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 Autoria Desde o segundo século da era cristã, a tradição da Igreja atribui ao apóstolo Mateus a autoria do Evangelho que aparece em primeiro lugar nas várias edições da Bíblia (Mt 9.9 e 10.3). Eusébio, em sua obra História Eclesiástica, no início do século IV, já trazia citações de Papias, bispo do século II, de Irineu, bispo de Leão e de Orígenes, grande pensador cristão do século III. Todos os “pais da Igreja” (como ficaram conhecidos os notáveis discípulos de Cristo e teólogos dos primeiros séculos), concordam em afirmar que este Evangelho foi escrito (ou narrado a um amanuense, pes- soa habilidosa com a escrita), primeiramente em aramaico (hebraico falado por Cristo e pelos jovens  judeus palestinos de sua época) e depois, traduzido para o grego. Apesar das muitas evidências sobre a existência do original em aramaico, todas as buscas e pesquisas arqueológicas somente en- contraram fragmentos e cópias em grego. Entretanto, os principais estudiosos e teólogos do mundo não duvidam que o texto grego que dispomos hoje em dia é o mesmo que circulou entre as igrejas a partir da segunda metade do século I d.C.  Ainda que não apresentando explicitamente o nome do autor, o Evangelho Segundo Mateus, fornece pelo menos uma grande evidência interna que confirma sua autoria defendida pelos pais da Igreja. A história da narrativa de um banquete ao qual Jesus compareceu em companhia de grande número de publicanos e pecadores (pagãos e judeus que não guardavam a Lei e as determinações dos líderes religiosos da época) é descrita na passagem que começa com as seguintes palavras em grego original transliterado:  kai egeneto autou anakeimeou em te(i) oikia(i) . Ou seja: “E aconteceu que, estando Jesus em casa,...” (Mt 9.10). Considerando que os últimos três vocábulos significam “em casa”, o trecho sugere que o banquete fosse oferecido “na casa” de Jesus. Contudo, a passagem paralela em Mc 2.15 revela que essa festa aconteceu “na casa” de Levi, isto é, Mateus Levi. O texto em Marcos aparece assim transliterado: en te(i) oikia(i) autou, “na casa dele”. O sentido alternativo de Mt 9.10 esclarece que “em casa” quer dizer “na minha casa”, ou seja, “na casa” do autor, e isto concorda perfeitamente com Marcos e com os fatos apresentados em todos os Quatro Evangelhos. Mateus, que tinha por sobrenome Levi (Mc 2.14), e cujo nome significa “dádiva do Senhor”, era um cobrador de impostos a serviço de Roma, mas que abandonou uma vida de avareza e desonestidade para seguir Jesus, o Messias (Mt 9.9-13). Em Marcos e Lucas é chamado por seu outro nome, Levi. Propósitos O principal objetivo do Evangelho Segundo Mateus é relatar seu testemunho pessoal sobre o fato de Jesus Cristo ser o Messias prometido no Antigo Testamento, cuja missão messiânica era trazer o Reino de Deus até a humanidade. Esses dois grandes temas: o caráter messiânico de Jesus e a presença do Reino de Deus são indissociáveis e devem ser analisados sempre como um todo harmônico. Cada qual representa um “mistério” – uma nova revelação do plano remidor de Deus (Rm 16.25-26).  Antes do grande evento da vinda do Messias, como o Filho de Deus (também chamado no AT e pelo próprio Jesus de “o Filho do homem”), em triunfo e grande glória entre as nuvens do céu, a fim de estabelecer Seu Reino sobre o planeta todo, terá em primeiro lugar, de vir sob a mais absoluta humildade entre os homens na qualidade de Servo Sofredor, cônscio de que sua missão será dedi- car a própria vida em sacrifício voluntário a favor da humanidade, especialmente dos que, crendo em Seu Nome, se arrependerem dos seus pecados, nascendo para uma nova vida (Jo 1.12; 3.16). Esse é o mistério da missão messiânica. Era um ensino completamente desconhecido para os judeus do primeiro século da nossa era. Hoje, a maior parte dos cristãos que lêem o capítulo 53 de Isaías não sentem qualquer dificuldade em identificar a pessoa de Jesus Cristo com o Messias prometido. Entretanto, os judeus não observaram com cuidado a descrição do Servo Sofredor e deram mais atenção às promessas de um Messias que viria com grande poder e glória, o que realmente está registrado no contexto dessa passagem (Is 48.20; 49.3). Por esse motivo, os judeus do primeiro século esperavam ansiosamente pelo Filho de Davi, um Rei divino (uma vez que os reis humanos já haviam provado sua incompetência e limitação). O Filho de INTRODUÇÃO O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS MT_B.indd 14/8/2007, 14:05 1

Evangelho Segundo Mateus

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 AutoriaDesde o segundo século da era cristã, a tradição da Igreja atribui ao apóstolo Mateus a autoria do

Evangelho que aparece em primeiro lugar nas várias edições da Bíblia (Mt 9.9 e 10.3).Eusébio, em sua obra História Eclesiástica, no início do século IV, já trazia citações de Papias, bispo

do século II, de Irineu, bispo de Leão e de Orígenes, grande pensador cristão do século III. Todos os“pais da Igreja” (como ficaram conhecidos os notáveis discípulos de Cristo e teólogos dos primeirosséculos), concordam em afirmar que este Evangelho foi escrito (ou narrado a um amanuense, pes-soa habilidosa com a escrita), primeiramente em aramaico (hebraico falado por Cristo e pelos jovens

 judeus palestinos de sua época) e depois, traduzido para o grego. Apesar das muitas evidências

sobre a existência do original em aramaico, todas as buscas e pesquisas arqueológicas somente en-contraram fragmentos e cópias em grego. Entretanto, os principais estudiosos e teólogos do mundonão duvidam que o texto grego que dispomos hoje em dia é o mesmo que circulou entre as igrejasa partir da segunda metade do século I d.C.  Ainda que não apresentando explicitamente o nome do autor, o Evangelho Segundo Mateus,

fornece pelo menos uma grande evidência interna que confirma sua autoria defendida pelos pais daIgreja. A história da narrativa de um banquete ao qual Jesus compareceu em companhia de grandenúmero de publicanos e pecadores (pagãos e judeus que não guardavam a Lei e as determinaçõesdos líderes religiosos da época) é descrita na passagem que começa com as seguintes palavras emgrego original transliterado: kai egeneto autou anakeimeou em te(i) oikia(i). Ou seja: “E aconteceuque, estando Jesus em casa,...” (Mt 9.10). Considerando que os últimos três vocábulos significam“em casa”, o trecho sugere que o banquete fosse oferecido “na casa” de Jesus. Contudo, apassagem paralela em Mc 2.15 revela que essa festa aconteceu “na casa” de Levi, isto é, MateusLevi. O texto em Marcos aparece assim transliterado: en te(i) oikia(i) autou, “na casa dele”. O sentido

alternativo de Mt 9.10 esclarece que “em casa” quer dizer “na minha casa”, ou seja, “na casa” doautor, e isto concorda perfeitamente com Marcos e com os fatos apresentados em todos os QuatroEvangelhos.

Mateus, que tinha por sobrenome Levi (Mc 2.14), e cujo nome significa “dádiva do Senhor”, era umcobrador de impostos a serviço de Roma, mas que abandonou uma vida de avareza e desonestidadepara seguir Jesus, o Messias (Mt 9.9-13). Em Marcos e Lucas é chamado por seu outro nome, Levi.

PropósitosO principal objetivo do Evangelho Segundo Mateus é relatar seu testemunho pessoal sobre o fato de

Jesus Cristo ser o Messias prometido no Antigo Testamento, cuja missão messiânica era trazer o Reinode Deus até a humanidade. Esses dois grandes temas: o caráter messiânico de Jesus e a presençado Reino de Deus são indissociáveis e devem ser analisados sempre como um todo harmônico. Cadaqual representa um “mistério” – uma nova revelação do plano remidor de Deus (Rm 16.25-26). Antes do grande evento da vinda do Messias, como o Filho de Deus (também chamado no AT e

pelo próprio Jesus de “o Filho do homem”), em triunfo e grande glória entre as nuvens do céu, a fimde estabelecer Seu Reino sobre o planeta todo, terá em primeiro lugar, de vir sob a mais absolutahumildade entre os homens na qualidade de Servo Sofredor, cônscio de que sua missão será dedi-car a própria vida em sacrifício voluntário a favor da humanidade, especialmente dos que, crendo emSeu Nome, se arrependerem dos seus pecados, nascendo para uma nova vida (Jo 1.12; 3.16). Esseé o mistério da missão messiânica. Era um ensino completamente desconhecido para os judeusdo primeiro século da nossa era. Hoje, a maior parte dos cristãos que lêem o capítulo 53 de Isaíasnão sentem qualquer dificuldade em identificar a pessoa de Jesus Cristo com o Messias prometido.Entretanto, os judeus não observaram com cuidado a descrição do Servo Sofredor e deram maisatenção às promessas de um Messias que viria com grande poder e glória, o que realmente estáregistrado no contexto dessa passagem (Is 48.20; 49.3).

Por esse motivo, os judeus do primeiro século esperavam ansiosamente pelo Filho de Davi, um Reidivino (uma vez que os reis humanos já haviam provado sua incompetência e limitação). O Filho de

INTRODUÇÃO O EVANGELHO SEGUNDO

MATEUS

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Deus e Rei governará o Reino messiânico (Is 9 e 11 com Jr 33). Nesse Dia, todo pecado e mal serãoextirpados da terra; e a paz e a justiça prevalecerão. O Filho do homem é um ser celestial a Quemestá entregue o governo de todas as nações e reinos da terra.

O mistério do Reino é semelhante e está intimamente ligado ao mistério messiânico. No segundocapítulo do livro do profeta Daniel temos a descrição da vinda do Reino de Deus em pinceladasvigorosas e impressionantes. Todo poder que fizer resistência à vontade do Senhor será aniquilado.O Reino virá todo, completo, de uma só vez, varrendo da sua frente todas as hostes do mal e todoimpério contrário a Jesus Cristo. A terra será toda transformada e uma nova ordem, universal eperfeita será instaurada.

Portanto, tanto a mensagem de Cristo como a Sua pessoa foram totalmente incompreendidaspelos Seus compatriotas e contemporâneos em geral, incluindo os próprios discípulos. Todavia, anova revelação sobre o propósito de Deus é que o Reino deveria vir em humildade e doação: poderespiritual, antes de vir em plena glória triunfante.

Mateus deixa claro que deseja apresentar, em ordem histórica, o nascimento, ministério, paixão eressurreição de Jesus Cristo. Para tanto, ele reúne os fatos em cinco grandes discursos proferidospelo Senhor: o chamado, Sermão da Montanha (Mt 5.1 a 7.27); a comissão aos apóstolos (Mt 10.5-42); as parábolas (Mt 13.1-53); o ensino sobre humildade e perdão (Mt 18.1-35), e a palavra profética(Mt 24.1 a 25.46). Mateus cita várias passagens e profecias extraídas do Antigo Testamento e, defato, interpreta essas profecias como tendo absoluto e certeiro cumprimento em Jesus Cristo; tudoé escrito e ensinado de um modo que seria para o judeu do século I prova irrefutável, a qual a Igrejacristã adota até nossos dias.

Data da primeira publicaçãoEmbora alguns estudiosos considerem a forte possibilidade de o Evangelho Segundo Mateus ter

sido escrito na Antioquia da Síria, as evidentes características judaicas do texto original apontam suageração para alguma parte da antiga Palestina.

Considerando o fato de a terrível destruição de Jerusalém, ocorrida por volta do ano 70 d.C., serainda considerada um acontecimento futuro (Mt 24.2), e que Mateus, assim como Lucas, terem sidobeneficiados pela leitura dos escritos de Marcos, podemos entender que as primeiras cópias do livrode Mateus circularam entre os irmãos da recém igreja cristã (chamada de igreja primitiva), quando aIgreja era em grande parte judaica e o Evangelho pregado quase que exclusivamente aos judeus (At11.19), por volta dos anos 50 e 60 da nossa era.

Esboço Geral de Mateus1. Nascimento e infância do Cristo, o Messias (caps. 1,2)

A. A genealogia de Jesus (1.1-17).B. O anúncio do seu nascimento (1.18 – 25)C. A adoração ao bebê, filho do Homem, o Salvador (2.1-12)D. A permanência de Jesus no Egito (2.13-23)

2. Prelúdio do ministério de Jesus Cristo (caps. 3.1 – 4.25)A. João Batista e seu ministério preparatório para Jesus (3.1-12)B. O batismo de Jesus Cristo (3.13-17)C. A grande tentação de Jesus (4.1-11)D. A investidura do Senhor (4.12-25)

3. O ensino do Rei Jesus Cristo (caps. 5.1 – 7.29)A. A proposta da Vida no Reino (5.1-16)B. Os princípios espirituais para se viver no Reino (5.17-48)C. A Torá e a Lei de Moisés (5.17-20)D. A lei sobre o assassinato (5.21, 22)E. A lei sobre o adultério (5.27-30)F. A lei sobre o divórcio (5.31, 32)G. A lei sobre os votos (5.33-37)H. A lei da não resistência (5.38-42)I. A lei do amor (5.43-48)

4. Aspectos práticos da vida no Reino (caps. 6.1 – 7.12)A. Sobre as esmolas e ajudas (6.1-4)B. Sobre a oração (6.5-15)

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C. Sobre a disciplina espiritual do jejum (6.16-18)D. Sobre o dinheiro (6.19-24)E. Sobre a ansiedade e preocupações (6.25-34)F. Sobre o Juízo (7.1-5)G. Sobre a prudência (7.6)H. Sobre a oração (7.7-11)I. Sobre o trato com outras pessoas (7.12)J. Sobre o caminho estreito do Reino (7.13-29)

5. Demonstrações da soberania de Jesus (caps. 8.1 – 9.38)A. Poder sobre a impureza (8.1-4)B. Poder sobre a distância (8.5-13)C. Poder sobre as enfermidades (8.14-17)D. Poder sobre os discípulos (8.18-22)E. Poder sobre a natureza (8.23-27)F. Poder para perdoar pecados (9.1-13)G. Poder sobre a lei e as doutrinas (9.14-17)H. Poder sobre a morte (9.18-26)I. Poder sobre as trevas (9.27-31)J. Poder sobre os demônios (9.32-34)K. Poder sobre doenças da alma e do corpo (9.35-38)

6. A grande missão do Rei Jesus (10.1 – 16.12)A. A missão é anunciada (10.1 – 11.1)B. A missão é comprovada (11.2 – 12.50)C. O consolo aos discípulos de João (11.2-19)D. A condenação das cidades infiéis (11.20-24)E. A convocação dos discípulos para Si (11.25-30)F. As controvérsias sobre o uso do sábado (12.1-13)G. O pecado imperdoável da incredulidade (12.14-37)H. Alguns sinais extraordinários (12.38-45)I. Relacionamentos transformados (12.46-50)

7. A missão tem seu objetivo ampliado (13.1-52)A. A parábola do semeador (13.1-23)B. A parábola do trigo e o joio (13.24-30)C. A parábola do grão de mostarda (13.31, 32)D. A parábola do fermento (13.33)E. A parábola do trigo e do joio é explicada (13.34-43)F. A parábola do tesouro escondido (13.44)G. A parábola da pérola de grande valor (13.45, 46)H. A parábola da rede (13.47-50)I. A parábola do pai de família (13.51, 52)

8. A missão sofre fortes ataques (caps. 13.53 – 16.12)A. Pelos conterrâneos do Rei (13.53-58)B. Por Herodes – seguido de milagres (14.1-36)C. Pelos escribas e fariseus – seguido de milagres (15.1-39)

D. Pelos fariseus e saduceus (16.1-12)9. A teologia prática de Jesus, o Messias (caps.16.13 – 20.28)A. Quanto à Sua Igreja (16.13-20)B. Quanto à Sua morte (16.21-28)C. Quanto à Sua glória (17.1-21)D. Quanto à Sua traição (17.22, 23)E. Quanto a impostos (17.24-27)F. Quanto à humildade (18.1-35)G. Alimentar uma fé pura e simples (18.1-6)H. Sincera preocupação com os perdidos (18.7-14)I. Disciplina e restauração entre os crentes (18.15-20)J. Disposição para perdoar tudo e sempre (18.21-35)K. Quanto aos dramas humanos (19.1-26)

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L. Problemas físicos (19.1, 2)M. Divórcio e novo casamento (19.3-12)N. Quanto às crianças e os pequenos na fé (19.13-15)O. Quanto ao acúmulo de riquezas (19.16-26)P. Quanto ao Reino (caps.19.27 – 20.28)Q. Recompensas no Reino (19.27-30)R. Reconhecimento no Reino (20.1-16)S. Graduação e promoções no Reino (20.17-28)

10. A proclamação do Rei Jesus (caps. 20.29 – 23.39)A. O poder do Rei Jesus (20.29-34)B. A aclamação do Rei Jesus (21.1-11)C. A purificação realizada pelo Rei Jesus (21.12-17)D. A maldição da figueira (21.18-22)E. O desafio ao Rei Jesus (21.23-27)F. As parábolas do Rei Jesus (21.28 – 22.14)G. Quanto à rebeldia de Israel (21.28-32)H. A retribuição a Israel (21.33-46)I. A rejeição de Israel (22.1-14)J. Os pronunciamentos do Rei Jesus (caps. 22.15 – 23.39)K. Em resposta aos herodianos (22.15-22)L. Em resposta aos saduceus (22.23-33)M. Em resposta aos fariseus (22.34-40)N. Questionando os fariseus (22.41-46)O. Contra os doutores da lei e fariseus (23.1-36)P. Contra a cidade santa: Jerusalém (23.37-39)

11. As terríveis profecias do Rei Jesus (caps. 24.1 – 25.46)A. A destruição do Templo (24.1, 2)B. As indagações dos discípulos (24.3)C. Os grandes sinais sobre o final dos tempos (24.4-28)D. O sinal do glorioso retorno de Jesus (24.29-31)

E. Parábolas ilustrando as profecias (24.32 – 25.46)F. A figueira (24.32-35)G. Os dias de Noé (24.36-39)H. Os companheiros (24.40, 41)I. O pai de família atento (24.42-44)J. O servo leal (24.45-51)K. As dez virgens (25.1-13)L. Os talentos (25.14-30)M. O grande julgamento dos gentios (25.31-46)

12. O sacrifício do Rei Jesus por nossa Salvação (caps. 26.1 – 27.66)A. A preparação da Paixão (26.1-16)B. A Páscoa da Paixão (26.17-30)C. A traição predita (26.31-56)D. Os interrogatórios e julgamentos (26.57 – 27.26)

E. Diante do sumo sacerdote (26.57-75)F. Perante o Sinédrio (27.1-10)G. Respondendo a Pilatos (27.11-26)H. A crucificação (27.27-66)I. Martírio e humilhação (27.27-44)J. Jesus entrega sua vida (27.45-56)K. O sepultamento (27.57-66)

13. A ressurreição e a comissão do Rei Jesus (28.1-20)A. O triunfo de Jesus sobre a morte (28.1-10)B. A conspiração alegada (28.11-15)C. A grande comissão dos discípulos (28.16-20)

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O EVANGELHO SEGUNDO

MATEUS

 A linhagem real de Cristo(Lc 3.23-28)

1Livro da genealogia de Jesus Cristo,Filho de Davi, Filho de Abraão:

2 Abraão gerou Isaque, Isaque gerou Jacó,Jacó gerou Judá e seus irmãos,3 Judá gerou Perez e Zera, de Tamar; Pe-rez gerou Esrom; Esrom gerou Arão.4 Arão gerou Aminadabe; Aminadabe ge-

rou Naassom; Naassom gerou Salmom,5 Salmom gerou Boaz, de Raabe, e Boaz ge-rou Obede, de Rute; Obede gerou a Jessé.6 Jessé gerou o rei Davi, e o rei Davi ge-rou a Salomão, daquela que foi mulherde Urias1;7 Salomão gerou Roboão; Roboão gerouAbias; Abias gerou Asa,8 Asa gerou Josafá; Josafá gerou Jorão;Jorão gerou Uzias;9 Uzias gerou Jotão; Jotão gerou Acaz;Acaz gerou Ezequias;10 Ezequias gerou Manassés; Manassés

gerou Amom; Amom gerou Josias;11 Josias gerou Jeconias e a seus irmãosno tempo em que foram levados cativospara a Babilônia.12 Depois do exílio na Babilônia, Je-conias gerou Salatiel; Salatiel gerouZorobabel;13 Zorobabel gerou Abiúde; Abiúde ge-rou Eliaquim, e Eliaquim gerou Azor;14 Azor gerou Sadoque; Sadoque gerouAquim; Aquim gerou Eliúde,

15 Eliúde gerou Eleazar; Eleazar gerouMatã, Matã gerou Jacó;16 Jacó gerou José, marido de Maria, da qualnasceu JESUS, denominado o Cristo.2

 

17 Portanto, o total das gerações é: deAbraão até Davi, quatorze gerações; deDavi até o exílio na Babilônia, quatorzegerações; e do exílio na Babilônia atéCristo, quatorze gerações.

 A linhagem divina de Cristo(Lc 2.1-7)18 O nascimento de Jesus Cristo ocorreuda seguinte maneira: Estando Maria, suamãe, prometida em casamento a José,antes que coabitassem, achou-se grávidapelo Espírito Santo.19 Então, José, seu esposo3, sendo umhomem justo e não querendo expô-la àdesonra pública, planejou deixá-la semque ninguém soubesse a razão.20 Mas, enquanto meditava sobre isso,

eis que, em sonho, lhe apareceu um anjodo SENHOR, dizendo: “José, lho de Davi,não temas receber a Maria como suamulher, pois o que nela está gerado é doEspírito Santo.21 Ela dará à luz um lho, e lhe porás onome de Jesus, porque Ele salvará o seupovo dos seus pecados”. 422 Tudo isso aconteceu para que se cum-prisse o que o SENHOR havia dito atravésdo profeta:

1 A expressão “daquela que foi mulher” não se encontra nos originais em grego; entretanto, desde 1611, a Bíblia King Jamestraz, junto ao texto bíblico, essa explicação rabínica, cujo emprego passou a se observar na maioria das traduções e versõesposteriores, em diversas línguas.

2 A expressão grega christos é o adjetivo verbal semita, equivalente a Messias, que, em hebraico, significa “o Ungido”. No AT,essa forma designava o rei de Israel (o ungido do Senhor, como em 1 Sm 16.6), o sumo sacerdote (o sacerdote ungido – Lv 4.3).No plural, essa expressão se refere aos patriarcas em seu ministério de profetas (“meus ungidos” – Sl 105.15). Jesus cumpriu aprofecia messiânica, desempenhando essas três funções.

3 O noivado judaico da época era um compromisso tão solene, que os noivos passavam a se tratar como marido e mulher. ALei, contudo, proibia qualquer relação sexual antes do casamento formal. O noivado só poderia ser desfeito por infidelidade, queera punida com repúdio público e apedrejamento (Gn 29.21; Dt 22.13-30; Os 2.2).

 4 Jesus (em hebraico Yehoshú’a) significa Yahweh Salva ou “O SENHOR é a Salvação”. Yahweh é o nome judaico impronunciável,sagrado e sublime de Deus, na maioria das vezes traduzido por: SENHOR. Em hebraico: (Êx 6.3; Is 41.4). Em grego Egô Eimi.

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6MATEUS 1, 2

23 “Eis que a virgem conceberá e dará àluz um lho, e Ele será chamado de Ema-

nuel”, que signica “Deus conosco”.5

24 José, ao despertar do sonho, fez o queo Anjo do SENHOR lhe tinha ordenado erecebeu Maria como sua mulher.25 Contudo, não coabitou com ela en-quanto ela não deu à luz o lho primogê-nito. E José lhe colocou o nome de Jesus.

 A visita dos sábios do Oriente 

2Após o nascimento de Jesus em Belémda Judéia, nos dias do rei Herodes, eis

que alguns sábios vindos do Oriente che-garam a Jerusalém.1

2 E, indagavam: “Onde está aquele que énascido rei dos judeus? Pois do Orientevimos a sua estrela e viemos adorá-lo”.2 

3 Quando o rei Herodes ouviu isso, couperturbado e toda a Jerusalém com ele.4 Tendo reunido todos os príncipesdos sacerdotes e os escribas do povo,

perguntou-lhes onde havia de nascero Cristo.3 5

E eles lhe responderam: “Em Belém daJudéia, pois assim escreveu o profeta: 4 6 ‘Mas tu, Belém, da terra de Judá, demodo algum és a menor entre as prin-cipais cidades de Judá; pois de ti sairá oGuia, que como pastor, conduzirá Israel,o meu povo’”.5

7 Então Herodes, chamando secretamen-te os sábios, interrogou-os exatamenteacerca do tempo em que a estrela lhesaparecera.8 Mandou-os a Belém e disse: “Ide, eperguntai diligentemente pelo menino, e

quando o achardes, comunicai-me, paraque também eu vá e o adore”.9 Após terem ouvido o rei, seguiramo seu caminho, e a estrela que tinhamvisto no Oriente foi adiante deles, atéque nalmente parou sobre o lugar ondeestava o menino.

5 Mateus demonstra de forma clara e inquestionável que Jesus Cristo é o Messias prometido nas diversas profecias do AT,como nesse texto de Is 7.14. (Mt 2.15-23; 8.17; 12.17; 13.25; 21.4; 26.54-56; 27.9; cf. 3.3; 11.10; 13.14, etc.) O próprio Jesus usaas Escrituras para comprovar sua identidade e ministério (Mt 11.4-6; Lc 4.21; 18.31; 24.44; Jo 5.39; 8.56; 17.12, etc.)

Capítulo 21 O primeiro calendário foi elaborado por Dionísio Exíguo, de Roma (no século VI) e adotado em todo o mundo predominan-

temente cristão. Com o surgimento de novas e mais precisas tecnologias para a medição do tempo, constatou-se que Dionísioerrou em pelo menos 4 anos em relação ao mais antigo calendário romano.

Herodes, chamado “O Grande”, recebeu, do Senado romano, o título de “rei da Judéia” e, por isso, ficou conhecido como “reidos judeus”. Durante seu reinado (de 39 a.C. a 4 a.C.) mandou matar todas as crianças de Belém, de até 2 anos de idade. Nessaépoca Jesus estaria em seu segundo ano de vida. E os cálculos demonstram que teria nascido quase 5 anos antes do “AnnoDomini” (ano oficial do nascimento do Senhor).

Quanto à expressão “sábios”, como traduzida pela Bíblia King James, refere-se a um grupo de sacerdotes babilônios, gentios,reconhecidos entre os povos medo-persas como mestres, cientistas, astrônomos, e que se dedicavam ao estudo da medicina eda astrologia. Algumas versões trazem a expressão “magos”, mas em nossos dias essa palavra tem uma conotação estritamentemística e ocultista. A tradição das igrejas cristãs acrescenta que eles eram três reis, devido aos três presentes de alto valor mone-tário oferecidos a Jesus, mas isso não tem comprovação bíblica.

2 Séculos mais tarde, o astrônomo Kepler calculou que essa imagem de estrela reluzente se tratava da conjunção de Júpiter eSaturno na constelação de Peixes, em 7 a.C. Na China, o mesmo fenômeno foi observado no ano 4 a.C. e interpretado como oaparecimento de uma estrela variável, com surgimento e desaparecimento periódicos.

3 Herodes convoca os responsáveis pela vida religiosa e moral da nação judaica. Os sumos sacerdotes eram os membros dasgrandes famílias sacerdotais de Jerusalém. Os escribas geralmente pertenciam ao partido político dos fariseus; eram tambémdoutores da Lei e estudantes profissionais, pagos para estudar e ensinar, ao povo, a Lei e as tradições rabínicas. Também fun-cionavam como advogados públicos, sendo-lhes confiada à administração da lei e da ordem, como juízes no Sinédrio (22.35).Esses dois grupos se unem contra Jesus, em 21.15. Mateus associa com mais freqüência os sumos sacerdotes aos anciãos dopovo (26.3,47; 27.1). O sentido em ambos os casos é o mesmo: os principais responsáveis pelo drama de um povo são seuslíderes e chefes.

 4 A palavra “profeta” deriva do grego “pro” que significa “para adiante” ou “à frente” e “phemi” que quer dizer “o que fala”.O profeta é aquele que traz a mensagem de Deus, o servo que anuncia prioritariamente, antes de tudo, a Palavra do Senhor.Esse ministério pode incluir a previsão de futuros eventos. Deus continua a falar através de seus profetas nas igrejas de hoje.Os arautos de Deus nos orientam e ensinam a ouvir o Espírito Santo e a obedecer à Palavra. Entretanto, a Bíblia também nosadverte quanto aos “falsos profetas”, pessoas que são lideradas por um espírito diferente do Espírito Santo e causam confusão àcomunidade e grande dano a si próprios (Jr 7.4, Jr 14.14, Lm 2.4, Ez 13.6, Mt 7.15, Mt 24.11-24, 2Pe 2.1, Ap 19.20).

5 Mq 5.2; Jo 7.42; Ap 2.27

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7 MATEUS 2, 3

10 E vendo eles a estrela, alegraram-secom grande e intenso júbilo.11

Ao entrarem na casa, encontraram omenino com Maria, sua mãe, e prostran-do-se o adoraram. Então abriram seustesouros e lhe ofertaram presentes: ouro,incenso e mirra.6

12 E, sendo por divina revelação avisadosem sonhos para que não voltassem para

 junto de Herodes, retornaram para a suaterra, por outro caminho.

 A fuga para o Egito13 Depois que partiram, eis que um anjodo SENHOR apareceu a José em sonho e

lhe disse: “Levanta-te, toma o menino esua mãe, e foge para o Egito. Permanecelá até que eu te diga, pois Herodes há deprocurar o menino para o matar”.14 José se levantou, tomou o menino e suamãe, durante a noite, e partiu para o Egito.15 E esteve lá até a morte de Herodes. Eassim se cumpriu o que o SENHOR tinhadito através do profeta: “Do Egito cha-mei o meu lho”.7 

16 Quando Herodes percebeu que haviasido iludido pelos sábios, irou-se ter-rivelmente e mandou matar todos osmeninos de dois anos para baixo, emBelém e em todas as circunvizinhanças,de acordo com as informações que haviaobtido dos sábios.17 Então se cumpriu o que fora dito peloprofeta Jeremias:18 “Ouviu-se uma voz em Ramá, prantoe grande lamentação; é Raquel que chorapor seus lhos e recusa ser consolada,pois já não existem”.8

O retorno para Israel 19 Após a morte de Herodes, eis que um

anjo do SENHOR apareceu em sonho aJosé, no Egito, e disse-lhe:20 “Dispõe-te, toma o menino e sua mãe,e vai para a terra de Israel; porque jáestão mortos os que procuravam tirar avida do menino”.21 Então, José se levantou, tomou o meni-no e sua mãe, e foi para a terra de Israel.22 Mas, ao ouvir que Arquelau estavareinando na Judéia, em lugar de seu paiHerodes, teve medo de ir para lá. Con-tudo, tendo sido avisado em sonho pordivina revelação, seguiu para as regiões

da Galiléia.23 Ao chegar, foi viver numa cidadechamada Nazaré. Cumpriu-se assim oque fora dito pelos profetas: “Ele seráchamado Nazareno”.9

 João Batista prepara o caminho(Mc 1.2-8; Lc 3.1-18; Jo 1.6-8,19-36)

3 Naqueles dias surgiu João Batista pre-gando no deserto da Judéia; e dizia:

2 “Arrependei-vos, porque o Reino doscéus está próximo”.1

3 Este é aquele que foi anunciado peloprofeta Isaías: “Voz do que clama nodeserto: Preparai o caminho do SENHOR,endireitai as suas veredas”.4 João tinha suas roupas feitas de pêlosde camelo e usava um cinto de couro nacintura. Alimentava-se com gafanhotos emel silvestre.5 A ele vinha gente de Jerusalém, de todaa Judéia e de toda a província adjacenteao Jordão.

6 Sl 72.10-11; Is 60.67 Os 11.18 Jr 31.159 A expressão hebraica traduzida por “nazareno” significa: desprezível ou desprezado. Nazaré era o lugar mais improvável para

o surgimento ou a residência do Messias, o Ungido de Deus e libertador do povo de Israel (Sl 22.6; Is 11.1; Is 53.3; Mc 1.24).Capítulo 31 João começa seu ministério no deserto da Judéia, uma região árida e estéril, ao longo da margem ocidental do mar Morto.

O Reino dos céus sinaliza o domínio do céu e dos seus valores sobre a terra e o sistema econômico, político, social e religiosomundial. O povo judeu da época de Cristo esperava esse Reino messiânico (ou davídico) e seu estabelecimento. Foi exatamenteesse o Reino que João anunciou como “próximo”. A rejeição de Cristo pelo povo adiou sua plena concretização até a segunda eiminente vinda de Cristo (Mt 25.31). O caráter atual do Reino está descrito na série de parábolas (histórias com objetivo didático)contadas por Jesus em Mt 13.

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8MATEUS 3, 4

6 Confessando os seus pecados, erambatizados por João no rio Jordão.7

E, vendo ele muitos dos fariseus e dossaduceus que vinham ao seu batismo,dizia-lhes: “Raça de víboras, quem vosensinou a fugir da ira futura?2

8 Produzi, sim, frutos que mostrem vossoarrependimento!9 Não presumais de vós mesmos, dizen-do: ‘Temos por pai a Abraão’; porque euvos digo que mesmo destas pedras Deuspode gerar lhos a Abraão.10 O machado já está posto à raiz dasárvores, e toda árvore, pois, que nãoproduz bom fruto é cortada e lançada

no fogo.11 Eu, em verdade, vos batizo com água,para arrependimento; mas depois demim vem alguém mais poderoso do queeu, tanto que não sou digno nem de levaras suas sandálias. Ele vos batizará com oEspírito Santo e com fogo.12 Ele traz a pá em sua mão e separaráo trigo da palha.3 Recolherá no celeiro oseu trigo e queimará a palha no fogo que

 jamais se apaga”.

O batismo de Jesus(Mc 1.9-11; Lc 3.21,22; Jo 1.32-34)13 Então Jesus veio da Galiléia ao Jordãopara ser batizado por João.14 Mas João se recusava, justicando:“Sou eu quem precisa ser batizado por ti,e vens tu a mim?”

15 Jesus, entretanto, declarou: “Deixeassim, por enquanto; pois assim convém

que façamos, para cumprir toda a justiça”.E João concordou.16 E, sendo Jesus batizado, saiu logo daágua, e eis que se abriram os céus, e viu oEspírito de Deus descendo como pombae vindo sobre Ele.17 Em seguida, uma voz dos céus disse:“Este é meu Filho amado, em quem mui-to me agrado”.

 Jesus é tentado pelo Diabo(Mc 1.12,13; Lc 4.1-13)

4 Jesus foi então conduzido pelo Espí-

rito, ao deserto, para ser tentado peloDiabo.2 Depois de jejuar quarenta dias e qua-renta noites, teve fome.3 O tentador aproximou-se então dele edisse: “Se tu és o Filho de Deus, mandaque estas pedras se tornem em pães”.4 Jesus, porém, armou-lhe: “Está es-crito: ‘Nem só de pão viverá o homem,mas de toda a palavra que sai da boca deDeus’”.1

5 Então o Diabo o conduziu à CidadeSanta, e colocou-o sobre a parte maisalta do templo e desaou-lhe:6 “Se tu és o Filho de Deus, joga-te daquipara baixo. Pois está escrito: ‘Aos seusanjos dará ordens a teu respeito, e comas mãos eles te susterão, para que jamaistropeces em alguma pedra’”.2

2 Os fariseus eram a mais influente das seitas do judaísmo no tempo de Cristo. Embora apegados às doutrinas e à ortodoxia,seu zelo, sem o entendimento espiritual da Lei de Moisés levara-os, ao longo dos séculos, a uma observância estrita das normas eregras da Lei e das tradições rabínicas. Eram justos aos próprios olhos e inimigos implacáveis de Jesus Cristo (Mt 9.14; 23.2; 23.15;Mc 12.40; Lc 18.9). Os saduceus, que pertenciam à elite econômica e às famílias sacerdotais, eram anti-sobrenaturalistas (não criam

em milagres e no poder sobrenatural de Deus). Opunham-se às tradições dos ensinos e interpretações dos fariseus e colaboravamabertamente com os governantes romanos. Uniram-se aos fariseus apenas em suas perseguições a Cristo (Mt 16.1-4,6).3 Algumas versões trazem a expressão: “...e limpará a sua eira”. A Bíblia King James optou por uma tradução mais clara dessa

frase, a partir do original grego; pois a “pá”, que Jesus traz em sua mão, tem a ver com uma pá de madeira usada para lançaro cereal triturado ao ar, de modo que a palha, mais leve, fosse carregada pelo vento, e os grãos se amontoassem no solo. Issosignifica “limpar a eira” e reforça o cumprimento da profecia de Malaquias (Ml 3.1-6 e 4.1).

Capítulo 41 O objetivo do Diabo era levar Cristo, o Ungido, Filho de Deus, a pecar. Apenas um pecado seria o suficiente, desqualificando o

Salvador, frustrando assim, o plano de Deus para a redenção humana. O objetivo de Deus foi provar que seu Filho – perfeitamentedivino e perfeitamente humano – viveu, contudo, isento de qualquer pecado; sendo, portanto, um Salvador perfeitamente dignoe suficiente (2Co 5.21; Hb 4.15, Rm 8.3; 1Jo 2.16; Tg 1.13). Jesus escolhe uma passagem das Sagradas Escrituras (Dt 8.3) pararesponder ao tentador e a todos quantos têm seus valores invertidos por ganância, egoísmo e inveja.

2 O orgulho, arrogância e empáfia do Diabo não lhe permitiram compreender, muito menos aceitar, a resposta que Cristo lhedera. O Diabo tenta, então, replicar, usando também uma passagem bíblica (Sl 91.11-12), mas omitindo parte do texto sagrado

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9 MATEUS 4, 5

7 Contestou-lhe Jesus: “Também estáescrito: ‘Não tentarás o SENHOR teu

Deus’”.3

8 Tornou o Diabo a levá-lo, agora paraum monte muito alto. E mostrou-lhetodos os reinos do mundo em todo o seuesplendor.9 E propôs a Jesus: “Tudo isso te darei se,prostrado, me adorares.10 Ordenou-lhe então Jesus: “Vai-te, Sata-nás, porque está escrito: ‘Ao SENHOR, teuDeus, adorarás e só a Ele servirás’”. 411 Assim, o Diabo o deixou; e eis quevieram anjos, e o serviram.

 Jesus inicia seu ministério(Mc 1.14-20; Lc 4.14-32; 5.1-11)12 Jesus, entretanto, ouvindo que Joãoestava preso, voltou para a Galiléia.13 E, deixando Nazaré,5 foi habitar emCafarnaum, situada à beira-mar, nosconns de Zebulom e Naftali.14 Assim cumprindo-se o que fora ditopelo profeta Isaías:15 “Terra de Zebulom e terra de Naftali,caminho do mar, além do Jordão, Gali-léia dos gentios!6 

16 O povo que jazia nas trevas viu umagrande luz; e aos que estavam detidosna região e sombra da morte, a luzraiou”.17 Daquele momento em diante Jesuspassou a pregar e dizer: “Arrependei-vos,porque é chegado o Reino dos céus!”.18 E, caminhando junto ao mar da

Galiléia, viu Jesus dois irmãos: Simão,chamado Pedro e André que lançavam a

rede ao mar, pois eram pescadores.19 Então, disse-lhes Jesus: “Vinde após mim,e Eu vos farei pescadores de homens”.20 Eles, imediatamente deixaram suasredes e seguiram Jesus.21 Seguindo adiante, viu Jesus outrosdois irmãos: Tiago, lho de Zebedeu eJoão, seu irmão, que estavam no barcocom Zebedeu, seu pai, consertando asredes; e chamou-os.22 Eles imediatamente deixaram o barcoe seu pai para seguirem a Jesus.23  E percorria Jesus toda a Galiléia,ensinando nas sinagogas, pregando oevangelho do Reino e curando todas asenfermidades e males entre o povo.24 E sua fama correu por toda a Síria; etrouxeram-lhe, então, todos aqueles quesofriam, acometidos de várias enfermi-dades e tormentos, os endemoninhados,os lunáticos e os paralíticos. E Jesus oscurava.25 E uma grande multidão da Galiléia,Decápolis, Jerusalém, Judéia e de alémdo Jordão seguia a Jesus.

O sermão do monte (Lc 6.20-29)

5 Jesus, vendo as multidões, subiu aum monte e, assentando-se, os seus

discípulos aproximaram-se dele.2 E Jesus, abrindo a boca, os ensinava,dizendo:

que não se ajustava a seus intentos. Esse mesmo método de interpretação inescrupulosa da Bíblia tem-se repetido ao longo dos

séculos, na criação e desenvolvimento de diversas seitas heréticas em todo o mundo.3 Veja Dt 6.16

 4 Somente uma análise profunda e detalhada dos diálogos aqui travados entre Satanás e Jesus pode revelar a magnitude dessabatalha espiritual vencida por Cristo por meio da Palavra de Deus (Dt 6.13; 10.20), bem como a astúcia e o poder do Diabo parailudir seus oponentes. Satanás, como príncipe do sistema econômico, político e social do nosso planeta (em grego, Kosmos,que significa: mundo), estava em seu direito ao ofertar a Jesus as glórias de todos os reinos da terra, pois de fato estes lhe foramentregues por algum tempo (Jo 12.31; 1 Jo 2.15; 5.19; Jo 3.19; Tg 1.27; 4.4). Jesus manteve-se, porém, íntegro e fiel, resistindoe vencendo a tentação e o tentador.

5 Conforme Lc 4.16-30, Jesus foi expulso de Nazaré, terra onde fora criado, por ter se apresentado ao povo (em um sábado,na sinagoga) como sendo o Filho de Deus e aquele que veio cumprir as profecias sobre a vinda do Messias, registradas no AT(Is 61.1-2 a. Veja também Is 9.1-2 e 42.6-7).

6 Os melhores originais em grego trazem a palavra “gentios” (todos aqueles que não são judeus) em vez de “nações” comoconsta em várias versões em português.

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10MATEUS 5

3 “Bem-aventurados1 os pobres2 em espí-rito, pois deles é o Reino dos Céus.4

Bem-aventurados os que choram, por-que serão consolados.5 Bem-aventurados os humildes, porqueherdarão a terra.3

6 Bem-aventurados os que têm fome esede de justiça, porque serão fartos.7 Bem-aventurados os misericordiosos,porque alcançarão misericórdia.8 Bem-aventurados os limpos de cora-ção, porque verão a Deus.9 Bem-aventurados os pacicadores,porque serão chamados lhos de Deus.10 Bem-aventurados os que sofrem per-

seguição por causa da justiça, porquedeles é o Reino dos Céus.11 Bem-aventurados sois vós quando vosinsultarem, e perseguirem e, mentindo,disserem todo o mal contra vós, porminha causa.

12 Exultai e alegrai-vos sobremaneira,pois é esplêndida a vossa recompensa

nos céus; porque assim perseguiram osprofetas que viveram antes de vós.

O cristão deve ser sal e luz 13 Vós sois o sal da terra. Mas se o sal per-der o seu sabor, com o que se há de tem-perar? Para nada mais presta, senão parase lançar fora e ser pisado pelos homens.14 Vós sois a luz do mundo. Uma cidadeedicada sobre um monte não pode serescondida.15 Igualmente não se acende uma candeiapara colocá-la debaixo de um cesto. Ao

contrário, coloca-se no velador e, assim,ilumina a todos os que estão na casa.16 Assim deixai a vossa luz resplandecerdiante dos homens, para que vejam asvossas boas obras e gloriquem o vossoPai que está nos céus.

1 A KJ de 1611 traz a expressão inglesa blessed (abençoado, bendito, muito feliz) que foi adotada pela maioria das traduçõesem todo o mundo, inclusive pelas mais modernas. “Bem-aventurados” transmite melhor a idéia do original grego  makarios refe-rindo-se a uma felicidade que excede às circunstâncias, que tem a ver com o profundo sentimento de paz e alegria que todos osque foram “abençoados” com a Salvação em Cristo e Seu Reino devem sentir e desfrutar, mesmo em meio às aflições cotidianas.Esse discurso, conhecido como Sermão do Monte, é o primeiro dos cinco grandes temas tratados por Jesus (Mt 5 a 7; Mt 10;

13; 18 e em Mt 24 e 25). São ensinos primeiramente dirigidos aos discípulos (convertidos, que desejam proclamar ao mundosua fé em Jesus Cristo). A expressão original: “abre a boca”, significa que Jesus passou a falar mais alto para que pudesse ser ouvido pelas demais

pessoas ao redor. A proclamação do “Reino dos Céus” é o ponto central da pregação de Jesus. Essa expressão vem do hebraico malekhüth shãmayim. A KJ traduz como “Reino do Céu” mas tanto a palavra grega ouranos como a hebraica shãmayim estão noplural (céus) e têm o mesmo sentido de “Reino de Deus”. Os judeus, por respeito, não mencionavam o nome de Deus e por isso,Mateus, sensível a esse dado cultural, chamou o Reino de Deus de Reino dos Céus. O ser humano não tem em si mesmo forçamoral e ética para viver como Deus ordena. Por isso Jesus Cristo, que viveu essa plenitude de vida espiritual na terra e venceu omundo, vem na forma do Espírito Santo habitar na alma humana para ajudar-nos a viver uma nova vida, com uma nova mentalida-de, como cidadãos do Seu Reino, dirigidos por Deus.A plenitude dessa vida espiritual se dará no futuro (Ap 21.1-4).

