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Autoria e data O autor do quarto evangelho é João, discípulo por quem Jesus tinha especial carinho, amizade e respeito (13.23; 19.26; 20.2; 21.7; 20.24). Somente uma testemunha ocular dentre o círculo mais íntimo dos seguidores do Senhor, como João, poderia fornecer tantos detalhes particulares como os que são citados nesse livro (12.16; 13.29). Relatos especiais e algumas vezes indiretos da pre- sença ou participação de João, são outros argumentos que comprovam sua autoria (1.37-40; 19.26; 20.2,4,8; 21.20,24). Os pais da Igreja – como Irineu e Tertuliano – declaram que João escreveu esse evangelho, e todas as demais evidências corroboram com essa declaração. O fragmento de uma antiga cópia (datada do segundo século), indica que o original é bem mais antigo e pertence seguramente ao período em que João vivia. Teólogos, biblistas e arqueólogos respeitáveis em todo o mundo concordam que a mais provável data de autoria do evangelho de João esteja entre o final dos anos 50 da era cristã e antes da terrível destruição de Jerusalém, no ano 70 d.C. Propósitos Vários e mundialmente reconhecidos pensadores e estudiosos apresentam diferentes interpretações quanto aos objetivos de João ao escrever seu evangelho. Clemente de Alexandria chegou a declarar que João teria escrito para suplementar os relatos dos evangelhos sinóticos. Outros afirmam que João escreveu para pregar uma mensagem cristã que fosse atraente ao sistema de pensamento helênico. E, outros ainda, acreditam que João desejava complementar teologicamente as doutrinas apresentadas nos demais evangelhos, para combater as formas de heresia que começavam a florescer em seu tem- po, bem como opor-se àqueles que ainda seguiam fanaticamente as orientações de João Batista. Contudo, o comitê internacional de tradução da Bíblia King James Atualizada, decidiu, simplesmen- te, dar evidência à própria palavra de João acerca do propósito que teve ao escrever seu evangelho: Verdadeiramente Jesus realizou, na presença dos seus discípulos, muitos outros milagres, que não estão escritos neste livro. Estes, entretanto, foram escritos para que possais acreditar que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que crendo, tenhais vida em Seu Nome” (Jo 20.30-31). Desde o prefácio do livro (1.1-18), com seu ponto alto: “Vimos a sua glória...” (v.14), até à confissão de Tomé: “Meu Senhor e meu Deus!” (20.28), o leitor é constantemente motivado a render-se incon- dicionalmente em adoração sincera e absoluta a Deus. O Senhor Jesus Cristo surge como mais do que um simples homem sábio e poderoso, muito mais que uma representação da Divindade na terra. Jesus é o verdadeiro e único Deus, que se fez pessoa humana e habitou entre nós. Todavia, os judeus, esperando pelo seu Messias (Cristo), necessitavam de uma prova indiscutível sobre a reivindicação de Jesus de ser o prometido unigênito do Antigo Testamento. E João, preocu- pado que a ninguém faltasse essa convicção e a mensagem principal do Evangelho, apresenta es- sas provas em profusão. Milagres, ensinos e pregações selecionados dentre apenas cerca de vinte dias dos três anos de ministério público do Senhor são publicados com o objetivo de comprovar a posição de Jesus Cristo como Filho de Deus. Vários sinais milagrosos realizados pelo Senhor reve- lam não somente o Seu poder divino, mas igualmente atestam Sua glória como o único e verdadeiro Eu Sou” (o nome de Deus em hebraico). A água transformada em vinho, comerciantes inescrupulosos e animais para sacrifícios expulsos do Templo; o filho do nobre curado à distância; o paralítico curado no sábado; as multiplicações de pães e peixes; o caminhar tranqüilo e onipotente sobre as águas revoltas; a vista restaurada ao cego de nascença; Lázaro chamado novamente à vida dentre os mortos: todos esses milagres e maravi- lhas revelam quem Jesus Cristo é e o que Ele faz. Passo a passo, João descreve Jesus como a fonte da nova vida, a água da vida, e o pão dessa nova e eterna vida. Até seus próprios inimigos batem em retirada e se rendem perante o “Eu Sou”, que seguiu confiante para Jerusalém, onde se ofereceu voluntariamente, em sacrifício eterno pela humanidade, por meio do seu sofrimento e crucificação (18.5,6). O Logos (a Palavra, em grego) eterno se fez carne (humanizou-se) e fez da terra sua habitação INTRODUÇÃO O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO JO_B.indd 2 16/8/2007, 14:20:51

O evangelho segundo joão

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Page 1: O evangelho segundo joão

Autoria e data O autor do quarto evangelho é João, discípulo por quem Jesus tinha especial carinho, amizade

e respeito (13.23; 19.26; 20.2; 21.7; 20.24). Somente uma testemunha ocular dentre o círculo maisíntimo dos seguidores do Senhor, como João, poderia fornecer tantos detalhes particulares como os que são citados nesse livro (12.16; 13.29). Relatos especiais e algumas vezes indiretos da pre-sença ou participação de João, são outros argumentos que comprovam sua autoria (1.37-40; 19.26;20.2,4,8; 21.20,24). Os pais da Igreja – como Irineu e Tertuliano – declaram que João escreveu esseevangelho, e todas as demais evidências corroboram com essa declaração.

O fragmento de uma antiga cópia (datada do segundo século), indica que o original é bem mais antigo e pertence seguramente ao período em que João vivia.

Teólogos, biblistas e arqueólogos respeitáveis em todo o mundo concordam que a mais provável data de autoria do evangelho de João esteja entre o final dos anos 50 da era cristã e antes da terrível destruição de Jerusalém, no ano 70 d.C.

PropósitosVários e mundialmente reconhecidos pensadores e estudiosos apresentam diferentes interpretações

quanto aos objetivos de João ao escrever seu evangelho. Clemente de Alexandria chegou a declararque João teria escrito para suplementar os relatos dos evangelhos sinóticos. Outros afirmam que João escreveu para pregar uma mensagem cristã que fosse atraente ao sistema de pensamento helênico. E, outros ainda, acreditam que João desejava complementar teologicamente as doutrinas apresentadas nos demais evangelhos, para combater as formas de heresia que começavam a florescer em seu tem-po, bem como opor-se àqueles que ainda seguiam fanaticamente as orientações de João Batista.

Contudo, o comitê internacional de tradução da Bíblia King James Atualizada, decidiu, simplesmen-te, dar evidência à própria palavra de João acerca do propósito que teve ao escrever seu evangelho: “Verdadeiramente Jesus realizou, na presença dos seus discípulos, muitos outros milagres, que não estão escritos neste livro. Estes, entretanto, foram escritos para que possais acreditar que Jesus é oCristo, o Filho de Deus, e para que crendo, tenhais vida em Seu Nome” (Jo 20.30-31).

Desde o prefácio do livro (1.1-18), com seu ponto alto: “Vimos a sua glória...” (v.14), até à confissão de Tomé: “Meu Senhor e meu Deus!” (20.28), o leitor é constantemente motivado a render-se incon-dicionalmente em adoração sincera e absoluta a Deus. O Senhor Jesus Cristo surge como mais do que um simples homem sábio e poderoso, muito mais que uma representação da Divindade na terra. Jesus é o verdadeiro e único Deus, que se fez pessoa humana e habitou entre nós.

Todavia, os judeus, esperando pelo seu Messias (Cristo), necessitavam de uma prova indiscutível sobre a reivindicação de Jesus de ser o prometido unigênito do Antigo Testamento. E João, preocu-pado que a ninguém faltasse essa convicção e a mensagem principal do Evangelho, apresenta es-sas provas em profusão. Milagres, ensinos e pregações selecionados dentre apenas cerca de vinte dias dos três anos de ministério público do Senhor são publicados com o objetivo de comprovar a posição de Jesus Cristo como Filho de Deus. Vários sinais milagrosos realizados pelo Senhor reve-lam não somente o Seu poder divino, mas igualmente atestam Sua glória como o único e verdadeiro “Eu Sou” (o nome de Deus em hebraico).

A água transformada em vinho, comerciantes inescrupulosos e animais para sacrifícios expulsos do Templo; o filho do nobre curado à distância; o paralítico curado no sábado; as multiplicações de pães e peixes; o caminhar tranqüilo e onipotente sobre as águas revoltas; a vista restaurada ao cego de nascença; Lázaro chamado novamente à vida dentre os mortos: todos esses milagres e maravi-lhas revelam quem Jesus Cristo é e o que Ele faz.

Passo a passo, João descreve Jesus como a fonte da nova vida, a água da vida, e o pão dessa nova e eterna vida. Até seus próprios inimigos batem em retirada e se rendem perante o “Eu Sou”, que seguiu confiante para Jerusalém, onde se ofereceu voluntariamente, em sacrifício eterno pelahumanidade, por meio do seu sofrimento e crucificação (18.5,6).

O Logos (a Palavra, em grego) eterno se fez carne (humanizou-se) e fez da terra sua habitação

INTRODUÇÃO

O EVANGELHO SEGUNDO

JOÃO

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temporária com a finalidade de salvar o ser humano das amarras do pecado, da condenação eternae restaurá-lo à comunhão original e ideal com Deus (1.14), bem como a uma vida de santidade(estilo de vida em que a expressão sincera de adoração a Deus e amor ao próximo ocupam lugar de prioridade absoluta).

Por meio exclusivo de Sua Graça, homens fracos e corrompidos encontraram a necessária qualifi-cação para serem habitados por Seu Espírito (14.20) e, finalmente, para terem acesso às “mansõeseternas” (14.2,3). Em Sua própria pessoa, Jesus cumpre o sentido principal das grandes profecias bíblicas e todas as celebrações do Antigo Testamento. Jesus vence até mesmo a morte e a sepultura,e lega a todos os seus seguidores, de todos os tempos, uma notável herança para que Sua missãosiga e seja completada até o final dos tempos, quando de Seu glorioso retorno.

Estendendo-se de eternidade a eternidade, o quarto evangelho une o destino tanto de judeuscomo de gentios (todos os que não são judeus), como parte de toda a criação, à ressurreição doCristo encarnado e crucificado. Nosso Logos Eterno.

Esboço Geral de João1. A Encarnação do Filho de Deus: (1.1-18)2. A Apresentação do Filho de Deus: (1.19 – 4.54)

A. Por João, o Batista: (1.19-34)B. Aos discípulos de João: (1.35-51)C. Em um casamento em Caná da Galiléia: (2.1-11)D. No Templo em Jerusalém: (2.12-25)

E. A Nicodemos: (3.1-21)F. Por João, o Batista: (3.22-36)G. Para a mulher samaritana: (4.1-42)H. A um oficial em Cafarnaum: (4.43-54)

3. Os debates do Filho de Deus: (5.1 – 12.50)A. Em uma festa em Jerusalém: (5.1-47)

1. O sinal de Betesda: (5.1-9)2. A reação de todos: (5.10-18)3. A pregação: (5.19-47)

B. Durante a Páscoa na Galiléia: (6.1-71)1. O sinal da multiplicação dos pães e peixes: (6.1-21)2. A pregação: (6.22-40)3. As reações: (6.41-71)

C. Na Festa dos Tabernáculos em Jerusalém: (7.1-10.21)1. Primeira discussão – a pregação: (7.1-29)2. As reações: (7.30-36)3. Segunda discussão – a pregação: (7.37-39)4. As reações: (7.40-53)

5. Terceiro debate – os discursos: (8.1-58)6. A resposta: (8.59)7. Quarta discussão: o sinal (milagre): (9.1-12)8. As reações: (9.13-41)9. Quinta discussão: sobre o Bom Pastor: (10.1-18)

10. As reações: (10.19-21)D. Na Festa da Dedicação em Jerusalém: (10.22-42)

1. O discurso: (10.22-30)2. A rejeição: (10.31-42)

E. Em Betânia: (11.1 – 12.11)1. O sinal da ressurreição de Lázaro: (11.1-44)2. As reações: (11.45-57)3. A unção por Maria: (12.1-8)4. As reações: (12.9-11)

F. Em Jerusalém: (12.12-50)1. A entrada triunfal: (12.12-19)2. A doutrina de Jesus: (12.20-50)

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4. As orientações do Filho de Deus: (13.1 – 16.33)A. Quanto ao perdão: (13.1-20)B. Quanto à traição: (13.21-30)C. Quanto à sua partida: (13.31-38)D. Quanto ao céu: (14.1-14)E. Quanto ao Advogado: (14.15-26)F. Quanto à paz: (14.27-31)

G. Quanto ao desenvolvimento espiritual: (15.1-17)H Quanto ao mundo: (15.18 – 16.6)I. Quanto ao Espírito Santo: (16.7-15)J. Quanto à sua segunda vinda: (16.16-33)

5. A oração do Filho de Deus: (17.1-26)6. A crucificação do Filho de Deus: (18.1 – 19.42)

A. A prisão: (18.1-11)B. Os inquéritos: (18.2 – 19.16)

1. Diante de Anás: (18.12-23) 2. Diante de Caifás: (18.24-27)

3. Diante de Pilatos: (18.28 – 19.16)C. A crucificação: (19.17-37)D. O sepultamento: (19.38-42)

7. A ressurreição do Filho de Deus: (20.1 – 21.25)A. O sepulcro vazio: (20.1-10)B. Os reaparecimentos de Jesus Cristo: (20.11 – 21.25)

1. A Maria Madalena: (20.11-18)2. Aos discípulos: (20.19-25)

3. A Tomé: (20.26-31)4. A sete discípulos: (21.1-14)5. A Pedro e a João – o discípulo amado: (21.15-25)

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1 “Palavra” (em grego, logos). No AT, Jesus é a expressão criadora de Deus. No NT, Jesus é Deus encarnado. Jesus é a Palavrade Deus em ação. O Verbo Eterno (Sl 33.6; Sl 107.20; Is 55.11).

2 O evangelista deixa claro que a “Palavra”, o “Verbo Eterno” e a “Sabedoria” são a mesma Pessoa: Jesus Cristo; o qual sempreesteve com Deus (Gn 1.26; Pv 8.22-31; Is 44.24).

3 “Através” (em grego, dia) é a expressão criadora do Pai (Hb 2.10). Deus através do seu Filho, a Palavra (logos), criou tudo oque há ex-nihilo (do absolutamente nada). O termo egéneto, “feito” ou “fez-se”, não admite qualquer possibilidade de dualismometafísico ou de gnosticismo (17.4).

4 Aqui a tradução literal é necessária. Deus é o Criador e sua Palavra, o Agente (Gn 1; Sl 33.6; Pv 3.19, 8.30; Sl 104.24; Cl 1.16s;Hb 1.2). Em Ap 3.14, o “Amém” é derivado da palavra hebraica âmôn (arquiteto), como em Pv 8.30.

5 “Venceram”: compreenderam, prevaleceram ou derrotaram. A luz de uma pequena vela pode dissipar a escuridão de umagrande sala. Luz e trevas são forças opostas, mas não de igual energia. A luz é mais poderosa (12.35; 1Jo 2.8).

6 Se alguém permanece nas trevas espirituais não é por falta de luz, mas porque, deliberadamente, prefere o mal (8.12; 9.5).Jesus é a luz que ilumina a todos os seres humanos (em grego: tôn anthrôpôn).

7 A expressão grega plural ex haimatõn “dos sangues” indica que o nascimento espiritual é um dom de Deus, concedido acada crente, em especial, e não pode vir por descendência humana nem pelo cumprimento de qualquer ritual de iniciação àreligião (3.4-6; 6.44).

8 “Excelência”: primazia, superioridade, prioridade, preferência. O Espírito de Deus habitou plenamente (em grego: skenoő “tabernaculou”) o corpo humano de Jesus, Deus encarnado (v.14;Rm 8.3; 1Jo 4.2,3).

9 “Filho”, assim como no original de King James (1611). No NTG (Novum Testamentum Graece): Deus Unigênito.

O EVANGELHO SEGUNDO

JOÃO

A Palavra se fez carne

1No princípio era a Palavra,1 e a Pa-lavra estava com Deus, e a Palavra

era Deus.2 Ele, a Palavra, estava no princípio com Deus.2

3 Todas as coisas foram feitas através3

dele, e, sem Ele, nada do que existe teria sido feito.4 Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens;4

5 e a luz resplandece nas trevas, mas as trevas não a venceram.5

6 Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.7 Ele veio como testemunha para que testifi casse a respeito da luz, a fi m de todos virem a crer por intermédio dele.8 João não era a luz, mas foi enviado para testemunhar da luz.9 A Palavra é a luz verdadeira que, vinda ao mundo, ilumina a toda a humani-dade.6

10 Aquele que é a Palavra estava no mundo, e o mundo foi feito através dele, mas o mundo não o reconheceu.

11 Ele veio para o que era seu, mas osseus não o receberam.12 Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o direito de se tornarem fi lhosde Deus, ou seja, aos que crêem no seu Nome;13 os quais não nasceram do sangue,7

nem da vontade da carne, nem da von-tade do homem, mas de Deus.14 E a Palavra se fez carne e habitou en-tre nós. Vimos a sua glória, glória comoa do Unigênito do Pai, cheio de graça everdade.

A proclamação de João Batista15 João testemunha sobre Jesus e excla-ma, dizendo: “Este é Aquele de quem eudisse: Ele, o que vem depois de mim,tem a excelência,8 porquanto já existiaantes de mim.”16 E da sua plenitude todos nós temosrecebido, graça sobre graça.17 Porquanto a Lei foi dada por inter-médio de Moisés; mas a graça e a verda-de vieram através de Jesus Cristo.18 Ninguém jamais viu a Deus; o Filho9

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6

unigênito, que está no seio do Pai, é quemo revelou.

João Batista clama no desertoIs 40.3; Mt 3.1-12; Mc 1.2-8; Lc 3.1-1819 E este é o testemunho de João, quandoos judeus enviaram de Jerusalém sacerdo-tes e levitas para o interrogarem: “Quemés tu?”.20 Ele confessou e não negou; mas declaroufrancamente: “Eu não sou o Cristo.”.10

21 E o questionaram: “Quem és, então? És tu Elias?”. Ele disse: “Não o sou.” “És tu o

q

Profeta?”. E João afi rmou: “Não.”.22 Então, perguntaram a ele: “Quem és tu? Dá-nos uma resposta, para que a levemos àqueles que nos enviaram; que dizes a respeito de ti mesmo?”.23 E João lhes disse: “Eu sou a voz do que clama no deserto: ‘Fazei um caminhoreto para o Senhor’, como disse o profeta Isaías”.11

24 Ora, os que haviam sido enviados fa-ziam parte dos fariseus.25 E perguntaram-lhe ainda: “Então, por que batizas, se não és o Cristo, nem Elias, nem o Profeta?”.26 João respondeu-lhes, dizendo: “Eu ba-tizo com12 água; mas, no meio de vós, já está quem vós não conheceis.27 Ele é aquele que vem depois de mim, cujas correias das sandálias nãosou digno de desamarrar”.28 Essas coisas aconteceram em Betânia,13

do outro lado do Jordão, onde João esta-va batizando.

Jesus, o Cordeiro de Deus29 No dia seguinte, João viu a Jesus, que vinha caminhando em sua direção, e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!

30 Este é aquele do qual eu disse: ‘depois de mim vem um homem que tem a exce-lência, pois que já existia antes de mim’.31 Eu não o conhecia, mas, a fi m de que Ele fosse revelado a Israel, vim, por isso, batizando com água”.

João batiza JesusMt 3.13-17; Mc 1.9-11; Lc 3.21,2232 E João testemunhou, dizendo: “Vi o Espírito descendo do céu como uma pomba e permaneceu sobre Ele.33 Eu não o conhecia; Aquele, entretanto, que me enviou a batizar com água me disse: ‘Aquele sobre quem vires descer e permanecer o Espírito, esse é o que batiza com o Espírito Santo’.34 E eu, de fato, vi e testifi co que este é o Filho de Deus”.

Os primeiros discípulos de CristoMt 4.18-22; Mc 1.16-20; Lc 5.1-1135 No dia seguinte, João estava outra vez na companhia de dois dos seus discípulos36 e, observando que Jesus passava, disse: “Eis o Cordeiro de Deus!”.37 Os dois discípulos ouviram o que ele falou, e se tornaram seguidores de Jesus.38 Então Jesus, voltando-se e vendo que os dois o seguiam, disse-lhes: “Que estais pro-curando?”. Eles disseram: “Rabi (que querdizer Mestre), onde estás hospedado?”.39 E Jesus disse: “Vinde e vede”.14 Eles fo-ram e viram onde Jesus estava morando; e fi caram com Ele aquele dia, sendo isso por volta da hora décima. 40 Um dos dois que ouviram João falar e seguiram a Jesus, era André, irmão de Simão Pedro.41 Ele primeiro procurou seu próprio irmão, Simão, e lhe disse: “Encontramos o Messias (que quer dizer, o Cristo)”.15

10 A palavra grega Cristo corresponde a Messias em hebraico.11 Isaías 40.3.12 Com, ou, em água. Também nos versículos 31 e 33.13 “Betânia”, como no NTG, ou Bethabara, como na antiga KJ.14 Este é o convite de Cristo a todo aquele que deseja verdadeiramente conhecer a Deus: “vem e vê”. João traduz o honroso

título aramaico: Rabi (literalmente, meu grande mestre), para seus leitores gregos. Durante o primeiro século, Rabi passou a ser ium título conferido aos mestres ordenados nas escolas rabínicas. Hora décima: quatro horas da tarde pelo horário judaico.

15 Adjetivo verbal semita que aparece somente neste Evangelho. Aqui e em 4.25, é interpretado pelo equivalente grego christos.

JOÃO 1

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7 JOÃO 1, 2

42 E o levou a Jesus. Quando Jesus olhou para ele, disse: “Tu és Simão, o fi lho de João; tu serás chamado Cefas (que quer dizer Rocha)”.16

Jesus encontra outros discípulos43 No dia seguinte, Jesus decidiu ir para a Galiléia. Quando encontrou a Filipe, disse-lhe: “Segue-me.”44 Ora, Filipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro.45 Filipe encontrou a Natanael e disse-lhe: “Encontramos Aquele sobre quemMoisés escreveu na Lei, e a respeito dequem também escreveram os profetas:Jesus de Nazaré, fi lho de José”.46 E Natanael disse-lhe: “Pode alguma coisa boa vir de Nazaré?”. Filipe respon-deu-lhe: “Vem e vê”.47 Jesus viu Natanael se aproximando edisse a seu respeito: “Eis um verdadeiroisraelita, em quem não há falsidade!”.48 Disse-lhe Natanael: “De onde me conheces?”. Respondeu-lhe Jesus: “Antes de Filipe te chamar, quando tu estavas debaixo da fi gueira, eu te vi”.49 Natanael exclamou: “Mestre, Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!”.50 Jesus lhe respondeu: “Porque Eu disse que te vi debaixo da fi gueira, crês? Pois tu verás coisas muito maiores do que estas”.51 E disse-lhes Jesus: “Em verdade, em verdade17 vos asseguro que vereis o céu 7

aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem”.

