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Linguística textual Intertextualidade

Linguística textual - Intertextualidade

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Page 1: Linguística textual - Intertextualidade

Linguística textual

Intertextualidade

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Linguística textualIntertextualidade

Um texto contém sempre referências de diferentes tipos (e com diferentes propósitos retóricos ou estilísticos) a outros textos.

Um texto contém sempre referências de diferentes tipos (e com diferentes propósitos retóricos ou estilísticos) a outros textos.

Texto que contém

referências a outros textos

Texto que contém

referências a outros textos

Textos referidos

no hipertexto

Textos referidos

no hipertexto

hipertextohipertexto hipotextoshipotextos

Page 3: Linguística textual - Intertextualidade

O hipotexto de um texto

literário pode

ser:

O hipotexto de um texto

literário pode

ser:

Exemplo:

um texto pictórico ou um

texto musical.

um texto literárioum texto literárioum texto não-literário ou

um texto não-verbal

um texto não-literário ou

um texto não-verbal

Linguística textualIntertextualidade

Page 4: Linguística textual - Intertextualidade

Linguística textualIntertextualidade

Em Memorial do Convento, as referências a Os Lusíadas são permanentes,

estabelecendo-se, desta forma, um paralelismo entre a grandeza e heroicidade

do povo português em circunstâncias muito distintas, dando, simultaneamente,

uma nova interpretação, mais humana e realista, aos acontecimentos

históricos; mas muitos mais textos e escritores portugueses se encontram ali

representados, criando-se uma teia de referências à nossa literatura e cultura,

num “diálogo irónico e provocador com a tradição literária”.

Em Memorial do Convento, as referências a Os Lusíadas são permanentes,

estabelecendo-se, desta forma, um paralelismo entre a grandeza e heroicidade

do povo português em circunstâncias muito distintas, dando, simultaneamente,

uma nova interpretação, mais humana e realista, aos acontecimentos

históricos; mas muitos mais textos e escritores portugueses se encontram ali

representados, criando-se uma teia de referências à nossa literatura e cultura,

num “diálogo irónico e provocador com a tradição literária”.

Page 5: Linguística textual - Intertextualidade

Linguística textualIntertextualidade

Ao conjunto das relações mais ou menos explícitas que um hipertexto mantém com um ou mais hipotextos dá-se o nome de:

Intertextualidade

Intertextualidade

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Linguística textualIntertextualidade

Modalidades de intertextualidade

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CitaçãoCitação Reprodução, devidamente identificada, de um excerto textual, no interior de um texto, com o objetivo de ilustrar ou sustentar uma ideia.

Reprodução, devidamente identificada, de um excerto textual, no interior de um texto, com o objetivo de ilustrar ou sustentar uma ideia.

Linguística textualIntertextualidade

José Saramago cita Fernando Pessoa, Mensagem:

«Em seu trono entre o brilho das estrelas, com seu manto de noite e solidão, tem aos seus pés o mar novo e as mortas eras, o único imperador que tem, deveras, o globo mundo em sua mão, este tal foi o infante D. Henrique […].»

José Saramago, Memorial do Convento, Alfragide, Editorial Caminho, 2013, p. 307.

José Saramago cita Fernando Pessoa, Mensagem:

«Em seu trono entre o brilho das estrelas, com seu manto de noite e solidão, tem aos seus pés o mar novo e as mortas eras, o único imperador que tem, deveras, o globo mundo em sua mão, este tal foi o infante D. Henrique […].»

José Saramago, Memorial do Convento, Alfragide, Editorial Caminho, 2013, p. 307.

Exemplo:

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EpígrafeEpígrafeFragmento de texto célebre, devidamente identificado, reproduzido no início de um texto, de um capítulo ou de uma secção, que relaciona o conteúdo do texto que se segue com o conteúdo da obra referida, integrando o hipertexto num domínio de pensamento específico.

Fragmento de texto célebre, devidamente identificado, reproduzido no início de um texto, de um capítulo ou de uma secção, que relaciona o conteúdo do texto que se segue com o conteúdo da obra referida, integrando o hipertexto num domínio de pensamento específico.