2 A primeira estocada de Jesus atinge diretamente o coração arrogante e presunçoso. Jesus conhecia bem os ensinos dosescribas e fariseus: “Quem cumpre toda a Lei com exatidão é rico no Altíssimo. Quem, além disso, observa literalmente a Halachá(série de tradições judaicas transmitidas pelos pais de geração a geração) será ainda mais rico”. Jesus não estava dizendo quenão há bênção em obedecer a Lei, mas sim que um coração soberbo e orgulhoso por cumprir ordenanças e preceitos, não pode-rá “entrar” (viver com amor, paz, alegria e liberdade) no Reino de Deus. Assim, “pobres em espírito” não é uma contradição nemse refere a pessoas tímidas ou sem poder econômico. Significa sim, que o discípulo (seguidor) de Jesus, aquele que ama a Deus

sobre todas as coisas, conhece suas limitações e fraquezas e reconhece que sem a graça do Senhor é impossível viver a vidacristã e que por isso não tem qualquer motivo para se orgulhar, pois o Reino dos Céus é também uma dádiva aos quebrantados,humildes e arrependidos (Jo 3), e não pode ser alcançado através de qualquer esforço, barganha ou talento humano. Reino dosCéus é o domínio de Deus sobre toda a criação, as pessoas e o mundo; tanto no presente como no futuro (Mt 5.3; 12.28 e Rm14.17). Às vezes refere-se também a um lugar e uma vida futura com Deus (2 Tm 4.18).

3 A KJ traz aqui a palavra inglesa  meek que pode ser traduzida como: pacífico, gentil, brando, suave, amável, manso, dócil,submisso, resignado. Entretanto, a palavra: “humilde” é mais fiel ao sentido original do termo em grego e comunica melhor, emportuguês, a idéia dessa qualidade cristã: defender a justiça com paciência e sem amargura, entregando lutas e desafios aoSenhor que tudo julga retamente. Esse caráter cristão, moldado pelo Espírito Santo, nos capacita a perseverar na fé em Cristoainda que em meio às injustiças, ofensas e falta de reconhecimento neste mundo. A promessa é nada menos do que a terra porherança. Aqueles que aceitam perder algumas coisas nesta terra e neste tempo, mantendo uma fé serena no Senhor, serão osreis de toda a terra no futuro (Ap 5.9-14), pois já vivem no presente como cidadãos do Reino. Seres humanos esses cujas vidasestão sendo transformadas pelo Espírito Santo e cujos frutos de caráter lhes conferem a bênção de serem conhecidos como“bem-aventurados” (muito felizes).

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11 MATEUS 5

 A Lei se cumpre em Cristo17 Não penseis que vim destruir a Lei ou

os Profetas. Eu não vim para anular, maspara cumprir.18 Com toda a certeza vos armo que, atéque os céus e a terra passem, nem um i

 4 

ou o mínimo traço se omitirá da Lei atéque tudo se cumpra.19 Qualquer, pois, que violar um destesmenores mandamentos e assim ensinaraos homens será chamado o menor noReino dos Céus; aquele, porém, que oscumprir e ensinar será chamado grandeno Reino dos Céus.20 Porque vos digo que, se a vossa justiça

não exceder a dos escribas e fariseus, demodo nenhum entrareis no Reino dosCéus.21 Ouvistes que foi dito aos antigos: “Nãomatarás; mas quem assassinar estará su-

 jeito a juízo”.5 

22 Eu, porém, vos digo que qualquer quese irar contra seu irmão estará sujeito a

 juízo. Também qualquer que disser a seuirmão: Racá, será levado ao tribunal. Equalquer que o chamar de idiota estarásujeito ao fogo do inferno.6

23 Assim sendo, se trouxeres a tua ofertaao altar e te lembrares de que teu irmãotem alguma coisa contra ti,24 deixa ali mesmo diante do altar a tuaoferta, e primeiro vai reconciliar-te comteu irmão, e depois volta e apresenta atua oferta.25 Entra em acordo depressa com teu ad-versário, enquanto estás com ele a caminho

do tribunal, para que não aconteça que oadversário te entregue ao juiz, o juiz te en-tregue ao carcereiro, e te joguem na cadeia.26 Com toda a certeza armo que de ma-neira alguma sairás dali, enquanto nãopagares o último centavo.7 

 4 A Lei e os Profetas representavam a totalidade do AT, que incluía os Escritos (Sl 78.12-16 é um exemplo desses Escritos e serefere a Êx 7-12 e Nm 13.22, que fazem parte da terceira seção da Bíblia Hebraica). Jesus é o cumprimento das profecias sobrea vinda do Messias e Seu Reino. Ao mesmo tempo, Ele foi o único ser humano a cumprir de maneira plena e fiel a essência davontade de Deus, não se limitando a uma obediência apenas religiosa, formal e exterior. Jesus levou seu amor pelo Pai e pelahumanidade às últimas conseqüências e enfatizou que toda a Palavra de Deus se cumprirá. Nem a menor letra do alfabeto

hebraico: ( yod); em grego: i( iôta) que corresponde à letra “i” em português; nem mesmo o menor sinal gráfico (pequeno traço)que serve para distinguir certas letras hebraicas, e que pode alterar o sentido de uma expressão, serão suprimidos das SagradasEscrituras. Jesus usa essa bem elaborada hipérbole para evidenciar a veracidade e autoridade da Palavra de Deus até o finaldos tempos. As próprias Escrituras testemunham acerca de Jesus de Nazaré como Filho de Deus, Messias (Cristo), Rei dos Reis,Senhor do Universo, nosso Salvador para toda a eternidade (Mc 14.49; Lc 24.27; Jo 10.35; At 18.24; 2Tm 3.16, 2Pe 1.20-21). Jesusdesejava que os doutores da Lei observassem essa verdade nas Escrituras, uma vez que o povo já estava aceitando que JesusCristo era o Messias, pelas obras que realizava e o poder de suas palavras.

5 Jesus toma como exemplo a situação mais drástica da Lei: a morte (Êx 20.13; Dt 5.17) para demonstrar o que significacompreender e obedecer ao espírito da Lei e não apenas à letra. Ou seja, uma vida no sentido mais amplo e saudável dos man-damentos de Deus, em vez da interpretação meramente externa e restrita feita pela tradição rabínica. A KJ traz a palavra  murder  (assassinar), pois os verbos em hebraico e grego usados nesse texto e em Êx 20.13 têm especificamente esse sentido claro.

6 Jesus demonstra como entender o sentido mais abrangente da Lei, ao relacionar o pecado de tirar a vida de alguém(assassinato) com erros, aparentemente menos graves, como irar-se contra um irmão ou insultar alguém. A KJ e as versões de

 Almeida acrescentam “sem motivo se irar”. Entre tanto, os mais antigos e melhores or iginais gregos não trazem essa expressão.Jesus revela que a ofensa verbal está no mesmo nível de um assassinato. Racá era uma antiga expressão aramaica rêqâ’ queoriginou a palavra hebraica rêquïm usada no tempo dos juízes (Jz 11.3) para indicar pessoas de mau caráter, levianas e traidoras.De maneira curiosa, essa era uma expressão freqüentemente usada na tradição rabínica, associada ao vocábulo nãbhãl (néscio),para se referir aos insensatos e sem sabedoria. Já a palavra grega more, traduzida, em algumas versões, como “louco”, tem suaorigem na expressão hebraica moreh (desgraçado), alguém que por não crer em Deus merecia o inferno. O cerne do ensino deJesus está em que o pecado que leva alguém a ofender outra pessoa é o mesmo que motiva o assassinato. O vocábulo grego

 synedrio cujo correspondente hebraico é sanhedrïn refere-se ao mais alto tribunal dos judeus, que se reunia em Jerusalém. A KJtraduziu o termo para o inglês council (conselho), por se tratar da reun ião dos sábios que julgavam as causas do povo. Synedrion deu origem à expressão grega presbyterion que significa “corpo de anciãos” (Lc 22.66; At 22.5) e gerousia “senado” (At 5.21).

 A expressão “fogo do inferno” tem a ver com o vale de Hinom em hebraico ge’hinnom que deu origem ao nome grego do lugar: geena. Durante o reinado dos perversos Acaz e Manassés, sacrifícios humanos ao deus amonita Moloque foram realizados em geena. Josias profanou o vale por causa das oferendas pagãs que realizou naquele lugar (2Rs 23.10; Jr 7.31,32; 19.6). Com opassar do tempo, esse vale se transformou num grande depósito de lixo, constantemente em chamas, o que fez a palavra geena significar o lugar dos perdidos, imprestáveis e destinados ao fogo que nunca se apaga.

7 Graças a Jesus temos a bênção do perdão à nossa disposição. Não fosse essa graça seríamos todos consumidos pela Lei.Os cristãos devem, então, perdoar tudo e a todos, pedir perdão e procurar a paz com todos aqueles que se sentirem ofendidos

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12MATEUS 5

 Adultério no coração27 Ouvistes o que foi dito: ‘Não comete-

rás adultério’.28 Eu, porém, vos digo, que qualquer queolhar para uma mulher com intençãoimpura, em seu coração, já cometeuadultério com ela.29 Se o teu olho direito te leva a pecar,arranca-o e lança-o fora de ti; pois teé mais proveitoso perder um dos teusmembros do que todo o teu corpo serlançado no inferno.30 E, se tua mão direita te zer pecar,corta-a e atira-a para longe de ti; pois teé melhor que um dos teus membros se

perca do que todo o teu corpo seja lança-do no inferno.

O casamento é sagrado31 Foi dito também: ‘Aquele que se divor-ciar de sua esposa deverá dar a ela umacertidão de divórcio’.32 Eu, porém, vos digo: Qualquer que sedivorciar da sua esposa, exceto por imo-ralidade sexual, faz com que ela se torneadúltera, e quem se casar com a mulherdivorciada estará cometendo adultério.

Votos e juramentos33 Também ouvistes o que foi dito aos an-tigos: ‘Não jurarás falso, mas cumprirás ri-gorosamente teus juramentos ao Senhor’.

34 Entretanto, Eu vos armo: Não jureisde forma alguma; nem pelos céus, que

são o trono de Deus;35 nem pela terra, por ser o estrado onderepousam seus pés; nem por Jerusalém,porque é a cidade do grande Rei.36 E não jures por tua cabeça, pois nãotens o poder de tornar um o de cabelobranco ou preto.37 Seja, porém, o teu sim, sim! E o teunão, não! O que passar disso vem doMaligno.8

 Jamais use a vingança38 Ouvistes o que foi dito: “Olho por olho

e dente por dente”.39 Eu, porém, vos digo: Não resistais aoperverso; mas se alguém te ofender comum tapa na face direita, volta-lhe tam-bém a outra.40 E se alguém quiser processar-te e ti-rar-te a túnica, deixa que leve tambéma capa.41 Assim, se alguém te forçar a andar umamilha, vai com ele duas.42 Dá a quem te pedir e não te desvies dequem deseja que lhe emprestes algo.9 

 Ame os que o odeiam43 Ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teupróximo e odiarás o teu inimigo’.44 Eu, porém, vos digo: Amai os vossos

com alguma de suas atitudes. Jesus não entra no mérito se o cristão está certo ou não, apenas ordena que a reconciliação sejapromovida o mais rápido possível e que a in iciativa seja sempre da parte daquele que crê em Deus. Jesus usa o exemplo do judeureligioso e temente ao Senhor em um de seus atos mais sublimes — o sacrifício oferecido a Deus de acordo com a lei mosaica,para ensinar que não pode haver culto, oração ou oferta maior do que um coração limpo, sincero, humilde, perdoador e em pazcom Deus e com os semelhantes. Em seguida, por meio de uma parábola, Jesus exorta os cristãos que estão em demanda comalguém a que se apressem a negociar um acordo e estabeleçam a paz, antes que a questão se prolongue demais e acabe na

 justiça onde não há misericórdia, apenas a lei.

8 No AT juramentos em nome do Senhor eram obrigatórios em determinadas ocasiões: quando a palavra necessitava de umfiador idôneo ou mesmo diante de um voto. A quebra da palavra empenhada era um ato sujeito às penas da Lei (Êx 20.7; Lv 19.12;Dt 19.10-19). Deus era (e é) o juiz onisciente de toda a falsidade. “...tão certo como o Senhor vive” (1Sm 14.39). Essa ênfase nasantidade dos votos ocorria devido à falsidade costumeira entre as pessoas em seus acordos cotidianos. Jesus ensina que overdadeiro cristão deve ser autêntico e sincero em suas afirmações; afastando-se de toda a ambigüidade e falsidade comunsneste mundo controlado pelas forças do Diabo.

9 Jesus trabalha as questões universais do direito. De fato toda a humanidade participa de um grande julgamento, envolvendotodos os povos de todos os tempos, no qual Cristo é nosso Advogado e garantia absoluta. Jesus começa citando a antiga Lei daRetaliação (Lv 24.20). Entre os judeus, na época de Jesus, o ato de bater na face direita de alguém, com as costas da mão, eraum insulto e uma provocação; não exatamente uma agressão. O insultado poderia revidar ou ir ao tribunal pleitear uma punição,em dinheiro, pela ofensa. Jesus exorta seus discípulos a oferecer a outra face, em sinal de paz e disposição para um acordo. Apróxima ilustração tem a ver com as leis dos fariseus: um credor tinha o direito de exigir a túnica do devedor por uma dívida nãopaga. Quando não a recebia por bem, tinha o direito de exigi-la por meio de um processo jur ídico. Mas, de acordo com Dt 24.10-13, deveria ceder a roupa ao dono, conforme suas necessidades diárias de uso. Diante dessas questões jurídicas mesquinhas,

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13 MATEUS 5, 6

inimigos e orai pelos que vos perse-guem;45

para que vos torneis lhos do vosso Paique está nos céus, pois que Ele faz raiaro seu sol sobre maus e bons e derramachuva sobre justos e injustos.46 Porque se amardes os que vos amam,que recompensa tendes? Não fazem ospublicanos igualmente assim?10

47 E, se saudardes somente os vossos ir-mãos, que fazeis de notável? Não agem osgentios também dessa maneira?48 Assim sendo, sede vós perfeitos comoperfeito é o vosso Pai que está nos céus.

Como viver no Reino

6 Guardai-vos de fazer a vossa caridadee obras de justiça diante dos homens,

com o m de serem vistos por eles; casocontrário, não tereis qualquer recom-pensa do vosso Pai que está nos céus.2 Por essa razão, quando deres um do-nativo, não toques trombeta diante de ti,como fazem os hipócritas, nas sinagogase nas ruas, para serem gloricados peloshomens. Com toda a certeza vos armoque eles já receberam o seu galardão.3 Tu, porém, quando deres uma esmolaou ajuda, não deixes tua mão esquerdasaber o que faz a direita.

4 Para que a tua obra de caridade queem secreto: e teu Pai, que vê em secreto,

te recompensará. A oração modelo5 E, quando orardes, não sejais comoos hipócritas, pois que apreciam orarem pé nas sinagogas e nas esquinas dasruas, para serem admirados pelos outros.Com toda a certeza vos armo que eles járeceberam o seu galardão.6 Tu, porém, quando orares, vai para teuquarto e, após ter fechado a porta, orarása teu Pai, que está em secreto; e teu Pai,que vê em secreto, te recompensará ple-

namente.7 E, quando orardes, não useis de vãsrepetições, como fazem os pagãos; poisimaginam que devido ao seu muito falarserão ouvidos.8 Portanto, não vos assemelheis a eles;porque Deus, o vosso Pai, sabe tudo deque tendes necessidade, antes mesmoque lho peçais.9 Por essa razão, vós orareis:

Pai nosso, que estás nos céus!Santicado seja o teu Nome.

10 Venha o teu Reino.Seja feita a tua vontade,assim na terra como no céu.

Jesus exorta os discípulos a serem altruístas. Se credores, a desistir do penhor; se devedores, a dar além do devido, entregandotambém a capa que era vestida sobre a túnica. Para o discípulo de Jesus, o direito jur ídico já foi abolido na Cruz, a nova ordem éa Lei do Amor em Cristo. Outra metáfora de Jesus reforça essa idéia. Tem a ver com o costume judaico de se pedir a companhiade alguém numa viagem pelas perigosas estradas da época. Quando alguém se negava, e acontecia um crime, essa pessoaera responsabilizada pela sua comunidade local, por não ter atendido ao pedido do viajante. O verbo grego traduzido aqui por“forçar” advém de uma antiga palavra persa que significa “recrutar à força”. Curiosamente, é a mesma palavra que aparece nofinal deste livro, em Mt 27.32, quando os soldados romanos “recrutam à força” Simão, para ajudar Jesus a carregar sua cruz. Osfariseus haviam imposto uma lei: “devemos acompanhar somente a outro fariseu, não devemos caminhar com os incrédulos”.Jesus, entretanto, vai além, e ensina que seus discípulos, ao serem solicitados por qualquer viajante a andar 1.609 metros (umamilha), devem graciosamente estar prontos para caminhar em sua companhia por mais de três quilômetros (duas milhas). Ouseja, exceder em amor, graça e misericórdia ao que pede a Lei.

10 O termo publicano (palavra latina com origem no grego telõnês) denominava um coletor de impostos a serviço do impérioromano. Esses homens eram odiados por causa da impiedade com que exploravam o povo. Para os judeus, o publicano eraimundo, pois estava sempre em contato com os gentios. A palavra “publicano” tornou-se sinônimo de egoísmo, desonestidade,falsidade, impiedade e incredulidade. Gentios (em hebraico  gôyïm e do grego ethnikoi ou Hellênes traduzido pela Vulgata, emlatim, como gentiles) era um termo geral para significar “nações”. Entretanto, na época de Jesus, esse termo era usado pelos

 judeus para se refer ir, em tom discriminatório e preconceituoso, a todas as pessoas que não fossem israelenses. Para os mestrese doutores da Lei, os “gentios” eram idólatras, imorais e pecadores. Um judeu chamado de gentio significava um publicano; ouseja, uma pessoa impura, incrédula, mau-caráter, inescrupulosa, impiedosa e digna de todo o desprezo. Jesus resgata o valorreal dos “gentios” (das nações) e convida a todos para Seu Reino (Rm 1.16; Cl 3.11; Gl 2.14; Ap 21.24; 22.2). Jesus conclui essaparte do seu ensino revelando o segredo da ética cristã: o amor deve fazer muito mais do que a obrigação. Este foi o testemunhode Cristo e este deve ser o objetivo maior dos cristãos: buscar o amor perfeito do Pai e agir assim, como filhos amados de Deus,para que outros vejam a luz de Cristo e sejam libertos das trevas deste mundo.

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14MATEUS 6

11 Dá-nos hoje o nosso pão diário.12 Perdoa-nos as nossas dívidas,

assim como perdoamos aosnossos devedores.13 E não nos conduzas à tentação,

mas livra-nos do Maligno.1

Porque teu é o Reino, o podere a glória para sempre. Amém.

14 Pois, se perdoardes aos homens as suasofensas, assim também vosso Pai celestevos perdoará.15 Entretanto, se não perdoardes aos ho-mens, tampouco vosso Pai vos perdoaráas vossas ofensas.

 Jejuar é adorar a Deus16 Quando jejuardes, não vos mostreiscom aspecto sombrio como os hipócritas;pois desguram o rosto com a intenção demostrar às pessoas que estão jejuando.17 Tu, porém, quando jejuares, unge tuacabeça e lava o rosto.18 Pois, assim, não parecerá aos outros que

 jejuas; e, sim, ao teu Pai em secreto; e teuPai, que vê em secreto, te recompensará.

Investir os recursos no céu19 Não acumuleis para vós outros tesouros

na terra, onde a traça e a ferrugem destro-em, e onde ladrões arrombam para roubar.20 Mas ajuntai para vós outros tesourosno céu, onde a traça nem a ferrugempodem destruir, e onde os ladrões nãoarrombam e roubam.21 Porque, onde estiver o teu tesouro, aítambém estará o teu coração.

Um corpo iluminado22 Os olhos são a lâmpada do corpo.Portanto, se teus olhos forem bons, teucorpo será pleno de luz.23 Porém, se teus olhos forem maus, todoo teu corpo estará em absoluta escuridão.Por isso, se a luz que está em ti são trevas,quão tremendas são essas trevas!SSE

Servir somente a Deus24 Ninguém pode servir a dois senhores;pois odiará um e amará o outro, ou seráleal a um e desprezará o outro. Não po-deis servir a Deus e a Mâmon.2 

1 Jesus ensina a seus seguidores o caminho da verdadeira adoração e comunicação com Deus. O primeiro passo é ahumildade, em contraste com o estilo dos fariseus, escribas, publicanos e gentios, que viviam uma religiosidade apenas deaparência, formal e estéril. Os discípulos deveriam também evitar as “vãs repetições”, pois essa era a maneira como os pagãos(aqueles que não passaram pelo batismo, também chamados de “gentios”) tentavam sensibilizar seus deuses para obter favores.Nessa época, os adoradores de Baal (1Rs 18.26-28) estavam cativando até judeus fiéis com suas hipocrisias (encenaçõesteatrais, do grego hupokrites, ator). Por isso Jesus oferece um modelo de oração: O nascimento espiritual dá ao cristão o direitode ser filho de Deus (Jo 3) e, portanto, pode orar a Deus como quem conversa com seu pai amado (em aramaico: Abba, Mc14.36; Rm 8.15, Gl 4.6). Devemos desejar e trabalhar pelo estabelecimento do Reino de Deus, em nossas vidas e comunidades,ao receber pessoalmente o Espírito Santo, que traz salvação, paz, alegria, e a justiça de Cristo. Reino esse que será estabelecidode forma plena no futuro iminente, quando Jesus voltar, e o último Inimigo for vencido definitivamente (2Ts 2.8; 1Co 15.23-28).

 Assim a terra usufruirá a mesma glória de Deus que há nos céus (2Pe 3.13). O cristão reconhece que é o Senhor quem suprediariamente todas as nossas necessidades, e é grato por isso. A fome, as guerras e outros sofrimentos sociais não ocorrem porindiferença da parte de Deus, mas pelos pecados dos indivíduos (malignidade) e das nações. Devemos nos lembrar de perdoaras pessoas que nos devem (bens materiais ou justiça) com a mesma misericórdia e generosidade com que Deus nos perdoasempre (1Jo 1.5-9). Observemos como Jesus ressalta a importância do perdão no Reino de Deus (6.14,15). O servo do Senhor é o

alvo favorito dos ataques e artimanhas do Diabo. Mas Deus tem o poder de nos livrar de todo o mal e levar-nos, para lugar seguro,longe do alcance dos demônios. Não há amargura, decepção, fraqueza, vício, perda ou dor maiores do que o amor e o poderde Deus (Tg 1.13; 1Co 6.18; 10.14; 1Tm 6.11; 2Tm 2.22). A maioria das versões da Bíblia em português inclui a frase: “... e não

 nos deixes cair em tentação, mas  livra-nos do mal...”. A KJ apresenta a expressão inglesa: “... and do not lead us into temptation ...”(...e não nos induzas à tentação...). Os melhores originais gregos nos permitem traduzir: “...e não nos conduzas à tentação...”. Apalavra grega peirasmos aqui significa “tentação”, podendo significar também: “teste ou provação” em outros trechos. Assim, atentação, que do ponto de vista do Diabo é sempre uma cilada para nos destruir, do ponto de vista de Deus é uma oportunidadepara fortalecimento da fé e crescimento espiritual (Lc 22.32). Deus controla o universo visível e invisível, incluindo o Maligno e seureino; por isso, é ao Senhor que devemos pedir livramento das tentações e forças para vencer as provações (1Co 10.13). Jesusdeixa bem claro em sua oração-modelo, que o cristão somente consegue a vitória, vigiando e orando. O próprio Jesus venceusua grande batalha contra Satanás, com jejum (4.2), e recomendou que seus discípulos também usassem essa arma ao lado dasorações, e do contínuo louvor a Deus, contra os desígnios do Inimigo (9.15; 17.21).

2 Jesus escolhe uma palavra aramaica Mâmon para personificar um dos mais poderosos deuses pagãos de todos os tempos:o Dinheiro. O adjetivo Mâmon, deriva do verbo aramaico amân (sustentar) e significa amor às riquezas e dedicação avarenta aos

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15 MATEUS 6, 7

 Descanso na providência divina25 Portanto, vos armo: não andeis preo-

cupados com a vossa própria vida, quantoao que haveis de comer ou beber; nempelo vosso corpo, quanto ao que haveis devestir. Não é a vida mais do que o alimen-to, e o corpo mais do que as roupas?26 Contemplai as aves do céu: não se-meiam, não colhem, nem armazenamem celeiros; contudo, vosso Pai celestialas sustenta. Não tendes vós muito maisvalor do que as aves?27 Qual de vós, por mais que se preocupe,pode acrescentar algum tempo à jornadada sua vida?3

28 E por que andais preocupados quanto aoque vestir? Observai como crescem os líriosdo campo. Eles não trabalham nem tecem.29 Eu, contudo, vos asseguro que nemSalomão, em todo o esplendor de suaglória, vestiu-se como um deles.30 Então, se Deus veste assim a erva docampo, que hoje existe e amanhã é lan-çada ao fogo, quanto mais a vós outros,homens de pequena fé?31 Portanto, não vos preocupeis, dizendo:Que iremos comer? Que iremos beber?Ou ainda: Com que nos vestiremos?

32 Pois são os pagãos que tratam de obtertudo isso; mas vosso Pai celestial sabe

que necessitais de todas essas coisas.33 Buscai, assim, em primeiro lugar, oReino de Deus e a sua justiça, e todasessas coisas vos serão acrescentadas.34 Portanto, não vos preocupeis com odia de amanhã, pois o amanhã trará suaspróprias preocupações. É suciente omal que cada dia traz em si mesmo.

 Amar mais e julgar menos

7 Não julgueis, para que não sejais julgados.1

2 Pois com o critério com que julgardes,

sereis julgados; e com a medida queusardes para medir a outros, igualmentemedirão a vós.3 Por que reparas tu o cisco no olho deteu irmão, mas não percebes a viga queestá no teu próprio olho?4 E como podes dizer a teu irmão: Per-mite-me remover o cisco do teu olho,quando há uma viga no teu?5 Hipócrita! Tira primeiro a trave do teuolho, e então poderás ver com clarezapara tirar o cisco do olho de teu irmão.2

6 Não deis o que é sagrado aos cães, nem

interesses mundanos. Jesus orienta seus seguidores a investir suas vidas na conquista de bens espirituais agradáveis ao Senhore adverte para a impossibilidade de se servir com lealdade a Deus e ao mesmo tempo amar o deus Dinheiro. Isso não quer dizerque Jesus seja contra os ricos e prósperos, mas, sim, que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (Gn 13.2; Ec 3.13; 5.10-19; 10.19; 1Tm 6.10). O dinheiro é para ser usado e as pessoas, amadas. A inversão desses valores tem sido a razão de muitasdesgraças (Is 52.3; 55.1; Rm 4.4; 1Tm 5.18).

3 A palavra grega psyche (alma) significa: “vida”, pois nas Escrituras, “alma” tem um sentido de algo diferente do atual, derivadoda filosofia grega, especialmente a partir de Platão. Na Bíblia, a palavra “alma” vem da expressão hebraica  nephesh que significa“personalidade” e indica o centro das emoções e apetites. Por isso, em toda a Bíblia, o comer e o beber são considerados comofunções da alma. Algumas vezes pode também se referir à vida natural em contraste com a vida espiritual (Hb 4.12). Jesus usa umafigura de linguagem para ensinar duas verdades: “Deus existe, e você não é Ele”. As preocupações tentam minimizar o poder deDeus e colocar um peso insuportável sobre nossas costas. A versão de Almeida traduz a expressão grega helikia por “estatura”; po-rém, melhores originais e estudos mais acurados, mostram que o termo se refere a tempo e idade. Em certo sentido, essa expressãode Jesus poderia ser traduzida assim: “Ninguém ultrapassa, nem por meio metro, o ponto final da sua existência na terra”. Por isso,Jesus recomenda um estudo (análise, consideração filosófica) sobre a maneira cuidadosa, generosa e particular com que Deus tratacada um dos seres mais simples da terra, e os reveste de grande glória (1Rs 1-11; 1Cr 28; 2Cr 9; 1Rs 10.4-7). Concluindo: temos umavisão distorcida da vida e de nossas prioridades. Somente a busca do Reino de Deus vai nos colocar em harmonia com o Criador, e,assim, descobriremos a tão almejada paz, justiça e real felicidade (Jo 6.52-59; Jo 10.10, Rm 3.21-31 e 14.17-18).

Capítulo 7 1 Jesus mostra que é possível ajudar nosso semelhante com conselhos e críticas (v. 5 e 23.13-39), bem como devemos estar

sempre dispostos a aprender, avaliar e ensinar (Rm 2.1; 1Co 5.9; 2Co 11.14; Fp 3.2; 1Jo 4.1; 1Ts 5.21).Entretanto, como cristãos,nosso dever é amar antes de julgar. Um coração repleto do amor de Deus não será acusador, mesquinho, invejoso, crítico con-tumaz ou difamador. A marca do cristão deveria ser seu amor irrestrito e altru ísta pelo próximo, em especial por seus irmãos emCristo (Jo 13.5; Jo 14.15; Rm 12.10; 1Pe 1.22).

2 Jesus usou muitas histórias (parábolas) e figuras de linguagem para ensinar. Em 19.24, por exemplo, Ele fala de um camelopassando pelo fundo de uma agulha. Nesta outra hipérbole, Ele compara uma partícula de serragem ou pedaço de qualquer

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16MATEUS 7

 jogueis aos porcos as vossas pérolas, paraque não as pisoteiem e, voltando-se, vos

façam em pedaços.Perseverança na oração7 Pedi, e vos será concedido; buscai, eencontrareis; batei, e a porta será abertapara vós.8 Pois todo o que pede recebe; o que bus-ca encontra; e a quem bate, se lhe abrirá.9 Ou qual dentre vós é o homem que,se o filho lhe pedir pão, lhe dará umapedra?10  Ou se lhe pedir peixe, lhe entregaráuma cobra?11 Assim, se vós, sendo maus, sabeis darbons presentes aos vossos lhos, quantomais vosso Pai que está nos céus dará oque é bom aos que lhe pedirem!3

12 Portanto, tudo quanto quereis queas pessoas vos façam, assim fazei-ovós também a elas, pois esta é a Lei e osProfetas. 4

Os dois únicos caminhos13 Entrai pela porta estreita, pois larga éa porta e amplo o caminho que levam àperdição, e muitos são os que entram poresse caminho.14 Porque estreita é a porta e difícil o ca-minho que conduzem à vida, apenas unspoucos encontram esse caminho!5

Pelo fruto se conhece a árvore 15 Acautelai-vos quanto aos falsos profe-

tas. Eles se aproximam de vós disfarçadosde ovelhas, mas no seu íntimo são comolobos devoradores.16 Pelos seus frutos os conhecereis. Épossível alguém colher uvas de um espi-nheiro ou gos das ervas daninhas?17 Assim sendo, toda árvore boa produzbons frutos, mas a árvore ruim dá frutosruins.18 A árvore boa não pode dar frutos ruins,nem a árvore ruim produzir bons frutos.19 Toda árvore que não produz bons fru-tos é cortada e atirada ao fogo.20 Portanto, pelos seus frutos os conhe-cereis.21 Nem todo aquele que diz a mim: ‘Se-nhor, Senhor!’ entrará no Reino dos céus,mas somente o que faz a vontade de meuPai, que está nos céus.22 Muitos dirão a mim naquele dia:‘Senhor, Senhor! Não temos nós profe-tizado em teu nome? Em teu nome nãoexpulsamos demônios? E, em teu nome,não realizamos muitos milagres?’23 Então lhes declararei: Nunca os co-nheci. Afastai-vos da minha presença,vós que praticais o mal.

O sábio e o insensato24  Assim, todo aquele que ouve estas

material com uma grande trave (viga) de madeira usada na estrutura de construções, para destacar a humildade, carinho e sen-sibilidade que devemos ter para com nosso semelhante, quando tivermos de emitir um juízo, criticar ou aconselhar. Pois somossujeitos a erros, fraquezas e dificuldades iguais ou maiores que os de qualquer pessoa.

3 Jesus explica que o bem e o mal têm, às vezes, certa semelhança inicial, podendo enganar alguém ingênuo ou desinformado. A pedra a que Jesus se refere era parecida com os pães orientais da época: redondos, achatados e endurecidos (por isso o pãosuportava longas viagens e era quebrado para ser servido). A cobra peçonhenta é semelhante às enguias comestíveis, apreciadaspela culinária da época. O Senhor é Pai bondoso e fica feliz em dar os presentes (dádivas) que seus filhos lhe pedem, mas só Ele

sabe o que é realmente bom para cada um de nós. 4 Este versículo é conhecido em todos os continentes como “A Regra de Ouro”, a manifestação prática do amor cristão.Orienta-nos Jesus aqui quanto ao procedimento diário: o amor, sem egoísmos, deve ser a força motriz das nossas ações (1Co13.4-8), concedendo ao próximo o que buscamos para nosso próprio bem. Devemos chegar ao ponto máximo do amor e da féem Deus, que é retribuir com o bem a qualquer pessoa que, por algum motivo, nos ferir ou fizer qualquer mal. Foi assim que Deusrespondeu à rebelião e indiferença da humanidade, oferecendo-se em sacrifício, para nos salvar pela Graça (Ef 2 .8-9). A “Lei e osProfetas” é uma referência a toda a Escritura Sagrada, tanto em sua letra como em seu pleno conteúdo (Rm 13.8-10; Mt 5.17).

5 Jesus denomina o caminho para o céu de “porta estreita” ou “caminho difícil”, em algumas versões “caminho apertado”.Não porque Deus tenha diminuído sua generosidade, graça e desejo de salvar a todos (2Pe 3.9), ao contrário, estamos vivendoa “Época da Graça” onde todos – mais do que nunca – são bem-vindos ao Reino de Deus. Entretanto, poucos permanecerãono Caminho, porque jamais foram dele realmente, e não suportam o negar-se a si mesmo, as renúncias do “Eu” nem os apelosde uma sociedade cada vez mais hedonista e materialista. A idéia e a figura dos dois caminhos é muito anterior a Cristo, data de400 a.C e foi difundida através do trabalho filosófico de Sócrates. O mesmo pensamento reaparece em duas grandes obras doprimeiro século depois de Cristo: Didaquê e Epístola de Barnabé.

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17 MATEUS 7, 8

minhas palavras e as pratica será compa-rado a um homem sábio, que construiu a

sua casa sobre a rocha.25 E caiu a chuva, vieram as enchentes,sopraram os ventos e bateram com vio-lência contra aquela casa, mas ela nãocaiu, pois tinha seus alicerces na rocha.26 Pois, todo aquele que ouve estas mi-nhas palavras e não as pratica é comoum insensato que construiu a sua casasobre a areia.27 E caiu a chuva, vieram as enchentes,sopraram os ventos e bateram com vio-lência contra aquela casa, e ela desabou.E grande foi a sua ruína”.28 Quando Jesus acabou de pronunciarestas palavras, estavam as multidões atô-nitas com o seu ensino.29  Porque Ele as ensinava como quemtem autoridade, e não como os mestresda lei.6

 Jesus purica o imundo

8 Quando Ele desceu do monte, gran-des multidões o seguiram.

2 E eis que um leproso, tendo-se apro-ximado, adorou-o de joelhos e clamou:“Senhor, se é da tua vontade podes pu-ricar-me!”3 Então, Jesus, estendendo a mão, to-cou-lhe, dizendo: “Eu quero. Sê limpo!”E no mesmo instante ele cou purica-do da lepra.

4  Em seguida, disse-lhe Jesus: “Veja quenão digas isto a ninguém, mas segue,

mostra teu corpo ao sacerdote, e faze aoferta que Moisés ordenou, para que sirvade testemunho.”1 

Um comandante romano crente 5 Entrando Jesus em Cafarnaum, dirigiu-se a ele um centurião, suplicando:2

6 “Senhor, meu servo está em casa, para-lítico e sofrendo horrível tormento”.7 Então, Jesus lhe disse: “Eu irei curá-lo”.8  Ao que respondeu o centurião: “Se-nhor, não sou digno de receber-te sob omeu teto. Mas dize apenas uma palavra,

e o meu servo será curado.9 Porque eu também sou homem de-baixo de autoridade e tenho soldados àsminhas ordens. Digo a um: Vai, e ele vai;e a outro: Vem, e ele vem. Ordeno a meuservo: Faze isto, e ele o faz”.10  Ao ouvir isto, Jesus maravilhou-se, edisse aos que o seguiam: “Com toda a cer-teza vos armo que nem mesmo em Israelencontrei alguém com tão grande fé.11 Digo-vos que muitos virão do Oriente edo Ocidente e tomarão lugares à mesa comAbraão, Isaque e Jacó no Reino dos céus.12 Entretanto, os herdeiros do Reino se-rão lançados para fora, nas trevas, ondehaverá choro e ranger de dentes”.3

13 Então disse Jesus ao centurião: “Vai-te,e da maneira como creste, assim te su-

6 Os doutores da lei (em grego grammateis, nomikoi) e os mestres da lei (em grego nomodidaskaloi) eram técnicos no estudoda lei de Moisés (Torah). Em princípio era uma função reservada aos sacerdotes. Esdras, um homem de Deus, acumulou as fun-ções de sacerdote e escriba (em hebraico sô pherïm). Veja Ne 8.9. Com o passar do tempo, os escribas se tornaram extremamenteformais e espiritualmente estéreis. Além disso, muitos se envolveram com o partido político dos fariseus e deixaram de ser impar-ciais em relação ao ensino da lei. Jesus, entretanto, ensinava com “exousia”, em grego, “poder sobrenatural” que a todos deixavamaravilhados, pasmos, atônitos (1Co 2.4-5). Isso despertou a inveja e o ódio de muitos “líderes religiosos” contra Jesus Cristo.

Capítulo 81 A lei de Moisés (Lv 13,14) ordenava que em casos de doenças de pele, especialmente a lepra, somente um sacerdote ou seu

filho poderia realizar a cerimônia de purificação. O conceito de quarentena (para isolamento e tratamento de doenças infecciosas)teve início naquela época. Para os judeus, a çãra’ath, palavra hebraica para um dos tipos de hanseníase, simbolizava o pecado,por ser nojento, contagioso e incurável. Além disso, o sacerdote que tocava no leproso tornava-se cerimonialmente imundo. Je-sus ao curar um homem da mais terrível doença de sua época, revela ao mundo parte de sua natureza e ministério. As instruçõesmosaicas para o cerimonial de purificação dos imundos tipificam a nossa redenção em Cristo (Lv 14.2-32).

2 A centúria era uma divisão do exército romano, formada por cem homens e comandada por um centurião. Cornélio, um outrocenturião gentio, convertido, foi notável exemplo de cristão (At 10).

3 A tradição rabínica considerava o judaísmo como uma garantia herdada e absoluta de entrada no Reino de Deus, e por issotambém se dizia: “filhos do reino” (Is 41.8). Embora, os judeus sejam de fato o povo escolhido, Jesus está comemorando a entradados gentios (todos os que não são judeus) no Reino do Pai, como verdadeiros filhos (Sl 107.3; Is 49.12; 59.19; Ml 1.11). Jesusdemonstra seu lado humano ao ficar admirado (surpreso) com a fé e a compreensão que aquele homem, não-judeu, demonstrou

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18MATEUS 8

cederá!” E naquela mesma hora o servofoi curado.

 Jesus salva, cura e liberta  14 Tendo Jesus chegado à casa de Pedro,viu a sogra deste acamada, enferma ecom febre.15 Então, Jesus tocou a mão dela e a febrea deixou. Em seguida, levantou-se ela epassou a servi-lo.16 No início da noite, trouxeram-lhe mui-tos endemoninhados; e Ele, com apenasuma palavra, expulsou os espíritos ecurou todos os que estavam doentes.17 Assim se cumpriu o que fora dito porintermédio do profeta Isaías: “Ele tomousobre si as nossas enfermidades e pesso-almente levou as nossas doenças”. 4

 A prioridade do discipulado18 Quando Jesus viu que uma multidão orodeava, ordenou que atravessassem parao outro lado do mar.19 Então, aproximando-se dele um escri-ba, disse-lhe: “Mestre, seguir-te-ei paraonde quer que fores”.20 Jesus lhe respondeu: “As raposas têm

suas tocas e as aves do céu têm seus ni-nhos, mas o Filho do homem não tem

onde repousar a cabeça”.21 Outro de seus discípulos lhe disse: “Se-nhor, permite-me ir primeiro sepultarmeu pai”.22 Ao que Jesus lhe respondeu: “Segue-me e deixa que os mortos sepultem osseus próprios mortos”.

 Jesus domina as circunstâncias23 Entrando Jesus no barco, seus discípu-los o seguiram.24 De repente, sobreveio no mar umaviolenta tempestade, de tal maneira queas ondas encobriam o barco. Ele, contu-do, dormia.25 Então, seus discípulos vieram des-pertá-lo, clamando: “Senhor, salva-nos!Vamos todos perecer!”26 Mas Jesus disse a eles: “Por que estaiscom tanto medo, homens de pequena fé?E, levantando-se, repreendeu os ventos eo mar, e houve plena calmaria.27 Então, os homens maravilhados, excla-maram: “Quem é este que até os ventos eo mar lhe obedecem?”.

ter acerca do seu poder e autoridade divina. Aproveita o evento para proclamar a salvação para todos os povos e raças (22.1-14;Lc 14.15-24), ao mesmo tempo em que adverte duramente aos judeus quanto ao fato de que a herança da vida eterna e do Reinoestá em crer em Deus e na aceitação de Seu Filho que veio ao mundo para salvar todos os seus. De agora em diante a humanidadenão seria mais dividida entre judeus e gentios (os próximos e os distantes de Deus); mas, sim, entre crentes e descrentes. O padrãode reconhecimento da herança não repousa mais sobre a nacionalidade ou linhagem judaica, mas numa fé sincera e absoluta noSenhor (Sl 147.13,20; Mt 4.17; 9.28; Mc 4.40; 11.22; Lc 5.20; Jo 5.37-47; 8.45; At 14.16). Por isso acontecerá que do oriente e doocidente (de todo o mundo) virão gentios para o Reino (Is 49.12) e terão o direito de se assentar ao lado dos grandes pais da fé, poisaceitaram a Graça da Salvação (Ef 2.8). Jesus conclui duramente, que muitos judeus, “herdeiros do Reino” (sacerdotes ou filhos doreino) tornaram-se “filhos da desobediência” (piores dos que os pagãos e gentios), razão pela qual serão expulsos para o “reino dosmortos” ( sheol , em hebraico e hades, em grego), onde haverá tanto remorso e tristeza que se ouvirá o som do bater dos queixosdas pessoas aterrorizadas. Nesse estado intermediário entre a morte e a ressurreição ( sheol ou hades), os salvos gozarão de paz e

descanso, enquanto os incrédulos estarão na escuridão (um lugar chamado: inferno) e sob tormentos. Na ressurreição, os salvoshabitarão plenamente o Reino, e os incrédulos (judeus ou não) sofrerão a segunda morte e serão banidos para o lugar de punição efogo eterno ou lago de fogo (em grego t e n geennan tou pyros). Onde até mesmo o inferno será lançado (Ap 20).

 4  Ao contrário do que alguns céticos e críticos afirmam, Jesus não andava com o AT nas mãos procurando cumprir profecias.Mas, a cada instante, um evento admirável ocorria e seus discípulos, e todos os que conheciam a Lei e os Profetas testemunhavam,na pessoa de Jesus o cumprimento de várias profecias messiânicas do AT. Tudo isso diante dos olhos atônitos de todos. Algumasdessas profecias haviam sido escritas há mais de 1.000 anos antes que Jesus começasse a andar pelas terras da Palestina pregandoa Nova Aliança, como é o caso do Salmo 22 e outros (Sl 2,8,16,40,41,45,68,69,89,102,109,110 e 118). A profecia de Isaías 53.4 (cercade 750 a.C segundo os melhores estudos sobre os Papiros do Mar Morto) nos revela que Jesus, o Messias (Palavra hebraica que sig-nifica: Rei Ungido, e que foi traduzida para o grego como: Cristo), refere-se ao ministério de cura e libertação de Jesus, cuja obra lhecustou caro fisicamente (Mc 5.30, Lc 8.46). Os cristãos, hoje em dia, podem ter uma idéia desse desgaste físico e emocional quandoparticipam ativamente de qualquer dos ministérios da Igreja: exposição da Palavra, evangelização, louvor, adoração, missões, cura,libertação, aconselhamento, administração, contribuição, ação social e outros, pois a verdadeira obra cristã requer do Espírito Santo(que é o próprio Jesus habitando na vida de cada indivíduo que crê) o mesmo poder demandado da pessoa de Jesus Cristo.

