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I Encontro de História do CAHL Centro de Artes, Humanidades e Letras, Quarteirão Leite Alves, Cachoeira-BA 18 a 21 de outubro de 2010 MAGIA DOS CRISTÃOS NA BAHIA COLONIAL: MOTIVAÇÕES E PRÁTICAS MÁGICAS - DOCUMENTAÇÃO DO SANTO OFÍCIO Jaqueline Souza Brito Gomes 1 Apresentação Esta comunicação é fruto do desdobramento da pesquisa de mestrado que ainda se encontra em fase inicial, desenvolvida no âmbito do Programa de Pós- graduação em História da Universidade do Estado da Bahia, cuja temática central é reconstituir e compreender as relações sociais entre os “clientes” e seus executores da magia, podendo ser denominados como feiticeiros, feiticeiras, bruxos ou bruxas. Aqui, apresentaremos os primeiros resultados dessa pesquisa que compreendem as motivações que levaram a população portuguesa cristã-velha e cristã nova, a fazer uso da magia, bem como as práticas mágicas a elas associadas. Deixamos de fora, neste momento, o uso de magia por indivíduos de outras origens étnicas, constantes em nossa fonte de pesquisa, em razão do próprio exercício da pesquisa que este texto encerra. A fonte de pesquisa principal são os livros de confissões da Primeira e Segunda Visitações do Santo Ofício à Bahia, ocorridas respectivamente entre 1591 a 1593, e 1618 a 1620, que se encontram impressas, além dos Cadernos do promotor, que não apontaremos nesta apresentação, outra documentação que trataremos. Estabelecida em 1536 a Inquisição lusitana perseguiu indivíduos acusados de desviar da fé cristã. A captura dos judaizantes foi o principal objetivo, entretanto perseguiram ao mesmo tempo outras crenças e comportamentos contrários a 1 Mestranda em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB, campus V. Endereço eletrônico: [email protected] 1

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I Encontro de História do CAHL Centro de Artes, Humanidades e Letras, Quarteirão Leite Alves, Cachoeira-BA

18 a 21 de outubro de 2010

MAGIA DOS CRISTÃOS NA BAHIA COLONIAL: MOTIVAÇÕES E PRÁTICAS MÁGICAS - DOCUMENTAÇÃO DO SANTO OFÍCIO

Jaqueline Souza Brito Gomes1

ApresentaçãoEsta comunicação é fruto do desdobramento da pesquisa de mestrado que

ainda se encontra em fase inicial, desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-

graduação em História da Universidade do Estado da Bahia, cuja temática

central é reconstituir e compreender as relações sociais entre os “clientes” e

seus executores da magia, podendo ser denominados como feiticeiros,

feiticeiras, bruxos ou bruxas.

Aqui, apresentaremos os primeiros resultados dessa pesquisa que

compreendem as motivações que levaram a população portuguesa cristã-velha

e cristã nova, a fazer uso da magia, bem como as práticas mágicas a elas

associadas. Deixamos de fora, neste momento, o uso de magia por indivíduos

de outras origens étnicas, constantes em nossa fonte de pesquisa, em razão

do próprio exercício da pesquisa que este texto encerra.

A fonte de pesquisa principal são os livros de confissões da Primeira e

Segunda Visitações do Santo Ofício à Bahia, ocorridas respectivamente entre

1591 a 1593, e 1618 a 1620, que se encontram impressas, além dos Cadernos

do promotor, que não apontaremos nesta apresentação, outra documentação

que trataremos.

Estabelecida em 1536 a Inquisição lusitana perseguiu indivíduos acusados de

desviar da fé cristã. A captura dos judaizantes foi o principal objetivo, entretanto

perseguiram ao mesmo tempo outras crenças e comportamentos contrários a

1 Mestranda em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia – UNEB, campus V. Endereço eletrônico: [email protected]

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doutrina católica tais como sodomitas, blasfemos, bígamos, solicitantes e os

praticantes de magia. Como já é sabido não houve na América portuguesa o

estabelecimento de Tribunais do Santo Oficio o que não significou dizer que as

terras do Brasil não passaria pelas investidas inquisitorias. Aqui sendo

realizadas por meio de Visitações.

A Bahia por ser a região de maior movimentação sócio-econômica, e por ter na

cidade de Salvador a sede do governo colonial passou por dois momentos de

maior fiscalização por parte do Santo Oficio, tendo na Primeira e Segunda

Visitações confissões e delações de dezenas de pessoas.

