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LINGUAGEM JURÍDICA PROFª MSc. ZILDA M. FANTIN

FACELI - D1 - Zilda Maria Fantin Moreira - Linguagem Jurídica - AULA 04

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LINGUAGEM JURÍDICA

PROFª MSc. ZILDA M. FANTIN

UNIDADE IV

LINGUAGEM JURÍDICA

4.1 A LÍNGUA PORTUGUESA E O

DIREITO

Vejam o que disseram alguns

estudiosos sobre a importância

da língua portuguesa para o

Profissional do Direito:

“A linguagem forense designa

um tipo especial de linguagem,

utilizada pelos advogados,

juristas e outros. A linguagem

forense nada mais é do que a

língua portuguesa aplicada ao

Direito” (ARIOSI, 2000, p. 2).

“Na verdade, não existe

‘Português Forense’. A língua é

uma só. Tanto o advogado como

o médico ou qualquer outro

profissional liberal usam o

mesmo idioma. Apenas, cada

profissional tem a sua ‘língua

especial’” (ALBUQUERQUE,

1997, p. 11).

“O escrever corretamente assume no campo do direito

valor maior do que em qualquer outro setor. O direito é a profissão da palavra e o

advogado precisa mais do que qualquer outro profissional

saber inverter esse capital com conhecimento, tática e

habilidade.”

“Todos os autores que tratam

da profissão enaltecem além

das qualidades morais, o

manejo da linguagem escrita ou

falada. Talvez nenhuma arte

liberal necessite mais de forma

verbal adequada que a

advocacia” (NASCIMENTO,

1997).

“O jurista exerce sua atividade,

científica ou profissional, por meio de

palavras. Em qualquer área ou

instância de atuação, ele transforma a

realidade em palavras e, com

palavras, atua sobre os atos e fatos

de que se tece a dinâmica da

sociedade dos homens.”

“Oitenta por cento do material linguístico empregado pelo jurista faz parte da linguagem comum, daquela

usada, de modo mais ou menos uniforme, no comércio das ideias.

Outros vinte por cento constituem-se de termos e expressões especializados, muitas vezes oriundos da linguagem corrente, mas redefinidos, depurados

tecnicamente através dos tempos, desde o momento de seu ingresso no universo jurídico” (KASPARY, 1998, p.

9).

Para Xavier (2001, p. 1), “O Direito é, por excelência, entre as que mais o

sejam, a ciência da palavra. Mais precisamente: do uso dinâmico da palavra. Graças ao extraordinário

desenvolvimento de seu cérebro, o homem exercita a capacidade de

criar símbolos, pensa, julga, reflete, compara e sobreleva-se por isso na

escala animal, elaborando uma cultura”.

“Não obstante possa dispor de

instrumentos não-verbais, é por meio

de línguas, ou seja, códigos verbais,

que as pessoas emitem e

intercambiam mensagens”.

“Portanto, o domínio da língua, antes

de ser veículo de ascendência

política ou social, é embasamento

indispensável à formação integral da

personalidade e fator assecuratório

de uma melhor atuação do indivíduo

no campo profissional por ele

escolhido”.

Xavier (2001, p. 10) explica que, por meio da palavra, “o profissional do Direito peticiona, contesta, apela,

arrazoa, recorre, inquire, persuade, prova, tergiversa, sofisma, julga, absolve ou condena. Entretanto,

posto seja ele um vocacionado para a oratória, não alcançará esse desiderato se não aprimorar,

desenvolver e incrementar o próprio repertório verbal”.

Ainda nas palavras do autor,

“Ninguém se apodera da língua e

dela faz uso exclusivo. Talvez seja ela

o mais democrático dos veículos de

comunicação. É de todos e não é de

ninguém”.

“Se a precisão terminológica é

exigível no texto jurídico, este

não deve, por outro lado,

circunscrever-se nos limites do

meramente referencial,

aprisionando-se na esfera da

pura denotação” (XAVIER, 200).

“Nada é mais árido do que um estilo

despojado por inteiro de figuras e de

preocupação com a estética da

linguagem, pois são estes elementos

que conferem exatamente o

importantíssimo efeito psicológico e

expressional” (XAVIER, 200).

