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O Modernismo

Modernismo

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O Modernismo

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- “ Foi em Dezembro de 1910, ou por volta dessa época que a natureza humana mudou.”

- Escritores e pintores declararam ruidosamente o seu desprezo pelas seculares regras da gramática e da

perspetiva e produziram novelas sem intriga e quadros que nada pareciam representar.

- A Europa e o mundo viviam uma época marcada por:

. um clima de euforia e de optimismo

. a par de factores geradores de euforia, graves problemas surgiam: superprodução; crises de

habitação; movimentos migratórios e o desenvolvimento de sentimentos xenófobos e nacionalistas, que

levariam a duas Guerras mundiais, as quais representariam o desabar das ilusões mais optimistas do início

do século.

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- Tais fatores contraditórios acompanharam um pôr em questão de toda uma série de pressupostos filosóficos. Para tal concorreram Freud, criador da Psicanálise e pioneiro no desbravar do psiquismo humano, ao apontar o papel dos domínios do inconsciente e do subconsciente; e Einstein, com o seu novo modelo de compreensão do universo, expresso na teoria da relatividade;

- Na literatura e nas artes, deu-se largas a novos conceitos antitradicionais, propondo-se caminhos estéticos novos, definitivamente afastados dos pressupostos aristotélicos, naquilo que podemos designar de Modernismo(s).

( Velasquez e Picasso)

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O Modernismo encara a literatura como

“linguagem que se constitui a partir de um vazio, pela transposição ou fingimento– e não já como expressão direta das vivências do Eu do Autor.”

Tais conceções novas são expressas de diversos modos:

. agressão e polémica, sarcasmo, “escândalo”;

. exercício e celebração das energias individuais (Walt Whitman)

. sondar o inconsciente ( mais tarde levará ao surrealismo)

. entrega à vertigem das sensações, celebração da força, da máquina, da cidade, da

raça e da virilidade

. tendência para a dispersão e consciência da multiplicidade do Eu.

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Primeiro Modernismo

- Orpheu - 1915

- Fernando Pessoa, Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos

- Mário de Sá-Carneiro…

Segundo Modernismo

- Presença - 1927

- José Regio, Miguel Torga, Branquinho da Fonseca, Adolfo Casais Monteiro, Irene Lisboa,

- neorrealismo: José Rodrigues Miguéis, Alves Redol, Manuel da Fonseca, Mário Dionísio,

Fernando Namora…

Terceiro Modernismo

- Cadernos de Poesia,

- Ruy Cinatti, Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andresen,

Eugénio de Andrade…

- surrealismo – anos 50

- Mário Cesariny, Alexandre O’Neil…

- António Ramos Rosa, Sebastião da Gama, David Mourão-Ferreira…

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- Em Portugal as novas conceções desenvolveram-se sobretudo entre 1912 a 1924, emtorno da revista Orpheu, Portugal Futurista, Athena, Contemporârea e outras; eprincipalmente das figuras de Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Mário de Sá Carneiro.Importante foi sem dúvida, a permanência em Paris de artistas plásticos e literatos comoSanta-Rita Pintor, Amadeo de Souza Cardozo ou Mário de Sá Carneiro.

- Orpheu- Um dos maiores escândalos editorais;- Deseja desassemelhar-se de outros meios, maneiras de formas de realizar arte;- Síntese de todos os movimentos modernos;- Encontro de letras e pintura com uma série infindável de “ismos”: paulismo,

interseccionismo; simultaneísmo; futurismo; simbolismo; decadentismo; sensacionismo.

- Quando a publicação do Orpheu acaba estava consolidada a 1ª geração modernistaportuguesa.

