Monitoramento de fertilidade do solo com a técnica de amostragem em grade

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Neste artigo de Leandro Gimenez e Leandro Zancanaro podemos comprovar científicamente que a amostragem em célula comete menos erros que a amostragem em pontos.

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  • 1. INFORMAES AGRONMICAS N 138 JUNHO/2012 19 1. INTRODUO D entre os insumos utilizados na produo agro- pecuria, os fertilizantes so aqueles que permitem maiores retornos em produtividade. Alm disso, tm um peso expressivo na planilha de custo de produo. Sendo assim, as decises quanto aos produtos a serem utilizados, suas doses e mesmo a estratgia de aplicao, passam por um adequado levantamento dos teores no solo, o que obtido atravs da coleta e anlise de amostras de solo. Aamostragem do solo em grade uma tcnica em evoluo. consiste na coleta de amostras de solo referenciadas espacialmente e vem sendo utilizada por um nmero crescente de produtores. ela influencia a quantidade e a maneira como os insumos so aplicados. Por meio da tcnica possvel aplicar os produtos alterando a dose de acordo com a necessidade, que pode variar ao longo do campo de produo, ou seja, os insumos podem ser aplicados no local correto, no momento adequado e nas quantidades necessrias produo agrcola. uma importante diferena entre o mtodo convencional de amostragem do solo e a amostragem em grade est na capacidade de mensurar a variabilidade e na reduo da representatividade de cada amostra. Os benefcios dessa prtica dependem fundamentalmente da presena de variabilidade espacial nos campos e de como esta se processa. Na maior parte das reas cultivadas, as propriedades fsicas e qumicas dos solos variam no espao, por isso o interesse no manejo do solo de modo diferenciado. esta variao pode ocorrer em distintas combinaes de intensidade e distncia, ou seja, a estrutura espacial varia para cada nutriente, dentro da realidade de cada campo. Nos ltimos anos, o desenvolvimento de equipamentos automatizados para a coleta de amostras e para a aplicao de fertilizantes em taxa variada motivou a rpida expanso da tcnica. Porm, se a amostragem e o processamento dos dados no forem adequados, ou os equipamento para aplicao em taxa varivel no assegurarem regularidade na aplicao, podem ser gerados problemas de difcil soluo futura. temospresenciadoemnossosistemadeproduodegros,na regio do cerrado, os mais diversos relatos quanto sua efetividade. Para obter indicativos slidos dos benefcios, deve-se avaliar seu efeito sobre a produtividade por meio do mapeamento de colheita. Alm deste aspecto, h que se considerar a dinmica dos nutrientes no solo. em muitas condies, os teores esto prximos ou acima do nvel crtico e, desta forma, a prtica da adubao e sua avaliao em uma safra no devem ser tomadas como parmetro, sendo necessrio tambm avaliar o balano de nutrientes e a produtividade ao longo dos anos. Se os teores de nutrientes no solo esto abaixo ou acima daqueles considerados crticos, ento seu manejo diferenciado deve trazer retornos positivos. existem, contudo, diversos aspectos limitantes ao uso desta tcnica, desde os relacionados etapa de amostragem at aqueles associados aplicao do fertilizante. Neste artigo, tentaremos expor a fundamentao e o potencial da ferramenta, suas principais limitaes, apresentar alguns resultados de um trabalho de pesquisa e abordar parcialmente as implicaes para o manejo da fertilidade do solo. O objetivo fornecer subsdios para que profissionais da rea agronmica e produtores tenham uma viso mais abrangente sobre o tema, de modo que possam dimensionar suas expectativas e aumentar a eficincia no investimento de recursos. 2. TIPOS DE AMOSTRAGEM EM GRADE A amostragem em grade constitui um dos diversos sistemas de amostragem localizada e pode ser subdividida em dois tipos: amostragemempontoseamostragememclulas.emambos,oobjetivo buscar a caracterizao da variabilidade espacial de um parmetro. Basicamente, neste tipo de amostragem, os locais de coleta das amostras so definidos com base em uma malha de pontos ou de clulas igualmente espaados; por isso, denominada amostragem sistemtica. estes pontos ou clulas so georreferenciados, permitindo a gerao de mapas de distribuio dos valores dos parmetros de interesse. No caso da amostragem de solo, embora sejam mais difundidos os mapas das caractersticas qumicas obtidas na anlise de rotina, podem ser gerados tambm mapas das propriedades fsicas e mesmo biolgicas do solo. De acordo com o procedimento de amostragem utilizado so obtidos mapas com caractersticas distintas. 