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História da lp

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Page 1: História da lp

Um tronco comum: o indo-europeu

Existe uma grande diversidade de línguas no mundo e o que às vezes pode parecer

muito diferente tem muitas semelhanças.

Se compararmos a palavra «mãe» com mater (latim), mothar (gótico), mathir (irlandês)

e matar (antiga língua da Índia) vemos que existem algumas semelhanças, pelos menos ao

nível da escrita.

Tais semelhanças não são fruto do acaso e para que se compreendam melhor temos que

recuar mais de 7000 anos no tempo, quando alguns invasores vindos das zonas mais

distantes do Mar Negro, durante vários milénios, atravessaram todo o continente europeu.

Na sua longa caminhada, impuseram, na sua maioria, as suas línguas indo-europeias

que eram: as helénicas, as itálicas, as célticas, as germânicas e as eslavas, entre outras.

Por este motivo, os linguistas acreditam e defendem que um grande número das

línguas da Europa e da Ásia têm origem numa mesma língua designada por indo-europeu.

No entanto, o indo-europeu não é uma língua que esteja documentada pela história, já

que não há documentos que comprovem a sua existência. Ela é uma reconstituição teórica

feita pelos linguistas partindo da comparação de vários domínios (sons, gramática, léxico)

das várias línguas de que existem provas da sua existência.

Podemos esquematizar a família das línguas indo-europeias da seguinte maneira:

LÍNGUA PORTUGUESA 9

PONTO E VÍRGULA

(pp. 22 – 44)

A HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA

LÍNGUAS

INDO-

-EUROPEIAS

helénicas itálicas célticas germânicas eslavas

grego* latim

línguas românicas

irlandês gótico alemão

Page 2: História da lp

REPÚBLICA

IMPÉRIO

IMPÉRIO DO ORIENTE

A actualidade da língua grega*

A Grécia, que foi o berço da civilização ocidental, desempenhou um papel essencial na

implantação e difusão do alfabeto, palavra que testemunha bem a sua origem grega, pois

encerra em si o nome das duas primeiras letras do alfa(α)beto(β) grego.

Ao proceder à passagem do silabário para o alfabeto, o grego desempenhou um papel

essencial na história da escrita.

Toda a civilização grega, que na altura estava espalhada por vastos espaços, foi

veiculada, como modelo privilegiado, juntamente com a língua grega, pelos escritores e

oradores latinos. Na Antiguidade, a língua grega gozava de tanto prestígio na Grécia, que

um estrangeiro que não a soubesse falar era considerado um bárbaro, pois do que dizia só se

entendia o ruído [brbrbr…].

Será que devido a este facto os Romanos, sucessores dos Gregos no domínio político,

mantiveram ao grego para enriquecer o seu vocabulário erudito? Seja como for, a verdade é

que constatamos que as formas gregas ou greco-latinas abundam precisamente nos estratos

mais prestigiados do vocabulário das línguas contemporâneas, já que conseguimos

identificar nas mais diversas línguas europeias vários termos gregos cuja forma escrita é

praticamente idêntica de língua para língua.

A origem das línguas românicas

O indo-europeu deu origem, entre outras línguas, ao grego, ao germânico, ao céltico e

ao latim.

O latim era inicialmente falado na região do Lácio, cuja capital era Roma e quando os

romanos conquistaram o seu vasto império, o latim, que passou a ser falado pelos povos

vencidos, veio a dar origem às chamadas línguas românicas ou novilatinas.

O latim na sua origem: uma língua de agricultores

A História de Roma começou como um conto de fadas, com um príncipe e com uma

deusa, prosseguindo num emaranhado de factos lendários, por um lado e, por outro lado, de

factos historicamente comprovados.

É a partir do séc. VI a. C., que se considera que começou verdadeiramente a ascensão

de Roma, cuja língua se veio a expandir depois na maior parte das terras conquistadas.

IV

a. C.

I

a. C.

476

d. C.

1450

d. C.

Page 3: História da lp

Hoje em dia, aceitamos com dificuldade que o latim, que se tornou o verdadeiro

padrão de uma língua erudita, ainda no séc. III a.C. se tratasse de uma língua de

agricultores, de mercadores e de soldados, tendo servido até essa época apenas para registar

por escrito algumas formas jurídicas ou práticas.

