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EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE NO PROCESSO DO TRABALHO Autor: Laerte Jesse Gloguer Flores Junior 1 Orientador: Paulo Tscheika 2 Resumo: O processo do trabalho, apesar de seus princípios que visam garantir ao Reclamante a satisfação de seu crédito o mais rápido possível, também admite a argüição de matérias prejudiciais ao desenvolvimento da execução, antes ou após a realização da penhora, através de exceção ou objeção de pré-executividade. Abstract: The present article analyses the labor’s law process duality in matters of right’s execution. If in one hand the labor’s process principles seeks to assure the employee’s credit satisfaction as soon as possible, at the same time admits allegation of harmful subjects to the development of the execution process, before and after the pledge, through an institute named Pre-Executive Exception or Objection. Sumário: 1 INTRODUÇÃO; 2 EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE; 2.1 HISTÓRIA; 2.2 EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE, OBJEÇÃO OU PRÉ- EXECUTIVIDADE; 3 MATÉRIAS QUE PODEM SER ABORDADAS ATRAVÉS DE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE; 4 MOMENTO OPORTUNO PARA INTERPOSIÇÃO DE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE; 5 EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE NO PROCESSO DO TRABALHO; 6 RECURSOS CABÍVEIS, FRENTE À EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE NO PROCESSO DO TRABALHO; 7 RAZÕES FINAIS; 1 FLORES JUNIOR, Laerte Jessé Gloguer. Acadêmico do Curso de Direito 2 TSCHEIKA, Paulo. Professor de Direito, Especialista em Docência Superior, Advogado. 3

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EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE NO PROCESSO DO TRABALHO

Autor: Laerte Jesse Gloguer Flores Junior1

Orientador: Paulo Tscheika2

Resumo: O processo do trabalho, apesar de seus princípios que visam garantir ao Reclamante

a satisfação de seu crédito o mais rápido possível, também admite a argüição de matérias

prejudiciais ao desenvolvimento da execução, antes ou após a realização da penhora, através

de exceção ou objeção de pré-executividade.

Abstract: The present article analyses the labor’s law process duality in matters of right’s execution. If in one hand the labor’s process principles seeks to assure the employee’s credit satisfaction as soon as possible, at the same time admits allegation of harmful subjects to the development of the execution process, before and after the pledge, through an institute named Pre-Executive Exception or Objection.    

Sumário: 1 INTRODUÇÃO; 2 EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE; 2.1 HISTÓRIA; 2.2 EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE, OBJEÇÃO OU PRÉ-EXECUTIVIDADE; 3 MATÉRIAS QUE PODEM SER ABORDADAS ATRAVÉS DE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE; 4 MOMENTO OPORTUNO PARA INTERPOSIÇÃO DE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE; 5 EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE NO PROCESSO DO TRABALHO; 6 RECURSOS CABÍVEIS, FRENTE À EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE NO PROCESSO DO

TRABALHO; 7 RAZÕES FINAIS;

1. INTRODUÇÃO

O Direito e o Processo do Trabalho passam, nos últimos anos, por um

período de transição, eis que tentam se adaptar ao crescente número de

trabalhadores desempregados no Brasil, que chegam a 12% da população, 1 FLORES JUNIOR, Laerte Jessé Gloguer. Acadêmico do Curso de Direito2 TSCHEIKA, Paulo. Professor de Direito, Especialista em Docência Superior, Advogado.

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bem como ao grande número de empresas de pequeno e médio porte que

pedem concordata ou são levadas à falência por má administração.

Observa-se que muitas das empresas que faliram nos últimos anos,

tiveram o seu algoz na Justiça do Trabalho, pois não atendiam a legislação

trabalhista, fazendo com que seus empregados buscassem seus direitos sob a

tutela dessa Justiça Especializada.

O Processo do Trabalho, propriamente dito, tem em sua fase de

Execução uma das intervenções mais vorazes sobre o patrimônio particular,

uma vez que os créditos trabalhistas possuem natureza alimentar, fazendo com

que tenham prioridade sobre os demais.

Dessa forma, o presente estudo demonstra a possibilidade que o

executado possui de insurgir-se contra a execução, antes mesmo que essa se

constitua, argüindo matérias prejudiciais ao seu surgimento, o que acarreta aos

executados, a não constrição do seu patrimônio no caso de acolhida a sua

insurgência, a qual se chama de exceção ou objeção de pré-executividade.

Para a elaboração do presente estudo, foi levado em consideração o

entendimento de diversos doutrinadores, que, mesmo não aparecendo no

corpo do texto, foram fundamentais para as idéias aqui lançadas.

A denominada exceção de pré-executividade não se encontra amparada

pela nossa legislação, mas possui sua fundamentação na doutrina e

jurisprudência dos nossos tribunais.

No decorrer deste estudo, serão analisadas questões referentes à

nomenclatura a ser utilizada sobre o referido instituto, bem como a sua

aplicabilidade no processo do Trabalho, haja vista que nessa seara existem

doutrinadores contrários a sua utilização.

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2. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE:

2.1– HISTÓRIA:

No universo jurídico dos processualistas pátrios, tem-se dado os louros

pelo surgimento da figura processual da exceção de pré-executividade ao

mestre Francisco Cavalcanti Pontes de Miranda.

Pontes de Miranda deparou-se com a situação de extinguir a execução

com a provocação do demandado, antes da constrição de bens para garantia

do Juízo.

Em 1966, a Companhia Siderúrgica Mannesmann solicitou um parecer

ao, já na época, renomado mestre, sobre os pedidos de decretação de abertura

de falência, baseados em títulos falsos, bem como sobre a execução fundada

nos mesmos títulos extrajudiciais que vinha sofrendo.