2.1. Amostragem em pontos Na amostragem em pontos, as amostras so coletadas ao redor de pontos predeterminados dentro da rea de cultivo. Nesse tipo de amostragem, a superfcie criada a partir da interpolao MONITORAMENTO DA FERTILIDADE DE SOLO COM A TCNICA DA AMOSTRAGEM EM GRADE Leandro M. Gimenez1 Leandro Zancanaro2 1 Engenheiro Agrnomo, MSc, Pesquisador na Fundao MT nas reas de Mecanizao Agrcola e Agricultura de Preciso; e-mail: leandrogimenez@ fundacaomt.com.br 2 Engenheiro Agrnomo, MSc, Coordenador da Clula de Projetos Agrcolas PMA, Fundao MT; e-mail: [email protected] Abreviaes: CTC = capacidade de troca de ctions; GNSS = Global Navigation Satellite Systems; GPS = Global Positioning System; K = potssio.

2. 20 INFORMAES AGRONMICAS N 138 JUNHO/2012 dos valores atribudos aos pontos, gerando mapas da variao de um determinado parmetro atravs de clculos matemticos. Para que os mapas gerados sejam confiveis, os pontos amostrados devem respeitar um espaamento determinado, que permita representar a variabilidade, ou seja, em uma distncia na qual os parmetros em estudo estejam espacialmente relacionados. 2.1.1. Nmero de amostras e espaamento Na fase de definio do nmero de amostras a serem coletadas inevitvel a indagao: porque a distncia oscila para cada elemento, em cada campo? A compreenso da resposta a esta pergunta fundamental para o manejo da variabilidade espacial da fertilidade do solo. Avariabilidade espacial dos teores de nutrientes encontrada em uma lavoura foi gerada por processos distintos. De maneira simplificada, pode ser atribuda s condies originais dos solos antes de seu cultivo e quelas inerentes s prticas agrcolas, sobretudo as correes de acidez e as adubaes. tambm, de modo indireto, as prticas agrcolas podem levar a efeitos geradores de variabilidade, como, por exemplo, o escorrimento superficial e a eroso ou a exportao diferenciada de nutrientes por meio da produo, que sabidamente influenciada por outros fatores, no apenas relacionados fertilidade.Aescala e intensidade destas duas fontes de variabilidade oscilam entre os campos e, por isso, difcil estabelecer um procedimento universal para sua caracterizao. Portanto, ao realizar a amostragem em grade importante observar qual variao mais importante. em linhas gerais, regies comrelevomaismovimentadotendemaapresentarvariabilidadeinicial maior que aquelas onde este mais uniforme. Isto, entretanto, no vlidoemmuitascondiesquando,porexemplo,talhesquepossuam umhistricodemanejodiferentesounidosparacriarumtalhomaior. Nas reas de cultivo de plantas perenes, como caf ou citros, por exemplo, nas quais o fornecimento de nutrientes realizado a uma determinada distncia da planta ao longo de anos, existe considervel variabilidadeinduzida.Noscultivosqueocupamgrandesreas,talvez o problema mais recorrente seja aquele relacionado aplicao de corretivos ou fertilizantes de modo desuniforme, induzindo, portanto, uma variabilidade de curta distncia e elevada intensidade. preciso ficar claro que a amostragem em grade no deve ser realizada em reas com histrico de variabilidade causada pela aplicaoinadequadadefertilizantesecorretivos,bemcomonaquelas onde sintomas de deficincia ou de fitotoxidez so visveis nas plantas, na forma de faixas, ao longo da lavoura. esta variabilidade induzida tem intensidade e estrutura espacial to mais expressiva quanto aquela que se deseja caracterizar. A amostragem em grade de pontos nesta situao levar certamente a um mapa com muita variabilidade, porm, causada por tais faixas. como a distncia entre pontos amostrais maior que aquela entre as faixas, o ponto amostral pode ser locado ora sobre uma regio com excesso, ora sobre outra com falta do elemento considerado. Nestes casos, as estimativas para os pontos no amostrados tero pouco ou nenhum valor, podendo levar tomada de deciso inadequada, com subsequente aplicao de nutrientes emlocalinadequadoe,comisso,aumentodavariabilidade. este tipo de variabilidade induzida ocorre com menor intensidade (no se enxergam faixas, mas elas esto l) em grande parte das reas em produo. A importncia das faixas pode ser reduzida ou exacerbada em funo de se manter inalterado ou no o sentido da aplicao de insumos ou de haver maior ou menor controle de trfego ao longo dos anos. Para atenuar este efeito necessrio coletar um nmero adequado de subamostras. Outra dvida frequente que surge diz respeito ao