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19 MATEUS 8, 9

 Jesus domina as forças do mal 28 Quando Ele chegou ao outro lado, à

província dos gadarenos, foram ao seuencontro dois endemoninhados, saindodentre os sepulcros. Eram tão agressivosque ninguém podia passar por aquelecaminho.29 E, de repente gritaram: “Que temosnós contigo, ó Filho de Deus? Vieste aquipara nos atormentar antes do devidotempo?”30 Não muito longe deles estava pastandouma grande manada de porcos.31 Então, os demônios imploravam a Ele:“Se nos expulsas, permite-nos entrar

naquela manada de porcos!”32 E Jesus lhes disse: “Ide!” Assim quesaíram entraram nos porcos. De repen-te, toda a manada correu em disparadae atirou-se violentamente precipícioabaixo, em direção ao mar, e nas águaspereceram.33 Aqueles que cuidavam dos porcos fu-giram, foram para a cidade e contaramtudo, inclusive o que ocorrera com osendemoninhados.34 Então toda a cidade saiu ao encontrode Jesus; e assim que o viram, suplica-ram-lhe que se retirasse da sua região.

 Jesus perdoa e cura

9 E, entrando Jesus num barco, atraves-sou o mar e foi para a sua cidade.

2 E eis que lhe trouxeram um paralítico

deitado em sua maca. Observando-lhesa fé, disse Jesus ao paralítico: “Tem bom

ânimo, lho; os teus pecados estão per-doados”.3 Diante disso, alguns escribas diziamconsigo mesmos: “Este homem blasfe-ma!”4 Mas Jesus, conhecendo-lhes os pensa-mentos, questiona: “Por que cogitai omal em vossos corações?”5 Pois o que é mais fácil dizer: ‘Os teuspecados estão perdoados1’, ou: ‘Levanta-te e anda?’6 Entretanto, para que saibais que o Filhodo homem1 tem na terra autoridade para

perdoar pecados – disse então ao paralí-tico: “Levanta-te, toma a tua maca, e vaipara tua casa”.7 Levantando-se, o homem partiu parasua casa.8 Ao ver isso, a multidão se encheu detemor e gloricava a Deus, pois dera aoshomens tamanha autoridade.

 Jesus veio para os necessitados9 Saindo, viu Jesus um homem chamadoMateus, sentado na coletoria, e disse-lhe:“Segue-me!” Ele se levantou e o seguiu.10 E aconteceu que, estando Jesus emcasa, à mesa, muitos publicanos e peca-dores vieram para cear com Ele e seusdiscípulos.2

11 Quando os fariseus viram isso, per-guntaram aos discípulos dele: “Por que

1 Freqüentemente Jesus refere-se a si mesmo como Filho do Homem (Mc 8.38; 13.26, 14.62; Lc 17.24; 21.27). Ele usou essaexpressão do AT para descrever seu caráter e missão em termos da visão de Daniel (Dn 7.13). O Filho do Homem se humilhoucomo verdadeiro ser humano, sendo ao mesmo tempo, o Eterno Vitorioso (Mt 24.30). Além disso, Jesus revestiu essa expressãocom a necessidade e o profundo significado dos seus sofrimentos, morte e ressurreição expiatória (Mc 8.31; 9.31; 10.33; 14.21-

41; Lc 18.31-33; 19.10; Mt 20.18-28; 26.45; Lc 21.25-28; 22.29-30; Mc 13.26-27; 14.24-25,62; Jo 13.31-32).2 Cafarnaum foi a cidade onde Jesus permaneceu mais vezes e por mais tempo, por isso era chamada de a “cidade de Jesus”(Mt 4.12,13; 9.9; Mc 2.1; Lc 4.13, 23, 31, 38). Mas, apesar de Cafarnaum ter sido um grande centro comercial, presenciado maissinais e recebido mais da presença e da Palavra de Cristo do que qualquer outra localidade, Jesus encontrou ali apenas unspoucos seguidores. Por isso o Senhor exclama seu “ai” sobre a cidade (Mt 11.23). Hoje Cafarnaum é um campo de entulhos,chamado Tel Hum. Mateus era um cobrador de impostos a serviço de Roma. Os judeus se referiam a eles como “publicanose pecadores”, pois os consideravam “amaldiçoados” como os gentios (Jo 7.49). Jesus viu, porém, em Mateus, um discípulo eo autor deste Evangelho o chamou, em aramaico  akolutheo (Segue-me!), que é uma expressão que significa: “ir atrás de”. Naépoca, essa expressão era um convite de honra. O aluno do profeta, em sinal de respeito, passaria a caminhar atrás do seu mestre(rabino) e, por dois anos, aprenderia as leis do judaísmo. Mateus (Matias, em hebraico), deixa tudo e começa uma nova vida comCristo (Lc 5.28). Oferece uma ceia, em sua casa (Lc 5.27), para Jesus, os discípulos e seus muitos amigos pecadores. No Orientee naquela época, convidar alguém para cear em casa era uma grande demonstração de amizade e intimidade e por isso recebiao nome de: “comunhão de mesa”. Isso foi o suficiente para provocar a ira de um grupo de fariseus ( hassïdïns – leais a Deus - emhebraico; eram os sacerdotes e doutores da Lei, temidos por seu rigor e poder político).

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20MATEUS 9

ceia o vosso mestre com publicanos epecadores?”12

Mas Jesus, ouvindo, responde: “Ossãos não necessitam de médico, mas sim,os doentes.13 Portanto, ide aprender o que signicaisto: ‘Misericórdia quero, e não sacrifí-cios’. Pois não vim resgatar justos e simpecadores’”.3

O novo e denitivo vinho14 Então, chegaram os discípulos de Joãoe lhe perguntaram: “Por que jejuamosnós, e os fariseus, muitas vezes, e os teusdiscípulos não jejuam?”15 Respondeu-lhes Jesus: “É possível queos amigos do noivo quem de luto en-quanto o noivo ainda está com eles? Diasvirão, quando o noivo lhes será tirado;então jejuarão.16 Ninguém coloca remendo novo emroupa velha; porque o remendo força otecido da roupa e o rasgo aumenta.17 Nem se põe vinho novo em odresvelhos; se o zer, os odres rebentarão, ovinho derramará e os odres se estragarão.Mas, põe-se vinho novo em odres novos,e assim ambos cam conservados”. 4 

 Jesus tem poder sobre a morte 18 Enquanto, Ele estava falando, um dos

dirigentes da sinagoga aproximou-se e,ajoelhando-se diante dele, rogou: “Mi-nha lha acaba de morrer; mas vem,impõe a tua mão sobre ela, e viverá”.19 Jesus então levantou-se e seguiu comele, e seus discípulos os acompanharam.20 De repente, uma mulher que há dozeanos vinha sofrendo de hemorragia, al-cançou-o por trás e tocou na borda doseu manto.21 Pois dizia essa mulher consigo mesma:“Se eu conseguir apenas lhe tocar as ves-tes, serei curada”.22 Então Jesus voltou-se e assim que viua mulher lhe disse: “Anime-se grande-mente, lha, a tua fé te salvou!” E, desdeaquele momento, a mulher cou sã.5

23 Quando Jesus chegou à casa do diri-gente da sinagoga e viu os autistas fúne-bres e a multidão em alvoroço, ordenou:24 “Retirai-vos daqui! Esta menina nãoestá morta, mas adormecida”. E todoszombavam dele.25 Assim que a multidão foi retirada,Jesus entrou, tomou a menina pela mãoe ela se levantou.

3 O maior e mais agradável sacrifício (holocausto) para Deus é o nosso amor sincero, sem restrições e em plena fé. Aenfermidade da qual todos padecemos, inclusive muitos religiosos e líderes cristãos, é a distância do mais verdadeiro e puroamor (em grego:  agape) ao Senhor (1Jo 4.16) e aos nossos semelhantes. Jesus pede que os doutores em teologia, filosofia,direito e ética da época, voltem às Escrituras, leiam atentamente Oséias 6.6, especialmente na edição grega do AT, a Septuaginta(cerca de 260 a.C.), e entendam que Ele não estava pactuando com o pecado, mas salvando todos aqueles que reconheceremnele o Messias, o Filho de Deus.

 4 Segundo a lei mosaica, apenas o jejum do Dia da Expiação era obrigatório (Lv 16.29,31; 23.27-32; Nm 29.7). Após o exílio naBabilônia, outros quatro jejuns deveriam ser feitos durante o ano (Zc 7.5; 8.19). Na época de Jesus, os fariseus jejuavam duasvezes por semana (Lc 18.12). Os casamentos judaicos eram grandes celebrações familiares, cujas festas chegavam a duraruma semana e, nessas ocasiões, os convidados eram dispensados da obrigação do jejum, uma vez que esse ato era sempreassociado à tristeza. Jesus então faz uma analogia entre as festividades das bodas e seu relacionamento com seus discípulos (os

amigos do noivo), dispensando-os do jejum enquanto o noivo (Ele) estiver presente. Jesus jejuava em particular, mas rejeitava aobservação da Lei de forma legalista e para autoglorificação (Is 58.3-11). O jejum seria praticado por seus discípulos, após suaascensão, voluntariamente e para edificação pessoal (Mt 4.2; 6.16-18). Jesus veio estabelecer uma nova ordem para o relaciona-mento das pessoas com Deus. A lei deve ceder lugar à graça (o novo vinho, a nova aliança). Os odres eram bolsas feitas de pelede cabra, onde se conservava o vinho (Gn 27.28; Êx 29.40; Lv 10.9; Sl 104.15; Ec 10.19; 1Tm 5.23; 1Tm 3.8; Tt 2.3; Rm 13.13;Rm 14.21). À medida que o suco de uvas frescas fermentava, o vinho se expandia. Os odres novos tinham maior resistência eflexibilidade, e se esticavam. Mas os odres usados e envelhecidos não suportavam a pressão e estouravam, colocando o vinho aperder. Jesus usa essa metáfora para revelar que seu novo, puro e poderoso ensino não pode ser recebido pelas antigas formasdo judaísmo, nem pelo legalismo rel igioso.

5 Jesus se agrada da nossa fé e está sempre pronto para nos socorrer em qualquer necessidade. Basta que o procuremoscom sinceridade. O verbo grego sõzein significa “salvar e curar”. A mulher pensou em salvar-se, livrar-se de uma doença horrívele antiga. Mas Jesus deu-lhe a cura integral, da alma e do corpo, quando a abençoou com a tradicional bênção dos rabinos daépoca: “a tua fé te salvou”. Jesus demonstrou que essa não era apenas uma frase religiosa, mas a indicação de que o Reino deDeus havia chegado para todos aqueles que nele cressem, pois que as palavras de Jesus são acompanhadas de poder.

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21 MATEUS 9, 10

26 Então a notícia desse acontecimentoespalhou-se por toda aquela região.

Os cegos passam a ver 27 Partindo Jesus dali, dois homenscegos o seguiram, clamando: “Filho deDavi, tem misericórdia de nós!”28 Entrando Ele em casa, aproximaram-se os cegos, e Jesus lhes perguntou: “Cre-des que Eu seja capaz de fazer isto?” E,responderam-lhe: “Sim, Senhor!”29 Então, lhes tocou os olhos, dizendo:“Seja-vos feito conforme a vossa fé”.30 E os olhos deles foram abertos. Jesusos advertiu, então, severamente: “Cuidai

para que ninguém saiba disto”.31 Contudo, ao partirem, propagaram osfeitos de Jesus por toda aquela região.

Os endemoninhados são libertos32 Após terem se retirado, algumas pes-soas trouxeram a Jesus um homem, mu-do e possuído por um demônio.33 Assim que o demônio foi expulso,o mudo passou a falar; e as multidõesadmiradas exclamavam: “Jamais seviu algo assim em Israel!”.34 Por outro lado, os fariseus maldiziam:“Ele expulsa os demônios pelo príncipedos demônios”.

Todos os enfermos são curados35 E Jesus ia passando por todas as cidadese povoados, ensinando nas sinagogas, pre-gando as boas novas do Reino e curandotodas as enfermidades e doenças.

 Jesus pede mais discípulos36 Ao ver as multidões, Jesus sentiu gran-de compaixão pelas pessoas, pois que

estavam aitas e desamparadas comoovelhas que não têm pastor.37 Então, falou aos seus discípulos: “Defato a colheita é abundante, mas os tra-balhadores são poucos.38 Por isso, orai ao Senhor da seara e pedique Ele mande mais trabalhadores para asua colheita”.

 Jesus envia seus apóstolos

10 Jesus, tendo chamado seus dozediscípulos, deu-lhes poder para

expulsar espíritos imundos e curar todasas doenças e males.2

E são estes os nomes dos doze apósto-los: primeiro, Simão, chamado Pedro, eAndré, seu irmão; Tiago, lho de Zebe-deu, e João, seu irmão;3  Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus,o publicano; Tiago, lho de Alfeu, eTadeu;4 Simão, o zelote, e Judas Iscariotes, omesmo que traiu a Jesus.5 Assim, a esses doze homens, enviou Jesuscom as seguintes recomendações: “Nãovos encaminheis aos gentios, nem entreisem cidade alguma dos samaritanos.6 Antes, porém, buscai as ovelhas perdi-das da casa de Israel.7 E, à medida que seguirdes, pregai estamensagem: O Reino dos Céus está avosso alcance!8 Curai enfermos, puricai leprosos, res-suscitai mortos, expulsai demônios. Gra-ciosamente recebestes, graciosamente dai.9 Não vos provereis de ouro, nem prataou cobre em vossos cinturões.10 Não leveis sacolas de viagem, nemuma túnica a mais, segundo par desandálias ou um cajado; pois digno é otrabalhador do seu sustento.11  Em qualquer cidade ou povoado emque entrardes, procurai alguém dignode vos receber; cai nesta casa até vosretirardes.12 E, quando entrardes na casa, saudai-a.13  Se a casa for digna, que a vossa pazrepouse sobre ela; se, todavia, não fordigna, que a paz retorne para vós.14 Porém, se alguém não vos receber, nemder ouvidos às vossas palavras, assim quesairdes daquela casa ou cidade, sacudi a

poeira dos vossos pés.15  Com toda a certeza vos armo quehaverá mais tolerância para Sodoma eGomorra, no dia do juízo, do que paraaquelas pessoas.16 Observai! Eu vos envio como ovelhasentre os lobos. Sede, portanto, astutoscomo as serpentes e inofensivos comoas pombas.17 E, acautelai-vos dos homens; pois quevos entregarão aos tribunais e vos açoita-rão nas suas sinagogas.

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22MATEUS 10

18 Sereis levados à presença de governa-dores e reis por minha causa, para teste-

munhardes a eles e aos gentios.19 Todavia, quando vos prenderem, nãovos preocupeis em como, ou o que deveisfalar, pois que, naquela hora, vos será mi-nistrado o que haveis de dizer.20 Isso porque, não sois vós que estareisfalando, mas o Espírito de vosso Pai équem se expressará através de vós.21 Um irmão entregará à morte seu irmão,e o pai ao lho, e os lhos se rebelarãocontra seus pais e lhes causarão a morte.22  E, por causa do meu Nome, sereisodiados de todos. Contudo, aquele que

permanecer rme até o m será salvo.23 Quando, porém, vos perseguirem numlugar, fugi para outro; pois com toda acerteza vos asseguro que não tereis pas-sado por todas as cidades de Israel antesque venha o Filho do homem.24 O pupilo não está acima do seu men-tor, nem o escravo acima do seu amo.25 Basta ao discípulo ser como seu mestre,e ao servo ser como seu senhor. Se chama-ram de Belzebu ao cabeça da Casa, quantomais aos membros da sua família!26  Entretanto, não os temais! Nada háescondido que não venha a ser revelado,nem oculto que não venha a se tornarconhecido.

 A entrega do temor a Deus27 O que vos digo na escuridão, dizei-o à

luz do dia; e o que se vos diz ao ouvido,proclamai-o do alto dos telhados.28

 E, não temais os que matam o corpo,mas não têm poder para matar a alma.Temei antes, aquele que pode destruir noinferno tanto a alma como o corpo.29 Não se vendem dois pardais por umamoedinha de cobre? Mesmo assim,nenhum deles cairá sobre a terra sem apermissão de vosso Pai.30 E quanto aos muitos cabelos da vossacabeça? Estão todos contados.31 Por isso, não temais! Bem mais valeisvós do que muitos passarinhos.32 Assim sendo, todo aquele que me decla-

rar diante das pessoas, também eu o decla-rarei diante de meu Pai que está nos céus.33 Entretanto, qualquer que me negardiante das pessoas, também Eu o negareidiante de meu Pai que está nos céus.34 Não penseis que vim trazer paz à terra;não vim trazer paz, mas espada.35 Pois Eu vim para ser motivo de discór-dia entre o homem e seu pai; entre a -lha e sua mãe e entre a nora e sua sogra.  

36 Assim os inimigos do homem serão osda sua própria família.1

37 Quem ama seu pai ou sua mãe mais doque a mim não é digno de mim; e quemama o lho ou a lha mais do que a mimnão é digno de mim.38 E aquele que não toma a sua cruz e nãome segue, também não é digno de mim.39 Quem encontra a sua vida a perderá.

1 Jesus não veio trazer a paz no sentido de uma religiosidade cômoda e inconseqüente. O verdadeiro cristianismo é uma mudançaradical de vida com implicações conflituosas, inadequações e até perseguições cruéis. Algumas vezes na própria família (Mq 7.6)e, com certeza, neste mundo secularizado, materialista e agnóstico. A paz do cristão está em sua plena comunhão com Deus (Jo

14.27) e a terra só verá paz completa na volta do Rei Jesus (Is 2.4). Uma das ofensas que mais feriram o coração de Cristo foi ouvirdos teólogos da época (seu povo e família) que realizava milagres e sinais no poder de Belzebu (9.34; 12.24-29; Mc 3.22; Lc 11.15-19; Jo 8.52). Chamar o Filho de Deus – o cabeça da raça humana – de Diabo, foi uma das maiores blasfêmias já ditas na história domundo. Belzebu é a forma grega da expressão hebraica Baal-Zebub que se refere a Satanás, o “príncipe dos demônios” e significa:“senhor das moscas” (2Rs 1.2). Por isso, é preciso muito cuidado ao julgar e expressar publicamente opiniões dessa natureza con-tra qualquer pessoa ou movimento cristão. Em 10.38, pela primeira vez em Mateus, aparece a palavra “cruz”. Os cristãos não devembuscar o sofrimento, nem se desesperar diante dele, mas ter a atitude de Jesus: enfrentar as circunstâncias com fé, humildade ecoragem. O império romano obrigava seus condenados à morte a caminhar com a trave de suas cruzes nas costas até o local daexecução. Os discípulos já haviam visto milhares de judeus serem crucificados, por isso essa ilustração (metáfora) de Jesus foi tãosignificativa. O crente, salvo por Cristo, deve carregar consigo a mesma cruz: renunciar a si mesmo, para servir com total dedicaçãoao Senhor Jesus, como mortos para as demandas do sistema mundial e do nosso “eu” (Gl 2.20). Por isso, quem busca frenetica-mente se dar bem nesta vida, acabará perdendo as bênçãos inerentes à condição dos salvos, agora e eternamente (2Co 5.17). Em10.42, Jesus conclui esse trecho bíblico fazendo menção notável de recompensa a todos aqueles que ajudam e cooperam com osservos do Senhor no estabelecimento da nova ordem: o Reino de Deus (1Co 15.58; Gl 6.9; Mt 25.35-36).

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23 MATEUS 10, 11

Mas quem perde a vida por minha causaa achará.40

Quem vos recebe, a mim mesmo rece-be; e quem recebe a minha pessoa, recebeaquele que me enviou.41 Quem recebe um profeta por reconhe-cê-lo como profeta, receberá a recom-pensa de profeta; e quem recebe um justopor suas qualidades de justiça, receberá arecompensa de justo.42 E quem der, mesmo que seja apenasum copo de água fria a um destes peque-ninos, por ser este meu discípulo, comtoda a certeza vos armo que de modoalgum perderá a sua recompensa”.

 João. O arauto de Jesus

11 Havendo, pois, terminado de ins-truir seus doze discípulos, partiu

Jesus dali para ensinar e pregar nas cida-des da Galiléia.2 Assim que, no cárcere, João ouviu falarsobre o que Cristo estava realizando,enviou dois dos seus discípulos para lheperguntarem:3  “És tu Aquele que haveria de vir oudevemos aguardar outro?”4 Jesus, respondendo, disse-lhes: “Ide e con-tai a João o que estais ouvindo e vendo:5 Os cegos enxergam, os mancos cami-nham, os leprosos são puricados, ossurdos ouvem, os mortos são ressuscita-dos, e as Boas Novas estão sendo prega-das aos pobres.6  E, abençoado é aquele que não se es-candaliza por minha causa”.7 Enquanto saíam os discípulos de João,

começou Jesus a falar às multidões a res-peito de João: O que fostes ver no deser-

to? Um caniço agitado pelo vento?8 E então? O que fostes ver no deserto?Um homem vestido com roupas nas?De fato, os que usam roupas nas estãonos palácios reais.9 Mas, anal, o que fostes ver? Um pro-feta? Sim, Eu vos armo. E mais do queum profeta!10 Este é aquele a respeito de quem estáescrito: “Eis que Eu enviarei o meu men-sageiro à frente da tua face, o qual prepa-rará o teu caminho diante de Ti”.1

11 Com toda a certeza vos armo: Entre

os nascidos de mulher não se levantouninguém maior do que João, o Batista;entretanto, o menor no Reino dos céus émaior do que ele.12 Desde os dias de João Batista até agora,o Reino dos céus é tomado à força, e osque usam de violência se apoderam dele.13 Porque todos os Profetas e a Lei profe-tizaram até João.14  E, se desejarem aceitar, este é o Eliasque havia de vir.15 Aquele que tem ouvidos para ouvir, queouça!16 Mas, a quem hei de comparar esta ge-ração? São como crianças que, sentadasnas praças do mercado, cam gritandouma às outras:17 ‘Nós vos tocamos músicas de casa-mento, mas vós não dançastes; entoamoslamentos fúnebres e não pranteastes!’18 Assim, veio João, que jejua e não bebevinho, e dizem: ‘Este tem demônio’.

1 João Batista foi o último dos profetas do AT e o precursor de Cristo. O mensageiro do Rei (arauto) que veio anunciar a che-gada do Filho de Deus à terra (Ml 3.1; 4.5-6). João estava preso em Maqueros, uma fortaleza inóspita, nas proximidades do marMorto (14.3-12; Lc 7.18-35) e desejava confirmar se Jesus era mesmo o Messias profetizado no AT. Jesus manda sua respostade maneira inequívoca, assim João poderia descansar e se alegrar no Senhor, pois sua missão estava cumprida: “os cegosenxergam” e os demais milagres profetizados por Isaías (730 a.C.) sobre as obras que o Messias realizaria quando chegasse (Is35.5; 61.1). Quem saiu para ver algo tão comum e simples como um pé de cana balançando ao vento, viu e ouviu o maior dosprofetas do AT, parente e amigo amado do Senhor (Lc 1.36; Jo 3.29). Entretanto, aqueles que têm o privilégio de ouvir o Filho deDeus foram contemplados com bênção ainda maior que João (Ef 5.25-32). Jesus ainda registra o comportamento infantil dosseres humanos em relação à vinda dos profetas de Deus - são como crianças: se ouvem uma música alegre, tocada com flautas,nos casamentos (da época), não ficam contentes. Se ouvem uma melodia mais triste, como as executadas nos enterros, não seemocionam. Ou seja, para muitos, infelizmente, não há como comunicar o Evangelho de modo a que este seja bem compreendi-do. Por isso, muito felizes (bem-aventurados) são os que ouvem e aceitam a Palavra de Deus. A KJ de 1611 traz a expressão: “asabedoria é justificada por seus filhos” e significa que os frutos (obras) do ensino de João e Jesus são visíveis, palpáveis, práticose têm a ver com uma nova e abençoada maneira de viver.

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24MATEUS 11, 12

19 Então chega o Filho do homem, comen-do e bebendo, e dizem: ‘Eis aí um glutão e

bebedor de vinho, amigo de publicanos epecadores!’ Todavia, a sabedoria é compro-vada pelas obras que são seus frutos”.

 Ai dos povos incrédulos20 Então, começou Jesus a admoestar se-veramente as cidades nas quais realizaranumerosos feitos prodigiosos, porquenão se arrependeram:21  “Ai de ti Corazim! Ai de ti Betsaida!Porque se os milagres que entre vósforam realizados tivessem sido feitos emTiro e Sidom, há muito que elas se teriam

arrependido, vestindo roupas de saco ecobrindo-se de cinzas.22 Entretanto, Eu vos armo que no diado juízo haverá menos rigor para Tiro eSidom, do que para vós outros.23 E tu, Cafarnaum, te arrogas subir até oscéus? Pois serás lançada no inferno. Por-que se as maravilhas que foram realizadasem ti houvessem sido feitas em Sodoma,teria ela permanecido até o dia de hoje.24 Eu, contudo, vos armo que haverámais tolerância para com o povo de So-doma no dia do julgamento, do que paracontigo”.

Vinde a Cristo, os cansados25  Naquela ocasião, em resposta, Jesusproclamou: “Graças te dou, ó Pai, Senhor

dos céus e da terra, pois escondeste estascoisas dos sábios e cultos, e as revelaste

aos pequeninos.26 Amém, ó Pai, pois assim foi do teuagrado!27  Todas as coisas me foram entreguespor meu Pai. Ninguém conhece o Filhosenão o Pai; e ninguém conhece o Pai anão ser o Filho, e aquele a quem o Filhoo desejar revelar.28 Vinde a mim todos os que estais cansa-dos de carregar suas pesadas cargas, e Euvos darei descanso.29 Tomai vosso lugar em minha cangae aprendei de mim, porque sou amável

e humilde de coração, e assim achareisdescanso para as vossas almas.30  Pois meu jugo é bom e minha cargaé leve”.2 

O Senhor do sábado

12 Naquela época, Jesus passou pe-las lavouras de cereal, em dia de

sábado. Seus discípulos estavam comfome e começaram a colher espigas ecomê-las.2 Assim que os fariseus viram aquilo,disseram-lhe: “Vê! Teus discípulos estãofazendo o que não é lícito em dia desábado!”3 Mas Jesus lhes respondeu: “Não lesteso que fez Davi quando ele e seus compa-nheiros estavam com fome?

2 Corazim, mencionada apenas duas vezes nas Escrituras (aqui e em Lc 10.13) distava cerca de quatro quilômetros ao norte deCafarnaum. Betsaida ficava na extremidade ao norte do mar da Galiléia. Tiro e Sidom eram cidades pagãs da Fenícia. Jesus con-clui esse trecho bíblico com uma “resposta” emocionada às graves circunstâncias descritas anteriormente. A expressão: “Graçaste dou” (em grego exomologoumai), significa: “reconheço”. A expressão: “Amém” (em hebraico transliterado amen) vem de umaraiz que significa “digno de fé” ou “verdade” (Is 65.16), por isso a palavra grega é mera transliteração do hebraico, usada por

algumas versões na forma poética: “em verdade, em verdade”. No AT era, também, uma expressão de concordância (assim seja)com uma doxologia ou bênção (1Cr 16.36; Sl 41.13). Jesus fez uso dessa expressão com autoridade messiânica, algo incomumaos rabinos e mestres de sua época (2Co 1.20). Em certo sentido, Jesus pode ser chamado de “o Amém de Deus” (Is 65.16; Ap3.14). Muitas sinagogas usaram essa expressão, que passou para as primeiras igrejas cristãs (1Co 14.16).

Nos versos 28 a 30 Jesus faz menção às Escrituras (Jr 6.16) e usa mais uma notável ilustração para mostrar como o cristãopode encontrar descanso para as suas aflições: Jesus aponta para a canga dos bois. Uma trave de madeira robusta, quasesempre ocupada por dois animais, colocados lado a lado, presos pelo pescoço e ligados ao arado ou carro que deveriam puxar.Jesus considerou sua cruz (canga), útil e boa (no original grego chrestos). Algumas versões usam a palavra: “suave”. Jesusconsiderou seu “fardo” leve, não pesado ou difícil de transportar até seu destino. Para alcançar o pleno descanso devemosocupar nosso lugar ao lado de Jesus e partilhar da sua canga; que não era um instrumento de tormento para os animais, masum meio útil e cômodo de levar mais carga com menos esforço, evitando os sofrimentos das antigas cordas amarradas pelocorpo. Jesus quer partilhar sua força conosco. Além disso, bondade, paciência, mansidão, humildade são qualidades que nospossibilitam trabalhar e descansar com fé no amor e na soberania do Senhor. Uma pessoa assim será querida e amável, e isso aajudará a vencer muitos problemas e descansar diariamente em paz.

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25 MATEUS 12

4 Como entrou na casa de Deus, e come-ram os pães da Presença, os quais a lei

não lhes permitia comer, nem a ele nemaos que com ele estavam, mas exclusiva-mente aos sacerdotes?1

5 Ou não lestes na Lei que, aos sábados,os sacerdotes no templo violam o sábadoe, contudo, são desculpados?6 Pois Eu vos armo que aqui está quemé maior do que o templo.7 Entretanto, se vós soubésseis o quesignicam estas palavras: ‘Misericórdiaquero, e não holocaustos’, não teríeiscondenado os que não têm culpa.8 Pois o Filho do homem é o Senhor do

sábado!”.

 Jesus cura no sábado 9 Tendo Jesus saído daquele lugar, foipara a sinagoga deles.10 Encontrava-se ali um homem quetinha uma das mãos atroada. Mas, pro-curando um motivo para acusar Jesus,eles o questionaram: “É lícito curar nosábado?”11 Ao que Jesus lhes propôs: “Qual de vósserá o homem que, tendo uma ovelha, e,num sábado, esta cair em um buraco, nãofará todo o esforço para retirá-la de lá?12 Assim sendo, quanto mais vale umapessoa do que uma ovelha! Por isso, élícito fazer o bem no sábado”.13 Então, dirigiu-se ao homem e disse:

“Estende a tua mão”. Ele a estendeu e elafoi restaurada, cando sã como a outra.14

Diante disso, saíram os fariseus e co-meçaram a conspirar sobre como pode-riam matar Jesus.

 Eis meu Servo amado! 15 Mas, Jesus, sabendo disto, afastou-sedaquele lugar. Uma multidão o seguiu ea todos Ele curou.16 Contudo, os advertiu para que nãodivulgassem suas obras.17 Ao acontecer isso, cumpriu-se o quefora dito pelo profeta Isaías:18 “Eis o meu Servo, que escolhi, o meu

amado, em quem tenho alegria. Fareirepousar sobre Ele o meu Espírito, e Eleanunciará justiça às nações.19 Não contenderá nem gritará; nem seouvirá nas ruas a sua voz.20 Não esmagará a cana rachada, nemapagará o pavio que fumega, até que façavencer a justiça.21 E em seu Nome os gentios colocarãosua esperança”.

O pecado imperdoável 22 Depois disso, aconteceu que lhe trouxe-ram um endemoninhado, cego e mudo; Eleo curou, de modo que pôde falar e ver.23 Então, toda a multidão cou atônitae exclamava: “É este, porventura, o Filhode Davi?”

1 O sábado (em hebraico shabbãth) é estabelecido nas Escrituras como princípio: um em cada sete dias deveria ser separado(santificado) para o descanso. A raiz hebraica da palavra “sábado” é  shãbhath, que significa “cessar”. Na Criação, o próprioDeus legou à humanidade o exemplo da santificação do sábado (Gn 2.2; Êx 20.8-11). Em Êx 16.21-30 há uma menção explícitasobre o sábado em relação à provisão do maná. O sábado (dia do descanso em homenagem ao Criador) nesse contexto, érepresentado como um dom de Deus, visando o repouso e o benefício do povo. Não era necessário trabalhar no sábado (juntar

o maná), pois dupla porção era provida no sexto dia da semana. Os fariseus, no entanto, haviam acrescentado à Lei e ao sábadouma série imensa de minuciosas regras e observâncias não prescritas por Moisés. Ao entrar pelos campos de trigo, Jesus e seusdiscípulos estavam usufruindo um direito concedido pela Lei a todo viajante: comer para satisfazer a fome, sem levar nada (Dt23.25), mas os fariseus implicaram com o ato de debulhar no sábado (Lc 6.1). Jesus então faz referência a 1Sm 21.1-6, lembrandoque em caso de necessidade, alguns detalhes da lei cerimonial podiam ser suprimidos. Os pães da Presença ou Proposição,como em algumas versões, referem-se à presença do próprio Deus (Êx 33.14,15; Is 63.9). Os doze pães (cada um simbolizandouma tribo) representavam uma oferta perpétua, de pão, ao Senhor, mediante a qual Israel declarava consagrar a Deus os frutosdo seu trabalho que, por sua vez, era uma bênção do Senhor (Lv 24.5,9). Esses pães eram colocados na mesa do lugar santodo tabernáculo, todos os sábados, e depois da cerimônia podiam ser comidos pelo sacerdote e sua família. Ocorre que ossacerdotes preparavam os pães e os sacrifícios no sábado, mesmo sob a proibição geral do trabalho nesse dia. Jesus entãoargumenta que se as necessidades do culto no templo permitiam que o sacerdote profanasse o sábado, com muito mais razão amissão de Cristo (o Messias) merece a mesma liberdade. Jesus ensina que a ética é mais importante que o ritual, e o espírito daLei maior que as letras e os mandamentos. Jesus declara que Ele é Deus, ao afirmar que é Senhor do sábado (Jo 5.17) e enfatizaque o sábado foi dado à humanidade para o seu bem e não como uma obrigação prejudicial.

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26MATEUS 12

24 Mas os fariseus, ao ouvirem isso, mur-muraram: “Este homem não expulsa

demônios senão pelo poder de Belzebu, opríncipe dos demônios”.25 Entretanto, Jesus compreendia os pen-samentos deles, e lhes armou: “Todoreino dividido contra si mesmo seráarruinado, e toda cidade ou casa divididacontra si mesma não resistirá.26 Se Satanás expulsa Satanás, está divi-dido contra ele próprio. Como poderáentão subsistir o seu reino?27 E se Eu expulso demônios por Belze-bu, por quem os expulsam vossos lhos?E, por isso, eles mesmos serão os vossos

 juízes.28 Mas, se é pelo Espírito de Deus queEu expulso demônios, então, verdadei-ramente, é chegado o Reino de Deussobre vós!29 Ou ainda, como pode alguém entrarna casa do homem forte e roubar-lhetodos os bens sem primeiro amarrá-lo?Só depois disso será possível saquear asua casa.30 Quem não está comigo, está contramim; e aquele que comigo não colhe,espalha.31 Portanto, Eu vos assevero: Todos ospecados e blasfêmias serão perdoadosàs pessoas; a blasfêmia contra o EspíritoSanto não será, porém, perdoada!

32 Qualquer pessoa que disser uma pa-lavra contra o Filho do homem, isso lhe

será perdoado; porém, se alguém falarcontra o Espírito Santo, não lhe seráisso perdoado, nem nesta época, nem notempo futuro.33 Ou fazei a árvore boa e o seu frutobom, ou a árvore má e o seu fruto mau;pois uma árvore é conhecida pelo seufruto.34 Raça de víboras! Como podeis falarcoisas boas, sendo maus? Pois a bocafala do que está cheio o coração.35 Uma boa pessoa tira do seu bom te-souro coisas boas; mas a pessoa má, tira

do seu tesouro mau, coisas más.36 Por isso, vos armo que de toda a pa-lavra fútil que as pessoas disserem, deladeverão prestar conta no Dia do Juízo.37 Porque pelas tuas palavras serás ab-solvido e pelas tuas palavras serás con-denado”.2

O sinal da ressurreição38 Então alguns dos mestres da lei e fari-seus lhe pediram: “Mestre, queremos verde tua parte algum milagre”.39 Ao que Jesus respondeu: “Uma gera-ção perversa e adúltera pede um sinalmiraculoso! Todavia, nenhum sinal lheserá dado, exceto o sinal miraculoso doprofeta Jonas.3

2 Filho de Davi era um título exclusivo do Messias (Mc 3.22-30; Lc 11.14-22). A vinda e a vida de Jesus eram o evidente cumpri-mento das profecias, especialmente de Isaías 42.1-4. Deus, assumindo a forma humana em Jesus, tratou os seres humanos commisericórdia e delicadeza: como caniços (varas de pesca) que podem ser quebrados ou esmagados com facilidade; ou aindacomo pequenas chamas que podem ser apagadas com um simples movimento. Jesus percebeu, compreendeu (no original gre-go eidôs) o que de fato os fariseus estavam tramando. Os judeus já praticavam o exorcismo (At 19.13-16) e Jesus os questionousob qual autoridade exerciam essa prática. Jesus já havia vencido Satanás em seus quarenta dias no deserto (4.1-11) e agoraestava invadindo o reino do Maligno (1Jo 3.8), para tirar das trevas as almas de todos aqueles que nele cressem, e para destruir a“casa do homem forte” (Is 49.24-26; Lc 11.21). Por isso não pode haver neutralidade no Reino de Deus: quem não serve a Cristoestá servindo ao Diabo que é o diretor-geral do sistema (econômico, político, social e religioso) deste mundo. O único pecadosem perdão é a rejeição consciente e sistemática da salvação graciosa em Cristo e a alegação de que Jesus e o Diabo são amesma pessoa ou as duas faces da verdade (o bem e o mal), como pensam algumas correntes filosóficas (Hb 6.4-6; 10.26-31).Jesus acrescenta que o caráter de uma pessoa será sempre revelado por meio de suas palavras (Tg 3.2) e que essas palavraspesam na balança da terra e do céu (Pv 18.21). Há três palavras gregas para designar milagres: 1) teras – algo portentoso; 2) du-

 namis – poder maravilhoso; 3) semeion – uma prova ou sinal sobrenatural. No passado, muitos líderes de Israel haviam concedidoao povo provas de sua missão por parte de Deus. Assim, para autenticar a obra de Moisés, o Senhor enviou o maná; para Josué,o Senhor fez parar o Sol e a Lua; para Samuel, enviou o Senhor, trovões, de um céu claro e limpo, sem tempestades; para Elias,mandou Deus, fogo do céu; para Isaías, fez recuar a sombra do relógio (da época) do Sol. Mas, para confirmar a obra de JesusCristo, o Messias, seria realizado o maior milagre de todos: Deus ressuscitaria a Seu Filho Jesus da sepultura e esse seria um sinalainda maior do que aquele realizado para a conversão de toda a antiga cidade de Nínive (39-41).

3 O AT usa freqüentemente a metáfora: “adúltera” para significar “infiel a Deus”. Os três dias e três noites de Jonas e de Jesus

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27 MATEUS 12, 13

40 Portanto, assim como esteve Jonastrês dias e três noites no ventre de um

grande peixe, assim o Filho do homemestará três dias e três noites no coraçãoda terra.41 O povo de Nínive se levantará no Diado Juízo com esta geração, e a condenará;pois eles se arrependeram com a prega-ção de Jonas. E eis que aqui está quem émaior do que Jonas.42 A rainha do Sul se levantará no Juízocom esta geração e a condenará, pois elaveio dos conns da terra para conheceros sábios ensinamentos de Salomão. Eeis que aqui está quem é maior do queSalomão.43 Quando um espírito imundo sai deuma pessoa, passa por lugares áridosprocurando descanso, mas não encontraonde repousar.44 Então diz: ‘Voltarei para a minha casade onde saí’. E, retornando, encontra acasa desocupada, varrida e arrumada.45 Diante disso, vai e leva consigo outrossete espíritos, piores do que ele, e, en-trando, passam a morar ali. E o estadonal daquela pessoa torna-se pior que o

primeiro. Assim também ocorrerá comesta geração má!”.

 A mãe e os irmãos de Jesus46 Enquanto, Jesus estava pregando à

grande multidão, do lado de fora, suamãe e seus irmãos procuravam falarcom Ele.47 Então alguém o avisou: “Tua mãe eteus irmãos estão lá fora e desejam fa-lar-te”.48 Jesus, entretanto, respondeu ao que lhetrouxera a informação: “Quem é minhamãe e quem são os meus irmãos?” 4

49 E, estendendo a mão na direção dosdiscípulos, armou: “Eis minha mãe emeus irmãos.50 Pois todo aquele que faz a vontade demeu Pai que está nos céus, este é meuirmão, minha irmã e minha mãe”.

 A parábola do semeador (Mc 4.1-20; Lc 8.1-15)

13 Naquele mesmo dia Jesus saiu decasa e foi assentar-se à beira-mar.

2 Uma grande multidão reuniu-se ao seuredor e, por esse motivo, entrou numbarco e assentou-se. E todo o povo esta-va em pé na praia.3 Jesus ensinou-lhes então muitas coisas

por meio de parábolas, como esta: “Eisque um semeador saiu a semear.1

(Jn 1.17) referem-se ao período que vai da sexta-feira à tarde até o domingo de manhã. A expressão hebraica traduzida poralgumas versões como “baleia”, significa no original: “grande monstro marinho”. A rainha do Sul (também chamada de rainha domeio-dia) é a mesma rainha de Sabá (1Rs 10) cujo reino ficava a sudoeste da Arábia, onde é hoje o Iêmen. Jesus recorre à históriade Israel para fazer referência ao processo de purificação da idolatria, entre os judeus, durante o cativeiro babilônico, mas cujoestado atual – de incredulidade e dureza de coração – era muito pior que antes do exílio (Lc 11.24-26).

 4 Jesus tinha quatro irmãos (mencionados os seus nomes em Mc 6.3) e mais um número de irmãs não especificado nasEscrituras. Alguns teólogos defendem a idéia de que esses seriam primos de Jesus, filhos de Alfeu com a irmã da mãe de Jesusque também se chamava Maria. Mas, Jo 7.5 e At 1.14 os distinguem claramente dos filhos de Alfeu. Jesus aproveita o que seria

uma interrupção do seu discurso para ilustrar a verdadeira fraternidade: uma nova família espiritual à qual todos os cristãospertencem e a quem devem amar como à própria mãe e aos irmãos. Em nenhum momento Jesus tem a intenção de divinizar suamãe, muito menos de tratá-la sem o devido carinho e respeito.

Capítulo 131 Jesus saiu da casa de Simão e André, em Cafarnaum (8.14), e dirigiu-se às margens do “mar da Galiléia”, chamado também de

“o grande lago”. Os hebreus não tinham apreço pelo mar, pois as antigas crenças semíticas diziam que a profundidade (abismo)personificava o poder do mal que combatia contra Deus. Para Israel, entretanto, Deus era o criador do mar e seu controlador,fazendo que o mar coopere para o bem da humanidade (Gn 1.9; Gn 49.25; Êx 14,15; Dt 33.13; Sl 104.7-9; Sl 148.7; Mt 14.25-33;

 At 4.24). O triunfo final de Deus será acompanhado pelo desaparecimento total do mar (Ap 21.1). A expressão “parábola” vemdo original grego parabol e s, que significa, colocar coisas semelhantes, lado a lado, para estabelecer comparação, estudo e tirarum ensinamento. Em nossa língua, a parábola é uma figura de linguagem em que uma verdade moral ou espiritual é ilustradapor uma analogia derivada da experiência cotidiana. Com essa parábola, conhecida como “do semeador” Jesus inicia o primeirogrupo de histórias didáticas sobre o Reino de Deus, registradas em Mateus. Os evangelhos sinóticos contêm cerca de trintaparábolas. O evangelho segundo João não apresenta parábolas, mas emprega outras figuras de linguagem.

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28MATEUS 13

4 Enquanto realizava a semeadura, partedela caiu à beira do caminho e, vindo as

aves, a devoraram.5 Outra parte caiu em terreno rochoso,onde havia uma na camada de terra,e logo brotou, pois o solo não era pro-fundo.6  Porém, quando veio o sol, as plantasse queimaram; e por não terem raiz,secaram.7 Outra parte caiu entre os espinhos. Es-tes, ao crescer, sufocaram as plantas.8 Contudo, uma parte caiu em boa terra,produzindo generosa colheita, a cem,sessenta e trinta por um.9 Aquele que tem ouvidos para ouvir,que ouça!”.

O propósito das parábolas10  Então, os discípulos se aproximaramdele e perguntaram: “Por que lhes falaspor meio de parábolas?”11 Ao que Ele respondeu: “Porque a vósoutros foi dado o conhecimento dosmistérios do Reino dos céus, mas a elesisso não lhes foi concedido.212 Pois a quem tem, mais se lhe dará, eterá em abundância; mas, ao que quasenão tem, até o que tem lhe será tirado.13 Por isso lhes falo por meio de pará-bolas; porque, vendo, não enxergam; eescutando, não ouvem, muito menoscompreendem.14  Neles se cumpre a profecia de Isaías:‘Ainda que continuamente estejais ouvin-do, jamais entendereis; mesmo que sem-pre estejais vendo, nunca percebereis.15 Posto que o coração deste povo estápetricado; de má vontade escutaramcom seus ouvidos, e fecharam os seus

olhos; para evitar que enxerguem com osolhos, ouçam com os ouvidos, compre-

endam com o coração, convertam-se, esejam por mim curados’.16 Mas abençoados são os vossos olhos,porque enxergam; e os vossos ouvidos,porque ouvem.17 Pois com certeza vos armo que mui-tos profetas e justos desejaram ver o quevedes, e não viram; e ouvir o que ouvis, enão ouviram.