Em um primeiro momento havia sido pedida a falência da Metalúrgica

Mannesmann no Juízo de Belo Horizonte, que o denegou por entender como

falsos os títulos apresentados. Posteriormente, foi ajuizado perante o Juízo da

6ª Vara Cível do Estado da Guanabara3, um novo pedido de falência da

metalúrgica, só que dessa vez o Juízo declarou-se incompetente, por ser

situado em Belo Horizonte o principal estabelecimento da Companhia, decisão

essa mantida de forma unânime, pela 8ª Câmara do Tribunal de Justiça da

Guanabara. Por derradeiro, os autos em que se pediu a decretação de falência

foram encaminhados ao Juízo de Belo Horizonte, onde foi indeferido o pedido

por constatar-se que os títulos eram falsos.

3 MIRANDA, Pontes de. Parecer nº. 95. In:_____. Dez Anos de Pareceres. Livraria Francisco Alves. Rio de Janeiro: Editora S.A.. Parecer nº 95. p. 125 e 126.

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Ocorre que nesse período, em que se pedia a falência, foram propostas

ações executivas em diversas comarcas, sendo que em uma das ações, após

a citação, houve a constrição de valores da Empresa.

Nesta senda, os títulos que instruíam as ações executórias eram falsos,

pois não possuíam a assinatura de duas testemunhas, como preceituava a Lei,

bem como o Estatuto da Empresa.

Com grande sapiência, Pontes de Miranda orientou a empresa a

insurgir-se ante a nulidade da Execução, sem garantir o Juízo, ou seja, antes

de estabelecido, propriamente dito, o processo de execução, alegando

exceções pré-processuais. Também, em sua resposta, informou que o

momento oportuno para a manifestação seria antes da expedição do mandado

de penhora.

Efetivamente, merece destaque a preocupação esboçada pelo jurista

Pontes de Miranda4, ao embasar da seguinte forma a orientação passada à

empresa MANESMANN, sobre a insurgência antes de garantido o Juízo:

[...] - Uma vez que houve alegações que importa em oposição de exceção pré-processual ou processual, o juiz tem de examinar a espécie e o caso, para que não cometa a arbitrariedade de penhorar bens de que não estava exposto á ação executiva.[...]”

Assim, tem-se que o renomado jurista foi o pioneiro a dissertar acerca

da exceção de pré-executividade no universo processual brasileiro, através do

seu parecer nº.95, sendo seu entendimento seguido por diversos doutrinadores

e pelos Tribunais.

4 MIRANDA, Pontes. op. cit. p. 138

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2.2 EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE, OBJEÇÃO OU PRÉ-EXECUTIVIDADE:

Nesta ótica, são travados em nossa doutrina grandes debates sobre a

nomenclatura correta a ser utilizada para o instituto da defesa antes da garantia

do Juízo, que ao longo dos tempos vem sendo conhecida como exceção de

pré-executividade.

A expressão “exceção” no Código de Processo Civil de 1973 refere-se

às matérias que se encontram tipificadas nos artigos 3045 e 7426, sendo estas

matérias relativas à incompetência do Juízo, o impedimento e a suspeição. A

exceção prevista no CPC será autuada em autos apartados, apenso, sendo

matéria incidental à apreciação do mérito, suspendendo o curso do processo, a

teor do artigo 3067 do CPC.

Nesse diapasão, tem-se que as matérias argüíveis através de exceção

de pré-executividade, capazes de prejudicar o curso do processo na fase de

execução, são suscetíveis de extinguir a execução antes mesmo da realização

da penhora.

Prejudicada, assim, encontra-se a denominação de “exceção” de pré-

executividade para a totalidade das matérias a serem argüidas, haja vista que

os artigos 304 e 742 do CPC são taxativos sobre as matérias denominadas de

exceção.

Outra questão, diz respeito a que as exceções previstas nos artigos 304

e 742 do CPC, suspendem o curso do processo até o seu julgamento,

5 CPC. Art. 304. É lícito a qualquer das partes argüir, por meio de exceção, a incompetência (art. 112), o impedimento (art. 134) ou a suspeição (art. 135).6 CPC. Art. 742. Será oferecida, juntamente com os embargos, a exceção de incompetência do juízo, bem como a suspeição ou de impedimento do juiz.7 CPC. Art. 306. Recebida a exceção, o processo ficará suspenso (art. 265, III), até que seja definitivamente julgada.”

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enquanto, em suma, a “exceção de pré-executividade” não suspende o curso

da futura execução, simplesmente, após a sua análise, esta extingue ou não a

possível execução.

Com todas as celeumas acima demonstradas, os doutrinadores vêm

grifando para o sentido de que a nomenclatura correta a ser utilizada é

“objeção de pré-executividade”, pois as matérias nela argüidas podem ser

conhecidas de ofício pelo Juiz, não necessitando da provocação da parte.

Cumpre frisar que o termo objeção também é defendido por grandes

expoentes da nossa doutrina forense, como Nelson Nery Junior e Sérgio

Shimura8, entre outros.

A questão que ora se debate, resta muito bem analisada por Nelson

Nery Junior9, que aponta:

O instituto também é conhecido como exceção de pré-executividade, mais no sentido de que exceção significa “defesa” do que pela precisão terminológica, porque tecnicamente defesas de ordem pública são designadas objeções.

Outra denominação que surge sobre tal instituto, é a defendida por

Sérgio Pinto Martins10, que o denomina, somente, de “pré-executividade”, pois

entende que esta só pode ser argüida, da forma pretendida, antes da

execução.