Contudo, basta porém examinar com alguma atenção a língua latina para nela

descortinar facilmente abundantes traços que reflectem a omnipresença da vida rural nesta

língua:

PAGINA > página VERSO > verso LEGERE > ler

1º vinha que cobria um

rectângulo

1º acto de «virar a charrua

ao fim do campo», a fim de

se passar a sulcar a terra no

outro sentido

1º «colher»

2º folha de papiro, mais

propriamente a página

contendo uma só coluna de

escrita por folha

2º linha de escrita, paralela a

outras tantas linhas numa

página (verso poético)

2º ler

RUBRICA > rubrica LIBER > livro RIVALIS > rival

1º terra vermelha de que os

Romanos se serviam para

escrever os títulos ou os

artigos das leis do Estado

1º tecido vegetal que se

encontra entre a madeira e a

casca exterior do tronco da

árvore

1º aquele que tinha direito

ao mesmo curso de água

para irrigar o seu campo

2º assinatura abreviada

2º livro

2º concorrente

O português: «onde a terra acaba e o mar começa»

O português nasceu no extremo sudoeste da Europa, num território que constituía

grande parte da antiga província de romana da LUSITANIA.

QUEDA DO IMPÉRIO

DO OCIDENTE

QUEDA DO IMPÉRIO

DO ORIENTE

(FIM DA IDADE MÉDIA)

Page 4: História da lp

Estabelecendo uma comparação entre o mapa desta província romana e o mapa do

actual território Português, constatamos que:

o território da LUSITANIA não compreendia

a região a norte do Douro (DURIUS) e

estendia-se bem mais para leste do que o

actual território de Portugal;

englobava as cidades de Salamanca e de

Mérida, sendo Lisboa a segunda cidade da

província romana.

A palavra Portugal é relativamente posterior à

queda do Império Romano, datando do séc. v o primeiro registo da antiga forma Portucale, a

qual designava de início os dois burgos (povoações que se desenvolveram sob a protecção

de um castelo ou mosteiro) situados na foz do Douro: PORTO e CALE.

Passaram-se 7 século entre a LUSITANIA do tempo do Império Romano e o nascimento

do reino de Portugal. Durante esses séculos o actual território foi palco das:

invasões germânicas (a partir do séc. V);

ocupação árabe (a partir do séc. VIII), de que subsistem marcas

inconfundíveis na língua portuguesa.

Traços germânicos algo modestos e o peso lexical do Árabe

Após o período de ocupação romana, o território que veio a tornar-se Portugal sofreu,

como o resto da Península Ibérica, a invasão dos

povos germânicos, constituídos neste caso pelos

Suevos e pelos Visigodos.

Os Suevos ocuparam o noroeste da

península a partir do ano 411 d. C.; os Visigodos

sucederam-se aos Suevos a partir do ano 585 e

exerceram o seu domínio até à chegada dos

Árabes em 711.

Page 5: História da lp

Romance

Celta

Germânico

e

Árabe

Galego

Embora os contactos com os povos germânicos tivessem durado três séculos, deixaram

poucas marcas no vocabulário português, pois não tiveram dúvida em admitir a civilização

dos vencidos e, com ela, o próprio latim, embora já sensivelmente alterado.

Contrariamente ao germânico, as influências árabes são muito mais consideráveis, já

que os vencedores adoptam o árabe como

língua oficial, se bem que o povo

subjugado continua a falar o latim

vulgar, agora mais modificado.

Em dois anos (711 a 713), a antiga

LUSITANIA e a antiga GALAECIA foram

conquistadas pelos Árabes, mas uma

parte da população cristã, não querendo

submeter-se ao domínio dos Árabes

refugiou-se nas montanhas das Astúrias

e daí inicia a Reconquista Cristã (722), pelo

que o árabe acabou por só ter um peso real

no sul do país.

Com os terrenos conquistados aos Mouros, foram-se

constituindo reinos como o de Leão, Castela e Aragão.

As noções de estrato, substrato,

superstrato e adstrato

ESTRATO

A língua que se forma em

determinada região, impondo-se às

que já lá existem, e que depois se

sobrepõe à dos invasores que

porventura surjam – chama-se

estrato. Na região que é hoje

Portugal continental, a

língua romance que está na

origem da língua

Page 6: História da lp

portuguesa constitui o estrato. Entende-se por romance a fusão do latim vulgar com

os falares locais.

SUBSTRATO

No entanto, as línguas não desaparecem sem deixar marcas,

nomeadamente através das palavras que ficam. Em Portugal, o mais

importante substrato é o celta.

SUPERSTRATOS

São as línguas que vêm depois de consolidado o estrato. Coexistem

com a local, mas acabam por desaparecer. Porém, deixam também as suas

marcas.

Em Portugal temos o superstrato germânico e ainda o superstrato

árabe.

