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UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA UNILA GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL 2016.1 ANÁLISE DAS EXPRESSÕES DA “QUESTÃO SOCIAL” GERMINAL/FILME DISCIPLINA: QUESTÃO SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL DISCENTE: FILIPE NERI DOCENTE: MIRELLA ROCHA FOZ DO IGUAÇU, 13 DE MAIO DE 2016.

Germinal - Análise Crítica

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Page 1: Germinal - Análise Crítica

UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO

LATINO-AMERICANA – UNILA

GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

2016.1

ANÁLISE DAS EXPRESSÕES

DA “QUESTÃO SOCIAL”

GERMINAL/FILME

DISCIPLINA: QUESTÃO SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL

DISCENTE: FILIPE NERI

DOCENTE: MIRELLA ROCHA

FOZ DO IGUAÇU, 13 DE MAIO DE 2016.

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Germinal é uma obra cinematográfica datada de 1993 e dirigido por Claude Berri,

baseado no livro de mesmo nome do escritor francês Émile Zola, datado do final do século

XIX. Ambienta-se em três principais minas de carvão – Voreux, Deneullin e Réquillart

localizadas na cidade de Montsou – França e retrata uma época de depressão econômica.

Um filme chocante e ao mesmo tempo emocionante, nos prende do começo ao fim e

nos faz ter uma análise mais profunda da sociedade. Chega a nos provocar sensações físicas

de tanta indignação. O autor e diretor conseguem nos colocar na pele dos personagens. Com

cenas muito fortes, Germinal alude sobre o cotidiano drástico de exploração que os

trabalhadores sofriam e marra-as de uma forma nua e crua. Tem uma família que é central e

que, ao mesmo tempo, representa a composição básica de todas as outras. Pai, mãe e sete

filhos. Alta taxa de natalidade, logo, alto índice de trabalho infantil, insalubre e irregular. Os

operários só tinham direito de comer pão duro e fazer filhos.

As relações de patriarcado e de gênero (machismo visível) também são fortes e

latentes. As mulheres eram responsáveis pela comida, casa, roupas, pedir esmolas etc.

Constata-se ainda os abusos físicos, psicológicos e sexuais atentados contra as mulheres de

Montsou.

Nota-se visivelmente o antagonismo de classe, onde uns dispunham somente de força

de trabalho e outros de instrumentos e técnicas necessárias para potencializar a acumulação

primitiva do capital.

Nas minas, trabalhar para gerar lucros ao capital era mais importante que a segurança

dos trabalhadores. Estes corriam altos riscos com o grisu (espécie de gás, que em contato com

o fogo gera explosão), onde muitas pessoas acabavam morrendo.

A companhia das minas – leia-se burguesia – monopolizava-as e não respeitavam os

direitos dos trabalhadores e não obedecia as demandas da população. A classe burguesa

trabalhava em cima da caridade e repressão para com as famílias trabalhadoras das minas de

Montsou, vigiando e punindo. As famílias trabalhadoras das minas, constantemente passavam

por dificuldades em relação a alimentação, moradia e saúde. As estratégias da classe

capitalista burguesa para controlar a classe operária era fazer doações de carvão, aluguel de

vilas operárias por deis francos e disponibilização de médicos. Isso não supria suas

necessidades, tendo em vista que eram serviços débeis. Não obstante, muitas mães trocavam

suas filhas por pão, café e carne, por exemplo. Pois não tinham sequer direito de comer pão

seco todos os dias. As moradias eram completamente insalubres e não possuíam nem sequer

banheiros.

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Um fato interessante é que, em séculos de explorações feitas por um projeto de

extrativismo, os trabalhadores jamais tiveram conhecimento de quem são os donos do grande

capital. Estes estavam preocupados apenas em sua forma de acumulação primitiva, com a

política e com a economia.

O exército industrial de reserva era gritante. Quando um trabalhador morria, existia

uma enorme população sobrante pronta para substitui-lo, algum comum naquele contexto de

minas de carvão.

Muitos trabalhadores contraíram doenças e sofreram até o fim da vida com isso. As

companhias pagavam valores ínfimos aos idosos que estavam nesse tipo de trabalho desde sua

infância. O filme retrata um idoso que trabalhou por cinquenta anos, desde seus oito anos de

idade, e que tinha extrato de carvão dentro do organismo, ficando impossibilitado de exercer

suas atividades no interior das minas. Senhor “Boa Morte”.

O trabalho era completamente morbífico. Os trabalhadores eram obrigados a

permanecer diariamente em péssimas condições de sobrevivência. Passando cotidianamente

por calor, fome, cede e falta de ar. Muitos passavam mal, pois tinham que trabalhar debaixo

da terra, soterrados e espremidos.

O salário era pago de acordo com a quantidade de vargonetas (espécie de carro que

andava sob trilhos) que eram preenchidas. Esta era medida por centímetros. Cada centímetro

contava. Recebiam trinta centímetros por dia de trabalho.

Era comum acontecer pequenos e grandes desabamentos no interior das minas, por

isso existiam muitas escoras de madeiras. Cabiam aos trabalhadores fazer as escoras para

garantir minimamente sua segurança. No entanto, como ganhavam por cada vargoneta cheia,

não tinham tempo de parar a produção de minério de carvão para arrumar as escoras.

Aconteciam acidentes frequentemente e os trabalhadores acabavam por serem culpabilizados

e punidos com severas multas. Até o momento só existia classe em si.