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Em O Ano da Morte de Ricardo Reis: «Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo.»

(Ricardo Reis) «Escolher modos de não agir foi sempre a atenção e o escrúpulo da minha vida.»

(Bernardo Soares) «Se me disserem que é absurdo falar assim de quem nunca existiu, respondo que também não tenho provas de que Lisboa tenha alguma vez existido, ou eu que escrevo, ou qualquer coisa onde quer que seja.»

(Fernando Pessoa)

Em O Ano da Morte de Ricardo Reis: «Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo.»

(Ricardo Reis) «Escolher modos de não agir foi sempre a atenção e o escrúpulo da minha vida.»

(Bernardo Soares) «Se me disserem que é absurdo falar assim de quem nunca existiu, respondo que também não tenho provas de que Lisboa tenha alguma vez existido, ou eu que escrevo, ou qualquer coisa onde quer que seja.»

(Fernando Pessoa)

Exemplos:

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AlusãoAlusão Referência mais ou menos indireta a outro texto (ou situação) que deixa ao leitor ou ouvinte a tarefa de o identificar.

Referência mais ou menos indireta a outro texto (ou situação) que deixa ao leitor ou ouvinte a tarefa de o identificar.

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«Da sua gaiola de madeira pregou o celebrante ao mar de gente, se fosse o mar de peixes, que formoso sermão se teria podido repetir aqui, com a sua doutrina muito clara, muito sã, mas, peixes não sendo, foi a pregação como a mereciam homens e só a ouviram os fiéis que mais ao perto estavam […].»

José Saramago, Memorial do Convento, pp. 225 e 313.

Referência de «[…] Bradam os demónios no inferno, e dessa maneira julgas escapar à condenação, mas aquele que tudo vê, não este cego Tobias, o outro a quem […]».

(Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes)

«Da sua gaiola de madeira pregou o celebrante ao mar de gente, se fosse o mar de peixes, que formoso sermão se teria podido repetir aqui, com a sua doutrina muito clara, muito sã, mas, peixes não sendo, foi a pregação como a mereciam homens e só a ouviram os fiéis que mais ao perto estavam […].»

José Saramago, Memorial do Convento, pp. 225 e 313.

Referência de «[…] Bradam os demónios no inferno, e dessa maneira julgas escapar à condenação, mas aquele que tudo vê, não este cego Tobias, o outro a quem […]».

(Padre António Vieira, Sermão de Santo António aos Peixes)

Exemplos:

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ParáfraseParáfrase Sequência que reformula um fragmento de texto, explicitando e desenvolvendo o seu sentido.

Sequência que reformula um fragmento de texto, explicitando e desenvolvendo o seu sentido.

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Destas [mulheres], duas serão relaxadas ao braço secular, em carne, por relapsas, e isto quer dizer reincidentes na heresia, por convictas e negativas, e isto quer dizer teimosas apesar de todos os testemunhos, por contumazes, e isto quer dizer persistentes nos erros que são suas verdades, só desacertadas no tempo e no lugar.

José Saramago, Memorial do Convento, p. 65.

Destas [mulheres], duas serão relaxadas ao braço secular, em carne, por relapsas, e isto quer dizer reincidentes na heresia, por convictas e negativas, e isto quer dizer teimosas apesar de todos os testemunhos, por contumazes, e isto quer dizer persistentes nos erros que são suas verdades, só desacertadas no tempo e no lugar.

José Saramago, Memorial do Convento, p. 65.

Exemplo:

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ParódiaParódia Imitação de um texto, deformando-o, com o propósito de ridicularizar ou criticar.

Imitação de um texto, deformando-o, com o propósito de ridicularizar ou criticar.

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Imitação de José Saramago, em Memorial do Convento, a partir de Os Lusíadas:

«[…] e então uma grande voz se levanta, é um labrego de tanta idade já que o não quiseram, e grita subindo a um valado que é púlpito de rústicos, Ó glória de mandar, ó vã cobiça, ó rei infame, ó pátria sem justiça […].»

José Saramago, Memorial do Convento, pp. 402.

