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Juspositivismo versus Jusnaturalismo: uma dicotomia enfraquecida Enquanto os naturalistas se voltam contra o direito positivo afirmando que há um conjunto de princípios éticos que transcende a formalidade textual e que algo só é justo se corroborar com esses princípios, os positivistas separam o valor moral e o conteúdo ideário de justiça reconhecendo como válido apenas o que é criado pelo Estado. Este artigo tem como objetivo propiciar aos estudantes uma melhor compreensão acerca dos conceitos da dicotomia entre os dois pontos supra citados no titulo deste artigo, bem como expor alguns indicativos que trazem à tona a discussão da real necessidade de ver complementariedade entre as duas correntes. É natural no processo do conhecimento a presença das dicotomias, mas afinal, o que vem a ser dicotomia? di.co.to.mi.a sf (dico+tomo 2 +ia 1 ) 1 Classificação em que se divide cada coisa ou cada proposição em duas, subdividindo-se cada uma destas em outras duas, e assim sucessivamente. 2 Divisão em dois ramos. 3 Divisão de um gênero em duas espécies que absorvem o total [1] Historicamente a distinção entre direito positivo e direito natural é muito antiga, porém é entre os pensadores gregos que aceitam o direito natural como expressão de exigências éticas e racionais, superiores às do direito positivo, que essa discussão torna-se objeto de estudos especiais, até se converter em teorias. Seguindo a história cronologicamente, em Roma, é relevante citar a obra de Cícero que faz apologia à lei natural, que não precisa ser promulgada pelo legislador para ter validade. É ela que ao

Juspositivismo versus jusnaturalismo

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Juspositivismo versus Jusnaturalismo: uma dicotomia enfraquecidaEnquanto os naturalistas se voltam contra o direito positivo afirmando que há um conjunto de princípios éticos que transcende a formalidade textual e que algo só é justo se corroborar com esses princípios, os positivistas separam o valor moral e o conteúdo ideário de justiça reconhecendo como válido apenas o que é criado pelo Estado.

Este artigo tem como objetivo propiciar aos estudantes uma melhor compreensão acerca

dos conceitos da dicotomia entre os dois pontos supra citados no titulo deste artigo, bem

como expor alguns indicativos que trazem à tona a discussão da real necessidade de ver

complementariedade entre as duas correntes.

É natural no processo do conhecimento a presença das dicotomias, mas afinal, o que vem

a ser dicotomia?

di.co.to.mi.a

sf (dico+tomo2+ia1) 1 Classificação em que se divide cada coisa ou cada proposição em

duas, subdividindo-se cada uma destas em outras duas, e assim sucessivamente. 2

Divisão em dois ramos. 3 Divisão de um gênero em duas espécies que absorvem o total

[1]

Historicamente a distinção entre direito positivo e direito natural é muito antiga, porém é

entre os pensadores gregos que aceitam o direito natural como expressão de exigências

éticas e racionais, superiores às do direito positivo, que essa discussão torna-se objeto de

estudos especiais, até se converter em teorias. Seguindo a história cronologicamente, em

Roma, é relevante citar a obra de Cícero que faz apologia à lei natural, que não precisa

ser promulgada pelo legislador para ter validade. É ela que ao contrário, confere

legitimidade ética aos preceitos da lei positiva [2].

As duas correntes doutrinárias sustentam alguns conceitos definindo o direito como

positivo e natural. Os juspositivistas defendem a tese de função diretiva, da norma posta

como fonte única e primária do direito em que, o que é justo está escrito na lei concreta

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criada pelo Estado, desta feita seu sistema jurídico torna-se completo e autossuficiente.

Para o os jusnaturalistas, o direito natural antecede as normas escritas pelo Estado, surge

pela vontade divina ou ainda da razão, seu ideal de justiça nasce de um conjunto de

valores e pretensões humanas legítimas e não outorgadas pelo Estado.

Esta forma bipartida de ver os dois conceitos antagônicos, onde apenas uma doutrina é a

correta, apesar de ser clássica, é uma visão ortodoxa, pois é fácil constatar a sinergia

entre elas. Primeiramente, o movimento constitucionalista que se consubstanciou na

intenção de garantir direitos sociais e respeito às liberdades individuais, esses tidos como

direitos naturais, foi uma forma de positivar nos ordenamentos jurídicos estatais os

direitos naturais tornando-os instituídos nos textos constitucionais. Depois os movimentos

políticos e militares, pautados pelo seu direito positivado, chegaram ao poder, como

exemplo destes, o Nazismo que deu poder a Adolf Hitler e seus comandados para

cometer um massacre genocida em nome da lei. Quando no julgamento histórico no

Tribunal Militar Internacional na cidade Alemã, Nuremberg, os responsáveis por tais

crimes recorreram ao argumento de cumprimento estrito da lei para se livrar das sanções,

desta forma, tornou-se indispensável revisar o Direito de modo que este pudesse

salvaguardar direitos da dignidade humana contra quaisquer absurdos que embora

formais não tivessem valores éticos, então o direito positivo também perdeu sua força.

Enquanto os naturalistas se voltam contra o direito positivo afirmando que há um conjunto

de princípios éticos que transcende a formalidade textual e que algo só é justo se

corroborar com esses princípios, os positivistas separam o valor moral e o conteúdo

ideário de justiça reconhecendo como válido apenas o que é criado pelo Estado.

Mister é realçar que o ideal de justo passa por transformações de acordo com a evolução

social, política, intelectual e psíquica, sendo assim ambas doutrinas se vistas de um único

prisma como verdade suprema, tornam-se insuficientes.

Mudam-se as doutrinas e regimes políticos e ainda assim vive o direito natural, pode-se

contestar-lhe a existência como um direito distinto do positivo, mas não se nega o papel

de que sua ideia continua a exercer um papel no desenvolvimento da experiência jurídica

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[3]. Por conseguinte, a existência do direito positivo é inegável, porém a formalidade que o

institui muitas vezes é colocada em xeque.

Destarte, percebe-se que o Jusnaturalismo e Juspositivismo devem ser vistos, apesar de

suas vertentes opostas, como um conjunto de conceitos que se complementam.

Referências Bibliográficas

DINIZ, Maria Helena. Compêndio de Introdução à Ciência do Direito. 17. ed., São Paulo:

Saraiva, 2005.

FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: técnica, decisão,

dominação. 3. ed., São Paulo: Atlas, 2002.

REALE, Miguel. Filosofia do Direito. São Paulo: Saraiva, 1996.

REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2003.

[1] - Dicionário online MICHAELIS - http://michaelis.uol.com.br/

[2] [3] - REALE, Miguel. Lições preliminares de Direito. São Paulo: Saraiva, 2003.