 Jesus explica essa parábola18 Portanto, atentai para o que signica aparábola do semeador:19 Quando uma pessoa escuta a mensa-gem do Reino, mas não a compreende,vem o Maligno e arranca o que foisemeado em seu coração. Estas são assementes que foram semeadas à beirado caminho.20 O que foi semeado em terreno rocho-so, esse é o que ouve a Palavra e logo aaceita com alegria.21 Contudo, visto que não tem raiz emsi mesmo, resiste por pouco tempo. E,quando por causa da Palavra chegam osproblemas e as perseguições, logo perdeo ânimo.22 Quanto ao que foi semeado entre osespinhos, este é aquele que ouve a Pala-vra, mas as preocupações desta vida e asedução das riquezas sufocam a mensa-gem, tornando-a infrutífera.23 Mas, enm, o que foi semeado emboa terra é aquele que ouve a Palavra ea entende; este frutica e produz grandecolheita: alguns, cem; outros, sessenta; eainda outros trinta vezes mais do que foisemeado”.

2 A expressão original grega, aqui traduzida por “mistérios”, refere-se a revelações especiais a que somente os devotos (cren-tes, consagrados) a Jesus Cristo têm acesso. O v.12 anuncia um princípio básico do mundo espiritual: quem aceita a Palavra deDeus, com humildade e reverência, receberá muitas outras bênçãos do Senhor, mas aos arrogantes e incrédulos, até a parcelade fé e bênçãos que lhes foi concedida será retirada. Veja os exemplos do “filho pródigo” (Lc 15.17-24) e o que aconteceu como Faraó do Egito depois de ter feito pouco caso do aviso de Moisés (Êx 8.1-32; 9.1-12). As coisas de Deus não fazem sentidopara aqueles dotados apenas de crítica racional. Precisam ser iluminados em sua compreensão espiritual e isso é dom de Deus(Rm 5.15,16; 1Co 2.14-16; Ef 2.8). Os versos 14 e 15 são copiados, palavra por palavra, da Septuaginta (Is 6.9,10), que descreveo chamado do profeta Isaías, a mensagem que deveria pregar e o estado de calamidade espiritual do povo. Como no tempo deIsaías, assim também na época de Cristo, os judeus fecharam os olhos à verdade (Mc 4.12). Jesus e Sua Igreja são as últimasgrandes luzes a brilhar neste mundo para todo aquele que quiser abrir os olhos (Ef 3.2-5; 1Pe 1.10-12).

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29 MATEUS 13

O trigo e o joio24 Jesus lhes contou outra parábola: “O

Reino dos céus é semelhante a um ho-mem que semeou boa semente em seucampo.25 Entretanto, quando todos dormiam,chegou o inimigo dele, lançou o joiono meio do trigo, e seguiu o seu ca-minho.326 Assim, quando o trigo brotou e for-mou espigas, o joio também apareceu.27 Os servos do dono da plantação fo-ram até ele e perguntaram: ‘Senhor, nãosemeaste boa semente no teu campo?Então, de onde vem o joio?’.28 Ele, porém, lhes respondeu: ‘Uminimigo fez isso’. Então os servos lhepropuseram:‘Senhor, queres que vamose arranquemos o joio?’29 Ao que o senhor respondeu: ‘Não, poisao tirar o joio, podereis arrancar junta-mente com ele o trigo.30 Deixai-os, pois, crescer juntos até à

safra, e, no tempo da colheita, direi aosceifeiros: ‘Primeiro ajuntai o joio e amar-

rai-o em feixes para ser queimado; mas otrigo, recolhei-o no meu celeiro’”.

O grão de mostarda31 Outra parábola ainda lhes propôs Je-sus, dizendo: “O Reino dos céus é comoum grão de mostarda, que um homemtomou e plantou em seu campo.32 Embora seja a menor dentre todas assementes, quando cresce chega a ser amaior das plantas, e se torna uma árvore,de maneira que as aves do céu vêm ani-nhar-se em seus ramos”.

O fermento33 E contou-lhes mais outra parábola: “OReino dos céus é semelhante ao fermentoque uma mulher pegou e misturou emtrês medidas de farinha, até que toda amassa cou levedada”.34  Todas essas coisas falou Jesus à mul-

3 O propósito desta parábola é revelar o método por meio do qual Deus está agindo no mundo durante a era (tempo) doEvangelho (das Boas Novas de Cristo). Jesus raramente interpretava suas histórias enigmáticas (parábolas). Isso porque sabia

que todas as pessoas que verdadeiramente amavam a Deus entenderiam sua mensagem. Mas, para que nada faltasse aosdiscípulos, ele explica algumas delas (18-23; 36-43). O joio é uma erva daninha, também chamada de cizânia ou centeio falso,que enquanto está crescendo é muito semelhante ao trigo. Apenas quando as espigas se formam é que é possível fazer umadistinção correta. A farinha de trigo feita com a mistura desse centeio falso é venenosa. A semente de mostarda era a menorsemente que os agricultores da Palestina, na época de Cr isto, costumavam semear. Em condições favoráveis, essas “plantas” (nooriginal grego lachanôn) podiam alcançar cerca de três metros de altura. Jesus aproveita essa ilustração da árvore para lembraras Escrituras (Ez 17.23, 31.5; Sl 104.12; Dn 4.12,21). Em Ez 17, por exemplo, a “árvore” é o “Novo Israel”, mas em Ez 41 e Dn 4,a árvore representa os impérios dos gentios: Assíria e Babilônia (região onde hoje se situa o Iraque). Dessa maneira, a parábolaantecipa o desenvolvimento da Igreja de Cristo. Entretanto, as aves (v.19), como figura do Maligno, completam o quadro da Igrejavisível (na terra) em sua apostasia (tempo de frieza espiritual da Igreja) e revelam aos discípulos que o Reino de Deus, tendo uminício tão humilde quanto a menor das sementes, se expandiria até atingir domínio mundial, envolvendo pessoas de todas asnações (Dn 2.35-45; 7.27; Ap 11.15). Nas Escrituras, o fermento quase sempre é um símbolo de algo perverso ou impuro. Nestaparábola, entretanto, significa: crescimento, progresso. A expressão “uma medida” vem do hebraico seah (no original grego: sata)e corresponde a cerca de seis litros. Ou seja, assim como o bom fermento se alastra pela massa, dessa mesma maneira, o Reinode Deus envolve a alma da pessoa que recebe o Espírito Santo, e vai moldando seu caráter à imagem de Cristo (2Co 4.1-15). No

v.35, a citação bíblica vem do Sl 78.2-3, sendo que a primeira parte é tirada da Septuaginta (tradução grega do AT) e a segundaparte, do hebraico. Mateus interpreta esse texto como mais uma profecia sobre Jesus Cristo. A palavra “filhos” neste contextoe no original significa: “aqueles que pertencem”. No v.41 há uma alusão ao texto hebraico de Sf 1.3, sendo que a palavra grega

 anomian, traduzida algumas vezes por “iniqüidade”, e aqui por “mal”, também significa: “ilegalidade”. A expressão “consumaçãodo século” como aparece em algumas versões, aqui traduzida por “final desta era”, como base a tradução dos melhores origi-nais; nos quais, a palavra grega, éon, significa mais propriamente: um período de tempo marcante na história da humanidade,ou seja, uma era. Literalmente: “finalização do éon” ou do período que vai do nascimento de Cristo à sua volta triunfante (Mt24; 25; Mc 13). A expressão: “fornalha ardente”, mencionada muitas vezes nos textos apocalípticos (Ap 19.20; 20.14), ocorremais cinco vezes em Mateus (8.12; 13.50; 22.13; 24.51; 25.30) e em nenhuma outra parte do NT. Não compete à Igreja de JesusCristo arrogar-se o direito de julgar e condenar pessoas antes do Dia do Juízo (a grande colheita). Essa parábola não se aplicaàs questões da disciplina comunitária que é tratada em Mt 18; mas, sim, da necessária e inevitável convivência que deve haverentre cristãos e descrentes enquanto estivermos neste mundo, até a segunda vinda do Senhor (1Co 4.5; 2Co 10.4). Não devemosnos preocupar em destruir o joio, mas em levar a todos a Palavra da graça salvadora de Jesus Cristo e assim brilharemos portoda a eternidade (Dn 12.3).

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30MATEUS 13

tidão por meio de parábolas e nada lhesdizia sem usar palavras enigmáticas.35

E assim cumpriu-se o que fora dito pormeio do profeta: “Abrirei em parábolas aminha boca; proclamarei coisas ocultasdesde a fundação do mundo”.

 Jesus explica a parábola do joio36 Então, Jesus se despediu da multidão efoi para casa. Seus discípulos aproxima-ram-se dele e pediram: “Explica-nos aparábola do joio na plantação”.37 E Jesus explicou: “Aquele que semeou aboa semente é o Filho do homem.38 O campo é o mundo, e a boa semente

são os lhos do Reino. O joio representaos que pertencem ao Maligno.39 O inimigo que semeou o joio é o Diabo.A colheita é o nal desta era, e os ceifeirossão os anjos.40 Da mesma maneira que o joio é colhi-do e jogado ao fogo, assim será no mdesta era.41 O Filho do homem mandará os seusanjos, e eles ceifarão do seu Reino tudoo que causa tropeço e todos os que pra-ticam o mal.42 Eles os lançarão na fornalha ardente eali haverá pranto e ranger de dentes.43  Então os justos reluzirão como o solno Reino de seu Pai. Aquele que tem ou-vidos para ouvir, que ouça!

O tesouro escondido44  O Reino dos céus assemelha-se a umtesouro escondido no campo. Certo ho-mem, tendo-o encontrado, escondeu-onovamente. Então, transbordando de ale-gria, vai, vende tudo o que tem, e compraaquele terreno.

 A pérola de grande valor 45 Da mesma forma, o Reino dos céus é

como um negociante que procura péro-las preciosas.46 E, assim que encontrou uma pérola va-liosíssima, foi, vendeu tudo o que tinha ea comprou.

Os bons e os maus peixes47 O Reino dos céus é ainda semelhantea uma rede que, lançada ao mar, recolhepeixes de toda espécie.48 E, quando está repleta, os pescadoresa puxam para a praia. Então se assentame juntam os bons em cestos, mas jogam

fora os ruins.49 Assim também ocorrerá no nal destaera. Chegarão os anjos e irão separar osmaus dentre os justos.50 E lançarão os maus na fornalha arden-te; e ali haverá grande lamento e rangerde dentes”.

O mestre é um pai de família51 Então lhes perguntou Jesus: “Enten-destes todas estas parábolas?” Ao que elesresponderam: “Sim, Senhor”.52  E Jesus lhes disse: “Portanto, todomestre da lei, bem esclarecido quanto aoReino dos céus, é semelhante a um paide família que sabe tirar do seu tesourocoisas novas e coisas velhas”. 4

O profeta não é honrado pelos seus53 Havendo terminado de contar essasparábolas, retirou-se Jesus dali.54 Chegando à sua cidade, começoua ensinar o povo na sinagoga, de talmaneira que as pessoas se admiravam,e exclamavam: “De onde lhe vem tanta

 4 Depois que os judeus blasfemaram contra o Espírito Santo (12.24-30) e começaram a tramar seu assassinato (12.14), Jesuspassa a revelar aspectos mais profundos sobre o Reino de Deus, apenas aos seus discípulos, preparando-os para continuarsua obra. O termo grego grammateus (escriba), significa “escrivão” ou “letrado”. Poucos sabiam ler e escrever naquela época elugar. Os escribas eram responsáveis por copiar e arquivar as leis e tradições judaicas, e assim se tornaram mestres, doutores eadvogados (Lc 5.21), pois não havia distinção entre a lei de Deus e a dos homens. A sinagoga era a principal instituição religiosa

 judaica daqueles dias e podia ser estabelecida em qualquer cidade com mais de dez judeus casados. Teve origem no exílio eservia de local onde os judeus podiam estudar as Escrituras e adorar a Deus. Jesus, como também Paulo (At 13.15; 14.1; 17.2;18.4), aproveitou o costume judaico de convidar mestres visitantes para pregar nas sinagogas locais e lhes anunciou a chegadado Reino de Deus: O Evangelho de Cristo. No original grego, a palavra aqui traduzida por “carpinteiro” é a mesma usada paraidentificar o trabalho do “pedreiro”. Jesus, como filho mais velho da família, era o principal ajudante do pai nos trabalhos commadeira e alvenaria, ofício que desempenhou para cooperar com o sustento da família, após a morte de José (Mc 6.3; Lc 8.19).

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31 MATEUS 13, 14

sabedoria e estes poderes para realizarmilagres?55

Ora, não é este o lho do carpinteiro?O nome de sua mãe não é Maria, e o deseus irmãos: Tiago, José, Simão e Judas?56 Não vivem entre nós todas as suasirmãs? Portanto, de onde obteve todosesses poderes?”.57 E cavam escandalizados por causadele. Entretanto, Jesus lhes armou:“Não há profeta sem honra, a não ser emsua própria terra, e em sua própria casa”.58 E Jesus não realizou ali muitos mila-gres, por causa da falta de fé daquelaspessoas.5 

 João Batista é decapitado

14 Por aquele tempo Herodes, otetrarca, ouviu os relatos sobre os

feitos de Jesus.2 E disse aos seus servos: “Este é JoãoBatista; ele ressuscitou dos mortos e,por isso, nele operam poderes para fazermilagres.3 Porque Herodes tinha mandado pren-der João, amarrar suas mãos e jogá-lona prisão. Isso por causa de Herodias,mulher de Filipe, seu irmão.4 Pois João o havia advertido, dizendo:“Não te é lícito esposá-la”.5 Herodes, portanto, queria matá-lo, mastemia o povo, pois este o consideravaprofeta.6 Mas, tendo chegado o dia da celebração

do aniversário de Herodes, a lha de He-rodias dançou diante de todos, e muito

agradou a Herodes.7 Por conta disso, ele lhe prometeu, sob  juramento, conceder qualquer pedidoque ela desejasse fazer.8 Foi então que ela, inuenciada por suamãe, pediu: “Dá-me aqui, num prato, acabeça de João Batista”.1

9  O rei cou angustiado; contudo, porcausa do juramento e da presença dosconvidados, ordenou que lhe fosse dadoo que ela pedira.10 Então mandou decapitar João na prisão.11 Sua cabeça foi levada num prato e en-

tregue à jovem, que a entregou à mãe.12 Os discípulos de João vieram, levaramseu corpo e o sepultaram. E foram contara Jesus o que havia acontecido.

 A multiplicação dos pães13 Assim que Jesus ouviu essas coisas, re-tirou-se de barco, em particular, para umlugar deserto. As multidões, entretanto,ao saberem disso, saíram das cidades e oseguiram a pé.14 Quando Jesus deixou o barco, viunumerosa multidão; sentiu-se movidode grande compaixão pelo povo, e curouos seus doentes.15 Ao nal do dia, os discípulos se apro-ximaram de Jesus e disseram: “Este é umlugar deserto, e já está entardecendo.Manda embora, pois, as multidões, para

5 Existe uma clara correlação entre a fé e a realização dos milagres de Jesus em Mateus (8.10,13; 9.2,22,28,29). A arrogância dosteólogos e líderes religiosos e a presunção dos que pensavam conhecer a Jesus desde criança, fizeram com que eles perdessem amaravilhosa oportunidade de receber as preciosas revelações e bênçãos do Messias, o Filho de Deus em pessoa: Jesus Cristo.  

Capítulo 141 Herodes Antipas, que reinou de 4 a.C. a 39 a.D., era o tetrarca (em grego tetrarches), ou seja, “aquele que rege uma quarta

parte do império”, no caso, a quarta parte da Palestina, mais a Galiléia e a Peréia, que foi herança de seu pai Herodes, oGrande (Mt 2.1,22), quando dividiu seu reino entre quatro de seus muitos filhos. Depois das maravilhosas viagens de Jesus pelaGaliléia, muito cresceu sua fama em todas as regiões vizinhas, originando muitas idéias sobre sua pessoa e missão (16.13-14).

 A consciência pagã, supersticiosa, culpada e amedrontada de Herodes, o fez criar a teoria de que Jesus seria a encarnação doespírito de João Batista que ele mandara decapitar (Mc 6.16). Herodias era ex-esposa do meio irmão de Herodes, Filipe, tio deHerodias. Ela fora persuadida a abandonar o marido para casar-se com Herodes Antipas, cometendo assim, incesto (Lv 18.16;20.21). João Batista falou francamente com o tetrarca e o chamou ao arrependimento; e Herodes sabia que João era homem deDeus e estava certo em sua denúncia (Mc 6.20). Salomé, filha de Herodias, tinha cerca de 20 anos e dançou de forma lascivadiante de muitas autoridades, agradando a todos, em especial a Herodes. O grande historiador judeu Flávio Josefo, que viveuentre os séculos I e II, conta que Salomé veio a se casar com um tio-avô, também chamado Filipe (filho de Herodes, o Grande),que reinou sobre as terras do norte (Lc 3.1). O prato (v.11), no qual a cabeça de João é apresentada, era uma peça de madeiraonde serviam as carnes nas festas. João permanecera por mais de um ano no cativeiro, devido à indecisão de Herodes, que alémde permitir a visita dos discípulos de João, também gostava de ouvir o profeta (11.2).

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que possam ir aos povoados comprarcomida”.16

 Jesus, porém, lhes respondeu: “O povonão precisa ir embora; dai-lhes vós mes-mos algo para comer”.17 Ao que eles replicaram: “Tudo o quetemos aqui são cinco pequenos pães edois peixes!”18 Mas Jesus lhes disse: “Tragam-nos aquipara mim”.19 E mandou que as multidões se assen-tassem sobre o gramado. Tomou, então,os cinco pães e os dois peixes e, olhandopara o céu, os abençoou. Em seguida,tendo partido os pães, deu-os aos discí-

pulos, e estes serviram às multidões.2

20 Todos comeram até car satisfeitos,e os discípulos recolheram doze cestascheias de pedaços que sobraram.21 Os que se alimentaram foram cerca decinco mil homens, sem contar as mulhe-res e as crianças.

 Jesus anda sobre o mar 22 Imediatamente após, Jesus insistiu com

os discípulos para que entrassem no bar-co e fossem adiante dele para o outro lado,enquanto Ele despedia as multidões.23  Assim que mandou o povo embora,subiu sozinho a um monte para orar. Aochegar da noite, lá estava Ele, só.24 Todavia, o barco já estava longe, nomeio do mar, sendo fustigado pelas on-das; pois o vento era contrário.25 Na quarta vigília da noite, foi Jesus tercom eles, andando por sobre o mar.3

26 Quando os discípulos o viram andan-do sobre as águas, caram aterrorizados

e exclamaram: “É um fantasma!” E gri-tavam de medo.27 Mas, imediatamente, Jesus lhes disse:“Tende bom ânimo! Sou Eu. Não temais!”.28 Ao que Pedro exclamou: “Senhor! Seés tu, manda-me ir ao teu encontro porsobre as águas”.

2 Jesus, triste pela morte do grande amigo João, e não querendo ser confundido com o líder militar que muitos esperavam quefosse, busca a solitude, um tempo a sós para orar e refletir. Atravessa o mar da Galiléia, deixando Cafarnaum e os territórios de

Herodes Antipas, e segue em direção a Betsaida Júlia. A multidão, entretanto, o vê partir só e caminha cerca de 8 km por umaregião deserta até se encontrar com Cristo nos planaltos do território de Felipe. Era alta primavera na Palestina (que começa nomeio de fevereiro), os campos estavam cobertos de relva e a Páscoa dos judeus estava próxima (Jo 6.4). Jesus se coloca entre amultidão como o pai no meio de sua família. Esse é o único milagre de Jesus, registrado por todos os evangelistas (Mc 6.30-46; Lc9.10-17; Jo 6.1-15). Mateus, entretanto, não tem uma preocupação cronológica em relação aos fatos, narra a história no passado(vv. 1,2,13), pois deseja apresentá-la de modo que as pessoas a gravem na memória. De acordo com a tradição judaica, o chefeda família proferia, no início de cada refeição, sobre o pão que ele partia, uma “oração de agradecimento” que era chamada de“bênção” e, por isso, na KJ de 1611, esse termo aparece como blessed (abençoou). Jesus estava revelando ao povo que, assimcomo o Pai libertou seu povo do Egito e os alimentou no deserto, Ele estava novamente no meio do seu povo para os salvar,curar e alimentar. A palavra grega original kophinous, traduzida no vv.20 como “cestas” refere-se a uma pequena cesta de vime oufolhas de palma, usada para compras domésticas. A “bênção” não acontece por ser costume, mas porque por meio de Jesus, afórmula é preenchida com um novo conteúdo: a presença do Cristo, que abre o acesso ao Pai (Jo 1.51). O povo e especialmenteos discípulos viram que a ação de graças de Jesus produziu milagres, e aprenderam que um método milagroso que traz bênçãosé agradecer pelo pouco que temos, e dividi-lo com o próximo.

3 Jesus “insistiu” para que os discípulos saíssem depressa. A palavra grega usada aqui é enfática e significa “compeliu”,

sugerindo uma forte transição. João registra que depois do milagre dos pães e peixes, as multidões pretendiam proclamar Jesusrei dos judeus, à força (Jo 6.15), o que indicava uma compreensão totalmente errada da missão de Cristo; nesse momento osdiscípulos também haviam sido influenciados por essas idéias e Jesus precisou ser enérgico com eles e enviá-los para o outrolado do mar. O dia judaico, isto é, o intervalo entre a aurora e o crepúsculo, era dividido em três partes: manhã, meio-dia e tarde(Sl 55.17). Os judeus distinguiam duas tardes no dia: a primeira começava por volta das três horas, e a segunda ao pôr-do-sol (Êx12.6, literalmente: entre as tardes). Portanto, os judeus contavam apenas três vigílias. No v. 13, trata-se da primeira tarde; no v. 23refere-se à segunda. Mateus faz registro de Jesus orando apenas aqui e no Getsêmani (26.36-46). Para os romanos, entretanto, anoite era dividida em quatro vigílias: 1) das 18 às 21h. 2) das 21h à meia noite. 3) da meia noite às 3h e 4) das 3h às 6h. O estádio(em grego stadion), termo que aparece em algumas versões, equivalia a 1/8 de milha romana, ou cerca de 185 metros.

Durante a madrugada, Jesus se aproxima do barco sobre o mar revolto e lhes pede para ter bom ânimo (na KJ de 1611 Be of  good cheer!). Literalmente: “tenham coragem”. E, em seguida, revela a razão de se ter ânimo (coragem) e esperança no meiodas aflições: Sou Eu, mas que no original vem grafado: Eu Sou (em grego egô eimi), o nome e o caráter de Deus (Êx 3.14). Aproximidade do Senhor lança fora todo temor, destrói o mal e enche a alma de paz, alegria e vontade renovada de viver. Por isso,no Reino de Deus, ser é mais importante que ter .

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29 Então Jesus lhe responde: “Vem!” E Pe-dro, deixando o barco, andou por sobre

as águas e foi na direção de Jesus.30 Todavia, reparando na força do vento,teve medo, e começando a afundar, gri-tou: “Senhor! Salva-me!”31 Jesus estendeu imediatamente a mão,segurou-o e lhe disse: “Homem de pe-quena fé, por que duvidaste?”.32 Assim que ambos entraram no barco,cessou o vento.33 Então os que estavam no barco adora-ram-no, exclamando: “VerdadeiramenteTu és o Filho de Deus”. 4 34 Depois de atravessarem o mar, chega-

ram a Genesaré.

 Jesus curou a todos que o tocaram35 Quando os homens daquele lugar re-conheceram Jesus, divulgaram a notíciaem toda aquela região e lhe trouxeramtodos os enfermos.36 Suplicavam então a Ele que ao menospudessem tocar na borda do seu manto.E todos os que nele tocaram caramplenamente sãos.

 Jesus, as tradições e a Lei (Mc 7.1-23)

15 Então alguns fariseus e escribas,vindos de Jerusalém, foram atéJesus e questionaram:2 “Por que os seus discípulos transgridema tradição dos anciãos? Visto que elesnão lavam as mãos antes de comer!”.3 Ponderou-lhes Jesus: “E porque trans-gredis vós também o mandamento deDeus, por causa da vossa tradição?4 Pois Deus ordenou: ‘Honra a teu pai e atua mãe’, e ainda, ‘Quem amaldiçoar seupai ou sua mãe seja punido com a morte’.5 Contudo, vós dizeis que se alguém disser

a seu pai ou a sua mãe: ‘Oferta é ao Senhora ajuda que de mim devias receber’;6 esse jamais estará obrigado a honrarseu pai ou sua mãe com seus bens. Eassim invalidastes a Palavra de Deus, porcausa da vossa tradição.1

7 Hipócritas! Bem profetizou Isaías sobrevós, denunciando:8 ‘Este povo me honra com os lábios, masseu coração está longe de mim.9 Em vão me adoram; pois ensinam dou-

 4 Apenas Mateus registra esse episódio na vida de Pedro. A expressão em aramaico, usada pelos discípulos para concluirtudo o que se passou naquela madrugada no meio do mar da Galiléia, aqui traduzida como Verdadeiramente Tu és o Filho deDeus, significa que aqueles homens haviam reconhecido, sem sombra de dúvida, que Jesus de Nazaré e Deus (Yahweh) são amesma pessoa. Genesaré, também conhecida como Planície Estreita, ficava do lado ocidental do mar da Galiléia, ao norte deMagdala. Essa planície era um grande jardim na Palestina, fér til e todo irrigado, com cerca 6,5 km de extensão e 3 km de largura.

 As pessoas receberam a Jesus com grande fé, e muitas maravilhas Ele realizou ali (Mc 5.28; At 19.12).Capítulo 151 Os escribas e fariseus chegaram de Jerusalém para reforçar o grupo dos inimigos de Jesus, que já estava se estruturando, como

no caso dos fariseus com os herodianos (Mc 3.6). Mais tarde, até os saduceus, tradicionalmente rivais dos fariseus, se juntariam aosperseguidores do Senhor (Mt 16.6). A “tradição dos anciãos” era a interpretação oral e escrita da Lei de Moisés, mas com muitasoutras doutrinas e preceitos que foram sendo adicionados com o tempo; e que tinha autoridade quase igual a da própria Lei, entreos fariseus (5.43). Todas essas orientações deram origem, mais tarde (200 a.D.) à Mishná, a parte mais importante do Talmude,que é a fonte da lei judaica. O legalismo e o volume de pequenos preceitos haviam crescido tanto que a simples tradição, por

motivos higiênicos, de se lavar as mãos antes das refeições, tornou-se um ritual de purificação para afastar a mínima possibilidadede um judeu ter sido contaminado pela poeira vinda de algum pagão (10.14). A ocupação romana intensificou esse estado de“guerra contra a impureza” mediante o cumprimento de inúmeras doutrinas e obrigações religiosas. A intenção por traz dessaspráticas, entretanto, era conseguir o favor de Deus para a expulsão dos pagãos (romanos). Jesus passa a citar os mandamentos(Êx 20.12; Dt 5.16; Êx 21.17; Lv 20.9), mostrando como a tradição dos judeus e muitas interpretações e práticas religiosas estavamem desacordo com a própria Lei e, portanto, se constituíam em maior pecado contra Deus. Por exemplo, se alguém desejavalivrar-se da responsabilidade judaica de cuidar dos pais idosos, era só fazer uma declaração falsa de que havia doado seus bens aotemplo (em hebraico korban, quer dizer, oferta). Assim, os bens dessa pessoa seriam registrados em nome do templo como umaoferta ao Senhor, até a morte dos pais, quando então se “negociaria” com os escribas, um valor a ser pago para reavê-los. Jesuscensura esse tipo de amor às regras, maior do que o amor devido a Deus e às pessoas (Is 29.13). Adverte que a comida que não foipreparada segundo as tradições dos antigos mestres não prejudica o corpo ou traz pecado sobre a alma (At 10.10-15). Jesus usaum vocábulo raro (em grego  aphedrôna), que significa: esgoto, privada, latrina. O que profana (em grego  koinein), ou seja, tornauma pessoa comum, impura e, portanto, sem direito a participar do culto público ou, sequer, aproximar-se de Deus em oração, é omal concentrado no íntimo do ser humano e que é expresso por meio das palavras da boca (Tg 3.6-12).

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trinas que não passam de regras criadaspor homens’”.10

  Então, Jesus conclamou a multidão aaproximar-se e pregou: “Ouvi e entendei!11 Não é o que entra pela boca o que tor-na uma pessoa impura, mas o que sai daboca, isto sim, corrompe a pessoa”.12  Então, aproximando-se dele os discí-pulos, avisaram: “Sabes que os fariseusse ofenderam quando ouviram essas tuaspalavras?”.13 Mas Ele respondeu: “Toda planta quemeu Pai celestial não plantou será arran-cada.14 Deixai-os! Eles são guias cegos guian-

do cegos. Se um cego conduzir outrocego, ambos cairão no buraco”.15 Então, pediu-lhe Pedro: “Explica-nos aoutra parábola?”.16  Ao que Jesus replicou: “Também vósnão compreendeis até agora?17 Não entendeis ainda que tudo o queentra pela boca desce para o estômago, emais tarde é lançado no esgoto?18 Entretanto, as coisas que saem da bocavêm do coração e são essas que tornamuma pessoa impura.19 Porque do coração é que procedem osmaus intentos, homicídios, adultérios,imoralidades, roubos, falsos testemu-nhos, calúnias, blasfêmias.20 Essas coisas corrompem o indivíduo,mas o comer sem lavar as mãos não otorna impuro”.

 Jesus atende ao clamor dos gentios(Mc 7.24-30)21 Deixando aquele lugar, Jesus retirou-se para a região de Tiro e de Sidom.

22 E eis que uma mulher cananéia, naturaldaquelas regiões, veio a Ele, clamando:

“Senhor! Filho de Davi, tem compaixãode mim! Minha lha está horrivelmentetomada pelo demônio”.23 Ele, porém, não lhe respondeu qual-quer palavra. Então, os seus discípulos,aproximando-se, pediram-lhe: “Mandaessa mulher embora, pois vem gritandoatrás de nós”.24 Ao que Jesus replicou: “Eu não fui en-viado, senão às ovelhas perdidas da casade Israel”.2

25 Chegou então a mulher e o adorou de joelhos, suplicando: “Senhor, ajuda-me!”26  Ao que Jesus lhe respondeu: “Não é justo tirar o pão dos próprios lhos paraalimentar os cães de estimação”.27 Ela, porém, replicou: “Sim, Senhor, masaté os cães de estimação, comem das miga-lhas que caem das mesas de seus donos”.28  Então Jesus exclamou: “Ó mulher,grande é a tua fé! Seja feito a ti conformequeres”. E naquele exato momento sualha cou sã.

Outra multiplicação de pães(Mc 8.1-10) 29 Partiu Jesus dali e foi para a orla domar da Galiléia; e, subindo a um monte,assentou-se ali.3

30 Então, multidões dirigiram-se a Ele,levando consigo mancos, aleijados, cegos,mudos e muitos outros doentes, e os colo-caram aos pés de Jesus; e Ele os curou.31  O povo cou atônito quando viu osmudos falando, os aleijados curados, osmancos andando e os cegos enxergando.E louvaram o Deus de Israel.

2 A expressão “cananéia” ocorre muitas vezes no AT, mas no NT, apenas aqui. Tem a ver com os descendentes dos cananeusque Josué expulsou de Canaã, a Terra Prometida, cuja civilização ficou estabelecida na cidade de Tiro. Marcos chamava essasenhora de “grega” (gentia), quer dizer, helênica, por causa de sua origem sírio-fenícia (Mc 7.26). A palavra “cães de estimação”ou “cachorrinhos”, como em algumas versões, vem do grego original  kunarion, que significa: pequenos cães de colo. Jesusprecisava deixar claro que a prioridade máxima de sua missão era salvar os judeus. Por algum motivo, aquela senhora grega egentia compreendeu perfeitamente a mensagem de Jesus, e reverentemente, usou a própria metáfora do Senhor para reivindicarseu espaço no coração compassivo de Cristo. A fé daquela mulher humilde mostrou-se maior, mais verdadeira e pura que a fé de-monstrada pelos mestres e líderes religiosos que haviam contestado a santidade (pureza religiosa) de Jesus e seus discípulos.

3 O monte era uma subida para a planície atrás de Cafarnaum, no sentido de quem sobe do mar da Galiléia. Nesse lugar Jesuscostumava pregar, ensinar e curar as muitas pessoas que sempre o procuravam; o mesmo local onde pregou o Sermão do Monte(5.1). Ao contrário do que pensam alguns teólogos, esse milagre não é apenas outra versão do mesmo fato ocorrido em 14.15-21.O próprio Jesus destaca claramente os dois acontecimentos (16.9 e10), além do que, essa segunda multiplicação ocorreu em

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32 Chamou Jesus os seus discípulos paradizer-lhes: “Tenho compaixão destas mui-

tas pessoas, pois há três dias permanecemcomigo e não têm o que comer. Não que-ro mandá-las embora em jejum, porquepodem desfalecer no caminho”.33 Mas os discípulos lhe disseram: “Ondepoderíamos, encontrar, neste lugar deser-to, pães sucientes para alimentar tantaspessoas?”34  Perguntou-lhes Jesus: “Quantos pãestendes?” Ao que eles responderam: “Sete,e mais uns pequenos peixes”.35 Ele mandou, então, que o povo se as-sentasse no chão.36 Tomou os sete pães e os pequenos pei-xes e deu graças. Em seguida os partiu eos entregou aos discípulos, e estes distri-buíram à multidão.37 Todas as pessoas comeram até se far-tarem. E foram recolhidos sete grandescestos, cheios de pedaços que haviamsobrado.38 E assim, os que comeram eram quatromil homens, sem contar as mulheres e ascrianças.39 A seguir, Jesus se despediu da multi-dão, entrou no barco e foi para a regiãode Magadã.

Religiosos pedem um sinal (Mc 8.11-13)

16 Os fariseus e os saduceus apro-ximaram-se de Jesus e, para o

provar, pediram que lhes mostrasse umsinal vindo do céu.2  Então Ele lhes ponderou: “Quandocomeça a entardecer, dizeis: ‘Haverá bomtempo, pois o céu está avermelhado’.3 Ou, pela manhã, dizeis: ‘Hoje haverá

tempestade, porque o céu está de umvermelho nublado’. Sabeis, com certe-za, discernir os aspectos do céu, mas

não podeis interpretar os sinais dostempos?4

 Esta geração perversa e inel pede umsinal; mas nenhum sinal lhe será conce-dido, a não ser o sinal de Jonas”. Jesus seafastou, então, deles e partiu dali.

O fermento dos religiosos(Mc 8.14-21)5 Indo os discípulos para o outro lado domar, esqueceram-se de levar pães.6  E Jesus lhes falou: “Estejais alerta, eacautelai-vos do fermento dos fariseuse saduceus”.7 Entretanto, eles discutiam entre si, di-

zendo: “É porque não trouxemos pães”.8 Percebendo a desavença, Jesus indagou:“Por que discordais entre vós, homens depequena fé, sobre o não terdes pães?9  Não compreendeis até agora? Nemsequer lembrais dos cinco pães paracinco mil homens e de quantas cestasrecolhestes?10 Nem dos sete pães para aqueles outrosquatro mil e de quantos cestos recolhestes?11 Como não entendeis que não vos fala-va a respeito de pães? E, sim: tende, pois,cuidado com o fermento dos fariseus esaduceus”.12 Compreenderam, então, que não lhesdissera que se guardassem do fermentodos pães, mas que se acautelassem dadoutrina dos fariseus e saduceus.

 Deus revela Jesus Cristo a Pedro(Mc 8.27-30; Lc 9.18-21)13 Quando Jesus chegou à região de Ce-saréia de Filipe, consultou seus discípu-los: “Quem as pessoas dizem que o Filhodo homem é?”1

14

E eles responderam: “Alguns dizem queé João Batista; outros Elias; e ainda háquem diga, Jeremias ou um dos profetas”.

outro lugar (Decápolis, Mc 7.31), com um número diferente de pães e peixes, uma multidão menor, menos sobras recolhidas,os “cestos” (no original grego spyridas), mencionados aqui eram usados nos mercados da época e maiores do que as alcofas,pequenas “cestas” de vime ou folhas de palma, usadas na primeira multiplicação (14.20). Jesus toma um rumo diferente, após asegunda multiplicação, desta vez segue com seus discípulos para Magadã, também conhecida como Magdala e Dalmanuta (Mc8.10), a cidade de Maria Madalena, que ficava entre Tiberíades e Cafarnaum.

Capítulo 161 A cidade de Cesaréia de Filipe ficava ao norte do mar da Galiléia, perto das encostas do monte Hermom. Seu nome antigo era

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36MATEUS 16

15  Então Jesus interpelou: “Mas vós,quem dizeis que Eu sou?”.16

E, Simão Pedro respondeu: “Tu és oCristo, o Filho do Deus vivo”.2

17 Ao que Jesus lhe armou: “Abençoadoés tu, Simão, lho de Jonas! Pois isso nãofoi revelado a ti por carne ou sangue, maspelo meu Pai que está nos céus.18 Da mesma maneira Eu te digo que tués Pedro, e sobre esta pedra edicarei aminha igreja, e as portas do Hades nãoprevalecerão contra ela.3

19 Eu darei a ti as chaves do Reino doscéus; o que ligares na terra haverá sido li-

gado nos céus, e o que desligares na terra,haverá sido desligado nos céus”. 420 E, então, ordenou aos discípulos que aninguém dissessem ser Ele o Cristo.

 Jesus prediz seu sacrifício(Mc 8.31-9.1; Lc 9.22-27)21  A partir daquele momento Jesus co-meçou a explicar aos seus discípulos queera necessário que Ele fosse para Jerusa-

Panéias (em homenagem ao deus grego Pan). O filho de Herodes, Filipe, reconstruiu essa cidade, como parte de sua tetrarquia, elhe deu um novo nome, em homenagem a Tibério César e a si mesmo. Essa era, portanto, uma região extremamente pagã. Jesuscostumava se intitular de “o Filho do homem”, expressão que aparece mais de 80 vezes no NT, jamais se referindo a qualqueroutra pessoa. No AT, em Dn 7.13,14, esse título é usado para re tratar a personalidade celestial a quem, no final dos tempos, Deusconfiou toda a sua glória, honra e poder (soberania divina).

2 Havia muitas lendas e superstições nessa época e lugar. O próprio Herodes cria na reencarnação de João Batista, que foium profeta muito estimado pelo povo e até pelo rei. A volta de Elias foi profetizada em Ml 4.5 e muitos judeus ligavam o nomede Jeremias ao profeta prometido em Dt 18.15. Contudo, em meio a tantas idéias e correntes religiosas, Pedro (Bar-Jonas ou,melhor traduzido, filho de Jonas), que falou em nome dos discípulos (v. 20), é agraciado com a maior das revelações que umapessoa pode receber de Deus: a compreensão de que Jesus de Nazaré (o Jesus histórico) é o Filho Unigênito de Deus, o Cristoprometido (Messias, em hebraico), que significa,Ungido. Palavra que, no original hebraico, transmite a idéia de uma pessoaescolhida por Deus, separada (consagrada, santificada), e revestida de poder para a realização de uma missão divina e específicana terra (Êx 29.7,21; 1Sm 10.1,6; 16.13; 2Sm 1.14,16). No final do AT, essa palavra passou a ter uma conotação particular: referia-se a um rei ideal, ungido e capacitado por Deus para libertar os judeus dos inimigos pagãos e estabelecer um reino de justiça epaz (Dn 9.25,26). Por isso, na época de Cristo, o título Messias tendia a uma compreensão política, nacionalista, revolucionária emilitar e isso fez que Jesus evitasse usar o termo em relação à sua pessoa e missão (Mc 8.27-30; 14.61-63). Pedro obteve de Deus

a revelação de que Jesus é o Messias prometido desde a antiguidade, o Cristo. Essa é a pedra (o alicerce) sobre a qual a Igrejaseria construída e nada poderia deter o seu avanço e o cumprimento da sua missão até o Dia do Senhor.

3 Jesus comemora a bênção da revelação de Deus a Simão (nome comum em Israel, com origem no AT) conferindo-lhe um sobre-nome marcante. Jesus conviveu com várias pessoas com o nome de Simão: um dos filhos de José e Maria, seu irmão (Mt 13.55; Mc6.3), um amigo leproso, na casa do qual foi ungido (Mt 26.6; Mc 14.3), um homem de Cirene, compelido a ajudá-lo a levar sua cruze que, mais tarde, tornou-se cristão (Mc 15.21; At 13.1), um fariseu em cuja casa os pés de Jesus foram ungidos (Lc 7.40), SimãoIscariotes, pai de Judas (Jo 6.71; 12.4; 13.2). Na época dos apóstolos, houve um outro Simão, samaritano, ilusionista, feiticeiro eenganador, que misturava elementos de magia com ensinos helenísticos e judaicos. Foi o criador da doutrina gnóstica e alegavaser o principal representante de Deus na terra. Dizia-se convertido ao cristianismo, mas desejou comprar o poder dos apóstolos erecebeu enérgica repreensão de Simão Pedro (At 8.9-24). Em Pedro, temos o exemplo de que Jesus nos concede um novo nome, amarca espiritual da salvação e da bravura cristã. O nome Pedro (em grego Petros) significa “pedra separada” ou “homem-pedra”. Nafrase seguinte, Cristo usou a palavra grega petra (“sobre esta rocha”), que significa “leito de rocha resistente” e que não era um nomepróprio. Jesus utilizou a arte dos significados das palavras para ampliar o poder do que desejava comunicar aos seus discípulos,e não apenas para aqueles dias. Ele não disse “sobre ti, Pedro” ou “sobre teus sucessores”, mas sim “sobre esta rocha” – sobreesta revelação de Deus e sobre este seu testemunho de fé em Jesus. O uso do tempo futuro do verbo demonstra que a formação

da Igreja ainda estava por acontecer. E, de fato, a Igreja – como a conhecemos hoje – teve início no dia de Pentecostes (At 2). NosEvangelhos a palavra Igreja (em grego ekkesia ou ekklesia; e em latim ecclesia) é usada somente por Mateus, aqui e duas vezes em18.17. Na Septuaginta (o AT em grego), é usada para identificar a congregação (sinagoga) de Israel. Entre os gregos, nos temposde Jesus, significava a assembléia dos cidadãos livres e votantes da cidade (At 19.32,39,41). Hades (em grego haidês, e no hebraicoSheol ) é a palavra grega que consta nos originais das Escrituras neste texto e significa o lugar onde estão os espíritos dos quemorreram. Onde, também, os salvos desfrutam de paz e os descrentes de aflições. Todos, no entanto, aguardam a volta de Jesus,quando os cristãos desfrutarão plenamente das bênçãos da vida eterna e os incrédulos (os que, na terra, rejeitaram a salvação) oJuízo e a pena da segunda morte: o afastamento eterno de Deus (Gn 37.35; Jó 17.16). Assim sendo, “as portas do Hades” significam“os poderes da morte” e todas as forças opostas a Cristo. Algumas versões usam a palavra “inferno” (em grego  geena que derivado hebraico gê’ hinnõm, e significa: lugar de punição para pecadores), como sinônimo de Hades.

 4 A partir daquele momento, Jesus estava concedendo a Pedro e aos demais discípulos, poder e autoridade para abrir as portasda cristandade aos judeus, prosélitos e mais tarde a todos os gentios e pagãos em todo o mundo. Pedro usou essas chaves comos judeus no dia de Pentecostes (At 2) e para os gentios na casa de Cornélio (At 10). Deus, e não os apóstolos ou discípulos, équem inicia o “ligar” e o “desligar” nos céus. Os apóstolos devem proclamar tais fatos (At 5.3,9). Em Jo 20.22-23 Jesus fala de

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lém e sofresse muitas injustiças nas mãosdos anciãos, dos chefes dos sacerdotes e

dos escribas, para então ser morto e res-suscitar ao terceiro dia.22  Pedro, porém, chamando-o à parte,começou a admoestá-lo, dizendo: “Deusseja gracioso contigo, Senhor! De modoalgum isso jamais te acontecerá”.23 E virando-se Jesus repreendeu a Pedro:“Para trás de mim, Satanás! Tu és umapedra de tropeço, uma cilada para mim,pois tua atitude não reete a Deus, mas,sim, os homens”.5

24  Então Jesus declarou aos seus dis-cípulos: “Se alguém deseja seguir-me,

negue-se a si mesmo, tome a sua cruz eme acompanhe.25 Porquanto quem quiser salvar a suavida, a perderá, mas quem perder a suavida por minha causa, encontrará averdadeira vida.26  Pois que lucro terá uma pessoa seganhar o mundo inteiro, mas perder asua alma? Ou, o que poderá dar o serhumano em troca da sua alma?