Primeiro Modernismo

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É nas artes plásticas, com Amadeu de Sousa Cardoso (hoje reconhecido como um dos importantespioneiros da escola de Paris), com Santa-Rita Pintor (como assinava quem foi mais um dos aventureiros dasartes naquele tempo, que um artista), e com Almada Negreiros ( cuja exposição de caricaturas, em 1913,Fernando Pessoa saudou num artigo publicado na Águia), que o vanguardismo primeiro toca os portugueses,em 1912-13, cerca de um ano antes de Pessoa e Sá Carneiro se decidirem por um movimento autónomo. EmAbril e em Julho de 1915, são publicados dois números da revista Orpheu, que foram o lançamento digamosoficial e polémico do vanguardismo. Um terceiro número ficou em provas por dificuldades várias. Aqueles doisnúmeros produziram, nos meios intelectuais e jornalísticos, precisamente os efeitos que os promotoresdesejavam. Conta-se que, estando Sá-Carneiro já no expresso que partia para uma das suas idas a Paris, chegouPessoa correndo com o jornal na mão, em que um ilustre psiquiatra da época, que havia sido entrevistado sobre“os do Orpheu”, gravemente os declarava doidos! – E Sá-Carneiro, debruçado na janela do comboio emandamento, e arrebatando o jornal, exclamou: - Ah diz? Então vencemos!

Não tinham vencido. E não se pode dizer que ainda hoje a vitória deles seja completa, apesar de ambosterem entrado para o panteão seleto da grande poesia. Mas tinham realmente, com um choque que hoje nosparece menor do que terá sido, inaugurado uma época nova da poesia portuguesa, e um padrão de exigênciaestética e de audácia intelectual, como em poucas mutações semelhantes terá acontecido. Depois de 1915, (…)nunca mais foi possível em Portugal que um poeta se alheasse de padrões vanguardistas, sem correr o risco deser medíocre, passadista, inculto, provinciano, de baixo nível de cultura e de gosto. O que evidentemente nãosignifica que depois de 1915, muitos poetas de alto mérito não tenham corrido esse risco…

Jorge de Sena, Estudos de Literatura Portuguesa – III, Lisboa, Edições 70, 1988

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Júlio Dantas publicou um artigo na Ilustração Portuguesa em que criticava a demasiada publicidade que

deste modo se fazia ao Orpheu, num artigo intitulado “ Poetas paranóicos”;

Este texto teve como resposta o grande texto que insultava e agredia toda a intelectualidade lisboeta

“Manifesto anti Dantas”.

- A forma de reagir dos modernistas em relação à ‘pasmaceira’ da cultura era o escândalo, o choque

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Fernando Pessoa - ortónimo

“ Há entre mim e o mundo uma névoa que impede que eu veja as coisas comoverdadeiramente são – como são para os outros. ”

Fernando Pessoa, Páginas Íntimas de autointerpretação

“Não sei quem sou, que alma tenho.Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe.Sinto crenças que não tenho. (…) Sinto-me múltiplo.Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única central realidade que não está em nenhum e está em todos.(…) Eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada, individuado por uma suma de não-eus sintetizados nun eu postiço.

Fernando Pessoa, escritos autobiográficos, automatismos e de reflexão pessoal, ed Assírio & Alvim

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.

Fernando Pessoa - ortónimoLinhas de sentido / temas recorrentes

. Decifração do enigma do ser;

. Fragmentação do eu. Perda da identidade;

. Consciência/ inconsciência – Sentir/ pensar/ a dor de pensar;

. Pendor filosófico;

. Obsessão da análise, dor de pensar, lucidez;

. Egotismo exacerbado;

. Fuga da realidade para o sonho;

. Incapacidade de viver a vida;

. Ceticismo;

. Inquietação, angústia existencial, solidão interior, melancolia, resignação;

. Tédio, náusea, desencontro dos outros, desamparo;

. Nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância, sentimento de perda;

. Fingimento poético;

. Transfiguração da emoção pela razão;

. Sinceridade/ fingimento/ o eu fragmentado.

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Sou um evadido.

Logo que nasci

Fecharam-me em mim,

Ah! Mas eu fugi.

Se a gente se cansa

Do mesmo lugar,

Do mesmo ser

Por que não se cansar?

Minha alma procura-me

Mas eu ando a monte,

Oxalá que ela

Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,

Ser eu não é ser.

Viverei fugindo

Mas vivo a valer

Tudo o que faço ou medito

Fica sempre na metade.

Querendo, quero o infinito.

Fazendo, nada é verdade.

Que nojo de mim me fica

Ao olhar para o que faço!

Minha alma é lúcida e rica,

E eu sou um mar de sargaço-

Um mar onde bóiam lentos

Fragmentos de um mar de além…

Vontades ou pensamentos?