O primeiro milagre de Jesus

2No terceiro dia, houve um casamentoem Caná da Galiléia. A mãe de Jesus

estava ali.2 Jesus e seus discípulos também foramconvidados.3 Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesuslhe disse: “Eles não têm mais vinho”.4 Jesus lhe disse: “Mulher,1 em que essatua preocupação tem a ver comigo?Ainda não é chegada a minha hora”.5 Sua mãe disse aos serviçais: “Seja o quefor que Ele vos pedir, fazei”.2

6 Estavam ali seis jarros de pedra, queos judeus usavam para as purifi cações, ecada um levava duas ou três metretas.3

7 Jesus disse aos serviçais: “Enchei osjarros com água”. E os encheram até àborda.8 Então lhes disse: “Tirai agora, um pou-co, e levai ao mestre-sala”.4 Eles assim ofi zeram. 9 Quando o mestre-sala provou a água transformada em vinho, não sabendo don-de viera, embora o soubessem os serviçaisque tiraram a água, chamou o noivo 10 e lhe disse: “Todo homem serve primei-ro o bom vinho e, depois que os convida-dos já beberam bastante, o vinho inferior é servido; tu, entretanto, guardaste o bom vinho até agora”.11 Com esse, deu Jesus princípio a seussinais em Caná da Galiléia; manifestoua sua glória, e os seus discípulos creramnele.12 Depois disso, desceu Ele para Cafar-

No AT, essa forma designava o rei de Israel (o ungido do Senhor, como em 1Sm 16.6), o sumo sacerdote (o sacerdote ungido– Lv 4.3) e, uma vez, no plural, os patriarcas em seu papel de profetas (meus ungidos – Sl 105.15). Jesus cumpriu a profeciamessiânica, exercendo as três funções.

16 “Cefas” (como o apóstolo Paulo o chamava – 1Co 9.5; Gl 1.18): kepha, em aramaico ou keph, em hebraico – rocha (Jó 30.6;Jr 4.29), ou ainda petros, em grego. Portanto, Pedro significa pedra ou rocha (Is 51.1). Mas, como para o nome de um homem eranecessário usar a forma masculina, permaneceu petros.

17 “Em verdade”, ou com toda a certeza, como em KJA (em grego: amen, de origem hebraica: munã), significa “fiel e digno deconfiança”. Jesus usa essa frase sempre que reivindica sua autoridade messiânica.

Capítulo 21 Mulher ou Senhora. Termo respeitoso em aramaico.2 Gn 41.55.3 “Duas ou três metretas”: em grego, de 80 a 120 litros no total.4 Mestre-sala: gerente ou encarregado da festa.

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8JOÃO 2, 3

naum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos; e fi caram ali não muitos dias.

Jesus purifi ca o templo13 A Páscoa5 dos judeus estava se aproxi-mando, e Jesus subiu para Jerusalém.14 Encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e cambistas as-sentados negociando;15 tendo feito um chicote de cordas, ex-pulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, espalhou pelo chão o dinheiro dos cambistas e virou as mesas;16 e disse aos que vendiam as pombas: “Tirai essas coisas daqui; não façais dacasa de meu Pai, casa de comércio.”.17 Então seus discípulos lembraram-sedo que foi escrito: “O zelo pela tua Casa me consumirá.”.6

18 Os judeus o contestaram, dizendo: “Que sinal de autoridade nos mostras, para agires dessa maneira?”.19 Jesus lhes respondeu: “Destruí este templo, e, em três dias, Eu o reconstrui-rei.”.20 Replicaram os judeus: “Em quarenta e seis anos foi construído este templo, e tu afi rmas que em três dias o levantarás?”.21 Ele, porém, se referia ao templo do seucorpo.22 Por essa razão, quando Jesus ressusci-tou dentre os mortos, recordaram-se os seus discípulos de que Ele dissera isso; e creram na Escritura e na Palavra pregada por Jesus.

Jesus conhece a índole humana23 Estando Ele em Jerusalém, durante a festa da Páscoa, muitos, vendo os sinaisque Ele fazia, creram em seu Nome;24 mas Jesus não se confi ava a eles, por-que os conhecia a todos.25 E não necessitava que alguém lhe desse testemunho acerca do homem, pois Ele

bem conhecia o que havia na natureza humana.

O novo nascimento

3Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, membro do

supremo tribunal dos judeus.2 Ele, de noite, procurou a Jesus e lhe dis-se: “Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer esses sinais que estás realizando, se Deus não estiver com ele.”.3 Jesus respondeu-lhe, declarando: “Em verdade, em verdade te asseguro que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.”.4 Nicodemos questionou-o: “Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, todavia, entrar pela segunda vez no ventre de sua mãe e nascer novamente?”.5 Arrazoou Jesus: “Em verdade, em ver-dade te asseguro: quem não nascer da água e do Espírito não pode entrar no reino de Deus.6 O que é nascido da carne é carne; mas o que nasce do Espírito é espírito.7 Não te surpreendas pelo fato de Eu te haver dito: ‘deveis nascer de novo.’.8 O vento sopra onde quer, você escuta o seu som, mas não sabe de onde vem, nem para onde vai; assim ocorre com todos os nascidos do Espírito.”.9 Replicou-lhe Nicodemos: “Como pode acontecer isso?”.10 Explicou-lhe Jesus1: “Tu és mestre em Israel e não compreendes essas verda-des?11 Em verdade, em verdade te asseguro que nós dizemos do que conhecemos e testemunhamos do que temos visto; con-tudo, não acolheis o nosso testemunho.2

12 Se, falando de assuntos da terra, não me credes, como crereis, se vos falar dos celestiais?

5 Êx 12.1-27.6 Sl 69.9.Capítulo 31 Esta resposta conclusiva de Jesus vai até o versículo 21.2 O freqüente uso da palavra testemunho e de expressões jurídicas confere a este Evangelho o caráter de um imenso processo.

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9 JOÃO 3, 4

13 Ninguém jamais subiu ao céu, a não ser Aquele que veio do céu: o Filho do homem que está no céu.3

14 Assim como Moisés levantou a ser-pente no deserto,4 desse mesmo modo é necessário que o Filho do homem seja levantado,15 para que todo o que nele crê não pere-ça, mas5 tenha a vida eterna.16 Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho Unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.17 Portanto, Deus enviou o seu Filho ao mundo não para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por meio dele.18 Quem nele crê não é condenado; mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no Nome do Filho unigê-nito de Deus.19 E o julgamento é este: que a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más.20 Pois todo aquele que pratica o mal odeia a luz e não se aproxima da luz, temendo que as suas obras sejam ex-postas.21 Mas quem pratica a verdade vem para a luz, para que se veja claramente que as suas obras são realizadas em Deus.”.

João Batista exalta Jesus22 Depois disso, Jesus e seus discípulos foram para a terra da Judéia; ali perma-neceu com eles e batizava.23 E João também estava batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas, e o povo vinha para ser batizado.24 Porquanto João ainda não tinha sido aprisionado.25 Então surgiu uma discussão, entre alguns discípulos de João e os judeus, sobre a purifi cação.

26 E se dirigiram a João e lhe disseram:“Rabi, aquele que estava contigo do ou-tro lado do Jordão, de quem tens dadotestemunho, está batizando, e todos es-tão indo ao encontro dele.”27 Ao que João esclareceu: “Um homemnão pode receber coisa alguma, a não serque lhe tenha sido dada do céu.28 Vós mesmos sois testemunhas do quevos disse: eu não sou o Cristo, mas fuienviado como seu precursor.29 O que tem a noiva é o noivo; o amigodo noivo que lhe serve e o ouve, alegra-segrandemente por causa da voz do noivo.Portanto, essa satisfação já se cumpriuem mim.30 É necessário que Ele cresça e que eudiminua.31 Quem vem das alturas está acima detodos; aquele que vem da terra é terrestree fala da terra; quem veio do céu estáacima de todos.32 Ele testifi ca o que tem visto e ouvido;mas ninguém aceita o seu testemunho.33 Aquele que aceita o seu testemunho,certifi ca que Deus é verdadeiro.34 Pois o enviado de Deus fala as palavrasde Deus, porque Deus não dá o Espíritocom limitações.35 O Pai ama o Filho, e todas as coisasentregou em suas mãos.36 Quem crê no Filho tem a vida eterna;aquele que não crê no Filho não verá avida, mas a ira de Deus permanece sobreele.”.

A samaritana encontra o Messias

4Por isso, quando o Senhor soube queos fariseus ouviram que Ele, Jesus, fa-

zia e batizava mais discípulos que João,2 embora Jesus mesmo não batizasse,mas, sim, os seus discípulos,3 deixou a Judéia e partiu uma vez maispara a Galiléia.4 Entretanto, era-lhe necessário atraves-sar por Samaria.

3 O NTG omite “que está no céu”.4 Nm 21.9.5 O NTG omite “não pereça, mas”.

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10JOÃO 4

5 Assim, chegou a uma cidade de Sama-ria, chamada Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu fi lho José.1

6 Havia ali a fonte de Jacó. Jesus, todavia, cansado da viagem, sentou-se à beira do poço. Isso aconteceu por volta da hora sexta.2

7 Nisso, uma mulher de Samaria veio tirar água. Pediu-lhe Jesus: “Dá-me umpouco de água para beber.”. 8 Pois seus discípulos haviam ido à cida-de comprar alimentos.9 Então lhe respondeu a mulher de Sa-maria: “Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, uma mulher samaritana?”. (Pois os judeus não se relacionam bem com os samaritanos.)3

10 Jesus respondeu a ela: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é o que te pede: ‘dá-me de beber’, tu lhe pedirias, e Ele te daria água viva.”.11 Indagou-lhe a mulher: “Senhor, tu nãotens com que pegar água, e o poço é fundo;onde tu podes conseguir essa água viva?12 Acaso tu és maior do que nosso paiJacó que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu e, bem assim, seus fi lhos e seu gado?”.13 Jesus afi rmou-lhe: “Quem beber dessa água terá sede outra vez;14 aquele, porém, que beber da água queEu lhe der nunca mais terá sede. Ao con-trário, a água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna.”.15 A mulher lhe pediu: “Senhor! Dá-medessa água, para que eu não tenha maissede, nem precise voltar aqui para tirar água.”.16 Pediu-lhe Jesus: “Vai, chama teu maridoe volta aqui.”.17 Confessou-lhe a mulher: “Não tenho marido.”. Replicou-lhe Jesus: “Respon-deste acertadamente, ao dizer que não tens marido;

18 pois cinco maridos já tiveste, e esse ho-mem com quem tu agora vives não é teu marido; quanto a isso falaste a verdade.”19 Reconheceu a mulher: “Senhor, eu percebo que tu és um profeta!20 Nossos pais adoravam sobre este mon-te, mas vós, judeus, dizeis que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.”21 Declarou Jesus a ela: “Mulher, podes crer-me, está próxima a hora quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.22 Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus.23 Mas a hora está chegando, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adora-dores adorarão o Pai, em espírito e em verdade; pois são esses que o Pai procura para seus adoradores.24 Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade.”.25 A mulher disse a Jesus: “Eu sei que o Messias (chamado Cristo) está para vir. Quando Ele vier, Ele nos esclarecerá sobre tudo.”.26 Assegurou-lhe Jesus: “Eu, que te falo, sou o Messias.”.

A grande colheita27 Neste ponto, chegaram os seus discí-pulos e se admiraram de que estivesse conversando com uma mulher; todavia, ninguém lhe perguntou: “Que queres saber?”. Ou: “Por que falas com ela?”.28 A mulher, então, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse aos homens:29 “Vinde e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Não seria esse o Cristo?”.30 Saíram, pois, da cidade e foram para onde Jesus estava.31 Enquanto isso, os discípulos insistiam com Ele: “Mestre, come!”.

1 Gn 33.19 e Js 24.32.2 “Hora sexta”: por volta do meio dia.3 Ou, literalmente, no original hebraico: não usam pratos que os samaritanos já usaram alguma vez (2 Rs 17.24-41; Ed 4.1-5;z

Ne 4.1,2).

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11 JOÃO 4, 5

32 Mas Ele lhes disse: “Tenho um alimen-to para comer que vós não conheceis.”.33 Então os discípulos disseram uns aos outros: “Será que alguém lhe teria trazido algo para comer?”.34 Explicou-lhes Jesus: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e consumar a sua obra.35 Não dizeis vós: ‘Ainda há quatro meses até a colheita?’. Eu, porém, vos afi rmo: erguei os olhos e vede os campos, pois já estão brancos para a colheita.36 Aquele que ceifa recebe o seu salário e colhe fruto para a vida eterna, e assim se alegram juntos o semeador e o ceifeiro.37 Dessa forma, é verdadeiro o ditado: ‘Um semeia, e o outro colhe.’.38 Eu vos enviei para ceifar o que não plantaste. Outros realizaram o cultivo, e vós usufruístes do labor deles.”.

O salvador do mundo39 Muitos samaritanos daquela cidade creram nele, em virtude da palavra da-quela mulher que testemunhara: “Ele me disse tudo quanto tenho feito.”.40 Assim, quando os samaritanos se encontraram com Jesus, insistiram em que se hospedasse com eles, e Ele fi cou dois dias.41 E muitos outros creram, por causa da sua Palavra.42 Então disseram à mulher: “Agora cremos, não somente por causa do que tu falaste, mas porque nós mesmos oouvimos e sabemos que este é verdadei-ramente o Cristo,4o Salvador do mundo.”.

Jesus é bem recebido na Galiléia43 Depois daqueles dois dias, Ele partiu dali para a Galiléia.44 O próprio Jesus havia testemunhado que um profeta não tem honra em sua própria terra.

45 Assim, quando chegou à Galiléia, osgalileus o receberam bem, porque viramtodas as coisas que Ele fi zera em Jeru-salém, por ocasião da festa à qual elestambém tinham comparecido.

A cura do fi lho de um ofi cial46 Então Jesus voltou mais uma vez a Caná da Galiléia, onde transformara água em vinho. E ali havia um ofi cial do rei, cujo fi lho estava doente em Cafarnaum.47 Quando ele ouviu que Jesus havia chega-do à Galiléia, vindo da Judéia, dirigiu-se atéEle e lhe implorou que descesse para curar seu fi lho, que estava a ponto de morrer.48 E Jesus lhe disse: “A menos que vejaisos sinais e maravilhas, nunca crereis.”.49 O ofi cial do rei disse a Jesus: “Senhor,desce, antes que o meu menino morra!”.50 Assegurou-lhe Jesus: “Pode seguir, oteu fi lho vive.”. O homem acreditou napalavra de Jesus e partiu.51 E, quando estava descendo, a caminho,seus servos vieram ao seu encontro e lhederam a notícia: “Teu fi lho vive!”.52 Então, inquiriu deles a hora em queo menino havia melhorado, e eles lhedisseram: “Ontem, à hora sétima5, a febreo deixou.”.53 Assim, o pai reconheceu ser aquela amesma hora em que Jesus lhe dissera: “Oteu fi lho vive.”. E creu ele e todos os queviviam em sua casa.54 Esse foi o segundo sinal6 realizado porJesus, depois que veio da Judéia para aGaliléia.

A cura do homem de Betesda

5Algum tempo depois, havia umafesta dos judeus, e Jesus subiu para

Jerusalém.2 Existe em Jerusalém, perto da Porta dasOvelhas, um tanque, chamado em he-braico Betesda,1 tendo cinco pavilhões.

4 O NTG omite “o Cristo”.5 “À hora sétima”: à uma hora da tarde.6 “Sinal”: milagre ou sinal miraculoso.Capítulo 51 Em alguns originais: Betzata ou Betsaida. A forma correta é Betesda (em hebraico: bêth ‘eshdâh – “lugar do derramamento”).

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12JOÃO 5

3 Nestes, fi cava grande multidão de enfermos, cegos, mancos e paralíticos, esperando pelo movimento nas águas.2

4 De certo em certo tempo, descia umanjo do Senhor e agitava as águas. O pri-meiro que entrasse no tanque, depois de agitadas as águas, era curado de qualquer doença que tivesse.5 Estava ali um certo homem, enfermo havia trinta e oito anos.6 Quando Jesus o viu deitado, e sabendo que estava assim havia muito tempo, perguntou-lhe: “Queres ser curado?”7 O homem enfermo queixou-se: “Se-nhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada; pois, enquanto estou indo, desce outro antes de mim.”8 Ordenou-lhe Jesus: “Levanta-te, apanha o teu leito3 e anda.”.9 Imediatamente o homem fi cou curado, pegou seu leito e andou. E aquele dia era sábado.4

10 Por isso, disseram os judeus ao que fora curado: “É sábado e não te é permi-

j q

tido carregar o leito.”11 O homem respondeu a eles: “Aquele que me curou ordenou-me: ‘Apanha o teu leito e anda’!”12 Então lhe perguntaram: “Quem é o homem que te disse: ‘Apanha o teu leito e anda’?”.13 Mas o homem que havia sido curado não sabia quem era; pois Jesus tinha se retirado, sendo que havia uma multidão naquele lugar.14 Mais tarde, Jesus o encontrou no templo e lhe disse: “Veja que já estáscurado; não voltes a pecar, para que não te aconteça coisa pior.”.5

15 O homem partiu e disse aos judeus que fora Jesus quem o havia curado.

Honra o Pai e o Filho16 Por essa razão, os judeus perseguiama Jesus e tentavam matá-lo,6 pois Eleestava fazendo essas coisas durante osábado.17 Mas Jesus respondeu a eles: “Meu Pai continua trabalhando até agora, e Eu também estou trabalhando.”.18 Por isso, os judeus ainda mais procu-ravam matá-lo, porque não somente violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu Pai, fazendo a si próprio igual a Deus.19 Retomando a palavra, explanou Jesus: “Em verdade, em verdade vos asseguro, que o Filho nada pode fazer de si mesmo, mas somente pode fazer o que vê o Pai fazer, pois o que este fi zer, o Filho seme-lhantemente o faz.20 Porque o Pai ama o Filho, e lhe mostra todas as coisas que realiza. E maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis.21 Pois, assim como o Pai ressuscita os mortos e os faz viver, assim também o Filho dá a vida a quem Ele desejar.22 Assim, o Pai a ninguém julga, mas confi ou todo o julgamento ao Filho,23 a fi m de que todos honrem o Filho exatamente como honram o Pai. Aquele que não honra o Filho não honra o Pai que o enviou.24 Em verdade, em verdade vos asseguro: quem ouve a minha Palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida.

João se refere a “festas dos judeus” com o desejo de informar os gentios (não judeus) sobre as tradições judaicas. Os capítulos centrais deste Evangelho são cronologicamente relacionados com as diversas festas do ano judaico. Páscoa (6.4), Tabernáculos (7.2), Dedicação (10.2). A festa aqui se refere ao Ano Novo (Trombetas – Lv 23.23-25). Os pavilhões são cinco arcadas comgrandes colunas em torno de um tanque duplo.

2 O NTG omite essa última frase do texto e todo o versículo 4.3 Uma espécie de maca ou esteira. Em grego krabattos, como em Mc 2.9-12.4 Sabbath em KJ. O dia do descanso conforme a Lei (Gn 2.2; Êx 20.8-11; Gl 4.1-10; Hb 4.4-11).5 Jesus sabia que a causa da enfermidade daquele homem fora seu pecado, entretanto não quis revelá-la ao público; mas

advertiu o homem de que a repetição ou permanência no pecado poderia levá-lo a coisa pior: a morte eterna.6 O NTG omite a frase: “e tentavam matá-lo”, mantida nas revisões de KJ.

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25 Mais uma vez, verdadeiramente vos afi rmo: vem a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão.26 Pois, assim como o Pai tem a vida em si mesmo, igualmente outorgou ao Filho ter vida em si mesmo.27 E também lhe deu autoridade para executar julgamento, porque é o Filho do homem.28 Não vos admireis quanto a isso, pois está chegando a hora em que todos os que re-pousam nos túmulos ouvirão a sua voz29 e sairão; os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida, e aqueles que tiverem praticado o mal, para a ressur-reição da condenação.7

30 Por mim mesmo, nada posso fazer; conforme ouço, assim julgo; e o meu jul-gamento é justo, porque não busco agra-dar a meu próprio desejo, mas satisfazer a vontade do Pai que me enviou. 31 Se Eu der testemunho acerca de mimmesmo, o meu testemunho não seráválido.8

32 Há outro que testemunha a meu favor, e Eu sei que o seu testemunho acerca de mim é verdadeiro.33 Vós enviastes representantes a João, e ele deu testemunho da verdade.34 Eu, entretanto, não busco o testemu-nho dos homens, mas digo essas verda-des para que sejais salvos.35 Ele era uma candeia que queimava e iluminava, e vós quisestes, por um mo-mento, rejubilar-vos na sua luz.36 Todavia Eu tenho um testemunho maior do que o de João; a própria obra que o Pai me deu para consumar, e que estou realizando, testemunha que o Pai me enviou.37 E o Pai que me enviou, Ele mesmo tes-temunhou sobre mim. Jamais ouvistes a sua voz, nem contemplastes a sua face.

38 Igualmente não tendes a sua Palavrahabitando em vós, porque não credesnaquele a quem Ele enviou.39 Vós examinais criteriosamente as Es-crituras,9 porque julgais ter nelas a vidaeterna, e são elas mesmas que testemu-nham acerca de mim. 40 Todavia, vós não quereis vir a mimpara terdes a vida. 41 Eu não aceito honra que procede doshomens.42 Mas Eu vos conheço bem e sei que nãotendes em vós o amor de Deus.43 Eu vim em Nome de meu Pai, e vós nãome recebeis. Se outro vier em seu próprio nome, declaro-vos que o recebereis.44 Como podeis crer, vós que recebeishonra uns dos outros, mas não buscais aglória que vem do Deus único?45 Não penseis que Eu vos acusarei diante do Pai. Quem vos acusa é Moisés, em quemtendes depositado a vossa esperança.46 Todavia, se de fato crêsseis em Moisés,de igual modo haveríeis de crer em mim,pois foi a meu respeito que ele escreveu.47 Mas, se não credes em seus escritos,como crereis em minhas palavras?”.