De acordo com Nascimento (1997), “A linguagem forense pertence à

linguagem lógica. É a linguagem forense baseada em argumentos, expressão verbal do raciocínio e

busca a razão, a saber, o pensamento em movimento. A linguagem forense

necessita da ‘arte de pensar em ordem, facilmente e sem erros’, como define a Lógica de Santo Thomaz de

Aquino”.

Silogismo é um raciocínio, é um argumento dedutivo formado de três proposições encadeadas de tal modo

que das duas primeiras se infere necessariamente a terceira. Essas proposições chamam-se premissa

maior (contém maior extensão), premissa menor (possui menor

extensão) e conclusão (encerra a conclusão do raciocínio).

Ex.:

Todo cidadão brasileiro pode votar

(maior)

Pedro é cidadão brasileiro (menor)

Logo, Pedro pode votar (conclusão)

4.2 OBSERVAÇÕES SOBRE A LINGUAGEM JURÍDICA

Hoje, fala-se em linguística jurídica, o que significa que essa nova área tem foco em estudos linguísticos, tendo por objeto os meios linguísticos que

o direito utiliza; e jurídicos, observando a linguagem do direito.

De acordo com Petri (2008), “Estas

proposições preliminares repousam

sob duas hipóteses: supõem, de um

lado, que existe uma linguagem do

direito, e, de outro, que seu estudo

merece uma elaboração, sob este

nome, como uma aplicação da

linguística ao direito”.

É fato que a linguagem jurídica não é

imediatamente compreendida por um

não jurista. Aquele que só possui a

linguagem comum não a compreende

de pronto.

“Mais radicalmente, a reunião desses

termos exclusivamente jurídicos cons-

titui o nó cego de um vocabulário

especial, próprio do direito. E é

revelando a existência, no seio da

língua, de um vocabulário jurídico que

se revela a existência de uma linguagem

do direito da qual o vocabulário é, entre

outros, um elemento de base”.

Na sociedade brasileira, o discurso

jurídico, em especial, foi muito influenciado

pela retórica tradicional, e, por isso,

continuou resistente às transformações.

“Essa resistência se torna perceptível, por

exemplo, na permanência do uso

dos brocardos jurídicos incluídos nos

discursos orais ou escritos.

A linguagem jurídica é, ao mesmo

tempo, culta (na sua origem), popular

(por destinação), técnica (na produç

A linguagem do direito é uma

linguagem de grupo, técnica e

tradicional.

Maria José Petri (2008) explica o que

devemos entender com linguagem de

grupo, técnica e tradicional.

Uma linguagem de grupo — a linguagem

do direito é principalmente marcada por

aquele que "fala" o direito: por aquele que

o edita (legislador) ou aquele que o diz

(juízes), mais amplamente, por todos

aqueles que concorrem para a criação e

para a realização do direito.

Ela é uma linguagem profissional pela qual

os membros das profissões judiciárias e

jurídicas exercem suas funções

(magistrados, advogados, tabeliães etc.)

Não é, pois, a linguagem de uma só

profissão, mas de um ramo de atividades.

É a linguagem da comunidade dos juristas,

mais ampla do que o círculo das

profissões jurídicas.

Uma linguagem técnica — Ela é técnica,

principalmente por aquilo que ela nomeia

(o referente); secundariamente, pelo modo

como ela enuncia (isto é, sobretudo por

seu vocabulário e por seu discurso). Ela

nomeia as realidades jurídicas, ou seja,

nomeia todos os níveis dos poderes

públicos, todas as formas de atividade

econômica, as bases da vida familiar, os

contratos, as convenções.

Uma linguagem tradicional — A linguagem

do direito é, na maior parte, um legado da

tradição. Pelas máximas do direito, essa

tradição é imemorável. Pode-se dizer que a

linguagem jurídica do século XX não difere

fundamentalmente daquela do século XIX.

A especialidade da linguagem do direito é,

quanto a isso, inscrita na história.

4.3 NÍVEIS DE LINGUAGEM JURÍDICA

“A linguagem do direito compreende vários níveis. A suposição global de uma única

realidade é substituída pela observação de muitos níveis linguísticos. Não existe uma

linguagem jurídica, mas uma linguagem legislativa, uma linguagem judiciária, uma linguagem convencional, uma linguagem

administrativa, uma linguagem doutrinária. O estudo do discurso jurídico não pode ser

feito a não ser por nível de linguagem” (PETRI, 2008).