ADSTRATO

Há uma relação de adstrato quando duas línguas, coexistindo no

mesmo espaço geográfico ou em espaços vizinhos, se influenciam, mas em

pequeno grau, mantendo cada qual a sua vida própria. O português e o

galego são adstratos, entre si.

Uma língua literária de prestígio

O português começou a tomar forma na parte menos arabizada do seu actual território

– a noroeste da Península Ibérica – depois de o latim – depois de o latim aí ter adquirido

uma fisionomia bem distinta, tanto da dos seus vizinhos de Leão e de Castela, por um lado,

como, por outro lado, dos grupos populacionais moçárabes do sul.

Foi nesta região onde hoje se situa a Galiza e o norte de Portugal que se desenvolveu

desde bem cedo (séc. IX) uma língua literária de prestígio – o GALAICO-PORTUGUÊS –, da

qual, a partir do séc. XIV, passaram a derivar o português e o Galego como dois falares bem

distintos.

Page 7: História da lp

O galaico-português adquiriu um tal requinte, sob a sua forma escrita (no início do séc.

XIII aparecem os primeiros textos escritos), que se tornou, no conjunto global da Península

Ibérica, uma língua poética de predilecção, como foi o caso do rei de Castela Afonso X.

Contudo, em Portugal, D. Dinis (1279), também ele monarca e poeta, deu um impulso

ao desenvolvimento da nossa língua ordenando que passassem a ser escritos em português

todos os livros e documentos, depois de até aí só o latim ter sido usado para o efeito.

O nascimento de Portugal

No início do séc. XIII já o reino de Portugal existia desde o século anterior, fruto do

espírito da Reconquista. Os reinos fruto deste movimento continuaram a sua luta contra os

Muçulmanos por vezes ajudados pelos cruzados.

Dois desses cruzados, naturais da Borgonha (região de França), casaram com duas

filhas de D. Afonso IV, rei de Leão e Castela.

Chamavam-se Raimundo e Henrique e eram primos.

D. Raimundo casou com D. Urraca e foi-lhe dado o governo da Galiza; D. Henrique

casou com D. Teresa e recebeu o Condado Portucalense.

D. Henrique alimentou o desejo de se libertar das obrigações que tinha para com o rei

de Leão e, assim, tornar-se independente. Contudo, morreu muito novo sem ter tido a

oportunidade de o realizar.

Formaram-se, então dois partidos rivais:

1. o de D. Afonso Henriques, seu filho, apoiado pelos nobres portucalenses, que

defendia a independência;

2. o de D. Teresa, sua esposa, apoiada pelos nobres galegos, que defendia a obtenção

da independência através de uma política de alianças, principalmente com a Galiza.

O confronto era inevitável e, em 1128, na Batalha de S. Mamede, D. Afonso Henriques

derrota os partidários de sua mãe e assume o governo do Condado.

O Jovem Conde vai desenvolver a sua acção procurando atingir dois objectivos: tornar-

se independente e alargar o território.

A independência de um reino e de uma língua

Apesar da sua juventude, D. Afonso Henriques revelou ser um grande chefe militar,

como comprovam as várias vitórias obtidas contra o seu primo Afonso VII ,rei de Leão e

Castela.

Assim, em 1143 D. Afonso VII reconhece-lhe o título de rei (título reconhecido mais

tarde por bula papal) e a independência do Condado. Nasce, desta forma, mais um reino na

Península Ibérica: o Reino de Portugal.

Separando-se de Leão para se tornar reino independente, Portugal separava-se também

da Galiza.

Page 8: História da lp

Ao mesmo tempo que se separava ao norte da Galiza, o novo reino independente de

Portugal estendia-se para o sul, anexando as regiões reconquistadas aos Mouros.

A residência principal do primeiro rei era Guimarães. Os seus sucessores começaram a

frequentar de preferência Coimbra. E, finalmente, Afonso III, em 1255, instala-se em Lisboa,

que se tornou, até hoje, a capital do País.

Durante todo esse período, a língua galego-portuguesa, nascida no Norte, vai-se

espalhar pelas regiões meridionais, que até então falavam dialectos moçárabes. Lisboa, a

capital definitiva, situava-se em plena zona moçárabe.

O português originou-se de uma língua nascida no Norte que foi levada ao sul pela

Reconquista. Quanto à norma, porém, o português moderno vai buscá-la não no Norte, mas

sim na região centro-sul, onde se localiza Lisboa.

O eixo Lisboa-Coimbra passa a formar desde então o centro do domínio da língua

portuguesa. É pois, a partir dessa região que o português moderno vai constituir-se.