A multiplicação dos pães e peixesMt 14.13-21; Mc 6.30-44; Lc 9.10-17

6Passado algum tempo, Jesus foi paraa outra margem do mar da Galiléia,

que é o mar de Tiberíades.2 Então, uma grande multidão o seguia,porque tinham visto os sinais que Elerealizava nos enfermos.3 E Jesus subiu ao monte, e sentou-se alicom seus discípulos.4 Ora, a Páscoa, uma festa dos judeus,estava próxima.5 Jesus ergueu os olhos e, vendo umagrande multidão que vinha em sua dire-ção, disse a Filipe: “Onde compraremospães para lhes dar a comer?”

7 As almas dos que morreram, repousam ou dormem (Dn 12.2). A decisão judicial suprema é tomada em vida: os que tiverem7

feito o bem são os que vieram à Luz; esses já estão vivendo a vida eterna como salvos. Os que tiverem praticado o mal são os que“amaram mais as trevas do que a Luz” (3.19-21). Essas pessoas, a não ser que, em vida, se arrependam e recebam a Jesus em seuscorações, já estão condenadas para sempre (3.18). Não há bem maior do que entregar a vida aos cuidados de Cristo (Ef 2.8-10).

8 A lei judaica exigia mais de um testemunho para validar uma declaração.9 Graphe em grego. A carta de Deus. Todo o AT e o NT (2 Pe 3.16).

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14JOÃO 6

6 Mas disse isso apenas para o provar, pois Ele bem sabia o que ia fazer.7 Filipe lhe respondeu: “Duzentos de-nários1 não seriam sufi cientes para que cada um recebesse um pequeno pedaço de pão.”.8 Um de seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro, disse a Jesus:9 “Há aqui um rapaz com cinco pães de cevada e dois peixes pequenos; mas de que servem no meio de tanta gente?”.10 Então Jesus disse: “Fazei que o povo se assente”; pois havia muita grama naque-le lugar. Assim, assentaram-se os homens em número de quase cinco mil.2

11 Jesus pegou os pães e, tendo dado graças, repartiu-os entre os discípulos,3

e para os que estavam assentados; e da mesma maneira se fez com os peixes, tanto quanto desejaram.12 E quando estavam fartos, disse Jesus aos seus discípulos: “Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca.”.13 Assim sendo, eles os ajuntaram e encheram doze cestos com os pedaços dos cinco pães de cevada, deixados por aqueles que haviam comido.14 Então, vendo aqueles homens o sinal que Jesus havia realizado, disseram: “Este é, verdadeiramente, o Profeta que devia vir ao mundo.”.

Jesus caminha sobre o marMt 14.22-33; Mc 6.45-5215 Percebendo, então, Jesus, que estavam prestes a vir e levá-lo à força para o proclamarem rei, retirou-se novamente, sozinho, para o monte.16 Ao anoitecer, seus discípulos desceram para o mar.17 Entraram num barco e passaram para o outro lado, rumo a Cafarnaum. Já estava escuro, e Jesus ainda não havia chegado até eles.

18 O mar agitava-se devido ao forte vento que soprava.19 Quando eles haviam remado uns vinte e cinco a trinta estádios,4 viram Jesus aproximando-se do barco, andando so-bre o mar, e fi caram amedrontados.20 Mas Ele tranqüilizou-os dizendo: “Sou eu! Não temais.”.21 Então, eles, de boa vontade, o recebe-ram no barco, e imediatamente chega-ram à praia para a qual se dirigiam.

Jesus é o pão do céu22 No dia seguinte, as pessoas que fi ca-ram do outro lado do mar viram que ali não havia senão um barco e Jesus não havia entrado nele com seus discípulos, mas que eles tinham partido sós.23 Entretanto, outros barcos chegaram de Tiberíades, próximo do lugar onde o povo havia comido o pão, após o Senhor haver dado graças.24 Quando as pessoas da multidão perce-beram que Jesus não estava ali nem seus discípulos, entraram em seus barcos e partiram para Cafarnaum à procura de Jesus.25 E, tendo-o encontrado do outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Mestre, quan-do chegaste aqui?” 26 Jesus respondeu a eles assim: “Em verdade, em verdade vos afi rmo: vós me buscais não porque vistes os sinais, mas porque comestes os pães e vos fartastes.27 Trabalhai, não pelo alimento que se perde, mas pela comida que permanece para a vida eterna, alimento que o Filho do homem vos dará; pois Deus, o Pai, colocou o seu selo5 sobre Ele.”28 Então, eles questionaram a Jesus: “O quefaremos para realizar as obras de Deus?”29 Jesus lhes asseverou: “A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por Ele foi enviado.”

1 Denário: moeda romana de prata, equivalente a um dia de trabalho braçal.2 Era um costume judaico contar apenas os homens.3 O NTG omite “entre os discípulos, e para os”.4 Entre cinco e seis quilômetros.5 Selar (esphragisen em grego). O Pai abençoa o Filho com seu Espírito: a Trindade em plena ação na pessoa de Jesus.

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30 Por esse motivo o desafi aram: “Que sinal poderás realizar para que o vejamos e creiamos em ti? Que obra farás?31 Nossos pais come ram o maná no de-serto; como está escrito: ‘Ele lhes deu a comer pão do céu’.”.6

32 Respondeu-lhes, então, Jesus: “Em verdade, em verdade vos asseguro: não foi Moisés quem vos deu o Pão do céu; mas é meu Pai quem vos dá o verdadeiro pão do céu.33 Pois o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo.”34 Então, eles pediram a Jesus: “Senhor, dá-nos sempre desse pão.”35 Diante disso, Jesus ministrou-lhes: “Eusou o Pão da Vida; aquele que vem a mimjamais terá fome, e aquele que crê emmim jamais terá sede.36 Todavia, como Eu vos disse, embora me tenhais visto, ainda não credes.37 Todo aquele que o Pai me der, esse virá a mim; e o que vem a mim, de maneira alguma o excluirei.77

38 Pois Eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, mas a vontade daquele que me enviou.39 E esta é a vontade do Pai, o qual me enviou: que Eu não perca nenhum de todos os que Ele me deu, mas que Eu os ressuscite no último dia.8

40 De fato, esta é a vontade daquele que me enviou: que todo aquele que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia.”.

Jesus não é compreendido41 Então, os judeus começaram a se quei-xar dele, porque dissera: “Eu sou o pão que desceu do céu.”.42 E comentavam: “Não é este Jesus, o fi lho de José? Cu jo pai e mãe nós conhe-

cemos? Como pode então Ele dizer: ‘Eudesci do céu’?”.43 Por essa razão Jesus assim respondeu-lhes: “Não murmureis entre vós.44 Ninguém pode vir a mim a menos queo Pai, o qual me enviou, o atrair; e Eu oressuscitarei no último dia.45 Está escrito nos Profetas: ‘E serão todosensinados por Deus’.9 Sendo assim, todoaquele que ouve o Pai e dele aprende,vem a mim.46 Não que alguém tenha visto o Pai, anão ser Aquele que vem de Deus. Só Eleviu o Pai.47 Em verdade, em verdade vos assegu-ro: aquele que crê em mim10 tem a vidaeterna.48 Eu sou o Pão da Vida.11

49 Vossos pais comeram o maná no de-serto e estão mortos.50 Este é o pão que desce do céu, para quetodo o que dele comer não morra.51 Eu sou o Pão Vivo que desceu do céu;se alguém comer deste pão, viverá eter-namente; e o pão que deverei dar pelavida do mundo é a minha carne.”.52 Houve, então, grande discussão entreos judeus e esbravejavam uns com os ou-tros: “Como pode este homem dar-nos acomer a sua própria carne?”.53 Então Jesus os advertiu: “Em verdade, em verdade vos afi rmo: se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida dentro de vós.54 Todo aquele que comer a minha carnee beber o meu sangue tem vida eterna, eEu o ressuscitarei no último dia.55 Pois a minha carne é verdadeira comi-da, e meu sangue é verdadeira bebida.56 Aquele que come a minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e Eu nele.

6 Maná: Pão do céu; a Torá (Lei de Moisés). Veja: Êx 16.4; Ne 9.15; Sl 78.24,25.7 Excluir, lançar fora ou rejeitar, como em KJ. Veja: Jo 17.6-12.8 Todo o que crê em Jesus recebe o Selo da Redenção Eterna: o Espírito Santo (2Co 1.21-22; Ef 1.13; Ef 4.30).9 Veja: Is 54.13; Jr 31.31-34; Hb 8.6-18. Cristo é a redenção de Israel e de todos os povos.10 O NTG omite “em mim”. Entretanto, já havia ficado claro que só aquele que crê em Jesus está salvo: agora e para sempre.11 “Eu sou.” A expressão em grego egô eimi evoca o nome de Deus (Êx 3.14), transliterado Jeovái Yahweh, e Jesus a repete

sete vezes. O “Eu sou” é o próprio “Pão da Vida” (Pv 9.5). Jesus é Deus!

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16JOÃO 6, 7

57 Assim como o Pai, que vive, me enviou e Eu vivo por causa do Pai, assim aquele que se alimenta de mim viverá por mi-nha causa.58 Este é o pão que desceu do céu. De modo algum comparável ao manácomido por vossos pais, que agora estão mortos. Aquele que comer deste Pão viverá para sempre.”. 59 Essas verdades disse Jesus, enquanto ensinava na sinagoga em Cafarnaum.

Muitos discípulos deixam Jesus60 Portanto, muitos dos seus discípulos,ao ouvirem isso, disseram: “Dura é essa declaração. Quem poderá compreendê-la?”.61 Quando Jesus percebeu, em seu ínti-mo, que seus discípulos estavam mur-murando por causa de suas palavras, inquiriu-os: “Isso vos escandaliza?12

62 O que acontecerá quando virdes o Filho do homem ascender13 para o lugar onde estava antes?63 É o Espírito quem dá vida; a carne em nada se aproveita; as palavras que Eu vos tenho dito são Espírito e são vida.64 Entretanto, existem alguns de vós que não crêem.”. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quais eram os que não criam e quem o iria trair.65 E continuou: “É por isso que Eu vos

q

tenho dito que ninguém pode vir a mim, a não ser que isso lhe seja concedido por meu Pai.”.66 Daquele momento em diante, muitos dos seus discípulos recuaram e não maisandaram com Ele.67 Então Jesus interpelou os doze: “Vós também desejais ir embora?”.

68 Mas Simão Pedro respondeu a Ele: “Senhor14, para quem iremos? Tu tens as palavras de vida eterna.69 Sendo assim, nós temos crido e reconhecido que Tu és o Cristo, o Filho do Deus Vivo.”.15

70 Então Jesus acrescentou: “Não vos esco-lhi, Eu, aos doze? Todavia, um dentre vós é um diabo.”.16

71 Falava de Judas, o fi lho de Simão Is-cariotes.17 Este, ainda que fosse um dos 7

doze, mais tarde o haveria de trair.

A falta de fé dos irmãos de Jesus

7Depois desses fatos, Jesus andou pelaGaliléia, porque não queria passar

pela Judéia, pois os judeus1 procuravammatá-lo.2 Nessa ocasião, a festa judaica dos Taber-náculos estava próxima.3 Sendo assim, os irmãos de Jesus lhe disseram: “Parte deste lugar e vai para a Judéia, para que os teus discípulos, semelhantemente, vejam as obras que fazes.4 Porque ninguém age às ocultas enquan-to procura ser publicamente reconheci-do. Se realizas estas obras, manifesta-te ao mundo.”.5 Pois nem mesmo seus irmãos acredita-vam nele.6 Então Jesus lhes afi rmou: “O meu tem-po ainda não chegou; para vós, porém, qualquer hora é correta.7 O mundo não pode odiar-vos, mas odeia a mim, pois Eu dou testemunho de que suas obras são más.8 Podeis vós subir à festa. Eu, neste mo-mento, não subo para essa festa, porque

12 A palavra escandalizar (ofender, como em KJ) é derivada de um vocábulo grego skadalizei que significa “fazer tropeçar”. Assim, Cristo serviu de “pedra de tropeço” para Israel como fora profetizado (Is 8.14,15).

13 “Ascender” (voltar à fonte ou origem) como em KJ. A ascensão de Cristo (3.13).14 Senhor (kurios em grego). Na Septuaginta, a autoridade e o poder de Deus (Yahweh).15 O NTG traz: “Tu és o Santo de Deus.” A KJ acompanha, neste caso, o Textus Receptus como está em Mt 16.16.16 Diabo; em grego, diabolos: difamador, caluniador ou falso acusador. Aqui é provável que Jesus tenha usado o termo

hebraico/aramaico, um servo (demônio) de Satanás: sattan (adversário).17 Jesus e sua Igreja sofrem com os traidores (6.64; 13.27). Iscariotes (em hebraico‘îsh qe riyyôth) significa simplesmente “o

homem de Queriote”, uma localidade da Judéia (Js 15.25), de onde Judas e seu pai Simão vieram.Capítulo 71 Judeus aqui se refere aos habitantes da Judéia (ioudaioi). As autoridades governantes.

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o meu tempo apropriado ainda2aa não che-gou por completo.”.9 E tendo dito essas palavras a eles, per-maneceu na Galiléia.

O Mestre celeste10 Mas, após seus irmãos terem subido, então, Ele também subiu para a festa, não abertamente, mas em segredo.11 Então, os judeus o procuravam na fes-ta e especulavam: “Onde estará Ele?”12 E havia grande murmuração entre opovo a respeito dele. Alguns comentavam:“Ele é bom.”. E outros: “Não, ao contrário,Ele ilude o povo.”.13 Todavia, ninguém falava dele em pú-blico, por medo dos judeus.14 Assim, próximo ao meio da festa, Jesus subiu ao templo e ensinava.15 E os judeus, maravilhados, diziam: “Como sabe este homem letras,3 sem nunca ter estudado?”16 Respondeu-lhes Jesus: “A minha dou-trina4 não é minha, e sim, daquele que me enviou.17 Se alguém desejar fazer a vontade dele, conhecerá a respeito da doutrina, se ela vem de Deus ou se Eu falo por minha própria autoridade.5

18 Aquele que fala por si mesmo está pro-curando a sua própria glória; mas o que procura a glória de quem o enviou, esse é verdadeiro, e nele não há injustiça.6

19 Não foi Moisés quem vos deu a Lei? Entretanto, nenhum de vós pratica a Lei. Por que procurais matar-me?”20 Contestou o povo: “Tu estás com um

demônio! Quem está procurando ma-tar-te?”21 Jesus respondeu a eles, dizendo: “Realizei só uma obra,7 e todos vos assombrais.22 Por causa de Moisés vos haver dado acircuncisão (embora ela não tenha vindode Moisés, mas sim, dos patriarcas), vóscircuncidais um homem no sábado.23 E, se um homem8 pode receber a cir-cuncisão no sábado, para que a Lei deMoisés não seja quebrada, por que vosirais contra mim por Eu ter curado com-pletamente um homem no sábado?24 Não julgueis de acordo com a aparên-cia, mas decidi com justos julgamentos.”

Jesus é o Messias!25 Então, alguns de Jerusalém diziam: “Não é este aquele a quem procuram matar?26 Mas observai! Ele fala atrevidamente,e eles não lhe dizem nada. Será que asautoridades reconhecem que Ele é verda-deiramente9 o Messias?27 Entretanto, nós sabemos de onde é estehomem; quando o Cristo vier, ninguémsaberá de onde Ele é.”28 Então Jesus, enquanto ensinava notemplo, proclamou: “Vós não somenteme conheceis, como também sabeis deonde Eu Sou; e não vim porque Eu, demim mesmo, o desejasse, mas Aqueleque me enviou é verdadeiro; Aquele aquem vós não conheceis.29 Mas10 Eu o conheço, porque venhodele e por Ele fui enviado.”.30 Por isso, procuravam prendê-lo; mas

2 O NTG omite a palavra “ainda”. A expressão “meu tempo apropriado” deriva da expressão grega kairos (literalmente, “opor-tunidade” – o momentum, certo e predeterminado de Deus).

3 Jesus não estudou em escola rabínica, mas conhecia bem “as letras” (grammala, em grego) ou “escritos”, como em 5.47.4 Mais que “ensino”. A doutrina de Jesus é o conjunto de princípios básicos do sistema filosófico e religioso de todo o

Cristianismo.5 Os profetas de Deus falavam: “Assim diz o Senhor”; enquanto Jesus, exercendo a autoridade do Pai, dizia: “Eu vos digo” (3.34;

5.36). A vontade de Deus só é perfeitamente conhecida através do “desejar fazer” (thelei, verbo no presente contínuo em grego).6 Adikia (em grego: o oposto a certo, justo e verdadeiro). O mundo tenta relativizar a moral e a justiça. Em Jesus não há qual-

quer falsidade. Ele é a verdade (14.6).7 Obra (ou milagre), como em KJ e nos melhores textos em grego. Refere-se ao milagre de 5.8-10.8 Homem como em KJ, ou “menino”. Os rabinos acreditavam que o rito da circuncisão podia curar uma parte do corpo do

homem e melhorar sua capacidade reprodutora.9 O NTG omite a palavra: “verdadeiramente”. Cristo é a tradução grega da palavra hebraica Messias.10 O NTG omite a palavra: “mas”.

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ninguém lhe pôs a mão, pois ainda não era chegada a sua hora.31 E muitos que estavam na multidão, acreditaram nele e afi rmaram: “Quando o Cristo vier, fará, porventura, mais sinaisdo que esses feitos por este homem?”.

Jesus e os líderes religiosos32 Os fariseus ouviram a multidão fo-mentando esses comentários a respeito dele. Então os chefes dos sacerdotes e os fariseus11 enviaram guardas do templo para o prenderem.33 Exclamou, então, Jesus: “Eu ainda estarei convosco por pouco tempo e logo irei para Aquele que me enviou.34 Vós procurareis por mim, mas não meencontrareis; e onde Eu estou vós não podeis chegar.”35 Então os judeus comentaram entre si:“Para onde Ele pretende ir, que não o pos-samos encontrar? Planeja ir para a Disper-são12 entre os gregos, para ensinar a eles?36 Qual é o signifi cado do que Ele disse: ‘Vós procurareis por mim, mas não meencontrareis; e onde Eu estou vós não podeis chegar’?”.

A promessa do Espírito Santo37 No último dia, o mais solene dia dafesta, Jesus colocou-se em pé e clamou em pranto: “Se alguém tem sede, deixai-o vir a mim para que beba.13

38 Aquele que crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior fl uirão rios de água viva.”.39 Mas Ele se referiu ao Espírito que, mais tarde, receberiam os que nele cressem;14

pois o Espírito Santo15 até aquele mo-mento não fora concedido, porque Jesus não havia sido ainda glorifi cado.

Quem é Jesus Cristo?40 Então, muitos16 dentre a multidão, quando ouviram essas palavras, disse-ram: “Verdadeiramente este é o Profeta.”41 Outros concluíram: “Este é o Messias.” Mas, alguns divergiram: “Como pode o Cristo vir da Galiléia?42 Não diz a Escritura que o Cristo virá da semente17 de Davi, da cidade de Belém, de 7

onde era Davi?”.43 Assim houve uma divisão entre o povo por causa dele.44 E alguns dentre o povo quiseram pren-dê-lo, mas ninguém lhe pôs as mãos.

Rejeitado pelas autoridades45 Então, os guardas do templo voltaram aos chefes dos sacerdotes e aos fariseus, os quais lhes inquiriram: “Por que não o trouxestes?”.46 Os guardas explicaram: “Nenhum ho-mem jamais falou como este Homem!”.18

47 Replicaram-lhes os fariseus: “Será pos-sível que fostes vós também iludidos?48 Porventura, acreditou nele alguém das autoridades ou dos fariseus?49 E, quanto a esse povo comum, que nada sabe da Lei, são uns malditos!”.50 Nicodemos, sendo um dos sacerdotes, o qual estivera com Jesus à noite,19 ques-tionou-os:51 “Acaso a nossa lei julga um homem, sem primeiro ouvi-lo e saber o que ele está fazendo?”.

11 Os chefes dos sacerdotes (em grego: archiereis) faziam parte das famílias sacerdotais mais ricas e poderosas e formavam oSinédrio. Os fariseus pertenciam a uma seita política radical na observância da Lei, e eram inimigos dos saduceus (sacerdotes).

12 Dispersão: regiões a norte e oeste da Judéia onde havia colônias judaicas em terras gregas.13 O último dia era o oitavo dia da festa dos Tabernáculos e era sagrado como um sábado. Em todo o tempo da festa, um jarro

de ouro com água do tanque de Siloé era derramado, como libação, sobre o altar do sacrifício matinal. Cristo se apresenta comoa Rocha da qual flui água salvadora (Nm 20.2-13; 1Co 10.4). Uma profecia sobre sua morte expiatória (19.34).

14 O TM (Texto Majoritário) traz: “que creram”.15 O NTG omite “Santo”, como está em KJ.16 O NTG traz: “alguns”.17 “Semente”, como nos originais e em KJ, ou “descendência”, como em algumas traduções.18 “Homem!”: ênfase ao ser humano especial que os guardas viram em Jesus; como aparece nas novas versões de KJ.19 “À noite” como em KJ, ou “antes” como no NTG.

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52 Eles responderam-lhe: “És igualmen-te tu um galileu? Procura e verás que ne-nhum profeta se levantou20 na Galiléia.”.53 Depois disso, cada um foi para a sua casa.21

Uma adúltera encontra a Luz

8Entretanto, Jesus seguiu para o mon-te das Oliveiras.

2 Ao amanhecer, Ele voltou ao templo, e todo o povo achegava-se ao seu redor. Então, Ele se assentou e lhes ensinava.3 Os escribas1 e fariseus trouxeram até Ele uma mulher surpreendida em adul-tério. Forçaram-na a fi car em pé no meio de todos,4 e disseram a Ele: “Mestre, esta mulher foiapanhada2aa em fl agrante ato de adultério.5 Assim sendo, Moisés, na Lei,3 nos man-dou que tais mulheres sejam apedrejadas. Todavia, tu, que dizes a este respeito?”.6 Eles falavam assim para prová-lo e teremalguma coisa de que o acusar.4 Mas Jesus, inclinando-se, escrevia na terra com o dedo, como se não tivesse ouvido.5

7 Porque insistiram na pergunta, Ele se levantou6 e lhes disse: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro a lhe atirar uma pedra.”.8 E, novamente, inclinou-se e escrevia na terra.9 Então, aqueles que ouviram isso, sendoconvencidos por suas consciências,7 foram7

se retirando um por um, começando pelosmais velhos até o último. Jesus foi deixadosó, e a mulher fi cou em pé onde estava.