Não o sei e sei-o bem.

Pobre velha música!

Não sei porque agrado,

Enche-se de lágrimas

Meu olhar parado.

Recordo outro ouvir-te.

Não sei se te ouvi

Nessa minha infância

Que me lembra em ti.

Com ânsia tão raiva

Quero aquele outrora!

E eu era feliz? Não sei:

Fui-o outrora agora.

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Relê os versos que se seguem, retirados de vários poemas de Fernando Pessoa

ortónimo. A partir deles ( citando, comentando, explicitando as ideias…)

organiza um texto coeso em que caracterizes o eu poético.

. Ah, poder ser tu, sendo eu!

. (…) Levando-me, passai!

. Invejo a sorte que é tua (…)

. És feliz, porque és assim/ todo o nada que és é teu

. Escuto e passou

. Tudo é ilusão

. Acreditem: não sei ser.

. Vamos florir ou pensar.

. Tudo o que faço ou medito/ fica sempre na metade

. Nada quero, nem tenho, nem recordo

. Coração de ninguém

Em síntese:

. A dor de pensar e o binómio sentir/pensar;

. Fragmentação do eu

. Nostalgia do bem (simplicidade) perdido

. Tudo é ilusão, tédio e cansaço de viver

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Fernando Pessoa – heterónimos

“Em qualquer destes pus um profundo conceito de vida, diversa em todos três, mas em todos gravemente atento à importância misteriosa de existir” Fernando Pessoa

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Alberto Caeiro. O mestre. Poeta bucólico. nasceu em 1889 e morreu em 1915. nasceu em Lisboa, viveu quase sempre no camponão tem profissão nem educação quase nenhuma. É iletrado.. estatura média, frágil ( morreu tuberculoso) não parecia tão frágil como era. cara rapada. louro sem cor, olhos azuis. só tem a instrução primária. morreram-lhe cedo pai e mãe. ficou em casa vivendo de pequenos rendimentos. vivia com uma tia velha, tia-avó. filósofo. amante da natureza

Ricardo Reis

. discípulo de Caeiro. nasce em 1887 no Porto. é médico. vive no Brasil desde 1919. mais baixo do que Caeiro, mais forte, mais seco.. Cara rapada. Vagamente moreno. educado num colégio de Jesuítas,.Expatriou-se por ser monárquico.É um latinista por educaçãoSemi-helenista por educação própria. Neo-clássico. Pagão

Álvaro de Campos. oposto a Ricardo Reis. nasce em Tavira 15 de Outubro de 1890. Engenheiro naval ( por Glasgow), . . . . está em Lisboa inativo. 1,75 de altura ( mais 2 cm que o poeta). magro, tendência a curvar-se, cara rapada, usava monóculo. entre o branco e o moreno, tipo judeu. cabelo liso, puxado para o lado. educação vulgar de liceu. Estudou engenharia na Escócia (mecânica e depois naval). Numas férias fez uma viagem ao Oriente de onde resultou o Opiário. Aprendeu latim com um tio beirão que era padre.. disfarçando uma homossexualidade latente. futurista

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Alberto Caeiro, o Mestre

“ Eu não tenho filosofia: tenho sentidos.”

Alberto Caeiro

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Alberto Caeiro, o Mestre

• Caeiro, ao contrário de Pessoa, vive o presente, sem qualquer preocupação. Para ele o passado e o presente não têm qualquer importância, pois fá-lo-iam recorrer à memória e fazer uso do pensamento, duas coisas que ele rejeita, à partida.

• Condena a subjetividade, que condiciona a visão do homem sobre as coisas. Pensar é o grande mal.• Intuitivo, detentor de uma ingenuidade quase infantil, Caeiro, o Mestre de todos os outros,

incluindo Pessoa, vive sem sofrimento ou angústia.• Devemos manter a alma de criança que nos deixa olhar tudo como se fosse pela primeira vez, com

espanto e pureza interior. Sem perversidades intelectuais. O que importa de facto é o momento que se está a viver.

