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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS D. PEDRO I Biblioteca do Meiral OS PRÍNCIPES GÉMEOS Havia um rei no tempo dos príncipes e dos reis que tinha dois filhos gémeos. Tempos tão esquecidos, quase ignorados! mas tão dilatados… capazes de ir de lés a lés da nossa fantasia, de entrar em todas as cabeças, de abranger todas as idades, desde as mais remotas até agora… Pois nesse tempo vivia um rei em seu belo reino com a rainha e dois filhos gémeos que tinha. Dois formosos mancebos, amorosos e inteligentes. Ora o rei não sabia a qual deles havia de legar o trono e o cetro. Lançar o caso à sorte dos dados, por exemplo? Não lhe parecia bem. Entrementes calhou montear-se um javali nas matas reais. O rei e os dois filhos, que tomavam parte na caçada, apartaram-se sem premeditação. E o rei, subitamente iluminado, achou azada a ocasião de fazer a sua escolha. Sacou da buzina de caça e soprou nela três vezes. Era sinal de apelo conhecido. Ainda o eco da buzina ia de quebrada em quebrada e já os dois príncipes, cada um de seu lado, acorriam ao chamamento do pai. Este, interdito, não soube que lhes explicar e mandou-os continuar a batida. Os dois filhos riem e partem sem menor sombra de suspeita. Manda-lhes depois, o rei um belo bolo que trazia de merenda, mas incógnito, pela mão de uma mendiga. Agora, sim, se havia de saber quem a sorte designaria. Houve um banquete, com muitas iguarias e, ao fim, um dos príncipes declara: mas bolo como o que recebemos das mãos de uma mendiga é que não há. Qual de vós, qual de vós? apressa-se o rei a perguntar. Os irmãos entreolharam-se e logo responderam: ambos. A mulherzinha acercou-se de nós para saber qual era o príncipe. O meu irmão apontou-me e eu apontei-o a ele. Ela então dividiu o bolo a meio… Era delicioso, o meu irmão que o diga. Delicioso! repetiu o outo príncipe, e ambos sorriram. Porém o rei não se deu por achado nem por vencido. Arteiro, em ar de conversa perguntou aos filhos se não gostariam de ir correr mundo, de mostrar aos outros quem eram. Que sim, nem outra coisa o coração lhes pedia. E ambos partiram por uma manhão clara, cada um para a sua banda. Tanto demoraram, tão longas viagens fizeram que o povo os ia quase esquecendo.

Os príncipes gémeos, in Queres Ouvir? Eu Conto!, Irene Lisboa

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Os príncipes gémeos, da obra Queres Ouvir? Eu Conto!, de Irene Lisboa, Ficha de Trabalho, Iniciação à Educação Literária Metas para o 2.º ano

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OS PRÍNCIPES GÉMEOS

Havia um rei – no tempo dos príncipes e dos reis – que tinha dois filhos gémeos.

Tempos tão esquecidos, quase ignorados! mas tão dilatados… capazes de ir de lés a

lés da nossa fantasia, de entrar em todas as cabeças, de abranger todas as idades, desde

as mais remotas até agora…

Pois nesse tempo vivia um rei em seu belo reino com a rainha e dois filhos gémeos

que tinha. Dois formosos mancebos, amorosos e inteligentes.

Ora o rei não sabia a qual deles havia de legar o trono e o cetro. Lançar o caso à

sorte dos dados, por exemplo? Não lhe parecia bem.

Entrementes calhou montear-se um javali nas matas reais. O rei e os dois filhos, que

tomavam parte na caçada, apartaram-se sem premeditação. E o rei, subitamente iluminado,

achou azada a ocasião de fazer a sua escolha. Sacou da buzina de caça e soprou nela três

vezes. Era sinal de apelo conhecido.

Ainda o eco da buzina ia de quebrada em quebrada e já os dois príncipes, cada um

de seu lado, acorriam ao chamamento do pai. Este, interdito, não soube que lhes explicar e

mandou-os continuar a batida.

Os dois filhos riem e partem sem menor sombra de suspeita.

Manda-lhes depois, o rei um belo bolo que trazia de merenda, mas incógnito, pela

mão de uma mendiga. Agora, sim, se havia de saber quem a sorte designaria.

Houve um banquete, com muitas iguarias e, ao fim, um dos príncipes declara: mas

bolo como o que recebemos das mãos de uma mendiga é que não há.

Qual de vós, qual de vós? apressa-se o rei a perguntar.