27 Mas o Filho do homem virá na glóriade seu Pai, com os seus anjos, e então

recompensará a cada um de acordo comsuas obras.28  Com toda a certeza vos armo quealguns dos que aqui se encontram nãoexperimentarão a morte até que vejam oFilho do homem vindo em seu Reino”.6 

 A transguração de Jesus

17 Passados seis dias, Jesus tomouconsigo Pedro, Tiago e João, ir-

mão de Tiago, e os levou, em particular, aum alto monte.1

2 Ali Ele foi transgurado na presença deles.

Sua face resplandeceu como o sol, e suasvestes tornaram-se brancas como a luz.3 De repente, surgiram à sua frente Moi-sés e Elias, conversando com Jesus.4 Expressando-se Pedro, disse a Jesus:“Senhor, é bom estarmos aqui. Se dese-

 jares, farei aqui três tendas: uma para ti,uma para Moisés e outra para Elias”.5 Enquanto ele ainda estava falando, umanuvem resplandecente os envolveu, e

pecados; aqui ele está falando de práticas. Veja um exemplo dessas práticas determinativas em At 15.20. Jesus pede aos discí-pulos sigilo quanto à confissão pública de Pedro. Isso porque uma multidão dos seus seguidores queria proclamá-lo libertadornacional e iniciar logo uma revolução contra Roma. Crescia a inveja dos doutores da lei e líderes religiosos, contra Jesus, e jáplanejavam sua morte. O Senhor queria completar sua missão, mas o entusiasmo de Pedro e dos apóstolos poderia precipitar osacontecimentos (9.30; 12.16; Mc 1.44; 5.43; 7.36; 8.4; Lc 8.56).

5 O Senhor reconheceu nas palavras de Pedro a influência de Satanás; a mesma artimanha que o Inimigo usou no deserto paratentar persuadi-lo a ter compaixão de si mesmo e trocar o alto custo da sua missão pela glória e os prazeres deste mundo. Jesususa a palavra aramaica Enganador , não para dizer que Pedro estava endemoninhado, mas para alertar a todos que é muito fácilcairmos na ilusão do Diabo e começarmos a pensar com os valores, conceitos e argumentos do pai da mentira. Jesus recorreà força da linguagem (palavra) e usa a metáfora: “pedra de tropeço”, que no original significa: “rocha de ofensa” ou “motivo deescândalo” (Rm 9.33), para admoestar Pedro quanto à sua recente revelação, nova posição no Reino de Deus e missão. Assimcomo a palavra hebraica traduzida por “Satanás”, a palavra grega “Diabo” significa “Acusador” ou “Caluniador”. Em Jó, essaexpressão (Jo 1.6), no original hebraico, vem sempre acompanhada do artigo definido (o Acusador, o Caluniador, ou ainda, oEnganador), mas com o passar do tempo essa palavra virou o nome próprio do Inimigo (1Cr 21.1 com 2Sm 24.1; 1Sm 16.14 com

2Sm 24.16; 1Co 5.5; 2Co 12.7; Hb 2.14; Ap 2.9).6 Uma semana depois desses acontecimentos, Pedro, Tiago e João presenciam o cumprimento dessa profecia na experiênciada transfiguração de Cristo (17.1-8), que foi também uma antevisão da plenitude do Reino, com o Senhor aparecendo em glória(Dn 7.9-14). A passagem bíblica de 16.13 a 17.8 trata do ministério do discipulado cristão. Os versículos de 13-20 falam da obrado Messias; de 21-23 tratam da expiação; 24-26 advertem para o custo da missão; 27-17.8 dizem respeito à escatologia com suasrecompensas. Juntos, esses textos, tratam das verdades fundamentais da teologia bíblica do NT.

Capítulo 17 1 Lucas fala em “cerca de oito dias” em seu texto paralelo (Lc 9.28), pois indica os seis dias de intervalo mais o dia em que Jesus

falou e o dia em que a transfiguração aconteceu em algum ponto do monte Hermom (com cerca de 3000 metros de altura), a 20km de Cesaréia de Filipe. Como prometera, Jesus oferece a alguns discípulos (mais íntimos), uma antevisão da exaltação futurado Senhor e do pleno estabelecimento do seu Reino. Jesus foi visto em sua forma glorificada. Moisés comparece representando aantiga aliança e a promessa da salvação (que dentro em breve seria cumprida no sacrifício de Jesus). Elias representa os profetase o cumprimento da Palavra de Deus. Lucas acrescenta que conversavam a respeito da iminente morte de Cristo (Lc 9.31). Jesusé revelado como a realidade gloriosa à qual a totalidade do AT apresenta como o cumprimento de toda a história da redenção

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38MATEUS 17

dela emanou uma voz dizendo: “Este é omeu Filho amado em quem me regozijo:

a Ele atendei!”.6 Ao ouvirem isso, os discípulos prostra-ram-se com o rosto em terra e caramatemorizados.7 Então Jesus, aproximando-se deles,tocou-os e disse:“Levantai-vos, e não temais!”.8 Ao erguer os olhos, a ninguém maisviram, senão somente a Jesus.9 Enquanto desciam do monte, Jesus lhesordenou: “A ninguém conteis a visão quetivestes, até que o Filho do homem res-suscite dentre os mortos”.10 E os discípulos lhe perguntaram: “En-

tão, por que os escribas ensinam que épreciso que Elias venha primeiro?”.11 Ao que Jesus lhes respondeu: “Elias, comcerteza, vem e restaurará todas as coisas.212 Eu, todavia, vos armo: Elias já veio,mas eles não o reconheceram e zeramcom ele tudo quanto desejaram. Da mes-ma forma, o Filho do homem irá sofrernas mãos deles”.13 Os discípulos entenderam, então, queera a respeito de João Batista que Elehavia falado.

 A cura do menino possesso14 Ao chegarem onde se reunia a multi-dão, um homem aproximou-se de Jesus,ajoelhou-se diante dele e clamou:15 “Senhor, compadece-te do meu lho,pois tem sofrido horrivelmente com ata-ques epiléticos. Muitas vezes cai no fogo,e outras tantas, na água.3

16 Apresentei-o aos teus discípulos, maseles não conseguiram curá-lo”.

17 Então Jesus exclamou: “Ó geração semfé e perversa! Até quando estarei convos-

co? Até quando vos terei de suportar?Trazei-me aqui o menino”.18 E Jesus repreendeu o demônio; estesaiu do menino, que daquele momentoem diante cou são.19 Então os discípulos chegaram-se aJesus e, em particular, lhe perguntaram:“Por qual motivo não nos foi possívelexpulsá-lo?”.20 E Ele respondeu: “Por causa da peque-nez da vossa fé. Pois com toda a certezavos armo que, se tiverdes fé do tama-nho de um grão de mostarda, direis a

este monte: ‘Passa daqui para acolá’, e elepassará. E nada vos será impossível!21 Contudo, essa espécie só se expele pormeio de oração e jejum”.

 Jesus prediz novamente seu martírio22 Ao se reunirem na Galiléia, compar-tilhou com eles, dizendo: “O Filho dohomem está prestes a ser entregue nasmãos dos homens.23 Eles o matarão, mas no terceiro diaEle será ressuscitado”. Então, profundatristeza abalou os discípulos.

 Jesus paga o imposto secular 24 Quando Jesus e seus discípulos che-garam a Cafarnaum, os cobradores doimposto de duas dracmas abordaram aPedro e questionaram: “O vosso mestrenão paga o imposto das duas dracmas,ao templo?”.25  “Sim, paga”, respondeu Pedro. Masquando ele entrou em casa, Jesus se

humana, desde o dia em que Abraão foi chamado para obedecer a Deus e abandonou tudo o que tinha, para receber a herançaprometida (Gn 12.2,3; 15.4,5).

Na experiência da transformação de Jesus, Deus Pai intervém na história para consolar o Filho, que já estava a caminho dacrucificação (22-23 com 16-21), e também aos discípulos, a fim de darem toda a atenção às palavras de Jesus e continuaremfirmes na fé após sua morte e ascensão. Bem mais tarde, Pedro vai citar esse evento em suas pregações, como uma das provasirrefutáveis da divindade de Jesus, o Messias (2Pe 1.16-18).

2 Os mestres da lei (escribas) defendiam, com base em Ml 4.5-6, que Elias deveria reaparecer em Israel para anunciar a vindado Messias. Contudo, Jesus demonstrou que foi João, o Batista, a pessoa que cumpriu essa missão profética, pois até suasvestes, maneira de viver e personalidade revelavam o caráter de um Elias, e esse era o sentido da profecia.

3 A expressão grega original, em algumas versões traduzida por “lunático”, significa: “epilético”. Evidentemente nem todoataque epilético tem a ver com possessão demoníaca; mas, neste caso, o menino estava mesmo possuído por um demôniomuito poderoso. Todavia, qualquer discípulo que tivesse fé e comunhão com Deus (jejum e oração) poderia expulsá-lo e curaro menino.

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antecipou e perguntou-lhe primeiro:“Simão, qual a tua opinião? De quem

cobram os reis da terra impostos etributos? Dos seus lhos ou dos estranhos?”.26 “Dos estranhos”, respondeu Pedro.Ao que Jesus concluiu: “Logo, estão, oslhos, livres dessa obrigação”. 427 Entretanto, para que não os escan-dalizemos, vai ao mar, lança o anzol,e o primeiro peixe que sgar, tira-o,e, abrindo-lhe a boca, acharás um es-táter. Retira aquela moeda e entregue aeles para pagar o meu imposto e o teutambém.

Quem é o maior no Reino? (Mc 9.33-37,42-26; Lc 9.46-48)

18 Naquele momento os discípulosaproximaram-se de Jesus e per-

guntaram: “Quem é o maior no Reinodos céus?”.1

2 E Jesus, chamando uma criança, colo-cou-a no meio deles.3 E disse: “Com toda a certeza vos armoque, se não vos converterdes e não vostornardes como crianças, de modo al-gum entrareis no Reino dos céus.2

4 Portanto, todo aquele que se tornar hu-milde, como esta criança, esse é o maiorno Reino dos céus.5 E quem recebe uma destas crianças, emmeu nome, a mim me recebe.

 Jesus adverte sobre as ciladas6 Entretanto, se alguém zer tropeçar umdestes pequeninos que crêem em mim,

melhor lhe seria amarrar uma pedrade moinho no pescoço e se afogar nas

profundezas do mar.7 Ai do mundo, por causa das suas cila-das! É inevitável que tais ofensas ocor-ram, mas infeliz da pessoa por meio daqual elas acontecem!8 Sendo assim, se a tua mão ou o teu pé tezerem cair em pecado, corta-os e lança-os fora de ti; pois melhor é entrares navida, mutilado ou aleijado, do que, tendoas duas mãos ou os dois pés, seres atiradono fogo eterno.9 Se um dos teus olhos te faz pecar, ar-ranca-o, e lança-o fora de ti, pois melhor

é entrares na vida com um olho só, doque, tendo os dois, seres lançado no fogodo inferno.

 A parábola da ovelha perdida(Lc 15.3-7)10 Tende todo cuidado para que não des-prezeis a qualquer destes pequeninos;pois Eu vos asseguro que seus anjos noscéus vêem continuamente a face de meuPai celestial.3

11 Porque o Filho do homem veio parasalvar o que se havia perdido.12 Que opinião tendes? Se um homemtiver cem ovelhas, e uma delas se desgar-rar, não deixará ele as noventa e nove nosmontes, indo procurar a que se perdeu?13 E se conseguir encontrá-la, com toda acerteza vos armo que maior contenta-mento sentirá por causa desta do que pelasnoventa e nove que não se extraviaram.

 4 O imposto das duas dracmas era cobrado anualmente de todos os homens de 20 anos para cima, sendo destinado à manuten-ção do templo. Havia cobradores para outros valores e tipos de impostos (Êx 30.13; 2Cr 24.9; Ne 10.32). Valia meio estáter ou siclo,por pessoa (valor que correspondia a dois dracmas ou dois dias de trabalho braçal). Jesus se antecipa à confusão mental de Pedro,ao demonstrar que os membros da família real ficam isentos de pagar os impostos do Reino. Assim, Jesus, o Filho de Deus (donodo templo) não estaria pessoalmente obrigado a arcar com parte do sustento da casa do seu Pai (Lc 2.49). Como Pedro ainda nãotinha entendido a amplitude desse conceito e, além disso, já havia se comprometido com o pagamento, Jesus ilustra para ele, e paranós, mais esse ensino sobre a Sua pessoa, Reino e Missão, além dos nossos deveres civis e religiosos (Rm 13.7).

Capítulo 181 Este é o último grande discurso de Jesus antes de ir para Jerusalém (Mc 9.33 com 17.25). Estavam todos reunidos na casa de

Pedro e Jesus notou que havia se manifestado entre seus discípulos o mal do ciúme, da inveja e da competição por proeminênciano ministério.

2   A expressão grega straphete significa “virar”, “mudar completamente” e está relacionada a uma nova vida voltada(consagrada) para Deus e não apenas a adoção de certa religiosidade formal. Ser como as crianças, é admitir um novo começoe dispor-se humildemente a aprender a viver como cidadão do Reino.

3 A referência aos pequeninos pode ser tanto às crianças quanto ao novos (neófitos) na fé cristã. O escândalo e o desprezo

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40MATEUS 18

14 Da mesma maneira, vosso Pai, que estános céus, não deseja que qualquer desses

pequeninos se perca. 4

Como tratar o pecado de um irmão15 Se teu irmão pecar contra ti, vai e, emparticular com ele, conversem sobre afalta que cometeu. Se ele te der ouvidos,ganhaste a teu irmão.16 Porém, se ele não te der atenção, levacontigo mais uma ou duas pessoas, paraque pelo depoimento de duas ou trêstestemunhas, qualquer acusação sejaconrmada.517 Contudo, se ele se recusar a considerá-

los, dizei-o à igreja; então, se ele se negartambém a ouvir a igreja, trata-o comopagão ou publicano.18 Com toda a certeza vos asseguro quetudo o que ligardes na terra terá sido li-gado no céu, e tudo o que desligardes naterra terá sido desligado no céu.19 Uma vez mais vos asseguro que, se

dois dentre vós concordarem na terra emqualquer assunto sobre o qual pedirem,

isso lhes será feito por meu Pai que estános céus.20 Porquanto, onde se reunirem dois outrês em meu Nome, ali Eu estarei no meiodeles”.6

Quantas vezes se deve perdoar  (Lc 17.3-4)21 Então, Pedro chegou perto de Jesus elhe perguntou: “Senhor, até quantas ve-zes meu irmão pecará contra mim, queeu tenha de perdoá-lo? Até sete vezes?”.22 E Jesus lhe respondeu: “Não te direi

até sete vezes; mas, sim, até setenta vezessete”.7 

 A parábola do servo que não perdoou23 “Portanto, o Reino dos céus pode sercomparado a certo rei, que decidiu acer-tar contas com seus servos.24 Quando teve início o acerto, foi trazi-

por essas pessoas teriam o efeito de uma cilada (uma armadilha provocada pelo Diabo), afastando-as da verdadeira vida emCristo. O provocador de escândalos receberá o mais severo julgamento de Deus. Quanto aos anjos, são seres criados por Deuspara Sua adoração e serviço. Há várias classes de anjos com diversas especialidades. Aqui, Jesus se refere aos anjos guardiões,

destacados pelo Senhor para cuidar das crianças e do povo de Deus em geral (Sl 34.7; 91.11; At 12.15; Hb 1.14). 4 A história da ovelha perdida também se acha em Lc 15.3-7. Ali é aplicada aos incrédulos, mas aqui aos cristãos. O v.14 não

exclui a possibilidade da perdição, mas ressalta que a vontade de Deus é que todos sejam salvos. A pessoa que vai para o in ferno,desde já recusa a salvação e aceita – direta ou indiretamente – a condição de perdido, não porque Deus queira (25.41;1Tm 2.4).Jesus usou a mesma parábola para ensinar verdades diferentes em situações específicas.

5 Jesus orienta seus discípulos quanto aos passos que devem ser observados para resolver os problemas de relacionamentointerpessoal, pecados evidentes, e casos de excomunhão da igreja (congregação local): 1) Como primeiro passo (muitas vezesignorado), o crente que se sente vítima de alguma ofensa ou que descobre um pecado em seu irmão de fé, deve convidá-lo parauma conversa a sós (ninguém mais deve saber desse assunto) e tentar estabelecer um diálogo honesto, sincero e cordial como ofensor, a fim de “ganhar o seu irmão”; ou seja, que haja acertos e reparações (se necessário) para que os dois obtenhampaz e alegria, e sigam servindo ao Senhor, dando bom exemplo ao mundo. 2) No caso da recusa ou indiferença do ofensor, apessoa ofendida deve convidar um ou mais irmãos maduros na fé, que chamarão o ofensor para uma conversa em grupo, ondese buscará o Conselho de Deus, as reparações necessárias e a celebração da paz em Cristo (Gl 6.1-5). Jesus cita o texto de Dt19.15, da Septuaginta (o AT em grego), incorporando esse justo e sábio princípio da lei mosaica para benefício da Igreja Cristã. 3)No caso de total indiferença ou falta de arrependimento por parte do ofensor, os líderes espirituais da igreja devem ser informados

pelo grupo que tentou trazer o irmão faltoso ao bom senso e à perfeita comunhão em Cristo. Os líderes devem fazer o possívelpara “não perder” o irmão faltoso. No caso de claro desrespeito à Palavra de Deus e à liderança da igreja, então esse pecadorobstinado deve ser afastado da comunhão cristã, ao menos até que recobre a sensatez, reconheça suas faltas e se disponhasinceramente a viver de acordo com os princípios da Palavra de Deus (1Co 5.4-5; 1Tm 1.20).

6 Essas são promessas dirigidas a todos os discípulos de Cristo (cristãos totalmente consagrados ao Senhor), pois saberãoagir com sabedoria celestial. O v.19 é uma das grandes promessas do Evangelho, em relação à oração. Entretanto, é precisoobservar a conexão desse versículo com o seu contexto imediato e o conteúdo do capítulo. Ou seja, a promessa é dada aosdiscípulos reunidos, tendo Jesus Cristo em seu meio (v. 20), com o objetivo de restaurar um irmão que esteja vivendo no erro (pe-cado – v. 17). Jesus confirma a autoridade dos discípulos para o exercício dessa função (v. 18 e 16.19), e a promessa é cumpridaporque agem da parte do Pai, em nome do Filho (v. 20). O verdadeiro entendimento e unidade entre os seres humanos é algoraro, mesmo entre os cristãos. Deus só exige um acordo entre as pessoas: que Jesus Cristo, seu Filho, seja a grande paixão dahumanidade e o ponto comum e central da fé. Jesus é o fator básico da unidade (Jo 17.19-21). É possível discordar e viver emcomunhão, respeito e cooperação no Reino.

7  Os rabis e mestres judaicos ordenavam perdoar até três vezes. Pedro sugeriu um salto espiritual: sete vezes! O número

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do à sua presença um que lhe devia dezmil talentos.8

25

Porém, não tendo o devedor comosaldar tal importância, ordenou o seu se-nhor que fosse vendido ele, sua mulher,seus lhos e tudo quanto possuía, paraque a dívida fosse paga.26 O servo, então, com toda a reverência,prostrou-se diante do rei e lhe implorou:‘Sê paciente comigo e tudo te pagarei!’27 E o senhor daquele servo, teve compai-xão dele, perdoou-lhe a dívida e o deixouir embora livre.28 Entretanto, saindo aquele servo, en-controu um dos seus conservos, que lhe

estava devendo cem denários. Agarrou-oe começou a sufocá-lo, esbravejando:‘Paga-me o que me deves!’29 Então, o seu conservo, caindo-lhe aospés, lhe suplicava: ‘Sê paciente comigo etudo te pagarei’.30 Mas, ele não queria acordo. Ao con-trário, foi e mandou lançar seu conservodevedor na prisão, até que toda a dívidafosse saldada.31 Quando os demais conservos, compa-nheiros dele, viram o que havia ocorrido,caram indignados, e foram contar aorei tudo o que acontecera.32 Então o rei, chamando aquele servo lhedisse: ‘Servo perverso, perdoei-te de todaaquela dívida atendendo às tuas súplicas.33 Não devias tu, da mesma maneira, com-

padecer-te do teu conservo, assim comoeu me compadeci de ti?’34

E, sentindo-se insultado, o rei entre-gou aquele servo impiedoso aos carras-cos, até que lhe pagasse toda a dívida.35 Assim também o meu Pai celestial vosfará, a cada um, se de todo o coração nãoperdoardes cada um a seu irmão”.

Casamento e Divórcio(Mc 10.1-12)

19 E aconteceu que, concluindo Jesusessas palavras, partiu da Galiléia e

dirigiu-se para a região da Judéia, no ou-tro lado do Jordão.2 Grandes multidões o seguiam e a todoscurava ali.1

3 Alguns fariseus também chegaram atéEle e, para prová-lo, questionaram-lhe:“É lícito o marido se divorciar da suaesposa por qualquer motivo?”.2

4 E Jesus lhes explicou: “Não tendes lidoque, no princípio, o Criador ‘os fez ho-mem e mulher’,5 e os instruiu: ‘Por este motivo, o homemdeixará pai e mãe e se unirá à sua mulher,e os dois se tornarão uma só carne’?6 Sendo assim, eles já não são dois, massim uma só carne. E, portanto, o que Deusuniu, não o separe o ser humano”.3

7 Replicaram-lhe: “Então por qual razãomandou Moisés dar uma certidão dedivórcio à mulher e abandoná-la?”.

perfeito, completo. Mas, Jesus lhe respondeu com uma expressão matemática e filosófica que tende ao infinito. Ou seja: sempre!O cristão, por sua fé no Senhor, deve perdoar todas as vezes que o ofensor arrependido lhe pedir perdão. Só assim será possívelao crente compartilhar do amor, misericórdia e generosidade de Deus.

8 Jesus ilustra por que devemos perdoar sem limites. O perdão que Deus nos concedeu, ao nos abençoar com o dom da salva-ção, é tão grandioso, que qualquer ofensa que outro ser humano venha a praticar contra nós torna-se irrisória, embora possa nos

fazer sofrer por algum tempo. Perdoar sempre dará mais espaço à plenitude divina em nossa alma. O “talento” era uma medida depeso, usada para pesar ouro e prata, equivalente, a cerca de 35 quilos. Cada talento valia cerca de 6.000 denários. O “denário” erauma moeda de prata que equivalia a um dia de trabalho braçal. Deus, finalmente, julgará a todos conforme seu amor longânimoe justiça severa; e espera de nós o mesmo senso de misericórdia (Tg 2.13).

Capítulo 191 Jesus entrou na região da Peréia, em direção a Jerusalém, onde hoje se situa a Jordânia. Na época fazia parte das terras (tetrar-

quia) de Herodes Antipas, ficava a leste do rio Jordão, estendendo-se do mar da Galiléia até próximo ao mar Morto (Lc 13.22).2 Mateus escreveu com o propósito de evangelizar os judeus, por isso, usa a expressão “Reino dos céus” significando “Reino de

Deus”, respeitando o cuidado extremo que os judeus tinham ao pronunciar o nome de Deus. Assim também, Mateus adiciona a frase“por qualquer motivo” a esse versículo, que não consta do texto paralelo escrito por Marcos (Mc 10.2). Isso, para esclarecer ao leitorquanto ao ensino de duas escolas rabínicas: Hillel, que permitia ao marido repudiar (rejeitar, mandar embora, abandonar, divorciar),sua esposa por qualquer motivo que o desgostasse, até mesmo pelo sabor ou preparo de uma refeição. E a escola Shammai, a qualpregava que o único motivo suficiente para um homem divorciar-se de sua esposa era a infidelidade conjugal comprovada.

3 Mais uma vez os doutores da Lei procuram desmoralizar Jesus, pois o assunto estava dividido, há muitos anos, entre duas

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42MATEUS 19

8 Ao que Jesus declarou: “Moisés, por cau-sa da dureza dos vossos corações, vos con-

cedeu separar-se de vossas mulheres. Masnão tem sido assim desde o princípio”.9 Eu, porém, vos armo: “Todo aqueleque se divorciar da sua esposa, a nãoser por imoralidade sexual, e se casarcom outra mulher, estará cometendoadultério”. 410 Então os discípulos consideraram: “Seestes são os termos para o marido e suaesposa, não é vantagem casar!”.11 Mas Jesus ponderou-lhes: “Nem todosconseguem aceitar essa palavra; somenteaqueles a quem tal capacidade é dada.12 Pois há alguns eunucos que nasceramassim do ventre de suas mães; outrosforam privados de seus órgãos reprodu-tores pelos homens; e há outros aindaque a si mesmos se zeram celibatários,por causa do Reino dos céus. Quem for

capaz de aceitar esse conceito, que oreceba”.5 

 Jesus abençoa as crianças(Mc 10.13-16; Lc 18.15-17)13 Então, trouxeram-lhe algumas crian-ças, para que lhes impusesse as mãos eorasse por elas. Os discípulos, contudo,os repreendiam.14 Mas Jesus lhes ordenou: “Deixai vir amim as crianças, não as impeçais, pois oReino dos céus pertence aos que se tor-nam semelhantes a elas”.15 E, depois de ter-lhes imposto as mãos,partiu dali.6 

 Dicilmente os ricos serão salvos(Mc 10.17-31; Lc 18.18-30)16 Eis que alguém chegou perto de Jesuse consultou-o: “Mestre, que poderei fazerde bom para ganhar a vida eterna?”.7 

grandes e respeitadas correntes de pensamento. Mas Jesus apela, novamente, para o espírito da Lei e não apenas para a letra.Jesus leva sua audiência para o princípio da criação e para o pensamento originário de Deus – O Criador – e cita a Septuaginta(AT em grego), defendendo assim a doutrina da inspiração das Escrituras (Gn 1.27; 2.23-24). Portanto, o propósito divino nacriação é de que marido e esposa se unam de forma a se tornarem a mesma carne, sendo os corpos (o sangue) o meio para

a unidade indissolúvel do parentesco e comunhão, fazendo, assim, do casamento, a mais profunda forma de unidade física eespiritual. Esse conceito vital deve ser ensinado às pessoas na época do namoro. Elas precisam aprender a namorar (se conhecerbem) segundo a vontade de Deus. Isso evitaria muitos problemas no casamento.

 4 A intenção dos fariseus não era compreender a verdade, mas achar um pretexto para destruir Jesus. Eles recorrem, assim,à lei de Moisés (Dt 24.1). Mas Jesus demonstra que certas concessões, na história, não foram feitas por serem o plano originalde Deus para a humanidade, mas em atenção aos pedidos insistentes da sociedade; da alma dos homens, dos seus coraçõesarrogantes, vaidosos e egoístas. Características que acompanharam o ser humano após a sua Queda e que se relacionam coma influência do Diabo na terra (Gn 3.8-13; 22-24).

5 A palavra “eunuco” (em hebraico sãrïs) é derivada de um termo assírio que significa “aquele que é cabeça” ou “o braço direito”.No NT, o vocábulo grego eunouchos, é uma derivação de eune n echõ, que pode significar “conservar o leito” ou “manter a padrão”.Nos escritos de Heródoto aprendemos que nos países orientais os eunucos eram contratados especialmente para tomar conta dosharéns dos monarcas, sendo, entretanto, reputados como dignos de confiança em todos os sentidos. Em todos os casos, a palavrarefere-se a pessoas da mais alta confiança do rei e pode ser usada no sentido de: “oficial da corte” ou “castrado”. Em At 8.27 ambosos sentidos estão em foco. Aqui, porém, a expressão original é clara e refere-se ao homem castrado. O judaísmo conhecia apenasduas categorias de eunucos: Os “feitos pelo homem” (em hebraico sãrïs ’ãdhãm), e aqueles que nasceram congenitamente incapazesou sem libido (instinto e desejos sexuais) chamados de “natural” ou “eunuco do sol” (em hebraico sãrïs hammâ). Jesus usou umametáfora para mostrar o radicalismo do amor: na união com Deus e com o próximo, na aliança do matrimônio e no ministério cristão.Jesus surpreende seus inquiridores com uma terceira classe de eunucos: os celibatários, aqueles que, de forma livre e espontânea,sacrificaram seus desejos naturais e legítimos por amor ao Senhor e para melhor e maior dedicação ao Reino de Deus. Em nenhummomento Jesus defendeu o asceticismo (doutrina dos primeiros séculos que exigia dos líderes cristãos a total abstinência sexual epunia severamente os pensamentos impuros). Jesus e Paulo (dois celibatários) deixam claro que não é necessário que um homemou uma mulher se privem do casamento para serem bons obreiros ou líderes espirituais da Igreja de Cristo, isso é dom de Deus; e,portanto, é graça e não maldição. Pessoas com esse dom devem ser orientadas a dedicar-se exclusivamente ao Senhor e à Igreja;caso contrário, Satanás poderá se aproveitar disso e tentar recrutá-las para servir ao reino do mal (1Co 7.7,8,26,32-35). Orígenes, umdos pais da Igreja do século II, interpretando erradamente essa palavra de Jesus, entendendo-a de forma literal, mutilou a si mesmo.

6 Era costume dos judeus levar as crianças para serem abençoadas por um rabino que fosse mestre comprovado da Lei. Aoouvirem o ensino de Jesus, as pessoas não tiveram dúvidas em enviar seus filhos para receberem a dádiva real (Gn 27). Entretan-to, Jesus aproveitou o evento para pregar sobre a chegada e a disponibilidade do Reino de Deus para todos que o recebessemcom a humildade, sinceridade, fé e alegria das crianças (Mt 6.9; Rm 8.14).

7  Os judeus, no tempo de Cristo, criam que a realização de um grande e único ato digno podia garantir-lhes um lugar

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17 Questionou-o Jesus: “Por que me per-guntas a respeito do que é bom? Há so-

mente um que é bom. Se queres entrar navida eterna, obedeça aos mandamentos”.18 Ao que ele perguntou: “Quais?”. EJesus lhe respondeu: “Não matarás, nãoadulterarás, não furtarás, não darás falsotestemunho,19 honra a teu pai e a tua mãe, e amarás oteu próximo como a ti mesmo”.20 Replicou-lhe o jovem: “A tudo issotenho obedecido. O que ainda me falta?”.21 Jesus disse a ele: “Se queres ser perfeito,vai, vende os teus bens, dá o dinheiro aospobres, e terás um tesouro no céu. De-

pois, vem e segue-me”.22 Ao ouvir essa palavra, o jovem afas-tou-se pesaroso, pois era dono de muitasriquezas.8

23 Então disse Jesus aos seus discípulos:“Com toda a certeza vos armo quedicilmente um rico entrará no Reinodos céus.24 E lhes digo mais: É mais fácil passarum camelo pelo fundo de uma agulha do

que um rico entrar no Reino dos céus”.9 25 Ouvindo isso, os discípulos caram

atônitos e exclamaram: “Sendo assim,quem pode ser salvo?”.26 Mas Jesus, xando o olhar neles, re-velou-lhes: “Isso é impossível aos sereshumanos, mas para Deus todas as coisassão possíveis”.

 As recompensas no Reino27 Então Pedro manifestou-se dizendo:“Veja! Nós deixamos tudo e te seguimos;o que será, pois, de nós?”.28 Jesus lhes respondeu: “Com toda acerteza vos armo que vós, os que me

seguistes, quando ocorrer a regeneraçãode todas as coisas, e o Filho do homem seassentar no trono da sua glória, tambémvos assentareis em doze tronos, para jul-gar as doze tribos de Israel.10

29 Também todos aqueles que tiveremdeixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe,lhos ou terras, por causa do meu Nome,receberão cem vezes mais e herdarão avida eterna.

privilegiado no céu. Outros acreditavam que a completa e restrita observância da Lei os levaria ao Reino de Deus. Lucas revelaque esse jovem ocupava posição de grande prestígio (Lc 18.18). Marcos salienta que, ao aproximar-se de Jesus, correu eajoelhou-se (Mc 10.17). O jovem possuía tudo o que alguém pode desejar, mas lhe faltava a certeza da vida eterna. Entretanto, elenão pensou na incompatibilidade que existe entre o mundanismo e o Reino de Deus (6.33). A riqueza gera soberba e arrogância,provocando rejeição à simplicidade e humildade que existe na fé em Cristo. Após a Queda, o ser humano perdeu a capacidadede ser bom e fazer o bem (continuamente). Por isso, Deus fez da Salvação um presente (dádiva), não podemos adquiri-lo, sónos é possível aceitá-lo (Ef 2.8).

8 Jesus mostra que o jovem em questão (assim como algumas pessoas) imaginava obedecer a todos os mandamentos da Lei:ele não matava, não roubava e não era um mau filho. Acontece que a própria Escritura garante que ninguém é capaz de cumprira Lei e, por isso, precisamos desesperadamente da Graça do Senhor. O rapaz tinha tudo, e queria também ser perfeito (emgrego teleios, aperfeiçoado, tendo alcançado a meta). Jesus, contudo, ao relacionar os mandamentos (Êx 20.12-16; Dt 5.16-20;Lv 19.18) omitiu “não cobiçarás”. Esse era, pois, justamente, o grande obstáculo para que o rapaz recebesse, de graça, a tãoalmejada vida eterna. Jesus não está ensinando que todo cristão deva ser pobre, muito menos que todo pobre vai para o céu.Ele estava provando o coração daquele homem para revelar a ele (e a nós) a necessidade de arrependimento e conversão dos

pecados que, muitas vezes, pensamos que não temos.9 Jesus recorre a outra metáfora: o maior animal na Palestina em contraste com a menor passagem conhecida pelo povo naépoca: o buraco de uma agulha. A expressão também se refere, curiosamente, a uma pequena entrada, situada ao lado da portaprincipal da cidade de Jerusalém, por onde (por motivos de segurança) um camelo não podia passar carregado e, mesmo assim,somente conseguia atravessá-la de joelhos (Mc 10.25). A salvação não é possível pelo esforço humano. É um ato sobrenaturalde Deus, que busca corações humanos onde receba amor incondicional e tenha prioridade absoluta. Ele acrescentará todas asdemais coisas necessárias (6.33-34). O amor ao dinheiro e às riquezas pode escravizar uma pessoa, exacerbando seu egoísmoe desviando-a do Reino (1Tm 6.9-10). Jesus faz ainda uma alusão ao AT e reafirma que para Deus nada é impossível (Gn 18.14;Jó 42.2; Zc 8.6-7).

10 A expressão grega palingenesia, aqui traduzida por “regeneração” refere-se ao mundo renovado do futuro (o novo céu e anova terra de Ap 21.1). As doze tribos, com as dez tribos do norte (Israel), perdidas séculos antes de Cristo (pela mistura com po-vos gentios), serão restauradas para o julgamento (25.31; At 3.20-21; Ap 7.4-8). O outro único uso da palavra “regeneração” tema ver com a renovação espiritual das pessoas (Tt 3.5). Jesus ensina que o Reino de Deus não é uma competição, como em quasetudo nas sociedades humanas. Jesus tranqüiliza Pedro e promete que todos os que tomarem parte em sua batalha, comparti-

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44MATEUS 19, 20

30 Entretanto, muitos primeiros serãoúltimos, e muitos últimos serão primei-

ros”. A parábola dos pagamentos 

20 “Portanto, o Reino dos céus é se-melhante a um proprietário que

saiu ao raiar do dia para contratar traba-lhadores para a sua vinha.1

2 Depois de combinar com cada traba-lhador o pagamento de um denário pelodia, os enviou ao campo das videiras.2

3 Por volta das nove horas da manhã, aosair, viu na praça do mercado, outros queestavam parados, sem ocupação.3

4 Então lhes disse: ‘Ide vós também tra-balhar na vinha, e Eu vos pagarei o quefor justo’. E eles foram.5 Tendo saído outras vezes, próximo domeio dia e das três horas da tarde, agiuda mesma maneira.6 Ao sair novamente, agora em torno dascinco horas da tarde, encontrou outrosque estavam sem trabalho, e indagoudeles: ‘Por qual motivo estivestes aquidesocupados o dia todo?’7 E lhe informaram: ‘Porque não houvealguém que nos contratasse’. Então lhesfalou: ‘Ide igualmente vós para o campodas videiras’.8 Ao pôr-do-sol, o senhor da vinha or-denou ao seu administrador: ‘Chama

os trabalhadores e paga-lhes o salário,começando pelos últimos contratados e

terminando nos primeiros’. 4

9 Chegaram os que haviam sido contra-tados em torno das cinco horas da tarde,e cada um deles recebeu um denário.10 Quando vieram os que haviam sidocontratados primeiro, deduziram quereceberiam mais; contudo, também estesreceberam um denário cada um.11  No entanto, assim que o receberam,começaram a se queixar do proprietárioda vinha,12 dizendo-lhe: ‘Estes últimos homenstrabalharam apenas uma hora; apesar

disso o senhor os igualou a nós que su-portamos o peso do trabalho e o calordo dia’.13  Mas o dono da vinha, explicando,falou a um deles: ‘Amigo, não estousendo injusto contigo. Não combina-mos que te pagaria um denário pelo diatrabalhado?14 Sendo assim, toma o que é teu, e vai-te;pois é meu desejo dar a este último tantoquanto dei a ti.15 Porventura não me é permitido fazer oque quero do que é meu? Ou manifestastua inveja porque eu sou generoso?’5

16 Portanto, os últimos serão primeiros, eos primeiros serão últimos. Pois muitosserão chamados, mas poucos escolhidos”.6

lharão igualmente das bênçãos de sua vitória completa e eterna. Entretanto, em 20.1-16, Ele adverte os seus seguidores sobre operigo de julgar o assunto das recompensas divinas por um padrão meramente político, econômico e financeiro (terreno).

Capítulo 201 A declaração de Jesus feita em 10.30, é explicada por meio desta história e repetida em 20.16, enfatizando a soberana gene-

rosidade de Deus Pai. Essa parábola foi registrada apenas em Mateus.2 O denário ou dinheiro (em latim denarius) era uma moeda romana, de prata. Tinha o mesmo valor de um dracma (em grego

drachma), ou meio shekel judaico. Correspondia a um dia de trabalho de um soldado romano na época de Jesus. Um escrivão

de documentos altamente qualificado, na Palestina daquele tempo, ganhava dois denários por dia.3 A contagem das horas começava às 6h da manhã. Portanto, a terceira hora correspondia às 9h da manhã e assim pordiante. Nos originais gregos, assim como na tradução KJ de 1611 constam as expressões: “da hora terceira; sexta; nona e dadécima primeira hora”. Entretanto, o Comitê Internacional de Tradução da Bíblia King James decidiu, para melhor compreensãodessa parábola, pelo uso do atual sistema de divisão do dia natural em 24 horas. Tempo que a Terra leva para fazer uma rotaçãocompleta sobre si mesma.

 4 A Lei de Moisés garantia aos trabalhadores pobres (que ganhavam salário mínimo, ou um denário por dia) que fossempagos por seus contratadores até o fim do dia ou até que o brilho das primeiras estrelas pudesse ser observado no céu (Lv19.13; Dt 24.14,15).

5 A parte final deste versículo no original grego é: “...ou o olho teu mau é porque eu bom sou?” Essa expressão está relacionadaao suposto poder de amaldiçoar que existe nos olhos de uma pessoa que inveja (não apenas do invejoso compulsivo). Desde o

 AT (1Sm 18.6-16), havia uma associação entre o olhar perverso e a inveja (daí a expressão popular:  mau-olhado).6 Esta parábola está repleta de ensino e sabedoria. Não é possível um comentário extenso aqui, mas é importante dizer que

Jesus usou uma história bem conhecida dos judeus para esclarecer um pouco mais sobre como é a vida no Reino de Deus.

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45 MATEUS 20

Outra vez Jesus prediz seu sacrifício(Mc 10.32-34; Lc 18.31-34)17

 Jesus estava, então, pronto para subir aJerusalém, quando chamou à parte seusdoze discípulos e lhes falou:18 “Agora estamos subindo para Jerusa-lém, e o Filho do homem será entregueaos chefes dos sacerdotes e aos escribas.Eles o condenarão à morte.19 E o entregarão aos gentios para serzombado, torturado e crucicado; masao terceiro dia Ele será ressuscitado!”.7 

 É preciso sabedoria para pedir (Mc 10.35-45)

20 Naquele momento, aproximou-se deJesus a esposa de Zebedeu, com seus lhose, prostrando-se, fez um pedido a Ele.8

21 “O que desejas?” - perguntou Jesus. Elarespondeu: “Ordena que no teu Reino

estes meus dois lhos se assentem um àtua direita, e o outro à tua esquerda”.22  “Não sabeis o que pedis!”, contestou-lhes Jesus. “Podeis vós beber o cálice queEu estou prestes a beber e ser batizadoscom o batismo com o qual estou sendobatizado?”. E eles armaram: “Podemos!”.23 Então Jesus lhes declarou: “Certamen-te bebereis do meu cálice; mas quanto aoassentar-se à minha direita ou à minhaesquerda, não cabe a mim outorgá-lo.Esses lugares pertencem àqueles a quemforam reservados por meu Pai”.9

24 Ao ouvirem isso, os outros dez caraminjuriados contra os dois irmãos.25  Então Jesus os chamou e explicou:

Desde o AT, muitos mestres e rabinos usavam parábolas para comunicar seus ensinos. Acontece que essa história, em váriasversões, era contada para realçar a doutrina das recompensas divinas, e seguia a mesma linha moral da conhecida fábula de LaFontaine: “A Cigarra e a Formiga”. A história rabínica, em síntese, era assim: “Um rei recrutou muitos trabalhadores, mas um delestrabalhou muitos dias para o reino. No dia do pagamento, o rei pagou pouco aos que tinham trabalhado pouco e recompensouregiamente ao que fora fiel o tempo todo”. Ou seja: muito trabalho, muita recompensa; nenhum trabalho, punição ou nenhumarecompensa. Jesus, porém, dá um desfecho novo, inusitado e ameaçador ao recontar essa parábola tradicional. Jesus declarouque Deus dá recompensas aos seus filhos (Mt 5.12,46; 6.1; 5.16; 10.41). Mas, da mesma maneira inequívoca, ensinou que todosos que servem a Deus com a principal intenção de com isso “merecer” bênçãos e favores, perderão a verdadeira felicidade, aquie na eternidade. Quem realiza boas obras contando com as recompensas, vai se aborrecer com a misericórdia e a bondade deDeus. É por isso que os judeus, especialmente os que mais se esforçavam (escribas e fariseus), começaram a odiar a Jesus. Elestinham um lema na época: “A Torá (a Lei) foi dada a Israel para mostrar como adquirir méritos”. É até compreensível que eles seirritassem com o novo ensino e com a generosidade de Deus; e que muitos deles, como na parábola, de “primeiros” se tornaram“últimos”, ou como o irmão mais velho, que na história do “filho pródigo” irou-se e excluiu-se da alegria de reaver o irmão perdido(Lc 15.11-32). Jesus ensina também, através dessa parábola, que os judeus, os primeiros a receber a gloriosa chamada divina,não serão os primeiros a receber o galardão final (recompensa, prêmio), pois a Salvação não vem da herança racial, nem dolegalismo religioso, mas da generosidade e graça divinas. Assim também, a Salvação é a maior gratificação que um ser humanopode receber em toda a sua vida e vale por toda a eternidade. Portanto, não existem “salvos de segunda classe”. Uma vez salvo;salvo de primeira classe e para sempre. Deus é soberano e, absolutamente tudo depende dele. O ser humano não pode fazernada para salvar-se, a não ser aceitar humildemente a vontade do Senhor e andar segundo a Palavra. Entretanto, a graça de Deuspode transformar qualquer fariseu em um dos “primeiros” (novamente), como aconteceu com Saulo de Tarso, nosso irmão Paulo(At 9.1-31). A frase: “Pois, muitos serão chamados, mas poucos escolhidos”, não consta de alguns manuscritos gregos, emborafaça referência às palavras de Jesus em 19.23-26 e refíra-se a parte de todas as revisões da KJ desde 1611 até hoje.

7  Esta é a última viagem de Jesus a Jerusalém. Teve início na cidade de Efraim (Jo 11.54), passando pela Galiléia (Lc 17.11),seguindo mais para o sul, chegando a Jericó, passando pela Peréia (Lc 18.35), por Betânia (Lc 19.29), até chegar a Jerusalém (Lc

19.41). Jesus desejou muito celebrar sua última Páscoa com seus discípulos; uma multidão de peregrinos os acompanhava. Jesusseria o Cordeiro Pascal da humanidade; mas nem seus discípulos mais chegados conseguiam entender por que o Messias haveriade ser humilhado e morto se as profecias apontavam para um grande libertador, maior que Moisés. Nesta terceira predição sobre oseu sacrifício, Jesus acrescenta que Ele não seria executado pelos judeus, que o apedrejariam, mas pelos gentios (romanos). Todosesses detalhes proféticos só fariam sentido na mente dos discípulos após a morte e ressurreição de Jesus (28.6).

8 Marcos nos revela que esses filhos de Zebedeu e Salomé (irmã de Maria, mãe de Jesus) eram os primos do Senhor: Tiago eJoão. O pedido foi feito numa reunião com Jesus, solicitada pela mãe dos dois apóstolos (27.56; Mc 10.35; 15.40; Jo 19.25). Tantoo pedido como a indignação dos outros discípulos revela que todas aquelas pessoas aguardavam para breve o estabelecimentodo poderoso reino do Messias na terra, apesar da clara profecia sobre a Paixão do Senhor.