• A sua realidade é apreendida pelos sentidos, sobretudo pela visão.• Limpo de sofrimento causado pela reflexão é o mais objetivo que se possa imaginar. A sua poesia é

um ato espontâneo e involuntário.• Caeiro dá-se ao mundo e dilui-se nele.• Caeiro quase se anula para aproveitar ao máximo todas as sensações que a Natureza lhe

proporciona. A presença humana é encarada como um fator de desassossego, impeditivo da paz que tudo lhe pode dar. Ele não se impõe à Natureza. Ele dá-se, sem qualquer inquietação.

• Percorre os campos, a olhar, sempre na perspetiva de aprender algo.

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• A sua poesia tão desprovida de artifícios e intenções estéticas, surge-nos em verso, quase por acaso.• A calma que transparece dos seus versos é tão grande, que ajuda a fazer esquecer todas as angústias de

um ser humano demasiado preocupado com as soluções da Vida.• Ele é o Poeta-Natureza, em que Criador (poeta) e Criatura (poesia) se confundem a tal ponto, que a

Síntese é perfeita.• Despe-se de toda a sua história, de todos os pensamentos que lhe podem turvar o olhar e limita-se a

sentir o mundo.• A importância da sensação em detrimento de uma atitude mística. Ele é, simples e naturalmente.

• O seu paganismo – O deus adorado por Caeiro não é um deus abstrato, mas um deus que se mostra a par e passo nas suas sensações. É um deus-natureza, capaz de lhe provocar uma comunhão completa com o que vê e o que ouve. Para Caeiro o melhor é não pensar em Deus. O melhor é encontrá-lo em cada um dos momentos belos que desfrutamos ( Panteísmo). Rejeita então um Deus abstrato e inacessível, e aceita a sua presença em tudo o que vê e sente.

• Recusando uma ligação intelectual com o mundo, com a Natureza, a única forma que ele tem de estabelecer essa ligação é através dos sentidos. E esses não podem compreender, podem apenas apreender.

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• A ação poética – Tal como a flor não pode esconder a sua cor, Caeiro não pode evitar que os outros

conheçam a sua poesia. A poesia deve ser tão natural como a Natureza, cumprindo o seu dever até ao

fim. O poeta deve viver e criar, criar vivendo, com serenidade, sem quaisquer inquietações. Não fica

alegre, mas também não sente tristeza. Se sentisse algo já estaria a pensar no assunto. É um olhar

desprovido de intenção crítica, abandonado de qualquer ideia.

• Toda esta reflexão surge em ambiente bucólico, que nos sugere harmonia. Tal como ele, a Natureza

vive serenamente e é essa serenidade que o inspira e lhe provoca sensações sempre diferentes e

originais.

Afinal “ pensar é estar doente dos olhos”.

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Ricardo Reis

Tão cedo passa tudo quanto passa!Morre tão jovem ante os deuses quantoMorre! Tudo é tão pouco!Nada se sabe tudo se imagina.Circunda-te de rosas, ama, bebeE cala. O mais é nada.

Ricardo Reis

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Temáticas mais recorrentes:- O tempo com o qual se deve contar, mas com o qual não nos devemos preocupar- A vida que tal como ela se nos apresenta, não nos causa angústia- o momento da infância como possuidor de grande sabedoria- A contemplação da Natureza como principal meio de aprender- A preferência pelos cenários bucólicos, simples, sem artificialismos - A áurea mediocritas – o prazer que se pode ter com as coisas mais simples - A aceitação do Destino e do Tempo – O peso do Fatum- É inevitável o destino que nos é traçado, mas devemos respeitá-lo e aceitá-lo - Deus, o paganismo ou vários deuses. O politeísmo, a ideia de que em cada coisa pode haver um deus, em cada realidade, em cada sensação pode haver conforto; portanto há que aproveitar ( carpe diem)- A aceitação do ato de pensar e do saber como coisas naturais- A lucidez e a consciência- A apatia permite a felicidade possível (epicurismo)- A aceitação do sofrimento e da angústia como algo natural (estoicismo) ; há que mostrar alguma indiferença e tentar aprender com os momentos menos bons e ultrapassar os obstáculos (ataraxia e o niilismo)- Aproveitar a condição de ser mortal e aproveitar tudo o que o destino nos reserva - Tenta viver com o menor sofrimento possível e aproveitar o que cada momento lhe dá.( aponia)

