uma relatora especial da Comissão dos Direitos Humanos foi nomeada para esse tema 2/1965 pela Assembleia Geral da ONU. O instrumento mais importante e poderoso é, todavia, a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (Convention on the Elimination of All Forms of Discrimination against Women – CEDAW), de 1979

• Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes.(1984)

• A Convenção sobre os Direitos da Criança (CDC) foi aprovada com grande apoio em 1989

• Convenção para a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e Membros das suas Famílias (2003)

• Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006)

• Convenção Internacional para a Proteção de Pessoas contra o Desaparecimento Forçado (2009)

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Referencias

BELLI, Benoni. Os direitos humanos entre a política e o direito internacional; 1. O estabelecimento de padrões internacionais de direitos humanos: obrigações teóricas e soberania estatal. In A politização dos Direitos Humanos: o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas e as resoluções sobre países. São Paulo Perspectiva, 2009. (Pasta)

PETERKE, Sven (coord). Manual prático de direitos humanos internacionais Brasília: Escola Superior do Ministério Público da União, 2009.Disponível em http://www.dhnet.org.br/direitos/sip/textos/a_pdf/manual_pratico_dh_internacionais.pdf. Acesso em março de 2016