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O surgimento da Agricultura e do Estado Professor José Knust

O surgimento da agricultura e do Estado

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O surgimento da Agricultura e do Estado

Professor José Knust

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A Revolução Neolítica

Nós chamamos de “Revolução Neolítica” o processo histórico de passagem do modo de vida baseado na caça e na coleta para o modo de vida baseado na agricultura e na criação de animais.

Essa mudança na forma de como conseguimos nossos alimentos causou uma série de transformações em todos os aspectos de como homens e mulheres viviam em sociedade.

Essa transformação ocorreu na fase final da Idade da Pedra, conhecida como Neolítico.

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O processo de Domesticação de plantas e animais

Nem todos os vegetais e nem todos os animais são domesticáveis.

Animais que tolerassem a presença humana, que tivessem sistemas hierárquicos (o que facilitava o domínio), que se adaptassem a dietas mais pobres e que se reproduzissem muito e rapidamente, eram mais propensos à domesticação.

No caso dos vegetais, eram domesticados aqueles de ciclo produtivo mais estável.

Além disso, a domesticação causa um processo de “seleção artificial de animais e vegetais. Algumas características se sobressaem enquanto outras desaparecem por causa das escolhas feitas pelos humanos de quais animais cuidar e quais vegetais cultivar.

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Revolução ou Armadilha?

Durante muito tempo se acreditou que a Agricultura era um modo de vida obviamente superior à Caça e Coleta. Assim, sua descoberta pelos seres humanos seria o simples resultado da busca humana por melhores maneiras de sustentar sua vida. Grupos de caçadores procuravam melhores formas de garantir seu alimento e teriam encontrado isso quando descobriram como cultivar alimentos.

Pensando na nossa sociedade atual, sem sombra de dúvidas que todas as descobertas, invenções e avanços seriam impossíveis sem a existência da agricultura. É possível dizer que praticamente todos os processos históricos que se seguiram à invenção da agricultura (surgimento das cidades, dos Estados, da “Civilização”, etc.) só foram possíveis por causa desta descoberta. Sem esta, nosso desenvolvimento histórico teria sido completamente diferente.

A invenção da Agricultura como “Revolução” A invenção da Agricultura como “Armadilha”Contudo, estudos recentes têm mostrado que povos caçadores e coletores têm acesso a uma variedade maior de alimentos gastando menos tempo em média para obtê-los. Além disso, esses povos de caçadores e coletores são menos vulneráveis a crises de fome, porque dependem menos de uma única fonte de nutrientes.

Isso significa que muito provavelmente os primeiros povos a adotarem a agricultura não melhoraram sua condição de vida em geral e podem, talvez, ter piorado suas condições de vida. Por que, então, eles teriam deixado à caça e a coleta e investido em um modo de vida mais trabalhoso e menos sustentável?

Provavelmente a opção pela vida baseada na agricultura não foi uma simples escolha entre diferentes opções, mas um processo histórico longo impulsionado por outros fatores para além do cálculo de qual era a melhor forma de conseguir alimentos.

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Sedentarização e Domesticação

Busca por Alimentos

Vida Nômade

Caça e Coleta

Invenção da Agricultura

Escassez de

Alimentos

Estabilidade Alimentar

Vida Sedentária

Agri-cultura

Antigamente se entendia que a sedentarização (isto é, as pessoas viverem fixas em um local) tinha sido uma consequência da invenção da Agricultura. Enquanto eram caçadores e coletores, as pessoas precisavam sempre ir em busca de alimentos. A Agricultura teria sido inventada em momentos e lugares onde faltaram alimentos aos caçadores e coletores – e por isso eles inventaram a agricultura e depois disso passaram a viver de maneira sedentária.

Hoje se sabe que em vários lugares onde a Agricultura foi inventada havia, pelo contrário, abundância de alimentos. Uma abundância tão grande que permitia que mesmo sendo caçadores e coletores, algumas populações conseguissem viver de maneira sedentária. Pelo menos em alguns lugares, foi a vida sedentária que levou à invenção da Agricultura, e não o contrário. Em outros lugares, o cultivo surgiu de maneira complementar à vida de caça e coleta e apenas depois de milênios deu lugar a sedentarização completa.

Busca por Alimentos

Vida Nômade

Caça e Coleta

Estabilidade Alimentar

Vida Sedentária

Fartura de Alimentos

Aumento populacionalComplexidade Social

Invenção da Agri-cultura

Antigo modelo de desenvolvimento da agricultura

Novo modelo de desenvolvimento da agricultura 1

Escassez de alimentos? Aumento do excedente?