Ricardo Reis

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- Niilismo – não somos nada, ataraxia, aponia (ausência da dor)fugacidade do tempo

- Estoicismo – aceitação, disciplina, razão, autodisciplina, moderação, indiferença, abdicação,

aceitação do destino

- Epicurismo – cálculo e medida dos prazeres, carpe diem

Latinizante no vocabulário e na sintaxe, o seu estilo é densamente trabalhado e revela ainda, muitoclaramente, o seu tributo à tradição clássica no uso de estrofes regulares, quase sempre dedecassílabos nas referências mitológicas.

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NIILISMO

A filosofia de Reis é um niilismo total. Ele repete incansavelmente, no mesmo tom desencantado, semqualquer emoção aparente, sem qualquer tremura na voz, que o ser é apenas um clarão fugitivo à beirado nada.

Não somos nada, não temos nada, não fazemos nada que dure. A vida é um breve adiamento damorte.

consciência intensa da brevidade de tudo, da perpétua ameaça do tempo que corre, da fragilidade dasnossas obras. Canta a inutilidade de tudo e o esquecimento, a miséria da condição do homem, sujeitoao destino e aos deuses.

Esta visão niilista do mundo fá-lo construir uma ética da aceitação total. Por uma via muito diferente dade Caeiro, ele vai também encontrar a única felicidade possível num «sim» dito à criação.

Liberdade e alegria tomam a forma da «serenidade», a ataraxia: a imobilidade do eixo em volta do qualgira a roda do tempo.

Amor da vida rústica, junto da natureza. Mas, enquanto o Mestre, menos culto e complicado é (oupretende ser) um homem franco, alegre, Reis é um ressentido que sofre e vive o drama datransitoriedade doendo-lhe o desprezo dos deuses.

Latinizante no vocabulário e na sintaxe, o seu estilo é densamente trabalhado e revela ainda, muitoclaramente, o seu tributo à tradição clássica no uso de estrofes regulares, quase sempre dedecassílabos nas referências mitológicas.

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Epicurismo

• o epicurismo - como o estoicismo - subordina a teoria à pratica, a ciência à moral, para garantir ao homem

o bem supremo, a serenidade, a paz, a apatia.

• É tarefa do conhecimento do mundo libertar o homem dos grandes temores que ele tem a respeito da

sua vida, da morte, do além-túmulo, de Deus e fazer com que ele actue de conformidade.

• Todo o nosso conhecimento deriva da sensação, é uma complicação de sensações

• No mundo o homem, sem providência divina, sem alma imortal, deve adaptar-se para viver como

melhor puder. Nisto estão toda a sabedoria, a virtude, a moral epicuristas.

• O fim supremo da vida é o prazer sensível; critério único de moralidade é o sentimento. O único bem é o

prazer, como o único mal é a dor; nenhum prazer deve ser recusado, a não ser por causa de consequências

dolorosas, e nenhum sofrimento deve ser aceite, a não ser em vista de um prazer, ou de nenhum sofrimento

menor. No epicurismo não se trata, portanto, do prazer imediato, como é desejado pelo homem vulgar;

trata-se do prazer imediato, refletido, avaliado pela razão, escolhido prudentemente, sabiamente,

filosoficamente.

• verdadeiro prazer não é positivo, mas negativo, consistindo na ausência do sofrimento, na quietude, na

apatia, na insensibilidade, no sono, e na morte.

• Não sofrer no corpo, satisfazendo suas necessidades essenciais, para estar tranquilo; não ser perturbado no

espírito, renunciando a todos os desejos possíveis, visto ser o desejo inimigo do sossego: eis as condições

fundamentais da felicidade, que é precisamente liberdade e paz.

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Estoicismo

A virtude estoica é, no fundo, a indiferença e a renúncia a todos os bens do mundo que não dependem de nós, e cujo curso é fatalmente determinado.

Por conseguinte, indiferença e renúncia a tudo, salvo e pensamento, a sabedoria, a virtude, que constituem os únicos bens verdadeiros: indiferença e renúncia à vida e à morte, à saúde e à doença, ao repouso e à fadiga, à riqueza e à pobreza, às honras e à obscuridade, numa palavra, ao prazer e ao sofrimento - pois o prazer é julgado insana vaidade da alma.