10 Quando Jesus se ergueu, não vendoa ninguém mais, além da mulher, dissea ela: “Mulher, onde estão aqueles teus8

acusadores? Ninguém te condenou?”.11 Disse ela: “Ninguém,9 Senhor.” E assimlhe disse Jesus: “Nem Eu te condeno;podes ir e não peques mais.”.10

Jesus defende seu testemunho12 Falando novamente ao povo, disse Je-sus: “Eu sou a luz do mundo; aquele queme segue, não andará em trevas, mas teráa luz da vida.”.13 Os fariseus, todavia, lhe indagaram:“Tu dás testemunho a respeito de timesmo; logo o teu testemunho não éválido.”.14 Respondeu Jesus, assegurando-lhes:“Ainda que Eu testifi que de mim mesmo,o meu testemunho é verdadeiro, pois seide onde vim e para onde vou. Todavia,vós não sabeis de onde venho e paraonde vou.15 Vós julgais de acordo com a carne; Eua ninguém julgo.16 E mesmo que Eu julgue, o meu julga-mento é verdadeiro, pois não estou só,mas Eu estou com o Pai, que me enviou.17 Está igualmente escrito na vossa leique o testemunho de duas pessoas éverdadeiro.18 Eu testemunho sobre mim mesmo; eo Pai, que me enviou, testemunha a meufavor.”.19 Então, eles perguntaram a Ele: “Ondeestá o teu pai?”. Respondeu-lhes Jesus:

20 Levantar, aparecer ou, como no NTG, surgir.21 Muitos manuscritos não trazem Jo 7.53 a 8.11. Todavia, mais de 900 manuscritos apresentam todo o texto como em KJ.Capítulo 81 Escriba: doutor da Lei entre os judeus, com a responsabilidade de copiar os originais bíblicos sem erros ou alterações.2 “Apanhada”: como em KJ; ou como no TM: “encontrada”, ou ainda, “surpreendida”.3 A MDT traz: “em nossa Lei”.4 Se Jesus discordasse, estaria contra Moisés; concordando, seria um subversivo, pois só Roma poderia condenar alguém à

pena de morte. Além disso, Jesus afirmara que viera para a salvação dos pecadores.5 “Como se não tivesse ouvido” em KJ, mas não consta do NTG e no TM6 A MDT traz: “Ele olhou para cima.” Em KJ aparece como no NTG.7 O NTG e o TM omitem: “sendo convencidos por suas consciências”.8 O NTG omite: “não vendo a ninguém mais” e “teus”.9 Não houve condenação por falta de acusadores sem culpa. Como Jesus nunca pecou (8.46), tomou os pecados dela sobre

si e a perdoou (Rm 8.1-3).10 O TM acrescenta: “de agora em diante”.

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“Vós não conheceis nem a mim nem a meu Pai. Se conhecêsseis a mim, da mes-ma forma conheceríeis a meu Pai.”.20 Essas palavras Jesus proclamou no lu-gar do gazofi lácio,11 enquanto ainda en-sinava no templo; e ninguém o prendeu, pois ainda não era chegada a sua hora.

Jesus anuncia a sua partida21 Uma vez mais, disse-lhes Jesus: “Estou partindo, e vós procurareis por mim, mas morrereis em vossos pecados; para onde Eu vou, vós não podeis ir.”22 Então, os judeus comentaram: “Terá Ele a intenção de se matar? E, por isso diz:‘Para onde Eu vou, vós não podeis ir’?”.23 Mas Ele seguiu dizendo-lhes: “Vós sois daqui de baixo; Eu Sou lá de cima. Vós sois deste mundo; Eu deste mundo não sou.24 Por isso, Eu vos afi rmei que morrereis em vossos pecados. Se vós não crerdes que Eu Sou, certamente morrereis em vossos pecados.”.25 Então, indagaram-lhe: “Quem és tu?” E Jesus lhes afi rmou: “Exatamente o mesmo que vos tenho dito desde o princípio.26 Eu tenho muito mais a declarar e julgar a respeito de vós. Pois Aquele que me enviou é digno de toda a confi ança, assim, transmito ao mundo as palavras que dele ouvi.”.27 Os judeus, contudo, não entenderam que lhes falava acerca do Pai.28 Então Jesus preveniu-os: “Quando ti-verdes elevado o Filho do homem, então sabereis que Eu Sou, e que nada faço de mim mesmo, mas transmito tudo con-forme o meu Pai me ensinou.29 E Aquele que me enviou está comigo. O Pai não me deixou só, pois Eu sempre

cumpro a sua vontade como lhe agrada.”.30 Tendo proferido essas palavras, muitos creram nele.

A verdade que liberta31 Então, disse Jesus aos judeus que haviam crido nele: “Se permanecerdes na minha Palavra, verdadeiramente sereis12

meus discípulos.32 E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”33 Eles responderam-lhe: “Somos des-cendência de Abraão e jamais fomos escravos de ninguém. Como podes tu afi rmar que seremos libertos?”34 Jesus explicou-lhes: “Em verdade, em verdade vos asseguro: todo aquele que pratica o pecado é escravo do pecado.35 O escravo não fi ca em casa para sempre, mas o fi lho permanece para sempre.13

36 Assim sendo, se o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres.

A semente de Abraão e de Satanás37 Eu sei que sois a descendência de Abraão, entretanto, procurais matar-me, porque a minha Palavra não tem lugar dentro de vós.38 Eu falo do que tenho visto com meu Pai, e vós fazeis o que ouvistes14 de vosso pai.”39 Eles contestaram a Jesus, dizendo: “Abraão é nosso pai.”. Mas Jesus os cor-rigiu: “Se fôsseis fi lhos de Abraão, vós faríeis as obras de Abraão.40 Mas, ao contrário, agora procurais matar a mim, um homem que vos tem declarado a verdade, a qual ouviu de Deus. Abraão não procedeu assim.15

41 Vós fazeis as obras de vosso pai.”. Entãolhe asseveraram: “Nós não nascemos defornicação;16 nós temos um só Pai, Deus.”.

11 “Lugar do gazofilácio” ou “tesouro”, como em KJ: ficava no pátio das mulheres, onde havia treze recipientes em forma de trom-beta para receber as ofertas; seis deles para ofertas voluntárias. Onde Jesus viu a viúva depositar suas moedas (Mc 12.41-44).

12 “Sois”, como em KJ. Só os verdadeiros discípulos permanecem em Jesus, e vivem a fé cristã como estilo de vida.13 O escravo não tem ligação de sangue com a família, mas o filho pertence a ela para sempre.14 Embora apareça “visto” em KJ, o mais correto é como no NTG: “ouvistes de”.15 Abraão é exemplo de obediência a Deus (Gn 26.5; Hb 11.8-12).16 No NTG: “não nascemos de pornéia”, ou seja, de ato sexual ilícito; “não somos bastardos”.

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42 Replicou-lhes Jesus: “Se Deus fosse vosso Pai, vós me amaríeis, pois Eu pro-cedo de Deus e estou aqui. Eu não vim por mim mesmo, mas Ele me enviou.43 Por que vós não podeis entender minha linguagem? É porque vós sois

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incapazes de ouvir a minha Palavra.44 Vós pertenceis ao vosso pai, o Diabo; equereis realizar os desejos de vosso pai. Elefoi assassino desde o princípio, e jamaisse apoiou na verdade, porque não existeverdade alguma nele. Quando ele profereuma mentira, fala do que lhe é próprio,pois é um mentiroso e pai da mentira.45 Mas, porque Eu digo a verdade, vós não credes em mim.46 Quem de vós pode me condenar por al-gum pecado? E, se Eu estou dizendo a ver-dade, por que vós não credes em mim?47 Aquele que é de Deus, ouve as palavras de Deus. Entretanto, vós não ouvis; porque não sois de Deus.”.

Antes de Abraão, Eu Sou48 Então os judeus, em resposta, lhedisseram: “Não dissemos acertadamenteque tu és samaritano e tens um demônio?”.49 Replicou-lhes Jesus: “Eu não tenho um demônio; ao contrário, Eu honro a meu Pai, e vós me desonrais.50 E além do mais, Eu não estou buscan-do minha própria glória; existe Um que a busca por mim e a tudo julga.17

51 Em verdade, em verdade vos asseguro: se alguém obedecer a minha Palavra, ja-mais experimentará a morte.”.52 Ao ouvirem isso, exclamaram os ju-deus: “Agora estamos certos de que tens um demônio. Abraão morreu, e também os profetas, e tu afi rmas: ‘se alguém obedecer à minha palavra, jamais expe-rimentará a morte’.

53 És tu maior do que o nosso pai Abraão,que morreu? Da mesma forma, os profe-tas morreram. Quem pretendes ser?”. 54 Jesus declarou-lhes: “Se eu me glorifi -co a mim mesmo, a minha glória nada é;quem me glorifi ca é meu Pai, o qual vósdizeis que é vosso18 Deus.55 Todavia, vós ainda não o tendes co-nhecido, mas Eu o conheço. E se Eudisser que não o conheço, Eu serei ummentiroso, assim como vós. No entanto,Eu verdadeiramente o conheço e obede-ço a sua Palavra.56 Vosso pai Abraão muito se alegrou,pois veria o meu dia; e ele o viu e fi coufeliz.”.57 Então os judeus disseram a Jesus: “Tuainda não tens cinqüenta anos, e viste aAbraão?”.58 Respondeu-lhes Jesus: “Em verdade,em verdade vos asseguro: antes queAbraão existisse, Eu Sou.”.59 Então, pegaram pedras para apedrejá-lo, mas Jesus esquivou-se e, passando porentre eles,19 saiu do templo.

Jesus cura um homem cego

9Ao caminhar, Jesus viu um cego denascença.

2 E seus discípulos lhe perguntaram:“Rabi,1 quem pecou, este homem ouseus pais, para que nascesse cego?”.3 Jesus lhes respondeu: “Nem ele pecou,nem seus pais; mas foi para que as obrasde Deus fossem reveladas na vida dele.4 Eu2 devo fazer as obras daquele queme enviou, enquanto é dia; a noite vem,quando ninguém pode trabalhar.5 Durante o tempo em que estiver nomundo, sou a luz do mundo.”.6 Então, tendo dito essas palavras, cuspiuno chão e fez barro com saliva; em segui-

17 Jesus não temia o julgamento dos homens. Ele sabia que o Pai o glorificaria.18 O NTG e o TM trazem: “nosso”.19 O NTG omite: “passando por entre eles”.Capítulo 91 “Rabi”, como em KJ, significa “Mestre”.2 Os originais registram “Eu faço”, como em KJ.

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da ungiu3 os olhos do cego com aquela mistura.7 E ordenou ao homem: “Vai, lava-te no tanque de Siloé”4 (que signifi ca: Envia-do). O cego foi, lavou-se e voltou vendo.8 Portanto, os vizinhos e aqueles que o conheciam como cego, diziam: “Não é este o mesmo homem que costuma fi car sentado, mendigando?”.9 Alguns afi rmavam: “É ele mesmo.” Ou-

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tros comentavam: “Apenas se parece comele.”5 Ele mesmo, entretanto, assegurava-lhes: “Sou eu o homem.”.10 Por esse motivo, indagaram-lhe: “Co-mo te foram abertos os olhos?”.11 Ele respondeu: “Um homem chamado Jesus misturou terra com saliva, ungiu meus olhos e disse-me: ‘vai, lava-te no tanque de Siloé.’ Então eu fui, lavei-me, e recebi a visão.”.12 Em seguida lhe perguntaram: “Onde está Ele?” Ao que respondeu: “Não sei.”.

O homem curado é expulso13 Então, levaram o homem que fora cego à presença dos fariseus.14 E era sábado, quando Jesus fez aquela mistura de barro e abriu os olhos do homem cego.15 Então, os fariseus também lhe inquiri-ram como recebera a visão. E o homem tornou a explicar: “Ele aplicou barro aos meus olhos, lavei-me e vejo.”.16 Por esse motivo, alguns dos fariseus alegavam: “Esse homem não é de Deus, porque não guarda o sábado.” Outros murmuravam: “Como pode um homem, sendo pecador, realizar milagres como esses?”. E, novamente, houve divisão entre eles.

17 Uma vez mais, perguntaram ao ho-mem que fora cego: “Que dizes tu a res-peito dele, pelo fato de que abriu os teus olhos?”. O homem asseverou-lhes: “Ele é um profeta.”.18 Contudo, os judeus não acreditaram que ele fosse cego e havia recebido a visão, até que fossem chamados os pais daquele que recebera a visão.19 Então os interrogaram: “É este o vosso

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fi lho, o qual vós dizeis que nasceu cego? Como, então, ele pode ver agora?”.20 Os pais lhes responderam: “Sabemos6

que ele é nosso fi lho e que nasceu cego.21 Mas não sabemos o significado deele estar vendo agora, e também nãosabemos quem lhe abriu os olhos. Per-guntai a ele, já tem idade.7 Ele falará desi mesmo.”.22 Seus pais responderam dessa maneira porque estavam com medo dos judeus; pois estes já haviam acordado que, se al-guém confessasse que Jesus era o Cristo, seria expulso da sinagoga.23 Foi por isso que seus pais disseram: “Perguntai a ele, já tem idade.”.24 Então, eles chamaram de novo o ho-mem que fora cego e lhe ordenaram: “Dá glória a Deus!8 Pois nós sabemos que esse homem é pecador.”.25 Ao que ele retorquiu: “Se ele é um pecador ou não, eu não sei. Todavia, uma verdade eu sei: eu era cego; agora vejo.”.26 E, novamente lhe indagaram: “O que Ele te fez? Como abriu teus olhos?”.27 O homem lhes respondeu: “Eu já o dis-se, mas vós não credes. Por que desejais ouvir tudo uma vez mais? Acaso também quereis tornar-vos discípulo dele?”.28 Por isso, o insultaram e disseram: “Tu,

3 “Ungir”: passar, friccionar, aplicar, investir de autoridade, purificar, curar. Deus criou o homem do barro (Gn 2.4; 3.19), portanto,pode curá-lo de todos os males.

4 “Siloé” (em hebraico shilôah “águas enviadas”, expressão derivada do verbo shâlah “enviar” e se refere a Jesus, o enviado;(em grego, apestalmenos). Assim como os judeus rejeitaram as águas de Siloé, estavam rejeitando o Messias (Is 8.6,7).

5 O NTG traz: “Não, mas se parece com ele.”6 “Sabemos” (em grego: oidamen) é usado 11 vezes neste capítulo; numa evidência de quanto os judeus estavam longe de

reconhecerem Jesus como Deus (4.22,32).7 Uma pessoa era aceita como testemunha num tribunal somente após os treze anos de idade.8 Esta expressão pode ser usada em dois sentidos. Como agradecimento (Lc 17.15-18), e como uma intimação a que se “diga

a verdade” (Js 7.19).

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sim, és um discípulo dele; mas nós so-mos discípulos de Moisés.29 Sabemos que Deus falou a Moisés; mas quanto a esse sujeito, nem sabemos de onde vem.”.30 O homem questionou: “Ora, isso é surpreendente! Vós não sabeis de onde Ele vem, e mesmo assim, abriu-me os olhos!31 É sabido que Deus não ouve pecado-res; mas a todo adorador9 de Deus, e a todo que faz a sua vontade, a esse Ele atende.32 Desde o início do mundo, jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos de um cego de nascença.33 Se esse homem não viesse de Deus, não poderia fazer obra alguma.”.34 Então, concluíram: “Tu que nasceste repleto de pecados, pretendes nos ensi-nar?”. E o excluíram.10

Os cegos receberão a visão35 Jesus ouviu que o haviam expulsado, e, quando o encontrou, lhe disse: “Acredi-tas tu no Filho de Deus?”.11

36 O homem respondeu: “Quem é Ele, Senhor, para que eu possa nele crer?”.37 E Jesus lhe assegurou: “Tu o estás vendo. É este que te fala.”.

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38 Então, declarou o homem: “Senhor, eu creio!”. E prostrando-se diante de Jesus, o adorou.39 Então revelou Jesus: “Eu vim a este mundo para julgamento, a fi m de que os cegos vejam e os que vêem se tornem cegos.”.

40 Alguns fariseus que estavam com Ele,ao ouvirem essas palavras, perguntarama Jesus: “Porventura, nós também somoscegos?”.41 Afi rmou-lhes Jesus: “Se vós fôsseiscegos, não seríeis culpados; mas uma vezque alegais: ‘Nós vemos!’, por essa razão,o pecado persiste dentro de vós.

Eu Sou o bom pastor

10 Em verdade, em verdade vos as-seguro: aquele que não entra no

aprisco das ovelhas1 pela porta, mas sobeo muro à procura de outra passagem,esse é ladrão e assaltante.2 Aquele que entra pela porta é o pastordas ovelhas.3 Para esse, o porteiro2 abre a porta doaprisco, e as ovelhas ouvem a sua voz. Elechama cada uma das suas ovelhas pelonome, e as guia3 para fora.4 E depois de conduzir para fora todas as que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas o seguem, porque reconhecem a sua voz.5 Todavia, de modo algum seguirão a umestranho; ao contrário, fugirão dele, por-que não conhecem a voz de estranhos.”. 6 Jesus falou de forma proverbial,4 maseles não compreenderam o signifi cadodo que lhes havia falado.7 Sendo assim, Jesus lhes disse de novo:“Em verdade, em verdade vos asseguro:Eu Sou a porta das ovelhas.8 Todos quantos vieram antes5 de mimsão ladrões e assaltantes; porém as ove-lhas não os ouviram.9 Eu Sou a porta. Qualquer pessoa que en-

9 “Adorador”: crente ou devoto sincero, piedoso.10 Excluir, excomungar, anatematizar, amaldiçoar. Expulso do rol de membros da sinagoga, passaria a ser considerado um

(servo do Diabo), inimigo de Deus.11 O NTG traz o título messiânico de Jesus: “O Filho do homem” (Dn 7.13).Capítulo 101 A ligação entre os capítulos 9 e 10 está na exclusão do homem que fora curado da cegueira (9.34). Jesus, entretanto, o abriga,

como ovelha (10.3,4,14), em um novo rebanho: a sua Igreja (10.16; Mt 16.18). O aprisco ou curral era, normalmente, um cercadocom muros de pedra, com uma entrada guardada por um porteiro.

2 João Batista foi o precursor dos guias verdadeiros (1Pe 5.1-4). Os crentes são convidados a deixar o judaísmo e qualqueroutra religião para seguir unicamente a Cristo: o Supremo Pastor (Hb 10).

3 Jesus cumpre a figura de Josué (Nm 27.16-17) e a profecia em Ez 34.23, onde Cristo é o Messias da linhagem de Davi.4 Provérbio (em grego, paroimia) ou enigma (2Pe 2.22). O termo “parábola” (em grego, parabole) designa o tipo de ilustração

usada por Jesus nos Sinóticos.5 A MDT omite “antes de mim”. Consta, entretanto, em outros bons originais.

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trar por mim, será salva. Entrará e sairá; eencontrará pastagem.6

10 O ladrão não vem, senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que as ove-lhas tenham vida, e vida em plenitude.11 Eu Sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.12 O mercenário, que não é o pastor a quem as ovelhas pertencem, vê a apro-ximação do lobo, abandona as ovelhas e foge. Então, o lobo as apanha e dispersa o rebanho.13 O mercenário foge, porque é um mer-cenário e não tem zelo pelas ovelhas.14 Eu Sou o bom pastor. Conheço as mi-nhas ovelhas e sou conhecido por elas;15 assim como o Pai me conhece e Eu conheço o Pai; e entrego minha vida pelas ovelhas.16 Ainda tenho outras7 ovelhas que não7

são deste aprisco,8 as quais devo da mesma maneira trazer; elas ouvirão minha voz, ehaverá um só rebanho e um só pastor.17 Por esse motivo o Pai me ama; porque Eu entrego a minha vida para retomá-la.18 Ninguém a tira de mim; antes Eu a entrego de espontânea vontade. Tenho poder9 para entregá-la, e poder para retomá-la. Esse é o mandamento que recebi de meu Pai.”.

Mais uma divisão entre os judeus19 Por causa dessas palavras, houve nova-mente divisão entre os judeus.20 E muitos deles murmuravam: “Ele tem um demônio e enlouqueceu. Por que vós o escutais?”.21 Outros ponderavam: “Essas palavras

não são de alguém que tem um demônio. Pode, porventura, um demônio abrir os olhos dos cegos?”.

O pastor conhece suas ovelhas22 Naquela ocasião, celebrava-se a Festa da Dedicação em Jerusalém, e era in-verno.23 E Jesus caminhava dentro do templo, pelo Pórtico de Salomão.24 Então, os judeus rodearam a Jesus para indagar-lhe: “Até quando nos deixarás em dúvida? Se és o Cristo, dize-nos cla-ramente.”.25 Respondeu-lhes Jesus: “Eu já vo-lo disse, e vós não acreditais. As obras que realizo em Nome de meu Pai testemu-nham a meu favor.26 Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas, como já vos afi r-mei.10

27 As minhas ovelhas ouvem a minha voz; Eu as conheço, e elas me seguem.28 Eu lhes dou a vida eterna, e elas nunca perecerão; tampouco ninguém as poderá arrancar da minha mão.29 Meu Pai, que as deu a mim, é maior do que todos,11 ninguém é capaz de arrancá-las da mão de meu Pai.30 Eu e o Pai somos um.”.31 E por isso, uma vez mais, os judeus pegaram pedras para apedrejá-lo.32 Mas Jesus os interpelou: “Eu tenho vos revelado muitas obras boas da parte do meu Pai. Por qual dessas obras vós que-reis lapidar-me?12.33 Os judeus responderam-lhe assim: “Por nenhuma boa obra nós te lapidaremos,

6 Em aramaico (a língua que Jesus falava), tem o sentido de “permanecer em segurança”. A proteção de Deus (Sl 23; Sl 91).7 “Outras ovelhas”: (em grego alla – outras da mesma espécie). Refere-se aos crentes gentios, em todo o mundo, que se unirão

a Cristo e formarão o novo e verdadeiro Israel.8 As ovelhas judias precisavam ser tiradas do primeiro aprisco (em grego aule), antes de serem reunidas às outras e formarem

um novo e único rebanho (em grego poimnê).9 “Poder” como em KJ ou “autoridade”. É pela autoridade do Pai que o Filho age com independência (5.19-30); um paradoxo

próprio do relacionamento único entre Deus-Pai e Deus-Filho.10 O TM (Texto Majoritário) omite “como já vos afirmei”.11 O Texto Bizantino, com o apoio do antigo Papiro 66, reforça essa melhor tradução, como em KJ.12 “Lapidar”, açoitar ou matar por apedrejamento, em função de condenação sumária por pecados considerados hediondos,

como blasfêmia, violação do sábado ou adultério. É interessante notar que a expressão “obras boas” (em grego, erga kala) significa literalmente: “obras belas ou lindas”.

