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GRACE,
UMA MENINA
SURPREENDENTE
Mary Hoffman & Caroline Bich
Grace era uma menina que adorava
histórias.
Não se importava se lhas liam, se lhas
contavam ou se eram até inventadas na
sua cabeça. Não se importava se vinham
de livros, ou do cinema ou da televisão,
ou até da enorme memória da sua Nona
(avó). Grace gostava de histórias e
pronto.
E depois de as ter ouvido, ou enquanto as
ouvia, Grace transformava-as em
representações. E assumia ela mesma o papel
principal!
Partia para a batalha como Joana de Arc… ou
tecia uma teia maléfica como Anansi, a aranha.
Escondia-se dentro do cavalo de madeira às
portas de Troia, atravessava os Alpes com Aníbal
e os cem elefantes, viajava pelos sete mares
com uma perna de pau e um papagaio.
Ela era Hiawatha, sentada junto da brilhante Grande-Água-do-Mar, e Mogli na selva do jardim das
traseiras…
Mas, acima de tudo, Grace adorava mimar as cenas. Gostava de ser Dick Whittington voltando-se
para ouvir os sinos da Torre de Londres ou Aladino friccionando a lâmpada mágica.
Os principais papéis nestas
representações eram masculinos, mas
Grace desempenhava-os na mesma.
Quando não havia mais ninguém à sua
volta, Grace fazia sozinha todos os
papéis. Ela era um elenco que valia por
mil. E Paw-Paw, o gato, quase sempre
dava uma ajuda.
E, por vezes, conseguia até convencer a
Mãe e a Nona a juntar-se-lhe, quando
estas não tinham muito que fazer.
Passava então a ser a Doutora Grace e as
vidas delas estavam nas suas mãos.
Um dia, na escola, a Professora disse que iam
representar a peça Peter Pan. E Grace levantou
imediatamente a mão para ser... Peter Pan.
— Não te podes chamar Peter — disse Raj. — É
um nome de rapaz.
Mas Grace manteve a mão levantada.
— Tu não podes ser o Peter Pan — segredou-lhe
Natalie. — Ele não era negro.
Mas Grace continuou de mão levantada.
— Muito bem — disse a Professora. — Muitos
querem ser o Peter Pan, por isso temos que fazer
audições. Escolheremos os papéis de cada um na
próxima segunda-feira.
Quando Grace chegou a casa, parecia bastante
triste.
— O que se passa? — perguntou a
Mãe.
— O Raj disse que eu não podia
ser o Peter Pan porque sou uma
rapariga.
— Isso mostra bem o que o Raj
sabe sobre isso — disse a Mãe. —
Peter Pan é sempre uma rapariga!
Grace animou-se, mas depois,
mais tarde, lembrou-se de outra
coisa.
— A Natalie diz que não posso ser
o Peter Pan porque sou negra.
A Mãe começou a ficar zangada,
mas a Nona impediu-a.
— Parece-me que a Natalie é mais uma
que não sabe nada — disse. — Tu podes
ser tudo o que quiseres, Grace, desde
que te empenhes nisso.
O dia seguinte era sábado, e a Nona
disse a Grace que iam sair. À tarde
apanharam um autocarro e depois um
comboio até à cidade. A Nona levou
Grace até um grande teatro. Cá fora lia-
-se “ROSALIE WILKINS em ROMEU E JULIETA” em
belas luzes cintilantes.
— Vamos ao ballet, Nona? —
perguntou Grace.
— Vamos, querida, mas quero que
vejas estas fotografias primeiro.
A Nona mostrou a Grace algumas
fotografias de uma linda bailarina
em tutu. “A ESPANTOSA NOVA JULIETA!”
dizia numa delas.
— Aquela é a pequena Rosalie, da
nossa terra em Trinidad — disse a Nona.
— A Avó dela e eu crescemos juntas lá
na ilha. Ela está sempre a perguntar-me
se quero bilhetes para ver a menina
dela a dançar, por isso desta vez disse
que sim.
Depois do espetáculo de ballet, Grace
representou o papel de Julieta,
dançando em volta do seu quarto com o
seu tutu imaginário.
“Posso ser tudo o que quero,” pensou.
“Até posso ser o Peter Pan.”
Na segunda-feira fizeram-se as audições. A
Professora deixou-os votar nas personagens.
Raj foi escolhido para fazer o Capitão Gancho.
Natalie iria ser a Wendy.
Depois tiveram que escolher o Peter Pan.
Grace sabia exatamente o que fazer – e
todas as falas a dizer. Era um papel que ela
tinha muitas vezes representado em casa.
Todas as crianças votaram nela.
— Foste excelente! — disse Natalie.
A peça foi um grande sucesso e Grace foi
um Peter Pan maravilhoso.
Depois de tudo ter acabado, disse:
— Sinto-me como se fosse capaz de voar
daqui até casa!
— Provavelmente serias! disse a Mãe.
— Sim — disse a Nona. — Se se
empenhar, a Grace pode fazer tudo o que
quiser!