O nascimento do português

O português apresenta-se muito rico de particularidades desconhecidas dos dialectos

do norte do país. O português literário veio a ser uma confusão bem conseguida entre o

galaico-português primitivo e os falares das zonas de Coimbra e de Lisboa. Nesta região

surgiram depois as inovações da língua, passando as mesmas a constituir nitidamente a

partir do séc. XIV o núcleo da formação do português, língua fortemente aberta, desde o séc.

XV, a inovações provenientes do ultramar.

A formação do português clássico (até ao fim do séc. XVI)

Na leitura de um texto de fins do séc. XVI, o uso de arcaísmos dos textos antigos, dá-

nos um agradável sentido de modernidade.

Na necessidade de balizar essa mudança, ela coincidiria com a publicação, em 1572, de

“Os Lusíadas”, de Luís de Camões, já que a língua de Camões e de outros escritores, como

ele marcados pelo Renascimento humanista e italianizante, constitui, verdadeiramente, o

português «clássico».

Para chegar a essa fase, o português sofre, do séc. XIV ao XVI, uma série de

transformações que tiveram como efeito fixar a morfologia e a sintaxe de tal maneira que,

daí por diante, pouco variarão.

As formas eruditas e semieruditas, calcadas no latim, penetram na língua desde as suas

origens. Esse processo do enriquecimento do vocabulário jamais cessou. Tornou-se, porém,

particularmente intenso no séc. XV, com a prosa didáctica e histórica, e no séc. XVI, em

consequência das tendências gerais do Renascimento humanista.

Com o Renascimento humanista e o prestígio dos estudos latinos, este fenómeno só irá

amplificar-se. O latinismo vai consistir muitas vezes em adoptar uma ortografia etimológica

para tornar a forma escrita das palavras mais próxima do latim.

Page 9: História da lp

As noções de étimo, via popular e via erudita, palavras divergentes e

palavras convergentes

ÉTIMO

O étimo é o vocábulo (ou, por vezes, só o radical), geralmente latino, donde cada uma

das palavras portuguesas proveio.

VIA POPULAR – vocábulos populares

Grande parte das palavras portuguesas vieram do latim por via popular, isto é,

transformadas espontânea e gradualmente pelo povo, desde o momento em que começou a

apropriar-se do latim vulgar.

São vocábulos populares porque foi o povo que, captando-se do latim vulgar, os foi

transformando através do tempo.

Os vocábulos que chegaram até nós por via popular são os que mais se distanciam do

étimo.

VIA ERUDITA – vocábulos eruditos

Do séc. XIV até ao séc. XVI, com o interesse renascentista pela literatura latina e pelo

latim clássico, os eruditos e tradutores das grandes obras dos autores romanos introduziram

na nossa língua vocábulos latinos sem os sujeitarem a transformações, dando-lhes apenas

terminação portuguesa.

Os vocábulos que chegaram até nós por via erudita são os que estão mais próximos do

étimo.

VOCÁBULOS DIVERGENTES

Chamam-se divergentes dois ou mais vocábulos que provieram do mesmo étimo

latino.

Étimo latino

Dois ou

mais

vocábulos

Page 10: História da lp

VOCÁBULOS CONVERGENTES

Chamam-se convergentes aos vocábulos que vêm de étimos diferentes, assumindo a

mesma forma, mas tendo significados diferentes.

Étimo latino

Étimo latino

Étimo latino

A evolução fonética Processos que explicam a evolução fonética das palavras que vieram por origem

popular

a) princípio do menor esforço: o povo é naturalmente levado a pronunciar os fonemas

com o menor esforço, transformando-os de pronúncia

mais difícil.

b) princípio da lenta evolução: as transformações fonéticas operam-se lenta e

insensivelmente através de séculos.

c) princípio da inconsciência: dada a lenta evolução, os falantes não dão conta das

transformações fónicas que se vão operando.

INFLUÊNCIAS POSTERIORES

Com a expansão marítima, nos séculos XV e XVI, a língua portuguesa começou a ser

falada em muitas regiões da África, da Ásia e da América e, por consequência, foi

enriquecida com vocábulos provenientes dessas origens.

A partir do século XVI, e devido à intensificação das nossas relações comerciais e

culturais com países da Europa, o léxico da nossa língua foi enriquecido com

estrangeirismos, isto é, com a adopção de vocábulos de outras línguas adaptadas à fonética

da língua portuguesa.

E a língua vai continuando a enriquecer-se com a criação de novos vocábulos –

neologismos – necessários para designar novas realidades.

Hoje, a nossa língua é falada por perto de 200 milhões de pessoas espalhadas pelos

cinco continentes, sendo língua em vários países (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau,

Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste).

Vocábulo

Significados

diferentes

Palavras

homónimas