Estóico pratica esta indiferença e renúncia para não ser perturbado, magoado pela possível e frequente carência dos bens terrenos, e para não perder, de tal maneira, a serenidade, a paz, o sossego, que são o verdadeiro, supremo, único bem da alma.

Afligem-no a imagem antecipada da Morte e a dureza do Fado. Daí, ele buscar o refúgio dum epicurismotemperado de algum estoicismo: "Abdica e sê rei de ti próprio".

Lúcido e cauteloso, constrói, para si urna felicidade - relativa, mista de resignação e moderado gozo dosprazeres que não comprometam a sua interior. Trata-se de fruir, muito consciente e ponderadamente, ascoisas acessíveis sem demasiado esforço ou risco.

Page 25: Modernismo

Nada fica de nada. Nada somos.

Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos

Da irrespirável treva que nos pese

Da húmida terra imposta,

Cadáveres adiados que procriam.

Leis feitas, estátuas vistas, odes findas -

Tudo tem cova sua. Se nós, carnes

A que um íntimo sol dá sangue, temos

Poente, porque não elas?

Somos contos contando contos, nada.»

Ricardo Reis

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Álvaro de Campos

” Sentir tudo de todas as maneiras”,

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1ª fase: Decadentismo (“Opiário”)

- nostalgia de além,- morbidez snob de um saturado da civilização,- a embriaguês do ópio e dos sonhos,- horror à vida e o realismo satírico,- estilo confessional brusco, amimado e divagativo,

. Campos, tal como Ricardo Reis ou Caeiro, deixa-se invadir pela Natureza, porém a Natureza-Progresso, cujo símbolo maior é a máquina. A máquina tem a essência Divina.. O eu é um inadaptado confesso, incapaz de se fixar e encontrar.. Não só reconhece uma vontade pouco eficaz, que o impede de reagir, como manifesta um profundo cansaço pela vida.. Esta saturação sufoca-o e ampara-o conduzindo-o a um pessimismo incontornável e carácter mórbido.. Há já indícios do desejo de mudar nesta fase: desejo de ser algo forte; gosto pelo escândalo; desejo de sentir coisas novas.

. O mais arrebatado e indisciplinado dos seus heterónimos.

. É o único que revela uma evolução literária e psicológica: Decadentismo, Futurismo/Sensacionismo, Abulia;

. Campos revela ter duas faces: A positiva, cheia de energia e euforia; e a negativa, disfórica, dominada pela

abulia e o esgotamento.

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2ª fase: Futurismo/ Sensacionismo

. A sua poesia é um cântico à vida moderna, ao progresso, à civilização em constante mutação. Essa sociedade que ele apreende através das sensações de uma forma emotiva, impulsiva, explosiva.. Ele quer viver ao extremo, conhecer o estado supremo da vertigem e.” Sentir tudo de todas as maneiras”, ( Ode Triunfal ) Sente o bem como sente o mal, o mórbido como sente o saudável, o normal como sente o anormal.- vitalidade e defesa da emotividade individual em detrimento do uso da razão.- exaltação da luta ao poder e cultura instituída; apologia de um Homem isento de sensibilidade, saudável, amoral, dominador, livre.. Nesta fase o estilo de Campos corresponde à expressão das ideias: longos versos, anáforas, exclamações, interjeições, apóstrofes, enumerações, adjetivação, onomatopeias…. O eu exalta de forma crescente e torrencial a máquina, a vida mecânica e industrial, a civilização moderna, o quotidiano das gentes, ou melhor, as sensações fortes extraídas do amor à vida moderna em toda a sua variedade.. As sensações de tão intensas tornam-se violentas. Um sentir extremo que não exclui o sadomasoquismo.. O que importa é que o eu integre esta realidade em si sem respeitar os limites.. Desejo de identificação com o mundo e com a humanidade inteira, como forma de viver o todo..

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3ª fase: Abulia

. A infância ainda lhe provoca algum intimismo e nostalgia.