A capitania da Bahia recebeu por duas vezes Visitação sendo como já foi

mencionado a primeira em 1591-1593 e a segunda em 1618-1620. Foram

relatadas cerca de 9 confissões de culpas de feitiçaria, dais quais, três durante

a primeira Visitação e seis na segunda. Chegaram a mesa dos visitadores 35

denunciantes de crime de feitiçaria, sendo 31 na primeira visitação e 4 na

segunda visitação.

Foram os cristãos velhos os principais confessantes e denunciantes do crime

de feitiçaria. Confessaram e foram acusados de realizarem práticas mágicas

para fins diversos. Das nove confissõres para as duas visitações 8 eram

cristãos velhos e uma não sabia se era cristã nova ou cristã velha. Nos livros

das denunciações da primeira visitação foram denunciadas 25 pessoas

acusadas de realizarem ou procurarem por magia, no livro da segunda

visitação foram denunciadas 4 pessoas, e no livro da confissões encontramos

cerca de 12 acusados de serem praticantes de magia. Entre confissões e

denunciações para todo o período foram 34 cristãos velhos e 1 cristão novo

como denunciantes.

A magia dos cristãos Os feitiços e rituais mágicos realizados na Capitania da Bahia diferenciavam

uns dos outros, sejam por pertencerem a grupos étnicos e sociais distintos,

entre europeus, africanos e indígenas, sejam por suas motivações e formas

ritualísticas diversas. Dentre os cristão velhos, segmento populacional que

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apontaremos nessa comunicação classificamos inicialmente suas motivações

em 7 classes, salientamos que tal classificação futuramente será ampliada a

outros grupos étnicos, sendo elas: cuidar de relacionamentos afetivos,

doenças, Subtraídos e desaparecidos, Assuntos ligados a sorte, Dívidas,

Perdões / justiça, e contra-feitiço / feitiçarias.

Para cuidar de relacionamentos afetivos estão os feitiços direcionados para

amansamento de maridos. Como na confissão de Guiomar d’Oliveira cristão

velha, natural de Lisboa e moradora em Salvador, de idade de

aproximadamente 37 anos, casada com Francisco Fernandes, cristão velho

(sapateiro) que recorreu a feitiçaria para amansar seu marido, ou seja, torná-lo

mais carinhoso e melhorar seu casamento, na qual o tal feitiço foi ensinado por

Antonia Fernandes d’alcunha A Nóbrega, cristã velha, de idade aproximada de

50 anos, natural de Guimarães/Portugal, viúva, mulher “que falava com os

diabos e lhe mandava fazer o que queria”2 que foi casada com alguém cujo o

sobrenome era da Nóbrega. A feiticeira “[...] lhe deu [...] pos não sabe de que, e

outros pos de ossos de finado, os quais pos ela confessante deu a beber em

vinho ao dito seu marido[...]3 de outra vez fala que deu a beber também em

vinho a “semente do homem” seu marido após terem tido ‘ajuntamento carnal”

e assim a confessante disse ter feito.

Arranjos de casamento, conquista de amores e os feitiços para uma pessoa

querer bem a outra, também encontram-se nessa classe de motivações. Como

na denuncia de Joann Ribeiro, cristão velho, natural do Conselho do Lhanoso,

morador na Freguesia de Paripe de idade próxima a 40 anos, lavrador, casado

com Luiza Pereira contra a Nóbrega, onde ele denunciante relata que a mulher

[...] lhe disse a propósito de huãs cousas ao modo de pinhões que lhe mostrou

dizendo lhe que os tinha para os dar a hum homem pera aquelle homem os

das a huã molher pera que aquella molher lhe quizesse bem.”4

2 VAINFAS, Ronaldo. Confissões da Bahia. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p1383 Idem p 1354 Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil. Pelo licenciado Heitor Furtado de Mendonça. Denunciações da Bahia 1591-93. São Paulo: Ed. Paulo Prado, 1925,.p 423-424

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Havia também feitiços para querer mal, ou mesmo a morte de familiares como

o caso Catarina Froes que negociou feitiços com Maria Gonçalves d’alcunha

Arde-lhe-o-rabo, para que um seu genro Gaspar Martins (lavrador, morador em

Tassuapin) ou morresse ou matassem ou não tornasse da guerra de Sergipe.

“[...] entendendo que os ditos feitiços haviam de ser arte do diabo[...]”5 pois

esse não dava boa vida a sua “mulher moça”. Isabel da Fonseca filha da

confessante, Catarina diz que foi a filha que pediu para ela tratar do feitiço.