valor do espaamento mximo entre amostras. De fato, esta informao fundamental, porm no existe uma resposta, em termos absolutos, que possa atender a todos. existem procedimentos bem definidos para se chegar a esta distncia entre amostras, e muitos resultados de pesquisa. entretanto, o que se depreende dos trabalhos que, em cada sistema de produo (perenes, anuais, com e sem revolvimento do solo) o comportamento distinto e, no caso de lavouras de gros, amostragens com densidades oscilando desde duas amostras por hectare at uma amostra a cada dois hectares so aquelas citadas com maior frequncia para os parmetros qumicos do solo. 2.1.2. Interpolao ou predio espacial Para realizar os clculos de predio espacial ou interpolao (estimativas para os locais no amostrados), o ponto deve ser definido como um pequeno raio, usualmente 2 a 5 m, no interior do qual se tomam as subamostras em nmero superior a 10 para fins de fertilidade. este raio pequeno, em comparao distncia entre pontos amostrais, e, assim, define-se como um ponto. O tamanho do raio de coleta , entretanto, questionvel, quando se sabe que h algum efeito gerado pelas prticas de aplicao de fertilizantes e corretivos. Neste sentido, recomendvel que se realize a coleta de um nmero maior de subamostras em um raio tambm maior nas reas onde se nota a presena de faixas ou onde se desconfia da sua presena, de modo a atenuar a ocorrncia de erros. Para gerar os mapas de variabilidade espacial so realizados clculos com o uso de ferramenta denominada geoestatstica. Por meio dela possvel expressar matematicamente o comportamento da variabilidade e, a partir desta expresso, estimar os valores dos pontos noamostrados.emboraidealparaarealizaodosclculos,naprtica, o uso desta ferramenta pouco tangvel e se parte para procedimentos mais simples. Porm, considerando que muitos colegas agrnomos e produtores utilizaro procedimentos para predio inadvertidamente, torna-senecessrioalgumposicionamento,sobpenadeusoinadequado dos fertilizantes e de todos os aspectos decorrentes. Os interpoladores so um conjunto de procedimentos matemticos utilizados para estimar valores de uma varivel em rea interioraospontosdeamostragemdisponveis,permitindorepresentar emmapa,deformacontnua,ocomportamentodevariveisamostradas pontualmente. O uso de interpoladores, como o inverso da distncia, implica em erros nas estimativas e estes erros tendem a ser maiores quantomenoresasdensidadesamostrais.Densidadesamostraisdeum pontoacada5hectaresoumenosnodevemserutilizadas,mesmoem regies onde se sabe haver menor variabilidade. Para uma densidade amostral baixa, de 2 a 3 hectares por amostra, por exemplo, uma vez que a dependncia espacial no respeitada, e visando a reduo na incertezainerente,deve-seaumentarotamanhodoqueseconsiderava um ponto e, simultaneamente, aumentar o nmero de subamostras coletadas. Sugere-se que o dimetro da regio na qual se coletam as subamostras para compor a amostra tenha dimenso igual quela da maiorlarguraefetivadentreosequipamentosqueaplicamfertilizantes ecorretivos,equenestareasecoletemaleatoriamente20subamostras para compor uma amostra. 2.1.3. Efeitos da densidade amostral AFigura 1 ilustra os mapas de fertilidade gerados a partir de uma amostragem mais densa do solo (6 amostras por hectare), com gradual diminuio da densidade de amostragem. trata-se de rea de 47 hectares, sob semeadura direta, com aplicao de fertilizantes e corretivos em superfcie h seis anos, na regio de Rondonpolis, 3. INFORMAES AGRONMICAS N 138 JUNHO/2012 21 Mt. Nota-se o impacto da reduo da densidade amostral, tanto na capacidade de representar a variabilidade espacial dos componentes da fertilidade quanto na gerao do mapa de aplicao de calcrio. Desta forma, o uso das informaes de mapas com densidade amostral baixa acaba por elevar a variabilidade espacial, pois so realizadas aplicaes de doses inadequadas de fertilizantes. A qualidade de um mapa pode ser avaliada comparando-se os valores gerados por meio da predio espacial com os valores reais obtidos nas anlises de solo. Na Figura 2 possvel notar o aumento do erro na predio espacial quando se reduziu a densidade amostral de 1,8 amostra por hectare para 0,3 amostra por hectare (aproximadamente uma amostra a cada trs hectares). A comparao entre os grficos tambm permite verificar que parmetros de fertilidade relacionados s caractersticas fsicas do solo, como o caso da capacidade de troca de ctions (ctc) ligada intimamente participao da argila no solo, tendem a