Busca por Alimentos

Vida Nômade

Caça e Coleta

Vida Semi-nômadeInvenção da Agri-cultura

Aumento populacionalComplexidade Social

Desenvol-vimento da

Agri-Cultura

Novo modelo de desenvolvimento da agricultura 2

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Quando e onde isso aconteceu?

É difícil para a Arqueologia precisar quando isso ocorreu em cada lugar. O indício usado são sementes e ossos de animais encontrados em sítios arqueológicos. Quando apresentam certas características típicas do processo de domesticação, eles são prova que ali já havia Agricultura e Pastoreio. Contudo, o início do processo é difícil de ser identificado, porque essas características ainda não estavam desenvolvidas.

Sabemos, de toda forma, que entre 10 mil e 5 mil anos atrás a domesticação de vegetais e animais visando a alimentação surgiu de maneira independente em várias regiões do mundo.

MesoaméricaMilho e Abóbora

Crescente FértilTrigo e Cevada

Cabra, Ovelha e Boi

Centros principais

Centros secundários

Ásia central e oriental

Arroz e MilhetoPorcos e Galinhas

Andes e AmazôniaBatata e MandiocaLhamas e Alpacas

África Ocidental, Sahel e Etiópia

Sorgo e Inhame

Nova GuinéTaro e Banana

Estudos identificaram alguns dos centros principais e secundários onde surgiram os principais cultivos humanos:

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O crescente FértilO Crescente fértil é uma região do Oriente Médio. Durante muito tempo acreditou-se que ali teria sido o local de origem da agricultura (para onde teria se espalhado para o resto do mundo). Hoje sabemos que pessoas em outras regiões inventaram o cultivo de maneira independente, mas a importância dessa região continua muito grande.Foi nessa região que as três diferentes espécies de trigo que são cultivadas até hoje foram domesticadas pela primeira vez.

Por volta de 12 mil anos atrás um povo conhecido por Natufianos começou a viver de maneira sedentária no Levante. Eles desenvolveram ferramentas de pedra especiais para a coleta de trigo, além de muitas outras.Essa experiência de vida sedentária e de coleta desses alimentos foi o que deu início ao desenvolvimento das técnicas e dos conhecimentos necessários à agricultura.

Natufianos

Por volta de 12 mil anos atrás o grande templo de Göbleki Tepe foi construído. Esta é a construção de grande porte mais antiga que se conhece no mundo.A origem de uma das espécies de trigo domesticado é uma montanha próxima ao templo. Por isso, estudiosos acreditam que a construção do templo estimulou a invenção da agricultura para alimentar os construtores do templo.

Göbleki Tepe

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Ásia central e Oriental

Os diferentes locais onde houve desenvolvimento da domesticação na Ásia oriental e central parece ter seguido uma história parecida com a do Crescente Fértil. Povos que se tornaram sedentários pelo acesso a recursos abundantes de alimento começaram, aos poucos, a desenvolver técnicas de cultivo de algumas plantas que, em um momento posterior, foram a base do desenvolvimento da agricultura na região.

A Cultura Hoa BinhEntre 10 e 2 mil anos atrás se desenvolveu no sudeste asiático uma cultura baseada na caça, coleta e pesca. Existem alguns indícios de que depois de algum tempo, os hoabinhianos começaram a cultivar algumas das plantas que antes eles coletavam.

Bacia do Rio Amarelo:Área de domesticação do Milheto

Bacia do Yangtze: Área de domesticação do Arroz

As principais áreas de domesticação nessa área do mundo foram os vales dos principais rios chineses. Ao sul, nas regiões mais quentes e em áreas alagáveis, se desenvolveu o cultivo de arroz, que depois se espalhou por vários regiões da Ásia subtropical

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África subsaariana e a Nova Guiné

Durante muito tempo se acreditou que a agricultura teria chegado na África por influência de migrantes do Crescente Fértil. Porém, hoje sabemos que plantas específicas da África subsaariana foram domesticadas nessa região de maneira independente. Ainda se sabe pouco sobre os primeiros agricultores africanos, mas eles já existiam desde pelo menos 7 mil anos atrás (com o cultivo do inhame). O milheto e o sorgo foram domesticado nos milênios seguintes.

África subsaaariana

Nova GuinéOutra região que desenvolveu de maneira independente o cultivo foi a Nova Guiné. Há pelo menos 7 mil anos o taro é cultivado nas montanhas dessa ilha da Oceania.

