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1 LER+MAR=SER O MULTICULTURALISMO PALAVRAS DO MUNDO Portugal, um país virado para o mar (mapa do século XVI)

Palavras do mundo portugal

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LER+MAR=SER

O MULTICULTURALISMO

PALAVRAS DO MUNDO

Portugal, um país virado para o mar (mapa do século XVI)

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Portugal MIGUEL TORGA

Portugal

Avivo no teu rosto o rosto que me deste, E torno mais real o rosto que te dou. Mostro aos olhos que não te desfigura Quem te desfigurou. Criatura da tua criatura, Serás sempre o que sou. E eu sou a liberdade dum perfil Desenhado no mar. Ondulo e permaneço. Cavo, remo, imagino, E descubro na bruma o meu destino Que de antemão conheço: Teimoso aventureiro da ilusão, Surdo às razões do tempo e da fortuna, Achar sem nunca achar o que procuro, Exilado Na gávea do futuro, Mais alta ainda do que no passado. Miguel Torga, in 'Diário X'

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FLORBELA ESPANCA

Passam no teu olhar nobres cortejos,

Frotas, pendões ao vento sobranceiros,

Lindos versos de antigos romanceiros,

Céus do Oriente, em brasa, como beijos,

Mares onde não cabem teus desejos;

Passam no teu olhar mundos inteiros,

Todo um povo de heróis e marinheiros,

Lanças nuas em rútilos lampejos;

Passam lendas e sonhos e milagres!

Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres,

Em centelhas de crença e de certeza!

E ao sentir-se tão grande, ao ver-te assim,

Amor, julgo trazer dentro de mim

Um pedaço da terra portuguesa!

Florbela Espanca, in "A Mensageira das Violetas

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MANUEL ALEGRE

Portugal

O teu destino é nunca haver chegada

O teu destino é outra índia e outro mar

E a nova nau lusíada apontada

A um país que só há no verbo achar

Manuel Alegre, in "Chegar Aqui"

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LUÍS VAZ DE CAMÕES

Que vençais no Oriente tantos Reis,

Que de novo nos deis da Índia o Estado,

Que escureçais a fama que hão ganhado

Aqueles que a ganharam de infiéis;

Que vencidas tenhais da morte as leis,

E que vencêsseis tudo, enfim, armado,

Mais é vencer na Pátria, desarmado,

Os monstros e as Quimeras que venceis.

Sobre vencerdes, pois, tanto inimigo,

E por armas fazer que sem segundo

No mundo o vosso nome ouvido seja;

O que vos dá mais fama inda no mundo,

É vencerdes, Senhor, no Reino amigo,

Tantas ingratidões, tão grande inveja.

Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"

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RUY BELO

O Portugal Futuro

O portugal futuro é um país

aonde o puro pássaro é possível

e sobre o leito negro do asfalto da estrada

as profundas crianças desenharão a giz

esse peixe da infância que vem na enxurrada

e me parece que se chama sável

Mas desenhem elas o que desenharem

é essa a forma do meu país

e chamem elas o que lhe chamarem

portugal será e lá serei feliz

Poderá ser pequeno como este

ter a oeste o mar e a espanha a leste

tudo nele será novo desde os ramos à raiz

À sombra dos plátanos as crianças dançarão

e na avenida que houver à beira-mar

pode o tempo mudar será verão

Gostaria de ouvir as horas do relógio da matriz

mas isso era o passado e podia ser duro

edificar sobre ele o portugal futuro

Ruy Belo, in 'Homem de Palavra[s]'

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FERNANDO PESSOA

Padrão

O esforço é grande e o homem é pequeno

Eu, Diogo Cão, navegador, deixei

Este padrão ao pé do areal moreno

E para diante naveguei.

A alma é divina e a obra é imperfeita.

Este padrão sinala ao vento e aos céus

Que, da obra ousada, é minha a parte feita:

O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano

Ensinam estas Quinas, que aqui vês,

Que o mar com fim será grego ou romano:

O mar sem fim é português.

E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma

E faz a febre em mim de navegar

Só encontrará de Deus na eterna calma

O porto sempre por achar.

Fernando Pessoa, “Mensagem”

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1 Os trabalhos dos alunos da turma 11LH1 inserem-se no projeto Ler+Mar=Ser (Multiculturalismo)

Demos ao mundo um novo mundo1

Sonhamos com novas terras, a Entidade Superior quis que as descobríssemos, a obra

nasceu. As terras de África eram nossas.

Terras novas, com pessoas diferentes, que tinham costumes próprios. Viviam da natureza

para a natureza.

Nunca tínhamos visto nada semelhante. A admiração estampava-se no nosso rosto.

Não podia ser! Era inadmissível! Em pleno século XV, haver povos desprovidos de civismo!

Podiam-se comparar a selvagens!

Nós, seres superiores, tínhamos que os educar.

Primeiramente, era urgentíssimo ensiná-los a falar, para que pudesse haver o mínimo de

comunicação verbal. (E, também, para que cumprissem as nossas ordens.)