A finalidade é que atribui a juridicidade à

linguagem jurídica, portanto podem-se

detalhar seus níveis em:

Linguagem legislativa – a linguagem dos

códigos, das normas; sua finalidade: criar o

direito;

Linguagem judiciária, forense ou

processual – é a linguagem dos processos;

sua finalidade é aplicar o direito;

Linguagem convencional ou contratual – é a

linguagem dos contratos, por meio dos quais

se criam direitos e obrigações entre as partes;

Linguagem doutrinária – é a linguagem dos

mestres, dos doutrinadores, cuja finalidade é

explicar os institutos jurídicos, é ensinar o

direito;

Linguagem cartorária ou notarial – a linguagem

jurídica que tem por finalidade registrar os atos

de direito.

A percepção dessas distinções não

deve, entretanto, conduzir a exagerar a

sua importância. Em cada um desses

ramos, a verdadeira redistribuição

consiste em discernir aquilo que lhe é

próprio e aquilo que é comum a todos,

isto é, o vocabulário jurídico, e pontos

comuns na estrutura dos enunciados.

As distinções que põem em evidência

a análise funcional da linguagem do

direito são fundadas sobre o emissor

da mensagem jurídica. Sua

importância é primordial e mostra bem

a influência preponderante daquele

que fala. Entretanto, o emissor não é

tudo na comunicação. O destinatário

também é levado em conta (PETRI,

2008).

4.4 TIPOS DE VOCABULÁRIO JURÍDICO

Segundo Petri (2008), o vocabulário

jurídico não se limita apenas aos termos de

pertinência jurídica exclusiva, mas também

se estende a todas as palavras que o

direito emprega numa acepção que lhe é

própria. A soma de todos esses elementos

constitui um subconjunto da língua, uma

entidade distinta caracterizada, no seio do

léxico geral, pela juridicidade do sentido

das unidades que a compõem.

Resumidamente, pode-se dizer que o

vocabulário jurídico é composto pelos

seguintes tipos de termos:

Termos que possuem o mesmo

significado na língua corrente e na

linguagem jurídica, por exemplo,

hipótese, estrutura, confiança,

reunião, critério, argumentos etc.;

Termos de polissemia externa, isto é,

termos que possuem um significado

na língua corrente e outro significado

na linguagem jurídica; por exemplo:

sentença (na língua corrente significa

uma frase, uma oração; na linguagem

jurídica, significa a decisão de um juiz

singular ou monocrático)

ação (na língua corrente significa

qualquer ato praticado por alguém, na

linguagem jurídica é a manifestação

do direito subjetivo de agir, isto é, de

solicitar a intervenção do Poder

Judiciário na solução de um conflito,

podendo, assim, ser sinônimo de

processo, demanda)

Termos de polissemia interna, isto é,

termos que possuem mais de um

significado no universo da linguagem do

Direito; por exemplo:

prescrição (prescrever = pode significar, na

linguagem jurídica, determinação,

orientação, como em “A lei prescreve em

tais casos que se aplique o artigo...”; e

pode também significar a perda de um

direito pelo decurso do prazo, como em “O

direito de agir, em tais casos, prescreve em

dois anos”);

Termos que só têm significação no âmbito do Direito; não têm outro

significado a não ser na linguagem jurídica; por exemplo, usucapião, enfiteuse, anticrese, acórdão etc.;

Termos latinos de uso jurídico; por exemplo: caput, data vênia, ad judicia

etc.

Termos que só têm significação no âmbito do Direito; não têm outro

significado a não ser na linguagem jurídica; por exemplo, usucapião, enfiteuse, anticrese, acórdão etc.;

Termos latinos de uso jurídico; por exemplo: caput, data vênia, ad judicia

etc.

No Direito, é ainda mais importante o

sentido das palavras porque qualquer

sistema jurídico, para atingir plenamente

seus fins, deve cuidar do valor nocional do

vocabulário técnico e estabelecer relações

semântico-sintáticas harmônicas e seguras

na organização do pensamento.