Outra categoria classificada para nossa investigação intitulasse doenças,

caracterizados pela feitura de sortilégios para cura de enfermidades físicas;

como na confissão de Antonio da Costa, cristão velho, natural de Darque,

arcebispado de Braga, de idade de 35 anos aproximadamente, morador em

São Bento, Salvador, e confessando disse que [...] adoecendo / lhe huã minina

sua filha, e suspeitando q / de peçonha ou feitiços, mandara chamar / dous

negros por duas veezs, hu delles de Jor / ge Ferreira Xpão velho veuvo

morador nes / ta cidade e do outro não estava lembrado cu / jo era, tendoos per

feiticeiros e lhe pedira / pera que lhe adivinhassem que doença tinha / a dita

filha E o negro do dito Jorge Ferreira / lhe dissera que lhe avião dado peçonha

e / lhe fizera huãs mezinhas co huãs ervas para efeito de adivinhar. “6

Subtraídos e desaparecidos, é nossa terceira classe de motivações, e para

encontrar objetos furtados, saber de culpados de furtos, além de feitos pra

encontrar pessoas desaparecidas ou fugidas, como nas Confissões da

segunda visitação em que Francisco Nugueira cristão velho, natural de Lisboa,

morador na rua do Colégio de Jesus, casado, barbeiro e de idade entre 29 e 30

anos, recorre a um negro para que esse adivinhasse onde estava dois de seus

escravos que havia sumido:

‘[...] quando o caso acõteçera nas ditas duas vezes,// que deitar da primeira

agoa, digo vinho em h~ua / tijela, e da segunda vez agoa, e falar hum / pouco

5 VAINFAS, Ronaldo. Confissões da Bahia. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p 1186 FRANÇA, Eduardo de Oliveira; SIQUEIRA, Sônia (Org.). Segunda Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil pelo Inquisidor e Visitador Marcos Teixeira. Livro das Confissões e Ratificações da Bahia, 1618-1620, Anais do Museu Paulista, v.XVII, 1963, p 447

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so, e logo lhe advinhara [...]”7. O confessor “[...] entendia q por obra do Diabo

adivinhara, e que era isso proibido polla santa / Madre Igreja, e que elle

Confitente na fizera pacto algua co o diabo, ne sabia se o dito / negro o tinha

feito / ne que cousa isso era, e cria / no que crê a Sancta Madre igreja [...]” 8

Maria de Penhosa motivada em descobrir os autores dos furtos, procurou Anna

Coelho, que por meio de adivinhação apontou os culpados. “[...] averia / dous

meses pouco mis ou menos q nesta cidade em sua casa fizera huas sorte co

hu livro das horas de Npssa Senhora e co hua chave por lho pedir Bar/ara

gudinha molher solteira sua vizinha pa / ra descobrir hum furto, e hua dona

Maria molher / da Manoel Cardoso do Amaral para se descobrierem / dous

furtos de modo que fez as ditas soretes hua vez. [...] tomara hu livro das Horas

de Nossa senhora e metellha no meyo das folhas hua / chave e fechando o dito

livro, de modo q ficava / a maior parte da chave fora, aujaindo hum minino que

seria de oito annos a ter mão na dita / chave e dizendo ella confitente: Eu te

esconjuro / da parte de Deus e da Virgem Maria polla / virtude dessa horas

que me diga qum to / mou tal cousa , e nomeandoas pessoas em que havia

suspeita e estavão presentes, davão o dit livro hua volta ao tempo em ella

Confitente nomeava a pessoa que tinha feito o fur/ to [...]9

Nessa mesma classificação estão as motivações para a realização de Feitiços

para também saber de coisas e acontecimentos do futuro Mas que em função

Da escassez do tempo e principalmente do espaço não poderemos

exemplificar.

Assuntos ligados a sorte, é a classe seguinte, contendo motivos para a procura

de magia para fazer arribar naus, para ajudar a ganhar jogos de cartas; trato de

inimigos, composto de maldizeres e rogo de pragas a pessoas inimigas, como

o caso de Paula de Sequeira que durante a primeira visitação confessa que em

7 Idem, p 4528 Idem,, p 453)9 FRANÇA, Eduardo de Oliveira; SIQUEIRA, Sônia (Org.). Segunda Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil pelo Inquisidor e Visitador Marcos Teixeira. Livro das Confissões e Ratificações da Bahia, 1618-1620, Anais do Museu Paulista, v.XVII, 1963, p 450

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momento de inimizade por uma mulher chamada de Custódia de Arias, dissera

em que a mulher estava doente por conta de suas ações.