9 Jesus usa uma metáfora bastante conhecida dos judeus, especialmente no AT (Sl 75.8; Is 51.17-23; Jr 25.15-28; 49.12; 51.7),quase sempre associada ao juízo e à ira de Deus contra o pecado. A expressão hebraica:  beber o cálice significava compartilhar dodestino de  alguém. Assim, o cálice refere-se ao castigo divino que Jesus teria de receber em lugar de cada ser humano. O batismo éoutra figura de linguagem que, assim como o cálice, explica o sentido do sofrimento e morte do Senhor (Lc 12.50; Rm 6.3,4). Jesusdemonstra mais uma vez sua absoluta divindade ao revelar que conhecia o destino dos discípulos, mas que não podia usurpar a

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46MATEUS 20, 21

“Sabeis que os governadores dos po-vos os dominam e que são as pessoas

importantes que exercem poder sobreas nações.26 Não será assim entre vós. Ao contrário,quem desejar ser importante entre vósserá esse o que deva servir aos demais.27 E quem quiser ser o primeiro entre vósque se torne vosso escravo.28 Assim como o Filho do homem, quenão veio para ser servido, mas para servire dar a sua vida como único resgate pormuitos”.10

Os cegos recuperam a visão(Mc 10.46-52; Lc 18.35-43)29 Ao saírem de Jericó, uma grande mul-tidão acompanhava Jesus.30 De repente, dois cegos, que estavamassentados à beira do caminho, tendoouvido que Jesus passava, puseram-se agritar: “Senhor! Filho de Davi, tem mise-ricórdia de nós”.31  Entretanto, a multidão os repreendeupara que se calassem, mas eles clamavamainda mais: “Senhor! Filho de Davi! Temmisericórdia de nós!”.32  Jesus, parando, chamou-os e lhes

perguntou: “O que quereis que Eu vosfaça?”.1133

  “Senhor! Que se abram os nossosolhos”, responderam eles.34  Jesus sentiu compaixão e tocou nosolhos deles. No mesmo instante os cegosrecuperaram a visão e o seguiram.

 Jesus é aclamado pelas multidões(Mc 11.1-11; Lc 19.28-40; Jo 12.12-19)

21 Ao se aproximarem de Jerusalém,chegaram a Betfagé, no monte

das Oliveiras. Então, Jesus enviou doisdiscípulos,1 

2 e recomendou-lhes: “Ide ao povoado

que está adiante de vós e logo encon-trareis uma jumenta amarrada, com seuburrico ao lado. Desamarrai-os e trazei-os para mim.2 3 Se alguém vos questionar algo, deveisdizer que o Senhor necessita deles esem demora os devolverá”.4  No entanto, isso ocorreu para que secumprisse o que fora dito por meio doprofeta:5 “Dizei à lha de Sião: ‘Eis que o teu reichega a ti, humilde e montado num bur-rico, um potro, cria de jumenta’”.

autoridade do Pai. Assim, Tiago foi o primeiro dos apóstolos a ser martirizado (At 12.2). A última parte da pergunta de Jesus nãoconsta de alguns originais gregos, mas é clara em Mc 10.38 e consta de todas as revisões textuais da KJ desde 1611.

10 Não é aconselhável rejeitar a ajuda e o serviço dos nossos companheiros, mas “ser servidos” não deve ser a nossa ambição.Devemos seguir o exemplo de Jesus que, sendo Deus, entregou “a sua vida” ou “a sua alma” (em grego ten psychen  autou) parapagar toda a punição imposta à humanidade pela quebra da ordem (Lei) de Deus no Éden: a morte eterna. Todo pecado demandaindenização, expiação e pagamento. A Lei de Deus jamais ordenou sacrifícios humanos; mas, em relação ao pecado original, eranecessário que um ser humano sem pecado fosse imolado. Jesus se ofereceu para pagar nosso “resgate” (em grego lytron), palavraderivada do verbo grego luo que significa “libertar” e usada na época ao se tratar da alforria de escravos. Jesus usou outra forte me-táfora para comparar seu sacrifício ao ato de pagar o preço pedido pela venda de um escravo muito caro, comprado, todavia, paraganhar a liberdade. Por isso, os cristãos estão livres, de uma vez por todas, do poder e da escravidão do pecado (do erro) e da penada morte eterna. Essa frase de Cristo é uma das poucas ocasiões em que a doutrina da redenção vicária é citada nos Evangelhos

sinóticos (1Tm 2.6). A salvação é oferecida de graça a todos, mas apenas os “muitos” a recebem em seus corações (1Jo 1.12-14).11 Mateus cita dois cegos, enquanto os demais sinóticos destacam apenas um (Mc 10.46-52; Lc 18.35-43). Realmente eramdois cegos, ocorre que Bartimeu, devido à sua personalidade, ganhou proeminência. A cura ocorreu durante a saída da VelhaJericó para a Nova Jericó.

Capítulo 211 Betfagé, em hebraico significa “Casa dos Figos” (Lc 19.29). Segundo o Talmude, era uma pequena vila situada a cerca de

um quilômetro a leste de Jerusalém, na encosta sul do monte das Oliveiras. Aqui tem início a última semana da vida humanade Jesus Cristo.

2 Jesus decide entrar em Jerusalém, desta vez, montado em um jumentinho (Jo 12.15). E isso, sob as homenagens das multi-dões, para demonstrar claramente que Ele era o Messias prometido há séculos (Zc 9.9). O Filho de Davi, escolhido para ocuparseu trono (1Rs 1.33,44). Os potros ou burricos (crias de jumenta), antes de serem submetidos a qualquer trabalho secular, eramespecialmente considerados para trabalhos religiosos (Nm 19.2; Dt 21.3; Sm 6.7), e simbolizavam humildade, paz, e a majestadede Davi. Mateus revela o cuidado de Jesus em não apartar o jumentinho de sua mãe e levar ambos consigo para sua procissãotriunfal como Rei de Israel.

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6 Então os discípulos foram e zeram oque Jesus lhes havia mandado.3

7

Trouxeram-lhe a jumenta com o  jumentinho, os selaram com mantaspara cavalgar, e sobre as mantas Jesusmontou.8  Então, uma grande multidão estendiasuas capas pelo caminho, muitos outroscortavam ramos de árvores e os espalha-vam pela estrada.9 E as multidões, tanto as que iam adi-ante dele, quanto as que o seguiam, pro-clamavam: “Hosana ao Filho de Davi!‘Bendito seja Ele que vem em o Nome doSenhor!’ Hosana nas alturas!” 4 

10 Assim que Jesus entrou em Jerusalém,toda a cidade cou alvoroçada, e comen-tavam: “Quem é este?”11 Então as multidões exclamavam: “Esteé o profeta Jesus, vindo de Nazaré da Galiléia!”.

O templo é casa de oração! (Mc 11.15-19; Lc 19.45-48)12 Tendo Jesus entrado no pátio do tem-plo, expulsou todos os que ali estavamcomprando e vendendo; também tom-bou as mesas dos cambistas e as cadeirasdos comerciantes de pombas.

13 E repreendeu-os: “Está escrito: ‘A mi-nha casa será chamada casa de oração’;

vós, ao contrário, estais fazendo dela um‘covil de salteadores’”.5

14 Então levaram a Jesus, no templo, ce-gos e aleijados, e Ele os curou.15 Entretanto, quando os chefes dossacerdotes e os escribas viram as mara-vilhas realizadas por Jesus, e as criançasexclamando no templo: “Hosana ao Fi-lho de Davi!”, revoltaram-se e indagaramdele:16 “Não ouves o que estas crianças estãoproclamando?”. Ao que Jesus lhes res-pondeu: “Sim. E vós, nunca lestes: ‘Dos

lábios das crianças e dos recém-nascidossuscitaste louvor’”.17 E, deixando-os, saiu da cidade em di-reção a Betânia, onde passou a noite.6

 A gueira que não deu fruto(Mc 11.12-14; 20-25)18 Ao amanhecer, quando retornava paraa cidade, Jesus teve fome.19  Avistando uma gueira à beira daestrada, aproximou-se dela, porém nadaencontrou, a não ser folhas. Então decre-tou-lhe: “Nunca mais se produza fruto

3 O próprio Jesus usa a expressão: “Senhor” (Senhor de Israel ) como seu título divino (16.18). Mateus usou as profecias regis-tradas na Septuaginta (AT em grego), em Is 62.11 e Zc 9.9 para mostrar que a maioria do povo havia compreendido que Jesusera mesmo o Rei-Messias prometido.

 4 Hosana é uma expressão grega ( hõsanna), que significa “Salva-nos!” e vem do hebraico transliterado ( hôshi´â nã´), que querdizer: “Salva, Senhor, por misericórdia!” Mateus revela que expressões de júbilo emanavam da multidão, e não que fosse umafrase só a ser repetida indefinidamente. Essa aclamação do povo é baseada em 2Sm 14.4, Sl 118.25-27 e Sl 148.1-2, cantadana Festa dos Tabernáculos e, em Mateus, aplicada a Jesus. Como um ato de homenagem régia, o povo pavimentou, com seuspróprios mantos (capas), o caminho por onde passou o Senhor. Com o passar do tempo, a palavra “hosana” tornou-se umaexclamação de louvor e alegria espiritual.

5 O termo grego original (to hieron), que significa “o templo”, indica toda a área sobre o monte Moriá, ocupada pelos diversos re-cintos e a corte do templo. No domingo, após a entrada triunfal, Jesus continua sua obra de purificação da Casa do Senhor, iniciadatrês anos antes (Jo 2.14). Uma atitude para demonstrar o quanto os judeus haviam ofendido ao Senhor, permitindo que seus cora-

ções fossem corrompidos pela ganância, dominados pelo pecado, e faltos de amor sincero para com Deus e com seu próximo. Issoocorre infelizmente ainda hoje em alguns templos cristãos, e entre seus membros. Jesus citou as Sagradas Escrituras, usando, daversão Septuaginta (AT em grego), os textos de Is 56.7 com Jr 7.11. As ofertas, taxas e compras de animais para sacrifícios no templosó podiam ser pagas com moeda hebraica (siclo hebreu), pois as demais moedas eram cunhadas com a imagem de divindadespagãs ou do imperador, considerado pelos romanos e outros gentios como um deus. Entretanto, esse serviço de troca de moedas(câmbio), compra e venda de animais, e produtos para os sacrifícios, deveria ser realizado com dignidade, no “grande átrio exteriordos gentios”, um espaço reservado para essas atividades com mais de 50.000 m 2. Todavia, os cambistas estavam explorando osromeiros que vinham de muito longe e com dinheiro gentio para ofertar e sacrificar no templo. Além disso, a venda dos animais cul-tualmente aceitáveis transformara-se apenas em lucrativo comércio, tanto que a área antes reservada já não comportava os estandesde vendas e haviam invadido até o recinto sagrado. Vários sacerdotes lideravam a corrupção institucionalizada no templo, posto queao receberem os animais para holocausto, em vez de efetuarem o ritual do sacrifício, matavam apenas alguns deles, e repassavamtodos os demais para comerciantes fraudulentos, que os revendiam sucessivas vezes.

6 Os líderes dos sacerdotes e os doutores da lei viram os milagres de Cristo e temeram por suas vidas e negócios. Tentaramenredar o Senhor num sofisma, ao alegar que um mestre tão zeloso como Jesus, não deveria deixar que crianças o adorassem

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em ti!”. E, no mesmo instante, a gueiracou completamente seca.20

E quando viram o que ocorrera, muitose admiraram os discípulos e exclamaram:“Como foi possível esta gueira secar tãodepressa?”.21  Então Jesus explicou-lhes: “Comcerteza vos asseguro que, se tiverdes fée não duvidardes, podereis fazer nãoapenas o que foi feito à gueira, mas damesma forma ordenardes a este monte:‘Ergue-te daqui e lança-te no mar’, eassim acontecerá.22 E tudo o que pedirdes em oração, secrerdes, recebereis”.7 

 Líderes religiosos duvidam de Jesus(Mc 11.27-33; Lc 20.1-8)23  Tendo Jesus chegado ao templo, en-quanto ensinava, acercaram-se dele oschefes dos sacerdotes e os anciãos dopovo e o questionaram: “Com que auto-ridade fazes estas coisas aqui? E quem tedeu essa autorização?”.8

24 Jesus, porém, replicou-lhes: “Eu igual-mente vos lançarei uma questão. Se meresponderdes, também Eu vos direi com

que autoridade faço o que faço.25 De onde era o batismo de João? Divinoou humano?”. E eles discutiam entre si,avaliando: “Se respondermos: divino, Ele

nos indagará: ‘Sendo assim, por que nãoacreditastes nele?’26

Porém, se alegarmos: humano, teme-mos o povo, pois todos consideram Joãocomo profeta”.27  Por isso disseram a Jesus: “Não sa-bemos!”. Ao que Jesus armou-lhes:“Nem Eu vos direi com que autoridadeprocedo.9

 A parábola do pai e dois lhos28 Agora, qual a vossa opinião? Um ho-mem tinha dois lhos. Aproximando-sedo primeiro, pediu: ‘Filho, vai trabalharhoje na vinha’.29 Mas este lho lhe disse: ‘Não quero ir’.Todavia, mais tarde, arrependido, foi.30 Então chegou o pai até o segundo lhoe fez o mesmo pedido. Então este lhe res-pondeu: ‘Sim, senhor!’ Mas não foi.31 Qual dos dois fez a vontade do pai?”.Ao que eles responderam: “O primeiro”.Então Jesus lhes revelou: “Com toda acerteza vos armo que os publicanos eas prostitutas estão ingressando antes devós no Reino de Deus.32  Porquanto João veio para vos mos-

trar o caminho da justiça, mas vós nãoacreditastes nele; em compensação, oscobradores de impostos e as meretrizescreram.Vós, entretanto, mesmo depois

como se fosse Deus. Entretanto, Jesus citou novamente as Escrituras e revelou que mais uma profecia acerca dele se cumprianaquele momento (Sl 8.2). Jesus foi, então, para a casa dos seus queridos amigos Lázaro e suas irmãs, Marta e Maria, que ficavaem Betânia, uma aldeia no declive oriental do monte das Oliveiras, uns dois quilômetros a leste de Jerusalém.

7 Mateus condensava suas narrativas, em contraste com o texto dos demais autores sinóticos (Marcos e Lucas). Marcos situa amaldição da figueira na manhã de segunda-feira, mas na te rça-feira pela manhã foi que os discípulos, passando por ela outra vez,a observam completamente aniquilada (Mc 11.12-14, 20-25). Mateus, mais tarde, ao escrever seu Evangelho (testemunho ocular

da vida, mensagem e sinais de Jesus), segundo a inspiração do Espírito Santo, enfatiza o caráter imediato do Juízo de Deus.Diversas podem ser as inferências teológicas acerca dessa passagem, especialmente em relação a Israel (Os 9.10; Na 3.12). Con-tudo, a única aplicação que o próprio Senhor Jesus faz, tem a ver com a eficácia da oração que não duvida do poder de Deus.

8 Aqui começa a terça-feira da chamada “Semana Santa”. O Sinédrio (supremo juiz da corte de Israel) decide apelar parao legalismo e pede credenciais autorizadas a Jesus por estar realizando um ato oficial no templo. Eles já haviam usado essaestratégia com João Batista (Jo 1.19-25) e, em outra ocasião, com o próprio Jesus (Jo 2.18-22). Os líderes religiosos sentiamem Jesus uma forte ameaça à sua posição, privilégios e lucros financeiros ilícitos. Por isso, procuravam apresentá-lo como umrevolucionário, fora da lei, e inimigo de Roma.

9 Grandes oradores e conhecedores do poder da palavra, os líderes religiosos procuram comprometer a Jesus por meio de umquestionamento ardiloso. Jesus é levado a declarar publicamente que era o Messias (como o povo aclamava). Assim poderiamprendê-lo e entregá-lo aos romanos. A outra opção seria negar sua autoridade divina, passando então a ser totalmente desacre-ditado pela multidão que o acompanhava. Jesus apelou para o testemunho de João Batista acerca dele e lhes propôs tambémuma questão (Jo 1.32-34).

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de presenciardes a tudo isso, não vos arre-pendestes para acreditardes nele.10

 A parábola dos vinicultores maus(Mc 12.1-12; Lc 20.9-19)33 E mais, atentai a esta parábola: Haviaum certo proprietário de terras, queplantou um campo de videiras. Ergueuuma cerca ao redor delas, construiu umtanque para prensar as uvas e edicouuma torre. Finalmente, arrendou essavinha para alguns vinicultores e foiviajar.11

34 Chegando a época da safra, enviouseus servos até aqueles lavradores, para

receber os seus dividendos.35 Porém os lavradores atacaram seusservos; a um espancaram, a outro mata-ram, e apedrejaram o terceiro.36 Então lhes mandou outros servos, emmaior número do que da primeira vez,mas os lavradores os trataram da mesmamaneira.37 Por m, decidiu enviar-lhes seu pró-prio lho, considerando: ‘Eles respeita-rão o meu lho’.38  Contudo, assim que os lavradoresviram o lho, tramaram entre si: ‘Esteé o herdeiro! Então vamos, nos unamospara matá-lo e apoderemo-nos da suaherança’.39 E assim, eles o agarraram, jogaram-no

para fora da plantação de videiras e oassassinaram.12

40

 Sendo assim, quando vier o dono davinha, o que fará com aqueles lavradores?”.41 Diante disso, responderam-lhe: “Eledestruirá esses perversos de forma ter-rível e arrendará seu campo de videiraspara outros cultivadores que lhe enviema sua parte no devido tempo das colhei-tas”.13

42  Então Jesus lhes inquiriu: “Nuncalestes isto nas Escrituras? ‘A pedra queos construtores rejeitaram, tornou-sea pedra angular; e isso procede doSenhor, sendo portanto, maravilhoso

para nós’.43 Por isso, Eu vos declaro que o Reinode Deus será retirado de vós para serentregue a um povo que produza frutosdignos do Reino.44 Todo aquele que cair sobre esta pedrase arrebentará em pedaços; e aquele sobrequem ela cair cará reduzido a pó!”.14

45 Depois que os chefes dos sacerdotes eos fariseus ouviram as parábolas que Je-sus lhes havia contado, compreenderamque era sobre eles próprios que Jesusestava falando.46 E por causa disso procuravam ummotivo para prendê-lo; mas tinhamreceio das multidões, porquanto elas oconsideravam profeta.

10 As versões de Almeida invertem a posição dos versículos 29 e 30. Entretanto, a Bíblia King James e a NVI seguem a mesmaordem original. Jesus resolve o debate com os sacerdotes, propondo duas histórias (as respostas parabólicas de Jesus). Aautoridade maior vem da obediência amorosa e sincera a Deus; não de uma liderança autoritária, maquiavélica e despótica, quedepende apenas de títulos e diplomas e, ainda mais, corrompida pela falta de dignidade. Como podem os eleitos para cuidar daCasa do Senhor (autoridades eclesiásticas), rejeitar o dono da Casa e o Evangelho do Reino?

11 Segundo a tradição rabínica, uma “torre” deveria ser construída na vinha, para abrigar o responsável pelo campo, que vigiava

a plantação, especialmente quando chegava o tempo da colheita e as uvas ficavam maduras. Era, normalmente, uma plataformaelevada feita de madeira, com cerca de 5m de altura por 2m de lado.12 Assim como seria um absurdo que os agricultores de um campo arrendado pudessem herdar essa terra ao assassinar seu

dono, maior loucura foi os líderes espirituais e teólogos da época imaginarem que a incriminação e a crucificação de Jesus Cristo,o Filho de Deus, lhes garantiria a herança e o domínio de Israel.

13 Ao se escandalizarem com o erro dos outros, sem atentarem para seus pecados, e julgarem severamente os lavradores daparábola de Jesus, os sacerdotes estavam decretando sua própria punição: os judeus que não aceitassem a verdadeira men-sagem de Deus em Cristo ficariam sem a herança espiritual. No ano 70 d.C. o Templo e toda a cidade de Jerusalém sofreram amais arrasadora destruição até hoje registrada em sua história. Uma vez que o Evangelho foi rejeitado pelos judeus, Deus dirigesua graça salvadora aos gentios, salva e convoca Paulo para ser seu apóstolo (em grego apostellõ, enviado por Deus com umamissão específica). Já no segundo século da era cristã, a Igreja era composta, quase que totalmente, por não judeus (gentios).

14 Jesus é o alicerce seguro, a pedra fundamental, para todos aqueles que confessam o seu nome e edificam suas vidas nele,passando assim a fazer parte do grande edifício de Cristo, como pedras vivas (16.18; 1Pe 2.4-5). Entretanto, para os que rejeitamo Senhor, recusando-se a crer em Jesus, o Cristo (o Messias prometido), Ele se torna em pedra de tropeço e de condenação

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 A parábola do banquete nupcial (Lc 14.15-24)

22 Jesus continuou a pregar-lhes pormeio de parábolas, dizendo:2 “O Reino dos céus é semelhante a umrei que mandou realizar um banquetenupcial para seu lho.1 3 E, por isso, enviou seus servos a concla-mar os convidados para as bodas do -lho; mas estes rejeitaram o chamamento.4 Uma vez mais, mandou outros servos,com esta ordem: ‘Dizei aos que foramconvidados que lhes preparei meu ban-quete; os meus bois e meus novilhosgordos foram abatidos, e tudo está pre-

parado. Vinde todos os convidados paraas bodas do meu lho!’2

5 Mas os convidados nem deram atençãoao chamado dos servos e se afastaram:um para o seu campo, outro para os seusnegócios.6 E outros ainda, atacando os servos,maltrataram-nos e os assassinaram.7 O rei indignou-se sobremaneira e, en-viando seu exército, aniquilou aquelescriminosos e incendiou-lhes a cidade.3

8 Então, disse o rei a seus servos: ‘O ban-quete de casamento está posto, contudo

os meus convidados não eram dignos.9 Ide, pois, às esquinas das ruas e convi-dai para as bodas todas as pessoas queencontrardes.10 E, assim, os servos saíram pelas estra-das e reuniram todos quantos puderam

encontrar, gente boa e pessoas más, e asala do banquete das bodas cou repleta

de convidados.11 Entretanto, quando o rei entrou parasaudar os convidados que estavam àmesa, percebeu que um homem nãotrajava as vestes nupciais.12 E indagou-lhe: ‘Amigo, como aden-traste este recinto sem as suas vestespróprias para as bodas?’ Mas o homemnão teve resposta.13 Então, ordenou o rei aos seus servos:‘Amarrai-lhe os pés e as mãos e lançai-o para fora, às trevas; ali haverá grandelamento e ranger de dentes’. 4 

14 Portanto, muitos são chamados, maspoucos, escolhidos!”.

 Dai a César o que é de César (Mc 12.13-17; Lc 20.20-26)15 E, assim, se afastaram os fariseus, tra-mando entre si como fariam para enre-dar a Jesus em suas próprias armações.16 Então, mandaram-lhe seus seguidores

 juntamente com alguns herodianos, quelhe questionaram: “Mestre, sabemos queés íntegro e que ensinas o caminho deDeus, de acordo com a verdade, sem te

deixares induzir por quem quer que seja,pois não te seduzes pela aparência daspessoas.17 Sendo assim, dize-nos: que te pareces?É correto pagar impostos a César ou não?”.518 Contudo, Jesus percebeu a má inten-

eterna (Is 8.14-15; Lc 20.17; Rm 9.32; 1Pe 2.6-8). Assim como um vaso de barro se despedaça ao ser arremessado contra umarocha, ou é esmagado ao ser atingido por uma enorme pedra, da mesma forma virá a destruição sobre todos aqueles que rejei-tarem o senhorio de Cristo (Is 8.14; Dn 2.34,35,44; Lc 2.34). É importante notar que, mais tarde, o apóstolo Pedro fez questão desalientar que Jesus era a sua Pedra, Rocha Principal, seu Sustentador, e que cada indivíduo deve aceitar a Pedra (Jesus), paraser salvo e ganhar a vida eterna (At 4.8-12).

Capítulo 221 Jesus apresenta o Reino dos céus em outras parábolas, veja no capítulo 13.2 A proclamação do Evangelho é o doce e insistente convite do Rei do Universo a todo ser humano, para tomar parte em seu

maravilhoso banquete de núpcias. Ainda assim, muitas pessoas estão de tal forma iludidas com suas exigências presentes emateriais que se recusam a dar atenção à generosidade divina.

3 Todos aqueles que se apresentam como inimigos declarados do Evangelho, assim como os falsos cristãos, serão destruídos.Da mesma forma como a cidade de Jerusalém foi completamente arrasada e queimada pelos romanos, no ano 70 d.C.

 4 Era costume, naquela época e região, o anfitrião fornecer roupas adequadas ao casamento, para os convidados que nãopudessem comprá-las. Como esse grupo de pessoas veio diretamente das ruas, todos ganharam suas roupas cerimoniais.Entretanto, um daqueles novos convidados, rejeitou também a hospitalidade e a generosidade do rei. A veste nupcial simboliza a

 justificação com a qual Cristo veste todas as pessoas que aceitam o dom gratuito da Salvação (Rm 13.14; Ap 19.8).5 Os fariseus, como nacionalistas radicais, eram contra o domínio romano. Os herodianos, entretanto, como a própria denomi-

nação revela, apoiavam o império romano de Herodes. Mas, diante de uma ameaça maior, fariseus e herodianos se unem numacilada dialética contra Jesus. Os maus se juntam no ataque ao Sumo Bem. Se a resposta de Jesus fosse “Não”, os herodianos

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ção deles e replicou-lhes: “Por que metentais, hipócritas?19

Deixai-me ver a moeda com a qual sepagais os tributos”. E eles lhe mostraramum denário.20 Então lhes indagou: “De quem é estagura e esta inscrição?”.21 Responderam-lhe: “De César!”. Então,lhes armou: “Portanto, dai a César o queé de César, e a Deus o que é de Deus!”.22  Ao ouvirem tal resposta, caram per-plexos e, afastando-se dele, se retiraram.6

Os saduceus e a ressurreição (Mc 12.18-27; Lc 20.27-40)

23 Naquele mesmo dia, os saduceus, quepregam a inexistência da ressurreição,aproximaram-se de Jesus com umaquestão:7 24 “Mestre, Moisés ensinou que se umhomem morrer sem deixar lhos, seuirmão deverá casar-se com a viúva e dar-lhe descendência.25 Entre nós havia sete irmãos. O primei-ro casou-se e morreu. Como não tevelhos, deixou a mulher para seu irmão.26 Da mesma maneira ocorreu com osegundo, com o terceiro, até chegar aosétimo.

27 Finalmente, após a morte de todos, amulher também faleceu.28

Sendo assim, na ressurreição, de qualdos sete ela será esposa, considerandoque todos foram casados com ela?”29 Então Jesus lhes esclareceu: “Vós estaisequivocados por não conhecerdes as Es-crituras nem o poder de Deus!30 Na ressurreição, as pessoas não se ca-sam nem são dadas em matrimônio; são,todavia, como os anjos do céu.31 E, com relação à ressurreição dos mortos,não tendes lido o que Deus vos declarou:32 ‘Eu Sou o Deus de Abraão, o Deus deIsaque e o Deus de Jacó’? Por isso, Ele

não é Deus de mortos, mas sim, dos quevivem!”.833 Ao ouvir tudo isso, as multidões ca-ram estupefatas com o ensino de Jesus.

O maior dos mandamentos(Mc 12.28-34)34 Assim que os fariseus ouviram queJesus havia deixado os saduceus sem pa-lavras, reuniram-se em conselho.35 E um deles, juiz perito na Lei, formulouuma questão para submeter Jesus à prova:36 “Mestre, qual é o maior mandamentoda Lei?”9

o delatariam ao governador romano, que teria o direito de executá-lo por traição. Se respondesse “Sim”, então os fariseus odenunciariam diante do povo judeu, por deslealdade a Israel e ao judaísmo.

6 O dinheiro usado no império romano para pagar os impostos chamava-se “denário”. Uma moeda romana, cujo valor corres-pondia a um dia de trabalho braçal, criada no governo de Tibério, e que trazia, em um dos lados, o retrato do imperador, e dooutro, a inscrição em latim: “Tibério César Augusto, filho do divino Augusto”. Jesus explana sua tese de forma magistral e deixatodos atônitos diante de sua devoção ao Pai, sabedoria, simplicidade e coerência. Foi Deus quem deu a César poder e autoridade(Rm 13.1-7). Todos os governos deste mundo, em todas as épocas, vivem de tributos recolhidos do povo. Entretanto, o governoespiritual tem sua moeda própria e eterna: fé, amor, bondade, compaixão, misericórdia (Lc 20.20-25; Gl 5.22-26). O Reino de Deusnão é deste mundo. Seu modus vivendi (estilo de vida) é espiritual e visa o benefício de todos os seres e não a exploração do ho-mem pelo homem. Jesus reconheceu a distinção entre responsabilidades políticas e espirituais. Ao governo devemos impostos e

obediência, política justa. No tributo às autoridades cívicas, apenas retribuímos parte daquilo que oferecem. Para Deus, devemosnossa adoração, louvor, gratidão, obediência, serviço e a dedicação de todo o nosso ser.7 Os “saduceus” formavam um partido aristocrático que dominava a vida política dos judeus, inclusive a posição do sumo sa-

cerdote. Não acreditavam na ressurreição, nem na existência dos anjos e, muito menos, na imortalidade da alma. Para eles, a vidaera apenas um “aqui e agora” e nada mais. Esse era um dos aspectos que mais lhes causava divergências com os fariseus.

8 Os saduceus apresentaram uma questão fechada para Jesus. Eles aceitavam apenas os primeiros cinco livros da Bíblia comoautoridade divina, e há séculos estudavam o assunto sobre o qual interrogaram Jesus. Reivindicaram a lei do levirato (do latim levir ,cunhado), promulgada a fim de proteger as viúvas, garantir as propriedades e a continuidade da linhagem familiar (Dt 25.5,6; Gn 38.8),para zombar da doutrina da ressurreição defendida por Cristo e com isso desmoralizá-lo. Entretanto, Jesus usou o próprio Pentateucopara mostrar que eles não estudavam as Escrituras com o devido amor a Deus e por isso erravam. Nos céus não há casamentos e re-ceberemos novos corpos, como os de anjos, entre os quais não há macho ou fêmea. Portanto, debater esse assunto não faz sentido.

 Além disso, os crentes ressuscitados viverão eternamente, uma verdade firmada no caráter de Deus (Êx 3.6; Lc 20.28).9 Os fariseus eram muito legalistas, tanto que se emaranhavam em suas próprias leis e decretos. Discutiam sempre sobre

quais, dentre suas muitas ordenanças, eram prioritárias para que um judeu alcançasse o Reino dos céus e o Shabbãth (o grande

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37 Asseverou-lhe Jesus: 

“Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o

teu coração, de toda a tua alma e comtoda a tua inteligência.10

38 Este é o primeiro e maior dos manda-mentos.

39 O segundo, semelhante a este, é:‘Amarás o teu próximo como a timesmo’.

40 A estes dois mandamentos estão sujei-tos toda a Lei e os Profetas”.

 Jesus é o Senhor de Davi(Mc 12.35-37; Lc 20.41-44)41  Estando reunidos os fariseus, Jesus

lhes indagou:42 “Qual a vossa opinião acerca do Mes-sias? De quem Ele é lho?”. Ao que eleslhe armaram: “É lho de Davi”.43 Contestou-lhes Jesus: “Então, como seexplica que Davi, falando pelo Espírito, otrata de ‘Senhor’? Pois ele arma:44 ‘O Senhor disse ao meu Senhor: Assen-ta-te à minha direita, até que Eu ponhaos teus inimigos debaixo dos teus pés’.45  Considerando que Davi o chama‘Senhor’, como pode ser Ele seu lho?”.11

46 E ninguém foi capaz de oferecer-lheuma só palavra em resposta à questão;

tampouco ousou alguém mais, a partirdaquele dia, dirigir-lhe qualquer outrapergunta.

Os doutores da Lei falam, mas não agem(Mc 12.38-40; Lc 11.37-52; 20.45-47)

23 Então, Jesus pregou às multidõese aos seus discípulos:

2 “Os escribas e os fariseus se assentamna cadeira de Moisés.1

3  Fazei e obedecei, portanto, a tudoquanto eles vos disserem. Contudo, nãofaçais o que eles fazem, porquanto não

praticam o que ensinam.4 Eles atam fardos pesados e os colocamsobre os ombros dos homens. No entan-to, eles próprios não se dispõem a levan-tar um só dedo para movê-los.5  Tudo o que realizam tem como alvoserem observados pelas pessoas. Por isso,fazem seus lactérios bem largos e asfranjas de suas vestes mais longas.2

6 Amam o lugar de honra nos banquetese os primeiros assentos nas sinagogas.7  Gostam de ser cumprimentados nas

Sábado, ou o descanso eterno). Eles haviam interpretado e abstraído do AT um total de 248 preceitos afirmativos. E mais 365negativos, que acreditavam ser da vontade de Deus, pois o número coincidia com o número de dias do ano. Além disso, o totaldesses mandamentos: 613, era o mesmo que o número de letras contidas no Decálogo.

10 Jesus mais uma vez aproveita a oportunidade para mostrar àqueles líderes religiosos e a seus muitos discípulos ao redor, res-ponsáveis pela continuação do ensino das Escri turas ao povo, que a mentalidade divina e o modo espiritual de raciocinar dife-r iam emmuito da limitada e egoísta dialética humana. Jesus então cita Dt 6.5, uma parte do Shema, orações e reflexões diárias dos judeus. NaSeptuaginta (o AT em grego) a palavra aqui traduzida por “inteligência” é, literalmente, “mente” (Mc 12.30). O verbo grego traduzidoaqui por “amarás” não é phileõ, como em algumas versões, que significa uma afeição entre amigos; mas, sim, o verbo  agapaõ: umaobrigação de dedicação absoluta a alguém, determinada pela vontade (Mq 6.8; Am 5.4; Is 33.15; Hc 2.4). Jesus foi o primeiro líderespiritual judeu a combinar os dois mandamentos de amor, para formar o mais sintético resumo da Lei (Lv 19.18), revelando aosfariseus, e a todos nós, que não são os muitos regulamentos e leis que tornam uma pessoa santa; mas, sim, seu genuíno e sinceroamor a Deus e a seu próximo mais achegado (familiares), e a seus próximos e vizinhos (comunidade, sociedade).

11 Finalmente, é Jesus quem questiona. Os fariseus eram profundos estudiosos sobre o Messias e sua vinda, como Libertador

de Israel. Entretanto, há séculos interpretavam erroneamente a pessoa e a obra do Messias. Imaginavam um rei, pleno de poderesdivinos, que viria como guerreiro invencível, para libertar Israel do império gentio e conceder saúde, paz e riqueza ao povo judeu.Conheciam o Messias como Filho de Davi, mas não como o Senhor de Davi (Sl 110.1), tampouco seu domínio espiritual emamor e humildade (Lc 20.42-44). Jesus desejava que os seus compreendessem que ele era o Messias prometido: o descendentehumano de Davi e o seu divino Senhor.

Capítulo 231 Os escribas, doutores e mestres da Lei, bem como os fariseus, partido político religioso que defendia a observância literal

da Torah (Lei) e mais uma série de ordenanças e preceitos por eles criados para situações não diretamente cobertas pela Torah.Convencidos de que possuíam a correta interpretação da vontade de Deus, afirmavam que a tradição dos anciãos, a lei oral (tôrâ

 shebe‘al peh) vinha de Moisés e desde o monte Sinai. Fariseus e escribas eram, portanto, os sucessores autorizados da tradiçãode Moisés como mestres da Lei.

2 Os filactérios ou tefilins eram pequenos rolos ou caixinhas de couro que os judeus religiosos usavam presos à testa, pertodo coração, e no braço esquerdo. Essas pequenas cápsulas continham quatro passagens da Torah: Êx 13.1-10 e 11-16; Dt6.4-9 e 11.13-21. Com o passar do tempo, os judeus começaram a respeitar e honrar esses pequenos recipientes, tanto quanto

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praças e de serem, pelas pessoas, chama-dos: ‘Rabi, Rabi!’.3

8

Vós, todavia, não sereis tratados de‘Rabis’; pois um só é vosso Mestre, e vóstodos sois irmãos.9 E a ninguém sobre a terra tratai de vos-so Pai; porquanto só um é o vosso Pai,aquele que está nos céus.10 Também não sereis chamados de líde-res, pois um só é o vosso Líder, o Cristo. 4 

11 Porém o maior dentre vós seja vossoservo.12 Portanto, todo aquele que a si mesmo seexaltar será humilhado, e todo aquele quea si mesmo se humilhar será exaltado.13 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus,hipócritas! Porque fechais o reino doscéus diante dos homens. Porquanto vósmesmos não entrais, nem tampouco dei-xais entrar os que estão a caminho!5 

14 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus,hipócritas! Porque devorais as casas dasviúvas e, para disfarçar, encenais longasorações. E, por isso, recebereis castigoainda mais severo!15 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus,hipócritas! Porque viajais por mares e

terras para fazer de alguém um prosé-lito. No entanto, uma vez convertido, o

tornais duas vezes mais lho do infernodo que vós!16 Ai de vós, guias cegos! Porque ensinais:‘Se uma pessoa jurar pelo santuário, issonão tem signicado; porém, se alguém

 jurar pelo ouro do santuário, ca obriga-do a cumprir o que prometeu’.17 Tolos e cegos! Pois o que é mais impor-tante: o ouro ou o santuário que santicao ouro?18 E mais, dizeis: ‘Se uma pessoa jurar peloaltar, isso nada signica; mas, se alguém

  jurar pela oferta que está sobre ele, ca,

assim, comprometido ao seu juramento’.19 Embotados! O que é mais importante:a oferta, ou o altar que santica a oferta?20 Portanto, a pessoa que jurar em nomedo altar, jura pelo altar e por tudo o queestá sobre ele.21 E quem jurar pelo santuário, jura pelosantuário e em nome daquele que nelehabita.22 E aquele que jurar pelos céus, jura pelotrono de Deus e em nome daquele quenele está assentado.6

as Escrituras, e seu tamanho era considerado um sinal de zelo espiritual de quem os ostentava. Os fariseus acreditavam que opróprio Deus usava filactérios. Por isso, eram considerados como amuletos de boa sorte e proteção contra o mal. As “franjas”eram as borlas descritas em Nm 15.37-41 que todo judeu deveria usar. Jesus também as usava nas quatro pontas de seu manto(em Mt 9.20 são chamadas de “orla”), essas borlas eram um tipo de madeixas de lã, branca e azul, e tinham a singela funçãode declarar o amor de quem as usava a Yahweh (o Senhor) e a vontade do seu coração de cumprir a Torah (ou Torá, a Lei) damaneira mais fiel possível. As borlas tinham o tamanho médio de até 10 cm; entretanto, os fariseus as alongavam muito mais emsinal de maior espiritualidade. O que Deus criou para ser apenas um lembrete de fé e marca de devoção, tornou-se objeto deadoração e ostentação (fetiche).

3 Os mestres da Lei e os fariseus gostavam de ocupar os melhores e mais importantes assentos na sinagoga, aqueles que ficamdefronte à representação da arca e que continha os rolos das Escrituras Sagradas. Além disso, os que se assentavam ali podiamser facilmente vistos por toda a congregação. Eles também apreciavam muito ouvir as pessoas os chamarem, insistentemente,aos gritos e em público (nas praças do mercado) de Rabbei (em grego), que significa literalmente em hebraico: “meu professor,

meu mestre!” 4 A expressão “pai” ou “padre” (em hebraico ’abh) não deve ser usada como título de qualquer autoridade religiosa. Jesus faz umaséria advertência quanto à busca desenfreada por reconhecimento e prestígio, coisas que alimentam a soberba humana. Entretanto,devemos ter cautela com possíveis aplicações de literalismo insensato dessas passagens. Jesus está ensinando princípios de vidaespiritual a quem só conseguia enxergar regras exatas de comportamento religioso. Os cristãos, líderes (em grego  kathegetai, guiasou dirigentes) ou não, devem ser conhecidos por um espírito e atitudes diaconais (em grego diakonos, servo).

5 “Ai” é uma expressão de profunda tristeza e indignação da parte de Deus, expressa através dos lábios do seu Filho contraa falsidade (hipocrisia) dos maiores conhecedores das Sagradas Escrituras da época e líderes religiosos dos judeus, o povo doCristo (Messias). Essa atitude apenas legalista, arrogante, soberba e desprovida de sincero amor a Deus e às pessoas, fazia que os“prosélitos” (pagãos e gentios que se convertiam ao judaísmo) se tornassem ainda piores que seus mestres e não tivessem verda-deira comunhão com Deus, o Pai (em aramaico: abba). Esses líderes religiosos e juízes de direito, eram tão dissimulados que chega-vam a usar suas posições como juristas para processar viúvas ricas ou para fazer que elas lhes legassem suas propriedades.

6 Com relação aos juramentos, Jesus argumenta com os mestres fariseus, com seus próprios pressupostos em relação à Lei,para lhes revelar o verdadeiro espírito da Lei e a vontade de Deus (5.33-37).

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23 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus,hipócritas! Porque dais o dízimo da hor-

telã, do endro e do cominho, mas tendesdescuidado dos preceitos mais impor-tantes da Lei: a justiça, a misericórdia ea fé. Deveis, sim, praticar estes preceitos,sem omitir aqueles!7 

24 Líderes insensíveis! Pois coais o peque-no mosquito, mas engolis um camelo!8

25 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus,hipócritas! Porque limpais o exterior docopo e do prato, mas por dentro, estesestão repletos de avareza e cobiça.26 Fariseu que não enxerga! Limpa, an-tes de tudo, o interior do copo e do pra-

to, para que da mesma forma, o exteriorque limpo!27 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus,hipócritas! Porque sois parecidos aostúmulos caiados: com bela aparênciapor fora, mas por dentro estão cheiosde ossos de mortos e toda espécie deimundície!928  Assim também sois vós: exterior-mente pareceis justos ao povo, masvosso interior está repleto de falsidadee perversidade.29 Ai de vós, doutores da Lei e fariseus,hipócritas! Porque construís os sepul-cros dos profetas, adornais os túmulosdos justos.

30  E declarais: ‘Se tivéssemos vivido naépoca dos nossos antepassados, não tería-

mos tomado parte com eles no assassina-to dos profetas!’31 Dessa forma, porém, testemunhaiscontra vós mesmos que sois lhos dosque mataram os profetas.32  Acabai, pois, de encher a medida dopecado de vossos pais!33 Cobras venenosas, ninho de víboras!Como escapareis da condenação doinferno?34 Por isso, eis que Eu vos envio profe-tas, sábios e mestres. A uns assassinareise crucicareis; a outros açoitareis nas

vossas sinagogas e perseguireis de cida-de em cidade.35 E, dessa maneira, sobre vós recairá todoo sangue justo derramado na terra, desdeo sangue do justo Abel, até o sangue deZacarias, lho de Baraquias, a quem ma-tastes entre o santuário e o altar.10 36 Com toda a certeza vos asseguro, quetudo isso ocorrerá a esta geração”.

O lamento sobre Jerusalém (Lc 13.34-35) 37 “Ó Jerusalém, Jerusalém, que assassi-nas os profetas e apedrejas os que te sãoenviados! Quantas vezes Eu quis reuniros teus lhos, como a galinha acolhe os

7  Oferecer ao Senhor a décima parte (o dízimo) de diversas ervas era uma prática religiosa baseada em Lv 27.30. Emborao dízimo dos grãos, frutos, vinho e azeite fosse o exigido, dos judeus, pela Lei (Nm 18.12; Dt 14.22-23), os escribas e fariseushaviam ampliado a lista dos itens especificados na Lei, para incluir o dízimo das menores e mais simples hortaliças. A hortelãera usada como tempero e para adornar o chão das casas e sinagogas. O endro era usado como medicamento e para perfumarambientes. O cominho, que são as sementes de erva-doce, tinha vários usos culinários. Entretanto, o valor comercial dessaservas era mínimo; mas os fariseus desejavam mostrar ao povo um zelo religioso que, na verdade, não fazia parte de suas vidascom Deus e com seus próximos.

8 Os escribas e fariseus coavam com muito cuidado toda água que bebiam através de um pano branco, bem tecido, para tercerteza de não engolir nenhum pequeno mosquito; considerado pelos religiosos como o menor ser vivo impuro. Entretanto,figuradamente, engoliam um camelo inteiro, um dos maiores animais impuros para os judeus, ao praticarem uma série de fraudes,atrocidades e pecados.

9 Por ocasião da celebração da Páscoa, época em que os peregrinos de várias partes da Palestina iam a Jerusalém, e momentono qual Jesus está falando, era costume pintar, várias vezes, toda a parte exterior dos sepulcros (túmulos) com cal. Isso para queos túmulos pudessem ser vistos inclusive à noite, uma vez que, pela Lei, se alguém pisasse sobre um túmulo ou área de sepulturatornava-se instantaneamente impuro (Nm 19.16). Por isso, todos pareciam iguais, limpos, belos e puros; mas em seu interior jaziaa morte, o mau cheiro e a podridão.

10 Os líderes religiosos judaicos no tempo de Jesus estavam acrescentando pecados sobre pecados à longa lista de seus pais(antepassados) históricos. Jesus também seria um dos profetas martirizados. Seus apóstolos não seriam igualmente aceitos(10.17,23). E Jesus resume a história dos martírios no AT citando o assassinato de Abel (Gn 4.8; Hb 11.4) e o martírio do profetaZacarias registrado no livro de Crônicas. Na Bíblia Hebraica, o último livro do AT (2Cr 24.20-22).