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mas sim por blasfêmia, e porque, sendotu um simples homem, te fazes passarpor Deus.”.34 Jesus lhes contestou: “Não está escrito na vossa Lei: ‘Eu disse: sois deuses?’13

35 Se Ele chamou ‘deuses’ àqueles a quem veio a Palavra de Deus (e a Escritura não pode ser quebrada),36 como vós dizeis daquele a quem o Pai santifi cou e enviou a esse mundo: ‘Tu blasfemas!’, porque vos declarei: ‘Eu Sou o Filho de Deus?’37 Se não faço as obras de meu Pai, não acreditais em mim.38 Mas se as faço, mesmo que não acredi-tais em mim, crede nas obras, para que possais saber e compreender que o Pai está em mim, e Eu estou no Pai.”.39 Contudo, uma vez mais tentaram pren-dê-lo, mas Ele se livrou das mãos deles.

Os crentes além do Jordão40 Sendo assim, novamente Jesus atra-vessou o Jordão e foi para o lugar onde João batizava no início do seu ministério, e ali fi cou.41 Então, muitos vinham até Jesus, exal-tando: “João não realizou nenhum sinal; todavia, tudo quanto falou a respeito deste Homem era verdade.”.42 E, naquele povoado, muitos creram emJesus.

A morte do amigo Lázaro

11 Um certo homem chamado Láza-ro, de Betânia, da aldeia de Maria

e de sua irmã Marta, estava doente.2 Esta Maria, cujo irmão Lázaro estava doente, era a mesma que ungiu com óleo perfumado1 o Senhor e lhe enxugou os pés com os próprios cabelos.3 Assim sendo, as irmãs de Lázaro mandaram dizer a Jesus: “Senhor! Eis que aquele a quem amas está enfermo.”.

4 Ao saber do ocorrido, disse Jesus: “Essa enfermidade não terminará em morte; mas sim, para a glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorifi cado por meio dela.”.5 E Jesus amava Marta, a irmã dela, e aLázaro.6 Contudo, quando soube que Lázaroestava doente, fi cou mais dois dias nolugar onde estava.7 Depois disso, falou a seus discípulos:“Vamos voltar para a Judéia.”.8 Ao que lhe advertiram os discípulos:“Rabi, há pouco os judeus tentaram ape-drejar-te, e mesmo assim estás indo paralá outra vez?”.9 Jesus lhes respondeu: “Não são dozeas horas do dia? Se alguém caminhar dedia, não tropeça, porque vê a luz destemundo;10 mas, se caminhar na noite, tropeça,porque a luz não está nele.”.11 Tendo dito essas palavras, prosseguiu ex-plicando-lhes: “Nosso amigo Lázaro dor-me, mas Eu vou até lá para despertá-lo.”.12 Então seus discípulos lhe disseram:“Senhor, se ele está dormindo, vai fi carmelhor.”.13 Entretanto, Jesus lhes havia falado damorte de Lázaro; mas os discípulos pen-saram que Jesus estivesse se referindo aorepouso do sono.14 Ao que Jesus lhes disse claramente:“Lázaro morreu;15 e, para o vosso bem, estou alegre pornão ter estado lá; para que agora possaiscrer. Sendo assim, vamos ter com ele.”.16 Então Tomé, chamado Dídimo, disseaos seus companheiros discípulos: “Va-mos também nós para morrermos comele!”.2

Eu Sou a ressurreição e a vida17 Ao chegar, encontrou Lázaro já sepul-tado havia quatro dias.

13 Sl 82.6. Deus se refere aos homens como “deuses” ou juízes (em hebraico ‘elohim).Capítulo 111 O mesmo que bálsamo (Mc 14.3; Lc 10.38-42).2 Tomé (em aramaico t’ômâ) significa gêmeo (o mesmo que Dídimo em grego). Tomé expressa lealdade a ponto de oferecer

sua vida por Cristo; e prenuncia a morte de Jesus na Judéia.

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18 Ora, Betânia fi cava próxima de Jerusa-lém, cerca de quinze estádios.3

19 E muitos, dentre os judeus, tinham vindo juntar-se ao grupo de mulheres que procuravam confortar Marta e Ma-ria, pela morte do irmão.20 Assim que Marta ouviu que Jesus esta-va a caminho, saiu ao seu encontro; Ma-ria, no entanto, fi cou sentada em casa.21 Disse Marta a Jesus: “Senhor, se estives-ses aqui, meu irmão não teria morrido.22 Mas sei que, mesmo agora, seja o que for que pedires a Deus, Ele te dará.”23 Jesus então assegurou-lhe: “O teu ir-mão ressuscitará!”24 E Marta lhe disse: “Eu sei que ele vai res-suscitar na ressurreição, no último dia.”25 Esclareceu-lhe Jesus: “Eu Sou a ressur-reição e a vida. Aquele que crê em mim, mesmo que morra, viverá;26 e todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente. Tu crês nisso?”27 Ela lhe afi rmou: “Sim, Senhor, eu creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que devia vir ao mundo.”.

Jesus vence a morte28 Depois de dizer essas palavras, Marta seguiu seu caminho e chamou Maria, sua irmã, e lhe disse em particular: “O Mestre chegou, e chama por ti.”.29 Assim que Maria ouviu isso, levan-tou-se apressadamente e foi ao encontro dele.30 Jesus ainda não havia entrado no povoado, mas estava4 onde Marta o en-contrara.31 Os judeus que estavam com Maria em casa e a consolavam, vendo que ela se levantou apressadamente e saiu, seguiram-na, julgando que ela fosse ao sepulcro para ali chorar.32 Então, quando Maria chegou ao lugar

onde Jesus estava, vendo-o, prostrou-seaos seus pés e desabafou: “Senhor, seestivesses aqui, meu irmão não teriamorrido.”.33 Sendo assim, ao ver Maria chorando, bem como os judeus que vieram com ela, Jesus indignou-se no espírito5 e compa-deceu-se.34 Perguntou-lhes Jesus: “Onde o colo-castes?”. E eles indicaram-lhe: “Senhor, vem e vê!”.35 Jesus chorou.36 Então os judeus comentaram: “Vede como Ele o amava!”.37 Mas alguns deles questionaram: “Não poderia este homem, que abriu os olhos do cego, ter evitado que seu amigo mor-resse?”.

Jesus ressuscita seu amigo38 Então, novamente Jesus se indigna em seu espírito, e comovido dirige-se ao se-pulcro. Era uma gruta na rocha com uma pedra fechando a entrada. 39 Determinou Jesus: “Tirai a pedra!”Preveniu-lhe Marta, irmã do falecido:“Senhor, ele já cheira mal, pois já se pas-saram quatro dias.”.6

40 Encorajou-a Jesus: “Eu não te falei que, se creres, verás a glória de Deus?”.41 Então, tiraram a pedra da entrada do lugar onde o homem morto estava deitado.7 E Jesus, levantando seus olhos 7

aos céus, agradeceu:8 “Pai, dou-te graças porque me ouviste.42 Eu sei que sempre me ouves, mas disse isso por causa da multidão que está ao meu redor, para que creiam que Tu me enviaste.”. 43 E, tendo dito essas palavras, clamou em alta voz: “Lázaro, vem para fora!”.44 Então, o homem que havia morrido, saiu da gruta, tendo os pés e as mãos ata-

3 Cerca de três quilômetros. Em grego, um estádio equivalia a 185 metros.4 O NTG traz “continuava”.5 O verbo grego embrimaomai significa, literalmente, “bufou de indignação”. Condoeu-se, conturbou-se, comoveu-se.6 Havia uma crença entre os judeus de que a alma deixa o corpo três dias após a morte.7 O NTG omite “do lugar onde o homem morto estava deitado”.8 Jesus já havia orado; mas ora novamente em voz alta para que o povo creia que Ele e o Pai são a mesma pessoa (17.21).

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dos com faixas de linho e o rosto envolto com um pano. E Jesus orientou-os: “Re-tirai as faixas dele e deixai-o seguir.”.

A trama para matar Jesus45 Assim, muitos dentre os judeus, que tinham vindo consolar Maria, vendo o que Jesus fi zera, creram nele.46 Mas alguns deles foram até os fariseus e os informaram de tudo quanto Jesus havia feito.47 Então, os chefes dos sacerdotes e os fariseus convocaram uma reunião do Si-nédrio.9 E disseram: “O que poderemos fazer? Pois esse homem realiza muitos sinais.48 Se o deixarmos seguir livre, todos acre-ditarão nele, e então virão os romanos e tomarão tanto o nosso lugar,10 como a nossa nação.”.49 Entretanto, um dentre eles, chamado Caifás, que naquele ano era o sumo sa-cerdote, disse a eles: “Vós falais do que não compreendeis.50 Nem considerais que é do vosso interesse que morra um só homem pelo povo,11 e não pereça toda a nação.”.51 Por outro lado, ele não revelou isso de si mesmo, mas sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou12 que Jesus mor-reria pela nação judaica.52 E não somente por aquela nação, mas também para congregar em um só povo os fi lhos de Deus que andam espalhados pelo mundo.53 Assim, daquele dia em diante, pactua-ram em tirar a vida de Jesus.54 Por isso, Ele já não andava livremente entre os judeus. Em vez disso, retirou-se

para o interior, próximo ao deserto, che-gando a uma cidade chamada Efraim; eali permaneceu com os seus discípulos.55 A Páscoa dos judeus estava próxima, emuitos daquela região do interior subi-ram para Jerusalém, a fi m de participa-rem das cerimônias de purifi cação antesda Páscoa.56 Então, procuravam Jesus, e comenta-vam uns com os outros, dentro do tem-plo: “Que pensais? Virá Ele à festa?”.57 Por outro lado, os chefes dos sacer-dotes e os fariseus haviam dado ordempara que, se alguém soubesse onde Eleestava, o denunciasse, a fi m de poderemprendê-lo.

Jesus ungido para a PáscoaMt 26.6-13; Mc 14.3-9

12 Seis dias antes da Páscoa, Jesus foipara Betânia, onde estava Lázaro,

que havia morrido e fora ressuscitadodentre os mortos.2 Então, ofereceram-lhe um jantar; Mar-ta servia,1 enquanto Lázaro era um dosconvidados,2 sentado à mesa com Jesus.3 Maria pegou uma libra3 de bálsamo denardo puro, um óleo perfumado muitocaro, ungiu os pés de Jesus e os enxugoucom seus cabelos. E a casa encheu-secom a fragrância daquele bálsamo.4 Mas um de seus discípulos, Judas Isca-riotes, fi lho de Simão, que mais tarde iriatraí-lo, objetou:5 “Por que este bálsamo perfumado nãofoi vendido por trezentos denários4 edado aos pobres?”.6 Ele não disse isso por se importar comos pobres, mas porque era ladrão; sen-

9 Sinédrio, ou Conselho, era a corte suprema da nação judaica: composto de 75 pessoas, presidido pelo sumo sacerdote.10 O “nosso lugar” era o templo; o “lugar santo” (At 6.13-28).11 Caifás pertencia ao partido dos saduceus, conhecidos por sua rudez mesmo entre eles próprios. Ele aconselha o Sinédrio a

oferecer um homem por toda a nação; como “bode expiatório” (Lv 9.3; 16.22).12 Tradicionalmente o sumo sacerdote deveria ser o portador da voz de Deus. Uma vez por ano fazia a expiação (sacrifícios com

sangue de animais) pela nação, no Santo dos Santos (Hb 9). Sem perceber, anunciou o sacrifício expiatório de Jesus pelo mundo.Capítulo 121 Marta dedicava-se mais ao serviço e Maria, à adoração (Lc 10.38-42).2 O jantar ou ceia celebrava a nova vida de Lázaro, sendo, ele e Jesus, convidados de honra.3 A libra (em grego litra) equivale a pouco mais de 300 gramas. 4 Um denário era uma moeda de prata equivalente a um dia de trabalho braçal.

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do responsável pela bolsa de dinheiro,5

freqüentemente tirava o que nela era depositado.7 Mas Jesus respondeu: “Deixa-a em paz; pois para o dia da minha sepultura foi que ela guardou isso.8 Quanto aos pobres, vós sempre os tereis convosco, mas a mim vós nem sempre tereis.”.

A trama para matar Lázaro9 Por outro lado, uma grande multidão de judeus, assim que soube que Jesus estava ali, veio, não somente por causa de Jesus, mas igualmente para ver Lázaro, a quem Ele ressuscitara dos mortos.10 Mas os chefes dos sacerdotes trama-ram matar Lázaro também.11 Pois, por causa do que ocorrera com ele, muitos estavam se afastando e cren-do em Jesus.

A entrada profetizadaMt 21.1-9; Mc 11.1-10; Lc 19.28-3812 No dia seguinte, a grande multidão quetinha vindo para a festa, assim que ouviuque Jesus estava chegando a Jerusalém,13 pegou ramos de palmeiras e saiu ao seuencontro, exultando: “Hosana!6 Bendito oque vem em o Nome do Senhor!7 Benditoo Rei de Israel!”.14 E Jesus, tendo conseguido um jumen-tinho, montou-o, conforme está escrito:15 “Não tenha medo, ó fi lha8 de Sião; eis que o seu Rei está chegando, montado em um jumentinho.”.9

16 Naquele momento, seus discípulos nãoentenderam o que estava acontecendo. Só depois que Jesus foi glorifi cado, eles se lembraram de que esses fatos estavam

escritos a respeito dele e também de que isso lhe fi zeram.17 Assim sendo, a multidão que estava com Ele, quando mandara Lázaro sair do sepulcro e o ressuscitara dos mortos, continuou a testemunhar o ocorrido.18 Por essa razão, um grande número de pessoas saiu ao encontro de Jesus, pois ouviu que Ele realizara esse milagre.19 Todavia, os fariseus comentavam uns com os outros: “Vós percebestes como nossos esforços são inúteis. Atentai! Eis que o mundo10 todo vai após Ele!”.

Jesus veio para todos os povos20 Entre os que subiram para adorar a Deus durante a festa da Páscoa estavam alguns gregos.21 Eles se dirigiram a Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e lhe rogaram: “Se-nhor! Nós desejamos ver Jesus.”22 Filipe foi e contou a André, e André e Filipe comunicaram o pedido a Jesus.23 Jesus lhes respondeu: “Chegou a hora emque o Filho do homem será glorifi cado.24 Em verdade, em verdade vos asseguro que se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, permanecerá ele só; mas se morrer produzirá muito fruto.25 Aquele que ama a sua vida, a perderá;entretanto, aquele que odeia sua vida nestemundo, a preservará para a vida eterna.26 Se alguém me serve, precisa seguir-me; e onde estou, o meu servo também estará. Aquele que me serve será honrado por meu Pai.

Jesus profetiza sua morte na cruz27 Agora minha alma está perturbada, e o que direi? Pai, salva-me desta hora? Não!

5 A bolsa (em grego glôssokomon) era onde se guardava o dinheiro oferecido a Jesus e aos discípulos por pessoas quequeriam ajudá-los (Lc 8.2,3).

6 “Hosana” (em hebraico hôshi ah-nnâ) quer dizer: “dá salvação agora” ou “dá a vitória agora”; tornou-se uma expressão delouvor e gratidão.

7 “Bendito o que vem” (em hebraico7 barûkh habbâ) é uma expressão judaica de boas-vindas (Sl 118.25-27).8 “Filha” (em grego) ou “Cidade”.9 Jesus cumpre a promessa divina (Zc 9.9).10 Com a expressão “o mundo” (em grego kosmos), os fariseus queriam dizer “todas as pessoas de Jerusalém”. João, contudo,

ressalta a obra salvadora de Cristo por toda a humanidade (3.16,17).

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Eu vim precisamente com esse propósitoe para esta hora.11

28 Pai, glorifi ca o teu Nome!”. Então, veio uma voz dos céus,12 dizendo: “Eu já o glo-rifi quei e o glorifi carei uma vez mais.”.13

29 Todavia, a multidão que estava ali,tendo ouvido a voz, dizia ter trovejado.Outros garantiam: “Um anjo falou com Ele.”.30 Jesus lhes esclareceu: “Essa voz não veio por minha causa, e sim para vosso benefício.31 Chegou a hora de este mundo ser julgado, e agora o príncipe deste mundo será expulso.32 Mas Eu, quando for levantado da terra, atrairei todas as pessoas para mim.”.33 Ele disse isso para expressar o tipo de morte que haveria de sofrer.34 O povo lhe replicou: “Nós temos ouvido da Lei que o Cristo permanecerá para sempre, como podes afi rmar: ‘o Filho do homem precisa ser levantado’? Quem é afi nal esse Filho do homem?”.35 Então Jesus lhes explicou: “Ainda por mais um pouco de tempo a luz estará en-tre vós. Caminhai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos surpreendam, pois aquele que anda nas trevas não sabe para onde vai.36 Enquanto vós tendes a luz, crede na luz, para vos tornardes fi lhos da luz.”. E, terminando de falar, partiu e ocultou-se deles.

Nem todos creram nos milagres37 Mas, embora tivesse realizado tantos mi-lagres diante deles, não creram em Jesus,38 para cumprir a palavra do profeta Isaí-as, que disse:“Senhor, quem creu em nossa mensa-

gem, e a quem foi revelado o braço doSenhor?”.14

39 Contudo, não podiam crer, porquecomo reafi rmou Isaías:40 “Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos nem entendam com o coração, nem se convertam e Eu os cure.”.15

41 Isso disse Isaías porque viu a glóriadele e falou a seu respeito.

Caminhando na luz42 Apesar disso, muitos dentre as próprias autoridades acreditaram nele, mas devido aos fariseus, não declaravam sua fé, para não serem excluídos da sinagoga;43 pois amaram mais a honra dos ho-mens do que a glória de Deus.16

44 Então Jesus exclamou: “Quem acreditaem mim, não crê somente em mim, masnaquele que me enviou.45 Quem vê a mim, vê Aquele que meenviou.46 Eu vim como luz para o mundo; a fi mde que todo aquele que crê em mim nãopermaneça nas trevas.47 Se alguém ouvir as minhas palavrase não obedecer a elas, Eu não o julgo;porque Eu não vim para julgar o mundo,mas sim, para salvá-lo.48 Aquele que me rejeita e não acolhe asminhas palavras tem quem o julgue; aPalavra que proclamei, essa o julgará noúltimo dia.49 Pois Eu não tenho falado por mimmesmo, mas o Pai, que me enviou, esseme deu ordens sobre o que Eu deveriadizer e o que proclamar.50 Eu sei que o seu mandamento é a vidaeterna. Sendo assim, tudo o que Eu falo,

11 A hora (em grego kairós). O tempo oportuno (certo, escolhido) de Deus para seus filhos.12 Pela terceira vez (batismo, transfiguração e nesta passagem) Deus glorifica seu nome, em Jesus, perante o mundo. Esse

fenômeno (em grego bath gôl ou “eco de Deus”) era conhecido dos rabinos. Jesus podia ouvir perfeitamente a voz de Deus, maslas demais pessoas apenas ouviam um som estrondoso, como o de trovões.

13 O nome de Deus é glorificado ou santificado quando se faz a sua vontade.14 Is 53.1.15 Is 6.10.16 A “glória de Deus”, neste caso, é a aprovação do Pai para aqueles que, uma vez crendo em Jesus, agem diante dos homens

como verdadeiros (cristãos) discípulos.

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como o Pai me mandou dizer, assim falo.”.

Os pés dos discípulos são lavados

13 Assim, pouco antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que havia

chegado o tempo de Deus, em que par-tiria deste mundo e iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fi m.1

2 Durante o fi nal da ceia, quando já o Dia-bo incutira no coração de Judas Iscariotes,fi lho de Simão, que deveria trair a Jesus,23 e, sabendo Jesus que o Pai lhe outorgara poder sobre tudo o que existe, e que viera de Deus e estava retornando a Deus,4 levantou-se da mesa, tirou a capa e co-locou uma toalha em volta da cintura.5 Em seguida, derramou água em uma bacia e começou a lavar os pés dos dis-cípulos e a enxugá-los com a toalha que estava em sua cintura.6 Aproximou-se de Simão Pedro, que lhe disse: “Senhor, vais me lavar os pés?”.7 Respondeu-lhe Jesus: “O que faço ago-ra, não podes compreender, todavia o compreenderás mais tarde.”.8 Disse-lhe Pedro: “Senhor, jamais me la-varás os pés!”. Ao que Jesus lhe advertiu: “Se Eu não lavar os teus pés, tu não terás parte comigo.”.3

9 Rogou-lhe Simão Pedro: “Senhor, lava não somente meus pés, mas também, as minhas mãos e a minha cabeça!”.10 Explicou-lhe Jesus: “Quem já se ba-nhou precisa apenas lavar os pés; o seu corpo já está completamente limpo. Vós também estais limpos, mas nem todos.”.

11 Pois Jesus sabia quem iria traí-lo, epor isso disse: “Nem todos vós estaislimpos.”.12 Após haver lavado os pés dos seus dis-cípulos, tornou a vestir sua capa, voltou a sentar-se à mesa e lhes indagou: “Com-preendeis o que vos fi z?13 Vós me chamais ‘Mestre’ e ‘Senhor’, e estais certos, pois Eu, de fato, o sou.14 Dessa maneira, se de vós Eu Sou Se-nhor e Mestre e ainda assim vos lavei os pés, igualmente vós deveis lavar os pés uns dos outros.15 Dei-vos um exemplo para que, como Eu vos fi z, também vós o façais.16 Em verdade, em verdade vos afi rmo que nenhum escravo é maior do que seu senhor, como também nenhum enviado4

é maior do que aquele que o enviou.17 Portanto, se vós compreenderdes esse ensinamento e o praticardes, abençoa-dos5 sereis.

Jesus revela seu traidorMt 26.17-30; Mc 14.12-26; Lc 22.7-2318 Eu não estou falando a respeito de todos vós, pois conheço aqueles que escolhi; mas é necessário que isso ocorra para que se cumpra a Escritura: ‘Aquele que partilhava do meu pão levantou-se contra mim’.6

19 Estou vos revelando esses fatos antes que aconteçam, para que, quando acon-tecerem, vós possais crer que Eu Sou.7

20 Em verdade, em verdade vos asseguro: Quem receber aquele que Eu enviar, estará me recebendo e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.”.

