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FACULDADE PROJEÇÃO DIRETORIA ACADÊMICA CURSO DE DIREITO O ABUSO DO PODER NAS ELEIÇÕES

O abuso do Poder Nas Eleições. 2009. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação em Direito) – Faculdades Projeção

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O abuso do Poder Nas Eleições. 2009. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação em Direito) – Faculdades Projeção - Apresentada pelo aluno LOPES, Joseny Cândido

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FACULDADE PROJEÇÃODIRETORIA ACADÊMICA

CURSO DE DIREITO

O ABUSO DO PODER NAS ELEIÇÕES

TAGUATINGA – DF

2009

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FACULDADE PROJEÇÃODIRETORIA ACADÊMICA

CURSO DE DIREITO

O ABUSO DE PODER NAS ELEIÇÕES

JOSENY CÂNDIDO LOPES

Monografia apresentada ao Curso de Direito da

Faculdade Projeção, como parte das exigências para

obtenção do título de Bacharel em Direito, sob a

orientação do Professor Kleber de Sousa Gouveia.

TAGUATINGA - DF

2009

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JOSENY CÂNDIDO LOPES

O ABUSO DE PODER NAS ELEIÇÕES

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade Projeção, como parte das exigências para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Aprovado pelos membros da banca examinadora em ____/____/____, com menção_____

(_________________________________).

Banca Examinadora

___________________________________________________________________________Presidente: Prof. Dr.Faculdade Projeção

___________________________________________________________________________Integrante: Prof. Dr.Faculdade Projeção

__________________________________________________________________________Integrante: Prof. Dr.Faculdade Projeção

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Dedico esse trabalho à minha querida família, familiares e amigos, que se juntaram a mim neste sonho possível. A todos meu carinho.

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Agradeço a Deus, em primeiro lugar, pela sua imensurável misericórdia, através da qual me sustentou dia após dia, conduzindo-me até esta etapa. Bem assim, a todos aqueles que caminharam comigo esta jornada árdua e espinhosa.A meu pai Paulino in memorian e minha mãe Maria Lopes, hoje com 83 (oitenta e três) anos, pelo exemplo de vida que me conduziram. A minha amada esposa Cleidenice, pelo carinho, compreensão, apoio, enfim, por ajudar-me a realizar este sonho.A meus filhos, Débora, Laís, Joseny Jr e Lucas por apoiarem-me na busca de realizar este sonho.A meus irmãos, sobrinhos, cunhados e primo, Adalgisa, Graça, Hilda, Osvaldo, Maria, Frederico, Lurdes, Fabiana, Rafael, Edivan, Edivaldo, Valdeci, Wilson e Jurandir por acreditarem no meu potencial.

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RESUMO

LOPES, Joseny Cândido. O abuso do Poder Nas Eleições. 2009. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação em Direito) – Faculdades Projeção

Várias foram as correntes lançadas para que se alcançasse a liberdade de voto no Brasil. A luta começou em 1532, em São Paulo para o Conselho Municipal de São Vicente. O reflexo dos combates a fim de se instaurar a Democracia, pode ser concebido pela mutação das Constituições, no total de oito, e várias emendas, com direito a mostrar diversas transformações políticas, sociais, econômicas e jurídico-institucionais. E nessas idas e vindas da legislação, em prol da política, alcançou-se o instituto do Direito Eleitoral, como um ramo do Direito Público, destinado a regular o conjunto de normas, leis, com fins de resguardar a igualdade para todos. Desse Direito nasceram princípios condutores, tais como o econômico, político, das Mídias, para serem utilizados pelos políticos, observando os termos da lei. Logo a não aceitação de tais regras, pressupõe uma investigação com resultados, por meio de provas concretas, na inelegibilidade, ou na cassação da diplomação, consoante o artigo 22 das eleições. A caracterização, bem como a materialização de tal delito, é o chamado abuso do Poder, que pode se revelar sob diversos prismas, ou seja, dependendo do objeto da finalidade pública a que se destina. Então, o objetivo deste estudo é demonstrar irregularidades no sistema eleitoral brasileiro, de forma a exigir uma maior fiscalização do governo, para que ocorra a permissão de oportunidade de todos os candidatos realizarem suas campanhas eleitorais de forma igualitária, respeitando a democracia e ao sufrágio popular, evitando promoção de vantagens para uns em detrimento do prejuízo de outros.

Palavras-chave: Abuso do Poder. Punição. Eleição

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ABSTRACT

LOPES, Joseny Candide. The abuse of power in the elections. 2009. Conclusion of Course (Certificate in Law) - College Projection

Several had been the launched chains so that the freedom of vote in Brazil was reached. The fight started in 1532, in São Paulo for the City council of Is Vicente. The consequence of the combats in order to restore the Democracy, can be conceived by the mutation of the Constitutions, in the eight total, and some emendations, with right to show to diverse transformations politics, social, economic and legal-institucional. E in these gone and comings of the legislation, in favor of the politics, reached the institute of the Electoral law, as a branch of the Public law, destined to regulate it the set of norms, laws, with ends to protect the equality for all. Of this Right conducting principles had been born, such as the economic one, politician, of the Medias, to be used for the politicians, observing the terms of the law. Soon not the acceptance of such rules, estimates an inquiry with results, by means of concrete tests, in the ineligibility, or the disability of the diplomação, consonant article 22 of the elections. The characterization, as well as the materialization of such delict, is the call abuse of the Power, that can show under diverse prisms, that is, depending on the object of the public purpose the one that if destines. Then, the objective of this study is to demonstrate irregularities in the Brazilian electoral system, of form to demand a bigger fiscalization of the government, so that the permission of chance of all occurs the candidates to carry through its electoral campaigns of igualitária form, respecting the democracy and to the popular suffrage, preventing promotion of advantages for ones in detriment of the damage of others.

Key-words: Abuse of the Power. Punishment. Election

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................................8

CAPÍTULO I – BREVES CONSIDERAÇÃOES SOBRE O CONCEITO DE ABUSO DE PODER NAS ELEIÇÕES 10

CAPÍTULO II- O ABUSO DE PODER NA SUA EVOLUÇÃO 16

CAPÍTULO III- A LEGITIMIDADE DO ABUSO DE PODER NAS ELEIÇÕES PERANTE A LEI 23 3. 1 A violabilidade da lei 9504/97...................................................................................23 3.2 Fundamentação Jurídica Do Abuso De Poder Político...............................................28

CAPÍTULO V- DA PUNIÇÃO DO ABUSO DE PODER POLÍTICO 33 4.1 Materialização Do Abuso De Poder Nas Eleições Segundo A Jurisprudência 37

CONCLUSÃO 40

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42

ANEXOS/JURISPRUDÊNCIA................................................................................................50

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INTRODUÇÃO

Esta investigação científica é um aporte sobre o Abuso do Poder com base nas leis nº

9504/97 e sua complementar 64/90, as quais versam sobre as eleições e a conduta atribuída a

seus participantes, de maneira a respeitar as normas contidas no Direito Eleitoral. Acontece

que, o assunto além de ser de interesse para o fator democrático da realidade brasileira, possui

elementos fascinantes para qualquer pessoa consciente de seus direitos, em especial na

atualidade, onde tantas injustiças nascem da falta de comprometimento, ocasionada pela má

atuação de governos eleitos pelo povo.

O instituto do Direito Eleitoral alcança maior importância no fato de restaurar o

equilíbrio na Democracia, em especial no sistema de eleições, e o comportamento de

partidários ou parlamentares, desfeitos pelo abuso de poder, em conformidade com os ditames

da justiça, tutelando a pertinência dos direitos e garantias fundamentais da Constituição

Federal de 1988, bem como as suas utilidades presentes e futuras para o bem estar da

coletividade.

Há que se observar que a ação de cobrar do político, refazer e até compensar os

estragos provocados pelo Abuso de Poder , seja de natureza econômica ou ideológica,

constata-se o termo desvio dos princípios da administração pública, o que para o Direito

Eleitoral é o seu fundamento e matriz de existência. E, nesse pensamento, eis que a ilicitude

gerada pelo abuso das finalidades, não é maior que o reparo a ser feito. Isto quer dizer que,

uma vez constatadas as alegações feitas pelo autor da denúncia, considera-se mérito de

reparação para a parte lesionada, que no caso é a sociedade.

A Constituição, como Lei maior, assim como o Código Eleitoral limita os Direitos e

tipifica, respectivamente, os casos em que se considera para efeito de lei, o abuso de Poder,

relativamente ao descumprimento ou a violação do Direito do eleitor em detrimento de outros

políticos. Sobre isso, o Código Eleitoral expressa com veemência, com as leis 9504/97 e a

64/90 com alterações, a punição para aqueles que se adiantam além de suas possibilidades em

face da lei.

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De outra banda, não se pode negligenciar as indagações mais freqüentes que emanam

do contexto dos profissionais de Direito, com relação à derrubada da Democracia que certos

políticos maus atuadores no cenário político fazem e a eficácia das medidas punitivas que são

aplicadas para banir tal sujeira do sistema eleitoral. Via de regra, as responsabilidades de

candidatos que cometem o abuso de suas finalidades definem o nascer de uma lide, e no seu

íntimo, resume-se às sanções aplicadas pela Constituição e em resposta a esta o Código

Eleitoral. Daí provar, dentro da lei, a culpa propriamente dita, depende de certos pressupostos

que definirão o grau de responsabilidade do infrator, fator que será discorrido ao longo deste

estudo.

No que se relaciona à organização deste estudo, tem-se que o primeiro capítulo

aborda de forma sucinta a conceituação do abuso de poder, enquanto que o segundo enfatiza a

evolução dos acontecimentos dentro do foco de pesquisa ao passo que os demais especificam

a lei na sua concretude e por fim ocorre a materialização do assunto em discussão.

Neste contexto, o escopo deste estudo é analisar as situações em que ocorre o abuso

de poder e as sanções que são aplicadas para punir o ato delituoso, por meio do Código

Eleitoral. Assim, tem-se como problema a ser investigado, o seguinte: Quais são as condições

em que atuam os políticos de forma incorreta, isto é contrário à lei e qual é a pena

correspondente para esse tipo de delito?

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CAPÍTULO I

BREVES CONSIDERAÇÃOES SOBRE O CONCEITO DE ABUSO

DE PODER NAS ELEIÇÕES

Para Carbal Felix Silva1, abuso de poder implica em caracterizá-lo como abuso de

poder político, que consiste no uso indevido de cargo ou função pública, com a finalidade de

obter votos para determinado candidato, sendo que sua gravidade consiste na utilização do

múnus público para influenciar o eleitorado, com desvio de finalidade. A finalidade guarda

relação com essa iniciativa de cunho político porque é do próprio fundamento da dinâmica

eleitoral, a propagação recaindo em bens públicos e particulares. O contrário legitima o desvio

porque contraria a lei.

A Lei nº 8.429/92 expressa a temática, afirmando que é necessário que os fatos

apontados como abusivos extrementes, se encartem nas hipóteses legais de improbidade

administrativa, de modo que o exercício da atividade pública possa se caracterizar como

ilícita do ponto de vista eleitoral. Percebe-se que o tratamento a ser atribuído ao conceito de

abuso de poder, segundo essa lei, é o da observância dos princípios da Administração Pública,

porque estes fazem parte dos interesses públicos no que tutelam os bens públicos.

Desdobrando o conceito, Helly Lopes Meirelles2 ensina que o abuso de poder

significa a não prática do clássico princípio da finalidade, o qual impõe ao administrador

público que só pratique o ato para o seu fim legal, sendo este o objetivo de tal procedimento,

vez que a norma do Direito indica expressa ou virtualmente a ação para acontecer de forma

impessoal. Logo, qualquer promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos sobre suas

realizações administrativas deverão ser excluídas da pauta de eleição e ou da legalidade da

coisa.

1 SILVA, Carbalal Felix. Promotor de Justiça da Comarca de Gararu. Representação Eleitoral por Abuso de poder econômico. Investigação Judicial Por abuso do Poder Político e de Autoridade. http:// jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp? Acesso em 24/11/2009.2 MEIRELLES, Helly Lopes. Direito Administrativo Brasileiro: 35ª ed. São Paulo: Malheiros, 2009.