Não se pode concordar com o entendimento de que a “exceção” só

possa ser argüida antes de instaurada a execução, uma vez que, pode ser 8 SHIMURA, Sérgio. Título Executivo. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 70/719 NERY JUNIOR, Nelson; NERYY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo Civil comentado. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996. p. 1.18410 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito Processual do Trabalho. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 676

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argüida a qualquer momento. Para melhor visualizar o que ora se defende,

passamos a analisar o seguinte exemplo:

Em um processo trabalhista, já na fase de execução, as partes

concretizam uma conciliação, com a intenção de que a Executada não veja o

seu bem leiloado, uma vez que já havia sido aprazada a praça para a venda do

mesmo.

O acordo é protocolado na Vara do Trabalho de Origem, sendo que o

bem se encontra penhorado, bem como o leilão aprazado, na Vara deprecada,

sendo que o juiz dessa condiciona a suspensão do leilão ao pagamento dos

honorários de leiloeiro.

A executada paga parte dos honorários de Leiloeiro, suspendendo o

Leilão. Ocorre que a parte remanescente não é paga pela executada no prazo

estipulado, e o Juiz motivado pelo Leiloeiro marca novamente Leilão, sem citar

a reclamada para pagar, simplesmente, notifica a reclamada da data em que

será realizado o Leilão, através notificação publicada no Diário Oficial.

Tem-se que, neste caso, é plenamente aplicável a exceção de pré-

executividade com o cunho de objeção, já que não houve a Citação válida da

Executada, qual seja aquela elencada no artigo 88011 da CLT.

Dessa forma, tem-se não ser correta a idéia de que o instituto ora

analisado possa ser chamado de pré-executividade, uma vez que, é argüível,

também, na execução já constituída.

11 CLT. Art. 880. O Juiz ou Presidente do Tribunal, requerida a execução, mandará expedir mandado de citação ao executado, a fim que cumpra a decisão ou acordo no prazo, pelo modo ou sob as condições estabelecidas, ou, em se tratando de pagamento em dinheiro, incluídas as contribuições sociais devidas ao INSS, para que pague em 48 (quarenta e oito) horas, ou garanta a execução, sob pena de penhora.

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Neste arrazoado continuará a ser utilizada a expressão de exceção de

pré-executividade, já que Pontes de Miranda a criou na vigência do Código de

Processo Civil de 1939, onde todas as defesas que não atacassem o mérito

eram denominadas de Exceções.

Mas, o entendimento que mais condiz com o instituto que ora se estuda

é o definido por Couce de Menezes e Dias Borges.12, abaixo transcrito:

[...] devemos classificar as matérias em exceção ou objeção executiva ou pré-executiva. Aquelas que podem ou devem ser conhecidas ex officio, por serem de ordem pública, como os pressupostos processuais e condições da ação, são objeções de pré-executividade ou de executividade. As matérias que exigem uma alegação da parte, em geral envolvendo defesa indireta de mérito são argüíveis pela exceção de pré-executividade propriamente dita.

Em suma, subentende-se que exceção de pré-executividade são as

matérias que precisam ser alegadas pela parte interessada, aquelas apontadas

no código, já a objeção de pré-executividade não necessita de provocação,

pois é matéria que, a priori, deve ser conhecida de ofício pelo Juízo.

3. MATÉRIAS QUE PODEM SER ABORDADAS ATRAVÉS DE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE:

As matérias que podem ser argüidas através da exceção de pré-

executividade são aquelas prejudiciais ao desenvolvimento da execução,

devendo serem examinadas, na maioria dos casos, antes da constrição dos

bens do executado.

12 MENEZES, Cláudio Armando Couce de.; BORGES, Leonardo Dias, Execução Forçada – Controle de Admissibilidade. apud. Filho, Manoel Antonio Teixeira. Execução no Processo do Trabalho. 7ª ed. São Paulo: Editora LTr, 2001 p. 602/603

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Nesse diapasão, podem ser argüidas através da presente peça, a

ilegitimidade ativa e passiva de partes, suspeição, incompetência, prescrição

intercorrente, nulidades do título judicial à luz do artigo 58613 do CPC, bem

como a existência de erro material.

Pela grande demanda de processos, é que muitas vezes o aplicador da

norma não aprecia se estão presentes os requisitos necessários para o

surgimento do processo de execução, observa-se que estamos analisando o

processo do trabalho, fazendo com que o demandado muitas vezes seja citado

para pagar ou garantir a execução sem que tenha sido saneada a fase de

liquidação, o que acarreta que a execução já nasça fadada ao insucesso.

Assim, nada mais legítimo do que a parte poder manifestar-se antes de

garantir o Juízo, demonstrando as nulidades existentes no seio da futura

execução, já que esta poderá gerar efeitos catastróficos à executada, como o

bloqueio de suas contas bancárias pelo convênio da Justiça do Trabalho com o

Banco Central, Bacen-Jud, para que, somente após, em sede de Embargos à

Execução, demonstre que o título executivo era nulo.

Ressalta-se, novamente, que a exceção de pré-executividade não busca

analisar o mérito da questão, mas sim os fatos impeditivos para que se

promova a execução, que no caso do processo trabalhista, em regra, devem

ser sanados nos próprios autos, para que após esta possa prosseguir de forma

a alcançar seus objetivos, que nada mais é do que fazer justiça.