1 Amou os seus de maneira extrema e completa, até às últimas conseqüências. “Amou-os até o fim” (em grego eis telos). Uma frase muito rica, que reúne os sentidos de “até o fim” e “de modo absoluto” (3.16). Os discípulos tiveram o privilégio de experi-mentar, de forma concentrada, o grande amor que Deus tem pela humanidade.

2 O plano da morte de Cristo (Deus) foi concebido no coração do Diabo. Judas Iscariotes foi um agente, manipulado e influen-ciado pelas forças satânicas. O Diabo tenta a todos com suas inúmeras propostas mentirosas, cujo fim é sempre a morte. Cabeao discípulo de Cristo seguir o comando do Espírito Santo, abraçar a Palavra e fugir das paixões da carne.

3 Ter comunhão com Jesus ou vida em Cristo.4 Mensageiro ou apóstolo (em grego apostellõ).5 Bem-aventurados ou felizes (Mt 7.24; Lc 6.47s; Mc 3.35; Mc 8.31).6 Sl 41.7 “Eu Sou” é mais uma alusão ao sentido oculto do nome inefável de Deus (Êx 3.14; Is 41.4). Ou, em grego, egô eimi

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21 Após haver dito essas palavras, pertur-bou-se Jesus em espírito e declarou: “Emverdade, em verdade vos afi rmo que umdentre vós me trairá.”.22 Os discípulos olharam uns para os outros, perplexos sobre a quem Ele se referia.23 Enquanto isso, um deles, o discípulo a quem Jesus amava, estava reclinado ao seu lado.24 Simão Pedro fez alguns sinais a esse, como querendo dizer: “Pergunta a quem Ele se refere.”.25 Então, aquele discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: “Senhor, quem é?”26 Respondeu-lhe Jesus: “É aquele a

q

quem Eu der este pedaço de pão molha-do no prato.”. E tendo molhado o pedaço de pão, deu-o a Judas Iscariotes, fi lho de Simão.27 Assim que Judas comeu o pão, Satanás entrou nele. Então disse-lhe Jesus: “O que tens para fazer, faze-o logo.”.28 Todavia, nenhum dos que estavam à mesa entendeu por qual razão Jesus lhe disse isso.29 Considerando que Judas era responsá-vel pelo dinheiro, alguns pensaram que Jesus havia dito: “Compra o necessário para a festa.”. Ou que desse algo aos po-bres.30 Judas, assim que comeu o pedaço de pão, saiu apressadamente. E era noite.

Os discípulos devem se amar31 Quando ele saiu, Jesus disse: “Agora o Filho do homem é glorifi cado, e Deus é glorifi cado nele.32 Sendo Deus glorifi cado nele, também Deus o glorifi cará nele mesmo; e o glori-fi cará muito em breve.33 Filhinhos, Eu ainda permanecerei convosco por pouco tempo. Vós me pro-curareis, mas como Eu disse aos judeus, agora vos digo: ‘para onde Eu vou, vós não podeis ir’.34 Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei; que dessa mesma maneira tenhais amor uns para com os outros.35 Através deste testemunho todos re-

conhecerão que sois meus discípulos: setiverdes amor uns pelos outros.”.

Pedro nega a Jesus por três vezes36 Simão Pedro pergunta a Jesus: “Se-nhor, para onde vais?”. Jesus respon-deu-lhe: “Para onde Eu vou não podesseguir-me agora; entretanto, me seguirásmais tarde.”.37 Inquiriu-lhe Pedro: “Senhor, porque não posso seguir-te agora? Pois eudarei a minha vida por ti!”.38 Jesus adverte-o: “Darás a tua vida pormim? Em verdade, em verdade te afi rmoque antes que o galo cante, tu me negarástrês vezes!

Jesus, o único caminho

14 Não permitais que o vosso cora-ção se preocupe. Credes em Deus,

crede também em mim.2 Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, Eu o teria dito a vós. Portanto, vou para preparar-vos lugar.3 E, quando Eu me for e vos tiver prepa-rado um lugar, virei de novo e vos levareipara mim, a fi m de que, onde Eu estiver,estejais vós também.4 Vós sabeis para onde Eu vou, e conhe-ceis o caminho.”.5 Indagou-lhe Tomé: “Senhor, não sabe-mos para onde vais; e como poderemos conhecer o caminho?”.6 Assegurou-lhes Jesus: “Eu Sou o Cami-nho, a Verdade e a Vida. Ninguém vemao Pai senão por mim.7 Se vós, de fato, tivésseis me conhecido,teríeis conhecido também a meu Pai; edesde agora vós o conheceis e o vistes.”.8 Solicitou-lhe Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso é sufi ciente para nós.”.9 Então Jesus ministrou-lhes: “Há tantotempo estou convosco, e tu não me tensconhecido, Filipe? Aquele que vê a mim,vê o Pai; como podes dizer: ‘mostra-noso Pai’?10 Não crês que Eu estou no Pai e que oPai está em mim? As palavras que Eu vosdigo não as digo em minha própria au-toridade; mas o Pai, que habita em mim,realiza as suas obras.11 Crede-me quando digo que estou no

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Pai e que o Pai está em mim; crede-o, ao menos por causa das mesmas obras.12 Em verdade, em verdade vos asseguro que aquele que crê em mim fará tambémas obras que Eu faço e outras maiores fará, pois eu vou para o meu Pai.13 E assim, seja o que for que vós pedirdes em meu Nome,1 isso Eu farei, a fi m de que o Pai seja glorifi cado no Filho.14 Se vós pedirdes algo em meu Nome, Eu o farei.15 Se vós me amais, obedecereis aos meus mandamentos.

Jesus promete o Espírito Santo16 E Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Advogado,2 a fi m de que esteja para sempre convosco,17 o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque Ele vive convosco e estará dentro de vós.18 Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós.19 Dentro de pouco tempo o mundo não me verá mais; entretanto, vós me vereis. Porque Eu vivo, e vós da mesma forma vivereis.20 E naquele dia, entendereis que Eu estou no meu Pai, e vós, em mim, e Eu, em vós.21 Aquele que tem os meus mandamen-tos e obedece a eles, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e Eu também o amarei e me revelarei a ele.”.22 Então, perguntou-lhe Judas (não o

Iscariotes): “Senhor, mas por que te reve-larás a nós e não ao mundo?”.23 Jesus respondeu-lhe: “Se alguém me ama, obedecerá à minha Palavra; e meu Pai o amará, e nós viremos até ele e faremos nele nosso lar.3

24 Quem não me ama não obedece às minhas palavras; e a Palavra que vós estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou.

O dom da paz de Cristo25 Esses ensinamentos vos tenho minis-trado enquanto ainda estou presente entre vós.26 Mas o Advogado, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu Nome, esse vos ensinará todas as verdades e vos fará lembrar tudo o que Eu vos disse.27 Deixo-vos a paz; a minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá. Não permitais que vosso coração se preocupe, nem vos deixeis amedrontar.28 Vós ouvistes o que Eu disse: ‘vou, mas retorno para vós.’ Se me amásseis, fi ca-ríeis alegres com o fato de que Eu vou para o Pai, pois o Pai é maior do que Eu.29 Eu vo-lo disse agora, antes que aconte-ça, para que, quando acontecer, creiais.30 Eu não vou continuar a falar muito mais convosco, pois o príncipe deste mundo está chegando. Ele não tem direi-to e nada pode sobre mim;4

31 ainda assim, é vital que o mundo saiba que Eu amo o Pai, e cumpro as ordens que o Pai me deu. Levantai-vose partamos daqui!

1 O cristão tem a mesma autoridade de Cristo para orar a Deus Pai. Por isso, deve eliminar toda petição egoísta e que não tragaglória ao Senhor (Mt 6.10; Mc 14.36).

2 A palavra “Advogado” vem do latim advocatus, que é o equivalente exato do adjetivo verbal passivo grego parakletos (1Jo 2.1), formado pelas palavras gregas para (ao lado de) e kletos (chamado). Usado de forma única por João para se referir aoEspírito Santo, e cujo amplo significado inclui: Conselheiro, Ajudador, Consolador, Encorajador. Quando Jesus se refere a outro(em grego allos – outro da mesma espécie e tipo), quer dizer que o outro Advogado é igual a Ele em tudo, mas viverá dentro doscrentes para orientá-los e defendê-los para sempre. Na edição King James de 1611, base desta edição em português, parakletos foi traduzido para o inglês como “Comforter” (Confortador ou Consolador). Nas edições KJ modernas aparece como “Helper”(Ajudador). O comitê de tradução da KJ para a língua portuguesa entendeu que o termo “Advogado” é o que mais se aproxima do sentido bíblico e original da palavra.

3 Lar ou morada (em grego mone conforme 14.2; que deriva-se de menõ “permanecer”). O Deus Triúno habita no crente.Quando a Trindade vive no crente; e, portanto, na Igreja, torna ambos templos santificados (1Co 3.16; 6.19).

4 Os discípulos de Cristo têm os privilégios do Reino de Deus, mas são odiados pelo Diabo e o mundo. O príncipe deste mundonão pode acusar Jesus de nada. Por isso, onde Jesus está, o pecado e o Diabo não podem permanecer.

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A videira verdadeira e seus ramos

15 Eu Sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor.1

2 Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, Ele retira; e todo que dá fruto, Ele limpa,2 para que dê mais fruto ainda.3 Vós já estais limpos, pela Palavra que Eu vos tenho transmitido.4 Permanecei em mim, e Eu permanece-rei em vós. Nenhum ramo pode produzir fruto por si mesmo, se não estiver ligado à videira. Vós igualmente não podeis dar fruto por vós mesmos, se não permane-cerdes unidos a mim.5 Eu Sou a videira, vós os ramos. Aquele que permanece em mim, e Eu nele, esse dará muito fruto; pois sem mim não po-deis realizar obra alguma.6 Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Então, esses ramos são juntados, lançados ao fogo e queimados.3

7 Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras4 permanecerem em vós, pedireis o que desejardes, e vos será concedido.8 O que glorifi ca meu Pai é que deis fruto5 em abundância; e assim sereis verdadeiramente meus discípulos.

A alegria dos discípulos9 Assim como o Pai me amou, Eu da mesma forma vos amei. Permanecei no meu amor.10 Se obedecerdes aos meus mandamentos,permanecereis no meu amor, exatamente

como Eu tenho obedecido às ordens domeu Pai e permaneço em seu amor.11 Tenho-vos dito essas palavras paraque a minha alegria permaneça em vóse a vossa felicidade6 seja completa.12 E o meu mandamento é este: que vosameis uns aos outros, assim como Eu vosamei.13 Não existe maior amor do que este: dealguém dar a própria vida por causa dosseus amigos.14 Vós sois meus amigos, se praticais oque Eu vos mando.15 Já não vos chamo servos, porque oservo não sabe o que faz seu senhor; masEu vos tenho chamado amigos, pois tudoo que ouvi de meu Pai Eu compartilheiconvosco.16 Não fostes vós que me escolhestes;ao contrário, Eu vos escolhi a vós e vosdesignei7 para irdes e dardes fruto, e fruto7

que permaneça. Sendo assim, seja o quefor que pedirdes ao Pai em meu Nome,Ele o concederá a vós. 17 Este é o meu mandamento: que vosameis uns aos outros.

O mundo odeia os discípulos18 Se o mundo8 vos odeia, sabei que,antes de vós, odiou a mim.19 Se fôsseis do mundo, ele vos amariacomo se pertencêsseis a ele. Entretanto,não sois propriedade do mundo; mas Euvos escolhi e vos libertei do mundo; poressa razão, o mundo vos odeia.

1 “Agricultor” ou, mais propriamente, vinicultor. A videira é usada no AT como ilustração do povo de Israel (Sl 80.8-19). Cristo eos filhos de Deus são o verdadeiro Israel (1.12).

2 Jesus faz um jogo de palavras. Em grego, kathairei (limpa) pode ser também a poda, que tem o sentido de “puros” oui“limpos” (katharoi).

3 Os ramos da videira nada produzem, só servem para dar e sustentar as uvas. Sua madeira seca para nada é útil, a não serpara queimar (Ez 15.1-8).

4 Em grego, logos é o ensino completo de Cristo e rhêmata são seus pronunciamentos individuais que compõem o todo. Overdadeiro discípulo tem suas orações atendidas e o Pai é glorificado (14.13).

5 O “fruto” é viver à semelhança de Jesus (Gl 5.22).6 A felicidade ou alegria eram consideradas no AT como características do tempo da salvação e da paz escatológica (Is 9.2;

35.10; 55.12; 65.18; Sf 3.14; Sl 126.3-5). Os discípulos de Cristo vivem a alegria da salvação e da nova vida, mesmo sob as ondasde sofrimento deste mundo (16.20-24; 14.28).

7 O verbo grego 7 tithenai (designar) exprime o estabelecimento de alguém em um cargo, assegurando-lhe todos os meios deio exercer eficazmente.

8 O mundo é o sistema econômico, político, cultural, tecnológico e religioso que determina o estilo de vida dos povos. Oscrentes são como Jesus: estrangeiros em sua própria terra.

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20 Recordai-vos das palavras que Eu vos disse: ‘nenhum escravo é maior do que o seu senhor’.9 Se me perseguiram, também vos perseguirão. Se obedeceram à minha Palavra, igualmente obedecerão à vossa orientação.21 Contudo, o mundo vos tratará mal por causa do meu Nome, pois eles não conhecem Aquele que me enviou.22 Se Eu não tivesse vindo e falado ao mundo, eles não seriam culpados. Mas, agora, eles não têm qualquer desculpa pelos pecados que cometeram.23 Aquele que me odeia, da mesma forma odeia a meu Pai.24 Se Eu não tivesse realizado entre eles obras que ninguém jamais fez, eles não seriam culpados de pecado. Mas agora eles viram e presenciaram tudo, e mesmoassim odiaram a mim e a meu Pai.25 Mas isso aconteceu para se cumprir o que está escrito na Lei deles: ‘odiaram-me sem razão’.10

26 Quando, porém, vier o Advogado que Eu enviarei para vós da parte do Pai, o Espírito da verdade que provém do Pai, Ele testemunhará a meu respeito.27 E vós, também, dareis testemunho, pois estais comigo desde o princípio.

Jesus prediz perseguições

16 Eu vos tenho prevenido sobre es-tes acontecimentos para que não

vacileis na fé.1

2 Eles vos expulsarão das sinagogas; e

mais: chegará o tempo quando quem vos matar pensará que está prestando um culto a Deus.3 Cometerão essas atrocidades porque não conhecem o Pai, tampouco a mim.4 Entretanto, tudo isso vos tenho dito para que, quando o momento chegar, vos lembreis de que Eu vos adverti. Não vos disse isso desde o começo, porque Eu estava convosco.

A obra do Espírito Santo5 Agora, porém, Eu vou para junto da-quele que me enviou, e nenhum de vós me pergunta: ‘Para onde vais?’6 Sei que, ao dizer-vos sobre o que ocorrerá, o vosso coração foi tomado de tristeza.7 Todavia, Eu vos asseguro que é para o vosso bem que Eu parta. Se Eu não for, o Advogado não poderá vir para vós; mas se Eu for, Eu o enviarei.8 Quando, então, Ele vier, convencerá2

o mundo do seu pecado, da justiça e do juízo.9 Do pecado, porque a humanidade não crê em mim;10 da justiça, porque vou para o Pai e vós não me vereis mais;3

11 e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está condenado.4

12 Eu ainda tenho muitas verdades que desejo vos dizer, mas seria demais para o vosso entendimento neste momento.13 No entanto, quando o Espírito da ver-

9 Escravo ou servo (em grego douloi), como em 13.16. O mundo reagirá contra Cristo, seus discípulos e sua Igreja com ódio,desconfiança, alienação, insensibilidade, perseguição, sordidez e crueldade.

10 O mundo já tinha a Palavra de Deus, mas não obedeceu a ela (Sl 35.19; 69.4).Capítulo 161 “Vacileis na fé”, “vos escandalizeis”. O termo grego skandalon designava uma cilada e, mais amplamente, tudo o que faz

alguém cair ou vacilar em suas convicções. Na linguagem bíblica, tem a ver com colocar a fé em risco. O verbo grego skandalizõfoi usado em 6.61 em relação à atitude de revolta dos habitantes de Cafarnaum com o discurso de Jesus.

2 O Espírito Santo vem como Advogado (em grego clássico e, depois, neotestamentário parakletos) para orientar e defenderos crentes; mas age como promotor, condenando os ímpios. O verbo grego elencho significa, no contexto, convencer de culpa,expor, refutar ou condenar.

3 A ressurreição de Jesus é a evidência da sua retidão e vitória, da justiça de Deus (17.25) e da justificação dos crentes (Rm4.25). A presença física de Jesus é substituída por sua presença através do Espírito Santo, nosso Advogado.

4 Manipulando os acusadores de Jesus, estava o príncipe deste mundo. A vinda do Espírito é o sinal de que, na Suprema Cortede Justiça de Deus, todo o processo e julgamento resultaram favoráveis a Jesus Cristo, contra o mundo e o espírito que governaa humanidade, cuja sentença é condenatória (12.31; 14.30).

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dade vier, Ele vos guiará em toda a ver-dade;5 porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos revelará tudo o que está por vir.14 O Espírito me glorifi cará, porque rece-berá do que é meu e vos anunciará.15 Tudo quanto o Pai tem, pertence a mim.Por isso é que Eu disse que o Espíritoreceberá do que é meu e o revelará a vós.

O sofrimento se tornará em alegria16 Mais algum tempo e já não me vereis mais; momentos depois, e me vereis de novo.”.17 Então, alguns dos discípulos comen-taram entre si: “O que Ele quer dizer comisto: ‘mais algum tempo e já não me vereismais’ e ‘momentos depois, e me vereis denovo’ e ‘porque vou para o Pai’?”.18 E se questionavam: “Que signifi ca ‘algum tempo’? Não compreendemos o que Ele quer dizer.”.19 Mas Jesus sabia o que desejavam per-guntar e lhes disse: “Vós vos questionais sobre o que Eu quis dizer quando decla-rei: ‘mais algum tempo e já não me vereis mais; momentos depois, e me vereis de novo’?20 Em verdade, em verdade Eu vos afi rmo que chorarão e se lamentarão, enquanto o mundo se alegrará. Vós vos entristece-reis, porém a vossa tristeza se transfor-mará em grande alegria.21 A mulher que está dando à luz sofredores e tem medo, porque chegou a sua hora; mas, quando o bebê nasce, ela já nãomais se lembra da angústia, por causa da alegria de ter vindo ao mundo seu fi lho. 22 Também vós agora estais tristes e apreensivos; este é um momento de sofrimento, mas Eu vos verei de novo, e

então muito vos alegrareis; e mais, nin-guém tirará a vossa alegria. 23 E naquele dia não me pedireis6 maisnada. Pois Eu verdadeiramente vos asse-guro que, tudo o que pedirdes ao Pai, Eleo concederá a vós, em meu Nome. 24 Até agora nada pedistes em meu No-me. Pedi e recebereis, para que a vossafelicidade seja completa.

A paz de Cristo vence as afl ições25 Essas verdades Eu vos tenho dito atra-vés de uma linguagem fi gurada; maso momento está chegando em que Eunão mais falarei de forma enigmática,mas vos direi claramente a respeito demeu Pai.26 Nesse dia, pedireis em meu Nome. Enão digo que orarei ao Pai por vós,27 pois o próprio Pai vos ama,7 porque me7

amastes e crestes que Eu vim de Deus.28 Eu vim do Pai e entrei no mundo;agora deixo o mundo e volto para o Pai.”.29 Então os discípulos de Jesus observa-ram-lhe: “Eis que agora falas claramente,e não através de uma linguagem enig-mática.30 Agora temos certeza de que tens plenoconhecimento de tudo, pois nem é ne-cessário que verbalizemos as perguntasque nos inquietam; por isso cremos que,verdadeiramente, vieste de Deus.”.31 Mas Jesus lhes respondeu: “Credesagora?32 Pois, chegará o momento, e realmente, a hora é esta, quando sereis espalhados cada um para sua família.8 Vós me deixa-reis sozinho. Mas Eu não estou desampa-rado, pois meu Pai está comigo.33 Eu vos preveni sobre esses aconteci-mentos para que em mim tenhais paz.

5 Jesus é a personificação da verdade (14.6). O Espírito orienta os crentes a entenderem e obedecerem à Verdade (Jesus). OAdvogado revelará (em grego anangelei – anunciar tudo), aos povos de todas as culturas e gerações, os aspectos mais profun-dos da mensagem do Messias.

6 Embora o verbo grego erotao signifique “fazer uma pergunta”, no NT ele é usado diversas vezes, como aqui, no sentidode “pedir algo a alguém”. É o início de uma nova ordem, em que o crente ora diretamente a Deus, em Nome de Jesus, sob aorientação do Espírito Santo (Mt 6.9; 7.7-11;Lc 11.2-13).

7 O Pai ama (em grego, philei – ter afeição, ser amigo) a todos que amam o Filho, assim como o Filho ama àqueles que amama seus discípulos (Mt 25.31ss).

8 “Cada um para sua casa” (em grego, eis ta idia), ou “para seu lado”. É o cumprimento da profecia registrada em Zc 13.7.

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Neste mundo sofrereis tribulações;9 mas tende fé e coragem! Eu venci o mundo.”.

Jesus clama ao Pai por sua hora

17 Tendo dito essas palavras aos seus discípulos, Jesus levantou seus

olhos para o céu e orou: “Pai, é chegada a hora. Glorifi ca1 o teu Filho, para que o teu Filho te glorifi que,2 assim como lhe outorgaste autoridade sobre toda a carne, para que conceda a vida eterna a todos os que lhe deste. 3 E a vida eterna é esta: que te conheçam a Ti, o Único Deus verdadeiro, e a Jesus

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Cristo, a quem enviaste.4 Eu te glorifi quei na terra, fi nalizando a obra que me entregaste para realizar.5 E agora, Pai, glorifi ca-me junto a Ti, com a glória que Eu tinha contigo antes que o mundo existisse.