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Por sua vez, Gilmar Ferreira Mendes3 aborda o abuso de poder na política de maneira

que insere o assunto na discussão presente na Constituição Federal de 1988, quando menciona

o princípio da proporcionalidade no controle da constitucionalidade hodierna, observando o

autor que o excesso de poder é uma manifestação de inconstitucionalidade e alvo de censura

judicial na esfera da administração pública. Cuida esse princípio de adequar o que é correto à

lei, estabelecendo limites ou em caso oposto, identificar o vício dos limites que o excesso

impõe ao legislador que de posse do que é legal, constata a negação da Constituição.

Há casos em que esses desmandos políticos, assim como é chamado o abuso de

poder político por algumas doutrinas, manifestam-se quando um candidato toma posse de seu

cargo na administração pública e infelizmente comete os mesmos erros dos seus adversários

anteriores, causando com isso uma desilusão no panorama político nacional, não obstante a

promessa de que farão mudanças positivas no tratamento da coisa pública. Isto significa que o

assunto pode ser conceituado de uma maneira informal e realista, se olhado pelo prisma da má

reputação que poderá causar nas pessoas e para o interesse do Direito, no que tange às leis, ou

seja, o abuso pode ser interpretado em uma má ação.

Nagib Slaib Filho4 conceitua abuso de poder sob variadas formas, dentre elas, como:

exorbitância dos poderes conferidos, excesso de mandato, exercício de atos não outorgados ou

não expressos no mandato ou na procuração, prática de atos que excedem as atribuições

conferidas em lei ou que escapam à alçada funcional e arbitrariedade. Assim, os prejuízos

decorrentes do abuso de poder, segundo o autor, devidos aos prejudicados são ressarcidos pela

Fazenda Pública. Vê-se que até o dicionário jurídico faz alusão ao sentido funcional que a

prática de abuso possui, em razão de esta contrariar as normas pertencentes à natureza da

administração pública, que no seu íntimo, resguarda a impessoalidade das ações em respeito,

puramente aos preceitos à ela inerentes.

Nas palavras de Emanuela Micênia de Souza França5, significa o abuso de poder

político, a limitação do exercício da cidadania, porque fere os direitos e garantias dadas pela

Carta Magna. Na visão da autora, constitui-se em práticas de atos que prejudiquem a

legitimidade e a livre escolha do eleitor. E visível, desde os tempos antigos a caracterização

da saliência do poder dominativo dos mais fortes em relação aos mais fracos, de modo que a

evolução social tomou caminhos contrários à satisfação da sociedade, que se encontra muitas

3 MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos Fundamentais e Controle de Constitucionalidade: estudos de Direito Constitucional. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.4 FILHO, Nagib Slaibi; CARVALHO, Gláucia. Vocabulário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 20095 FRANÇA, Emanuela Micênia de Souza. Abuso de poder econômico e político no sistema eleitoral brasileiro. Revista Veja. Ed Abril. Volume 1972, nº 35, setembro. 2006. Semanal

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vezes em face de desrespeito com os dispositivos constitucionais. Até mesmo a história da

criação do instituto do Direito Administrativo prova que sua origem é devida à falta da

atuação do Estado no poder de decisões em prejuízo da sociedade que se via, no passado à

mercê de pessoas mais fortes e dominadoras.

De outro modo, o abuso aqui caracterizado e definido, pode ser perfeitamente

encontrado em países democráticos, nos quais o direito da minoria é salvaguardado e estes se

aproveitando de argumentos sobre o que é correto dentro da política, neutralizam seus

adversários em fatos jurídicos. Neste sentido, vislumbram-se vários tipos de abuso presentes

na questão econômica, política, no conhecimento, ideologicamente, entre outras. Com relação

à ordem econômica a Constituição Federal de 1988, foi severa em determinar que a lei fará

repressão a qualquer abuso contra ordem financeira. Mas o abuso político abrange os casos

em que se utiliza da autoridade legítima para manipular o mais fraco de maneira incorreta e

ilegal, ao passo que o ideológico e o conhecimento usam uma idéia falsa para tirar vantagens

em benefício próprio.

A partir do seu reconhecimento prático em ressaltar sobre matéria eleitoral

consistindo em financiamento direto ou indireto, dos partidos políticos e candidatos, antes ou

durante a campanha eleitoral, com ofensa à lei e as instruções da justiça eleitoral, com o

objetivo de anular a igualdade jurídica dos partidos, conforme se denota explanação

promovida por Antônio Carlos Mendes6, o legislador promoveu o entendimento de que esta

prática anula a igualdade jurídica dos partidos, afetando a normalidade e a legitimidade das

eleições. Com efeito, o entendimento sobre esse tipo de abuso relaciona-se a qualquer atitude

em que haja uso de dinheiro que venha a prejudicar a liberdade de voto.

Entretanto, o abuso de poder político é aquele em que o detentor do poder, o

mandatário, aproveita-se de sua posição para agir de modo a influenciar o eleitor,

prejudicando a liberdade de voto, definindo-se, assim, como ato de autoridade exercido em

detrimento de voto. Na realidade, é o cúmulo do absurdo, pois coagir alguém a fazer algo que

não quer, ou aproveitar-se da falta de conhecimento do eleitor, são atos semelhantes e por

igual fundamento criminoso, contra a democracia e contra o próximo.

Extrai-se do comentário do referido autor o contexto da violação dos direitos

fundamentais e de acordo com estes, contraria-se os direitos específicos que se encontram

estabelecidos na íntegra, como é o caso dos relativos à administração pública e a moral como

6 MENDES, Antonio Carlos. Apontamentos sobre o Abuso do Poder Econômico em matéria eleitoral. Cadernos de Direito Eleitoral. São Paulo, v. 1, nº 3, p.24, maio 1988.

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um todo. E, de acordo com a história é uma ação retrógrada que nega o progresso da

sociedade, porque tal prática de captação de votos, de maneira abusiva é típica da época do

segundo reinado, onde havia muita pressão e fraudes contra eleitores e também fez parte de

períodos, tais como o coronelismo, onde a ação de coibir a liberdade de expressão das pessoas

foi constante. Outros há, como a ditadura militar que suprimiu liberdade de expressões com

violência, atuando no cenário da política como um caso típico de abuso de poder.

Ademais, cabe frisar que no cenário político brasileiro uma das premissas da

Constituição é a garantia dos direitos fundamentais, em especial a liberdade de voto, sem que

haja cerceamento por terceiros, mediante promessas indecentes a fim de benefício do

candidato. Uma das características que o eleitor observa no candidato é a sua trajetória

anterior à eleição. Neste caso, a punição por prática de abuso de poder seve para inibir a

reincidência do autor no ato ilegal, como um pressuposto de boa conduta e requisito para

preenchimento do cargo.

A história das eleições atesta que o abuso de poder político esteve latente por muitos

anos na política nacional, o que levou o legislador a criar leis que evitasse o rompimento dos

preceitos da Carta Magna. Com isso, a sociedade achou que injustiças do tipo seriam varridas

da vida da administração do poder público. Sim, porque quando uma pessoa assume uma

candidatura e por fim consegue a sua investidura estará assumindo certas obrigações que

condizem com o fundamento da administração pública. E esta, por sua vez exige que sejam

seguidas certas regras para que a harmonia do poder não seja corrompida em desvantagem do

proceder das ações em favor de atender a sociedade. Porém, quando acontece do contrário, é

necessário que se faça uma investigação, observando tais princípios administrativos.

As leis que foram instituídas no sentido de evitar a prática de abuso são na realidade

uma proibição de excesso, matéria já explanada pela Constituição Federal de 1988, a qual se

encontra disposta no que Gilmar Ferreira Mendes aduz:

A doutrina identifica como típica a manifestação do excesso de poder legislativo a violação do princípio da proporcionalidade ou da proibição de excesso, que se revela mediante contraditoriedade, incongruência e irrazoabilidade ou inadequação entre meios e fins7.

Outro aspecto da lei é quanto ao que o Direito Constitucional Alemão outorga sobre

o princípio da proporcionalidade ou o princípio da proibição de excesso, qualidade de norma

7 MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos Fundamentais e Controle de Constitucionalidade: estudos de Direito Constitucional. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004.

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constitucional não escrita, derivada do Estado de Direito. Referido princípio estabelece que o

abuso de poder manifesta-se sob a roupagem da inconstitucionalidade, porque não é

compatível com os princípios do Direito representados na Constituição, lei suprema para a

nação.

Insta acentuar que o princípio da proporcionalidade, entre outros são avaliados pelo

Direito Constitucional sob a visão da necessidade da providência e adequação legislativa, para

a consecução dos fins. Assim o meio será considerado adequado, se com a sua utilização o

evento pretendido pode ser alcançado.

A doutrina da Constituição reconhece que estabelecer objetivos e definições dos

meios adequados implicam em decisão política, econômica, social, ou político-jurídica.

Parece que com essa ponderação, a atividade política para ser examinada, acabou por atribuir

uma postura cautelosa ao legislativo, no que confere seus meios adequados à lei. Então,

aliando o discorrimento de inconstitucionalidade ao abuso de poder, depreende-se que a

prática de desmando por políticos quando ilegal estará infringindo os princípios da

Constituição, sendo por isso considerado inconstitucional por ferir a proporcionalidade

estabelecida pelos limites que a lei impõe e, se caso ultrapassar estes, constatar-se-á em

proibição de excesso ou como outras caracterizações que a doutrina jurídica dá, tais como

vício.

O Direito Português explica a questão de maneira mais ampla, mas também intitula a

coisa como princípio da proibição de excesso, alegando que de acordo com o texto magno, a

lei só pode restringir os direitos, liberdades e garantias nos casos expressamente previstos na

Constituição, devendo as restrições limitarem-se ao necessário para salvaguardar outros

direitos ou interesses constitucionalmente protegidos. Portanto, quando se restringe um direito

de um candidato que pecou por excesso aos seus limites de atuação legal, se faz devido às

restrições que a lei impõe, no que observa esta o risco que outros direitos poderão sofrer e por

se tratar de um cargo público, reza a destreza da administração em amparar o funcionamento

da máquina em benefício a todos.

Essa orientação permite concluir que em análise ao abuso de poder político e de

maneira geral, vez que o tema tem uma abordagem ampla, a punição desse delito, obedece à

norma da admissibilidade constitucional da restrição oportunamente fixada e também na

compatibilidade das restrições estabelecidas com o princípio da proporcionalidade, sendo este

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uma dos principais princípios da administração pública que funciona como um freio às

condutas contrárias dentro das instituições.

Eis que todos os princípios presentes e reguladores das normas da atividade política

alcançam o Direito numerosamente e ao mesmo tempo representam os institutos e o progresso

da humanidade à medida que percebem os erros ocasionados pelas ilicitudes e de posse disso

lutam pelo domínio da liberdade. Tal qual tem acontecido com o meio político em apreço,

pois as condutas de candidatos envergonham o cenário de concessão de administração da

esfera pública cedida pela sociedade a certos tipos de políticos que se aproveitam da falta de

conhecimento, de uma ideologia dominante dos mais fortes e, sobretudo da oportunidade para

agirem em benefício próprio.

Mas a lei é severa em virtude do alcance de evolução que a humanidade adquiriu

com os diversos acontecimentos exemplares e objetos de punição da conjuntura das leis,

considerando que suprime os direitos de suspeitos temporariamente até que seja provada do

contrário a sua má atuação e não obstante aplica-se a responsabilidade civil aos que se

encaixam na premissa de defesa, cabendo a quem denunciou colher provas suficientes para a

confirmação das alegações.

Sinteticamente, o conceito de abuso de poder em todas as suas faces é traduzido no

entendimento que a lei faz a respeito do que seja o ponto de encontro da ilegalidade e com

que intensidade ela excede os limites do que é norma. Em outras abordagens é a própria

existência da lei e a sua negação pressupõe abuso.