apresentar estrutura espacial quando a variao ocorre em distncias maiores, ao passo que elementos mveis, como o potssio (K), aplicados por mquinas agrcolas, tendem a oscilar em distncias menores, o que se reflete em maior disperso dos pontos. No caso de se utilizar a amostragem em grade de pontos, dada toda a incerteza inerente a este mtodo, recomenda-se que, antes de realizar a amostragem em toda a fazenda, proceda-se amostragem detalhada de um talho representativo. esta amostragem deve ser feita com uma densidade de 4 amostras por hectare ou mais, tomando-se todo cuidado em relao coleta das subamostras. Os mapas podem ser ento gerados a partir do mesmo conjunto de resultados laboratoriais, porm com densidades distintas. Desta maneira, para um mesmo elemento de interesse obtm-se mapas com densidade de 4 amostras ha-1 , 1 amostra ha-1 , 0,44 amostra ha-1 , 0,25 amostra ha-1 , 0,16 amostra ha-1 . A avaliao cuidadosa desses mapas, juntamente com a gerao dos mapas de prescrio para fertilizantes, permitiro, mediante avaliao comparativa, que se obtenha a indicao quanto densi- dade amostral necessria para o restante da fazenda. Ainda existe a crena de que a aplicao de insumos em taxa varivel permite a uni- formizao da produtividade das culturas. Os teores dos nutrientes no solo, de fato, devero oscilar menos ao longo dos anos, entretanto, considerando que o solo varivel em sua constituio e que a produtividade condicionada por diversos fatores, sempre haver desuniformidade na produo. Deve ficar claro que, no manejo da variabilidade Figura 2. Valores estimados por meio da interpolao pelo inverso da distncia e valores reais obtidos nas anlises de solo para ctc e teor de potssio em duas densidades amostrais. A profundidade de coleta foi de 0 a 10 cm. Figura 1. Mapas de fertilidade e de prescrio de calagem para uma mesma rea gerados com diversas densidades de amostragem. 6 amostras: 1 ha 1 amostra: 1 ha 1 amostra: 2 ha 1 amostra: 4 ha 4. 22 INFORMAES AGRONMICAS N 138 JUNHO/2012 espacial, o objetivo a reduo da variabilidade espacial e temporal da rentabilidade da lavoura, ainda que isso possa implicar na elevao das diferenas em produtividade. 2.2. Amostragem em clulas A amostragem em clulas compreende a coleta de sub- amostras no interior das quadrculas definidas pela malha de amostragem. Diferente da amostragem em pontos, neste caso no se realiza predio espacial, ou seja, os valores obtidos para cada clula representam o valor mdio vlido para aquela rea, que deve ser toda percorrida para a coleta de um nmero maior de subamostras, geralmente 20. como realizar a amostragem convencional, porm em uma escala espacial que permite um detalhamento maior. este procedimento mais robusto do que a amostragem em pontos, requerendo, entretanto, mais tempo para a execuo. A Figura 3 apresenta um esquema mostrando as diferenas entre os dois tipos de amostragem e a informao espacial resultante. Na amostragem em pontos, o mapa apresenta curvas resultantes dos valores estimados para os pontos no amostrados. Neste caso, uma amostra que apresenta problemas pode afetar negativamente os pontos estimados situados alm da distncia entre uma amostra e outra. umidade e da granulometria do solo h um tipo de rosca mais indicado, porm, tanto umidade quanto granulometria variam em uma mesma rea amostrada e ao longo do dia. A aderncia de material na superfcie da rosca reduz sua capacidade de perfurao e o volume coletado em cada perfurao. O desgaste das roscas tambm causa reduo em sua capacidade de corte e remoo do solo. Alm dessa limitao, as roscas podem coletar quantidades desproporcionais de solo na superfcie e em profundidade, na medida em que se desgastam de modo desigual na extremidade e ao longo de seu comprimento. Por outro lado, podem ocorrer problemas na coleta de amostras nas reas que receberam aplicao superficial de fertilizantes devido estratificao do fertilizante. havendo concentrao de nutrientes na camada superior, pode-se, na coleta, remover um pouco mais de solo da camada superficial, superestimando os teores obtidos. Alm do problema de interao da ferramenta com o solo durante a coleta, quando se automatiza este tipo de processo ganha- se na capacidade de controle de alguns quesitos mas perde-se parte do controle de outros importantes. Isto particularmente visvel quando a automatizao tal que o operador no tem domnio em relao posio de colocao do amostrador na superfcie do solo, por exemplo, coletando palha ou amostras de solo na linha