Manoel Antonio Teixeira Filho14, define em seu estudo as matérias

possíveis de serem argüidas através da exceção de pré-executividade:

13 CPC. Art. 586. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título líquido, certo e exigível.

14 FILHO, Manoel Antonio Teixeira. Execução no Processo do Trabalho. 7. ed. São Paulo: LTr., 2001. p. 602

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[...]nada obsta a que o processo do trabalho, sem renunciar a seus princípios ideológicos e à sua finalidade, admita, em situações verdadeiramente extraordinárias, independentemente de embargos- e, em conseqüência, de garantia patrimonial do juízo -, alegações de: nulidade da execução; pagamento; transação; prescrição (intercorrente); novação – enfim, envolventes de outras matérias dessa natureza, capazes, muitas delas de extinguir a execução, se acolhidas. Por outras palavras: as matérias que possam ser alegadas mediante a exceção de pré-executividade são, preponderantemente, aquelas consideradas de ordem pública, a cujo respeito o juiz poderia e deveria manifestar-se ex officio, p.ex., as enumeradas nos incisos IV, V e VI do art. 267 ou no art. 301 do mesmo Código (salvo, neste último caso, a convenção de arbitragem).

No mesmo sentido, cabe aludir o entendimento de Francisco Ferreira

Jorge Neto e Jouberto de Quadros Pessoa Cavalcante15, sobre as matérias

argüíveis através da exceção de pré-executividade:

No caso do processo do trabalho como matérias de exceção de pré-executividade, têm-se: a) nulidade da execução; b) pagamento, transação, novação e outras modalidades que impliquem na extinção da execução; c) prescrição intercorrente; d) ausência dos pressupostos processuais de existência (petição inicial, jurisdição e a citação; e) ausência dois pressupostos processuais de validade positivos( petição inicial válida, órgão jurisdicional competente e imparcial e a capacidade); f) ausência dos pressupostos processuais de validade negativos (litispendência e coisa julgada); g) condições da ação (legitimidade, interesse processual e possibilidade jurídica do pedido).

Há de se salientar que, para as alegações feitas através da exceção de

pré-executividade, deverão estar anexas à petição ou apontadas nos autos,

provas inequívocas, consideradas robustas às alegações nela fundadas, uma

vez que não se pode exigir neste momento a dilação probatória, ou seja, o

direito deve ser “gritante”, não exigindo uma análise mais aprofundada da

matéria.

15 NETO, Francisco Ferreira Jorge; CAVALCANTE, Jouberto de Quadros Pessoa. Manual de Direito Processual do Trabalho. Rio de Janeiro: Lúmen Júris. 2004, Tomo II. pág 954/ 955.

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A Jurisprudência é uníssona no entendimento que a exceção tenha de

demonstrar de plano as alegações por ela feitas, conforme se verifica abaixo:

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE – Traduz-se em forma excepcional de defesa sem a garantia do juízo logo após a decisão homologatória dos cálculos, desde que provada de forma clara a existência de erro material ou outra espécie de nulidade de citação. 16

Ressaltamos, ainda, que com o advento da Lei 9.958 de 2000, houve a

regulamentação dos títulos executivos possíveis de serem executados perante

a Justiça do Trabalho, sendo eles: as sentenças transitadas em julgado ou das

quais não tenha havido recurso com efeito suspensivo; os acordos celebrados

em juízo e não cumpridos; os ajustes de conduta firmados perante o Ministério

Público do Trabalho e os termos de conciliação firmados perante as Comissões

de Conciliação Prévia.

À luz da nova redação do artigo 876 da CLT17, encontram-se inseridos

no bojo do Processo do Trabalho os títulos executivos extrajudiciais, o que

pode acarretar em um aumento dos casos em que se busca a nulidade do

Título Executivo, através da exceção de pré-executividade, já que os termos de

Ajuste de Conduta firmados pelo Ministério Público e os termos de Conciliação

Prévia, não necessitam, a priori, passar por um processo de conhecimento.

Dessa forma, como se pode constatar, a grande maioria dos Tribunais

Regionais do Trabalho entende pela acolhida da exceção de pré-executividade,

16 TRT 5ª R. – AP 01.12.88.2798-55 – (37.932/01) – 1ª T. – Rel. Juiz Luiz Tadeu Leite Vieira – J. 13.12.2001 17 CLT. Art. 876. As decisões passadas em julgado ou das quais não tenham havido recurso com efeito suspensivo; os acordos, quando não cumpridos; os termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação firmados perante as Comissões de Conciliação Prévia serão executados pela forma estabelecida neste Capítulo.Parágrafo único. Serão executados ex officio os créditos previdenciários devidos em decorrência de decisão proferida pelos Juízes e tribunais do trabalho, resultantes de condenação ou homologação de acordo.

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como veremos em tópico próprio, sendo cada vez mais latente a sua utilização

pelos operadores do Direito face às mutações que vem atravessando a

Consolidação das Leis do Trabalho.

4. MOMENTO OPORTUNO PARA INTERPOSIÇÃO DE EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE:

Muito pouco se tem debatido sobre o momento oportuno para se interpor

a exceção de pré-executividade, sendo a posição dominante na doutrina de

que essa pode ser trazida à baila a qualquer momento, não havendo assim,

momento específico.

Já no Processo do Trabalho, parece que os doutrinadores preocupam-

se, exclusivamente, com a exceção de pré-executividade interposta antes da

oposição de Embargos à Execução. Gize-se, por oportuno, que tal

posicionamento tem sido seguido pela jurisprudência, bem como pelos

operadores do direito, haja vista que não há decisões nos Tribunais

Trabalhistas que analisem a matéria após a oposição de embargos.

Novamente há de se mencionar, que a exceção de pré-executividade

trata de matérias prejudiciais ao surgimento da execução que podem ser

argüidas pelas partes, bem como conhecidas de ofício. Portanto, tem-se que as

matérias argüíveis através da exceção de pré-executividade, ou seja, aquelas

que buscam atacar diretamente o título por sua nulidade, não são alcançadas

pelo manto da preclusão, ao entendimento de Galeano Lacerda18 e Araken de

Assis19.