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CAPÍTULO II

O ABUSO DE PODER NA SUA EVOLUÇÃO

O entendimento que se faz de abuso, como fora anteriormente tratado, leva a crer que

o exercício dos direitos fundamentais pode, dependendo da ocasião, dar ensejo a uma série de

conflitos com outros constitucionalmente protegidos. (GILMAR FERREIRA MENDES

MENDES)8 Assim, acontece nos relacionamentos entre a sociedade e os seus representantes,

que na prática de tais direitos resguardados, por vezes, desviam a sua finalidade, sendo que

esta é representada e tutelada pela Constituição Federal de 1988. E, nos casos em que for

necessário restringir ou limitar tais direitos, define-se o núcleo ou a proteção da matéria.

Sobre isso, Marlon Jacinto Reis9, em sua obra Uso Eleitoral da Máquina

Administrativa, assevera que em 1999 muitos brasileiros organizaram-se pelo Brasil afora,

para coletar milhões de assinaturas necessárias à apresentação de um projeto de lei de

iniciativa popular ao Congresso Nacional, visando enfrentar uma terrível ignomínia da

democracia: a compra de votos e o uso eleitoral da máquina administrativa, que utiliza uma

pobreza e a miséria para ganhar eleições.

O art. 37, § primeiro da CF/88 expressa:

§ 1º. A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverão ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos.10

Firma-se de forma cabal, de acordo com este dispositivo, que nos atos realizados em

público com fins políticos, está terminantemente proibido a promoção de campanhas políticas

em favor de pessoa que ocupa cargo público ou a parte administrativa do setor público. É

nesse momento, que algumas pessoas ligadas diretamente a políticos, ou até mesmo o próprio

aproveitam-se da oportunidade para a captação de votos dos eleitores sob algum tipo de

8 MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos Fundamentais e Controle de Constitucionalidade: estudos de Direito Constitucional. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 301.9 REIS, Marlon Jacinto. Uso eleitoral da máquina administrativa e captação ilícita de sufrágio. Rio de Janeiro: FGV, 2006, p. 35. 10 BRASIL. Constituição (1988): Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988.

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promessa em detrimento da falta de conhecimento que o público tem sobre o assunto. Na

linguagem informal, o candidato usa de esperteza e age de má fé, vez que extrapola os limites.

O abuso se fundamenta no momento em que o agressor contraria os limites impostos

pela lei. Seria o que se pode chamar de ilegalidade e de acordo com a punição que recebe

inelegibilidade. É certo que, aprofundando o tema, constatam-se variações de abusos e as

oportunidades em que ocorrem. Isto é, o abuso manifesta-se de diversas formas: em praça

pública ou nas relações partidárias. O escândalo parlamentar que se instalou no Brasil no ano

de 2005 foi suficiente para provocar a criação de medidas que fossem compatíveis com a

banição de tais atos. O conteúdo de tais escândalos versava sobre candidatos que recebiam

recursos não declarados e até mesmo a criação de esquemas eleitorais que chegavam a repasse

de verbas públicas á organizações não governamentais (ONG’S) que assumissem o

compromisso de nas próximas eleições financiar as campanhas de determinados candidatos.

Neste caso, julga-se a ocorrência de abuso de poder no uso irregular de verbas nas

campanhas eleitorais, onde se presume a configuração de prática ilícita contra a ordem

econômica. Também se derruba os princípios constitucionais, os direitos e garantias

fundamentais e, sobretudo vai contra as normas da administração pública.

Ante o acontecimento de medidas errôneas e contrárias ao direito, desvia-se o

exercício dos direitos subjetivos, de maneira justa e conforme os fins do ordenamento

jurídico. Mas, a Lei 9504/97 se pronuncia da seguinte forma:

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:

I – ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, ressalvada a realização de convenção partidária;

II – usar materiais ou serviços, custeados pelos Governos ou Casas Legislativas, que excedam as prerrogativas consignadas nos regimentos e normas dos órgãos que integram;

III – ceder servidor público ou empregado da administração direta ou indireta federal, estadual ou municipal do Poder Executivo, ou usar de seus serviços, para comitês de campanha eleitoral de candidato, partido político ou coligação, durante o horário de expediente normal, salvo se o servidor ou empregado estiver licenciado;

IV – fazer ou permitir uso promocional em favor de candidato, partido político V ou coligação, de distribuição gratuita de bens e serviços de caráter social custeados ou subvencionados pelo Poder Público;

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V – nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causam suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e, ainda, ex officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito, nos três meses que o antecedem e até a aposse dos eleito, sob pena de nulidade de pleno direito.

VI – nos três meses que antecedem o pleito:

a. Realizar transferência voluntária de recursos da União aos Estados e Municípios, e dos Estados aos Municípios, sob pena de nulidade de pleno direito, ressalvados os recursos destinados a cumprir obrigação formal preexistente para execução de obra ou serviço em andamento e com cronograma prefixado, e os destinados a atender situações de emergência e de calamidade pública;

b. Com exceção da propaganda de produtos e serviços que tenham concorrência no mercado, autorizar publicidade institucional dos atos , programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, salvo em caso de grave e urgente necessidade pública, assim reconhecida pela Justiça Eleitoral;

c. Fazer pronunciamento em cadeia de rádio e televisão, fora do horário eleitoral gratuito, salvo quando, a critério da Justiça Eleitoral, tratar-se de matéria urgente, relevante e característica das funções de governo;

VII – realizar, em ano de eleição, antes do prazo fixado no inciso anterior, despesas com publicidade dos órgãos público federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, que excedam a média dos gastos nos três últimos anos que antecedam o pleito ou do último ano imediatamente anterior à eleição;

VIII – fazer, na circunscrição do pleito, revisão geral da remuneração dos servidores públicos que exceda a recomposição da perde de seu poder aquisitivo ao longo do ano da eleição, a partir do início do prazo estabelecido no artigo 7º desta Lei e até a posse dos eleitos11.

Para efeitos da lei, agente público é aquele que exerce, mesmo que transitoriamente

ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma

de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nos órgãos ou entidades da

administração pública direta, indireta, ou fundacional.

Obedecendo a este raciocínio, percebe-se que o referido diploma legal proíbe os

agentes públicos das práticas de algumas condutas que a norma presume tendentes a afetar a

igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais. E porque são agentes

públicos, a estes são atribuídos limitações capazes de regular as ações de forma a atender o

que é legal. Acresce que, tal matéria ganhou relevância com a introdução do instituto da

11 BARRETO, Lauro. Comentários à lei das eleições- Lei nº 9504/97 e suas alterações. Bauru, SP: Edipro, 2000, p. 42.

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reeleição, quando os chefes do executivo não exigiram a desincompatibilização ao largo das

eleições. (MARLON JACINTO REIS)12

Todas essas condutas presentes no referido artigo 73 e mais especificamente no que

dispõe o § quarto da mesma Lei, sujeitam os que infringem o comando legal, aplicando duas

medidas distintas, quais sejam: suspensão imediata da conduta vedada, quando for o caso e

imposição de multa no valor de cinco a 100 mil Ufir. A lei 9840/99 também deu sua

contribuição, agravando algumas das condutas expressas pelo artigo 73: cassação do registro

ou diploma do agente público.

Na realidade, a iniciativa de proibir, ab initio, certas condutas dos agentes públicos é

da lei permanente das eleições (9504/97) e do artigo 37 da Constituição Federal, o que para

Marlon Jacinto Reis significa que os agentes públicos servidores ou não, estão proibidos de:

Ceder ou usar, em benefício de candidato, partido político ou coligação, bens móveis ou imóveis pertencentes à Administração direta ou indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos territórios e dos Municípios, ressalvada a realização de convenção partidária; usar materiais ou serviços, custeados pelos Governos ou Casas Legislativas, que excedam as prerrogativas consignadas nos regimentos e normas dos órgãos que integram; ceder servidor público ou empregado da Administração direta ou indireta federal, estadual ou municipal do Poder Executivo, ou usar de seus serviços, para comitês de campanha eleitoral de candidato, partido político ou coligação, durante horário de expediente normal, salvo se o servidor ou empregado estiver licenciado; fazer ou permitir uso promocional, em favor de candidato, partido político ou coligação, de distribuição gratuita, de bens e serviços de caráter social custeados ou subvencionados pelo Poder Público; nomear, contratar ou de qualquer forma admitir, demitir sem justa causa, suprimir ou readaptar vantagens ou por outros meios dificultar ou impedir o exercício funcional e, ainda, ex officio, remover, transferir ou exonerar servidor público, na circunscrição do pleito, nos 3 meses que o antecedem e até a posse dos eleitos, sob pena de nulidade.13

Como reflexo da evolução do abuso de poder, na história da sociedade não se pode

evitar a menção das prerrogativas da Constituição Brasileira de 1988. Isto porque na análise

dos desmandos políticos, o que se coloca á priori os direitos subjetivos, ou melhor, os direitos

fundamentais, os quais outorgam aos titulares a possibilidade de impor os seus interesses em

face de questões convenientes, principalmente porque esses direitos funcionam como

elementos fundamentais da ordem constitucional objetiva, formando a base do ordenamento

jurídico de um Estado de Direito Democrático.

12 REIS, Marlon Jacinto. Uso eleitoral da máquina administrativa e captação ilícita de sufrágio. Rio de Janeiro: FGV, 2006, p. 35. 13 REIS, Marlon Jacinto. Uso eleitoral da máquina administrativa e captação ilícita de sufrágio. Rio de Janeiro: FGV, 2006, p. 43.

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Na concepção tradicional, a doutrina de Gilmar Ferreira Mendes14 prega que os

direitos fundamentais são direitos de defesa destinados a proteger determinadas posições

subjetivas contra a intervenção do Poder Público, seja pelo não impedimento da prática de

determinado ato, seja pela não intervenção em situações subjetivas. Então, nas questões

relativas ou provenientes do abuso de poder político, são feridos os direitos subjetivos e

significando estes o cerne do Direito Constitucional, quando respeitados, significa a própria

evolução das leis. Há que se observar que enquanto direito de defesa, os direitos fundamentais

asseguram a esfera de liberdade individual contra interferências ilegítimas do poder público,

provenham elas do Executivo, do Legislativo ou, mesmo, do Judiciário.

Na conduta do eleitorado, onde se constata, às vezes, à ilicitude vislumbram-se

candidatos a representante do Poder Público, e, se caso esta representação viola os princípios

dos direitos fundamentais da pessoa humana, concorre o indivíduo a uma pretensão, que pode

consistir na discriminação, pela lei que proíbe o desrespeito a aplicação do dispositivo legal.

A lei é ainda mais evolutiva no que concerne às lições de Canotilho15:

Em termos práticos, a articulação de suas dimensões aponta para a exigência da aplicação da lei pela administração e pelos tribunais, pois o cumprimento concretizador das normas legais não fica à disposição do juiz ou dos órgãos e agentes da administração e os tribunais atuarem ou decidirem contra a lei, uma vez que impede não só as violações ostensivas das normas legais, mas também os desvios ou fraudes á lei através da via interpretativa. De forma a interpretar, as defesas dos direitos individuais coloca a ordem constitucional á disposição do indivíduo uma série de instrumentos, tais como os recursos extraordinários.

Estabelece-se como evolução na lei, a proteção dos referidos dispositivos sobre os

direitos individuais afetados, observando que no passado, a lei era muito tímida nas hipóteses

de defesa dos direitos subjetivos e somente com a instituição do Estado e conseqüentemente

com a formação da administração de todos os órgãos que a sociedade se empenhou em lutar

por seus direitos fundamentais e liberais, refletindo como isso uma maior conscientização

política.

Aliás, a política tem suas matrizes no resultado da atuação de muitos atores e como

líder possui um código de ética que visa à moral e respeito aos preceitos. A punição à não

observância de tais regulamentos constitui uma elevação e evolução da Lei ao longo dos

tempos. Diz-se evolução porque nos tempos antigos, como por exemplo, na Ditadura Militar e

na República Velha, identifica-se a ocorrência de desrespeitos à liberdade de expressão de

14 MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos Fundamentais e Controle de Constitucionalidade: estudos de Direito Constitucional. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 301.15 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. Coimbra: Livraria Almedina. 1995, p. 799

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idéias. Assim, o abuso de poder político reflete, ainda, restos dessa política ditatorial. Tem-se

como reflexo de evolução o aspecto democrático do Brasil, mas ainda não se tornou, com

efeito, considerando a má atuação de diversos políticos.