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Transição demográfica do NeolíticoAinda que, na média, a agricultura do Neolítico demande mais trabalho para a produção do mínimo necessário para subsistência do que a caça e a coleta, na soma total ela tem uma capacidade maior de produção. Somado à vida sedentária, mais favorável à criação de filhos pequenos, esse fato permitiu e mesmo estimulou o aumento da taxa de natalidade humana. As mulheres começaram a ter mais filhos do que tinham durante o Paleolítico.Ao mesmo tempo, contudo, o aumento da densidade populacional (que facilitava a transmissão de doenças) assim como o aumento do número de conflitos (causado pela disputa de territórios, acentuada pelo sedentarismo) aumentou bastante a taxa de mortalidade.

Esse fato mudou o regime demográfico humano. Em momentos de difusão de doenças e crises na colheita, a população de certas regiões podia sofrer graves quedas. Ao mesmo tempo, em momentos melhores, com boas colheitas e ausência de epidemias, a população crescia. Ao longo dos milênios, a incorporação de mais terras à agricultura acabou por impulsionar um grande aumento populacional.

Estimativa da densidade populacional na Europa Ocidental durante o Neolítico.

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As Sociedades Complexas

Como consequência na longa duração do desenvolvimento da agricultura, da sedentarização e do aumento populacional, surgiram aquilo que chamamos de sociedades complexas. Esse processo foi chamado de Revolução Urbana por alguns por estar ligado ao surgimento das primeiras cidades do mundo.

Nesse processo, cresce a divisão do trabalho, o que leva ao surgimento de uma classe dominante que consome os excedentes produzidos pelos agricultores. O comércio de longa distância, a escrita, a arquitetura mais monumental, entre outras coisas, também surge nesse momento.

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Uma consequência imediata do desenvolvimento da agricultura e do aumento populacional foi o surgimento de grandes conglomerados de habitações de agricultores. Uma grande quantidade de pessoas vivendo próximas, tecendo relações entre elas, muitas vezes se ajudando entre si, outras vezes entrando em conflito, determinou a formação de estruturas políticas cada vez mais complexas.

Com a divisão social do trabalho social se tornando cada vez mais complexa, muitas vezes uma parte da população de uma região conseguiu controlar recursos importantes (alimentos, matérias-primas, força militar, poder religioso) e passou a dominar o resto da população de sua região. Assim surgiram as primeiras sociedades complexas, com estruturas hierárquicas.

Em torno destes grupos poderosos se aglomeravam pessoas que atuavam como artesãos, comerciantes, auxiliares, entre outros. Assim surgiram as primeiras cidades. Eventualmente, os poderosos de uma região formaram exércitos poderosos o bastante para dominar outras regiões, formando os primeiros Impérios.

Aldeias e CidadesJericó (Cisjordânia)

Por volta de 9.000 a.C., o local onde mais tarde existiria a cidade de Jericó já era habitado. Não sabemos, contudo, se já era um grande assentamento, porque o estrato que corresponde a esse período está sob as ruínas da grande cidade posterior e não pode ser escavado totalmente. Contudo, sabemos que por volta de 7.000 a.C. já existia uma grande cidade, fortificada por um espesso muro, onde habitavam 2 mil pessoas.

Escavação do sítio de Tell es-Sultan

(identificado como a Jericó histórica)

Reconstrução hipotética de Jericó

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Uma consequência imediata do desenvolvimento da agricultura e do aumento populacional foi o surgimento de grandes conglomerados de habitações de agricultores. Uma grande quantidade de pessoas vivendo próximas, tecendo relações entre elas, muitas vezes se ajudando entre si, outras vezes entrando em conflito, determinou a formação de estruturas políticas cada vez mais complexas.

Com a divisão social do trabalho social se tornando cada vez mais complexa, muitas vezes uma parte da população de uma região conseguiu controlar recursos importantes (alimentos, matérias-primas, força militar, poder religioso) e passou a dominar o resto da população de sua região. Assim surgiram as primeiras sociedades complexas, com estruturas hierárquicas.

Em torno destes grupos poderosos se aglomeravam pessoas que atuavam como artesãos, comerciantes, auxiliares, entre outros. Assim surgiram as primeiras cidades. Eventualmente, os poderosos de uma região formaram exércitos poderosos o bastante para dominar outras regiões, formando os primeiros Impérios.

