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Escravidão Indígena Caçador de escravos (1820-1830). Debret.

Escravidão indígena

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Escravidão Indígena

Caçador de escravos (1820-1830). Debret.

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Antecedentes

Na Grécia, a escravidão convertia o homem em meio de produção privando-o de direitos

sociais, logo havia uma separação clara entre trabalho e liberdade representada pela

participação política. Foi na Idade Média, com a Igreja Católica, que essa visão de trabalho

foi alterada tornando um meio para salvar a alma.

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Os portugueses eram autorizados a conquistar territórios não cristianizados e

consignar a escravatura perpétua os sarracenos e pagãos que capturassem

Dum Diversas

A propriedade exclusiva de todas as ilhas, terras, portos e mares conquistados nas regiões que se estendem desde o cabo Bojador e cabo Não (actual cabo Chaunar), ao longo de toda a Guiné e mais além, a sul.

O direito de continuar as conquistas contra muçulmanos e pagãos nesses territórios.

O direito de comerciar com os habitantes dos territórios conquistados e por conquistar, excepto os produtos tradicionalmente proibidos aos "infiéis": ferramentas de ferro, madeira para construção, cordas, navios e armaduras.

Romanus Pontifex

O chamado "novo mundo" seria dividido entre Portugal e Espanha, através de um meridiano situado a 100 léguas a oeste do arquipélago do Cabo Verde: o que estivesse a oeste do meridiano seria espanhol, e

o que estivesse a leste, português.

Inter Caetera1452 1455 1456

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Com a expulsão em 1496 dos muçulmanos e judeus, Portugal teve a “necessidade” de nova mão-de-obra que

era utilizada principalmente em serviços domésticos.

Essa mão-de-obra seria encontrada inicialmente na barbárie da África, sendo os portugueses responsáveis

em “resgatar” esse povo e civiliza-lo.

Com a Era dos Descobrimentos, novos povos foram “encontrados” como os Tupi aqui no Brasil.

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Primeira missa do Brasil (1860) . Victor Meireles.

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Já haviam passado a fase paleolítica dando os passos iniciais na revolução agrícola, como por exemplo a domesticação da mandioca; viviam principalmente da agricultura além da pesca e caça para complementar a alimentação. Sua

organização social podia ser classificada como pré-urbanos pois todos os moradores estavam ligados à produção de alimentos, e em casos

excepcionais, líderes religiosos (pajés e caraíbas) e chefes guerreiros (tuxauas) eram

liberados.

O povo Tupi

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O EncontroDesembarque de Cabral em Porto Seguro (1922). Oscar Silva.

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O encontro entre os índios brasileiros e os portugueses representou o contato entrea selvageria dos indígenas que eram “a inocência e a beleza encarnadas” com a

civilidade dos europeus “barbudos, hirsutos, escalavrados de feridas de escorbuto”.

O EncontroDesembarque de Cabral em Porto Seguro (1922). Oscar Silva.

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No projeto jesuítico, o índio era visto como gentio ou cristão em potencial. O esforço em converter os nativos em bons cristãos foi além de levar a palavra, significou um processo de desconstrução do

universo indígena e introduzi-los ao universo cristão. Em seu “Sermão do Espírito Santo” (1657), Vieira compara os índios à um arbusto fácil de aparar e moldar, porém trabalhoso para manter-se em conservação; assim os aldeamentos foram a maneira encontrada para fiscalizar a vida dos indígenas

convertidos.

Sepp (1943) define as características básicas de um índio: • Resignação ao cristianismo • Habilidade manual e imitativa • Voracidade na alimentação • Preguiça para o trabalho • Dom para música.

Projetos Jesuíta

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Os jesuítas fundaram São Paulo em 1554, perto da vila de Santo André da Borba criada por alguns portugueses. Após a fundação, os jesuítas converteram muitos índios da área e fixaram-nos em aldeias próximas. Em 1562 os moradores de Santo André da Borba mudaram-se para São Paulo e os jesuítas permitiram o aluguel da mão-de-obra indígena convertida. Com o progresso da região, o número de

europeus foi crescendo mais do que os indígenas e isso resultou numa crise de mão-de-obra já que não era possível suprir totalmente a demanda com os índios convertidos, além disso, os jesuítas passaram a ter

um controle mais rígido. Para remediar a falta de mão-de-obra, os paulistas iniciaram as bandeiras sertão a dentro

com o propósito declarado de procurar metais e com a finalidade oculta de capturar índios.