Para uma boa administração, em especial do Poder Público, é necessário que as

investiduras observem e pratiquem todos os atos em conformidade com a Lei instituída nas

normas da administração pública, obedecendo aos princípios desta que se encontram

expressos no Direito Administrativo, de tal maneira que a negação deste consubstancia-se em

inconstitucionalidade, no que desobedece o que foi instituído na Carta Magna. O cargo

político é uma das investiduras do Poder Público porque confere ao candidato, a nomeação

própria de um administrador de interesses públicos.

Outrossim, é oportuno enfatizar que o direito subjetivo, não tem sido respeitado por

candidatos à função pública, devido o não atendimento dos princípios da legalidade, da

impessoalidade, da moralidade e da publicidade, sendo estes insculpidos no art.37 da

Constituição Federal que regem a Administração Pública. Quando se fala em propaganda

eleitoral, presume-se que além dos fatores ético-morais, existem certos elementos materiais

com regras próprias, cita-se como exemplo os bens públicos e particulares.

É neste momento que se identifica a ocasião de um suposto abuso de poder, sendo

que este é público devido ser constituído de elementos passíveis de concessão de permissão

para se realizar propaganda eleitoral. Neste contexto, será entendido como abuso os casos em

que ocorrem a infringência ao meio ambiente e á natureza, por meio da colocação de

propagandas em árvores e jardins públicos. Todavia, isto acontece porque determinados tipos

de propaganda podem contrariar as regras da propaganda eleitoral em geral, sob pena de

desvirtuamento das normas de ordem pública, que para o direito também tem sua tutela. Já a

propaganda em bens particulares, também, se realizada de maneira a contrariar o disposto em

lei do art. 37 § 2º da Lei 9504/97, do artigo 13 da resolução do TSE nº 20988. Uma

explicação é oportuna no que diz respeito á propaganda eleitoral impressa, isto é, folhetos,

volantes e outros impressos, editados sob a responsabilidade do partido político, da coligação

do candidato, independente de licença municipal e da autorização da justiça eleitoral, em

conformidade com o artigo 38 da Lei nº 9504/97, sendo, portanto, não passível de constituir

abuso de poder porque não contraria as normas do Direito Eleitoral.

Por fim, admite-se que as normas, bem como os termos da legislação eleitoral

demonstram o quanto à aceitação necessária ao exercício da democracia adquiriu sua

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evolução, no que não permite a utilização de verbas indevidas da máquina governamental

para a eleição do candidato em detrimento de todos os outros. Sabe-se ainda que a própria

ação popular faça parte dos progressos que a lei alcançou, porque em sua maioria já possui

conhecimento sobre falsas ideologias e falsas promessas que venham a se concretizar. Tal

reação, durante a história da humanidade permitiu que o Direito alcançasse o patamar de seus

institutos, tecendo defesas que regem a vida e as relações da sociedade.

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CAPÍTULO III

A LEGITIMIDADE DO ABUSO DE PODER NAS ELEIÇÕES PERANTE A LEI

3. 1. A Violabilidade a Lei 9504/97.

Décio Luiz José Rodrigues aponta interessantes aspectos sobre a legitimidade:

Da parte ou de seu sucessor, de terceiro interessado juridicamente, do Ministério Público, se não foi ouvido no processo em que deveria intervir ou no caso de colusão entre as partes para fraudar a lei. Neste caso, o procedimento, segundo o referido autor, é obedecer ao prazo para ajuizamento de 120 dias a contar da decisão irrecorrível, devendo-se considerar a impossibilidade de interposição de qualquer recurso para, somente após, começar a contar o prazo de 120 dias16.

Quanto à petição inicial, esta é feita de acordo com os incisos do artigo 282 do

Código de Processo Civil, podendo pedir a rescisão do julgado e, se for o caso, novo

julgamento da causa. Em tais circunstâncias, aventa-se a hipótese das custas e emolumentos

na justiça eleitoral serem ausentes de valor de causa, podendo se requerer a gratuidade da

justiça, conforme a Lei nº 1060/50. Também ocorre a dispensa de depósito em favor da União

dos estados, dos municípios e do Ministério Público, ao mesmo tempo em que a competência

é somente do Tribunal Superior Eleitoral, que cita o réu por meio do relator, para resposta em

15 ou até 30 dias, sendo que é de 45 dias a 90 dias o prazo para a prova em primeira instância

e o fim da instrução da causa, 10 dias para as razões finais.

Malgrado a relevante violação que se faz no que estatuiu a lei nº 9504/97, cabe

destacar seu art.73, § 7º, a qual é um resultante da aplicação das cominações de caráter civil,

penal e administrativo previstas na lei de Improbidade Administrativa sob o nº 8429/92, com

expressão de ressarcimento integral do dano, se houver perda da função pública, suspensão

dos direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa civil de até cem vezes o valor

da remuneração percebida pelo agente e proibição de contratar com o poder público ou

16 RODRIGUES, Décio Luiz José. Direito Eleitoral: Ações, Recursos e Propaganda. São Paulo: Ridel, 2006

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receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por

intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário pelo prazo de três anos.

Consecutivamente, vem o esclarecimento e a complementaridade da lei 64/90

destinada à inelegibilidade do político, em razão de má conduta que contrariou a 9504/97 e

que repercutiu em atos de Improbidade Administrativa. Com o dispositivo 64/90, legitimam-

se além das inelegibilidades, prazos de cessação e outras providências, que regulamentam o

art. 14, § 9º, da Constituição Federal, trazendo á baila a proteção à normalidade e a

legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso de exercício de

função, cargo ou emprego na Administração direta ou indireta.

Um procedimento que deve ser colocado em prioridade é a juridicidade eleitoral e o

comprometimento desta no momento em que entra em cena o abuso de poder. Assim se faz

necessário uma breve abordagem sobre o fundamento jurídico do Direito Eleitoral. Para que

ocorra a legitimação do abuso de poder, deve-se considerar o amparo do Direito Eleitoral

material e o Direito Processual Eleitoral, como representantes de áreas autônomas do Direito,

com peculiaridades próprias insertas não só no Código Eleitoral, mas em leis extravagantes,

como a 9504/97 (Lei Permanente das Eleições) e na Complementar nº 64/90 (Lei das

Inelegibilidades).

O desenvolvimento dessas leis visa desdobrar ações de investigação judicial

Eleitoral, impugnação de mandato eletivo, captação de sufrágio (art. 41 – A da Lei nº 9504/97

com redação dada pela Lei 9840/99), condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas

eleitorais e os recursos em geral: recurso criminal, contra expedição de diploma, especial,

recurso ordinário, extraordinário e agravo de instrumento, embargos declaratórios e

infringentes em matéria eleitoral sendo que todos esses são tutelados e interpretados à luz da

jurisprudência eleitoral e, via de regra, do Tribunal Superior Eleitoral – TSE.

Aplica-se também a jurisprudência com respaldo do TSE, à Propaganda Eleitoral,

bem como a geral, na imprensa, debates eleitorais e propaganda eleitoral gratuita no rádio e na

televisão. Entretanto, observa-se que com o advento da lei nº 11.300/2006, significativas

alterações aconteceram na lei nº 9504/97. A aludida lei que fora modificada dispõe sobre a

propaganda, financiamento e prestação de contas das despesas com campanhas eleitorais.

A inovação trazida pela lei 11.300 para a 9504/97 consiste em afirmar que:

Art. 17-A. A cada eleição caberá à lei, observada as peculiaridades locais, fixar até o dia 10 de Junho de cada ano eleitoral o limite dos gastos de campanha para os cargos

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em disputa; não sendo editada lei até a data estabelecida, caberá a cada partido político fixar o limite de gastos, comunicando à justiça eleitoral, que dará a essas informações ampla publicidade17.

Na redação antiga, do artigo 39, § 5º da Lei 9504/97, havia subdivisões em apenas

dois incisos e seu fundamento dizia constituir crime no dia da eleição, o uso de alto-falantes e

amplificadores de som ou a promoção de comício ou carreata e a distribuição de material de

propaganda política, inclusive volantes e os impressos, ou prática de aliciamento, coação, ou

manifestação tendente a influir na vontade do eleitor, sendo que as duas incidências com

punição de 6 meses a 1 ano de detenção, mas com a alternativa de prestação de serviços à

comunidade por idêntico período e multa no valor de quinze mil UFIRs.(AMAURY SILVA)18

Com a chegada da nova lei, preservou o legislador o inciso II, afirmando que a

arregimentação do eleitor ou a propaganda de boca de urna, são condutas puníveis e, além

disso, adicionou-se o inciso III, o qual menciona também ser punível o comportamento de

divulgação de qualquer espécie de propaganda de partidos ou de seus candidatos, por meio de

publicações, cartazes, camisas, bonés, broches ou dísticos em vestuário.

Ressalte-se que o poder normativo e regulamentar da Justiça Eleitoral, pavimentou

interpretativa alusiva ao então vigente inciso II, ora modificado e transmudado para o inciso

III, de maneira a não configurar o tipo penal em tablado, o uso pessoal pelo eleitor e sua

manifestação silenciosa e individual, na conformidade do artigo 69, caput Resolução n.

22158, 03/03/2006, isto é, o artigo 67, Resolução nº 22.261/2006, englobando os incisos II e

III.

Desta feita, a Lei nº 9504/97 passou a vigorar com as seguintes alterações á título de

esclarecimento, in verbis:

Art. 17-A. A cada eleição caberá à lei, observadas as peculiaridades locais, fixar até o dia 10 de junho de CAD ano eleitoral o limite dos gastos de campanha para os cargos em disputa; não sendo editada lei até a data estabelecida, caberá a cada partido político os limites de gastos, comunicando à justiça eleitoral, que dará a essas informações, ampla publicidade.

Art. 18. No pedido de registro de seus candidatos, os partidos e coligações comunicarão aos respectivos Tribunais eleitorais os valores máximos dos gastos que farão por cargo eletivo em cada eleição a que concorrerem observados os limites estabelecidos, nos termos do artigo. 17-A desta lei.

17 RODRIGUES, Décio Luiz José. Direito Eleitoral: Ações, Recursos e Propaganda. São Paulo: Ridel, 2006, p. 17918 SILVA, Carbalal Felix. Promotor de Justiça da Comarca de Gararu. Representação Eleitoral por Abuso de poder econômico. Investigação Judicial Por abuso do Poder Político e de Autoridade. http:// jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp? Acesso em 24/11/2009

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Artigo. 21. O candidato é solidariamente responsável com a pessoa indicada na forma do art.20desta lei pela veracidade das informações financeiras e contábeis de sua campanha, devendo ambos assinar a respectiva prestação de contas.

Artigo 22. O uso de recursos financeiros para pagamentos de gastos eleitorais que não provenham de conta específica de que trata o caput deste artigo, implicará a desaprovação da prestação de contas do partido ou candidato (.....)

Artigo 23. As doações de recursos financeiros somente poderão ser efetuadas na conta mencionada no artigo 22 desta lei por meio de:

I-cheques cruzados e nominais ou transferência eletrônica de depósitos.

II - depósitos em espécie devidamente identificados até o limite fixado no inciso I do § 1º deste artigo.

(.....)

Artigo 24. Abrange as entidades beneficentes e religiosas, entidades esportivas que recebam recursos públicos, organizações não governamentais que recebam recursos públicos, organizações da sociedade civil de interesse público.

Art.26 São considerados gastos eleitorais, sujeitos a registro e aos limites fixados nesta lei:

IV- despesas com transportes ou deslocamento de candidato e de pessoal a serviço de candidatura.

IX- a realização de comícios ou eventos destinados à promoção de candidatura;

Já os demais artigos foram revogados com a inovação da lei.

Art. 28 Os candidatos são obrigados em determinadas datas a fazerem um relatório em rede nacional de internet, sobre os gastos e recursos financeiros recebidos para financiamento de campanha eleitoral.

Art. 29 Exige-se a indicação dos nomes de doadores de recursos utilizados por partidos na prestação de contas finais.