Beatriz Corea, mulata fora denunciada por Maria Bautista durante a primeira

visitação, disse que era de fama publica que a mulata era tida como feiticeira,

“com arte do diabo e que tinha hua cobra dentro em hua botija e que fizera

arribar hua ou duas vezes o navio em que hia degrada”10. Assim como Beatriz

Maria Gonçalves também foi acusada de arribar uma nau, que denunciada por

Isabel Antoniane, cristã velha, natural do Porto e moradora em Salvador, diz

que Maria falava com os diabos e que por dois cruzdos fez arribar uma nau que

ia para Portugal.11

Perdões e justiça também podiam ser sanados ou amenizados com o uso de

magia, como no caso de Maria da Costa, cristã velha, natural de Braga,

moradora em Salvador, de idade aproximada de 24 anos, casada com Álvaro

Sanches, cristão velho e mercador de loja, que tendo seus irmãos problemas

com a familia do individuo que mataram queria que a mesma perdoasse sua

culpa, diz que sua mãe falou que uma bruxa, Maria Gonçalves que disse que

se desse “certa cousa ella faria com que seus filhos irmãos della denunciante

que andão homeziados por hua morte fossem perdoados pela parte” 12

Na classe intitulada como Dividas, compomos com os motivos composto por

feitiços para quitação ou tolerância de dividas financeiras, como o caso de

Guiomar d’Oliveira que confessa suas culpas na primeira visitação informando

que fez um feitiço para que João D’Aguir proprietário da casa em que morava

com o seu marido tolerasse uma divida de aluguel, A feiticeira pediu três avelãs

ou pinhões e que tirasse o miolo e dentro colocasse pêlos de todo o corpo - da

confessante –, unhas dos pés e das mãos, além de raspaduras dos solas dos

10 GARCIA, Rodolfo (Org.). Livro das denunciações que se fizeram na Visitação do Santo Ofício à cidade de Salvador da Bahia de Todos os Santos do estado do Brasil no ano de 1618. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, v.49, 1927 p, 41311 Idem, p 432 -433.12 Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil. Pelo licenciado Heitor Furtado de Mendonça. Denunciações da Bahia 1591-93. São Paulo: Ed. Paulo Prado, 1925, p 394-396

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pés e uma unha pequena do dedo do pé da bruxa, após o preparo do feitiço

pede que a mulher engula os pinhões e após a evacuação, prepare e

transforme em pó e dê ao dito proprietário misturado em uma tigela com caldo

de galinha. Assim o fez e segundo ela deu certo.13

Por fim na categoria contra-feitiços e feitiçarias, classificadas pelas práticas

motivadas para livramento de feitiços, com feitura de rituais e porções para

salvar os enfeitiçados, encontramos também práticas que não são “visíveis”

suas reais motivações, entretanto é relatada sua realização. Chamamos

atenção para as metamorfoses que em algumas denunciações foi relatado que

mulheres em forma de patas, foram percebidas andando a noite nas ruas da

cidade de Salvador, como no caso de Violante Ferreira, cristã velha, casada

com Francisco Fernandes Pantoja, escrivão das contas, e de Mércia Pereira,

cristã velha, casada com Francisco d’Araujo, que denunciadas por Custodia de

Farias, cristã velha, casada com Pero d’Aguiar d’Altero, moradora do Matoim, e

que ouviu tal afirmação por Beatriz de Sampaio, mas diz que não acredita no

relato de Beatriz, haja visto que tanto a Violante quanto a Mércia eram amigas

dela denunciante. 14.

Mércia também fora denunciada por Isabel de Sandales, cristã velha, casada

com Duarte de Góis de Mendoça, moradora no Monte Calvário em Salvador,

disse que segunda o Cura da Villa velha a denunciada foi vista no caminho de

Sam Sebastian ou em Agua de meninos a noite em forma de pata em

companhia de outra mulher que não conseguiu ela denunciante identificar, fato

que aconteceu segunda ela em 1581.15

Antonia de barros, cristã velha, moradora na rua de São Francisco, casada

com Anrique Barbaso, denunciada por Pero de Cãopo, cristão velho, natural de

Porto Seguro, morador em Salvador de idade de 32 anos, foi dito ao

denunciante por parte do marido da denunciada que viu sua mulher atras da

13 VAINFAS, Ronaldo. Confissões da Bahia. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p 136)14 (Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil. Pelo licenciado Heitor Furtado de Mendonça. Denunciações da Bahia 1591-93. São Paulo: Ed. Paulo Prado, 1925. p 47915 Idem, p 540.