Aldeias e CidadesÇatalhüyük (Turquia)

Por volta de 6700 a.C. surgiu na atual Turquia um grande assentamento conhecido atualmente como Çatalhüyük (não sabemos o nome que seus moradores dava a essa enorme aldeia). O assentamento era bastante complexo, possui vestígios de rituais e cultos bastante refinados e chegou a ter 5 mil habitantes. Existe um debate, contudo, se esta já é uma cidade ou se é uma grande aldeia, porque não existem muitos vestígios de uma divisão social do trabalho muito complexa.

Escavação de Çatalhüyük

Reconstrução hipotética de Çatalhüyük

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Uma consequência imediata do desenvolvimento da agricultura e do aumento populacional foi o surgimento de grandes conglomerados de habitações de agricultores. Uma grande quantidade de pessoas vivendo próximas, tecendo relações entre elas, muitas vezes se ajudando entre si, outras vezes entrando em conflito, determinou a formação de estruturas políticas cada vez mais complexas.

Com a divisão social do trabalho social se tornando cada vez mais complexa, muitas vezes uma parte da população de uma região conseguiu controlar recursos importantes (alimentos, matérias-primas, força militar, poder religioso) e passou a dominar o resto da população de sua região. Assim surgiram as primeiras sociedades complexas, com estruturas hierárquicas.

Em torno destes grupos poderosos se aglomeravam pessoas que atuavam como artesãos, comerciantes, auxiliares, entre outros. Assim surgiram as primeiras cidades. Eventualmente, os poderosos de uma região formaram exércitos poderosos o bastante para dominar outras regiões, formando os primeiros Impérios.

Aldeias e CidadesUruk (Iraque)

Entre 4.000 a.C e 3.200 a.C., Uruk se transformou de uma pequena aldeia de agricultores em uma grande cidade, com uma classe dominante que governava a cidade controlando um corpo administrativo (burocracia) e militar (exército). Estima-se sua população em 45 mil pessoas no final desse período. Com o tempo, a elite de Uruk começou a controlar aldeias outras cidades na região, dando início a um pequeno Império.

Escavações em Uruk

Reconstrução hipotética de Uruk

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Uma consequência imediata do desenvolvimento da agricultura e do aumento populacional foi o surgimento de grandes conglomerados de habitações de agricultores. Uma grande quantidade de pessoas vivendo próximas, tecendo relações entre elas, muitas vezes se ajudando entre si, outras vezes entrando em conflito, determinou a formação de estruturas políticas cada vez mais complexas.

Com a divisão social do trabalho social se tornando cada vez mais complexa, muitas vezes uma parte da população de uma região conseguiu controlar recursos importantes (alimentos, matérias-primas, força militar, poder religioso) e passou a dominar o resto da população de sua região. Assim surgiram as primeiras sociedades complexas, com estruturas hierárquicas.

Em torno destes grupos poderosos se aglomeravam pessoas que atuavam como artesãos, comerciantes, auxiliares, entre outros. Assim surgiram as primeiras cidades. Eventualmente, os poderosos de uma região formaram exércitos poderosos o bastante para dominar outras regiões, formando os primeiros Impérios.

Aldeias e Cidades

San Lorenzo (México)Foi a principal cidade dos Olmecas, a primeira grande civilização conhecida a ocupar a Mesoamérica. Entre 1200 e 900 a.C. Chegou a ter 5 mil habitantes, aos quais se somavam mais 7 mil da área ao redor da cidade.

Caral (Peru)Foi ocupada entre 2600 e 1800 a.C.. Calcula-se uma população de 3 mil habitantes. Aqui foram escavadas pirâmides e templos. É a cidade mais antiga dos Andes.

Harappa e Mohenjo-daro (Paquistão)Trata-se das duas cidades mais importantes dos Harappianos, a mais antiga civilização conhecida a se desenvolver na importante região do vale do rio Indo.

Ainda que o Crescente Fértil tenha sido o local onde esse processo de complexificação social e urbanização começou mais cedo e teve mais força nesse período, não foi só lá que ele ocorreu.

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Invenção dos vasos de cerâmicaCerâmica Jomon

(Japão, 10-8 mil a.C.)A fabricação de objetos de cerâmica havia se desenvolvido ao longo do Paleolítico superior. Contudo, foi no Neolítico que o principal uso da cerâmica ao longo da história, fazer vasilhames, foi desenvolvido.

Os vasos de cerâmica são pesado e frágeis demais para serem úteis a povos nômades, mas depois da sedentarização, eles passaram a ser extremamente úteis: armazenam líquidos e grãos de maneira eficiente, são extremamente duradouras e podem ser utilizadas para levar alimentos ao fogo.