Art. 30 Relata a decisão que julgará as contas de parlamentares ou candidatos eleitos publicadas em sessão com antecedência de 8 dias antes da diplomação.19

Como visto, o Tribunal Superior Eleitoral entende todos os atos de parlamentares de

maneira que estes devem levar ao conhecimento geral, a candidatura e toda a ação política

que se pretende desenvolver e as razões que induzam a concluir que o beneficiário é o mais

apto ao exercício de função pública. Para tanto, é necessário que o processo de levar

19 BARRETO, Lauro. Comentários à lei das eleições- Lei nº 9504/97 e suas alterações. Bauru, SP: Edipro, 2000, p. 42.

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conhecimento à sociedade seja feito de maneira democrática, observando o que a lei manda,

em especial no Código Eleitoral, nas normas do partido e o disposto na Constituição, pedra

máxima da lei. As alusões feitas anteriormente indicam que o legislador se preocupou em

manter o poder econômico intocável, de maneira a este não sofrer nenhum tipo de abuso, em

detrimento dos limites que a lei impõe e, sobretudo respeitando o código Eleitoral.

É nessa questão de defesa que a atuação da lei Permanente das Eleições (Lei nº

9504/97) se faz necessária e destaca sua importância, à medida que oferece ferramentas

jurídicas em favor das eleições, preservando a igualdade entre os candidatos e a própria

Democracia com tal eloqüência que Lauro Barreto afirma que ela estabelece normas para as

eleições e sua destinação, a julgar pela ementa, é a de ter um caráter permanente, com

vigência indeterminada e aplicabilidade a todas as disputas eleitorais, sejam elas gerais ou

municipais.

Concomitantemente à edição da lei das eleições, aprovou-se uma emenda

constitucional nº 16, que trata do instituto das reeleições para o descontentamento da maioria

dos parlamentares em face da negativa de revogação da mesma. Inclusive, recentemente

houve uma proposta de emenda constitucional de autoria de Paulo Octávio, a qual proíbe a

reeleição de membros do poder executivo. É notável que a formulação de tal lei das eleições

não satisfez a todos porque visou, em um primeiro instante, normatizar as eleições

presidenciais e estaduais de 1998 e em determinados aspectos apresenta superficialidade,

como por exemplo, nas disputas para os cargos de prefeitos e vereadores.

Outro aspecto de legitimação importante da referida lei está assentada na fraqueza

que ela apresenta à sociedade, a qual reclama constantemente, por meio de seus representantes

legais sobre a sua eficácia para a prática, o que levará a uma possível reformulação da lei nº

9504/97, começando por uma reforma Político- Partidária, normalizando e regulamentando os

procedimentos eleitorais. Um dos fatores reclamados com relação à inovação que a emenda

constitucional nº 16 trouxe para a lei das eleições está relacionado ao fato de que houve um

encurtamento de prazo entre o 1º e 2º turno, nas rodadas de debates e propagandas eleitorais,

em favor do então governo da época, que era Fernando Henrique Cardoso, para que este não

sofresse um embate por muito tempo com a oposição.

Então, com razão os partidos e líderes parlamentares justificaram seus

descontentamentos com razão, porque parece que a mudança na lei das eleições veio para

favorecer apenas a eleição de Fernando Henrique porque, segundo os procedimentos

determinados, eram todas as ações condizentes com um facilitamento para a aventada

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hipótese. Para a maioria, representou a atitude da legislação um casuísmo com as questões

eleitorais e democráticas

Em segunda instância, identifica-se o ponto de encontro entre a lei e o abuso de

poder, em especial no art. 41-A da lei nº 9504/97, onde é vedado ao candidato doar oferecer,

prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe voto, bem ou vantagem pessoal de

qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro de candidatura até o

dia de eleição, inclusive, sob pena de multa de mil e cinqüenta mil UFIR, e cassação de

registro ou do diploma legal, observado o procedimento no art. 22 da Lei complementar. De

posse de tais proibições, caso o candidato extrapole esses limites estará sendo um fator de

aplicação das penas que se fizerem relevantes, porque aí se concretizou o abuso de poder.

3.2 Fundamentação Jurídica Do Abuso De Poder Político

O que se tem de ofensivo à lei e de grande relevância para o âmbito jurídico é o

desvio verificado, bem como a violação dos princípios da administração pública, nos atos

eleitorais. Com já foi falado em outra oportunidade, o candidato que se oferece a ocupar um

cargo público, naturalmente não passará de um administrador pela natureza que a função de

política oferece, ou seja, gerenciar os órgãos que cuidam de interesses públicos.

Assim, não se pode negar que os bens públicos, bem como seus interesses têm sua

tutelação perante o Direito, que o representa ante o perigo iminente de desrespeito e a perda

de garantias. A Constituição Federal de 1988 abarca toda a regimentação que ramificam as

demais leis contidas em códigos e leis em geral. Por exemplo, a lei 64/90 complementa um

dos dispositivos constitucionais relativos ao processo político. Acompanhando este raciocínio,

depreende-se que quando um administrador eleito pelo povo contraria os princípios

constitucionais e a democracia, que tem um sentido mais amplo, estará ferindo os bens

públicos que envolvem pessoas e elementos típicos da organização pública.

A aplicação da fundamentação jurídica para corrigir os atos de ilicitude perante á lei

faz jus no desvio de finalidade dos princípios da administração pública. O comentário de

Marlon Jacinto Reis20elucida tal ao aduzir:20 REIS, Marlon Jacinto. Uso eleitoral da máquina administrativa e captação ilícita de sufrágio. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2006. Pág. 17

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Nem sempre a voz das urnas traduz a opinião sincera da maioria. O resultado divulgado pode ser fruto de corrupção ou fraude. E, nesse caso, o Poder Judiciário deve atuar imediatamente, para invalidar o voto viciado e afastar da disputa, ou do exercício do mandato, quem buscou a vitória por meios ilegais.

Porém, a reprovável conduta há pouco citada tem sido combatida pela Justiça

eleitoral, por meio do instrumento do artigo 41-A da Lei nº 9504/97 que permitirá a prática de

punição nos casos em que convier. Insta observar que punir os delitos ocasionados, por vezes

no sistema de eleição guarda relação com os fatores sócio-jurídicos, ou melhor, seria

necessário que se analisasse a sociedade, no que esta permite e por que o ato da corrupção, em

especial o abuso de poder, como forma de fortalecer as instituições democráticas do Brasil.

E, se o ato ilegal permanece, não há que se falar em democracia, pois o termo aduz

às situações e juridicidade diferentes das praticadas. É certo que a legislação punitiva é

severa, mas deveria ser mais coibitiva a fim de não se identificar mais tamanho desfalque no

sistema eleitoral, pois ao longo da história política e em face dos avanços que a globalização

imprimiu no globo terrestre, ainda se constata restos de uma ideologia arcaica, onde os mais

fortes esmagam os fracos.

Tais condutas, que infringem o comando legal, previstas no artigo 73, serão sujeitas a

duas medidas distintas: suspensão imediata da conduta vedada, quando for o caso e imposição

de multa.De outro modo, a lei 9840/99 sancionou de forma mais grave os tipos de condutas

contrárias à lei eleitoral, oferecendo a cassação do registro ou diploma do agente público ou

não e candidato beneficiado.

É importante frisar que sobre a cassação o Tribunal Superior Eleitoral decidiu pelo

artigo 73, § 5º, da Lei nº 9504/97 que o infrator não perderá automaticamente o registro ou o

diploma, porque caberá ao magistrado o juízo de proporcionalidade com relação à multa que

se proporcional à gravidade do ilícito eleitoral, não se aplica a pena de cassação. A medida de

cassação é uma forma de penalizar o infrator administrativamente. Por falar em

administração, em todos os atos de punição ou oportunidades em que a lei se posiciona para

criticar a ilicitude das eleições, os princípios da administração ficam em alta, em atendimento

no disposto das palavras de Reis21 :

Sempre que constatada a ofensa às normas contidas no artigo 73 da Lei das eleições,

presente também estará o ato de improbidade administrativa, do que deriva a remessa de

peças, mediante provocação ou de ofício, para o órgão do Ministério Público incumbido de

21 REIS, Marlon Jacinto. Uso eleitoral da máquina administrativa e captação ilícita de sufrágio. Rio de Janeiro: FGV, 2006, p. 37

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30

deflagrar a medida legal correspondente. Seria o ato de abuso de poder ao ver do fundamento

jurídico, como uma sujeição do eleitor ao abuso do poder de império da administração.

Para fins da administração e também para explicar como ocorre o embasamento para

fundamentar juridicamente o abuso de poder, adota-se o pensamento de Nogueira22, cuja

concepção é a de que os atos pertinentes a atividade pública, pertencem a três categorias:

Legislativos, judiciais e atos administrativos. De posse desse pensamento, conclui-se que a

atividade política pode ser considerada como um ato administrativo, pela atividade material

que os políticos exercem na função administrativa que visa efeitos práticos para a

administração.

Para Celso Antônio Bandeira de Mello23, os atos políticos sob a rubrica de atos

administrativos e por isso regidos pela administração pública, não devem ser colocados dessa

maneira para o entendimento jurídico, porque o autor acha que se trata de exercício de função

política e não administrativa. Mas Diógenes Gasparini24adverte que na atualidade tais atos

políticos e conseqüentemente administrativos, possuem sindicabilidade ampla pelo judiciário,

logo poderão ser enquadrados na noção de ato administrativo.

Nessa perspectiva, é justo verificar se as ações políticas possuem os requisitos dos

atos administrativos a fim de enquadrá-los nos princípios da administração pública e caso as

finalidades ou qualquer um desses princípios for contrariado, caracterizar-se-á o abuso no

fundamento jurídico, porque o simples ato de corromper os limites do Código eleitoral gera

efeitos jurídicos, por meio da manifestação da vontade de ilicitude.

Para que a ação política seja considerada como pertencente à administração pública,

é necessário que possua os atos de competência, objeto, forma, motivo e finalidade. A

competência é o poder que a lei outorga segundo Di Pietro25, ao agente público para

desempenho de suas funções. Também para o Direito privado, lembra a sua capacidade, como

significado de atuação do indivíduo dentro da esfera da lei que traçou. De acordo com o art.

61, § 1º, II e 84, VI da CF, a competência pode ser fundada na lei ou de forma secundária por

meios dos atos administrativos organizacionais.

Consoante os artigos 84 a 87, a Constituição Federal também é uma fonte de

competência porque intrinsecamente, o Presidente da República, os Ministros de Estado no 22 NOGUEIRA, Roberto Wagner Lima. Noções Introdutórias Acerca do ato administrativo. Disponível em HTTP//jus2.uol.com.br/doutrina/texto. Acesso em 22-11-2009.23 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Ato Administrativo e Direito dos Administrados. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1981.24 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 4ª ed. São Paulo: Saraiva 1995, p.60.25 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18ª ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 196.

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Executivo, o Congresso Nacional, a Câmara dos Deputados e Senado Federal, possuem

competências ou atribuições próprias do cargo que exercem.

O objeto da ação política, nos casos não permitidos pela lei, á o abuso porque este

gera alteração no mundo jurídico, como proposta daquele ato administrativo, no caso a função

pública. Assim, para ser válido o ato administrativo, o objeto tem que ser lícito determinado

ou determinável, possível.

Já a forma é o meio pelo qual a ação administrativa se exterioriza, sendo válida se,

compatível com o que expressamente dispõe a lei ou ato equivalente com a jurídica. Este

requisito tem estreita ligação com os procedimentos administrativos, como por exemplo: se a

lei exige que o ato seja escrito e a forma como é realizada for verbal, torna-se nulo, porque é

caracterizado como defeituoso, logo para a lei é nomeado como vício. A forma é muito

importante para a administração porque significa o próprio controle, para ela e seus

administrados.

Motivo é o pressuposto de fato e de direito que serve de fundamento ao ato

administrativo. A ausência de motivo ou a indicação de motivo falso invalidam o ato

administrativo. Nos casos de punição de político por abuso de poder, o motivo é a infração

prevista em lei. No entender de Di Pietro26, a motivação é regra a todos os atos

administrativos, tanto para os atos vinculados quanto para os discricionários já que constitui

garantia da legalidade administrativa, previsão do artigo 37, caput, da Constituição Federal.