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porta ou de “hua caixa meã afogada dos diabos que a afogavão”16 Disse

também que ouviu falar que Antonia era feiticeira, acontecimentos que não

deixam clara suas motivações, mais são indícios de praticas mágica.

Essas foram as motivações que levaram dezenas de pessoas a utilizarem de

artifícios mágicos para melhorarem suas condições de vida, práticas que

poderão ser utilizadas por muitos outros indivíduos que não foram denunciar ou

confessar suas culpa. Pois como disse um dos denunciantes que recorre a

práticas de cura por meio de magia e que por “remediar a necessidade do dito

seu irmão fizera / antão pouco escrupullo disso, pollo pouco que nesta / terra e

costuma fazer das semelhantes cousas” 17

Considerações finaisEm fins do século XVI e inicio do século XVII as práticas mágicas estavam

embebidas em recordações européias, para os colonos. Mas os encontros com

os nativos findaram as primeiras comunicações mágicas na capitania da Bahia

e, é no século seguinte que os contatos mágicos com os indígenas e africanos

se darão com mais freqüência.

Todos os grupos recorriam à magia, sobretudo para a cura física, pois o

aumento e a diversidade das moléstias tanto entre os colonos como entre os

nativos e cativos disparava. Eram muitas as motivações, tipos e usos mágicos,

sendo esses realizados por todos os grupos sociais que habitavam a sede da

América portuguesa e seu entorno, sendo utilizados feitiços para resolução de

qualquer tipo de problema.

Notemos que ao longo do tempo foram práticas transmitidas por via oral entre

famílias, na qual seus ensinamentos são passados de gerações em gerações,

onde tais reminiscências de rituais e porções mágicas podem ser vislumbradas

mesmo na atualidade, sendo percebidas em outras práticas religiosas, além de

hábitos cotidianos, (com a feitura de chás e emplastos para curar doenças).

16 Idem, p 170.17 FRANÇA, Eduardo de Oliveira; SIQUEIRA, Sônia (Org.). Segunda Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil pelo Inquisidor e Visitador Marcos Teixeira. Livro das Confissões e Ratificações da Bahia, 1618-1620, Anais do Museu Paulista, v.XVII, 1963, p 454.

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Práticas que também originadas pelas motivações que levaram os indivíduos

da America portuguesa a procurarem auxilio sobrenatural, também o fizeram e

as fazem os habitantes da Bahia do século XXI para sanarem seus problemas

incorporando rituais, materiais e as necessidades imposta pelos novos tempos.

REFERÊCIAS

Fontes impressas

Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil. Pelo licenciado Heitor Furtado de Mendonça. Denunciações da Bahia 1591-93. São Paulo: Ed. Paulo Prado, 1925.

VAINFAS, Ronaldo. Confissões da Bahia. 1. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1997

FRANÇA, Eduardo de Oliveira; SIQUEIRA, Sônia (Org.). Segunda Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil pelo Inquisidor e Visitador Marcos Teixeira. Livro das Confissões e Ratificações da Bahia, 1618-1620, Anais do Museu Paulista, v.XVII, 1963

GARCIA, Rodolfo (Org.). Livro das denunciações que se fizeram na Visitação do Santo Ofício à cidade de Salvador da Bahia de Todos os Santos do estado do Brasil no ano de 1618. Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, v.49, 1927

Bibliografia

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BITHENCOURT, Francisco. Historia das Inquisições: Portugal, Espanha e Itália – Séculos XV-XIX. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.

SOUZA, Laura de Melo e. Feitiçaria na Europa Moderna. 1. ed. São Paulo: Ática, 1987.

SOUZA, Laura de Melo e. O Diabo e a Terra de Santa Cruz. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.

NOVISNKY, Anita A Inquisição. São Paulo: Brasiliense, 1990.

NOVISNKY, Anita. Inquisição: Prisioneiros no Brasil - séculos XVI-XIX. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 2002.

VAINFAS, Ronaldo. A problemática das mentalidades e a Inquisição no Brasil colonial. Revista Estudos Históricos n 1, 1988, Rio de Janeiro, p 167-173.