Jesus ora ao Pai pelos discípulos6 Eu revelei o teu Nome àqueles2 que do mundo me deste. Eles eram teus; Tu os confi aste a mim, e eles têm obedecido à tua Palavra.7 Agora, eles entendem que tudo o que me deste vem de Ti.8 Pois Eu compartilhei com eles as pa-lavras que me deste, e eles as aceitaram. Eles reconheceram, de fato, que vim de Ti e creram que me enviaste.9 Eu rogo por eles. Não estou orando pelo

mundo, mas por aqueles que me deste, pois são teus.10 Tudo o que tenho é teu, e tudo o que tens é meu; e neles Eu Sou glorifi cado.11 Agora, não fi carei muito mais no mun-do, mas estes ainda estão no mundo, e Eu vou para Ti. Pai santo, protege-os em Teu Nome,3 o Nome que me deste, para que sejam um, assim como somos um.12 Enquanto Eu estava com eles, protegi-ose os defendi em teu Nome. E nenhum de-les se perdeu, exceto o fi lho da perdição,4para que se cumprisse a Escritura.13 Mas, agora, vou para Ti. Digo dessa forma, enquanto ainda estou no mundo, para que eles recebam a minha plena felicidade em seus corações.14 Eu lhes tenho transmitido a tua Pala-vra, e o mundo os odiou, porque eles não pertencem ao mundo, como Eu não sou do mundo.15 Não oro para que os tires do mundo, mas sim, para que os protejas do prínci-pe deste mundo.5

16 Eles não são do mundo, como também Eu não sou.17 Santifi ca-os pela tua verdade; a tua Palavra é a verdade.18 Da mesma maneira como me enviaste ao mundo, Eu os enviei6 ao mundo.19 Em benefício deles Eu me consagro,7

para que igualmente eles sejam consa-grados pela verdade.

9 “Tribulação” (em grego, thlipsis – aflição, opressão, adversidades). O cristão fiel está em Cristo e, portanto, desfruta da mesmapaz que há em Jesus. É capaz de se alegrar em meio às provações (Rm 8.17; Fp 1.28) e de ter bom ânimo para vencer o mundo,

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como Jesus venceu.Capítulo 171 A temática dos discursos do cenáculo é concluída nesta “oração sacerdotal”, pois é neste momento que Jesus se consagra

para o sacrifício em que Ele é, simultaneamente, sacerdote e vítima. Jesus sabe que só o Pai pode glorificá-lo e a cruz será o instrumento dessa glorificação.

2 Jesus é o revelador do Pai aos discípulos, um grupo escolhido de pessoas (em grego anthrôpo) que comprovaram serem deJesus, crendo e obedecendo à Palavra de Deus em Cristo.

3 No AT, o nome de Deus denota o seu caráter, poder e majestade (Sl 20.1; Sl 54.1; Pv 18.10). Deus guarda os seus, aquelesnos quais o Pai colocou seu selo (Cristo, nosso Salvador e Advogado).

4 Sl 41.9-12; 109.4-13. “O filho da perdição ou destruição” era Judas Iscariotes; esse mesmo título será dado ao anticristo (2Ts 2.3).

5 Todo o poder do mal, que ameaça a humanidade, é personalizado no “príncipe deste mundo” ou “maligno” (12.31; 14.30;16.11; Mt 6.13; 13.19,38; 2Ts 3.3; Ef 6.16; 1Jo 2.13,14; 3.12; 5.18,19).

6 Jesus fala do futuro próximo (20.21). A graça eletiva de Deus não é dada de modo a fazer perder os “não eleitos”, mas com opropósito de que, através dos eleitos, aqueles recebam a bênção salvadora de Deus em Cristo, assim como Abraão foi escolhidopara abençoar o mundo (Gn 12.2,3; Gl 3.6-9,14; Is 42.1; 53.11,12).

7 Para que os discípulos pudessem ser devidamente separados para o ministério, Jesus, o Justo, precisava sacrificar-se volun-tariamente (Hb 10.1-14). Jesus é a perfeita revelação da verdade.

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Jesus ora ao Pai pelos cristãos20 Não oro somente por estes discípulos, mas igualmente por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da mensa-gem8 deles,21 para que todos sejam um, Pai, como Tu estás em mim e Eu em Ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste.22 Eu lhes tenho transferido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos:23 Eu neles e Tu em mim, a fi m de que sejam aperfeiçoados9 na unidade, pa-ra que o mundo conheça que Tu me enviaste e os amaste, como também amaste a mim.24 Pai, Eu desejo que os que me deste estejam comigo onde Eu estou e contem-plem10 a minha glória, a glória que me outorgaste porque me amaste antes da criação do mundo.25 Pai justo, o mundo não te tem conhe-cido; Eu, porém, te conheci, assim como estes entenderam que Tu me enviaste.26 Eu lhes dei a conhecer11 o teu Nome e ainda continuarei a revelá-lo, a fi m de que o amor com que me amaste esteja neles, e Eu neles esteja.”.

Jesus é traído e presoMt 26.47-56; Mc 14.43-50; Lc 22.47-53

18 Tendo Jesus partilhado essas pala-vras, saiu acompanhado por seus

discípulos e atravessou o vale de Qui-drom.1 Do outro lado havia um olival,onde entrou com eles.2 E Judas, o traidor, também conheciaaquele lugar, pois freqüentemente Jesusse reunia ali2 com seus discípulos.3 Então, tendo Judas guiado um desta-camento3 de soldados romanos e algunsguardas enviados pelos chefes dos sacer-dotes e fariseus, chegou a esse lugar comlanternas, tochas e armas.4 Entretanto, tendo Jesus pleno conheci-mento de tudo o que viria sobre Ele, saiuao encontro deles e lhes perguntou: “Aquem procurais?”.5 Responderam-lhe: “A Jesus de Nazaré!”.Ao que lhes respondeu Jesus: “Eu Sou4

Jesus.”. E Judas, aquele que o traiu, estavacom eles.6 Assim que Jesus lhes disse: “Eu Sou Jesus”, eles recuaram atônitos e caíram no chão.7 Então Jesus lhes perguntou de novo:“A quem procurais?”. E eles disseram: “AJesus de Nazaré.”.8 Jesus lhes exclamou: “Eu já vos disseque Eu Sou Jesus. Por isso, se é a mimque buscais, deixai estes homens segui-rem seus caminhos.”. 9 Isso aconteceu para que se cumprissemas palavras que Ele dissera: “Não perdinenhum de todos os que me deste.”.5

10 Nesse momento, Simão Pedro, queportava uma espada, puxou-a da bainhae feriu o servo do sumo sacerdote, de-

8 O amor e a unidade entre os discípulos por causa de Cristo, em torno da verdade, confirmariam publicamente o relaciona-mento deles com Jesus e deste com o Pai, evangelizando o mundo (13.35; 1Jo 4.14).

9 Esta é uma das obras do Espírito Santo no crente (1Jo 4.13).10 Os discípulos e a Igreja glorificada, unidos completamente a Cristo no futuro, contemplarão a glória do Senhor (At 7.55,66;

2Co 4.18; 1Co 13.12).11 Tem a ver com proclamação e ensino da verdade (Sl 22.22; Hb 2.12).Capítulo 181 “Quidrom” (Cedrom, em outras versões), é a exata expressão hebraica, cuja raiz significa “escuro”, da qual vem o nome de

uma comunidade árabe, chamada “Quedar”, por suas tendas negras (Ct 1.5).2 Marcos (14.32) e Mateus (26.36) chamam este lugar de Getsêmani, “o lugar da prensa de azeite”, onde, durante a Semana

Santa (Páscoa), Jesus se encontrou com seus discípulos (Lc 21.37).3 Um destacamento ou pelotão era composto, em geral, por 760 homens da infantaria e 260 da cavalaria para justificar a presença

de um oficial comandante (18.12; At 21.31). Os judeus esperavam resistência armada, por isso pediram ajuda aos romanos.4 Jesus apresenta-se com seu nome divino egô eimi, o nome do Pai (Êx 3.13,14).5 Embora a profecia sobre a dispersão dos discípulos (16.32) também estivesse sendo cumprida, João destaca a profecia

sobre a proteção espiritual que acompanhará seus discípulos para sempre (17.12).

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cepando-lhe a orelha direita.6 E o nome daquele servo era Malco.7

11 Então Jesus ordenou a Pedro: “Embai-nha a tua espada! Acaso não haverei de beber o cálice8 que o Pai me deu?”.

Jesus diante das autoridades12 Assim, o destacamento de soldados como seu comandante e os guardas dos judeusprenderam Jesus e o amarraram.13 E o conduziram primeiramente a Anás;9 pois era sogro de Caifás, sumo sacerdote naquele ano.14 Ora, Caifás era quem havia sugerido aos judeus ser conveniente morrer um homem pelo povo.

Pedro nega ser discípulo de CristoMt 26.69-75; Mc 14.66-72; Lc22.54-6215 Simão Pedro e outro discípulo esta-vam seguindo Jesus. Por ser conhecido do sumo sacerdote,10 este discípulo en-trou com Jesus no pátio da casa do sumo sacerdote.16 Entretanto, Pedro teve de fi car esperan-do do lado de fora da porta. O outro discí-pulo, que era conhecido do sumo sacerdo-te, voltou, falou com a criada encarregada da porta e levou Pedro para dentro.17 Então, a jovem criada, encarregada da porta, perguntou a Pedro: “Não és, tu também, um dos discípulos deste homem?” Pedro respondeu: “Eu não sou.”.18 Fazia frio, e os servos e os guardas es-tavam ali; tendo acendido uma fogueira, esquentavam-se. E Pedro estava em pé entre eles, aquecendo-se também.

Jesus diante do sumo sacerdote19 Então, o sumo sacerdote interrogou a

Jesus sobre seus discípulos e sua doutrina.20 Declarou-lhe Jesus: “Eu tenho falado francamente ao mundo; ensinei freqüen-temente nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se reúnem, e nada disse em segredo.21 Por que me interrogas? Pergunta àque-les que me ouviram o que lhes falei; eles bem sabem o que Eu disse.”.22 Assim que Jesus disse isso, um dos guardas que ali estavam bateu-lhe for-temente no rosto, com a palma da mão, dizendo: “Isso é maneira de responder ao sumo sacerdote?”23 E Jesus respondeu ao guarda: “Se Eu disse algo de mal, revela o mal. Mas se disse a verdade por que me agrediste?”.24 Sendo assim, Anás mandou Jesus, de mãos amarradas, a Caifás, o sumo sacerdote.

Cristo é negado pela terceira vezMt 26.71-75; Mc 14.69-72; Lc 22.58-6225 Enquanto isso, Pedro estava em pé, se aquecendo, quando alguém lhe pergun-tou: “Não és, tu também, um dos discí-pulos dele?”. Pedro nega dizendo: “Não, eu não sou!”.26 Um dos criados do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro havia decepado a orelha, perguntou: “Não te vi no olival com Ele?”.27 Mais uma vez Pedro negou, e naquele exato momento, um galo cantou.

Jesus diante da corte de PilatosMt 27.1,2; Mc 15.1; Lc 23.128 Então os judeus levaram Jesus da casa de Caifás para o Pretório.11 E já estava amanhecendo. Mas eles não entraram

6 Lucas informa-nos que Jesus ainda curou Malco (Lc 22.49,50) e evitou que os demais discípulos puxassem suas espadas.7 João tinha grande familiaridade com o sumo sacerdote e sua criadagem (18.16), por isso conhecia Malco.8 Jesus estava convicto quanto a fazer a vontade do Pai e cumprir sua missão até às últimas conseqüências (Mt 26.37-39).9 Anás tinha sido sumo sacerdote de 6 a 15 a.C, porém mesmo como ex-sumo sacerdote ostentava grande poder, além dos

seus cinco filhos também terem sido sacerdotes.10 O sumo sacerdote aqui é o próprio Anás, que tinha esse título no sentido emérito (Lc 3.2). Quanto ao “outro”, parece ser

um discípulo de Jerusalém com algum parentesco com o sumo sacerdote; devido ao uso da palavra grega gnôstos (conhecido íntimo, parente).

11 O Pretório era o quartel-general (quando em acampamento) do governador militar romano, ou, como neste caso, uma desuas residências (18.33).

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no Pretório, para evitar a contaminação cerimonial,12 pois desejavam comer a Páscoa.29 Assim, Pilatos saiu para falar com eles e perguntou-lhes: “Que acusação trazeis contra este homem?”.30 Responderam-lhe: “Se Ele não fosse um malfeitor, não o teríamos entregado a ti.”.31 Entretanto, replicou-lhes Pilatos: “Le-vai-o vós mesmos e julgai-o conforme a vossa Lei.” Ao que lhe contestaram os judeus: “Mas nós não somos autorizados a matar ninguém.”.32 Isso ocorreu para que se cumprissem as palavras que Jesus havia dito, reve-lando o tipo de morte que estava para sofrer.33 Então Pilatos entrou novamente no Pretório, chamou a Jesus e interrogou-lhe: “És tu o rei dos judeus?”.13

34 Jesus lhe respondeu: “Essa questãoé tua, ou outros te falaram a meu res-peito?”.35 Replicou-lhe Pilatos: “Porventura sou judeu? A tua própria gente e os chefes dos sacerdotes é que te entregaram a mim. Que fi zeste?”.36 Ao que lhe afi rmou Jesus: “Meu Reino não é deste mundo. Se fosse, os meus servos lutariam para impedir que os judeus me prendessem. Mas, agora, meu Reino não é daqui.”.37 Contudo, Pilatos lhe inquiriu: “Então,tu és rei?”. Ao que lhe respondeu Jesus:“Tu dizes acertadamente que sou rei.

Por esta causa Eu nasci e para isto vim ao mundo: para testemunhar da verdade. Todos os que pertencem à verdade ouvem a minha voz.”. 38 Então Pilatos questionou a Jesus: “Queé a verdade?”. E assim que disse isso, saiude novo para onde estavam reunidosos judeus, e disse-lhes: “Não encontreiqualquer falta neste homem.

Jesus no lugar de um bandido39 Entretanto, sei que é tradição14, entrevós, que devo dar liberdade a um pri-sioneiro por ocasião da Páscoa. Sendoassim, quereis que eu vos liberte o Reidos Judeus?”.40 Então os judeus exclamaram outravez, dizendo: “Não! Esse homem não,mas sim Barrabás!”. Ora, Barrabás eraum conhecido bandido.15

Jesus é humilhado e espancado

19 Sendo assim, Pilatos tomou a Jesus e o mandou fl agelar.

2 Os soldados trançaram uma coroa deespinhos e a puseram na cabeça de Jesus;e ainda vestiram-no com uma capa depúrpura.1

3 Aproximavam-se dele e diziam: “Salve,rei dos judeus!”. E esbofeteavam2 seurosto.4 Mais uma vez, Pilatos saiu e afi rmouaos judeus: “Vede! Eu o trago à vossapresença, para saberdes que não encon-tro neste homem motivo algum que opossa condenar.”.

12 Os cordeiros pascais tinham de ser sacrificados no templo, à tarde do mesmo dia em que haviam nascido. Seriam comidospelas pessoas que se mantivessem cerimonialmente puras, logo após o pôr-do-sol. O contato com a presença de fermento nacasa de um gentio poderia excluir um judeu da Páscoa (Êx 12.19; 13.7). João contrasta esse zelo dos judeus com o que estãofazendo ao Filho de Deus.

13 Com a morte de Herodes em 4 a.C., a Judéia viveu um clima político de anarquia, em que qualquer rebelde podia se autoprocla-mar rei. Se Jesus fosse um rei desse tipo, teria havido uma batalha sangrenta, quando os soldados vieram prendê-lo no olival.

14 Uma passagem na Mishna (lei escrita dos judeus) indica que o cordeiro pascal podia ser sacrificado em favor de pessoasque não teriam condições de comê-lo. A lista incluía um prisioneiro gentio.

15 “Bandido” ou “salteador” (em grego lestes, assaltante de estrada). O termo significa “um rebelde zelote”. O mesmo termo éusado em Mc 15.27 e Mt 27.38 para identificar os dois homens crucificados com Jesus. Barrabás era líder de bandidos (em gregoarchilestes) Mc 15.7; e muito conhecido (em grego episêmos) Mt 27.16.

Capítulo 191 Para ridicularizar a Jesus, os soldados o vestiram com uma capa do exército, à guisa de manto real. Teceram uma coroa de

ramos de tamareira, cujos espinhos causavam dores terríveis.

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Pilatos cede ao clamor dos judeus5 Então, assim que Jesus veio para fora, usando a coroa de espinhos e a capa de púrpura, disse Pilatos ao povo: “Eis o homem!”.6 Ao verem-no, os chefes dos sacerdotes eos guardas gritaram: “Crucifi ca-o! Cruci-fi ca-o!”. Mas Pilatos contestou-os dizen-do: “Levai-o vós outros e crucifi cai-o. Poiseu não encontro nele culpa alguma.”.7 Responderam-lhe os judeus: “Nós te-mos uma Lei e, conforme essa Lei, Eledeve morrer, pela blasfêmia de se declararFilho de Deus.”.8 Entretanto, ao ouvir essa alegação, Pila-tos fi cou ainda mais atemorizado,9 e, voltando para dentro do Pretório, interrogou a Jesus: “De onde vens tu?”. Todavia, Jesus não lhe deu qualquer resposta.10 Então Pilatos o advertiu: “Tu te negas a responder-me? Não sabes que eu tenho autoridade para te libertar e poder para te crucifi car?”.11 Ao que Jesus lhe afi rmou: “Não terias qualquer poder sobre mim, se não te fosse dado de cima. Por isso, aquele que me entregou a ti é culpado de um pecado ainda maior.”.3

12 Desse momento em diante, Pilatos procurou libertar Jesus, mas os judeus

o ameaçaram exclamando: “Se deixares esse homem em liberdade, não és amigo de César; pois todo aquele que se faz rei é contra César.”.13 Quando Pilatos ouviu esse clamor dos judeus, trouxe Jesus para fora, no tribu-nal, e sentou-se no trono do juiz,4 em um lugar conhecido como Pavimento de Pedra, mas em aramaico é Gábata.14 E esse era o Dia da Preparação, a sexta-feira da semana da Páscoa, por volta da hora sexta,5 quando, então, Pilatos decla-rou aos judeus: “Eis aqui o vosso rei!”. 15 Eles porém, exclamavam: “À morte! À

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morte! Crucifi ca-o!”. Então, Pilatos lhes perguntou: “Devo crucifi car o vosso rei?” E os chefes dos sacerdotes lhe responde-ram: “Não temos rei, senão César!”.6

16 Diante disso, Pilatos entregou Jesus para ser crucifi cado. Em seguida os carrascos se apoderaram de Jesus e o levaram para fora.

A crucifi cação de CristoMt 27.32-44; Mc 15.21-32; Lc 23.26-4317 E assim, carregando sua própria cruz, Jesus saiu para um lugar chamado Calvá-rio,7 Gólgota em aramaico,7

18 onde o crucifi caram, e com Ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no centro. 19 Então Pilatos mandou escrever uma

2 Os soldados se perfilavam e cada um, zombando, o agredia com um violento tapa no rosto (em grego rhapisma).3 Pilatos percebe em Jesus o que os romanos chamavam de theios anêr (homem com qualidades divinas) e tenta camuflar suar

insegurança com autoritarismo. Todo poder tem procedência divina (em grego anothen – de cima) Pv 8.15. O verbo “entregar”(em grego paradidomi) foi usado para descrever o ato traidor de Judas, e agora, de Caifás, que recebera de Deus, privilégios eresponsabilidades de um sumo sacerdócio.

4 O tribunal era uma plataforma mais alta (em grego bêma) com uma cadeira vistosa em que o magistrado romano se sentavaquando exercia suas funções judiciais. Pilatos teria presidido todo o julgamento desse local, não fosse a insistência dos religiosos judeus para não entrarem no Pretório a fim de evitarem a contaminação.

5 Próximo ao meio-dia. Na época, romanos, gregos e judeus, calculavam as horas a partir do nascer do sol. Parasceve (emgrego judaico, paraskevê) recebeu o significado de “véspera do sábado”; sexta-feira.

6 Pilatos conseguiu fazer os judeus mais religiosos exclamarem que não tinham outro rei, senão o imperador romano César. Mas João enfatiza que coube ao próprio Pilatos proclamar para a História que Jesus é o Rei. Além disso, João vê um profundosignificado nas muitas coincidências ocorridas; por exemplo, na época e hora do julgamento, condenação e execução de Jesus.Segundo a Mishna (lei codificada e escrita dos judeus), quando a Páscoa caía na véspera de um sábado, o holocausto da tarde era realizado às 12h30 e oferecido às 13h30 (duas horas antes do tradicional); depois disso, era sacrificado o cordeiro pascal.

7 “Calvário” vem do latim calvaria e significa caveira, o uso desse termo procede da Vulgata. No original, a expressão é aramaicagulgotta, mas em hebraico é gulgoleth. Os “pais da Igreja” viram, no ato de Isaque carregando a lenha para o holocausto (Gn 22.6),o antítipo (tipo ou figura) de Jesus carregando sua cruz. Ao afirmar que o próprio Jesus carregou sua cruz, João não contradiz osdemais Evangelhos (Sinóticos), ao contrário, ele enfatiza que Jesus foi senhor da situação, o tempo todo. Embora conduzido para olocal da execução, Ele caminha com seus carrascos como quem está cumprindo uma missão e não como vítima relutante.

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placa8 e pregá-la no alto da cruz, com os seguintes dizeres:

JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS.

20 Muitos dos judeus leram a placa deJesus, pois o lugar em que Ele foi cruci-fi cado fi cava próximo da cidade, e a placa estava escrita em aramaico, latim e grego.21 Os chefes dos sacerdotes dos judeus discordaram de Pilatos, dizendo: “Não escrevas: ‘O Rei dos Judeus’, mas sim que esse homem se dizia rei dos judeus.”.22 Todavia Pilatos lhes asseverou: “O que escrevi, escrevi.”.9

23 Após haver crucifi cado Jesus, os solda-dos tomaram-lhe as vestes e as dividiram em quatro partes, uma para cada um de-les, sobrando a túnica. Esta, entretanto, era sem costura, tecida numa única peça, de alto a baixo.24 Comentaram, assim, uns com os ou-tros: “Não convém rasgá-la, mas vamos decidir, por sorteio, quem fi cará com ela.”. Isso aconteceu para que se cumpris-se a Escritura ao declarar: “Dividiram as minhas vestes entre si, e tiraram sortes pela minha túnica.”.10

E assim procederam os soldados.