Por fim, a finalidade como o último dos requisitos a ser abordado, pressupõe o

resultado que a administração quer alcançar com a prática do ato, sendo considerada pela lei

como o efeito imediato, ou seja, o que o administrador quer perseguir, através do serviço

público. Portanto é o que se espera das ações de um administrador público. Nesse foco de

investigação, presume-se que a atuação de maus políticos leva a crer que a finalidade é um

dos pontos mais conflitantes a ser julgado, em face do abuso de poder que se apresenta, por

ocasião de ato político.

Se for constatado o abuso de poder do candidato ou do parlamentar, significa que a

avaliar sua conduta pelos princípios quem rezam na administração pública, implicam em

caracterizar a coisa pelo desvio de finalidade a que se propôs o político. Então, a punição será

compatível com o Direito administrativo e o Constitucional, porque este funciona como um

suporte para aquele. Como se pode observar, a falta de realização da finalidade no ato de

26 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 18ª ed. São Paulo: Atlas, 2005, p. 196

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abuso de poder culmina na não aquisição de direitos pela coletividade, no que transforma por

meio de conduta ilícita de maneira a extinguir direitos determinados pela Constituição Federal

de 1988.

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33

CAPÍTULO IV

DA PUNIÇÃO DO ABUSO DE PODER POLÍTICO

Via de regra, a punição para o atuar ilicitamente de poder político, de maneira nociva

ao governo democrático, amontoando mutilações em normas jurídicas legais e

constitucionais, nos altos escalões da vida política, identificados pela desonestidade em

disciplinamentos legais, prejudicando a veracidade dos processos eleitorais, excedendo os

limites impostos pela lei, é a aplicação da Justiça Eleitoral, mais especificamente das regras

constantes da Lei das Eleições nº 9504/97, em seus artigos 73 à 78 , mas quem estabelece

limites ao abuso de Poder é a Constituição Federal de 1988.

Tal lei típica das eleições funciona como amparo para o processo eleitoral porque

rege as condutas vedadas aos agentes públicos em campanha eleitoral, configurando como

abuso de poder as normas que forem desrespeitadas. A sua complementar é a lei das

inelegibilidades, a 64/90 de 18 de maio de 1990, no artigo 22 , que se configura em punir

todo ato que se torna irregular a execução do ato administrativo, em desmando de uso,

propiciando contra o autor, medidas disciplinares, civis e criminais.

Considerando que três são os tipos de abuso de poder no Direito Eleitoral, isto é, o

econômico, político e abuso de poder nos meios da mídia, seus amparos, bem como a punição

encontram suas assertivas, respectivamente no artigo 22 da Lei Complementar nº 64 de 18 de

maio de 1990, nos artigos 73 à 78 da Lei 9504/97,e artigo 22 da 64/90. Vale transcrever

trecho artigo 22 da Lei Complementar n° 64 de 18 de maio de 1990 (Lei das Inelegibilidades):

Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir a abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso de poder econômico ou de poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político (...)

Prossegue o comentário de Antônio Carlos Mendes sobre a lei 9504/97em que diz:

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Ocorre quando o detentor do poder, o mandatário, vale-se de sua posição para agir de modo a influenciar o eleitor, prejudicando a liberdade de voto. Define-se dessa forma, como ato de autoridade exercido em detrimento do voto. 27

Nesta situação, a punição enseja o uso abusivo do poder sobre a posição política,

onde o candidato utilizando-se da sua função para agir de modo a influenciar o eleitor, ou em

outros casos, usa sua força para obrigar o eleitor a votar em seu candidato, ameaçando a perda

de algum benefício

Não se pode olvidar que no rol das punibilidades, inovações aconteceram na lei

9504/97, como se fosse uma pequena reforma eleitoral, objetivamente com a inserção da

alteração provocada pela lei 11.300 de 10 de maio de 2006, na lei das eleições. A modificação

incluiu o artigo 30-A para dar reforço as penalidades nas condutas ilícitas que ocasionalmente

vêm sendo praticadas nas campanhas eleitorais por candidatos, partidos políticos e coligações.

A doutrina do artigo 30-A da lei das Eleições diz o seguinte:

Art. 30-A. Qualquer partido político ou coligação poderá representar à Justiça Eleitoral relatando fatos e indicando provas e pedir a abertura de investigação judicial para apurar condutas em desacordo com as normas desta Lei, relativas à arrecadação e gastos de recursos.

§ 1° Na apuração de que trata este artigo, aplicar-se-á o procedimento previsto no art. 22 da Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990, no que couber.

§ 2° Comprovados captação ou gastos ilícitos de recursos para fins eleitorais, será negado o diploma ao candidato, ou cassado, se já tiver sido outorgado.28

Olivar Coneglian29 ensina que, a única inovação foi que a ofensa a esta lei era

prevista apenas no artigo 96 da Lei 9.504/97, com a inclusão do artigo 30-A, determinou-se

uma divisão, quando a ofensa a Lei 9.504/97 for genérica a representação é fundamentada no

artigo 96, já quando a ofensa for em relação a arrecadação de recursos e gastos de campanha,

deverá ser representada por investigação judicial e de acordo com a Lei das Inelegibilidades,

em seu artigo 22. Para o autor, o § 1° do artigo 30-A, desnecessariamente comenta que deve

ser a investigação eleitoral aplicada de acordo com o artigo 22 da Lei Complementar 64/90, já

que é justamente esta lei que prevê a investigação.

Com relação ao artigo 30-A, Olivar Coneglian explicita que quando comprovado a

captação ou a efetivação de gastos ilícitos, ocorre a negação do diploma aos candidatos e

27 MENDES, Antonio Carlos. Apontamentos sobre o Abuso do Poder Econômico em matéria eleitoral. Cadernos de Direito Eleitoral. São Paulo, v. 1, nº 3, p.24, maio 1988.28 RODRIGUES, Décio Luiz José. Direito Eleitoral: Ações, Recursos e Propaganda. São Paulo: Ridel, 2006.29 CONEGLIAN, Olivar. Lei das Eleições Comentada. 4. ed. Curitiba: Juruá, 2006

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cassam-se os diplomas dos candidatos, se já expedidos. Na visão dele a elegibilidade e a

inelegibilidade, tema de significativa relevância, necessita de mais atenção, pois se associa a

cassação do diploma à idéia do artigo 41-A, que se refere à captação ilícita de sufrágio, onde

se acredita que a proibição não é cometer gastos e sim cometer gastos ilícitos.

Em desigualdade, Mendonça Júnior30, também afirma que a inclusão deste artigo 30-

A em nada modifica o processo eleitoral, com exceção do § 2°.

Noutro giro, Renato César Carneiro31 acredita ter sido, a inclusão do artigo 30-A,

uma das principais alterações realizada na Lei das Eleições, por ter criado uma nova e

específica Ação de Investigação Judicial Eleitoral, a qual tem como objetivo apurar desvio de

conduta referente à arrecadação e utilização de recursos de campanha. Alega o mesmo autor

que houve um esquecimento do legislador ao não incluir o Ministério Público Eleitoral e o

candidato como legitimados para promover a AIJE. Não há o que se discutir em relação que o

Ministério Público e o candidato têm interesse e legitimidade, até mesmo previstos no artigo

22 da Lei das Inelegibilidades, pois um é fiscal da lei e defensor de interesses dos eleitores e a

outra disputa o cargo. Nestes moldes, defende o autor que os legitimados para propor este tipo

específico da AIJE são: o partido político, o candidato, a coligação ou o Ministério Público

Eleitoral.

O artigo 18 da Lei das Eleições (9.504/97) diz o seguinte:

Art. 18. Juntamente com o pedido de registro de seus candidatos, os partidos e coligações comunicarão à Justiça Eleitoral os valores máximos de gastos que despenderão por candidatura em cada eleição em que concorrerem.

§ 1° Tratando-se de coligação, cada partido que a integra fixará o valor máximo de gastos de que trata este artigo.

§ 2º Gastar recursos além dos valores declarados nos termos deste artigo sujeita o responsável ao pagamento de multa no valor de cinco a dez vezes a quantia em excesso.

A Lei Complementar 64/90 (Lei das Inelegibilidades) não fixou prazos iniciais ou

finais para propor a Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), no entanto, existem duas

correntes doutrinárias, a que entende que o prazo inicial para ajuizar a AIJE só pode acontecer

a partir da data do registro do candidato, e uma outra corrente de doutrinários que defendem a

proposição da AIJE mesmo antes do registro de candidatura.

30 CARNEIRO, Renato César. Eleições 2006: As Novas Regras do Jogo. João Pessoa: Universitária, 2006.31 MENDONÇA JÚNIOR, Delosmar Domingos. Manual de Direito Eleitoral. Salvador: Juspodivm, 2006.

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Há doutrinas que defendem o ajuizamento da AIJE só após o registro da candidatura,

como Fávila Ribeiro32, entende que o abuso de poder, seja ele político, econômico ou nos

meios de comunicações, antes do registro de candidatura deverá estar exposto à Ação de

Impugnação do Registro de Candidatura (AIRC) e não a AIJE, pois de que serviria a AIRC se

não para este caso?Estes casos de abusos praticados anteriormente ao registro da candidatura

devem ser apurados, para que o pretenso candidato nem sequer concorra a um cargo eletivo.

Neste foco de pensamento, entendem que a AIJE deverá ser proposta há qualquer tempo,

desde que entre o registro de candidatura e a diplomação, não podendo ser antes nem

depois.Consecutivamente, se ocorrer ilegalidade antes do registro da candidatura, deverá ser

ajuizada a Ação de Impugnação ao Registro de Candidatura, ocorrendo a ilegalidade após o

registro da candidatura e até o pleito, será proposta a Ação de Investigação Judicial Eleitoral,

onde esta está prevista na Lei Complementar 64 de 18 de maio de 1990 (Lei das

Inelegibilidades).

A Lei nº 9840/99 e o artigo 41-A é outra forma de punir o abuso de poder, vez que

foi aprovada em 28 de setembro de 1999, tornando possível a cassação de centenas de

políticos por compra de votos e uso da máquina administrativa e também contribuiu com a lei

nº 9504/97, no que alterou a redação com a inserção do aludido artigo anteriormente. Seu

objetivo visava moralizar as eleições e acabar com a corrupção do eleitorado com promessas,

doações ou ofertas de bens materiais em troca de voto: captação ilícita de sufrágio, consoante

a explanação de José Jairo Gomes

Art.41 Ressalvando o disposto no art. 26e seus incisos, constitui captação de sufrágio, vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição, inclusive, sob pena de multa de mil a cinqüenta mil UFIR, e a cassação do registro ou do diploma, observado o procedimento previsto no artigo 22 da Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990.33

Nota-se que o dispositivo normativo intenta evitar a conquista da vontade do eleitor

por meio de procedimento escusos que geram uma intensa desigualdade entre os candidatos.

O artigo 41-A proíbe que, com o fim de obter voto do eleitor, o candidato doa, ofereça,

prometa, ou entregue a ele bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego

ou função pública. Observa-se que o citado artigo exige a participação do beneficiário para

configurar a captação ilícita de sufrágio.

32 RIBEIRO, Fávila. Abuso de Poder no Direito Eleitoral. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998.33 GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. Belo Horizonte: Del Rey, 2008.

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37

4.1 Materialização Do Abuso De Poder Nas Eleições Segundo A Jurisprudência

Alguns relatos de julgados podem demonstrar negativamente e positivamente a

ocorrência de abuso de Poder, ou seja, a sua materialidade ou não. Nesta oportunidade é

viável a apresentação da negação de provimento à um recurso e o julgamento necessário em

compatibilidade com a Lei das Eleições:

Cuida-se de um recurso ordinário, da eleição de 2002, com investigação eleitoral

sobre abuso de poder econômico, onde se suspeita de uso indevido dos meios de comunicação

social pelo então candidato Paulo Octávio Alves Pereira. Sobre a questão a lei aduz que:

I – A prática de abuso do poder econômico há que ser demonstrada, uma vez que “(...) no estado de direito democrático, não se há de dar pela inelegibilidade do cidadão, sob a acusação dessas práticas ilícitas, sem que fatos objetivos que a configurem estejam devidamente demonstrados, com prova produzida validamente, de acordo com as regras processuais, respeitados o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório” (precedentes).