São três os tipos de vocabulário

jurídico: Termos Análogos, Equívocos

e Unívocos

Unívocos: são os que contêm um só sentido

(não podem ser empregados um pelo outro).

furto (art. 155 CP - subtrair, para si ou para

outrem, coisa alheia móvel);

roubo (art. 157 CP - subtrair, para si ou para

outrem, coisa móvel alheia mediante grave

ameaça ou violência, depois de reduzir a

resistência da pessoa)

Equívocos: são os vocábulos plurissignificantes, possuindo mais de um sentido e sendo

identificados no contexto.

sequestrar (D. Processual: apreender judicialmente bem em litígio e D. Penal: privar

alguém de sua liberdade de locomoção)

seduzir (Ling. usual: exercer fascínio sobre alguém para beneficio próprio e D. Penal: manter conjunção carnal com mulher virgem, menor de

dezoito anos e maior de catorze, aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança).

Análogos: são os que não possuindo étimo

comum, pertencem a uma mesma família

ideológica ou são tidos como sinônimos.

resilição (dissolução pela vontade dos

contraentes);

resolução (dissolução de um contrato,

acordo, ato jurídico);

rescisão (dissolução por lesão do

contrato).

O profissional do Direito não deve

empregar acepções que não pertençam

ao jargão jurídico.

A precisão vocabular contribui para a

eficiência do ato comunicativo jurídico.

1.3 O LATIM E O PORTUGUÊS

“A história do direito está intimamente

relacionada ao latim, pois fora ainda na

Roma Antiga que se desenvolveram os

institutos de direito que hoje

estruturam a ordem jurídica da maioria

dos Estados Ocidentais. O latim, por

ser a língua romana, acompanhou a

evolução das instituições jurídicas até

os nossos dias”.

“Por esta razão, o latim aparece como um traço característico das ciências jurídicas e sua compreensão acaba

sendo uma necessidade para os estudantes de direito. Ao contrário do que se pensa, o latim não é uma mera

opção que por vezes pode ensejar uma postura elitista do advogado, mas é, sim, uma técnica sine qua non para a

produção textual e para a compreensão dos julgados, da doutrina, dos processos etc.” (ARIOSI, 2000).

Coutinho (1976, p. 27-28) define dialeto

como “[...] a modificação regional de

uma língua. [...]. Em sua origem, toda

língua é um dialeto, que, por

circunstâncias várias, consegue

predominar. [...]. Língua e dialeto são,

pois, termos relativos. O italiano, o

francês, o espanhol, o português etc.

que, tomados separadamente,

constituem verdadeiras línguas, com

relação ao latim, não passam de

simples dialetos”.

4.6 BROCARDOS JURÍDICOS E

EXPRESSÕES EM LATIM

Ariosi (2000) explica, ainda, que

“Outro ponto a ser elucidado,

trata-se da diferença entre o

significado de uma expressão em

latim e de um brocardo jurídico”.

“A expressão latina é a

transcrição de um termo e o

brocardo a expressão que enseja

um princípio jurídico, sendo

assim, denso de conteúdo

semântico, pois o brocardo é

muito mais do que um termo

latino visto que estabelece

princípios de Direito”.

Exemplo de Brocardos

Jurídicos

“Deceptis, non decipientibus, (lex)

opitulatur” (A lei ajuda os enganados,

não os enganadores.

“Iudex ... cum non exemplis, sed

legibus iudicandum sit” (O juiz deve

julgar com as leis não com os

exemplos).

“Ius finitum et possit esse, et debeat”

(O direito pode e deve ser limitado).

“Ius necessitas constituit”

(A necessidade faz a lei).

“Leges omnibus hominibus

aequaliter securitatem tribuant” (As

leis concedem a segurança

igualmente a todos os homens).

Exemplo de Expressões em Latim

Sine qua non = indispensável

A fortiori = com mais razão

A posteriori =

posteriormente

A priori = em princípio

In verbis = nas palavras de

Jus domini = direito de dono

OBSERVAÇÃO

Os idiomas atualmente falados no mundo elevam-se a mais de 2.000. Só na

Índia existem mais de 200 línguas. Quanto ao uso, classificam-se as

línguas em vivas (as que estão servindo de instrumento diário de comunicação

entre os indivíduos de uma nação), mortas (as que já não são faladas, mas deixaram documentos escritos, como o latim e o grego literários) e extintas (as

que desapareceram, sem deixar memória documental, como o indo-

europeu).

Atividades

VII, VIII

“Jus non succurrit

dormientibus”

(O direito não acode aos que

dormem).