18 LACERDA, Galeano. “Execução do título judicial e segurança do Juízo” Estudos em homenagem ao Professor José Frederico Marques. São Paulo: Saraiva, 1982, p. 17519 ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução. 8. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 583

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Nessa esteira, a exceção de pré-executividade pode ser suscitada a

qualquer momento, ou seja, antes de estabelecida a execução ou após o

começo da mesma. Lembra-se como exemplo da segunda, o caso,

supracitado, da falta de citação para que a executada pagasse os honorários

do leiloeiro, sendo marcado diretamente Leilão para a venda dos bens que

foram constritos para garantir a execução do principal devido no processo.

Outro exemplo que pode ser citado, seria no caso de que a reclamada

não opusesse Embargos à Execução no momento oportuno, vindo poucos dias

antes da realização de Leilão para a venda de seus bens em praça pública,

interpor exceção de pré-executividade, para alegar a não observância dos

requisitos do título judicial, ou seja, a inobservância dos limites da sentença

exeqüenda.

Nesse mesmo exemplo, digamos que a sentença tenha deferido o

pagamento de horas extras com observância da compensação das horas

extras já pagas ou folgadas, pois a empresa possuía o regime de banco de

horas, sendo que os cálculos de liquidação homologados não observaram a

compensação.

A reclamada por algum motivo, deixou de impugnar os cálculos de

liquidação, bem como não opõe Embargos à Execução, pois entende que os

cálculos estavam corretos.

Na iminência de ver os seus bens leiloados, a empresa observa que nos

cálculos homologados não foi seguida determinação expressa na sentença

exeqüenda, da compensação dos valores já pagos, fazendo com que o valor

da execução ficasse muito elevado, ou seja, elastecendo os limites da coisa

julgada.

Por não ocorrer a preclusão frente ao instituto da coisa julgada, tem-se

que a presente matéria pode ser argüida a qualquer momento, sendo essa, no

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presente caso, trazida à baila somente através de exceção de pré-

executividade, que no caso devemos denominar de objeção, já que o momento

oportuno para oposição de Embargos à Execução passou in albis.

Como já dito anteriormente, esta exceção de pré-executividade terá de

demonstrar de plano que direito lhe assiste, devendo, neste caso, apresentar

um demonstrativo das horas extras pagas, indicando os documentos

constantes nos autos, bem como demonstrando que a sentença transitou em

julgado, não havendo modificação neste sentido.

O entendimento de que a exceção de pré-executividade pode ser

argüida a qualquer momento, mesmo após a realização da penhora é

respaldado por Gilberto Stürmer20, em sua obra, como se verifica abaixo:

Registre-se, contudo, haver entendimento de que, mesmo após a penhora, é possível opor a exceção de pré-executividade, mormente em casos onde a ausência ou a nulidade do título executivo é gritante.

Verifica-se que a exceção de pré-executividade, por não possuir

momento oportuno para a sua interposição, torna-se, em alguns casos, o único

meio e a ultima forma de defesa para que o executado possa se defender, mas

cabe ressaltar que muitos se utilizam desta criação doutrinária e jurisprudencial

para procrastinarem o andamento do processo, postergando o cumprimento da

decisão judicial, o que, inclusive, pode lhe causar uma condenação por

litigância de má-fé.

20 STÜRMER, Gilberto. Exceção de pré-executividade nos Processos Civil e do Trabalho. Porto Alegre: Livraria do advogado editora, 200, p. 80

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5. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE NO PROCESSO DO TRABALHO:

O Processo do Trabalho especifica em sua consolidação de Leis, que o

Executado poderá se opor à Penhora, discutir as condições da ação e

nulidades existentes na execução, somente por via de Embargos à Execução

(art. 884 da CLT21).

No caso de haver alguma omissão na Consolidação das Leis do

Trabalho, ou naquilo que não contrarie o processo de execução nela previsto,

será aplicada a Lei dos Executivos Fiscais, conforme prevê o artigo 889 da

CLT22. Sendo que, na presente Lei de cobrança da divida ativa da Fazenda

Pública, sob o nº. 6.830/80, também não há previsão de defesa antes de

garantido o Juízo através da penhora.

Ademais, o parágrafo 3º do artigo 16 da Lei 6.830/8023 estabelece as

matérias passiveis de oposição através de Embargos à Execução, dentre elas

encontram-se elencadas a suspeição, incompetência e os impedimentos, que

deverão ser suscitadas como preliminares. Nesse mesmo artigo encontra-se

vedada à oposição de exceções, salvo aquelas acima abordadas.

Digna de menção é a ponderação do mestre Sérgio Pinto Martins24, ao

destacar-se como um opositor do instituto da exceção de pré-executividade no

processo do trabalho sob o argumento de que “A pré-executividade não é

compatível com o processo do trabalho”.

21 CLT. Art. 884. Garantida a execução ou penhorados os bens, terá o executado cinco dias para apresentar embargos, cabendo igual prazo ao exeqüente para impugnação.

22 CLT. Art. 889. Aos trâmites e incidentes do processo da execução são aplicáveis, naquilo em que não contravierem ao presente Título, os preceitos que regem o processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da dívida ativa da Fazenda Pública Federal.