II – Para que se possa aplicar as sanções previstas no art. 22 da Lei Complementar no

64/90, “(...) necessário se auferir se a conduta do investigado teve potencialidade de influir no pleito eleitoral. E nesse particular, a recorrente não teve sucesso. Em momento algum logrou êxito em demonstrar que as matérias ‘jornalísticas’ em questão tiveram a capacidade de influir na vontade do eleitor de modo a alterar o resultado do pleito.

É clara a percepção de que a responsabilidade civil é necessária, devido à menção de

provas e a natureza das mesmas que terá o autor das denúncias produzir, pois caso contrário

não for materializado o problema, o ato tornar-se-á nulo perante à lei. Acrescenta-se que a

responsabilização recai não só em cima do autor como também quem ajudou na prática

delituosa.

Ocorre que a turma de relatores para o caso especificado, negou provimento ao

recurso na proporção por unanimidade porque ao ver da Lei 64/90 em seu artigo 22 oferece

análise de que supostamente o candidato recorrido foi o primeiro beneficiado em por

propaganda eleitoral realizada em 21-3.2002, 9-05-2002, 16-05-2002, 21-06-2002, 12-07-

2002, 19-07-2002, 15-08-2002, 22-08-2002 e 29-08-2002 pelo jornal DF Notícias, periódico

semanal de distribuição gratuita.

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38

Acontece que a corte de origem negou improcedente o pedido, ao fundamento que

porque não vislumbrou o abuso de Poder econômico e/ou uso indevido dos meios de

comunicação social. A seguir transcreve-se a ementa do julgado:

Investigação judicial eleitoral. Abuso do poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação social. Não-configuração do abuso. Exercício regular do direito constitucional de livre manifestação do pensamento e liberdade de imprensa. Representação julgada improcedente.

I – O direito à informação, constitucionalmente guarnecido, legitima a imprensa a divulgar toda sorte de notícias de interesse coletivo, dentre as quais se incluem as que se relacionem a feitos dos candidatos a cargos eletivos, não sendo desarrazoado que esses recebam especial atenção da imprensa, posto que repercutem diretamente na sociedade.

II – É de se destacar que o colendo Tribunal Superior Eleitoral tem destinado tratamento diferenciado entre os veículos de comunicação escrita e os veículos de tele e radiodifusão, com evidente tendência na aceitação da parcialidade política daquele primeiro veículo.

III – Representação julgada improcedente”.34

A ação impetrada perante à Corte do Tribunal Superior eleitoral se alinha ao

posicionamento da CF, art. 220, § 6º, onde distingue-se o tratamento legal dado aos jornais,

cuja publicação independe de licença de autoridade, do que é dado aos serviços de

radiodifusão sonora e de sons e imagens, que dependem de concessão do Poder Executivo

(CF, art. 223).

Assim, é negado o provimento do recurso contra o referido candidato porque se

obedece ao princípio da proporcionalidade e à ponderação de interesses constitucionais em

causa no que diz respeito à lei 9504/97 a qual representa a voluntariedade do acesso ao

veículo impresso em contraposição à inovação quase compulsória que os outros veículos

representam. Todavia, depreende-se dessa consideração que sentença do TSE considerou a

análise de que a questão não trata de subtrair o veículo impresso de medidas de prevenção ou

repressão de abuso do poder econômico ou político, materializado na sua utilização numa

campanha eleitoral.

A análise é mais profunda conforme se depreende de seu inteiro teor a seguir, onde

opostos embargos de declaração, foram eles rejeitados. Daí a interposição deste recurso

ordinário, no qual assevera a recorrente que houve

34 TSE, Corte no Respe nº 12506. Recurso ordinário. Ação de Investigação Eleitoral, Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins.

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“(...) veiculação maciça de reportagens favoráveis ao candidato recorrido e, por outro lado, a existência de farto material publicitário de suas empresas que teriam como objetivo garantir o apoio do jornal (...)”.

Afirma que o uso indevido dos meios de comunicação está evidenciado ao se

observar o “empenho do jornal em criar notícias para garantir a promoção pessoal do

recorrido (...)”, principalmente porque não há qualquer cunho informativo nas reportagens.

Conclui pedindo a reforma do acórdão do egrégio TRE, a fim de que seja julgada

procedente a representação, com a decretação da inelegibilidade do recorrido e a cassação do

seu diploma.

Em contra-razões, Paulo Octávio Alves Pereira sustenta que não pode prosperar a

alegação de uso indevido dos meios de comunicação, porquanto, além de ausente a prova de

sua veracidade, não se impõe aos jornais o mesmo rigor de rádio e televisão; argumenta que a

matéria tinha natureza jornalística.

CONCLUSÃO

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O cerne do Abuso de Poder político é a forma bastante abstrata do ato ilícito, onde as

obrigações de responder, mediante o que está estabelecido no Código Eleitoral e na

Constituição são adicionadas como fruto de entendimento da jurisprudência que complementa

a prática dos juristas. Assim, a discussão sobre os determinantes do abuso de Poder Político,

diante da realização das eleições repercute na seara do Direito Privado e Público, os quais

atrelados ao Código Eleitoral e a Constituição Federal de 1988, são os definidores dos direitos

e garantias no sistema de voto e na Democracia.

A oportunidade do contato entre o eleitor e o político é passível de responsabilizar o

candidato de responsabilidade de abuso de poder ou não conforme sua conduta. O fator

relevante diz respeito ao ato de corrupção que o candidato concorre para tal. Neste caso, a

garantia de direitos é impotente, em consideração a atuação do mau comportamento do

candidato, em face da extinção da Democracia, porque foi ferido o Direito.

Desde os primórdios da humanidade é adotada uma disparidade entre forças, onde

predominam os mais fortes e somente com a organização do Estado, bem como a organização

de sua administração, a coisa ficou mais amena porque se estatuíram regras de atendimento

aos princípios da administração pública a fim de se evitar injustiças sociais. Desse modo, o

não atendimento à essas preceitos acabam por configurar-se em abuso de Poder, em especial o

desvio da finalidade a que se propõe o membro da administração pública, tal qual é o político

que usa de má fé, em benefício próprio para lesar a máquina e o direito de expressar idéias da

sociedade.

Considerando essa questão de desvio de função dos candidatos no trato com a

democracia e com os direitos fundamentais, a meu ver, não constitui mérito, porque se existe

um sistema democrático no país, e nesta condição acontecem muitos abusos constantemente,

então, não há que se falar em democracia.

Conclusivamente, existem muitas discussões a respeito da situação que tomou de

conta do sistema eleitoral, no Brasil, e apesar da aplicação de medidas punitivas, tais medidas

não têm sido eficazes, sendo necessárias, ações mais coercitivas a fim de varrer por completo

esse tipo de prática. A demais, mais que a discussão sobre o abuso de Poder, é a constante em

que vem acontecendo a corrupção instalada no sistema político do Brasil.

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SILVA, Carbalal Felix. Promotor de Justiça da Comarca de Gararu. Representação Eleitoral por Abuso de poder econômico. Investigação Judicial Por abuso do Poder Político e de Autoridade. http:// jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp? Acesso em 24/11/2009.

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ANEXOS/JURISPRUDÊNCIA

Quanto ao alegado abuso do poder econômico, diz não existir nos autos elementos que o provem, sendo necessário ainda que se “evidencie a potencialidade de haver influência na legitimidade das eleições (...)”.

Os segundo e terceiro representados foram excluídos do feito pela decisão de fl. 70.

A Procuradoria-Geral Eleitoral manifestou-se pelo desprovimento do recurso (fl. 148).

É o relatório.

VOTO

O SENHOR MINISTRO FRANCISCO PEÇANHA MARTINS (relator): Senhor Presidente, foram juntadas com a inicial da representação dez edições do jornal DF Notícias. Elas circularam entre os dias 21 de março e 29 de agosto de 2002.

Da análise dos autos, verifica-se que a alegação de abuso do poder econômico, consistente em possível contratação pelo recorrido dos serviços de publicidade do jornal DF Notícias com a intenção de lograr futura propaganda eleitoral, não está demonstrada, não podendo, portanto, sustentar o pedido de inelegibilidade.

Esta Corte no REspe no 12.506/RR, rel. Min. Néri da Silveira, DJ de 1o.3.2002, já assentou que

“(...) no estado de direito democrático, não se há de dar pela inelegibilidade do cidadão, sob a acusação dessas práticas ilícitas, sem que fatos objetivos que a configurem estejam devidamente demonstrados, com prova produzida validamente, de acordo com as regras processuais, respeitados o devido processo legal, a ampla defesa e o contraditório (...)”. 

Acolho por corretos os fundamentos da resolução recorrida: 

Cumpre-nos ressaltar que inexiste qualquer elemento, mesmo que indiciário, que assinale no sentido de que houve uma conduta dolosa e deliberada do candidato em contratar os serviços de publicidade do periódico em troca de futura publicidade eleitoral.

Na espécie, a representante ateu-se apenas a alegar a possível existência de vínculo entre as reportagens elogiosas ao representado e as inúmeras propagandas das empresas de

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propriedade do mesmo, sem, contudo, carrear elementos de provas com vistas à elucidação do mencionado fato. Ressalte-se que os documentos juntados não se prestaram ao mister perseguido, motivo pelo qual não há que se falar em abuso de poder econômico.

(...)”. 

Quanto à alegação de uso indevido dos meios de comunicação social, consubstanciado em reportagens favoráveis ao candidato recorrido e na criação de notícias para garantir-lhe promoção pessoal, transcrevo da resolução regional os seguintes trechos:

“(...)

A Lei Complementar no 64/90 instituiu a ação de investigação judicial eleitoral cujo intento é guarnecer a lisura das eleições, mediante a apuração de práticas de abuso de poder político ou econômico e do uso indevido de veículos e meios de comunicação social. Em assim sendo, na citada ação, perquire-se a idoneidade do ato praticado para eivar o processo eleitoral, ou seja, a repercussão do ato combatido na lisura do processo eleitoral.” (Fl. 94.);

“(...)

É forçoso reconhecer que a linha de atuação jornalística adotada pelo citado periódico, com a divulgação de notícias positivas em favor do representado denotam, obviamente, a manifestação de uma preferência política. Entretanto, tal conduta não é ilícita e sim um corolário da livre manifestação do pensamento e da liberdade de imprensa. Destaque-se que o colendo Tribunal Superior Eleitoral tem destinado tratamento diferenciado entre os veículos de comunicação escrita e os veículos de tele e radiodifusão, com evidente tendência na aceitação da parcialidade política daquele primeiro veículo.” (Fl. 96.);

“(...)

Ressalto que se o objeto na presente representação é demonstrar a parcialidade política do periódico em tela, entendo ter logrado êxito a coligação representante. Contudo, tal fato não leva a conclusão de que houve o uso indevido dos meios de comunicação ou abuso do poder econômico, eis que tal conduta não é considerada ilícita pela Justiça Eleitoral” (fl. 99);

Além disso, como apontou o Parquet:

“(...)

Para que se possa aplicar as sanções previstas no art. 22 da Lei Complementar no 64/90, necessário se auferir se a conduta do investigado teve potencialidade de influir no pleito eleitoral. E nesse particular, a recorrente não teve sucesso. Em momento algum logrou êxito em demonstrar que as matérias ‘jornalísticas’ em questão tiveram a capacidade de influir na vontade do eleitor de modo a alterar o resultado do pleito.

Ainda quanto à potencialidade, é preciso ressaltar que um único jornal de tiragem limitada, como é o caso do periódico sob análise, ainda que tenha feito inquestionável propaganda

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eleitoral para o recorrido, parece não ter tido o poder de influenciar o resultado do pleito (...)”. 

Por estas razões, nego provimento ao recurso, lembrando que me posicionei quando se cogitou de propaganda institucional em São Paulo, naquele caso dos médicos, e considerei que, efetivamente, se poderia caracterizar desequilíbrio entre os candidatos; e fui vencido.

Neste caso, considero não haver nenhuma prova, mas apenas reportagem de jornal, embora elogiosa.