. Revela uma energia incessante e desgastante, que muitas vezes lhe provoca cansaço e desencontro consigo próprio.. Campos “vive o máximo, para chegar ao fim, perdido de si, sem forças, encontrando o vazio”. Em alguns momentos o eu poético toma consciência da sua incapacidade de abarcar o mundo, de dominá-lo. Começa a sentir uma profunda náusea e cansaço de si. (Tabacaria). Profunda insatisfação e profunda inadaptação ao real, real esse “comum a todos os mortais”.

. No poema “ Mestre, meu querido mestre”, põe em evidência o seu fascínio por Caeiro e a frustração de não conseguir ser como ele. “ Mestre, só seria como tu se tivesse sido tu./(…) “ Depois, mas porque é que me ensinaste a clareza da vista,/

Se não me podias ensinar a ter a alma com que a ver Clara?. O mestre era bom, mas o aluno não teve a capacidade de aprender com ele. O seu destino era rodopiar em sensações sem conseguir evitar a angústia de não ser o que desejava, estando condenado a não ser ninguém.. Campos como pagão, assume e invoca o deus-universo.. O monótono e insípido fluir do quotidiano, o sonho, essa evasão libertadora perdeu-se na infância.. O passado evocado como bem perdido, leva o eu a revelar todo o seu desencanto presente, mostrando-se incapaz de vencer a abulia e o cansaço que povoam a sua solidão, descontente consigo e com os outros sente o fluir do quotidiano como uma morte anunciada.

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Segundo Modernismo

- Presença - 1927

- José Regio, Miguel Torga, Branquinho da Fonseca, Adolfo Casais

Monteiro, Irene Lisboa,

- neorrealismo: José Rodrigues Miguéis, Alves Redol, Manuel da

Fonseca, Mário Dionísio, Fernando Namora…

Page 31: Modernismo

• Um grupo de estudantes lançou em 10 de março de 1927 a revista Presença;

• Ao todo saíram cinquenta e seis anos durante treze anos;

• Não gerou um movimento tão agressivo e controverso como o Orpheu, mas controlou os

excessos deste;

• Não representou uma rutura, foi antes uma continuidade e um amadurecimento;

• Uma das questões discutidas, analisadas e nem sempre consensual era a originalidade; a

personalidade única dos artistas.

“ Em arte é vivo tudo o que é original”

“ Substitui-se a personalidade pelo estilo”

“Regra geral os nossos críticos são amadores de antiguidades”

José Régio, in Presença, nº1, 1927

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Realismo (de Eça) Neorrealismo

Análise da sociedade

Evidenciar os seus vícios

Temas: adultério, a educação, ambição,

hereditariedade, o meio ambiente, …

Filosofia Marxista da luta das classes

Forma de consciência social

Capacidade de intervenção sociopolítica

Denúncia de realidades normalmente deprimentes

Contesta à partida as linhas condutoras da

Presença, mas tem por base um discurso particular

Temas: conflitos sociais, luta de classes,

alienação, opressão, posse da terra…

Empenho na transformação da sociedade e do

mundo

Page 33: Modernismo

Terceiro Modernismo

- Cadernos de Poesia,

- Ruy Cinatti, Jorge de Sena, Sophia de Mello Breyner Andresen,

Eugénio de Andrade…

- surrealismo – anos 50

- Mário Cesariny, Alexandre O’Neil… - António Ramos Rosa, Sebastião da Gama, David Mourão-Ferreira…

Page 34: Modernismo

Cadernos de Poesia• Opõe-se à Presença e ao neorrealismo;• Sem dependência de escolas;;• “Poesia é só uma!”

Surrealismo• Valorização da imaginação;• Libertação da razão;• Triunfo do inconsciente

A Árvore, revista• O escritor deve estar mergulhado até ao

pescoço na história;• Existencialismo;• Poesia como forma de ascender ao

conhecimento do Real

Távola Redonda, revista (anos 50)• Retorno à lírica sem preconceitos de antigo ou

moderno;• Liberdade e variedade• David Mourão Ferreira

Poesia experimental e o concretismo• Atitude de vanguarda;• Vocabulário minimalista;• Linguagem muito condensada

Notícias de bloqueio, revista• 1957-62• Articulação entre o neorrealismo e

surrealismo