e entrelinha inadvertidamente. Os equipamentos montados em quadriciclos e outros veculos podem apresentar estas limitaes. este tipo de coleta tambm impede que se percebam problemas como bolses de ar em subsuperfcie, material estranho, regies com superfcie lavada, acmulo de fertilizantes ou corretivos e pontos compactados. A amostragem realizada com equipamentos manuais ser sempre de qualidade superior quela realizada de maneira automatizada. No entanto, como a amostragem uma atividade sazonal, muitas vezes, dada a necessidade de maior capacidade operacional, no possvel realiz-la manualmente. Porm, no embate entre qualidade e quantidade, a primeira deve ser priorizada em qualquer procedimento de amostragem. O uso de sondas, como a apresentada na Figura 4, permite a coleta de maior volume de solo e um bom controle sobre a profundidade e ocorrncia de mistura, alm de possibilitar a coleta em maior faixa de umidade. Figura 3. tipos de amostragem em grade e mapa resultante. em uma mesma malha possvel coletar as amostras segundo procedi- mentos distintos, gerando mapas com caractersticas particulares. considerando as baixas densidades amostrais praticadas na atualidade, e os consequentes erros das predies espaciais, o uso da amostragem em clulas pode trazer melhorias expressivas na representao da variabilidade dos teores de nutrientes quando comparada amostragem em pontos. No caso da amostragem em pontos, a conquista de maior confiabilidade da distribuio espacial passar pela incorporao de sensores para medidas automatizadas, com elevao da densidade amostral, eliminando as incertezas da predio espacial. 3. CUIDADOS NA COLETA DAS AMOSTRAS todos os cuidados que so considerados na amostragem de solo no modo convencional tambm devem ser observados na amostragem localizada, respeitando-se a coleta de subamostras em profundidade e em volume suficiente. A coleta realizada com instrumentos automatizados, como os amostradores de roscas, deve ser evitada, devido s limitaes apresentadas por este equipamento. Dependendo da condio de Figura 4. Sonda manual para coleta de amostras de solo. A coleta manual permite obter amostras com boa qualidade e oferece flexibilidade quanto ao momento de entrada no campo. 5. INFORMAES AGRONMICAS N 138 JUNHO/2012 23 A posio de coleta das amostras em grade de pontos ou em clulas geralmente definida com o auxlio de softwares que geram uma malha a partir de um mapa do permetro da rea a ser amostrada, na densidade desejada pelo usurio, de modo automatizado. esta malha inserida em um receptor de sinais gNSS (gPS, glonass) ou em um console com programa para navegao. O operador pode, desta forma, navegar at o ponto ou interior da clula a ser amostrada e, assim, retirar as subamostras de acordo com o procedimento escolhido: prximas ao ponto ou de modo aleatrio, percorrendo toda a clula. tal mtodo bastante prtico, mas h alguns detalhes a observar. O software no reconhece se o ponto de coleta gerado estar posicionado sobre uma regio que no deve ser amostrada, como curva de nvel, formigueiro, eroso, carreador antigo ou se h acmulo de palha deixado pela colhedora. Nestes casos, cabe ao operador coletar as amostras em regio imediatamente ao lado e georreferenciar novamente o ponto. Outro aspecto importante em relao ao posicionamento dos pontos diz respeito ao alinhamento das amostras. Deve-se evitar que as amostras estejam todas alinhadas, o que padro em malhas regulares, mas que pode ser facilmente alterado, como apresentado na Figura 5. Malhas desalinhadas evitam erros sistemticos causados por fatores como linhas com concentrao elevada de nutrientes. necessrio estratificar a amostragem, coletando-se, por exemplo, amostras nas camadas de 0 a 10 cm e de 10 a 20 cm. So recorrentes os casos nos quais a saturao por bases e os teores de nutrientes so altos nas amostras de 0 a 20 cm, porm, ao se estratificar a amostragem, nota-se que os nveis so baixos e muito baixos na camada de 10 a 20 cm e o sistema radicular fica concentrado na camada superior, principalmente devido acidez do solo. Sabe-se que para a realizao de aplicaes de fertilizantes em superfcie necessrio que o perfil esteja corrigido; entretanto, constata-se, em muitas situaes, que isto no est sendo respeitado. com a intensificao do sistema de produo, conjugando-se dois cultivos em uma safra e, portanto, colocando-se maior presso do ambiente na segunda cultura, so esperadas severas restries produtividade em anos com precipitao mal distribuda ou