23 Lei 6.830/80 Art. 16. § 3º Não será admitida reconvenção, nem compensação, e as exceções, salvo as de suspeição, incompetência e impedimentos, serão argüidas como matéria preliminar e serão processadas e julgadas com os Embargos. 24 Martins, Sérgio Pinto, ob. cit. fl. 676

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Importante consignar que há na jurisprudência entendimentos que se

opõem à utilização da exceção de pré-executividade no processo do trabalho,

como podemos verificar abaixo:

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE – PROCESSO DO

TRABALHO – MATÉRIA PRÓPRIA DE EMBARGOS À EXECUÇÃO –

NÃO CABIMENTO – A doutrina tem admitido o cabimento da exceção

de pré-executividade no processo do trabalho em casos

absolutamente excepcionais. Todavia, tal excepcionalidade não se

configura, mostrando-se inadequada a sua veiculação, quando a

matéria que nela é tratada – Falta da notificação inicial – É própria

dos embargos à execução, a teor do art. 741, I, do CPC,

subsidiariamente aplicável ao processo do trabalho. Por outro lado, a

concepção doutrinal de tal medida impõe como requisito para seu

acolhimento a imediatidade probatória, o que significa que a exceção

de pré-executividade só deverá ser aceita quando calcada em prova

documental previamente constituída. 25

Apesar de seus opositores, não se pode olvidar que a exceção de pré-

executividade possui legitimidade para ser interposta no rito da execução do

processo do trabalho, haja vista que a sua função encontra-se inserida no

principio da celeridade, que rege o processo do trabalho, bem como pela

natureza de simplicidade do seu rito.

Versando sobre o tema, João de Lima Teixeira Filho26 defende a

utilização de exceção de pré-executividade, como forma de se buscar argüir,

antes da realização de penhora de bens, as matérias diretas de mérito,

indiretas de mérito e indireta de processo, conforme se verifica em seu estudo:

25 TRT 3ª R. – AP 3.224/03 – (02350-2000-041-03-00-8) – 5ª T. – Rel. Juiz José Roberto Freire Pimenta – DJMG 19.07.2003 – p. 13

26 SÜSSEKIND, Arnaldo Teixeira; FILHO, João de Lima Teixeira. Instituições de Direito do Trabalho. 20ª ed. São Paulo: Editora LTr., 2002, vol. 2. p.1.449

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Em âmbito infraconstitucional, a prática tem fundamento positivo de viabilidade (ou possibilidade jurídica) no estatuto processual comum (art. 618 e 741, ambos com seus incisos), cuja aplicação subsidiária no processo do trabalho se justifica porque a CLT autoriza (art. 884, §1º) a defesa direta de mérito (cumprimento da sentença ou quitação) e a indireta de mérito (prescrição), mas é omissa sobre a defesa indireta de processo. A exceção permite serem argüidas todas essas espécies de defesa, se lastreada em elementos inequívocos, que prescindam de alta indagação para o convencimento judicial.

Pela explanação supra, tem-se como plenamente cabível a exceção de

pré-executividade no processo do trabalho, uma vez que esta busca, além de

defender o executado, assegurar que o exeqüente possa receber o valor do

“título” o mais rápido possível, haja vista que a priori não terá de aguardar um

processo de execução que, ao final, se mostrará maculado por matérias

prejudiciais, fazendo com que o Estado não possa lhe dar a melhor prestação

jurisdicional.

Outrossim, há que se refletir que a exceção de pré-executividade busca

assegurar o principio constitucional do devido processo legal que se encontra

petrificado no inciso 5º da Carta Política de 1988, em seu inciso LIV, já que visa

desconstituir uma possível execução que estaria destinada ao insucesso, sem

que o executado tenha seu patrimônio constrito.

Oportuno lembrar que a petição da exceção de pré-executividade deverá

demonstrar, através de provas robustas e inequívocas, o direito que lhe

assiste, já que no caso do magistrado ter de fazer uma análise pormenorizada,

estaríamos, de certa forma, procrastinando o feito, já que a medida apropriada,

que abriga a análise de provas e até a oitiva de testemunhas são os Embargos

à Execução. No mesmo linear, pensa o jurista Carlos Henrique Bezerra Leite27

“Não se deve admitir, por exemplo, a exceção de pré-executividade que verse

matérias ou questões controvertidas ou que irão ensejar aprofundadas

discussões ou que demandarão a produção de prova não documental.”

27 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 2. ed. São Paulo: Editora LTr., 2004, p. 698.

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Quando do recebimento do Mandado Citação, Penhora e Avaliação,

para que o executado pague ou indique bens à penhora como garantia do

juízo, tem-se que o processo de execução não se encontra constituído, sendo

esse o momento oportuno para a interposição de exceção de pré-executividade

para discutir as matérias de defesa direta e indireta de mérito, bem como

matérias processuais que lhe são permitidas, uma vez que no silêncio da CLT

usa-se o processo comum, à luz do art. 769 da CLT28.

Já, quando o executado quiser alegar alguma matéria de conhecimento

de ofício do Juiz, por ser de ordem pública, poderá argüi-la a qualquer

momento, mesmo após a penhora de seus bens e de uma possível oposição

de Embargos à Execução, desde que a matéria não tenha sido abordada

nesse.

Neste caso, a nomenclatura exceção de pré-executividade encontra

óbice na Lei 6.830/80 que, em seu artigo 16, §3º, prevê a não admissibilidade

de exceções no processo de execução, mas, como já falado no tópico

específico, a estas matérias de ordem pública deverá ser dado o nome de

objeção, e que neste caso será de executividade e não pré-executividade.

Verifica-se que pela terminologia técnica a “exceção” de pré-

executividade não pode ser argüida no processo de execução do trabalho, por

haver determinação expressa em lei de que estas não são cabíveis, sendo que

as permitidas devem ser apreciadas por meio de Embargos à Execução, como

a suspeição, incompetência e impedimento.