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seus pintinhos debaixo das suas asas, masvós não o aceitastes!11

38

Eis que a vossa casa cará abandona-da!12

39 Pois eu vos declaro que, a partir deagora, de modo algum me vereis,até que venhais a dizer: ‘Bendito é o quevem em o Nome do Senhor!’”13

  Jesus prediz o nal dos tempos(Mc 13.1-2; Lc 21.5-6)

24 Então, Jesus saiu do templo e, aocaminhar, seus discípulos chega-

ram mais perto dele para lhe apontar asconstruções do templo.

2 Ele, entretanto, lhes observou: “Estaisvendo todas estas coisas? Com toda acerteza Eu vos armo que não cará aquipedra sobre pedra, pois que serão todasderrubadas”.1

O princípio das dores(Mc 13.3-13; Lc 21.7-19)3 Tendo Jesus se assentado no monte dasOliveiras, os discípulos chegaram até Eleem particular e lhe pediram: “Dize-nos

11 O próprio Jesus reconhece que os seus próprios irmãos não o receberam. Deus tem feito tudo para seu povo, mas a rejeiçãode Israel ilustra o coração empedernido da raça humana, em relação ao seu Criador (Jo 1.11).

12 Jesus faz referência a 1Rs 9.7-8; Jr 12.7, 22.5 e adverte seu povo. No ano 70 d.C. toda a nação de Israel e, em especial, acidade de Jerusalém, foram assoladas e profanadas pelos exércitos pagãos de Roma.

13 Jesus se despede de Jerusalém e do seu povo, declarando que não os ensinaria mais em público até sua volta em glóriano final dos tempos, quando Israel o receberá como o Messias que fora rejeitado (Zc 12.10). De agora em diante a salvação dos

 judeus, como de qualquer outra pessoa sobre a face da terra, do mais alto líder religioso ou político ao mais simples ser humano,só tem uma única possibilidade: a confissão do Senhor Jesus Cristo, como Salvador, Senhor e Filho de Deus (21.9, Sl 118.26).

Capítulo 241 O primeiro Templo foi idealizado por Davi (2Sm 7.2; 1Cr 22.8,3; 2Sm 24.18-25). Entretanto, coube a Salomão (em hebraico

transliterado  shelômõh, homem de paz), seu filho com Bate-Seba (2Sm 12.24), a honra da sua construção, que teve início noquarto ano do seu reinado e foi concluída sete anos mais tarde. Mas o filho de Salomão, Reoboão, não deu a mesma atenção aoTemplo e sucessivas pilhagens ocorreram desde Sisaque, do Egito (1Rs 14.26), até a invasão de Nabucodonosor em 587 a.C.(2Rs 25.9,13-17). Mesmo depois de sua destruição, alguns fiéis ainda iam oferecer sacrifícios entre suas ruínas (Jr 41.5). Hoje

em dia não há qualquer estrutura do antigo Templo de Salomão acima do nível do chão. Porém, curiosamente, sobre os seusescombros foi construída a mesquita mulçumana, conhecida como “Cúpula da Rocha”, destaque na maioria dos cartões postaisde Israel (2Cr 3.1; 2Sm 24.24). O segundo Templo foi erguido por ocasião do retorno dos exilados da Babilônia, cerca de 537 a.C,conforme autorização e ajuda de Ciro, rei da Pérsia, e do ministério de Neemias e Esdras (Nm 2.11-20). Toda a área teve de serlimpa do entulho do primeiro Templo destruído (Ed 1; 3.2-10). A arca havia desaparecido no tempo do exílio e jamais foi encontra-da. No lugar do candelabro de Salomão, com dez lâmpadas, foi colocado um novo, com sete hastes, juntamente com uma mesade ouro para os pães da proposição e o altar do incenso. Esses e outros objetos sagrados foram tomados como despojos pelorei da Síria, Antíoco IV Epifânio (entre 175 e 163 a.C.), o qual colocou um altar e uma estátua pagã no lugar santo, no dia 15 dedezembro de 167 a.C. Os macabeus venceram os sírios e purificaram o Templo (1Macabeus 1.54; 4.35-59), substituindo todos osseus móveis e transformando o Templo numa fortaleza que lhes permitiu resistir durante três meses ao cerco de Pompeu (63 a.C.)quando foi, então, destruído (os livros dos Macabeus, com alguns outros, não são considerados canônicos, por isso não fazemparte da maioria das Bíblias evangélicas em língua portuguesa, entretanto, muitos de seus relatos históricos são dignos de crédi-to). A terceira construção, chamada de Templo de Herodes, começou no ano 19 a.C., mas seu motivo principal não foi glorificara Deus, e, sim, reconciliar os judeus com o seu rei gentio (idumeu). Mesmo assim, o rei teve grande cuidado com a reverênciaao Templo, convocou mil sacerdotes que foram treinados como pedreiros para conduzir a edificação do santuário, e procuraram

construir uma cópia do Templo de Salomão. Em uma área com mais de 144.000 m2

, ergueu-se uma magnífica estrutura depedras creme, adornadas de ouro. Um muro feito com blocos de pedras com 60 cm de largura por até 5 metros de comprimentocircundava o Templo. Contudo, alguns anos após o término da construção, exatamente 40 anos depois da profecia de Jesus,durante as celebrações da Páscoa judaica, as tropas do comandante romano Tito tomaram posição de combate, às portas deJerusalém. A cidade estava em festa e repleta de judeus de todas as partes. Os dois mais poderosos partidos judaicos, que deve-riam estar atentos à defesa da cidade contra Roma, achavam-se em violenta guerra interna, a ponto de incendiarem os estoquesde alimentos um do outro. Somente quando os enormes aríetes dos romanos arrebentaram o primeiro portão de Jerusalém foique os políticos decidiram se unir contra o invasor. Tarde demais. Tito incendiou tudo, e até as pedras foram separadas paracolher o ouro derretido que se infiltrara nas junções. O comandante romano deixou apenas um resto da muralha, como símbolodo aniquilamento de Israel, conhecido em nossos dias como ‘Muro das Lamentações’. Mais de um milhão de judeus morreramnaquela época. Todas as estradas que passavam por Jerusalém estavam tomadas por judeus crucificados. Os sobreviventes fo-ram vendidos ou negociados como escravos. Israel desapareceu como nação e os judeus foram espalhados pelo mundo inteiro,sob a maior humilhação já sofrida por um povo até nossos dias. Em homenagem à marcha triunfal de Tito, foi construído o arcodo triunfo, o “Arco de Tito”. Esse monumento persiste em Roma até hoje e mostra, em seus trabalhos de escultura, cenas das

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quando ocorrerão estas coisas?2 E qualserá o sinal da tua vinda e do nal dos

tempos?”.4 Então Jesus lhes revelou: “Cuidado, queninguém vos seduza.5 Pois muitos são os que virão em meunome, proclamando: ‘Eu sou o Cristo!’, edesencaminharão muitas pessoas.6 E vós ouvireis falar de guerras e rumo-res de guerras, todavia não vos deses-pereis, porque é preciso que tais coisasocorram, mas ainda não será o m.7 Porquanto, nação se levantará contranação, e reino contra reino. Haverá fo-mes e terremotos em vários lugares.8 Contudo, esses acontecimentos serão ape-nas como as primeiras dores de um parto.9 Então eles vos entregarão para seremaigidos e condenados à morte. E sereisodiados por todas as nações por seremmeus seguidores.10 Nessa época, muitos carão escandali-zados, trairão uns aos outros e se odiarão

mutuamente.11 Então, numerosos falsos profetas sur-

girão e enganarão a muitos.12 E, por causa da multiplicação da mal-dade, o amor da maioria das pessoas seesfriará.13  Aquele, porém, que continuar rmeaté o nal será salvo.14 E este evangelho do Reino será pre-gado em todo o mundo habitado, comotestemunho a todas as nações, e entãochegará o m.

 A grande tribulação(Mc 13.14-23; Lc 21.7-19)

15 E, assim, quando virdes a profanaçãohorrível da qual falou o profeta Daniel, noLugar Santo (ao ler o profeta entendereisisso),3

16 então, os que estiverem na Judéia fu- jam para os montes. 417 Quem estiver sobre o telhado de sua casa,não desça para retirar dela coisa alguma.

legiões romanas carregando os objetos sagrados e valiosos do Templo, e os mais valorosos guerreiros judeus algemados. Titoprofanou o Templo, entrando no santo lugar, despojando todo o tesouro e utensílios preciosos, tais como o grande candelabro

de ouro maciço, uma réplica dourada da arca com os preciosos rolos sagrados da Lei, a mesa de ouro e muitos outros objetospreciosos. Finalmente, o imperador Vespasiano, pai de Tito, declarou toda a nação de Israel como sua propriedade particular edoou grandes propriedades a seus amigos e colaboradores, entre eles o conhecido historiador judeu e fariseu, Flávio Josefo, cujocarisma e poder intelectual haviam conquistado a amizade do rei e a cidadania romana.

2 Jesus se retira do Templo e sobe com os discípulos em direção ao monte das Oliveiras - uma cordilheira, a leste de Jerusalém,do outro lado do vale Cedrom, com quase dois quilômetros de extensão e cerca de 70 metros acima do nível da cidade (Mc11.1). De agora em diante, nunca mais entrará no Templo. Tudo é parte da grande visão profética de Ezequiel, que viu a glória doSenhor abandonar a cidade de Jerusalém e o Templo, mais precisamente em direção ao monte das Oliveiras (Ez 8.4-6). Naquelemomento estava se cumprindo a Palavra do Senhor que veio a Ezequiel em 592 a.C. Ao chegar ao alto do monte, Jesus lançaum último olhar sobre a cidade amada que o rejeitou. Ao pôr-do-sol, senta-se com seus discípulos e ficam observando a noitechegar sobre o Templo e o povo de Jerusalém. Jesus não revela quando sucederão essas coisas, mas responde, em forma deprofecia, às demais questões: O fim dos tempos entre os versículos 4-14; a destruição de Jerusalém entre 15-22 (Lc 21.20), e oglorioso retorno de Jesus Cristo entre 23-31.

3   A expressão grega, aqui transliterada por   bdelugma tes eremoses vem do hebraico  shiqquçe shõmem e significa: “aprofanação horrível”, “o sacrilégio terrível”, ou ainda, como em versões antigas: “o abominável da desolação”. Essas são formas

de traduzir o significado literal da frase original: “a coisa abominável que causa horror e repulsa” (Dn 9.27; 11.31; 12.11). Jesusressalta que os leitores do livro escrito pelo profeta Daniel poderão compreender melhor o que ele está dizendo. Jesus fazreferência a um tipo de idolatria tão perversa e antagônica a todos quantos crêem no Pai de Cristo, como ocorreu no ano 168 a.C.,quando o rei Antíoco Epifânio erigiu um altar a Zeus no lugar do altar de Jeová (em hebraico transliterado por Yahweh –1Macabeus 1.54-59; 6.7; 2Macabeus 6.1-5). Assim também aconteceu no ano 70 d.C., quando os romanos ofereceram sacrifíciospagãos em Jerusalém, no lugar sagrado, ao proclamar Tito imperador supremo (2Ts 2.4; Ap 13.14-15). A história registra quemuitos cristãos e judeus, pouco antes do ano 70 d.C., lembraram-se das palavras de Jesus, cumpriram à risca as orientaçõesproféticas e tiveram suas vidas salvas daquelas catástrofes e perseguições. O Grande Retorno de Jesus, em glória, marca o finalda ordem mundana, na qual vivemos. Porém, antes disso, surgirão muitos enganadores, falsos messias (cristos), o tema guerrae terrorismo dominará a mídia mundial, tribulações, terremotos, vulcões, tempestades, alterações na atmosfera, no clima, falsosprofetas por toda parte, multiplicação da iniqüidade (maldade) e da arrogância cientifica, lascívia, bestialidades, esfriamento doamor e das virtudes morais e éticas. Todos esses são apenas sinais que criam o ambiente para a manifestação do maior dossinais: a pregação do Evangelho até os confins da terra (28.18-20). Então virá o fim.

 4 A história registra que muitos cristãos, pouco antes do ano 70 d.C., fugiram de Jerusalém e se refugiaram nas montanhas

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18 E aquele que estiver no campo, nãovolte para pegar sua túnica.19

  Serão dias terríveis para as mulheresgrávidas e para as que estiverem ama-mentando.20 E orai para que a vossa fuga não ocorradurante o inverno nem no sábado.5

21 Porquanto haverá nessa época grandetribulação, como jamais aconteceu desdeo início do mundo até agora, nem nuncamais haverá.6

22  E, se aqueles dias não tivessem sidoabreviados, nenhuma carne seria salva.Mas, por causa dos eleitos, aquele temposerá encurtado.7 

23 Então, se alguém vos anunciar: ‘Vede,aqui está o Cristo!’ ou ‘Ei-lo ali!’ Nãoacrediteis.24 Pois se levantarão falsos cristos e falsosprofetas e apresentarão grandes milagrese prodígios para, se possível, iludir atémesmo os eleitos.8 

25 Vede que Eu o preanunciei a vós!26 Portanto, se vos disserem: ‘Eis que Eleestá no deserto!’- não saiais. Ou ainda:‘Ele está ali mesmo, nos cômodos deuma casa!’- não acrediteis.27 Pois, da mesma maneira como o re-lâmpago parte do oriente e brilha até noocidente, assim também se dará a vindado Filho do homem.9

28 Onde houver um cadáver, aí se reuni-rão os abutres.

O retorno de Cristo em glória(Mc 13.24-27; Lc 21.25-28)29 Imediatamente após o tormento da-queles dias, o sol escurecerá e a lua nãodará a sua luz; e as estrelas cairão do céu,e os poderes celestes serão estremecidos.30 Então surgirá no céu o sinal do Filhodo homem, e todos os povos da terraprantearão e verão o Filho do homemchegando nas nuvens do céu com podere majestosa glória.10

31 Ele enviará os seus anjos, com podero-

so som de trombeta, e estes reunirão osseus eleitos dos quatro ventos, de uma aoutra extremidade dos céus.

 A lição da gueira: o Dia do Senhor (Mc 13.28-37; Lc 21.29-36)32 Portanto, aprendei com a parábola dagueira: quando, pois, os seus ramos serenovam e suas folhas começam a brotar,sabeis que está próximo o verão.33 Da mesma forma vós: quando virdestodos esses acontecimentos, sabei queEle está muito próximo, às portas.11

34 Com toda a certeza Eu vos armo, quenão passará esta geração até que todosesses eventos se realizem.

da Transjordânia, onde se localizavam as terras de Pella. Fuga semelhante haverá num período futuro de tribulação conhecidocomo a 70a Semana de Daniel (Dn 9.27). Entretanto, aquelas pessoas que verdadeiramente crêem no Senhor (os salvos, a Igreja),serão arrebatadas da terra no exato momento em que Cristo cruzar a atmosfera da terra. Os cristãos não precisarão fugir, apenasdevem perseverar até o Dia do Senhor.

5 Gestantes, idosos e pessoas com deficiência física terão maior dificuldade naqueles dias de tribulação e perseguição. Mateus,como escreve principalmente aos judeus, observa os detalhes do inverno e do sábado, dia em que os judeus somente podiamcaminhar 800 metros.

6 O historiador judeu-romano Flávio Josefo foi testemunha ocular desta terrível tribulação e narra o episódio com palavras pareci-das às de Jesus. Entretanto, aquela grande tribulação foi apenas mais um sinal da maior das tribulações ainda por vir (Dn 12.1).

7 Este último e terrível tempo de aflição será abreviado em relação ao que já havia sido pré-determinado nas profecias (comoa 70a Semana de Daniel – Dn 9.27, ou os 42 meses mencionados em Ap 11.2; 13.5). Os eleitos são o povo de Deus em todo omundo, a Igreja de Jesus Cristo.

8 Compare esta descrição com a pessoa do anticristo revelada em 2Ts 2.9-10.9 Que ninguém se iluda. A segunda e definitiva volta de Jesus Cristo será um evento portentoso. Em segundos, a glória e o

brilho da sua presença varrerão o planeta, e os salvos (sua Igreja) serão arrebatados, sumindo instantaneamente de toda a terra.(27, 31, 1Co 15.12; 1Ts 4.16,17). Jesus cita um antigo provérbio para explicar que seu glorioso retorno será tão certo quanto o es-voaçar dos urubus (abutres: aves falconiformes e vulturídeas comuns no Oriente e Europa) sobre um cadáver. Ou seja, o mundoestá moribundo e os urubus já sobrevoam aqueles que morrerão e lhes servirão de banquete (Lc 17.37).

10 Fenômenos cósmicos acompanharão a volta triunfal do Filho do homem (Mc 8.31, Ap 1.7). O brilho, como um relâmpago,que o mundo inteiro verá, é a Shekinah: a glória do Senhor (Is 13.10; 24.21-23; 34.4; Ez 32.7-8; Jl 2.10,31; 3.15; Am 8.9, 2Ts1.6-10; Ap 19.11-16).

11 No Oriente as figueiras anunciam o início do verão, quando renovam seus ramos e novas folhas brotam. Esse evento é tãocerto e esperado quanto o será a volta de Cristo, e por isso todos os cristãos devem estar preparados para não serem apanhados

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35 O céu e a terra passarão, mas as minhaspalavras jamais passarão.

Só Deus sabe o dia e a hora exatos(Mc 13.32-37)36  Entretanto, a respeito daquele dia ehora ninguém sabe, nem os anjos doscéus, nem o Filho, senão exclusivamenteo Pai.1237 Como aconteceu nos dias de Noé,assim também se dará por ocasião dachegada do Filho do homem.38 Porque nos dias que antecederam aoDilúvio, o povo levava a vida comendoe bebendo, casando-se e oferecendo-se

em matrimônio, até o dia em que Noéentrou na arca,39 e as pessoas nem notaram, até quechegou o Dilúvio e levou a todos. Assimocorrerá na vinda do Filho do homem.40 Dois homens estarão na lavoura: umserá arrebatado, mas o outro deixado.41 Duas mulheres estarão trabalhandonum moinho: uma será arrebatada, aoutra cará pra trás.42 Por isso, vigiai, porquanto não sabeisem que dia virá o vosso Senhor.13

43 Contudo, entendei isto: se o proprie-tário de uma casa soubesse a que horaviria o ladrão, se colocaria em sentinelae não permitiria que a sua residênciafosse violada.

44 Portanto, cai igualmente vós alertas; pois o Filho do homem virá no momento

em que menos esperais.14 

O destino do bom e do mau servo(Lc 12.42-46)45 Sendo assim, quem é o servo el esábio, a quem o senhor conou os desua casa para dar-lhes alimento no seudevido tempo?46 Feliz aquele servo a quem o seu senhor,quando voltar, o encontrar agindo dessamaneira.47 Com certeza vos armo que o senhorconará a seu servo todos os seus bens.48 Entretanto, supondo que esse servo,sendo mau, diga a si mesmo: ‘Meu se-nhor está demorando muito’,49 e, por isso, passe a agredir os seusconservos e a comer e beber com be- berrões.50 O senhor daquele servo virá num diainesperado e numa hora que o servodesconhece.51 E o senhor o punirá com toda a seve-ridade e lhe dará um lugar ao lado doshipócritas, onde haverá grande lamentoe ranger de dentes.15 

 As virgens sábias e as tolas

25 Portanto, o Reino dos céus serásemelhante a dez virgens que pe-

de surpresa, como acontecerá com o mundo descrente. Jesus ainda afirma que a geração que presenciar o início dos sinaistambém verá sua volta triunfal. A expressão “geração” (em grego antigo genea), também podia significar “raça” ou “família” e, porcerto, Jesus fez referência à profecia de que o povo judeu não seria exterminado da terra por mais que seus muitos inimigos, emtodas as épocas, tenham se empenhado nesse objetivo (Mc 13.30; Lc 21.32). As palavras de Jesus são todas mais verdadeirase duradouras que o Universo.

12 O Dia do Senhor é uma expressão que se refere ao AT como o dia em que Jesus voltará em glória para levar seu povo (aIgreja) para a Nova Jerusalém (Am 8.3,9,13; 9.11; Mq 4.6; 5.10; 7.11). Mas o dia exato desse evento a ninguém foi revelado, e

Jesus, enquanto esteve na ter ra, também não pretendeu saber, pois decidiu em tudo obedecer ao Pai e viver pela fé como todoser humano deveria.

13 Jesus dedica seis parábolas para enfatizar a extrema necessidade da vigilância, enquanto estamos vivos na terra e ele nãoretorna: O porteiro (Mc 13.35-37). O pai de família (Mt 24.43-44). O servo fiel (24.45-51). As dez virgens (25.1-13). Os talentos(25.14-30). As ovelhas e os bodes (25.31-46). A vida passa, e passa muito rápido. É preciso estar com a consciênc ia tranqüila deque amamos ao Senhor e buscamos praticar sua vontade em todas as áreas de nossa vida íntima e relacional.

14 Jesus nos adverte de que perto da sua volta, o mundo estará descrente, religioso talvez, mas sem a convicção da salvaçãonem da militância evangélica. O poder do sistema mundial forçará muitos religiosos a se afastarem de Deus e de sua Palavra.Intérpretes de um “evangelho” que não é o de Cristo conduzirão milhões de pessoas à perdição. Até os cristãos fiéis correrão orisco de ser enganados por um estilo de vida massificado pelo sistema (globalização do pensamento humanista, cético e hedonis-ta) e serão apanhados de surpresa pela iminente volta do Senhor. Não é sábio tentar calcular a data do retorno de Jesus. É maiserrôneo, porém, negligenciar esse evento fatal. A expectativa da volta de Cristo confere senso de urgência e dinâmica à missãoevangélica em toda a terra. A parábola do “bom e mau servos” ensina como o filho de Deus deve viver sua vida cristã (45-51).

15 O contexto revela que “hipócrita” é aquele cuja vida prática não corresponde à sua alegada fidelidade a Cristo. A expressão

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garam suas candeias e saíram para encon-trar-se com o noivo.1

2

Cinco delas eram sábias, mas outrascinco eram inconseqüentes.3 As que eram inconseqüentes, ao pega-rem suas candeias, não levaram óleo dereserva consigo.4 Entretanto, as prudentes, levaram óleoem vasilhas, junto com suas candeias.2

5 O noivo demorou a chegar, e todas ca-ram com sono e adormeceram.6  À meia-noite, ouviu-se um grito: ‘Eisque vem o noivo! Saí ao seu encontro!’7 Então, todas as virgens acordaram eforam preparar suas candeias.3 8 As insensatas recorreram às sábias: ‘Dai-nos um pouco do vosso azeite, porque asnossas candeias estão se apagando’.9 Porém as sábias responderam: ‘Não po-demos, pois assim faltará tanto para nósquanto para vós outras! Ide, portanto,aos que o vendem e comprai-o’.10 Mas, saindo elas para comprar, chegouo noivo. As virgens que estavam prepara-das entraram com ele para o banquete denúpcias. E a porta foi fechada.11 Mais tarde, todavia, chegaram as vir-gens imprudentes e clamaram: ‘Senhor!Senhor! Abre a porta para nós!’

12 Contudo ele lhes respondeu: ‘Comcerteza vos armo que não vos conheço’.13

Portanto, vigiai, pois não sabeis o dia,tampouco a hora em que o Filho dohomem chegará. 4

O investimento dos talentos14 Digo também que o Reino será comoum senhor que, ao sair de viagem, con-vocou seus servos e conou-lhes os seusbens.15 A um deu cinco talentos, a outro, doise a outro, um talento; a cada um con-forme a sua capacidade pessoal. E, emseguida, partiu de viagem.5 

16 O que havia recebido cinco talentossaiu imediatamente, investiu-os, e ga-nhou mais cinco.17 Da mesma forma, o que recebera doistalentos ganhou outros dois.18 Entretanto, o que tinha recebido umtalento afastou-se, cavou um buraco naterra e escondeu o dinheiro que o seu se-nhor havia conado aos seus cuidados.19 Após um longo tempo, retornou o se-nhor daqueles servos e foi acertar contascom eles.20 Então, o servo que recebera cinco ta-lentos se aproximou do seu senhor e lhe

“ranger de dentes” só é usada em Mateus (8.12; 13.50; 22.13; 24.51; 25.30) e tem a ver com o profundo, doloroso e eterno arre-pendimento que os incrédulos e os falsos cristãos (hipócritas) sentirão a partir do Dia do Senhor.

Capítulo 251 Havia duas fases nos casamentos judaicos típicos da época de Cristo. Na primeira, o noivo ia à casa da noiva e participava da

cerimônia de entrega da noiva. Na outra fase, o noivo voltava e a levava para um grande banquete em sua casa. As virgens eramdamas-de-honra e tinham o dever cerimonial de preparar a noiva para o encontro com o noivo.

2 Essas candeias eram grandes tochas, capazes de permanecer acesas ao ar livre, feitas com longas varas, com traposenrolados numa das pontas, embebidos em azeite de oliva. Pequenas candeias de barro eram comumente usadas no interiordas residências.

3 Quando o azeite era consumido pelo fogo cortavam-se as pontas chamuscadas dos trapos e adicionava-se mais óleo paraum novo período médio de iluminação de 15 minutos.

 4 Essa parábola é continuação da mensagem de Jesus sobre a necessidade do cr istão estar sempre preparado e vigilante, poisa volta do Senhor é cer ta, repentina e iminente. Essa expectativa quanto ao glorioso retorno de Jesus confere ética, dinamismo esenso de urgência à evangelização e ao estilo de vida cristão. A mensagem de Cristo é também um forte apelo aos israelitas emtodo o mundo, para que coloquem sua esperança no Noivo Eterno: O Senhor Jesus. Ele é o Messias prometido. A parábola dasdez virgens, como é conhecido este trecho das Escrituras, não está ensinando que Cristo arrebatará os atentos e preparados es-piritualmente e deixará para trás “crentes” distraídos ou negligentes. Se cinco virgens ficaram sem óleo (o Espírito) é porque nun-ca creram verdadeiramente no Senhor, pois todo o que crê – recebe o Espírito Santo – e será salvo (24.13; Jo 1.12; Hb 3.13-14).

5 Um talento correspondia à cerca de 35 quilos de prata pura, o equivalente a 6.000 denários (o denário, como já vimos, era umamoeda de prata e valia um dia de trabalho de um soldado romano). Deus concede, aos cristãos, fé e capacidades espirituais para,em primeiro lugar, compreenderem a pessoa e a obra do Seu Filho Jesus, e, em seguida, para servirem no Reino: testemunhando,anunciando a Salvação e cooperando com o Corpo de Cristo, a Igreja. Curiosamente, o uso atual da expressão portuguesa“talento”, significando o conjunto de dons, capacidades e habilidades de uma pessoa, originou-se com base nessa parábola(Lc 19.13). Jesus não está ensinando que o julgamento das pessoas em geral e dos cristãos em particular tem algo a ver como esforço pessoal e o pleno uso dos dons e capacidades, pois o caminho da Salvação é bem diferente. O uso dos talentos é

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entregou mais cinco talentos, informan-do: ‘O senhor me conou cinco talentos;

eis aqui mais cinco talentos que ganhei’.21 Respondeu-lhe o senhor: ‘Muito bem,servo bom e el! Foste el no pouco,muito conarei em tuas mãos para ad-ministrar. Entra e participa da alegria doteu senhor!’.22 Assim também, aproximou-se o querecebera dois talentos e relatou: ‘Senhor,dois talentos me conaste; trago-lhemais dois talentos que ganhei’.23 O senhor lhe disse: ‘Muito bem, servobom e el! Foste el no pouco, muito con-arei em tuas mãos para administrar. En-

tra e participa da alegria do teu senhor!’.24 Chegando, nalmente, o que tinharecebido apenas um talento, explicou:‘Senhor, eu te conheço, sei que és um ho-mem severo, que colhe onde não plantoue ajunta onde não semeou.25 Por isso, tive receio e escondi no chãoo teu talento. Aqui está, toma de volta oque te pertence’.26 Sentenciou-lhe, porém, o senhor:‘Servo mau e negligente! Sabias que co-lho onde não plantei e ajunto onde nãosemeei?27 Então, por isso, ao menos devíeis terinvestido meu talento com os banquei-ros, para que quando eu retornasse, orecebesse de volta, mais os juros.6

28 Sendo assim, tirai dele o talento quelhe conei e dai-o ao servo que agora estácom dez talentos.29 Pois a quem tem, mais lhe será con-ado, e possuirá em abundância. Mas a

quem não tem, até o que tem lhe serátirado.30

Quanto ao servo inútil, lançai-o parafora, às trevas. Ali haverá muito pranto eranger de dentes’.7 

 

O juízo nal  31 Quando o Filho do homem vier emsua glória, com todos os anjos, então,se assentará em seu trono na glória noscéus.32 Todas as nações serão reunidas diantedele, e Ele irá separar umas das outras,como o pastor separa os bodes das ove-lhas.33 E posicionará as ovelhas à sua direita eos bodes à sua esquerda.34 Então, dirá o Rei a todos que estiveremà sua direita:‘Vinde, abençoados de meuPai! Recebei como herança o Reino, oqual vos foi preparado desde a fundaçãodo mundo.35 Pois tive fome, e me destes de comer,tive sede, e me destes de beber; fui es-trangeiro, e vós me acolhestes.36 Quando necessitei de roupas, vós mevestistes; estive enfermo, e vós me cui-dastes; estive preso, e fostes visitar-me’.37 Então, os justos desejarão saber: ‘Mas,Senhor! Quando foi que te encontramoscom fome e te demos de comer? Ou comsede e te saciamos?38 E quando te recebemos como estran-geiro e te hospedamos? Ou necessitadode roupas e te vestimos?39 Ou ainda, quando estiveste doente ouencarcerado e fomos ver-te?’.

apenas uma conseqüência natural na vida diária de quem já foi contemplado, abraçou a fé em Jesus e agora vive a alegria daSalvação, mesmo em meio aos sofrimentos deste mundo. É um julgamento semelhante àquele pronunciado contra o convidadoque comparece à festa eterna sem vestir-se da justificação (salvação) em Cristo (22.12-14).

6 A palavra “banqueiro” vem do grego trapeza (mesa), e ainda hoje é comum ver essa palavra nas fachadas das instituiçõesfinanceiras na Grécia. Na época de Jesus, os “banqueiros” eram pessoas que ficavam sentadas atrás de pequenas mesas etrocavam dinheiro (21.12). Outra palavra in teressante é “juro”, que tinha o sentido de “prole”, ou seja, os juros eram considerados“filhotes” do principal emprestado ou investido.

7 Os escravos foram libertos e elevados à posição de servos (mordomos), aos quais aquele senhor confiou todos os seus bens.O servo que não fez uso do talento concedido, agiu assim porque não gostava do seu senhor e desconfiava dele. Não queriatrabalhar e se arriscar apenas para tornar o senhor mais rico. Preferiu a conveniência e a tranqüilidade de uma aparente isençãode responsabilidade. Os dons e talentos de Deus multiplicam-se quando os utilizamos, pois transformam nossas vidas e ficamospreparados para receber ainda mais da plenitude do Espírito Santo. O amor de Cristo em nós gera mais amor, a fé mais fé, ocaráter mais caráter de Deus nos crentes, e a obediência à Palavra do Senhor produz uma fonte de virtudes que influencia todoo ambiente (2Pe 1.3-7).

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40 Então o Rei, esclarecendo-lhes respon-derá: ‘Com toda a certeza vos asseguro

que, sempre que o zestes para algumdestes meus irmãos, mesmo que ao me-nor deles, a mim o zestes’.8

41 Mas o Rei ordenará aos que estiveremà sua esquerda: ‘Malditos! Apartai-vos demim. Ide para o fogo eterno, preparadopara o Diabo e os seus anjos.42 Porquanto tive fome, e não me destesde comer; tive sede, e nada me destes debeber.43 Sendo estrangeiro, não me hospedas-tes; estando necessitado de roupas, nãome vestistes; encontrando-me enfermo e

aprisionado, não fostes visitar-me’.44 E eles também perguntarão: ‘Mas Se-nhor! Quando foi que te vimos com fome,sedento, estrangeiro, necessitado de rou-pas, doente ou preso e não te auxiliamos?’45  Então o Rei lhes sentenciará: ‘Comtoda a certeza vos asseguro que, sempreque o deixastes de fazer para algum des-tes meus irmãos, mesmo que ao menordeles, a mim o deixastes de fazer’.46 Sendo assim, estes irão para o sofri-mento eterno, porém os justos, para avida eterna”.

 A trama para matar Jesus(Mc 14.3-9; Lc 22.1-2; Jo 11.45-53)

26 Tendo Jesus concluído esses en-sinamentos, declarou aos seusdiscípulos:2 “Como sabeis, daqui a dois dias, a Pás-coa será celebrada; e o Filho do homemserá entregue para ser crucicado”.1

3 Enquanto isso, os chefes dos sacerdo-tes e os anciãos do povo se reuniram nopalácio do sumo sacerdote, cujo nomeera Caifás.24 E zeram um acordo para prender Je-sus por meio de traição e matá-lo.5 Porém recomendaram: “Que isso não

seja feito durante a festa, para que nãoocorra grande alvoroço entre o povo”.

 Jesus é ungido para o sacrifício(Mc 14.3-9; Jo 12.1-8) 6 E aconteceu que, estando Jesus em Be-tânia, na casa de Simão, o leproso,7 chegou próximo dele uma mulherportando um frasco de alabastro, repletode perfume caríssimo, e lhe derramousobre a cabeça, enquanto ele estavareclinado à mesa.8 Diante daquela cena, os discípulos se

8 Jesus ensina que o grande pecado do ser humano é a falta do exercício do amor verdadeiro: primeiro em relação ao seuCriador e depois para com seu semelhante e próximo (Tg 4.1-17). Há duas interpretações escatológicas mais aceitas, sobreesse aspecto do Julgamento: 1) Vai acontecer no início de um reino milenar na terra e definirá quem terá o direito de fazer partedo Reino (vv.31,34), com base no tratamento dispensado ao povo israelense (“meus irmãos, mesmo que ao menor deles”– vv.40-46) no período anterior à Grande Tribulação (vv.35-40, 42-45). 2) Para muitos estudiosos, o Julgamento ocorrerá diantedo Trono Branco no final dos tempos (Ap 20.11-15). Seu objetivo será identificar as pessoas de todas as épocas, culturas,povos e nações que poderão ingressar no reino eterno dos salvos e aqueles que serão condenados a viver em punição eternano inferno (vv.34,36). A base desse julgamento definitivo será a atitude de amor com a qual, aqueles que afirmam crer em Deus,trataram seus irmãos e semelhantes (1Jo 3.11-24).

Capítulo 261 Jesus deixou o templo para nunca mais voltar a ele (24.1). Com a saída de Jesus o templo perdeu sua característica de

habitação de Deus. Em frente ao templo, contemplando Jerusalém, Jesus prediz o futuro e seu glorioso retorno. Depois de umperíodo de grande atividade, chega o momento do silêncio e do sacrifício maior. Os Evangelhos não relatam quase nada sobrea juventude de Jesus. Entretanto, narram a história do martírio e do holocausto do Salvador, praticamente, hora a hora. A Paixão(o sacrifício) e a ressurreição, que inicialmente eram fatos enigmáticos e incompreensíveis para os apóstolos, tornam-se agorao significado absoluto de suas vidas e obras. A Paixão de Cristo corresponde à Páscoa dos judeus (em hebraico Pêssach quesignifica “passar por cima” ou “passar ao lado”): celebração do livramento do povo hebreu do jugo egípcio ocorrido há mais de35 séculos (Êx 12.13,23,27). Os cordeiros (simbolização de Jesus Cristo) e os cabritos eram sacrificados, em penitência (arrepen-dimento) pelos pecados cometidos, no dia 14 de Nisã (mês judaico por volta de março e abril). A refeição da Páscoa era comidano fim dessa mesma tarde. Como o dia judaico começava após o pôr-do-sol do dia anterior, a Festa da Páscoa foi celebrada nodia 15 de Nisã, uma quarta-feira. Em seguida ocorria a Festa dos Pães sem Fermento (ou Pães Asmos), durava mais sete dias, efazia parte das comemorações da Páscoa (Êx 12.15-20; 23.15; 34.18; Dt 16.1-8).

2 Os chefes dos sacerdotes, chamados de “principais” e os anciãos (sábios e líderes religiosos do povo), reuniram-se comoSinédrio (Supremo Tribunal dos Judeus) no palácio de Caifás, saduceu, eleito sumo sacerdote (de 18 a 36 d.C), genro e sucessorde Anás (Jo 18.13), que ocupou o cargo entre os anos de 6 a 15 d.C.

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indignaram e comentaram: “Por que estedesperdício?9

Porquanto esse perfume poderia servendido por alto preço e o dinheiro dadoaos pobres!”.10 Percebendo isso, Jesus repreendeu-os:“Por que molestais esta mulher? Ela pra-ticou uma boa ação para comigo.11 Pois, quanto aos pobres, sempre ostendes convosco, mas a mim nem sem-pre me tereis.12 Ao derramar sobre o meu corpo essebálsamo, ela o fez como que preparando-me para o sepultamento.313  Com toda a certeza vos armo: Em

todos os lugares do mundo, onde esteevangelho for pregado, igualmente serácontado o que essa mulher realizou,como um memorial a ela”.

O pacto da traição(Mc 14.10-11; Lc 22.3-6)14 E aconteceu que um dos Doze, chama-do Judas Iscariotes, foi ao encontro doschefes dos sacerdotes e lhes propôs:15 “O que me dareis caso eu vo-lo entre-

gue?”. E lhe pagaram o preço: trinta moe-das de prata.16

E, desse momento em diante, procu-rava Judas uma ocasião apropriada paraentregar Jesus.

 A Ceia do Senhor (Mc 14.12-26; Lc 22.7-23; Jo 13.18-30)17  No primeiro dia da festa dos PãesAsmos, os discípulos aproximaram-se deJesus e o consultaram: “Onde desejas quepreparemos a refeição da Páscoa?”.18 Ao que Jesus os orientou: “Ide àcidade, procurai um certo homem efalai a ele: ‘O Mestre manda dizer-te: É

chegada a minha hora. Desejo celebrara Páscoa em tua casa, juntamente commeus discípulos.’”19 Os discípulos zeram como Jesuslhes havia instruído e prepararam aPáscoa. 4 

 Jesus revela o traidor (Mc 14.17-21; Lc 22.21-23; Jo 13.21-30)20 Ao pôr-do-sol, estava Jesus reclinado,próximo à mesa, com os Doze.5

3 Era costume, no antigo Oriente, ungir a cabeça dos convidados em dias festivos, que praticamente deitavam-se sobre um tipode almofada ou divã, ao redor de uma mesa bem mais baixa do que as nossas. Com o braço esquerdo se apoiavam sobre as al-mofadas e com o direito se serviam dos alimentos. Davi escreve um poema em louvor a Yahweh (O nome impronunciável de Deus,em hebraico: ), no qual descreve a felicidade que há na comunhão com Deus usando a metáfora de uma ceia preparadapelo Senhor (Sl 23.5). Jesus foi visitar alguns amigos em Betânia, uma aldeia que distava cerca de 3 km de Jerusalém. O anfitrião,Simão, fora curado de lepra por Jesus (Mc 14.3). Lázaro estava presente, Marta servia e Maria, irmã de Lázaro e Marta, assume aresponsabilidade da hospitalidade amorosa e reverente (Lc 7.46), mas realiza o ato tradicional à sua maneira. Um escravo ungiriaa cabeça do hóspede do seu senhor com óleo e lavaria seus pés com água. Maria ofereceu a mais preciosa e cara essência deplantas (nardo, palavra persa  nard que em sânscrito nalàdá significa “óleo perfumado”) importada da Índia (em grego Myrón).Marcos (Mc 14.5) informa que o valor daquele alabastro (frasco de mármore lacrado e com gargalo longo, o qual era quebrado noinstante do uso, e cujo conteúdo devia ser todo consumido em uma só aplicação para não perder suas propriedades químicas earomáticas) era de 300 denários, o que correspondia ao salário anual de um trabalhador ou soldado romano (20.2; Jo 6.7). Mariaungiu a cabeça e os pés de Jesus (Mc 14.3-9; Jo 12.1-8) realizando a cerimônia completa de honra e hospitalidade com a qual os

 judeus deveriam acolher seus irmãos e amigos, numa demonstração de temor a Deus, humildade e amor ao próximo, princípios

básicos da Torá (os primeiros cinco livros da Bíblia, a Lei de Deus) e dos ensinos de Jesus (Lc 7.44; Jo 13.1-17). Considerandoque Judas traiu Jesus por cerca de 120 denários, é fácil imaginar sua irritação ao ver a atitude de Maria em relação unicamente àpessoa de Cristo (Jo 12.4-5). Na época da Páscoa era um costume judaico presentear os pobres. Jesus aproveita para esclareceros discípulos e amigos quanto à proximidade do seu martírio, salientando que Maria havia compreendido verdadeiramente quemé Deus, qual o sentido da adoração (que é consagrar a Deus os nossos mais caros afetos), e que estava cuidando da preparação(somente os nobres tinham seu corpo embalsamado ou mumificado) do seu corpo para o sepultamento. Jesus ainda faz umaalusão à Lei e afirma que a ajuda e o acolhimento aos mais necessitados é tarefa contínua do povo de Deus todos os dias do ano(Dt 15.11). Jesus ergue um memorial a Maria, uma pessoa desconhecida na história, mas cujo ato inspira gerações e geraçõesem todo o mundo, a ter uma visão correta e prática do que significa amar a Deus.

 4 Os discípulos prepararam a Ceia conforme a orientação de Jesus e as prescrições da Lei (Êx 12.1-11) e tiveram de imolar ocordeiro pascal. Jesus celebrou sua ú ltima Páscoa judaica com seus discípulos na véspera da data oficial, pois no dia do feriadoreligioso e nacional que marca a Páscoa, Ele mesmo estaria sendo retirado, morto, da Cruz. O Cordeiro Pascal Imolado para aSalvação de todo aquele que nele crer (Jo 1.12).

5 É interessante notar a ordem dos acontecimentos daquela noite: a refeição pascal; o ato de lavar os pés dos discípulos (Jo

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63 MATEUS 26

21 E, durante a refeição, Jesus revelou:“Com toda a certeza vos armo que um

dentre vós me trairá”.22 Essa declaração consternou a todos ecomeçaram a indagar, um após outro:“Senhor! Porventura, serei eu?”.23 Indicou-lhes Jesus: “Aquele que comeu

  juntamente comigo, do mesmo prato,este é o que vai me trair.24 O Filho do homem vai, como de fatoestá escrito a respeito dele. Mas ai daque-le que trai o Filho do homem! Melhorlhe seria jamais haver nascido”.25 Então Judas, que haveria de consumara traição, disse: “Acaso, seria eu, meu

Mestre?”. E Jesus armou-lhe: “Sim, tu odeclaraste!”.6

 A Ceia do Senhor (Mc 14.22-26; Lc 22.14-20; 1Co 11.23-25)26  Enquanto comiam, Jesus pegou umpão, deu graças, quebrou-o, e o deu aosseus discípulos, recomendando: “Tomai,comei; isto é o meu corpo”.27 Em seguida tomou um cálice, deu graçase o entregou aos seus discípulos, procla-mando: “Bebei dele todos vós.28  Pois isto é o meu sangue da aliança,derramado em benefício de muitos, pararemissão de pecados.

29 E vos armo que, de agora em diante,não mais tomarei deste fruto da videira

até aquele dia em que beberei o novovinho, convosco, no Reino de meu Pai”.30 E assim, após terem cantado um hinode louvor, saíram para o monte das Oli-veiras.7  

 Jesus prediz a traição de Pedro(Mc 14.27-31; Lc 22.31-34; Jo 13.36-38)31 Então Jesus lhes revelou: “Ainda estanoite, todos vós me abandonareis. Poisassim está escrito: ‘Ferirei o pastor, e asovelhas do rebanho serão afugentadas’.832 Todavia, depois de ressuscitar, seguirei

adiante de vós rumo à Galiléia”.33 Respondeu-lhe Pedro: “Ainda quevenhas a ser motivo de escândalo paratodos, eu jamais te abandonarei!”.34 Replicou-lhe Jesus: “Com certeza te asse-guro que, ainda nesta noite, antes mesmoque o galo cante, três vezes tu me negarás”.35 Então Pedro lhe declarou: “Mesmo queseja necessário que eu morra junto a ti, demodo algum te negarei!”. E todos os discí-pulos zeram a mesma armação.

 Jesus ora no Getsêmani(Mc 14.32-42; Lc 22.39-46)36  Seguiu Jesus com seus discípulos e

13.1-20); a revelação de Judas como o traidor (Mt 26.21-25); a deserção de Judas (Jo 13.30); a instituição da Ceia do Senhor (Mt26.26-29); os discursos no Cenáculo e a caminho do Getsêmani (Jo 14, 15 e 16); a oração sacerdotal de Jesus (Jo 17); a angústiade Cristo no Getsêmani (Mt 26.36-46); o desfecho da traição e a prisão de Jesus (Mt 26.47-56).