abaixo da mdia. 4. MANEJO DA FERTILIDADE COM BASE EM INFORMAES ESPACIAIS Os mapas de teores de nutrientes, se obtidos de modo adequado, permitem maior detalhamento das reas e o fornecimento de fertilizantes e corretivos em taxa variada, ou mesmo mudanas na estratgia de fornecimento em funo da dinmica dos nutrientes nos solos que apresentam variada capacidade de reteno e potencial de lixiviao. Algumas informaes devem estar disponveis para se averiguar a qualidade dos mapas e auxiliar na sua interpretao: tamanho da rea amostrada, data de incio e trmino da coleta, profundidade, nmero de subamostras, instrumento utilizado, densidade amostral. esquema de amostragem, com identificao do local, cdigo das amostras e caminhamento no campo. escala do mapa: 1 centmetro representa quantos metros? Orientao do mapa: como a rea se insere no contexto da paisagem? Dois mapas para cada elemento e profundidade, um contendo a legenda com nveis de interpretao e outro contendo legenda detalhada, envolvendo todos os valores encontrados, em intervalos regulares 5 a 7 classes so suficientes. em ambos, o valor obtido pela anlise de solo deve estar sobreposto no local onde foi realizada a amostragem. Padronizao das cores das legendas para cada nutriente. Isto facilita a comparao entre mapas de anos distintos e entre talhes distintos. uma alternativa criar uma legenda que contenha classes, considerando desde o menor at o maior valor obtido em todos os talhes amostrados. Pode-se elevar o nmero de classes na legenda para melhorar o detalhamento. Mtodo de predio espacial adotado. caso seja utilizado procedimento geoestatstico, devem ser apresentados os modelos do semivariograma com seus parmetros. Planilha contendo os resultados analticos do laboratrio com identificao e coordenadas geogrficas das amostras, alm de data de entrada e data de sada para cada resultado. Devem ser apresentadas as unidades e expressos os mtodos de anlise. importante manter amostras de referncia e controlar os resultados dos laboratrios utilizados com frequncia. Nesta planilha, interessante que estejam sumarizados a mdia, os maiores e menores valores e o coeficiente de variao para cada parmetro analisado. um histograma tambm auxilia muito na interpretao dos resultados. com relao profundidade de coleta, importante manter aquela adotada ao longo dos anos, com a finalidade de permitir comparaes. em caso de mudana na profundidade de amostragem, necessrio estabelecer uma relao entre os resultados atuais e os resultados histricos. O manejo da fertilidade requer consulta ao histrico de fertilidade. No se deve tomar deciso com base apenas no resultado de um ano. com a prtica da aplicao de insumos em superfcie promove-se o acmulo de nutrientes na camada superficial do solo. A falta de conhecimento sobre esta estratificao pode conduzir a interpretaes inadequadas da fertilidade do solo. em muitos ambientes do Mato grosso, onde ocorrem restries hdricas e os solos so naturalmente pobres e cidos, fundamental conhecer a fertilidade da camada onde est a maior parte do sistema radicular, de 0 a 40 cm. Para entender como os teores dos nutrientes variam, Figura 5. grade em pontos apresentando a mesma densidade, porm, com alinhamento distinto: (A) amostras alinhadas, (B) amostras desalinhadas. A B 6. 24 INFORMAES AGRONMICAS N 138 JUNHO/2012 Na deciso em relao s prticas de manejo, imprescindvel levar em considerao no apenas as informaes provindas dos mapas, mas tambm aquelas referentes ao histrico de cultivos, de fertilidade e das prticas de correo e adubao adotadas nos anos anteriores.Acomparaodemaiorquantidadededadosrelativosrea implica em informao mais consistente e o consequente diagnstico referente variabilidade presente tender a ser mais acertado. 4.1. Interpretao dos resultados cada profissional possui uma maneira prpria de avaliar os resultados de fertilidade, porm, seguem aqui algumas sugestes. Antes de avaliar os mapas, verificar os valores da planilha de resultados apresentada pelo laboratrio buscando identificar a variabilidade presente, ou seja, se os valores apresentam alguma tendnciaemfunodaordemdecaminhamentonocampooumesmo daordememqueasamostrasforamanalisadasnolaboratrio.Verificar tambm se existem valores extremos. Anotar valores suspeitos. coeficientes de variao menores que 10% podem ser considerados baixos e, desta forma, pode ser difcil justificar intervenes localizadas, no caso de fertilizantes. Deve-se tomar cuidado, entretanto, na interpretao dos coeficientes