Projetos Colonos

Baseado em Monteiro, J. M. Negros da terra índios e bandeirantes nas origens de São Paulo, cap. 03

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A legislação da coroa sofreu mudanças que, ora era influenciada pelos pronunciamentos papais, ora pelos próprios interesses ou pela pressão dos colonos e mercadores. De forma simplificada as leis indianistas foram em ordem cronológica:

Legislação

Segundo Gileno (2007) a primeira lei foi do Regimento de Tomé de Souza de 1548 em que foi proibida a guerra contra índios

amigos, previu a conversão destes a fé católica e aos inimigos fez-se a guerra. Para Silva (2000) a primeira lei foi a promulgada por D.

Sebastião em 1570 que proibia a captura de índios nos sertão sem um motivo aparente e solicitava o registro dos cativos; Fausto

(2014) acrescenta que essa lei excluiu os Aimoré por estes terem relações hostis com os portugueses.

Segundo Domingues (2000) em 1755 D. José I aprovou a liberdade dos índios do Norte do Brasil sendo divulgada apenas 2 anos

depois pelo medo da contestação dos moradores e missionários; desta maneira, além da diferença legal entre indígenas e africanos,

haviam diferenças nas regiões visto que legalmente “todos os índios do Brasil” estavam libertos desde 1609 com a lei de Felipe II.

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• Organização interna das tribos: como dito anteriormente, na organização da tribo a agricultura e o trabalho eram voltados para a subsistência sem a mentalidade europeia de acumulação visando o longo prazo.

• Não houve separação entre o indígena e o meio que facilitava as fugas e sua reintegração ao meio. • Destribalização progressiva e epidemias: a destribalização diminuiu o ritmo de crescimento da tribo e as

epidemias eram em sua maioria fatais e dizimavam às vezes tribos inteiras. • Legislação régia: apesar de uma legislação dúbia, a Coroa visava a proteção dos indígenas, conforme a série de

leis indianistas. • Ação da igreja: tornou a utilização do nativo incerta e dificultosa ao longo do tempo.

Transição

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Em um primeiro momento, o índio representou o selvagem com sua nudez, falta de fé e de um rei; com o desenvolvimento da colonização sua situação foi ambígua; num momento era escravizado, no outro estava livre e depois voltava novamente a ser

escravizado. Hoje, infelizmente ele ainda não tem liberdade pois se na época da colonização ele foi considerado incapaz sendo tutelado pelos jesuítas, sua situação atual não mudou nesse sentido pois continua sendo tutelado, agora pelo Estado.

A falta de estatísticas sobre a escravidão indígena torna o assunto mais “nebuloso” , situação oposta ao da escravidão africana que já possui vários estudos e bancos de dados com registros de viagens e afins. Por que a forma de tratamento é diferente se ambos foram

escravizados?

Outro ponto interessante na historiografia sobre o tema de escravidão indígena é que aparentemente não houve uma evolução do conceito como aconteceu com a escravidão negra, ou seja, enquanto a escravidão negra foi analisada sob vários aspectos econômicos

e sociais, a escravidão indígena permanece com a mesma formulação: substituição do índio pelo negro por causa de sua inadequação a empresa colonial. Tendo em vista o trabalho de Monteiro, seria possível formular uma hipótese de que, o indígena foi utilizado durante todo o período em atividades “secundárias” para a economia colonial como o caso do trigo de São Paulo que visava

o abastecimento interno?

Concluindo, é preciso que a escravidão indígena seja analisada sob diferentes aspectos para que o período colonial brasileiro não seja resumido apenas em escravidão negra excluindo os povos que sofreram essa mesma degradação.

Opinião Pessoal

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Indicações

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