6 Jesus não foi vítima involuntária das artimanhas do Diabo nem da inveja ou da avareza dos homens. Jesus não foi surpre-endido pelos ardis do inferno nem pelas fraquezas da humanidade. Ele, por sua livre e espontânea vontade, se ofereceu emobediência ao Pai e em sacrifício (holocausto) para resgate de todo o mundo. Jesus respondeu, decerto, a Judas em voz baixa,para que os demais discípulos não ouvissem e viessem a impedir o intento do traidor.

7 O NT apresenta quatro relatos sobre a Ceia do Senhor (Mt 26.26-28; Mc 14.22-24; Lc 22.19,20 e em 1 Co 11.23-25). Lucase Paulo registraram a ordem de Jesus para que a Igreja continuasse a celebrar a Ceia, como um memorial, até a Sua volta

iminente. Jesus escolheu o pão sem fermento e o vinho comum para serem apenas símbolos (metáforas físicas) do que Ele épara os crentes (todos os que crêem em Cristo) e do seu ato de sacrifício, para pagar o preço do pecado de todo ser humano.Por isso, todos os seguidores de Jesus (discípulos) são convidados e devem participar da Ceia do Senhor todas as vezes emque for celebrada, comendo do pão e tomando do vinho; com consciência pura diante de Deus (1 Co 11.28), louvor e esperançano coração. A palavra “eucaristia” vem de um termo grego que significa “dar graças”. A primeira “Aliança” foi estabelecida pelaaspersão do sangue de animais sacrificados (Êx 24.8; Jr 31.31; Zc 9 .11; Hb 9.19-28). A nova e derradeira “Aliança” foi instauradapelo próprio sangue do Filho de Deus, vertido sobre a verga e umbral da Cruz (Hb 8.7-13). Depois de cearem, Jesus e seusdiscípulos cantaram um hino tradicional de louvor a Deus, baseado nos salmos 115 a 118, chamado em hebraico Hallel (Louvor)da Páscoa. Em seguida partiram para o Getsêmani (nome que significa em hebraico “prensa de azeite”), espécie de grande pomarlocalizado na encosta inferior do monte das Oliveiras, também chamado de “Jardim das Oliveiras”, um dos locais preferidos deJesus para oração e meditação (Lc 22.39; Jo 18.2) e onde se esmagava o fruto das oliveiras para a produção de azeite.

8 Todos os seguidores de Jesus, inclusive os discípulos mais chegados, abandonariam o Senhor antes do final daquela noite(verso 56) conforme já havia sido profetizado (Zc 13.7).

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chegando a um lugar chamado Getsê-mani disse-lhes: “Assentai-vos por aqui,

enquanto vou ali para orar”.37 Levou consigo a Pedro e aos dois lhosde Zebedeu, e começando a entristecer-se cou profundamente angustiado.38 Então compartilhou com eles dizendo:“A minha alma está sofrendo dor extre-ma, uma tristeza mortal. Permaneceiaqui e vigiai junto a mim”.39 Seguindo um pouco mais adiante,prostrou-se com o rosto em terra e orou:“Ó meu Pai, se possível for, passa de mimeste cálice! Contudo, não seja como Eudesejo, mas sim como Tu queres”.40  Mas, ao retornar à presença dos seusdiscípulos os encontrou dormindo equestionou a Pedro: “E então? Não pudes-tes vigiar comigo durante uma só hora?41 Vigiai e orai, para não cairdes em tenta-ção. O espírito, com certeza, está prepara-do, mas a carne é fraca”.9 42  E afastando-se uma vez mais, oroudizendo: “Ó meu Pai, se este cálice nãopuder passar de mim sem que eu o beba,seja feita a tua vontade”.43 Quando voltou, entretanto, surpre-endeu novamente seus discípulos dor-mindo, pois não suportaram os olhospesados de sono.

44 Então, retirou-se novamente, e foi orarpela terceira vez, proferindo as mesmas

palavras.45 Passado algum tempo, voltou aosdiscípulos e indagou: “Ainda dormis edescansais? Eis que a hora é chegada!Agora o Filho do homem está sendoentregue nas mãos de pecadores.46 Levantai-vos e sigamos! Eis que meutraidor está se aproximando”.10

 Jesus é traído e preso(Mc 14.43-50; Lc 22.47-53; Jo 18.1-11)47  E, estando Ele ainda a falar, eis quechegou Judas, um dos Doze, e trazia

consigo uma grande multidão armadade espadas e porretes, vinda da partedos chefes dos sacerdotes e dos líderesreligiosos do povo.11

48 Mas o traidor havia combinado umsinal com eles, informando-lhes: “Aquelea quem eu saudar com um beijo, esse équem procurais, prendei-o!”.49  Então, aproximando-se rapidamentede Jesus, disse-lhe Judas: “Eu te saúdo, óMestre!”. E lhe deu um beijo.50 Jesus, contudo, lhe perguntou: “Amigo,para que vieste?”. os homens avaçaramsobre Jesust?”. No mesmo instante sobreJesus e o prenderam.12 

9 Este é um dos trechos bíblicos onde a completa humanidade de Jesus é retratada com mais evidência (Hb 5.7). Jesus demons-tra que o verdadeiro caráter de uma pessoa se revela nos momentos mais difíceis e dramáticos. Aprendemos também a aceitarque haverá ocasiões em nossa vida em que teremos de enfrentar o sofrimento sem o apoio, conforto ou companhia dos amigos. OSenhor, porém, estará sempre presente. Por isso Jesus pede que os discípulos vigiem com Ele. Não apenas para seu consolo, postoque se afasta dos discípulos à distância de um arremesso de pedra (como se relata nos originais), mas para que eles pudessem sepreparar espiritualmente para a grande batalha. Jesus clama por seu  Abba (em aramaico “pai querido”). Experimenta a fraquezahumana ao extremo, mas sem pecar. Cita Sl 43.5. Busca a orientação e o consolo do Pai. Sente quão terrível é ficar sem o amparode Deus, ainda que por instantes, e assume sobre si todo o pecado que a raça humana deveria pagar por sua infidelidade para comDeus, desde os primórdios (Gn 2.15-17; 3.22-24; 4.1-8). O ato de obediência amorosa e aceitação espontânea de Jesus no Getsê-mani corresponde à tentação no deserto, quando Jesus rejeitou governar o mundo sem Deus. Agora Ele concorda em morrer pornós com Deus. Por isso, sua morte e ressurreição foram ainda mais relevantes que sua vida de testemunho e milagres, ao contráriode todos os líderes que a terra já conheceu (1Co 2.2). Contudo, o Pai não responde. O Filho, em agonia, insiste por três vezes (Lc22.44). Deus fica em silêncio na imensidão da noite; os amigos dormem. Jesus compreende que a resposta às suas aflições já haviasido dada (Hb 5.8; 12.2). O Pai tinha de permitir o cumprimento da história. Jesus se levanta da batalha, liberto dos seus temores eaflições; consciente do alto preço a pagar, mas resoluto quanto à sua missão (Lc 22.22; Hb 9.14).

10 A frase de Jesus, nos melhores originais, indica não que ele tenha procurado fugir, mas, sim, que partiu e convocou seusdiscípulos para se encontrarem com os oficiais que o procuravam.

11 Judas organiza sua emboscada contra Jesus acompanhado dos mais importantes sacerdotes, mestres da Lei e líderes religio-sos do povo. E cerca de 500 policiais armados e serventes do Sinédrio (Tribunal), destinados a manter a ordem pública; soldadosespeciais da corte romana (Jo 18.3), vindos da fortaleza de Antônia, equipados com armas e lanternas (apesar da forte lua cheia daépoca), pois conheciam e temiam os poderes sobrenaturais de Jesus, embora Ele nunca os tenha usado em benefício próprio.

12 A palavra grega usada para descrever o beijo de Judas é  kataphilein, o mesmo tipo de saudação calorosa com que o pai

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51 Eis que um dos que estavam com Je-sus, estendendo a mão, puxou a espada

e ferindo o servo do sumo sacerdote,decepou-lhe uma das orelhas.52 Mas Jesus lhe ordenou: “Embainhaa tua espada; pois todos os que lançammão da espada pela espada morrerão!53 Ou imaginas tu que Eu, neste momen-to, não poderia orar ao meu Pai e Ele co-locaria à minha disposição mais de dozelegiões de anjos?54 Entretanto, como então se cumpririamas Escrituras, que armam que tudo deveacontecer desta maneira?”.55 E naquele mesmo instante Jesus se dirige

às multidões indagando-lhes: “Lidero Eualgum tipo de rebelião, para que venhamcontra mim com espadas e porretes e meprendam? Pois todos os dias estive ensinan-do no templo e vós não me prendestes!56 Todavia, esses fatos todos ocorreramem cumprimento às Escrituras dosprofetas”. E assim, todos os discípulosabandonaram a Jesus e fugiram.13 

 Jesus diante do tribunal (Mc 14.53-65; Lc 22.63-71; Jo 18.12-14, 19-24)57 Então, os que prenderam Jesus o con-duziram à presença de Caifás, o sumosacerdote, em cuja residência estavamreunidos os mestres da lei e os anciãos.

58 Contudo Pedro seguiu a Jesus de longeaté o pátio do sumo sacerdote, entrou e

sentou-se junto aos guardas, para sondarqual seria o m daquela ocorrência.59  Mas os líderes dos sacerdotes e todoo Sinédrio estavam tentando suscitarum falso testemunho contra Jesus, paraque tivessem o direito de condená-lo àmorte.14

60 Todavia, nada encontraram, apesarde se terem apresentado vários depoi-mentos inverídicos. Ao nal, entretanto,compareceram duas testemunhas quealegaram:61  “Este homem armou: ‘Tenho poder

para destruir o santuário de Deus e re-construí-lo em três dias’”.15

62 Então o sumo sacerdote levantou-se einterrogou a Jesus: “Não tens o que res-ponder a estes que depõem contra ti?”.63  Mas Jesus manteve-se em silêncio.Diante do que o sumo sacerdote lhe inti-mou: “Eu te coloco sob juramento diantedo Deus vivo e exijo que nos digas se tués o Cristo, o Filho de Deus!”.16 

64 “Tu mesmo o declaraste”, armou-lhe Jesus. “Contudo, Eu revelo a todosvós: Chegará o dia em que vereis oFilho do homem assentado à direita doTodo-Poderoso, vindo sobre as nuvensdo céu!”.

recebeu o filho pródigo (Lc 15.20). Apesar de Judas estar cometendo uma ofensa terrível, Jesus consegue ver na pessoa deJudas a figura do ser humano distante de Deus: avarento, invejoso, arrogante, iludido, tresloucado e perdido; mas, ainda assim,alguém a quem Jesus amava e considerava como membro da sua família de discípulos. Da mesma maneira o Senhor amou osseus próprios algozes (Lc 23.34) e pela salvação de todos nós se entregou (Lc 15.1-2; Jo 3.16).

13 O discípulo amado, João, escrevendo seu Evangelho, após a morte dos protagonistas, esclarece que foi Pedro quem, numgolpe de espada, cortou fora a orelha de Malco, um dos servos do sumo sacerdote (Jo 18.10). Jesus declara que poderia receber

de Deus uma ajuda imediata, com mais de 72.000 anjos (considerando que, naquela época, uma legião era formada por até 6.000soldados). Lembremos que apenas um anjo foi suficiente para ferir todo o Egito (Êx 12.23-27) e libertar o povo de Israel do cativei-ro. Jesus estava consciente de que a vontade do Pai deveria ser cumprida em todos os detalhes (Zc 13.7). Aceitou tomar o cálicedo sacrifício histórico e servir de holocausto para a libertação do crente (toda pessoa que crê em Sua obra vicária e Palavra).

14 O julgamento de Jesus foi injusto e ilícito por vários motivos, especialmente por ter ocorrido durante a noite e comtestemunhas e acusações forjadas, contrariando as leis judaicas (Dt 19.15) e romanas da época. Jesus foi levado primeiro parauma audiência perante Anás, ex-sumo sacerdote (Jo 18.12-14, 19.23); depois para julgamento diante de Caifás, sumo sacerdoteem exercício e genro de Anás, e do Supremo Concílio Judaico, chamado de Sinédrio (26.57-68; 27.1). Em seguida, levado ao

  julgamento romano, diante de Pilatos (Mc 15.2-5), depois levado à presença de Herodes Antipas (Lc 23.6-12), retornando àpresença de Pilatos (Mc 15.6-15) para conclusão e condenação final.

15 Obrigar um réu a declarar algo sob juramento diante de Deus era uma atitude ilícita, claramente expressa na jurisprudênciaisraelita, que não tolerava qualquer tipo de tortura ou coação moral e religiosa.

16 Jesus jamais fez tal afirmação. As falsas testemunhas distorceram as palavras de Jesus (Jo 2.19), para forjar uma acusaçãode blasfêmia, cuja pena era a morte.

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66MATEUS 26, 27

65 Diante disso, o sumo sacerdote rasgouas suas vestes denunciando: “Ele blasfe-

mou! Por que necessitamos de outrastestemunhas? Eis que acabais de ouvir talblasfêmia!”.17 66 “Que vos parece?”. Responderam eles:“Culpado e merecedor de morte é!”.67 Neste momento, alguns cuspiram emseu rosto e o esmurravam, enquanto ou-tros lhe desferiam tapas, vociferando:68 “Profetiza-nos, pois, ó Cristo, quem éque te bateu?”.18 

Quando Pedro negou a Jesus(Mc 14.66-72; Lc 22.54-62; Jo 18.15-18, 25-27)

69 Pedro encontrava-se assentado do ladode fora da casa, no pátio, quando umacriada, aproximando-se dele, armou:“Tu também estavas com Jesus, o galileu!”.70 Ele, entretanto, negou a Jesus perantetodos os presentes, declarando: “Não seido que falas.”.71 E, saindo em direção à entrada dopátio, foi ele reconhecido por outracriada, a qual o denunciou a todos que alise achavam, exclamando: “Este homemestava com Jesus, o Nazareno!”.72 Mas Pedro, sob juramento, o negouuma vez mais, armando: “Não conheçotal indivíduo”..73 Algum tempo mais tarde, os que esta-vam ao redor aproximaram-se de Pedroe o acusaram: “Com toda a certeza ésigualmente um deles, porquanto o teumodo de falar o denuncia”.19

 

74 Então, ele começou a jurar e a pedira Deus que o amaldiçoasse caso não es-

tivesse dizendo a verdade, e exclamou:“Não conheço esse homem!”. No mes-mo instante um galo cantou.75 E naquele momento, Pedro se lembrouda palavra de Jesus que lhe advertira:“Antes que o galo cante, tu me negarástrês vezes.” E, deixando aquele lugar,chorou amargamente.20

  Jesus é levado a Pilatos(Mc 15.1; Lc 23.1-2; Jo 18.28-32)

27 Assim que o dia amanheceu, to-dos os chefes dos sacerdotes, e os

líderes religiosos, anciãos do povo, cons-piraram para condenar Jesus à morte.1

2  Então, amarrando-o, levaram-no e oentregaram a Pilatos, o governador.2

 Judas com remorso suicida-se! 3 E sucedeu que Judas, seu traidor, ao verque Jesus havia sido condenado, sentiuterrível remorso e procurou devolveraos chefes dos sacerdotes e aos anciãos astrinta moedas de prata.4  E declarou: “Pequei, pois traí sangueinocente”. Mas eles alegaram: “O quetemos a ver com isso? Esta é tua ques-tão!”.5 Judas atirou então as moedas de pratadentro do templo e, abandonando aque-le lugar, foi e enforcou-se. 6  Entretanto, os chefes dos sacerdotesajuntaram as moedas e comentaram: “É

17 O sumo sacerdote era proibido pela lei de agir dessa maneira e com tamanha força emocional (Lv 10.6); mas, para caracterizarseu horror diante do suposto pecado de infâmia e jogar o público presente contra Jesus, ele se permitiu o chamado “ato extremo”.

18 Marcos informa que vendaram os olhos de Jesus (Mc 14.65), o que explica a provocação em tom de zombaria.19 Pedro, como Jesus, tinha um sotaque indiscutivelmente galileu, facilmente identificado pelos naturais de Jerusalém.20 A seqüência de erros cometidos por Pedro tem muito a nos ensinar: 1) Demasiada autoconfiança e falta de humildade (v.33).

2) Desobediência ao pedido de Jesus para dedicar-se à vigilância e oração (vv.40-44). Esquecimento quanto às advertências econselhos de Jesus (v.75; conforme v.34). Conclusão: grandes quedas na vida cristã são conseqüência da prática de pequenoserros despercebidos ou tratados com displicência.

Capítulo 27 1 Como a Lei não permitia que o Sinédrio (Supremo Tribunal dos Judeus) tivesse reuniões juridicamente válidas, durante a noite, for-

mou-se um outro conselho logo ao nascer do dia com o propósito de oficializar a acusação de “traição” perante a autoridade civil (Lc23.1-14), mais incriminadora para os romanos do que “blasfêmia” para os juízes judeus; e assim, levar Jesus à sentença de morte.

2 O Sinédrio tinha sido destituído pelo governo romano do seu poder de condenar qualquer cidadão à pena de morte. Poresse motivo, Jesus só poderia ser executado por ordem expressa de Pilatos, o governador romano da Judéia (26 a 36 d.C.). Suaresidência oficial ficava em Cesaréia, no litoral do Mediterrâneo. Quando visitava Jerusalém, especialmente nas festas nacionais,para garantir a ordem e ostentar o domínio de Roma, hospedava-se no deslumbrante palácio erguido por Herodes, o Grande,localizado a oeste do Templo, onde presidiu o julgamento romano de Jesus.

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contra a lei depositarmos este dinheirono cofre das ofertas, pois foi obtido a

preço de sangue”.7 Mas concordaram em usar aquelasmoedas de prata para comprar o Campodo Oleiro, e formar um cemitério paraestrangeiros.8 Por esse motivo ele se chama Campo deSangue até estes dias.9 E assim se cumpriu o que fora anuncia-do pelo profeta Jeremias: “Então eles to-maram as trinta moedas de prata, o valorque lhe atribuíram os lhos de Israel.3 

10 E as usaram para comprar o Campodo Oleiro, assim como o Senhor me ha-via indicado”.

Pilatos lava as mãos(Mc 15.1-15; Lc 23.1-5, 13-25; Jo 18.33-19.16)11 Jesus foi conduzido à presença do go-vernador; e este o interrogou: “És tu orei dos judeus?”. Armou-lhe Jesus: “Tuo dizes”. 4 12 Então, passou a ser acusado pelos che-fes dos sacerdotes e pelos anciãos, masEle nada respondeu.13 Foi quando lhe questionou Pilatos:

“Não ouves a acusação que todos levan-tam contra Ti?”14 Jesus, entretanto, mantinha-se em ab-soluto silêncio; e, por isso, cou o gover-nador fortemente impressionado.15 Contudo, por ocasião da festa, era cos-

tume do governador dar liberdade a umprisioneiro escolhido pelo povo.16

  Detinham eles, naqueles dias, umcriminoso muito conhecido de todos,chamado Barrabás.17 Então, Pilatos dirigiu-se à multidãoque ali se havia reunido e lhes propôs:“A quem desejais que eu vos solte, a Bar-rabás ou a este Jesus, que é chamado deMessias?”.18 Isso porque tinha conhecimento deque o haviam entregado por inveja.19 E aconteceu que estando Pilatos senta-do no trono do tribunal, sua esposa lheenviou a seguinte mensagem: “Não façasnada contra este homem inocente; poishoje, em sonho, muitas coisas sofri porcausa dele”.5

20 Todavia, os chefes dos sacerdotes e osanciãos inuenciaram a multidão paraexigir o livramento de Barrabás e a exe-cução de Jesus.21 Então, o governador entregou à mul-tidão o dilema: “Qual dos dois homensquereis que eu vos deixe livre?” Exclama-ram eles: “Barrabás!”.22 Pilatos ainda questionou-lhes: “Se assim

é, que farei de Jesus, que é chamado deMessias?” Bradaram todos: “Crucica-o!”.23 Outra vez insta Pilatos: “Por quê? Quecrime cometeu este homem?”. Apesar detudo, a multidão esbravejava ainda maisfuriosa: “Crucica-o!”.

3 Lucas (At 1.18) informa que Judas comprou um terreno argiloso (Campo de Sangue ou Vale da Matança de Jr 19.1-13 comZc 11.12,13 e Jr 18.2-12 com Jr 32.6-9), pois pela lei judaica considerava-se a aquisição em nome da pessoa da qual provinhao dinheiro, mesmo no caso de falecimento. Enforcou-se e foi empalado (suplício persa usado algumas vezes pelos exércitosisraelenses, Gn 40.19; Et 2.23, e que consistia em espetar o condenado em uma estaca, pelo ânus, deixando-o assim até morrer ).

Quando seu corpo caiu apodrecido sobre a terra, partiu-se ao meio. Mateus faz alusão a dois textos do AT para revelar o cumpri-mento desta terrível profecia (Jr 32.6-9 e Zc 11.12-13). Era comum citar-se o profeta maior quando se combinavam seus escritoscom profetas menores (assim como Marcos 1,2,3 cita Ml 3.1 e Is 40.3, mas atribui todo o texto a Isaías). Judas sempre teve olhossomente para si mesmo e seus interesses. Por isso, em vez de chorar e se arrepender como Pedro, não consegue tirar os olhosde si mesmo e do seu pecado e só viu a morte como solução. Exatamente o que o Diabo espera que todo ser humano faça.

 4 Flávio Josefo, historiador judeu que viveu em Roma entre os séculos I e II d.C.; narra vários atos de impiedade e falta desabedoria de Pilatos, cujo principal registro na história está ligado exclusivamente à sua atuação na condenação de Jesus. Pilatosdesviava fundos do templo, massacrou alguns samaritanos sem um julgamento justo, foi deposto pelos romanos e suicidou-seentre os anos 31 e 41d.C.

5 Pilatos era muito supersticioso e pesou-lhe o sonho de sua esposa pagã. Além disso, o nome “Barrabás” em aramaicosignifica “filho do pai” e Jesus era conhecido como “Filho do Pai” em relação a Deus. Pilatos percebeu a divindade de Jesus(Jo 19.11-12). Tentou aproveitar a tradição do indulto de Páscoa para influenciar a multidão a pedir a libertação de Jesus. Maso povo, atiçado pelos sacerdotes e anciãos, sedento pela volta do bandido zelote (Mc 15.7,27; Jo 18.40) às suas atividades

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24 Percebendo Pilatos que não conseguiademover o povo, mas, ao contrário, um

princípio de tumulto já era visível, or-denou que lhe trouxessem água, lavouas mãos diante da multidão e exclamou:“Estou inocente do sangue deste homem

 justo. Esta é uma questão vossa!”.25 E todo o povo respondeu: “Caia sobrenossas cabeças o seu sangue, e sobre nos-sos lhos!”.”6 

26 Diante disso, Pilatos soltou-lhes Bar-rabás, mandou que Jesus fosse ageladoe o entregou para ser crucicado.7  

 Jesus é humilhado e agredido(Mc 15.16-20)27 E sucedeu que os soldados do gover-nador conduziram Jesus ao Pretório eagruparam toda a tropa ao redor dele.8 

28 Despojaram-no de suas vestes e o co-briram com um manto vermelho vivo.29

 Trançaram uma coroa de espinhos e aforçaram sobre sua cabeça. Puseram emsua mão direita um caniço e, ajoelhando-se diante dele, escarneciam exclamando:“Salve! Salve! Ó Rei dos Judeus!”.30 Cuspiram nele e, tirando o caniço de suamão, espancavam-lhe com ele a cabeça.31  Depois de haverem zombado dele,despiram-lhe o manto e o vestiram comsuas próprias roupas. Em seguida, o leva-ram para ser crucicado.

 A crucicação do Rei(Mc 15.22-32; Lc 23.32; Jo 19.17-24)32 Assim que saíram, encontraram umhomem da cidade de Cirene, chamadoSimão, e o obrigaram a carregar a cruz.9 

subversivas contra Roma, rejeita o “Filho de Deus” e aclama o “filho do homem pecador”. A humanidade, narcisista e hedonista,tende a ignorar o verdadeiro Deus e seus profetas e se entrega nas mãos de sua própria imagem e caráter, de um seu semelhanteinduzido pelo Diabo.

6 Pilatos, de sua cátedra (trono, cadeira, estrado) de juiz, evoca uma tradição judaica de obediência à Lei de Moisés (Dt 21.1-9),numa tentativa de esquivar-se da responsabilidade de condenar um justo à pena de morte, ainda mais sendo o “Filho de Deus”.Entretanto, uma pequena multidão ensandecida tomou para si e para seus descendentes todo o ônus daquele julgamento injusto.

 Alguns líderes justos se manifestaram contra, mas não foram ouvidos (Lc 23.51). Cerca de 40 anos mais tarde, mesmo antes docerco a Jerusalém, o sangue dos judeus jorrava por todo país. Ao final do ano 66 foram trucidados mais de 20.000 judeus emCesaréia, por seus próprios concidadãos gentios. Em Citópolis os sírios massacraram 13.000 judeus. Em Alexandria, mais de50.000 judeus foram chacinados por cidadãos gregos e soldados romanos, e suas casas, reduzidas a cinzas. O massacre em Je-rusalém não poupou nem os bebês. O próprio pátio do templo virou um lago de sangue. Durante o sítio, os poucos sobreviventesesfomeados eram forçados a roer as próprias sandálias e cintos de couro. Diariamente mais de 500 judeus morriam crucificados,até que não houvesse mais madeira para confeccionar cruzes. Segundo o historiador Flávio Josefo, mais de um milhão de judeusforam mortos durante todo o período do sítio romano. Cerca de 97.000 homens jovens que sobreviveram foram vendidos comoescravos, transformados em gladiadores ou morreram na arena do anfiteatro, lutando contra animais ferozes.

7 Pilatos tenta evitar a morte “do divino”, como teria se referido ao Senhor mais tarde, e saciar a sede sanguinária da multidão,submetendo Jesus a uma terrível sessão de açoites. Esse tipo de castigo era tão cruel que fora proibido aos cidadãos romanos, sobqualquer motivo. Apenas escravos e provincianos eram chicoteados como preparação para a crucificação. Os chicotes eram feitosde finas tiras de couro duro, trançadas com pedaços de osso, chumbo e espinhos agudos e venenosos. O martírio de Policarpo, porexemplo, é descrito nos documentos da comunidade de Esmirna como: “dilacerado pelos açoites, a ponto de ser possível ver osvasos sanguíneos interiores e a estrutura do seu corpo”. Eusébio relata sobre o flagelo do cristão Doroteu, sob Diocleciano: “até seusossos ficaram expostos”. Por isso, eram comuns os flagelados morrerem antes da crucificação. Mas Jesus suportou tudo em silêncio(Is 53). Muito sacrifício foi oferecido para que os discípulos de hoje possam servir a Cristo com liberdade e alegria.

8 O Pretório era a fortaleza de Antônia, residência de Pilatos quando estava em Jerusalém. Dizia-se que uma “tropa” ou “coorte”era composta de um décimo dos soldados que formavam uma “legião”, algo entre 360 e 600 homens.

9 Tem início a via crucis ou via-sacra, o caminho da cruz. O Talmude relata que era costume oferecer ao condenado, antesda crucificação, uma bebida anestesiante, que algumas mulheres piedosas de Jerusalém mandavam preparar às suas custas.Entretanto (v.34), Jesus nega-se a aceitar esse tipo de alívio (Sl 69.19-21; Pv 31.6; Mc 15.23). A cruz era composta de duas peçasde madeira, uma viga vertical staticulum e outra horizontal antenna. Na primeira, mais ou menos no centro, era fixado um pino demadeira, chamado de cornu chifre, sobre o qual o crucificado ficava montado. Os crucificados viviam em média cerca de dozehoras. A febre que logo se manifestava causava um tipo de sede ardente. A crescente inflamação das feridas nas costas, mãose pés, o ataque dos insetos e aves carniceiras que se aproximavam devido ao odor de sangue e dos excrementos, assim comoa pressão do fluxo sanguíneo contra a cabeça, o pulmão e o coração, e o inchaço de todas as veias provocavam a mais horrívelagonia e dor. Cícero dizia: “A crucificação é o mais cruel e terrível dos castigos”. A execução tinha de ocorrer fora da cidade (Lv

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33 Chegaram a um lugar conhecido comoGólgota, que signica Lugar da Caveira.1034

Deram-lhe para beber uma misturade vinho com absinto; mas ele, depois deprová-la, negou-se a beber.35 E aconteceu que após sua crucicação,dividiram entre si as roupas que lhe per-tenciam, jogando sortes.36 E se acomodaram ali, para o vigiar.37 Acima de sua cabeça xaram por es-crito a acusação forjada contra ele: “ESTEÉ JESUS, O REI DOS JUDEUS”.38 Dois ladrões foram crucicados com ele,um à sua direita e outro à sua esquerda.39  As pessoas que passavam lançavam-lhe impropérios, balançando a cabeça.40 E exclamavam: “Ó tu que destróis otemplo e em três dias o reconstróis! Ago-ra salva-te a ti mesmo. Desce desta cruz,se és o Filho de Deus!”.41  Do mesmo modo, os chefes dos sa-cerdotes, os mestres da lei e os anciãoszombavam dele, vociferando:42 “Salvou a muitos, mas a si mesmo nãopode salvar-se. É o Rei de Israel! Desçaagora da cruz, e passaremos a crer nele.43 Pregou sua conança em Deus. Então

que Deus o salve neste instante, se ver-

dadeiramente por ele tem piedade, poisarmou: ‘Sou Filho de Deus!’”.44

Igualmente o ultrajavam os ladrõesque ao seu lado haviam sido tambémcrucicados.11

 A morte de Jesus na cruz (Mc 15.33-41; Lc 23.44-49; Jo 19.28-30)45  Então, profundas trevas caíram porsobre toda a terra, do meio-dia às trêshoras da tarde daquele dia.12

46 E, por volta das três horas da tarde, Jesusclamou com voz forte: “Eloí, Eloí, lamásabactâni?”, que signica “Meu Deus, MeuDeus! Por que me abandonaste?”.47  Mas alguns dos que ali estavam, aoouvirem isso, comentaram: “Ele chamapor Elias”.13 

48 Sem demora, um deles correu embusca de uma esponja, embebeu-a emvinagre, colocou-a na ponta de umcaniço, ergueu-a até Jesus e deu-lhe abeber.49  Entretanto, os outros o censuraram:“Deixa! Vejamos se Elias vem livrá-lo”.50 Então Jesus exclamou, uma vez mais,em alta voz e entregou o espírito.14

51 No mesmo instante, o véu do santu-

24.14), como um sinal da exclusão da sociedade humana (Hb 13.12). João relata que Jesus saiu da cidade (Jo 19.17) e, segundoo costume (Mt 10.38), carregou pessoalmente sua cruz. Um seu discípulo africano, chamado Simão, de Cirene (região localizadana Líbia, onde viviam muitos judeus), foi constrangido (em grego, engareusan – palavra que tem a ver com o costume militarromano de obrigar os civis a entregar cartas) a seguir o caminho do Calvário, carregando a cruz de Jesus. Mais tarde, Simão esua família serviram à comunidade cristã que se formava (Mc 15.21; At 6.9; Rm 16.13).

10 A palavra Gólgota é a tradução latina do nome em aramaico da nossa palavra Calvário. Um monte fora dos muros de Jeru-salém, que, visto de longe, se assemelha a uma caveira humana.

11 Jesus, Deus encarnado, foi cravado e erguido numa cruz entre o céu e a terra, fora da sua cidade amada, como sinal devergonha e horror, com uma acusação escrita nas três principais línguas da sua época. Posto entre dois criminosos, foi escar-necido principalmente pelos mais religiosos e conhecedores das Escrituras. Cumpriram-se todas as profecias sobre o Messias,notadamente as descritas por Davi no Salmo 22 (mil anos antes do nascimento de Jesus). Cristo morreu pelos nossos pecados(1Co 15.3-4). Felizes são os que, humildemente, reconhecem esse fato.

12 Jesus foi crucificado às 9 horas da manhã (a terceira hora dos judeus da época, contada desde o raiar do sol). Ao meio dia (12horas), densas trevas cobriram a terra. Às três da tarde Jesus expirou. As sete frases que Jesus pronunciou durante essas seis horasde martírio, estão registradas na seguinte ordem: Lc 23.34; Jo 19.26-27; Lc 23.43; Mt 27.46; Jo 19.28; Jo 19.30 e em Lc 23.46.

13 Jesus, num último fôlego, brada em seu dialeto de família, aramaico nazareno, o início do Salmo 22. Chegamos ao maisprofundo do mistério da redenção. O Filho de Deus e Filho do homem experimenta a terrível e momentânea separação do Pai,para que seu sacrifício pudesse ser aceito e consumado em resgate de todos os que nele cressem em todas as eras (2Co 5.21).Os circunstantes não compreenderam bem essas palavras e deduziram que Jesus chamava por Elias.

14 Cristo não foi morto diretamente por alguém ou vencido por qualquer infecção (comum aos crucificados na época). Ele, vo-luntariamente, e no auge do seu poder espiritual entregou a sua vida humana (Jo 19.31-37). Depois do seu brado de vitória, Jesusexplode seu próprio coração. Especialistas afirmam que foi por isso que, ao perfurarem seu lado com uma lança, imediatamenteverteu uma mistura de sangue coagulado e soro (este tem aparência de água). Esse quadro clínico ocorre nos casos de ruptura

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ário rasgou-se em duas partes, de alto abaixo. A terra estremeceu, e fenderam-se

as rochas.15

 52 Os sepulcros se abriram, e os corposde muitos santos que haviam morridoforam ressuscitados.53 E, deixando as sepulturas, logo após aressurreição de Jesus, entraram na cidadesanta e apareceram para muitas pessoas.54  E aconteceu que o centurião e os quecom ele vigiavam a Jesus, vendo o terremo-to e tudo o que se passava, foram tomadosde grande pavor e gritaram: “É verdade! Éverdade! Este era o Filho de Deus!”.55 Estavam presentes várias mulheres,observando de longe; eram discípulas,que vinham seguindo Jesus desde a Ga-liléia, para o servirem.16 56 Entre as quais estavam Maria Mada-lena; Maria, mãe de Tiago e de José; e amãe dos lhos de Zebedeu.

O sepultamento do corpo de Jesus (Mc 15.42-47; Lc 23.50-56; Jo 19.38-42)57 Ao pôr-do-sol chegou um homem rico,de Arimatéia, por nome José, o qual haviase tornado discípulo de Jesus.

58 Teve ele uma audiência com Pilatospara pedir-lhe o corpo de Jesus, e Pilatosordenou que lhe fosse entregue.59 Então, José tomou o corpo e o envol-veu com um lençol limpo de linho.60 E o colocou em um sepulcro novo, o

qual ele próprio havia mandado cavar narocha. E, fazendo rolar uma grande pedra

sobre a entrada do sepulcro, retirou-se.61 Estavam ali, assentadas em frente ao se-pulcro, Maria Madalena e a outra Maria.

Pilatos manda vigiar o sepulcro 62 No dia seguinte, isto é, no sábado,reuniram-se os principais sacerdotes eos fariseus e foram até Pilatos e argu-mentaram:63 “Senhor, recordamo-nos de que aque-le enganador, enquanto vivia, prometeu:‘Passados três dias ressuscitarei’.64 Manda, portanto, que o sepulcro deleseja guardado até o terceiro dia, para quenão venham seus discípulos e, raptandoo corpo, proclamem ao povo que eleressuscitou dentre os mortos. E esta der-radeira fraude cause mais dano do que aprimeira”.65  Ao que ordenou Pilatos: “Levai con-vosco um destacamento! Ide e guardai osepulcro como melhor vos parecer”.66 Seguindo eles, organizaram um siste-ma de segurança ao redor do sepulcro. Ealém de manterem um destacamento em

plena vigilância, lacraram a pedra.17 

 

 Jesus foi ressuscitado! (Mc 16.1-8; Lc 24.1-12; Jo 20.1-9)

28 Tendo passado o sábado, ao raiardo primeiro dia da semana, Maria

do pericárdio (o tecido celular que reveste o exterior do coração). Esse episódio anula uma teoria surgida no século XIX, a qualtentando explicar a ressurreição, alegava que Jesus desmaiou nesse momento, para então despertar no túmulo.

15 Desde Moisés sempre houve, no santuário, uma cortina (véu) de tecido que separava o ambiente do Santo dos Santos (Êx26.37; 38.18; Hb 9.3). Lugar sagrado onde ninguém podia entrar a não ser o sumo sacerdote, e este apenas no Dia da Expiação.

Este acontecimento foi trágico para os judeus, mas um grande sinal para os cristãos de todos os povos, culturas e épocas: EmCristo ficou abolida toda e qualquer separação entre o pecador arrependido (adorador) e Deus, nosso Pai (Jo 14.6). O fato de ovéu ter-se partido de alto a baixo, sem contato humano, demonstra que o próprio Senhor abriu um novo e vivo caminho para SuaSanta presença (Hb 10.20; Ef 2.11-22). E muitos vieram a ser reconciliados para sempre com Deus (At 6.7).

16 Jesus sempre tratou as mulheres com o respeito e a dignidade que Deus requer, diferentemente da forma como os homensas tratavam em sua época. Era proibido às mulheres aproximarem-se do crucificado. Aquela cena foi um escândalo. Várias dis-cípulas seguiram o Senhor desde o início do seu ministério, na Galiléia, e permaneceram servindo até sua morte e novo começo(28.1; Jo 20.11-18). O perfeito amor lança fora o medo (1Jo 4.18).

17  Dois juízes e membros do Sinédrio, que não compactuaram com a condenação de Jesus, José, da cidade de Arimatéia(uma próspera aldeia montanhosa a cerca de 32 km ao noroeste de Jerusalém) e Nicodemos (Jo 19.38-39), cuidaram do sepul-tamento de Cristo. Trataram das formalidades civis, das despesas, e proveram um túmulo novo (Is 53.9), nunca antes usado, quepertencia a José de Arimatéia e localizava-se no monte do Calvário (Jo 19.41). Os líderes civis e religiosos, para evitar qualquertentativa de remoção do corpo e possível versão sobre a ressurreição do Mestre, violaram o sábado de Páscoa para tomar todasas providências necessárias e vigiar a área do túmulo.

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71 MATEUS 27, 28

Madalena e a outra Maria foram visitaro túmulo.1

2

E eis que aconteceu um forte terremoto,pois um anjo do Senhor desceu dos céuse, chegando ao túmulo, rolou a pedra daentrada e assentou-se sobre ela.3 O anjo tinha o aspecto de um relâm-pago, e suas vestes eram alvas como aneve.2 

4 Os guardas foram tomados de grandepavor e caram paralisados de medo,como mortos.5 Contudo, o anjo dirigiu-se às mulherese lhes anunciou: “Não temais vós! Sei queviestes ver a Jesus, que foi crucicado.6 Mas aqui Ele não está. Foi ressuscitado,como havia dito. Vinde e vede vós ondeEle jazia.7 Ide caminhando depressa e anunciaiaos seus discípulos: Ele ressuscitou den-tre os mortos e está seguindo adiante devós rumo à Galiléia. Lá o vereis. Atentaipara o que vos disse!”.8  As mulheres abandonaram o túmu-lo correndo, amedrontadas, mas comgrande júbilo, e foram imediatamenteanunciá-lo aos seus discípulos.

9 De repente, Jesus veio ao encontro delase as saudou: “Alegrai-vos!” Elas se apro-ximaram dele, jogaram-se aos seus pésabraçando-os, e o adoraram.10  Então Jesus lhes declarou: “Não te-mais! Ide e dizei aos meus irmãos quesigam para a Galiléia, lá eles me verão”.

Os sacerdotes subornam os guardas 11 E sucedeu que enquanto as mulheres

estavam a caminho, alguns dos guar-das foram à cidade e contaram aoschefes dos sacerdotes tudo o que haviaocorrido.12  Então, os chefes dos sacerdotes reu-niram-se em conselho com os anciãose tramaram outro plano. Deram aos sol-dados vultosa quantia em dinheiro.13  E lhes recomendaram que declaras-sem a todos: “Os discípulos dele vieramdurante a noite e raptaram o corpo, en-quanto cochilávamos.14 Se isso chegar ao conhecimento dogovernador, nós o persuadiremos a vossofavor e vos livraremos de qualquer repri-menda”.3

15 Os soldados receberam o dinheiro ezeram como haviam sido orientados.E, por isso, essa versão dos aconteci-mentos se conta entre os judeus até odia de hoje.

 A Grande Comissão16 Os onze discípulos rumaram para aGaliléia, em direção ao monte que Jesus

lhes determinara.17 Assim que o viram, prostraram-see o adoraram, mas alguns ficaram emdúvida.18 Então, Jesus aproximando-se deleslhes assegurou: “Toda a autoridade mefoi dada no céu e na terra.

1 Conforme o horário judaico, o domingo começava logo após o pôr-do-sol do sábado. Lucas nos informa que Maria Madalenae Maria, mulher de Clopas (Lc 24.1; Jo 19.25) saíram de madrugada, ainda escuro (Jo 20.12), para visitar o corpo de Jesus,

lamentar e ungi-lo com mais especiarias. Chegaram ao túmulo com os primeiros raios da aurora na esperança de que lhes fosseautorizada a entrada para a continuação do ritual fúnebre (período de luto) judaico da época (Mt 28.1; Mc 16.2-3).2 Deus manda seus anjos anunciarem o nascimento e a ressurreição de Jesus. Ele é concebido e ressuscitado pelo poder do

 Altíssimo (Lc 1.35; Rm 6.4; Ef 1.20). Essas mensagens são comunicadas em primeiro lugar a mulheres devotas e humildes e quereceberam um nome simples, mas conhecido em todo o mundo: Maria (forma helenizada do nome hebraico Miriã, que foi derivadode um antigo vocábulo egípcio Marye, e que significa: princesa, amada, mulher de esperança). O anjo não rolou a pedra para queJesus saísse do sepulcro, a pedra foi rolada para que as mulheres e, mais tarde, outras pessoas, entrassem e verificassem o túmulovazio, o selo (lacre estatal feito com cordas que envolviam a pedra e eram atadas ao sepulcro com as marcas de Roma e do Sinédrio)rompido e nenhum outro sinal ou dano. Séculos mais tarde, expedições arqueológicas, como as organizadas pelo General ChristianGordon, localizaram esse túmulo e confirmaram algumas alterações para acomodar um corpo maior do que o de José de Arimatéia(segundo a tradição de baixa estatura). Contudo, análises físicas e químicas jamais atestaram qualquer vestígio de restos mortais nasepultura. O túmulo era novo quando foi oferecido para sepultar o corpo do Senhor e continuou novo após sua ressurreição.

3 Agostinho (354-430 d.C.) observou: “Se acordados, por que permitiram a alguém raptar o corpo de Jesus? E, se dormindo,como podiam declarar que foram os discípulos?” De qualquer modo seriam todos condenados à morte, não fosse o interesse dos

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72MATEUS 28

19 Portanto, ide e fazei com que todos ospovos da terra se tornem discípulos, ba-

tizando-os em nome do Pai, e do Filho, edo Espírito Santo;

20 ensinando-os a obedecer a tudo quantovos tenho ordenado. E assim, Eu estarei

permanentemente convosco, até o mdos tempos”. 4

líderes religiosos judaicos em divulgar uma falsa versão sobre o desaparecimento do corpo de Cristo e levar a população a nãocrer na intervenção divina, presenciada por soldados e discípulos, nas primeiras horas daquele domingo no monte Calvário.

 4 Jesus recebeu todo o poder de Deus (em grego ) e do Senhor Ressuscitado parte a ordem plenipotenciária: Ide! (lite-

ralmente “indo”, em grego  ~). Agora esse “envio” não é provisório, limitado e transitório como em Mt 10, mas definitivo,ilimitado e permanente. Rompeu-se o estreitamento étnico das sinagogas e abriu-se a Salvação (comunhão com Deus) paratodos os povos, raças e culturas. A comunidade de Jesus que abrange o mundo inteiro substituiu a “velha aliança” pela “novaaliança”, que congrega toda e qualquer pessoa cujo coração creia no Senhor para ser convertido em discípulo. Jesus ensinou edemonstrou com a sua própria vida o que significa ser um discípulo do Senhor (obediência a Deus). A tríplice ordem missionária(discipular, batizar e ensinar a discipular) é emoldurada pela garantia da onipresença de Jesus na alma daquele que crê (o crente).

 A essência da Igreja de Jesus é que o Ressuscitado continua vivo e atuante no indivíduo e na comunidade. Ao orarmos, não émais necessário buscarmos a Deus nos céus, mas, sim, em nossos corações. A promessa da presença contínua de Deus é achave de ouro com a qual vários livros da Bíblia são concluídos (Êx 40.38; Ez 48.35; Ap 22.20).

Jesus, após ressuscitar, apareceu a várias pessoas em diversas ocasiões: a Madalena (Jo 20.11-18), a algumas discípulas(28.9-10), aos discípulos a caminho de Emaús (Lc 24.13-33), a Pedro (Jo 21.15-19; Lc 24.34-35), a dez discípulos no Cenáculo (Jo20.19), aos onze discípulos (Jo 20.24-29), a sete discípulos na Galiléia (Jo 21.24-29), aos onze no monte, na Galiléia (Mt 28.16-17),a Tiago e a todos os apóstolos (1Co 15.7), a uma multidão no monte das Oliveiras (Lc 24.44-49), ao apóstolo Paulo (At 9.3-8).

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