12
GRACE, UMA MENINA SURPREENDENTE Mary Hoffman & Caroline Bich

Grace, uma menina surpreendente

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Grace, uma menina surpreendente

GRACE,

UMA MENINA

SURPREENDENTE

Mary Hoffman & Caroline Bich

Page 2: Grace, uma menina surpreendente

Grace era uma menina que adorava

histórias.

Não se importava se lhas liam, se lhas

contavam ou se eram até inventadas na

sua cabeça. Não se importava se vinham

de livros, ou do cinema ou da televisão,

ou até da enorme memória da sua Nona

(avó). Grace gostava de histórias e

pronto.

Page 3: Grace, uma menina surpreendente

E depois de as ter ouvido, ou enquanto as

ouvia, Grace transformava-as em

representações. E assumia ela mesma o papel

principal!

Partia para a batalha como Joana de Arc… ou

tecia uma teia maléfica como Anansi, a aranha.

Escondia-se dentro do cavalo de madeira às

portas de Troia, atravessava os Alpes com Aníbal

e os cem elefantes, viajava pelos sete mares

com uma perna de pau e um papagaio.

Page 4: Grace, uma menina surpreendente

Ela era Hiawatha, sentada junto da brilhante Grande-Água-do-Mar, e Mogli na selva do jardim das

traseiras…

Mas, acima de tudo, Grace adorava mimar as cenas. Gostava de ser Dick Whittington voltando-se

para ouvir os sinos da Torre de Londres ou Aladino friccionando a lâmpada mágica.

Page 5: Grace, uma menina surpreendente

Os principais papéis nestas

representações eram masculinos, mas

Grace desempenhava-os na mesma.

Quando não havia mais ninguém à sua

volta, Grace fazia sozinha todos os

papéis. Ela era um elenco que valia por

mil. E Paw-Paw, o gato, quase sempre

dava uma ajuda.

E, por vezes, conseguia até convencer a

Mãe e a Nona a juntar-se-lhe, quando

estas não tinham muito que fazer.

Passava então a ser a Doutora Grace e as

vidas delas estavam nas suas mãos.

Page 6: Grace, uma menina surpreendente

Um dia, na escola, a Professora disse que iam

representar a peça Peter Pan. E Grace levantou

imediatamente a mão para ser... Peter Pan.

— Não te podes chamar Peter — disse Raj. — É

um nome de rapaz.

Mas Grace manteve a mão levantada.

— Tu não podes ser o Peter Pan — segredou-lhe

Natalie. — Ele não era negro.

Mas Grace continuou de mão levantada.

— Muito bem — disse a Professora. — Muitos

querem ser o Peter Pan, por isso temos que fazer

audições. Escolheremos os papéis de cada um na

próxima segunda-feira.

Quando Grace chegou a casa, parecia bastante

triste.

Page 7: Grace, uma menina surpreendente

— O que se passa? — perguntou a

Mãe.

— O Raj disse que eu não podia

ser o Peter Pan porque sou uma

rapariga.

— Isso mostra bem o que o Raj

sabe sobre isso — disse a Mãe. —

Peter Pan é sempre uma rapariga!

Grace animou-se, mas depois,

mais tarde, lembrou-se de outra

coisa.

— A Natalie diz que não posso ser

o Peter Pan porque sou negra.

A Mãe começou a ficar zangada,

mas a Nona impediu-a.

Page 8: Grace, uma menina surpreendente

— Parece-me que a Natalie é mais uma

que não sabe nada — disse. — Tu podes

ser tudo o que quiseres, Grace, desde

que te empenhes nisso.

O dia seguinte era sábado, e a Nona

disse a Grace que iam sair. À tarde

apanharam um autocarro e depois um

comboio até à cidade. A Nona levou

Grace até um grande teatro. Cá fora lia-

-se “ROSALIE WILKINS em ROMEU E JULIETA” em

belas luzes cintilantes.

Page 9: Grace, uma menina surpreendente

— Vamos ao ballet, Nona? —

perguntou Grace.

— Vamos, querida, mas quero que

vejas estas fotografias primeiro.

A Nona mostrou a Grace algumas

fotografias de uma linda bailarina

em tutu. “A ESPANTOSA NOVA JULIETA!”

dizia numa delas.

Page 10: Grace, uma menina surpreendente

— Aquela é a pequena Rosalie, da

nossa terra em Trinidad — disse a Nona.

— A Avó dela e eu crescemos juntas lá

na ilha. Ela está sempre a perguntar-me

se quero bilhetes para ver a menina

dela a dançar, por isso desta vez disse

que sim.

Depois do espetáculo de ballet, Grace

representou o papel de Julieta,

dançando em volta do seu quarto com o

seu tutu imaginário.

“Posso ser tudo o que quero,” pensou.

“Até posso ser o Peter Pan.”

Page 11: Grace, uma menina surpreendente

Na segunda-feira fizeram-se as audições. A

Professora deixou-os votar nas personagens.

Raj foi escolhido para fazer o Capitão Gancho.

Natalie iria ser a Wendy.

Depois tiveram que escolher o Peter Pan.

Page 12: Grace, uma menina surpreendente

Grace sabia exatamente o que fazer – e

todas as falas a dizer. Era um papel que ela

tinha muitas vezes representado em casa.

Todas as crianças votaram nela.

— Foste excelente! — disse Natalie.

A peça foi um grande sucesso e Grace foi

um Peter Pan maravilhoso.

Depois de tudo ter acabado, disse:

— Sinto-me como se fosse capaz de voar

daqui até casa!

— Provavelmente serias! disse a Mãe.

— Sim — disse a Nona. — Se se

empenhar, a Grace pode fazer tudo o que

quiser!