O SENHOR MINISTRO LUIZ CARLOS MADEIRA: A jurisprudência é no sentido de que as notícias de jornal podem configurar abuso do poder econômico. E não se cuida de tratamento privilegiado, mas abuso do poder econômico, e há o respeito à posição do jornal. No caso, trata-se de um jornal de distribuição gratuita. Indago: as notícias envolvem matéria assinada? As notícias envolvem matéria editorial favorável ao candidato, trata-se de propaganda?

O SENHOR MINISTRO FRANCISCO PEÇANHA MARTINS (relator): Não se trata de propaganda. As notícias relatam providências do então candidato, tomadas no exercício do mandato. Mas não há propaganda nos termos conhecidos.

O SENHOR MINISTRO LUIZ CARLOS MADEIRA: Há um posicionamento favorável do jornal ao candidato?

O SENHOR MINISTRO FRANCISCO PEÇANHA MARTINS (relator): Sim, sem dúvida. Se o jornal noticia, indiretamente reitera, mas fazê-lo é um caso de economia interna do jornal. Pelo menos assim tem sido decidido nas hipóteses de imprensa escrita.

O SENHOR MINISTRO LUIZ CARLOS MADEIRA: O problema é que, caso esta posição não seja subliminar, seria propaganda, podendo-se considerar, inclusive, como uma contribuição, embora não especificamente de valores, para a campanha e, portanto, teria de estar na prestação de contas.

PEDIDO DE VISTA

O SENHOR MINISTRO LUIZ CARLOS MADEIRA: Senhor Presidente, peço vista dos autos.

EXTRATO DA ATA

RO no 759 – DF. Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins – Recorrente: Coligação Frente Brasília Esperança (PT/PCdoB/PCB/PMN) (Adv.: Dr. Bruno Henrique de Oliveira Ferreira) – Recorrido: Paulo Octávio Alves Pereira (Adv.: Dr. Francisco Queiroz Caputo Neto).

Decisão: Após o voto do Ministro Francisco Peçanha Martins (relator), negando provimento ao recurso, o julgamento foi adiado em virtude do pedido de vista do Ministro Luiz Carlos Madeira. Impedido o Ministro Caputo Bastos.

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Presidência do Exmo. Sr. Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes os Srs. Ministros Carlos Velloso, Gilmar Mendes, Francisco Peçanha Martins, Humberto Gomes de Barros, Luiz Carlos Madeira, Caputo Bastos e o Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, vice-procurador-geral eleitoral.

VOTO (VISTA)

O SENHOR MINISTRO LUIZ CARLOS MADEIRA: Senhor Presidente, adoto o relatório do e. Ministro Francisco Peçanha Martins.

Resumidamente, trata-se de recurso ordinário contra resolução do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal (TRE/DF), que julgou improcedente a representação da Coligação Frente Brasília Esperança contra Paulo Octávio Alves Pereira, candidato ao Senado da República, no pleito de 2002.

A representação foi fundamentada no art. 22 da Lei Complementar no 64/90. Os fatos dizem com as publicações no DF Notícias, semanário de circulação gratuita, favoráveis ao recorrido.

Chama-se a atenção para a farta publicidade no periódico das empresas do candidato, ao confirmar a necessidade do jornal de enaltecê-lo, bem como a sua participação direta na publicação das notícias.

A ementa da resolução recorrida tem este teor:

Resolução no 5.332

Investigação judicial eleitoral. Abuso do poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação social. Não-configuração do abuso. Exercício regular do direito constitucional de livre manifestação do pensamento e liberdade de imprensa. Representação julgada improcedente.

I – O direito à informação, constitucionalmente guarnecido, legitima a imprensa a divulgar toda sorte de notícias de interesse coletivo, dentre as quais se incluem as que se relacionem a feitos dos candidatos a cargos eletivos, não sendo desarrazoado que esses recebam especial atenção da imprensa, posto que repercutem diretamente na sociedade.

II – É de se destacar que o colendo Tribunal Superior Eleitoral tem destinado tratamento diferenciado entre os veículos de comunicação escrita e os veículos de tele e radiodifusão, com evidente tendência na aceitação da parcialidade política daquele primeiro veículo.

III – Representação julgada improcedente. (Fl. 101.)

O e. Ministro Francisco Peçanha Martins votou por negar provimento ao recurso.

Pedi vista.

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É o relatório.

Está assentado na Corte que devem coexistir a garantia da liberdade de expressão e o princípio da isonomia na disputa dos cargos políticos: AgIAg no 2.549/SP, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira; AgIREspe no 19.466/AC, rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira; REspe no 18.802/AC, rel. Min. Fernando Neves; REspe no 12.374/TO, rel. Min. Torquato Jardim.

É, também, induvidoso que os órgãos da mídia escrita estão legitimados a adotar posição favorável a partidos ou candidatos, no processo eleitoral: REspe nO 18.802, Ag no 2.325, Cta nO 1.053, todos da relatoria do Min. Fernando Neves.

Distingue-se o tratamento legal dado aos jornais, cuja publicação independe de licença de autoridade (CF, art. 220, § 6o), do que é dado aos serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens, que dependem de concessão do Poder Executivo (CF, art. 223).

No julgamento do Recurso Especial no 19.438, tive oportunidade de esboçar essa distinção.

Nessa oportunidade, o e. Ministro Sepúlveda Pertence fez estas considerações:

Parece-me que a própria natureza da comunicação social veiculada pelo jornal, em contraposição àquela veiculada pela radiodifusão, impõe e legitima a diversidade de tratamento que, a meu ver, com absoluto respeito ao princípio da proporcionalidade e à ponderação de interesses constitucionais em causa, fez a Lei no 9.504/97: basta frisar a voluntariedade do acesso ao veículo impresso em contraposição à invasão quase compulsória que os outros veículos representam.

Não se trata – e isso, parece-me, está a merecer análise mais profunda – de subtrair o veículo impresso de medidas de prevenção ou repressão de abuso do poder econômico ou político, materializado na sua utilização numa campanha eleitoral. Está em distinguir até quando se pode considerar abusivo o uso do veículo impresso para manifestar solidariedade a uma determinada candidatura em contraposição a outras. 

A partir dessa sugestão, ponderados os julgados do Tribunal, adianto algumas conclusões a que chego.

1. O órgão da mídia escrita pode assumir a defesa eleitoral de candidato ou partido, contanto que o faça às claras, expressamente, sem subterfúgio; é inadmissível que sob o manto de presumidas imparcialidade e independência, possam os jornais e revistas sugerir e insinuar ao eleitor qualificações de partidos e atributos de candidatos, de modo a desigualar a concorrência do pleito.

2. Nem por ter posição declarada, o órgão da imprensa escrita não se exime do respeito ao princípio da isonomia entre os candidatos. Isso quer dizer que deverão distinguir-se as matérias editoriais, em que a preferência é manifestada, das notícias e peças publicitárias.

3. Em posição declarada, as matérias propagandísticas da imprensa escrita podem configurar propaganda irregular, sujeita à apuração, conforme o art. 96 da Lei no 9.504/97.

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4. O órgão da imprensa escrita, manifestamente em defesa de partido ou candidato, está sujeito às penalidades do parágrafo único do art. 43 da Lei no 9.504/97.

5. A propaganda irregular veiculada por órgão da imprensa escrita em favor de partido ou candidato poderá configurar doação indireta de campanha, cujo valor deverá ser imputado na prestação de contas do candidato ou partido.

6. A apuração do valor da doação indireta poderá ser feita no curso do processo eleitoral, inclusive mediante produção antecipada de prova.

Finalmente, tenho que se deva distinguir entre os jornais adquiridos onerosamente, em banca ou por assinatura, e aqueles de distribuição gratuita.

Nos primeiros, o leitor/eleitor sai da inércia e pratica um ato de vontade dirigido ao jornal ou à revista, seja pela aquisição em banca, seja pela assinatura periódica.

Nos veículos de distribuição gratuita, esse ato aquisitivo não há. Eles se impõem ao leitor/eleitor por si só. Invadem as casas, sem prévia licença.

Os jornais e revistas de distribuição gratuita vivem e sobrevivem substancialmente da publicidade. Se não todas, a grande maioria das notícias veiculadas tem caráter publicitário.

Estabelecidas minhas premissas, examino o caso concreto.

Recolho do voto do relator, desembargador Nívio Gonçalves:

É forçoso reconhecer que a linha de atuação jornalística adotada pelo citado periódico, com a divulgação de notícias positivas em favor do representado denotam, obviamente, a manifestação de uma preferência política. (Fl. 96.)

Está no parecer da Procuradoria-Geral Eleitoral, da lavra do ilustre subprocurador-geral da República, Dr. Mário José Gisi:

In casu, as matérias veiculadas pelo jornal DF Notícias, atinentes ao recorrido, se configuraram em verdadeiro abuso, excedendo a simples opinião favorável a um candidato e tomando ares de verdadeira propaganda eleitoral. A quantidade de matérias enaltecendo o recorrido foi espantosa. Praticamente todas as edições do jornal acostadas aos autos trazem matérias que fazem algum tipo de alusão, e sempre positiva, ao recorrido. Não é razoável se aceitar que um candidato possa ser alvo de tantas matérias jornalísticas. E os outros? Será que não há nada a ser noticiado acerca deles? A resposta que se impõe é negativa.

Há também que se destacar a forte evidência de cometimento de abuso de poder econômico, haja vista todas as edições do jornal presentes nos autos trazerem publicidade das empresas do recorrido. Ora, é um tanto suspeito, para se dizer o mínimo, que o jornal exulte justamente aquele candidato cujas empresas sejam importantes patrocinadoras do jornal. De fato, com razão a recorrente ao dizer estarmos diante do que mais parecer ser uma espécie de agradecimento do jornal para com seu financiador.

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Portanto, frágil o argumento do decisum vergastado, posto que a liberdade de imprensa não chancela abusos, como os que ocorreram in casu. (Fls. 146-147.)

A simultaneidade da propaganda de empresas do recorrido (fls. 14-18), com o seu nome, sugere a possibilidade de operação “casada”, que estaria a configurar, além do abuso do poder econômico, o uso indevido dos meios de comunicação em benefício de candidato.

Não obstante, na situação dos autos não se demonstrou a potencialidade da propaganda em influenciar o resultado do pleito, o que a jurisprudência do Tribunal tem exigido para aplicar as sanções do art. 22 da Lei Complementar no 64/90.

Com essas observações, acompanho o voto do eminente relator e nego provimento ao recurso.

É o voto.

EXTRATO DA ATA

RO no 759 – DF. Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins – Recorrente: Coligação Frente Brasília Esperança (PT/PCdoB/PCB/PMN) (Adv.: Dr. Bruno Henrique de Oliveira Ferreira) – Recorrido: Paulo Octávio Alves Pereira (Adv.: Dr. Francisco Queiroz Caputo Neto).

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do relator.

Presidência do Exmo. Sr. Ministro Sepúlveda Pertence. Presentes os Srs. Ministros Carlos Velloso, Gilmar Mendes, Francisco Peçanha Martins, Humberto Gomes de Barros, Luiz Carlos Madeira, Marcelo Ribeiro e o Dr. Roberto Monteiro Gurgel Santos, vice-procurador-geral eleitoral.

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Acórdão: Ação de Investigação Eleitoral.Abuso do Poder Econômico.

Relator: Ministro Francisco Peçanha Martins

Julgamento: 23 de Novembro de 2004

Publicação: DJ 15-4-2005

Ementa: Resolução no 5.332

Investigação judicial eleitoral. Abuso do poder econômico e uso indevido dos meios de

comunicação social. Não-configuração do abuso. Exercício regular do direito constitucional

de livre manifestação do pensamento e liberdade de imprensa. Representação julgada

improcedente.

I – O direito à informação, constitucionalmente guarnecido, legitima a imprensa a

divulgar toda sorte de notícias de interesse coletivo, dentre as quais se incluem as que se

relacionem a feitos dos candidatos a cargos eletivos, não sendo desarrazoado que esses

recebam especial atenção da imprensa, posto que repercutem diretamente na sociedade.

II – É de se destacar que o colendo Tribunal Superior Eleitoral tem destinado

tratamento diferenciado entre os veículos de comunicação escrita e os veículos de tele e

radiodifusão, com evidente tendência na aceitação da parcialidade política daquele primeiro

veículo.

III – Representação julgada improcedente. (Fl. 101.)