Em segundo lugar, tínhamos que lhes mostrar a verdade do mundo. Eles estavam

enganados de todo. Acreditavam em vários deuses e tinham rituais sinistros e máscaras

aterradoras.

Tínhamos que lhes ensinar a religião cristã. Função atribuída aos jesuítas, que a executariam

na perfeição.

Por fim, tínhamos que mudar mais um pormenor: as roupas. Aliás a falta delas.

Era necessário cobrir-lhes minimamente o corpo, pois estes seres andavam quase nus.

Com estas mudanças conseguimos alterar a cultura dos povos, que não perdeu as suas

origens mas que demonstra que nós, portugueses, passamos por lá.

. Sandra Costa, 11ºLH1

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Além-Mar

Os portugueses iniciaram as suas descobertas e conquistas no início do século

XV, com Ceuta. Localizada no norte de África, era um importe entreposto

comercial para o controlo das navegações entre o Mediterrâneo e o Atlântico.

Tomaram Ceuta em 1415, e ainda no século XV, conquistaram Alcácer-

Ceguer, Tânger e Arzila, e estenderam os seus domínios por muitas outras

terras durante o século seguinte.

Chegaram a terras nunca antes pisadas por europeus, levando consigo a

língua, a região e a cultura. Por onde passaram os portugueses deixaram a

sua marca. Os habitantes dos novos territórios construíram, segundo o estilo e

traços tipicamente nacionais, habitações, igrejas e fortificações.

Deste modo, se os portugueses levaram a arte europeia para a África, para as

Américas e para a Ásia, descobriram também aí outras formas de criação

artística que em muitos casos adotaram ou procuraram integrar na sua

conceção de arte. Daí resultou uma “mestiçagem” dos géneros que ainda hoje

pode ser apreciada nas inúmeras obras deixadas pelos portugueses por todo o

mundo, continuando a ser lembrados além-mar.

Bruna Silva, 11LH1

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Mensagem

“Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar Para que fosses nosso, ó mar!”

Trata-se de um livro que revisita e cria uma mitologia do passado heroico de Portugal, repleta de símbolos, sebastianista, e que foi depois em grande parte incorporada na ideologia oficial da ditadura Salazarista. Nestes versos extraídos do próprio livro, podemos entender as perdas e os danos sofridos ao povo português, através da insaciável procura por novas culturas e riquezas. Com isto, Portugal marcou os Descobrimentos e atingiu novas terras e lugares. Mas, perdeu homens e embarcações. Ganhou terras e sofrimento. Os feitos conseguidos por Portugal nos Descobrimentos levou a um grande multiculturalismo onde Portugal é o elo de ligação entre culturas como as de países de Africa, nomeadamente Angola e Moçambique, e de países da América do Sul com grande impacto no Brasil. Podemos notar isto quando vemos hoje estes países ainda com marcas portuguesas para significativo destaque para a língua. Não foi só Portugal que teve impacto noutros países. Esses mesmos países também introduziram marcas culturais em Portugal. Podemos então concluir que, com os Descobrimentos, nós marcámos com feitos grandiosos e com sacrifícios que não foram em vão e que nunca serão esquecidos tanto na história de Portugal, como na história dos países com quem estabelecemos ligações culturais notáveis. Tiago Salgado, 11ºLH

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“O sonho é ver as formas invisíveis

Da distância imprecisa, e, com sensíveis

Movimentos da esperança e da vontade,

Buscar na linha do horizonte

A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte –

Os beijos merecidos da verdade.”

Fernando Pessoa em “Mensagem”,

Os portugueses sonharam.

Sonharam com a imensidão do oceano. Sonharam com a descoberta. Sonharam com

a aventura. Sonharam com o horizonte. Sonharam com as árvores, as praias, as flores, com

as aves, com as fontes. E como “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”, as árvores, as

praias, as flores, as aves e as fontes, foram encontradas. O horizonte foi desvendado. A

aventura foi enfrentada. A descoberta foi realizada. E o oceano foi percorrido.

Da Índia trouxemos as especiarias.

Do Brasil trouxemos o ouro, espalhando a nossa língua e religião.

Nos arquipélagos deixamos população e cultura.

Em África encontrámos diamantes, espalhámos a língua e nossa cultura. Apesar de

erros cometidos pelo nosso povoem África, é impossível negar a ligação que Portugal criou

esse continente, desde a dependência que existia no passado, à complementaridade que

verificamos atualmente.

A cultura africana também faz parte dos portugueses. Daqueles que a encontraram

aquando dos descobrimentos. Daqueles que a aprenderam enquanto lutavam por Portugal

em terras africanas. E daqueles que a estudam, fazendo projetos para o seu futuro,

abandonando o país que lhes deu raízes e emigrando para um continente onde o clima é

quente, a fauna e flora são intensos, diversos e distintos, onde as pessoas são amáveis e

calorosas e, principalmente, onde a língua os une. Assim, tanto os portugueses fazem

parte da história africana, como os africanos fazem parte da nossa. Estes são “os beijos

merecidos da verdade”. Duas culturas, dois povos, dois continentes.