Mas não há óbice para as objeções de executividade que podem ser

trazidas à baila a qualquer momento, vinculando o Juiz a sua apreciação para

um posterior exame do mérito da causa, uma vez que essas são de interesse

28 CLT. Art. 769. Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título.

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da coletividade, pois inseridas no ordenamento jurídico pátrio, para nortear a

prestação jurisdicional do Estado.

Colacionamos, abaixo, alguns julgados que demonstram a aceitação da

exceção ou Objeção de pré-executividade, tanto no processo civil, campo da

execução fiscal, bem como no processo do trabalho:

PROCESSUAL CIVIL – EXECUÇÃO FISCAL – EXCEÇÃO DE PRÉ – EXECUTIVIDADE – CONCEITO – REQUISITOS – GARANTIA DO JUÍZO – DEVIDO PROCESSO LEGAL – 1. A exceção de pré-executividade é uma espécie excepcional de defesa específica do processo de execução, ou seja, independentemente de embargos do devedor, que é ação de conhecimento incidental à execução, o executado pode promover a sua defesa pedindo a extinção do processo, por falta do preenchimento dos requisitos legais. É uma mitigação ao princípio da concentração da defesa, que rege os embargos do devedor. 2. Há possibilidade de serem argüidas também causas modificativas, extintivas ou impeditivas do direito do exeqüente (V.g. pagamento, decadência, prescrição, remissão, anistia etc.) desde que desnecessária qualquer dilação probatória, ou seja, desde que seja de plano, por prova documental inequívoca, comprovada a inviabilidade da execução. 3. No caso dos autos, a apreciação da nulidade do título, nesta via excepcional, mostra-se impossível, o que, no entanto, poderá ser feito por meio da propositura dos embargos à execução, após garantido o juízo. 4. Agravo de Instrumento a que se nega provimento. Agravo Regimental prejudicado.29

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE – ADMISSIBILIDADE – A Lei impõe a garantia da execução tão-somente para oferecimento de embargos. Isso, no entanto, não faz presumir que não se possa admitir outros meios de defesa do executado. Nesse prisma, a exceção de pré-executividade foi concebida pela doutrina para atender situações verdadeiramente excepcionais, destinando-se a impedir que a exigência de prévio garantimento patrimonial da execução possa representar obstáculo intransponível à justa defesa do demandado. Aliás, é tônica do processo moderno a sua instrumentalidade, devendo ser propiciado às partes um processo justo, com menos apego à forma (obviamente que sem prejuízo do devido processo legal). Portanto, a decisão que aprecia a alegação de ilegitimidade passiva apresentada sem a garantia da execução não incorre em nulidade. Agravo de petição a que se nega provimento por unanimidade.30

29 TRF 3ª R. – AG 155845 – 4ª T. – Rel. Juiz Fed. Conv. Manoel Álvares – DJU 26.01.2004 – p. 106/10730 TRT 24ª R. – AP 570/1999-002-24-00-5 – Relª Juíza Dalma Diamante Gouveia – J. 14.11.2002

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6. RECURSOS CABÍVEIS, FRENTE À EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE NO PROCESSO DO TRABALHO:

A utilização da exceção de pré-executividade no Processo do Trabalho

possui características diversas da que é oposta no processo comum,

principalmente na questão dos recursos.

No processo Civil, a decisão que conhece ou não as matérias argüidas

através de exceção ou objeção de pré-executividade são atacadas através de

Agravo de Instrumento ou Apelação.

O Agravo de Instrumento é oposto da decisão que não conhece as

exceções apontadas pela parte, sendo essa uma decisão interlocutória,

passível de ser revista através de Agravo de Instrumento, nos termos do artigo

522 do CPC31, fazendo com que a matéria seja devolvida ao Tribunal de

Justiça.

Já no caso de ser acolhida a exceção ou objeção de pré-executividade,

poderá a parte sucumbente interpor Apelação, nos termos do artigo 513 do

CPC32, uma vez que a execução foi extinta.

A grande diferença do processo do trabalho está nos Recursos previstos

na CLT, pois estes não amparam a recorribilidade de decisões interlocutórias.

Assim, como a decisão que não conhece das matérias argüidas através de

exceção ou objeção de pré-executividade é interlocutória, não há como a parte

interpor recurso.

31 CPC. Art. 522. Das decisões interlocutórias caberá agravo, no prazo de 10 (dez) dias, retido nos autos ou por instrumento.32 CPC. Art. 513. Da sentença caberá apelação (artigos 267 e 269).

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Nessa senda, o processo do trabalho, em sua fase de execução, prevê o

Agravo de Petição como forma de atacar as decisões do Juiz ou Presidente, da

Vara do Trabalho ou do Tribunal, a exegese do artigo 897, alínea “a” da CLT33.

Dessa forma, como a decisão que não conhece as matérias argüidas

através de exceção ou objeção de pré-executividade possui cunho

interlocutório, haja vista que não põem fim ao feito, não há amparo de recurso

na CLT.