Para os arqueólogos, os vasos de cerâmica são importantíssimos: como são extremamente duráveis, escavações arqueológicas costumam encontrar muitos vasos. As diferentes formas, pinturas e materiais utilizados servem de pista para identificar as origens de um vãos, as transformações culturais dos povos que o fizeram e a circulação de produtos entre diferentes locais por onde esses vasos foram encontrados.

Cerâmica Machiayao(China, 3500 a.C.)

Cerâmica Micênica (Chipre, 1300-1200 a.C.)

Cerâmica de Chavin(Peru, 900-400 a.C.)

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Invenção do trabalho com metaisPor volta do 5º milênio a.C., alguns povos começaram a utilizar cobre para fazer alguns objetos de luxo, sobretudo joias. No início, o trabalho com esse metal era bastante rudimentar. Apenas depois da invenção da metalurgia propriamente dita (isto é, o conjunto de técnicas de aquecer o metal para obter o metal puro do mineral e conseguir molda-lo sem quebra-lo), que o uso do cobre se difundiu. Por volta do 4º milênio a.C. o Crescente Fértil conheceu grande expansão do uso do cobre.

O passo seguinte no desenvolvimento da metalurgia foi a invenção da liga de cobre com estanho (ou arsênico) para fazer o Bronze, que se tornou o metal mais difundido nessa região entre o final do 4º milênio a.C. e o final do 2º. Nessa época, a tecnologia de fundição do ferro, que antes era visto como metal precioso, se desenvolve e este se torna o metal predominante na região.

A tecnologia desenvolvida nessa região se difundiu por várias regiões do mundo, como a Europa, e a Ásia Central. Outras regiões, contudo, desenvolveram de maneira independente suas tecnologias de trabalho com metais. No Extremo Oriente da Ásia, entre os 4º e 2º milênios a.C. o trabalho com bronze foi desenvolvido. Nos Andes, América do Sul, o trabalho com cobre e ouro se desenvolveu entre o final do 2º milênio a.C. e o início do 1º.

Difusão do Cobre e do Bronze a partir do Oriente Médio e os Balcãs.

Necrópole de Varna, Bulgária. Cerca de 4600 a.C.

Mais antigo uso do ouro como adereço que se conhece

Espadas de Bronze (Romênia, 1700 a.C.)

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As trocas e o comércioOs arqueólogos encontram já em sítios arqueológicos do Paleolítico a presença de objetos (conchas, lâminas de obsidiana, pedras preciosas) a muitos quilômetros de distância de sua origem. Como os povos desse período eram nômades, é possível que um grupo em deslocamento tenha levado consigo esses objetos.Contudo, a presença dessas “importações” em sítios de povos sedentários do Neolítico mostra a existência de rotas de troca e comércio desses produtos.Não sabemos como funcionavam essas trocas, mas elas deviam seguir os seguintes modelos:

Rotas de comércio no início da Idade do Bronze na região do Mediterrâneo

Formas de circulação

de produtos:

Reciprocidade Redistribuição Comércio“Troca de presentes” entre grupos diferentes para fortalecer os laços de aliança entre eles.

Um poder central coleta a produção de vários lugares e depois as redistribui seguindo suas hierarquias.

Intercâmbio no qual uma parte obtém um produto em troca de alguma forma de moeda que seja aceita para obtenção de outros produtos.

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Os primeiros Estados e Impérios

Em vários lugares do mundo o aumento da complexidade social, da formação de hierarquias sociais e de organizações políticas levou ao surgimento dos Estados.

Alguns desses Estados se tornaram muito poderosos, controlando a produção de muitas aldeias e cidades, concentrando recursos e poder militar. Assim se formaram os primeiros grandes Impérios da história em vários lugares do mundo.

América CentralOlmecas1200 a.C.

Altiplano AndinoChavin900 a.C.

EgeuMinóicos e Micênicos

2000 e 1300 a.C.

Vale do NiloEgito e Kush

3100 e 1000 a.C.Mesopotâmia

Suméria, Acádia e Babilônia3500, 2400 e 1800 a.C.

AnatóliaHititas

1300 a.C.Vale do IndoHarappianos

2600 a.C.

Vale do Rio AmaraloChina, Dinastia Xia

2000 a.C.