de variao dos parmetros utilizados na recomendao de calagem neste caso, coeficiente de variao de 10% pode gerar mapas de recomendao com doses oscilando em toneladas por hectare. Nos resultados analticos, tambm importante atentar para a ocorrncia de pontos com valores extremos. estes pontos devem ser eliminados e o clculo deve ser refeito. Para isto, a disponibilidade dos resultados no formato digital bastante til. efetuar a anlise dos dados analticos de acordo com o procedimento utilizado na interpretao da anlise de rotina, escolhendo alguns pontos e verificando se as relaes entre ph e alumnio, capacidade de troca de ctions e matria orgnica ocorrem em conformidade com as recomendaes tcnicas oficiais. Na anlise dos mapas, sugere-se iniciar por aqueles que possuem legenda com valores absolutos. Verifique se os pontos demarcados na tabela de resultados aparecem como manchas muito distintas em relao ao padro apresentado. caso isto ocorra, estes pontos podem representar erros. Da mesma forma, verifique se existem manchas redondas e regulares com valores muito diferentes daqueles apresentados pelos pontos ao seu redor, o que tambm pode representar erro. Veja se ocorre tendncia nos resultados em funo da ordem de coleta. Os mapas devem apresentar continuidade nos valores. Mudanas abruptas, saltando de uma classe da legenda para outra distante, so indicativas de erros e deve-se revisar todo o procedimento e mesmo realizar uma nova amostragem. Aps uma anlise detalhada deste mapa, proceda anlise do mapa que possui os nveis de interpretao e, se for o caso, os de prescrio. compare os mapas de elementos distintos, mas que apresentam relaes positivas ou negativas entre si, por exemplo, espera-se que os valores de ph apresentem relao positiva com os da saturao por bases e negativa com os da saturao por alumnio. 4.2. Aplicao em taxa varivel este tpico merece especial ateno. Atualmente, os distribuidores centrfugos so utilizados como ferramentas bsicas para a aplicao de produtos em dose varivel na prtica agrcola, e respondem por boa parte da frota de equipamentos para aplicao de fertilizantes e corretivos nas lavouras de gros. So equipamentos largamente utilizados por apresentarem economia de operao, facilidade de manuteno e alto rendimento, entretanto, apresentam srios problemas de desuniformidade na aplicao do produto. em artigo de luz et al. (2010), intitulado Otimizao da aplicao de corretivos agrcolas e fertilizantes, publicado no Informaes Agronmicas n. 129, foi apresentada tima reviso sobre o assunto. Porm, apesar dos alertas, constata-se a campo que ainda h muito por fazer, sobretudo quando a presso por aumento da capacidade operacional resulta no projeto e desenvolvimento de mquinas com baixa qualidade de distribuio. Somente possvel conhecer a qualidade da aplicao dos distribuidores centrfugos se esta for caracterizada em condies de campo, com o uso de coletores de fertilizantes e operando na velocidade, dose e com o produto que se deseja aplicar. Desta forma, para garantir a qualidade da aplicao necessrio realizar testes, sendo que no basta o uso de coletores apenas no centro da passada e entre um rastro e outro, mas sim a distribuio de, no mnimo, dez coletores para verificar o perfil de distribuio, que deve apresentar coeficiente de variao abaixo de 15%, ou seja, 15% de variao mdia da dose ao longo da faixa.AFigura 6 ilustra o perfil da aplicao de cloreto de potssio por um distribuidor centrfugo. esquerda (A), apresentado o perfil de deposio, que representa a quantidade de produto aplicada em uma passada do distribuidor; direita (B), demonstrada a variao relativa da dose aplicada considerando as sobreposies das passadas laterais. Para este perfil, o coeficiente de variao, que representa a variao mdia da dose aplicada, foi de 24%, bastante superior ao adequado, mas representativo de muitas mquinas em operao no campo. Figura 6. (A) Perfil transversal da distribuio de cloreto de potssio por um distribuidor centrfugo de uso comum no Mato grosso; (B) perfil de deposio na lavoura considerando a sobreposio. O coeficiente de variao foi de 24%. A B 7. INFORMAES AGRONMICAS N 138 JUNHO/2012 25 Outras limitaes destes equipamentos so a ocorrncia de segregao, no caso da mistura de grnulos, e o fato de sua largura efetiva variar em funo da dose do produto aplicado, sendo este efeito particularmente severo no caso dos corretivos, para os quais o volume de produto sobre os discos distribuidores varia muito e, com isso, varia