A jurisprudência é pacifica no sentido da não recorribilidade da decisão

que não conhece das matérias argüíveis através de exceção ou objeção de

pré-executividade, conforme se demonstra:

EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE – RECORRIBILIDADE – A exceção de pré-executividade, ou objeção pré-processual, foge à regra geral de recorribilidade de que trata a alínea a do art. 897 da CLT. Isso, porque esse incidente dispensa a prévia garantia da execução, que também é regra geral, estabelecida no art. 884 da CLT. Sendo assim, a alegação que fundamenta a exceção deve, de pronto, convencer o Julgador acerca da injustiça ou do erro na execução, de forma a autorizar sua extinção, sem necessidade de outras indagações. A decisão que a acolhe tem a natureza de sentença e pode ser atacada pelo credor, por agravo de petição, mas a decisão que a rejeita assume natureza interlocutória, não sendo recorrível de imediato (Enunciado nº 214 do TST), somente podendo ser atacada pela via dos embargos à execução, depois de garantido o juízo.34

Os doutrinadores também corroboram com o entendimento da não

recorribilidade da decisão que não conhece da exceção de pré-executividade,

em face de sua natureza interlocutória, como prevê Carlos Henrique Bezerra

Leite35, in verbis:

33 CLT. Art. 897. Cabe agravo, no prazo de 8 (oito) dias:a) de petição, das decisões do Juiz ou Presidente, nas execuções;34 TRT 3ª R. – AP 00380-1997-109-03-00-3 – 3ª T. – Relª Juíza Katia Fleury Costa Carvalho – DJMG 04.10.2003 – p. 735 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. op. cit. p. 698.

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Para finalizar, lembramos que, se a exceção de pré-éxecutividade for rejeitada pelo juiz, dessa decisão, por ser tipicamente interlocutória, não caberá nenhum recurso, a teor do § 1º do art. 893 da CLT, sendo certo que as questões suscitadas nesse meio de defesa poderão ser novamente levantadas nos embargos do devedor, desde que garantido o juízo da execução. Todavia, se a decisão judicial acolher a exceção de pré-executividade, extinguindo, total ou parcialmente, a execução, estaremos diante de uma autêntica “decisão terminativa do feito”, o que, a nosso ver, desafia a interposição do agravo de petição

Quando a exceção ou objeção é de pré-executividade, nada impede que

as matérias nela argüidas, e não conhecidas, possam ser novamente debatidas

em sede de Embargos à Execução, depois de garantido o Juízo.

Verifica-se que a decisão que não conhecer ou julgar improcedente as

matérias trazidas nos Embargos à Execução, poderá ser recorrida através de

Agravo de Petição, já que essa é uma decisão que possui cunho definitivo.

Questão relevante a ser analisada sobre a não recorribilidade das

decisões interlocutórias, paira sobre as matérias argüíveis com o cunho de

objeção de executividade, ou seja, no curso da execução como, por exemplo,

no caso de ofensa a coisa julgada ou incompetência do Juízo.

No exemplo acima, caso as objeções sejam acolhidas poderá o

exeqüente interpor Agravo de Petição, pois a decisão extinguiu o processo.

Outrossim, caso a decisão supra não conheça das objeções trazidas pela

executada, decisão com cunho interlocutório, não poderá interpor recurso para

o Tribunal, mesmo que o seu direito seja reluzente.

Assim, a executada deverá aguardar a realização do Leilão, com o

arremate do bem, para, somente após interpor Embargos à Arrematação,

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trazendo as matérias da sua objeção, conforme artigo 746 do CPC36. Da

decisão dos Embargos à Arrematação, poderá a parte sucumbente interpor

Agravo de Petição.

Por todo o explanado, observa-se que a decisão que acolhe a exceção

ou objeção de pré-executividade, extinguindo o processo, pode ser atacada por

Agravo de Petição, já a decisão que a rejeita não é passível de recurso de

forma imediata.

Novamente surge uma dúvida sobre a não recorribilidade das decisões

interlocutórias, principalmente na fase de execução, pois nos parece que tal

posicionamento não zela pelo principio da celeridade bem como pelo principio

que a execução deverá ser feita pelo modo menos gravoso ao executado.

7. RAZÕES FINAIS:

Mesmo não estando inserida na legislação vigente, a exceção de pré-

executividade encontra-se inserida no cotidiano forense, sendo cada vez mais

freqüente a sua utilização como forma de defesa na execução, antes ou após a

realização da Penhora.

No Processo do Trabalho, apesar de suas peculiaridades, também se

mostra apto a utilização da exceção de pré-executividade, mesmo tendo uma

corrente minoritária de doutrinadores e Tribunais conservadores, que acham

que o presente instituto, nada mais é do que uma afronta ao principio da

celeridade, pois busca procrastinar o andamento da execução.

O celebrado instituto busca, sim, uma forma correta de ser processada a

execução, para que não ocorram prejuízos ao executado e, tampouco, para ao

36 CPC. Art. 746. È lícito ao devedor oferecer, embargos à arrematação ou adjudicação, fundados em nulidade da execução, pagamento, novação, transação ou prescrição, desde que supervenientes à penhora.

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exeqüente, haja vista que busca demonstrar as nulidades existentes no título,

em suma, antes da penhora, fazendo com que não se aguarde os Embargos à

Execução para se apreciar as referidas nulidades.

Mesmo que, a exceção de pré-executividade não tenha um recurso

imediato, para a decisão que não a aceita, as suas matérias poderão ser

renovadas em outros momentos tanto em Embargos à Execução e Embargos à

Arrematação e, após, em Agravo de Petição. O que demonstra que esta se

encaixa no rito processual previsto na CLT.

Por derradeiro, a nomenclatura pouco interfere na peça processual da

“exceção de pré-executividade”, mas, para uma abordagem mais técnica, o

correto seria chamá-la de exceção quando fossem tratadas matérias que

necessitassem ser argüidas pelas partes e objeção quando fossem matérias de

ordem pública, conhecidas de oficio pelo Juiz. Já o sufixo “pré-executividade”

seria utilizado quando não estivesse constituída a execução, mas após a

constituição dessa deveria ser utilizado o sufixo “executividade”.

Assim, a exceção de pré-executividade não busca servir de subterfúgio

para o mau devedor, mas sim, em um meio de defesa para aqueles que

buscam não sofrerem uma execução injusta, protegendo assim os princípios

constitucionais do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório.

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