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A invenção da escrita

O aumento da complexidade social tornou cada vez maior o número de informações gerenciadas pelos grupos humanos. Existem dois limites fundamentais para o gerenciamento dessas informações: a capacidade cerebral humana tem um certo limite e as informações precisam ser transmitidas entre as gerações para se manterem acessíveis ao longo do tempo. A transmissão oral não dá conta de uma quantidade muito grande de informações. Frente a isso, surgiu pela primeira vez na Suméria em 3200 a.C. e depois em outros lugares sistemas de escrita, capazes de armazenar materialmente uma grande quantidade de informações. Por isso, os primeiros textos escritos da história são simples contabilidades realizadas por administradores ligados aos primeiros Estados.De maneira independente, a escrita foi inventada na China por volta de 1200 a.C. e na América central entre 1000 e 500 a.C.. Uma possível escrita hindu de 3200 a.C. ainda não foi decifrada e não sabemos se é um sistema de escrita de fato. Em outros lugares, ela provavelmente chegou como adaptação de sistemas adquiridos pelo contato com povos estrangeiros.

Escrita Cuneiforme usada na Mesopotâmia nos tempos sumérios e acadianos

Pedra de Roseta, com inscrições em Hieroglifos

egípcios, demótico e grego antigo. Foi undamental

para decifrarmos o código da escrita egípcia.

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O desenvolvimento da LiteraturaSabe-se que desde muito tempo diversos grupos humanos possuíam formas de poesia e narração de histórias de maneira oral. Contudo, a fixação dessas histórias na forma escrita, dando origem ao que chamamos de Literatura, demorou ainda muito tempo para acontecer.

As narrativas mais antigas que se conhece a terem sido fixadas de forma escrita são:• A epopeia de Gilgamesh (Suméria, 2000 a.C.)• O livro dos Mortos (Egito, 1800 a.C.)• Rigveda (Vale do Indo, 1700 a.C.)• Pentateuco (Palestina, 1000 a.C.)• Ilíada e Odisseia (Homero, Grécia, 800 a.C.)

O uso da escrita para difundir narrativas e ideias vai ter um papel fundamental nas transformações da história da humanidade. O texto escrito aumentava em muito a capacidade de certas ideias se propagarem não só por diversas regiões, mas também no tempo., mantendo-se por séculos e mesmo milênios.

Homero, o poeta grego que teria escrito as duas primeiras obras da literatura grega (Ilíada e Odisseia) foi tratado por séculos pelos europeus como o inventor da Literatura. Hoje há muitas dúvidas sobre se de fato existiu um Homero – o mais provável é que essas histórias tenham sido elaboradas por poetas que as transmitiram ao longo de séculos até que aos poucos elas tenham sido postas no papel. Esse é o caso mais provável de todas as obras literárias mais antigas que conhecemos.Os dois escritores mais antigos de que temos notícia são:

Ptahhotep (Egito, c.2400 a.C.)

Enheduanna (Ur, c.2250 a.C.)

Fazia parte da burocracia do Faraó e escreveu um livro com uma série de ensinamentos de como se comportar corretamente.

Foi uma sacerdotisa, filha de um rei de Ur, e escreveu 42 hinos para diferentes templos de cidades sumérias.

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O fim da Pré-História e a aurora das “Civilizações”

O aumento da população humana, o desenvolvimento de relações sociais mais complexas, o desenvolvimento tecnológico, o surgimento das cidades e das grandes construções e a invenção da escrita fizeram surgir em alguns lugares do mundo formas de vida muito mais elaborada e cheia de variáveis. As grandes construções e a escrita tinham ainda uma segunda consequência: restavam como herança de uma geração para outra, fazendo com que as ideias de um tempo restassem por muito mais tempo influenciando as gerações futuras. A tudo isso se acostumou dar o nome de “Civilização”.

O surgimento da Civilização sempre foi considerado um marco na História Humana. Certamente, nossas vidas seriam completamente diferentes hoje se os processos históricos que ocorreram no final da Pré-História fossem outros. Todas as transformações que desencadearam o surgimento do nosso mundo dependem da existência da agricultura, das cidade, da escritas, etc..

De toda forma, hoje os estudiosos contestam a ideia de que a vida na “Civilização” seja necessariamente melhor do que a vida na “Barbárie” dos povos pré-históricos. A verdade é que isso depende de inúmeros fatores, como em qual sociedade você vive e, especialmente, a que grupo social você pertence nessa sociedade. Se por um lado, a “Civilização” resolveu muitos problemas do mundo pré-histórico, por outro lado ela criou outros problemas que antes não existiam.

Cidade do México nos dias atuais.