Os irmãos entreolharam-se e logo responderam: ambos. A mulherzinha acercou-se

de nós para saber qual era o príncipe. O meu irmão apontou-me e eu apontei-o a ele. Ela

então dividiu o bolo a meio… Era delicioso, o meu irmão que o diga. Delicioso! repetiu o outo

príncipe, e ambos sorriram.

Porém o rei não se deu por achado nem por vencido. Arteiro, em ar de conversa

perguntou aos filhos se não gostariam de ir correr mundo, de mostrar aos outros quem eram.

Que sim, nem outra coisa o coração lhes pedia. E ambos partiram por uma manhão

clara, cada um para a sua banda.

Tanto demoraram, tão longas viagens fizeram que o povo os ia quase esquecendo.

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Nada consolava os dois velhotes, que se punham das torres do augusto palácio a

mirar os cerros, a água e os ares. Estavam eles nisto, num belo dia, quando veem sobre as

ondas do mar um trapo branco a fazer-lhes sinais. E ao mesmo tempo a luz do Sol

obscurecer-se por efeito de umas grandes asas.

Que maravilha e que terror! Que seria, que não havia de ser? O povo juntou-se, os

reis perderam a cor; ouviam—se exclamações e ais. E viu-se dar à costa um peixe monstro

enquanto poisava na areia uma ave majestosa.

Os dois príncipes, cada um da sua extraordinária montada, apeiam-se.

Aclamações, gritos e mais aclamações, tudo repentinamente delira.

(…)

Sábios príncipes temos nós, se dizia depois à chucha calada. Qual deles virá a

reinar?

A mesma interrogação tinha o rei, que teve mais uma das suas ideias. Num dia de

assembleia tira o manto dos ombros (um belo manto lavrado a oiro e forrado de arminho) e

atira-o aos filhos bradando:

Filhos meus ordeno-vos que dele vos sirvais sem o retalhardes!

Com a maior das simplicidades os dois irmãos levantaram o manto do chão e,

chegando-se um ao outro, se cobriram com ele.

O rei passa a mão pelos olhos como se um relâmpago o tivesse deslumbrado. Volta-

-se depois, ora para o povo, ora para os cortesãos e declara: este será daqui para o futuro o

reino dos dois reis, meus bem-aventurados filhos, tão unidos pelo espírito como pelo

coração.

E nada mais consta da história.

IRENE LISBOA,

Queres ouvir? Eu conto.,

Editorial Presença (texto com supressões)

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I

1. Depois de leres o texto, com muita atenção, sublinha as palavras que desconheces e

rodeia as difíceis de se dizer.

II

2. Quais são as personagens principais do texto?

3. A história que acabaste de ler passou-se há muito ou há pouco tempo? Justifica a tua

resposta com uma frase do texto.

4. Faz a caracterização psicológica dos filhos do rei.

5. Qual era a maior preocupação do rei?

6. O que fez o rei para saber em que qual dos filhos deveria legar o seu trono e cetro?

Ordena as ideias de 1 a 4, de acordo com o texto.

6.1. _____ Envia um belo bolo para os filhos pela mão de uma mendiga.

6.2. _____ O rei sugeriu aos filhos que eles fossem conhecer o mundo.

6.3. _____ O rei sacou da buzina de caça e soprou nela três vezes.

6.4. _____ O rei ordenou que os filhos se servissem do seu manto sem o

retalharem.

7. A quem é que o rei legou o seu trono e cetro? Escreve um pequeno resumo onde

expliques a escolha do rei.

III

1. “ O rei não se deu por achado nem por vencido”

1.1. Classifica a frase quanto à sua polaridade e tipo.

2. “A linguagem dos pássaros era de amor.”

2.1. Faz a análise sintática da frase.

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3. “No meio do campo, por uma bela tarde, eu que notei?”

3.1. Identifica sublinhando o adjetivo da frase.

3.2. Escreve a frase no grau superlativo absoluto sintético.

4. “ A mulherzinha acercou-se de nós para saber qual era o príncipe.”

4.1. Faz a classificação morfológica das seguintes palavras:

mulherzinha –

acercou –

se -

nós -

era –

príncipe -

5. Lê, muito bem, as seguintes palavras:

5.1. príncipe ignorados abranger remotas mancebos montear

premeditação interdito incógnito iguarias ignorados

5.2. Escreve, as palavras anteriores, por ordem alfabética.

6. Escreve o verbo ser em todos os tempos verbais que aprendeste.

IV

Numa prancha, realiza uma banda desenhada da história “Os Príncipes Gémeos”.

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