Como estratégia para redução de salário e maior acúmulo de mais-valia, os capitalistas

começaram a descontar centímetros sobre as vargonetas mal escoradas e adotaram novas

tarifas de pagamento. Essa constrição foi o estopim.

Os trabalhadores logo começaram a revoltar-se contra o modo de produção vigente e

começaram a delinear estratégias coletivas, incentivadas por um operário recém-chegado.

Solicitando aumento de cinco centímetros por vargonetas, melhores condições de trabalho e o

não desconto sobre as escoras. No entanto, a burguesia continuava em inércia diante das

reivindicações trabalhistas e não os reconheciam enquanto sujeitos envolvidos em um

contexto sociopolítico. O que era referendado através das damas de caridade.

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Quando tentavam entrar amigavelmente em acordo com os diretores das minas,

recebiam como resposta que os capitalistas eram vítimas e estavam sofrendo as consequências

do processo de modernização para fase industrial, logo, uma greve era um desastre para todos.

Alguns trabalhadores eram favoráveis em entrar em acordo com os diretores e lutar

por melhorias na condição de vida e trabalho, outros, mais radicais, eram a favor de acabar

com tudo e tentar começar do zero. Deixando bem claro o posicionamento marxista e

anarquista por parte do proletariado e suas perspectivas distintas de lutas.

Cansados da situação de pauperização massiva, degradação – física, moral e social – e

a falta de esperança e, como não houve acordo, a vanguarda trabalhadora viu-se obrigada a

entrar em estado de greve. Entra em cena a classe para si, pois a massa toma consciência de

classe frente ao capital, reconhecem-se enquanto atores/sujeitos políticos e não aceitam as

calamidades da crise impostas pelo capital burguês. Os interesses individuais passam agora a

ser coletivizados.

Criam uma caixa de garantia/fundo de reserva para garantir minimamente a

sobrevivência dos grevistas. Dizem que é necessário criar uma sessão da Associação

Internacional dos trabalhadores na cidade de Montsou. Pois “o trabalhador sozinho não é

ninguém, mas unido representa uma grande força” e pela primeira vez os trabalhadores vão se

unir para lutar de igual para igual com os patrões.

Os trabalhadores da primeira mina fazem greve por um mês e, após assembleia,

decidem partir para as outras minas e conscientizar os demais trabalhadores a respeito da

importância da greve. Ao chegaram nas minas, os grevistas destroem os equipamentos e

impedem que os outros entrem nas minas para trabalhar. “É injusto ser egoísta enquanto os

companheiros morrem de fome”.

Enquanto o recrudescimento do pauperismo assolava a classe trabalhadora, ficando

cada vez mais miserável, a classe capitalista comia brioches e ostentavam com banquetes.

Uma das cenas mais emocionantes é quando a classe trabalhadora marcha cantando e

ao aproximarem-se da cidade, a burguesia se esconde dentro de suas casas.

Passam-se dois meses de greve e as expressões da “questão social” aumentam junto

com o recrudescimento do pauperismo. Crianças adoecem e morrem constantemente. As

companhias passam a contratar trabalhadores belgas.

Durante os confrontos, o Estado opressor, grande aliado da burguesia capitalista, mata

homens, mulheres, crianças e idosos. Reprime o movimento grevista causando verdadeiras

atrocidades na cidade e com as famílias, visando debilitar o movimento político dos operários.

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O capitalismo é cíclico, aos poucos os trabalhadores são obrigados a voltar as minas.

Mulheres e crianças principalmente. Fica a lição que nada será o mesmo, nada será como

antes A classe proletária engendrou-se de consciência política e, acima de tudo, de classe para

si. Onde houver a diferença entre pobreza extrema X capital, haverá luta de classes, pois essas

derrotas “constituíram o material histórico a partir do qual, prática e politicamente, o

proletariado começa a constituir a sua identidade como protagonista histórico-social

consciente” (NETTO, 2011, p. 55).

No decorrer do filme constatamos o exórdio da organização política da classe operária

durante o século XIX e uma manifestação fervorosa em defesa do proletariado, mostrando

concepções de luta presentes nas cenas e nas falas dos personagens de Germinal.

Quando existe uma consciência de classe, não apenas posição, o sujeito, que agora é

político, passa a agir de forma organizada nos diversos contextos socioeconômicos e culturais,

criando estratégias de sobrevivência, luta, consciência e revolução. Sendo assim protagonistas

de sua própria história no enfrentamento e reivindicações das expressões da “Questão Social”,

sendo esta considerada como “as expressões do processo de formação e desenvolvimento da

classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade, exigindo seu

reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado” (IAMAMOTO, 2015, p.

83-84).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ZOLA, Émile. Germinal. Disponível em: <http://ciml.250x.com >. Acesso em 13 de maio de

2016.

GERMINAL. Direção e Produção de Claude Berri. França: AMLF, 1993. Disponível em:

<http://filmesonline10.evid.mobi/drama/germinal-legendado-a-l/>. Acesso em 13 de maio de

2016.

NETTO, J.P. Capitalismo monopolista e serviço social / José Paulo Netto – 8. Ed. – São Paulo:

Cortez, 2011.

IAMAMOTO, M. V.; CARVALHO, R. Relações sociais e serviço social no Brasil. S. Paulo:

Cortez/Celats, 1983.