tambm a distncia na qual o produto lanado. No caso da aplicao em taxa varivel, deve-se verificar a largura efetiva da mquina para a menor e a maior dose a ser empregada. O desrespeito a esta recomendao deve gerar um mapa de aplicao em taxa varivel irregular, ora apresentando faixas largas, ora apresentando faixas estreitas. Por fim, no que se refere aplicao de fertilizantes e corretivos em taxa varivel, importante atentar para o tempo de resposta na alterao da dosagem a ser realizada pelo equipamento. O tempo de resposta se refere ao perodo necessrio para que o equipamento altere a dose do produto aplicado. Os distribuidores centrfugos aplicam o produto em faixas largas, e utilizam meca- nismo dosador do tipo esteira. como sobre a esteira h uma grande carga, devido ao peso do produto, podem ser necessrios alguns segundos para alterar a velocidade da esteira e, com isso, a taxa de produto que deixa o reservatrio do distribuidor e chega aos discos para distribuio. Operando-se em velocidades elevadas, de 20 km h-1 ou superiores, uma rea razovel pode receber doses acima ou abaixo das desejadas. Na Figura 7 so apresentados grficos demonstrando o perfil de deposio de cloreto de potssio em situao de reduo (A) e de aumento (B) da dose aplicada por meio de um distribuidor centrfugo equipado para aplicaes em taxa varivel, com grande participao no mercado. Observa-se no eixo horizontal, da distncia, e no vertical, da dose aplicada, que a alterao no instantnea, sendo necessrios vrios metros para sair de um patamar de dose e chegar a outro, sendo que, para este tipo de equipamento, a distncia percorrida maior no caso do aumento da dose, do que na reduo da dose. Portanto, ao trabalhar em passadas lado a lado, quando a dose for alterada para contemplar as exigncias dos mapas de aplicao, haver doses acima e abaixo daquelas desejadas. No mesmo sentido, este tipo de equipamento apresenta problemas com a aplicao de produtos em taxa varivel em tempo real utilizando sensores, quando necessrio alterar a dose em dcimos de segundo. 5. CONSIDERAES FINAIS O manejo da fertilidade por intermdio de amostragem localizada deve ser entendido como o aprimoramento dos procedimentos de amostragem em taxa fixa, utilizados na agricultura tradicional. Desta forma, todos os cuidados referentes coleta das amostras e interpretao dos resultados devem ser observados. A densidade de amostragem necessria caracterizao da variabilidade espacial por meio da amostragem em grade na metodologia de pontos pode ser considerada elevada em face dos custos de coleta e anlises laboratoriais. Assim, para obter informaes mais detalhadas da variao da fertilidade pode ser adotado o procedimento da amostragem em clulas, que, embora mais trabalhoso, reduz as incertezas e permite trabalhar, de forma segura, com densidades amostrais menores. A amostragem em pontos e posterior predio espacial atravs de interpolao deve ser entendida como procedimento arriscado e pouco confivel quando o espaamento entre as amostras superior quele em que estas se relacionam espacialmente. em tais circunstncias, o uso da informao destes mapas pode levar aplicao inadequada de fertilizantes e, com isso, ao aumento da variabilidade. Isto no impede que o procedimento seja utilizado com resultados satisfatrios, mas recomenda-se a implantao gradual do mtodo, realizando estudos locais por intermdio de amostragens com maior densidade para verificar como a variabilidade se processa em determinado sistema de produo. Aintensificao do sistema de produo visando a realizao de duas safras ou a prestao de servio de aplicao em rea maior conduz aplicao de insumos em superfcie com distribuidores centrfugos que possuem maior capacidade operacional, mas cuja qualidade de distribuio varivel e de determinao trabalhosa. tal estratgia, aliada a amostragens sistemticas e automatizadas do solo, pode levar ao desconhecimento acerca da variabilidade espacial e estratificao de nutrientes no perfil do solo, com impactos negativos sobre o manejo da fertilidade do solo, gerando, inclusive, maior variabilidade que a original. LITERATURA CONSULTADA ASAe. AMeRIcAN SOcIety OF AgRIcultuRAl eNgINeeRS. Procedure for measuring distribution uniformity and calibrating granular broadcast spreaders. St. Joseph, 2004. p. 197-201. (Standards of ASAe: ASAe S341.3 FeB04) BeNARDI, A. c. c.; gIMeNez, l. M.; MAchADO, P. l. O. A.; SIlVA, c. A. Aplicao de fertilizantes a taxas variveis. 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