A mãe e os amigos junto à cruz25 Próximo à cruz de Jesus estavam sua

mãe, a irmã dela, Maria, mulher de Clo-pas, e Maria Madalena.26 Quando Jesus, contudo, viu sua mãee junto a ela o discípulo a quem Eleamava, disse à sua mãe: “Mulher, eis aíteu fi lho!”.11

27 Em seguida, disse Jesus ao seu discí-pulo: “Eis aí a tua mãe!”. E daquele mo-mento em diante, o discípulo amado arecebeu como parte de sua família.12

Está tudo consumadoMt 27.45-56; Mc 15.33-37; Lc 23.44-4628 Mais tarde, sabendo Jesus que tudo jáestava concluído, para que a Escritura secumprisse, disse: “Tenho sede!”13

29 Próximo havia um cântaro cheio devinagre; então embeberam uma esponjacom vinagre, a colocaram na ponta deuma vara de hissopo,14 e a ergueram até àboca de Jesus.30 Então, assim que experimentou ovinagre, exclamou Jesus: “Está consuma-do!”. E, inclinando a cabeça, entregou seuespírito.15

Jesus foi traspassado31 E, porque era o Dia da Preparação daPáscoa, véspera de um Sábado especial-mente sagrado,16 os judeus não admitiamque os corpos fi cassem na cruz durante

8 Era costume escrever numa placa o crime do qual o condenado fora culpado e afixá-la sobre a cabeça ou prendê-la ao redordo pescoço. “Placa” em latim é titulus. Pilatos pensou em uma frase que irritasse os sacerdotes judeus, e ordenou a confecção daplaca de Jesus nas principais línguas do mundo na época: o hebraico (ou aramaico), língua comum dos judeus da Palestina; olatim, língua do poder militar romano; e o grego, língua de comunicação cultural entre as províncias orientais do Império Romanoe o restante do mundo.

9 João ressalta o caráter simbólico da inscrição na placa: é pela cruz que Jesus se torna o Rei Messiânico, e esse fato deve seranunciado ao mundo. Os sumo sacerdotes judeus não conseguiram compreender o que estava ocorrendo, e Pilatos transformou-se em “profeta inconsciente” ao reafirmar majestosamente: “O que escrevi, escrevi” (o que disse, está dito para sempre).

10 (Sl 22.18). A túnica sem costura (em grego chitôn) tem sido interpretada de maneira alegórica, desde Josefo e Fílon, comouma referência à unidade dos homens em Cristo. João admira-se da riqueza de acontecimentos relacionados ao que Jesus haviapredito e às profecias registradas nas Escrituras.

11 O vocativo grego gynai usado por Jesus ao dirigir-se à sua mãe é de difícil tradução. Entretanto, como em 2.4, é claro o amorie respeito de Jesus por sua mãe.

12 A tradição da Igreja indica que o “discípulo amado” foi João, o autor deste Evangelho; e que José, marido de Maria, jáhavia morrido.

13 Jesus tinha consciência de que estava cumprindo mais uma profecia (Sl 69.21; Sl 22.15).14 “Vara de hissopo”: planta de folhas aveludadas, que crescem em varas com cerca de um metro, identificada com a manjedoura e

usada nas aspersões rituais (Lv 14.4; Sl 51.9). É mais um simbolismo litúrgico-pascal, que João faz questão de destacar (Êx 12.22).p p q jq

15 Jesus “entregou” seu espírito, morrendo voluntariamente (10.18). Não como apenas mais um mártir da História, mas comosacrifício aceitável a Deus (Is 53.10).

16 Era a coincidência do sábado da semana com o dia da Páscoa, que ainda ocorre no calendário judaico, de tempos emtempos. Segundo a Lei dos judeus, um corpo não poderia ficar exposto em um poste depois do pôr-do-sol (Dt 21.22ss).

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o sábado. Pediram, então, a Pilatos que mandasse quebrar as pernas dos crucifi -cados e retirar seus corpos.32 Sendo assim, vieram os soldados e quebraram as pernas do primeiro e em seguida do outro homem que com Jesus haviam sido crucifi cados.33 Mas quando se aproximaram de Jesus e viram que Ele já estava morto, não lhe quebraram as pernas.34 Contudo, um dos soldados perfurou o lado de Jesus com uma lança, e imediata-mente brotou sangue e água.17

35 E aquele que a isso presenciou, disso deu seu testemunho; e o seu depoimento é verdadeiro. Pois ele está consciente de que está relatando a verdade para que também vós creiais.18

36 E todas essas coisas ocorreram para que se cumprisse a Escritura: “Nenhum dos seus ossos será quebrado.”19

37 E mais ainda, como diz a Escritura emoutra passagem: “Olharão para Aquele a quem traspassaram.”.20

Jesus é sepultadoMt 27.57-60; Mc 15.42-46; Lc 23.50-5438 Algum tempo mais tarde, José de Ari-matéia, que era um discípulo de Jesus, ainda que secretamente, por causa do medo que tinha dos judeus, rogou a Pi-latos que lhe permitisse tirar o corpo de

Jesus. E Pilatos concedeu a ele permissão. Então José de Arimatéia veio e retirou o corpo de Jesus.39 Nicodemos, aquele que havia dialo-gado com Jesus durante a noite, veio também, trazendo cerca de cem libras21

de uma mistura de mirra e aloés.40 Assim, pegaram o corpo de Jesus e o envolveram em faixas de linho, juntando as especiarias, conforme a tradição ju-daica22 de sepultamento.41 No lugar onde Jesus fora crucifi cado, havia um jardim, e no jardim, um sepul-cro novo, onde ninguém jamais havia sido colocado.42 E assim, sepultaram Jesus ali, por ser o Dia da Preparação dos judeus, e conside-rando que o sepulcro fi cava próximo.23

Jesus não está no sepulcroMt 28.1-10; Mc 16.1-8; Lc 24.1-12

20 Ao amanhecer o primeiro dia da semana,1 estando ainda meio

escuro, Maria Madalena foi ao sepulcro e viu que a pedra que fechava a entrada havia sido removida.2 Então saiu correndo em busca de Si-mão Pedro e do outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: “Eles tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o colocaram!”.3 Imediatamente Pedro saiu em direção

17 Essa é uma das evidências da completa humanidade de Jesus e que, simbolicamente, aponta para a água batismal e ovinho-sangue da Ceia (1Jo 1.7; 5.6-8).

18 Conforme a tradição judaica, João poderia ter considerado o aval de uma segunda testemunha, para reconhecer a totalveracidade dos fatos narrados. É possível que Tiago, irmão de João, martirizado por Herodes Agripa em 44 a.D. (At 12.2), tenhasido co-autor desse testemunho.

19 Êx 12.46; Nm 9.12; Sl 34.20.20 Assim como percebe o cumprimento de uma profecia no fato de as pernas de Jesus não terem sido quebradas, João cita o texto

profético de Zc 12.10, ao ver os soldados perfurarem o lado de Jesus. Leia Zc 9 a 14 e note a alternância dos pronomes “eu” e “ele”.21 Ou cerca de 34 quilos. A libra (em grego litra) equivale a pouco mais de 300 gramas. Tanto José de Arimatéia como Nicode-

mos eram ricos, fariseus e membros do supremo tribunal dos judeus.22 Os romanos só entregavam o corpo de um executado aos parentes mais próximos, entretanto, jamais quando a condenação

fosse por sedição, como no caso de Jesus. Por outro lado, mesmo que essas especiarias não fossem tão caras quanto o “nardopuro” usado por Maria de Betânia (12.3-5), uma quantidade tão grande só era vista em sepultamentos da realeza.

23 O tempo urgia, foi preciso fazer o sepultamento de Jesus muito rápido, pois o pôr-do-sol daria início ao sábado. Constantino descobriu esse túmulo em 325 a.D. e o chamou de “edícula”, que significa “caverna”.

Capítulo 201 O domingo, “dia do Senhor” (Ap 1.10), pois Cristo ressuscitou nesse dia (At 20.7; 1Co 16.1,2). Maria Madalena ou Magdala,

por ser dessa cidade, localizada no lado ocidental do lago da Galiléia; mulher de posses, tornou-se uma discípula líder desde quefoi salva por Jesus (Lc 8.2; 23.49,55; 24.10).

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ao sepulcro, acompanhado pelo outrodiscípulo.4 Ambos corriam juntos, entretanto, o outro discípulo correu mais do que Pe-dro e chegou primeiro ao sepulcro.5 E inclinando-se, viu as faixas de linho ali, mas não entrou.6 Em seguida, chegou Simão Pedro, que vinha logo atrás dele. Pedro entrou no sepulcro e também viu as faixas de linho,7 bem como o lenço2 que estivera em volta da cabeça de Jesus, e que não estava com as faixas de linho, mas dobrado à parte.8 Então o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, também entrou. Este viu e creu.9 Contudo, eles ainda não haviam en-tendido que, de acordo com a Escritura,3

era necessário que Jesus ressuscitasse dos mortos. 10 E assim foram os discípulos outra vez para suas casas.4

Jesus ressuscitou e vive!11 Por outro lado, Maria continuava do lado de fora do sepulcro, chorando. En-quanto chorava, inclinou-se, para olhar dentro do sepulcro,12 e viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.13 Então os anjos perguntaram: “Mulher, por que choras?”. Ela lhes respondeu:

“Porque levaram o meu Senhor, e não seionde o colocaram.”.14 Assim que disse isso, olhou para tráse viu Jesus em pé, mas não reconheceuque era Ele.15 E Jesus perguntou-lhe: “Mulher,5 porque estás chorando? A quem procuras?”.Maria, imaginando que fosse o jardinei-ro, rogou-lhe: “Se tu o tiraste daqui, dize-me onde o colocaste, e eu o levarei.”.16 Então Jesus a chamou: “Mariâm!”Ela, voltando-se, exclamou também emaramaico: “Rabôni!” (que quer dizerMestre).6

17 Recomendou-lhe Jesus: “Não me segu-res, pois ainda não voltei para o Pai. Mas vai, e ao encontrar meus irmãos, dize-lhes assim: ‘estou ascendendo ao meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus’.”.18 E assim foi Maria Madalena e anunciou aos discípulos: “Eu vi o Senhor!”. E con-tou-lhes tudo o que o Senhor lhe dissera.

Cristo abençoa com seu EspíritoLc 24.36-4919 Então, ao entardecer daquele dia,o primeiro da semana, os discípulosestavam reunidos a portas trancadas,por medo das autoridades judaicas.Jesus apareceu, pôs-se no meio deles edisse: “A paz seja convosco!”.7

20 Enquanto falava aos discípulos, mos-trou-lhes as mãos e o lado. Então os dis-cípulos fi caram muito alegres ao veremo Senhor.

2 A palavra grega traduzida por “lenço” (soudarion) é um estrangeirismo procedente do latim (sudarium) e identifica uma peçade pano usada para enxugar o suor (Lc 19.20; At 19.12) do rosto e envolver a cabeça dos mortos, como ocorreu com Lázaro(11.44).

3 A Escritura (em grego, graphê).4 “Para casa” (em grego, pros autous – “para eles”), praticamente sinônimo de eis ta idia (19.27).5 “Mulher” (em grego gynai, vocativo de gynê) era uma forma gentil e respeitosa de se dirigir a uma jovem senhora; algo como

“cara senhora” ou “madame”.6 Maria (em aramaico Mariâm). Ela o saúda em aramaico (Rabôni – Mestre), uma forma mais enfática e honrosa do que oi

tradicional “rabino”. O mesmo título dado por Bartimeu a Jesus em Mc 10.51. A atitude de Maria em cuidar, logo ao alvorecer,para que o corpo de Jesus recebesse um lugar digno de descanso, mostra que ela era uma mulher de iniciativa e posses (comosugere Lc 8.2s); ela estava disposta a pagar pelo trabalho e outras despesas necessárias.

7 “A paz seja convosco” (em hebraico, Shâlôm âleikhem; e em árabe, Salaam ‘alaikum). Uma saudação comum entre amigos,mas que agora fazia todo o sentido, e fez que os discípulos recordassem as promessas de Jesus (14.27; 16.22; Lc 24.36ss). Onovo corpo de Jesus lhe permitia atravessar a matéria sem ser um fantasma. Jesus preocupou-se em demonstrar aos discípulosque eles não estavam sofrendo uma alucinação coletiva.

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21 E Jesus lhes disse mais uma vez: “A paz seja convosco! Assim como o Pai me enviou, Eu também vos envio.”. 22 E, tendo dito isso, soprou sobre eles e disse-lhes: “Recebei o Espírito Santo.23 Aqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais mantiverdes ser-lhes-ão mantidos.”.8

Felizes os que não viram e creram24 Contudo, Tomé, um dos doze, chama-do Dídimo, não estava com eles quando Jesus apareceu.25 Os outros discípulos, no entanto, anunciaram-lhe: “Nós vimos o Senhor!”. Mas ele respondeu-lhes: “Se eu não vir asmarcas dos pregos nas suas mãos, não colocar o meu dedo onde estavam os pre-gos e não puser a minha mão no seu lado, não acreditarei.”.26 Após oito dias, os discípulos estavam reunidos ali outra vez, e Tomé estava com eles. As portas estavam trancadas; quando Jesus apareceu, pôs-se no meio deles e disse: “A paz seja convosco!”.27 Então dirigiu-se a Tomé, dizendo: “Coloca o teu dedo aqui; vê as minhasmãos. Estende tua mão e coloca-a no meu lado. Agora não sejas um incrédulo, mas crente.”.28 E Tomé confessou a Jesus: “Meu Senhor e meu Deus!”.9

29 Ao que Jesus lhe afi rmou: “Tomé, por-que me viste, acreditaste? Bem-aventu-rados os que não viram e creram!”.

Creia em Jesus, o Filho de Deus30 Verdadeiramente Jesus realizou, na presença dos seus discípulos, muitos outros milagres, que não estão escritos neste livro.31 Estes, entretanto, foram escritos para que possais acreditar que Jesus é o Cris-to, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em Seu Nome.10

Jesus aparece na praia e ensina

21 Algum tempo depois, Jesus apa-receu de novo aos seus discípulos,

à margem do mar de Tiberíades.1

2 Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galiléia, os fi lhos de Zebedeu e mais dois dos seus discípulos, estavam juntos.3 Simão Pedro disse-lhes: “Vou pescar.”. E eles o encorajaram: “Nós vamos contigo também.”. Saíram, e logo entraram no barco, mas naquela noite nada pegaram.4 Entretanto, ao clarear da manhã, estava Jesus na praia; mas os discípulos não perceberam que era Ele.5 E Jesus lhes perguntou: “Moços!2 tendes aí alguma coisa para comer?”. E eles lhe responderam: “Não!”.6 Então Jesus orientou-os: “Lançai a rede do lado direito do barco e encontrareis.”. Assim eles o fi zeram, e logo não con-seguiam recolher a rede, por causa da abundância de peixes.7 Diante disso, o discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: “É o Senhor!”. Assim

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8 João usa o verbo grego apostellõ, indicando que os discípulos, agora, são efetivamente apóstolos, no sentido de “enviados”(17.18). A missão do Filho é confiada a eles, pois Jesus está retornando ao Pai. A plenitude do Espírito de Cristo para o desem-penho da missão agora é entregue a eles através do “sopro” (em grego, emphysaô) de Jesus. É o mesmo verbo usado quandoDeus soprou o fôlego da vida no homem (Gn 2.7) e também na ordem dada ao Espírito (em grego, pneuma) em Ez 37.9. Essa nãofoi uma antecipação do Pentecostes (At 2.1-21), mas uma dádiva real do Espírito Santo com o objetivo de capacitar os discípulos,para o ministério a seguir. Quanto aos pecados, estes serão mantidos (ou retidos), se as pessoas que ouvirem a proclamação doEvangelho não se arrependerem e não receberem o Espírito Santo.

9 Expressão de convicção absoluta. O Homem da Palavra era Deus! O mesmo clímax de Mc 15.39.10 João foi testemunha ocular da vida e obra de Jesus de Nazaré, o Cristo (o Messias), Filho de Deus. A paixão e missão de

João foi ver o mundo compreendendo essa verdade e vivendo, com fé em Jesus, pelo poder do Espírito Santo, nosso Advogado (3.36; 14.15-21).

Capítulo 211 Somente neste Evangelho, o lago conhecido como mar da Galiléia é chamado de Tiberíades. João entregou este epílogo à

Igreja como seu magnum opus.2 “Moços” (em grego, paidia), uma expressão coloquial de companheirismo, assim como “filhos”, “jovens” ou “rapazes”.

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que Simão Pedro ouviu que era o Senhor,vestiu sua túnica,3 pois a havia tirado, elançou-se ao mar.8 Mas os outros discípulos vieram no pequeno barco, arrastando a rede com os peixes; pois não estavam longe da praia, senão uns duzentos côvados.4

9 Então, assim que saltaram em terra vi-ram ali uma fogueira, peixe sobre brasas, e um pouco de pão.10 E Jesus lhes pediu: “Trazei alguns dos peixes que acabastes de pegar.”.11 Simão Pedro entrou no barco e arras-tou a rede para a terra. Ela estava cheia, com cento e cinqüenta e três grandes peixes. E mesmo com tantos peixes, a rede não se rompeu.12 Então Jesus os convidou: “Vinde e tomaivosso desjejum.”.5 E nenhum dos discípu-los tinha coragem de indagar-lhe: “Quemés tu?”, pois sabiam que era o Senhor. 13 Jesus aproximou-se, pegou o pão e o deua eles, tomou um peixe e fez o mesmo.14 E essa foi a terceira vez que Jesus apa-receu aos seus discípulos, depois de haver ressuscitado dos mortos.

Pedro é restaurado por Jesus15 Assim, após tomarem o desjejum, Jesus questionou a Simão Pedro: “Simão, fi lho de João, tu me amas mais do que estes outros?”6 Respondeu ele: “Sim, Senhor, Tu sabes que te amo.” Jesus o encarregou: “Cuida dos meus cordeiros.”.

16 Outra vez Jesus lhe perguntou: “Simão,fi lho de João, tu me amas?”. Ele afi rmou:“Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo.” Jesus lhe confi ou: “Pastoreia as minhasovelhas.”.17 Pela terceira vez Jesus perguntou: “Si-mão, fi lho de João, tu me amas?”. Pedrofi cou angustiado por Jesus haver-lhe per-guntado pela terceira vez “tu me amas”,e assegurou-lhe: “Senhor, Tu conhecestodas as coisas e sabes que eu Te amo!”.Comissionou-o Jesus: “Apascenta as mi-nhas ovelhas.18 Em verdade, em verdade Eu te afi rmo:quando eras mais jovem, tu te vestias ati mesmo e ias para onde desejavas; masquando chegares à velhice, estenderás asmãos e outra pessoa te vestirá e te condu-zirá para onde tu não queres ir.”.19 Isso falou Jesus, signifi cando o tipo demorte7 com a qual Pedro iria glorifi car a7

Deus. E assim que terminou de proferiressas palavras, acrescentou: “Segue-me!”.

O discípulo amado e este livro20 Pedro voltou-se e viu que o discípuloa quem Jesus amava os acompanhava.(Este era o que estivera ao lado de Jesusdurante a ceia e perguntara: “Senhor,quem te irá trair?”).21 Assim que Pedro o viu, perguntou aJesus: “Senhor, mas quanto a este ho-mem?”.8

22 Então Jesus lhe respondeu: “Se Eu de-

3 Pedro havia tirado sua capa externa; uma espécie de casaco de linho, típico dos pescadores da região naquele tempo, usadopor cima das vestes internas.

4 O côvado era uma medida linear equivalente a 45 cm. Portanto, o barco estava a menos de 100 metros da praia.5 A palavra grega ariston (desjejum) indica que os discípulos ainda não haviam tomado uma refeição. Jesus alimenta seus

discípulos da mesma maneira como alimentara a multidão à beira desse lago (6.8-10). Diz a tradição que as letras da palavragrega ICHTHYS (peixe) eram consideradas um acróstico para a expressão Iesous CHristos Theou HYos Sõter, “Jesus Cristo, deDeus o Filho, Salvador”.

6 A pergunta de Jesus é reflexiva: “Tu me amas mais do que estes outros me amam?” A resposta lógica seria “não”, pois comoPedro poderia saber o quanto os outros discípulos amavam a Jesus? Entretanto, Pedro havia pensado, no cenáculo, diante daperplexidade dos demais, que amava a Jesus mais do que todos, e havia assegurado que daria a própria vida por Jesus. Masdepois se acovardou; e ressentia-se profundamente disso. Jesus o perdoa, ensina-o a ser um “subpastor” por amor ao SupremoPastor e ao rebanho (Igreja) de Cristo (1Pe 2.23; 5.2-4) e o reconduz ao ministério.

7 Pedro seguiria Jesus até na maneira como glorificaria o Pai (12.33). De fato, Clemente de Roma (96 d.C.) afirma que Pedro foimartirizado. Tertuliano (212 a.D.) acrescenta que, quando Pedro estava para ser amarrado na cruz, fora vestido por outra pessoa;e Eusébio escreve que Pedro insistira em que não era digno de ser crucificado do mesmo modo que Jesus e pedira que o fossede cabeça para baixo. Enfim, Pedro conseguiu cumprir sua atestação em 13.37.

8 Agora, espiritualmente restaurado e com uma nova missão, Pedro olha para trás e preocupa-se com o futuro do seu amigo.

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sejar que ele fi que vivo até que Eu volte,9

o que te importa? Entretanto, quanto a ti, segue-me!”.23 Por esse motivo, tornou-se conhecido entre os irmãos o rumor de que aquele discípulo não passaria pela morte. Ora, Jesus não disse que ele não morreria, mas sim: “Se Eu desejar que ele fi que vivo até que Eu volte, o que te importa?”.10

24 Este é o discípulo que testemunha a respeito desses acontecimentos e que os escreveu; e sabemos que o seu testemu-nho é conforme a verdade.11

25 Jesus realizou ainda muitas outras maravilhas. Se todas elas fossem escri-tas uma por uma, acredito eu que nem mesmo o mundo inteiro seria capaz de conter os livros que se escreveriam.12

9 Jesus não prometeu que João permaneceria com vida até sua “volta” (em grego, parousia – a Segunda Vinda); mas sim, que se essa fosse a sua vontade, ou se Ele prolongasse os anos de vida de João na terra, isso não deveria ser do conhecimentode João, muito menos de Pedro. Por sua vez, Jesus ensinou os discípulos e a Igreja a se prepararem para a parousia, que pode ocorrer a qualquer momento (1Ts 4.13-18; 1Jo 3.3).

10 Por volta de 95 d.C., João foi exilado pelo imperador Domiciano na Ilha de Patmos, onde escreveu o livro de Apocalipse (Ap1.9). Morreu em idade avançada e foi sepultado em Éfeso.

11 A comunidade que recebeu o escrito testemunha e afiança a vida e a obra do autor deste Evangelho: João, o discípulo aquem Jesus amava.

12 A intenção do evangelista é levar seus leitores para muito além das letras e dos registros históricos, a fim de quereconheçam em Jesus o Verbo (Palavra) de Deus, feito pessoa humana, para a salvação eterna de todo aquele que nele crer(1.14; 3.16; Ap 12.10).

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