Beatriz Costa, 11º LH

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Multiculturalismo

“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”

Deus quis, o homem sonhou e a obra nasceu. Portugal foi, em tempo, o

descobridor do mundo.

De uma ponta à outra deixamos a nossa marca: passamos pelas Américas,

pelo Oriente e por África.

Apesar de terem passado séculos desde essa nossa glória de termos

dominado em todos os cantos do mundo, embora tenha havido

descolonização, ainda hoje é notória a ligação com essas comunidades. Para

África levamos a nossa língua, cultura, religião. Colonizamos aquelas terras

com o nosso povo. Ao povo que já lá habitava, nem sempre fizemos o melhor.

Atualmente a relação com esses povos está muito diferente. Tomamos

atitudes solidárias, saudáveis à vida da humanidade. As comunidades

complementam-se.

Enquanto que Deus quiser e o homem sonhar, a obra há de nascer como

contributo à evolução das gerações. E a cultura será assim partilhada.

Ana Sofia Ribeiro,11º LH1

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No século XVI, Fernão Mendes Pinto percorreu o Oriente, interdito aos ocidentais

até aí. De regresso, contou as suas aventuras, num relato que muitos

consideraram fantasia. Hoje é consensual o valor histórico e literário do

testemunho desta "Peregrinação".

No livro, o autor narra a sua vida, de aventuras e desventuras, e as suas viagens

pelo Oriente, ao longo de 21 anos, em relatos com descrições muito pormenorizadas

dos povos, das línguas e das terras por onde passou e onde revela admiração e

fascínio pela grandiosidade dessas civilizações.

No Ocidente da época ninguém acreditava que o Oriente fosse assim tão rico e tão

diferente quanto a tradições culturais. O autor é acusado por muitos de exagero,

tendo ficado célebre o dito popular «Fernão, Mentes? Minto!». Contudo, é hoje

indiscutível o valor do seu testemunho, escrito com elementos verídicos e de ficção.

“Peregrinação” torna-se um sucesso, um pouco por toda a Europa da época, pelos

conhecimentos amplos sobre o Oriente. Teve dezanove edições, em seis línguas.

http://ensina.rtp.pt/artigo/a-peregrinacao/

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FERNÃO MENDES PINTO

Quem foi Fernão Mendes Pinto?

Fernão Mendes Pinto foi um aventureiro e

explorador português que nasceu em 1510, em

Montemor-o-Velho e faleceu a 8 de julho de 1583

em Pragal (concelho de Almada).

Nasceu no seio de uma família que beneficiava de ligações a nobres na corte de D.

Manuel e D. João III. Essa circunstância pode explicar a vinda do escritor para

Lisboa, em dezembro de 1521, onde entrou ao serviço de D. Jorge de Lencastre,

Mestre de Santiago. Inconformado com a estreiteza dos proveitos que conseguia

angariar e com os olhos postos na fortuna, resolveu embarcar, em 11 de março de

1537, para a Índia, onde chegou em setembro do mesmo ano.

Fernão Mendes Pinto escreveu a obra “Peregrinação”, um relato do seu dia-a-dia ao

longo dos 21 anos que permaneceu no Oriente. Durante esse período de tempo foi

13 vezes cativo e cerca de 19 vezes vendido.

Em setembro de 1558, logo depois do regresso a Portugal, casou com Maria Correia

de Brito, de quem teve descendência, e instalou-se em Almada, onde viria a

desempenhar cargos de certa importância, em instituições de assistência.

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A “Peregrinação”, literatura de viagens, aproxima-se do que se poderia chamar

crónica de viagem ou diário, foi escrita nos últimos anos da vida do autor, e só foi

publicada em 1614, trinta anos após a morte do autor.

A obra encerra uma visão crítica da presença dos portugueses no Oriente. O autor dirige-se também, mais latamente, a todos os que com ele partilharam a experiência de um tempo feito de muitas descobertas e de muitas contradições.

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Os principias contactos entre os portugueses e o oriente nos séculos XV e XVI

Construiu-se uma rede de feitorias, entrepostos, e fortalezas, captando riquezas e

irradiando a língua portuguesa e a religião católica, num esforço de criação de uma

unidade civilizacional portuguesa, quer através da ação missionária quer da

miscigenação, e, sobretudo, pela força das armas.

Do Índico e Extremo Oriente vieram as especiarias, os metais preciosos, os tesouros

artísticos, as porcelanas, sedas e madeiras, entre outros produtos para venda na

Europa, e Lisboa se tornou o empório da Europa.

http://coisasdomr.blogspot.pt/2010/01/m185-historia-da-expansao-portuguesa-no.html

Bárbara Vieira, Raquel Sofia Ferreira, 10ºLH4

(excertos do trabalho de pesquisa realizado na disciplina de História)