Imitação de José Saramago, em Memorial do Convento, a partir de Os Lusíadas:

«[…] e então uma grande voz se levanta, é um labrego de tanta idade já que o não quiseram, e grita subindo a um valado que é púlpito de rústicos, Ó glória de mandar, ó vã cobiça, ó rei infame, ó pátria sem justiça […].»

José Saramago, Memorial do Convento, pp. 402.

Exemplo:

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«Mas um velho d'aspeito venerando,Que ficava nas praias, entre a gente,Postos em nós os olhos, meneandoTrês vezes a cabeça, descontente,A voz pesada um pouco alevantando,Que nós no mar ouvimos claramente,C'um saber só de experiências feito,Tais palavras tirou do experto peito:

Luís de Camões, Os Lusíadas (leitura, prefácio e notas Costa Pimpão), IV, ests. 94-95, Lisboa, Instituto Camões, 2000, p. 190.

«Mas um velho d'aspeito venerando,Que ficava nas praias, entre a gente,Postos em nós os olhos, meneandoTrês vezes a cabeça, descontente,A voz pesada um pouco alevantando,Que nós no mar ouvimos claramente,C'um saber só de experiências feito,Tais palavras tirou do experto peito:

Luís de Camões, Os Lusíadas (leitura, prefácio e notas Costa Pimpão), IV, ests. 94-95, Lisboa, Instituto Camões, 2000, p. 190.

—"Ó glória de mandar! Ó vã cobiça Desta vaidade, a quem chamamos Fama! Ó fraudulento gosto, que se atiça C'uma aura popular, que honra se chama! Que castigo tamanho e que justiça Fazes no peito vão que muito te ama! Que mortes, que perigos, que tormentas, Que crueldades neles experimentas!”»

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Imitação criativa

Imitação criativa

Recriação a partir de um texto, sem o ridicularizar ou criticar.Recriação a partir de um texto, sem o ridicularizar ou criticar.

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Recriação de José Saramago, em Memorial do Convento, a partir de Os Lusíadas:

«Já vai andando a récua dos homens de Arganil, acompanham-nos até fora da vila as infelizes, que vão clamando, qual em cabelo, Ó doce e amado esposo, e outra protestando, Ó filho, a quem eu tinha só para refrigério e doce amparo desta cansada já velhice minha […]»

José Saramago, Memorial do Convento, p. 402.

Recriação de José Saramago, em Memorial do Convento, a partir de Os Lusíadas:

«Já vai andando a récua dos homens de Arganil, acompanham-nos até fora da vila as infelizes, que vão clamando, qual em cabelo, Ó doce e amado esposo, e outra protestando, Ó filho, a quem eu tinha só para refrigério e doce amparo desta cansada já velhice minha […]»

José Saramago, Memorial do Convento, p. 402.

Exemplo:

Page 14: Linguística textual - Intertextualidade

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«Qual vai dizendo: − “Ó filho, a quem eu tinha Só pera refrigério e doce emparo Desta cansada já velhice minha, Que em choro acabará, penoso e amaro, Porque me deixas, mísera e mesquinha? Porque de mi te vás, ó filho caro, A fazer o funéreo enterramento Onde sejas de pexes mantimento?”

Luís de Camões, Os Lusíadas (leitura, prefácio e notas Costa Pimpão), IV, ests. 90-95, Lisboa, Instituto Camões, 2000, p. 189.

«Qual vai dizendo: − “Ó filho, a quem eu tinha Só pera refrigério e doce emparo Desta cansada já velhice minha, Que em choro acabará, penoso e amaro, Porque me deixas, mísera e mesquinha? Porque de mi te vás, ó filho caro, A fazer o funéreo enterramento Onde sejas de pexes mantimento?”

Luís de Camões, Os Lusíadas (leitura, prefácio e notas Costa Pimpão), IV, ests. 90-95, Lisboa, Instituto Camões, 2000, p. 189.

Qual em cabelo: − “Ó doce e amado esposo, Sem quem não quis Amor que viver possa, Porque is aventurar ao mar iroso Essa vida que é minha e não é vossa? Como, por um caminho duvidoso,Vos esquece a afeição tão doce nossa? Nosso amor, nosso vão contentamento, Quereis que com as velas leve o vento?”»